Potencial ornamental de espécies do Bioma Caatinga

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DOI: 10.14295/CS.v8i1.2649
Comunicata Scientiae 8(1): 43-58, 2017
Artigo
e-ISSN: 2177-5133
www.comunicatascientiae.com
Potencial ornamental de espécies do Bioma Caatinga
Markilla Zunete Beckmann Cavalcante*, Daniel Fagner da Silva Dultra,
Handerson Leandro da Costa Silva, Jarina Coelho Cotting,
Sheila Daniella Pereira da Silva, José Alves de Siqueira Filho
Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina,PE, Brazil
*Autor correspondente, e-mail: [email protected]
Resumo
A redução ou substituição de plantas ornamentais exóticas por espécies nativas com potencial
ornamental é uma tendência atual do paisagismo. A inserção na cadeia produtiva de flores e
plantas ornamentais e disponibilidade para a comercialização representa um diferencial em
um mercado altamente competitivo, atento à novidades e com tendência a adotar produtos
de impacto ambiental reduzido além promover a conservação ex situ. Neste sentido, objetivouse prospectar espécies da flora nativa do Bioma Caatinga ocorrentes no Vale do Submédio
São Francisco que apresentem elementos estéticos apropriados para uso no paisagismo. Foram
realizadas incursões em campo para identificação das espécies e descritos o hábito de crescimento,
a forma, a simetria, a estrutura, textura e cor das estruturas de maior valor ornamental, o aroma, a
presença ou não de espinhos e indicadas às possibilidades de uso das espécies. Foram indicadas
um total de 43 espécies, distribuídas entre hábito herbáceo (21), hábito arbustivo (11), arbóreas (9),
uma trepadeira e um cipó. Dentre as espécies indicadas, 30,2% pertencem à família Fabaceae.
A flora da Caatinga apresenta espécies com enorme potencial ornamental para diversos usos e
efeitos paisagísticos. Há necessidade de estimular o uso de espécies nativas do Bioma Caatinga
em projetos de paisagismo, cujo potencial ainda é pouco valorizado.
Palavras-chave: flora nativa, floricultura, paisagismo, condições semiáridas
Ornamental potential of Caatinga Biome species
Abstract
The reduction or replacement of exotic ornamental plants by native species with ornamental
potential is a current trend of landscaping. The insertion in the productive chain of flowers and
ornamental plants and availability for commercialization represents a differential in a highly
competitive market, attentive to novelties and tending to adopt products of reduced environmental
impact besides promoting ex situ conservation. In this sense, the objective was to prospect species
of the native flora of the Caatinga Biome that occur in the Valley of the Submédio São Francisco
that present aesthetic elements appropriate for use in the landscaping. Incursions were made in
the field to identify the species and were described the habit of growth, shape, symmetry, structure,
texture and color of structures of higher ornamental value, fragrance, the presence of spines or
not with indication of the possibilities of use. A total of 43 species were reported, distributed among
herbaceous habit (21), bush habit (11), arboreal trees (9), both one climbing and hardy liana.
Among the species indicated, 30.2% belong to the Fabaceae family. The flora of the Caatinga
presents species with high ornamental potential for diverse uses and landscape effects. There is a
need to stimulate the use of native species of the Caatinga Biome in landscaping projects, whose
potential is still little valued.
Keywords: native flora, floriculture, landscape, semiarid conditions
Recebido: 12 Agosto
Aceito:
10
Janeiro
43
2016
2017
Fitotecnia e Defesa Fitossanitária
Introdução
à novidades e com tendência a
adotar
O Brasil abriga a flora mais megadiversa
produtos de impacto ambiental reduzido. O
do mundo, representada pelos biomas Amazônia,
reconhecimento de características ornamentais
Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa
nestas espécies é o passo inicial para a produção
e Pantanal (Forzza et al., 2012). A composição
e comercialização (Heiden et al., 2007a), bem
vegetal da Caatinga é representada por cerca
como para o estabelecimento protocolos de
de 5000 espécies, com expressivo número
propagação e de programas nacionais de
de espécies endêmicas (em torno de 380)
melhoramento genético de plantas ornamentais
(Siqueira Filho, 2012). Alvarez & Kiill (2014) relatam
(Cardoso, 2013; Beckmann-Cavalcante et al.,
que pouco se sabe sobre o aproveitamento
2014). De acordo com Stumpf et al. (2009), a
econômico da biodiversidade existente nessa
inserção dessas plantas em cultivos comerciais
vegetação. Dentre as potencialidades a serem
e sua posterior utilização são também formas
exploradas, tem-se o mercado das plantas
efetivas de colaborar com a conservação ex
ornamentais, seja para paisagismo como arte
situ.
floral.
No Brasil, vários estudos com espécies
Fischer et al. (2007)mencionam que,
nativas e endêmicas para uso no paisagismo
por razões culturais, desde a época colonial o
têm
paisagismo no Brasil prioriza o uso de plantas
evidenciam perspectivas de novidades para
exóticas sobre as nativas. De fato, o potencial
a floricultura nacional. Leal & Biondi (2006), por
ornamental
flora
que
exemplo, identificaram o potencial ornamental
de 25 espécies nativas no estado do Paraná,
no uso de plantas exóticas, cujos processos
enquanto que no Rio Grande do Sul, desde 2006,
de cultivo e manutenção estão há muito
estudos com plantas nativas têm se destacado
dominados (Stumpf et al., 2008). Por outro lado,
no meio científico, a exemplo de Heiden et al.
Heiden et al. (2007b) reportam que o potencial
(2007a, 2007b) e Stumpf et al. (2008, 2009). Para
ornamental de muitas espécies nativas brasileiras
o semiárido nordestino, os relatos científicos
tem sido reconhecido por outros países. Os
ainda são escassos, mas Alvarez & Kiill (2014)
autores mencionam que diversas espécies foram
destacam as cactáceas e bromélias como
levadas daqui e incorporadas a programas
produto promissor da floricultura.
desenvolvidos
Com base no exposto, o presente
Posteriormente
trabalho foi desenvolvido com o objetivo de
importadas pelo Brasil, os híbridos desenvolvidos
prospectar espécies da flora nativa do Bioma
foram inseridos como novidades no mercado
Caatinga ocorrentes no Vale do Submédio São
nacional, obtendo boa aceitação. O fato
Francisco que apresentem elementos estéticos
evidencia, assim, o potencial de uso ornamental
apropriados para uso no paisagismo.
por
empresas
genético
vem
positivos
sendo
melhoramento
brasileira
resultados
menosprezado especialmente pela tradição
de
da
mostrado
estrangeiras.
das plantas nativas e a dependência do
Material e Métodos
consumidor brasileiro pela opinião de outros
Inicialmente foi realizada consulta à
mercados.
A
redução
no
uso
de
base de dados do Herbário do Vale do São
plantas
Francisco da Universidade Federal do Vale
ornamentais exóticas ou sua total substituição
do São Francisco (HVASF/UNIVASF) para a
por espécies nativas é uma tendência atual do
identificação de espécies nativas e endêmicas
paisagismo. De acordo com Heiden et al. (2006),
do
o uso de espécies nativas em áreas verdes
Bioma
Caatinga
que
apresentassem
características indicativas de uso ornamental
planejadas, ao mesmo tempo em que colabora
(hábito, cor e textura das estruturas de maior
para a preservação da flora local, é capaz de
valor ornamental (folhas, ramos, caule, flores,
reforçar identidades regionais. Além disso, a
frutos). Posteriormente, com auxílio do Software
inserção de plantas nativas na cadeia produtiva
Carolus (programa que permite o controle e
da floricultura representa um diferencial em
organização do acervo do HVASF), foi gerado
um mercado altamente competitivo, atento
Com. Sci., Bom Jesus, v.8, n.1, p.43-58, Jan./Mar. 2017
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Beckmann-Cavalcante et al. (2017) / Potencial ornamental de espéciese...
um banco dos pontos de georreferenciamento
foram realizadas incursões quinzenais em campo
das espécies previamente selecionadas para
para localização e identificação das espécies
auxiliar na localização dentro da área do
previamente selecionadas. Todas as plantas
Campus de Ciências Agrárias/UNIVASF, Petrolina,
encontradas com base no georreferenciamento
Pernambuco. De acordo com o sistema brasileiro
existente foram confrontadas com as exsicatas
de classificação da vegetação (IBGE, 2012),
depositadas no HVASF para a confirmação de
na região predomina a fitofisionomia Savana
sua identificação botânica, fundamental para a
Estépica (Savana seca e/ou úmida da Caatinga
continuidade do trabalho. Foi gerado um mapa
do Sertão Árido).
com os pontos de localização das plantas a
Com base no banco de informações,
partir do Software Arc GIS 10.1 (Figura 10.1)
no período de janeiro de 2014 à janeiro de 2015
Figura 1. Mapa com as delimitações do Campus de Ciências
Agrárias da UNIVASF e pontos de localização das espécies nativas e
endêmicas do Bioma Caatinga selecionadas por suas características
ornamentais. Petrolina-PE, 2015.
Para a descrição das características
ornamentais
das
espécies
selecionadas
volumes); ou plantas multifuncionais (indicadas
e
tanto para o emprego em jardins como para o
eliminar ao máximo as preferências pessoais, foi
cultivo em vasos).
aplicada a metodologia proposta por Stumpf
Resultados e discussão
et al. (2009), com modificações, levando-se
Inicialmente foram identificadas 143
em consideração também a caraterística de
espécies entre nativas e endêmicas após consulta
presença e/ou ausência de espinhos, e para
ao HVASF com características indicativas de
hábito, considerou-se também o grupo das
uso ornamental. Durante as incursões, foram
trepadeiras e cipós.
identificadas 43 espécies em campo (Tabela 1),
Ainda de acordo com a metodologia,
no entanto, para algumas, foram encontradas
as plantas foram categorizadas em: plantas
mais de um indivíduo por espécie, o que justifica
para jardins (indicadas para a formação de
o maior número de pontos apresentados no
forrações, maciços, bordaduras, cercas-vivas ou
mapa (Figura 1).
para uso isolado); plantas para vasos (indicadas
para o cultivo em recipientes de diferentes
Com. Sci., Bom Jesus, v.8, n.1, p.43-58, Jan./Mar. 2017
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Fitotecnia e Defesa Fitossanitária
Tabela 1. Lista de espécies do Bioma Caatinga encontradas no Campus Ciências Agrárias/UNIVASF e selecionadas
pelo potencial ornamental. Petrolina-PE, 2014-2015
Espécie
Nome Vulgar
Família
Endemismo*
Ruellia asperula (Mart. ex Ness) Lindau
Melosa
Acanthaceae
Não
Gomphrena desertorum Mart.
Suspiro-branco
Amaranthaceae
Não
Habranthus sylvaticus Herb.
Lírio-da-caatinga
Amaryllidaceae
Não
Schinopsis brasiliensis Engl.
Baraúna, braúna
Anacardiaceae
Sim
Allamanda puberula A.DC
Quatro-patacas
Apocynaceae
Não
Varronia leucocephala (Moric.) J.S.Mill.
Moleque-duro
Boraginaceae
Sim
Bromelia laciniosa Mart. ex Schult. & Schult.f.
Macambira-de-cachorro
Bromeliaceae
Sim
Neoglaziovia variegata (A) Mez
Caroá
Bromeliaceae
Sim
Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B.Gillett
Imburana-de-cambão
Burseraceae
Não
Cereus jamacaru DC. subsp. jamacaru
Mandacarú
Cactaceae
Não
Melocactus zehntneri (Britton & Rose) Luetzelb.
Coroa-de-frade
Cactaceae
Não
Tacinga inamoena (K.Schum.) N.P.Taylor & Stuppy
Quipá
Cactaceae
Não
Fraunhofera multiflora Mart.
Pau-branco
Celastraceae
Sim
Evolvulus cordatus Moric.
Azul-rasteira
Convolvulaceae
Não
Ipomoea incarnata (Vahl) Choisy
Jitirana
Convolvulaceae
Não
Cnidoscolus quercifolius Pohl
Faveleira
Euphorbiaceae
Sim
Jatropha mollissima (Pohl) Baill.
Pinhão-bravo
Euphorbiaceae
Não
Amburana cearensis (Allemão) A.C.Sm
Umburana-de-cheiro
Fabaceae
Não
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan
Angico-de-caroço
Fabaceae
Não
Calliandra leptopoda Benth.
Caliandra, esponjinha
Fabaceae
Sim
Calliandra macrocalyx Harms
Caliandra
Fabaceae
Sim
Chamaecrista repens (Vogel) H.S.Irwin & Barneby
Fabaceae
Não
Dioclea grandiflora Mart. ex Benth
Mucunã
Fabaceae
Sim
Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz var. ferrea
Pau-ferro; Jucá
Fabaceae
Sim
Luetzelburgia bahiensis Yakovlev
Fabaceae
Não
Mimosa ophthalmocentra Mart. ex Benth
Jurema-branca
Fabaceae
Sim
Mimosa verrucosa Benth.
Jurema-rosa
Fabaceae
Sim
Poincianella microphylla (Mart. ex G.Don) L.P.Queiroz
Catingueira-rasteira
Fabaceae
Sim
Senna martiana (Benth.) H.S.Irwin & Barneby
Fabaceae
Sim
Zornia brasiliensis Vogel
Fabaceae
Não
Alophia linearis (Kunth) Klatt
Íris-do-campo
Iridaceae
Não
Rhaphiodon echinus Schauer
Falsa-menta, beton
Lamiaceae
Não
Pavonia cancellata (L.) Cav.
Malvaceae
Não
Sida galheirensis Ulbr.
Malva
Malvaceae
Não
Angelonia cornigera Hook.f.
Violeta-do-campo
Plantaginaceae
Não
Diodella teres (Walter) Small
Rubiaceae
Não
Mitracarpus baturitensis Sucre
Rubiaceae
Não
Richardia scabra L.
Rubiaceae
Não
Piriqueta duarteana (Cambess.) Urb. var. ulei Urb
Chanana
Turneraceae
Não
Turnera subulata Sm.
Chanana
Turneraceae
Não
Stachytarpheta microphylla Walp.
Verbenaceae
Sim
Vellozia cinerascens (Mart. ex Schult. & Schult.f.)
Velozia
Velloziaceae
Sim
Mart. ex Seub.
Selaginella convoluta (Arn.) Spring
Jericó
Selaginellaceae
Não
*Baseado nas informações de Siqueira Filho (2012) e Reflora (2016).
As espécies indicadas estão distribuídas
Filho (2012) e Sales-Rodrigues et al. (2014), que
em 22 famílias (Tabela 1), destacando-se a
indicaram ser a família Fabaceae a mais rica
família Fabaceae, representada por 13 espécies
em espécies nos locais estudados. Dentre todas
(30,2%). A observação confirma dados de
as espécies com características adequadas
levantamentos florísticos realizados nas áreas
aos propósitos do trabalho, 17 espécies são
de Caatinga da Bacia Hidrográfica do Rio
consideradas endêmicas (Siqueira Filho, 2012;
São Francisco e em afloramentos rochosos
Reflora, 2016). Pelo fato de serem espécies
na
que não são encontradas em outro ambiente,
Mesorregião
respectivamente
do
Agreste
apresentados
paraibano,
por
Siqueira
devem ser devidamente utilizadas para que não
Com. Sci., Bom Jesus, v.8, n.1, p.43-58, Jan./Mar. 2017
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Beckmann-Cavalcante et al. (2017) / Potencial ornamental de espéciese...
sejam alvos de extinção.
devastação do ambiente, a aplicação prática
Dentre as espécies prospectadas, a
de plantas nativas com potencial ornamental,
endêmica Schinopsis brasiliensis Engl. (Figura
como uso no paisagismo, pode contribuir para
2I), encontra-se na Lista Oficial das Espécies
a valorização e conservação da biodiversidade.
da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção
As
características
ornamentais
que
(MMA, 2008). Espécies dos gêneros Amburana,
indicam a adequação das espécies para o
Gomphrena, Ipomoea, Melocactus, Mimosa,
uso no paisagismo, bem como suas possíveis
Mitracarpus e Tacinga, porém distintas das
aplicações de uso, estão sumarizadas na Tabela
espécies indicadas no presente estudo, também
2. Observa-se que a ocorrência das espécies no
constam nesta lista. Muitas vezes as espécies
local de estudo apresentaram diferentes formas,
são exploradas de forma aleatória para os mais
simetrias, estruturas vegetais variando de flores
diversos usos, levando-as quase a extinção pelo
e inflorescências à folhas e cladódios, aspectos
desconhecimento do manejo e uso potencial
da textura, diversidade em cores, presença e
adequado. De acordo com Stumpf et al.
ausência ambos para aroma e espinhos. Esta
(2009), a paulatina supressão da vegetação,
variabilidade de características possibilita o
constitui um grave problema ambiental, que
uso no paisagismo em suas diversas formas,
afeta diretamente a biodiversidade do local. Os
seja multifuncional (jardim e/ou vaso) ou para
autores ressaltam ainda que no quadro atual de
formação de jardins.
Figura 2. Espécies arbóreas do Bioma Caatinga indicativas de uso no paisagismo. Características ornamentais do hábito (A, C,
E, J); Caule (F); Flores/Inflorescências (D, G, I); Folhas (B, D, G, H); Frutos (H). Petrolina-PE, 2014-2015. Fotos: Silva, H.L. da Costa &
Cotting, J.C.
Destaca-se
que
algumas
espécies
(praticamente a planta inteira), Neoglaziovia
selecionadas apresentam espinhos em alguma
variegata
estrutura da planta, a exemplo de Bromelia
(cladódios), Allamanda puberula (fruto), Mimosa
laciniosa
ophthalmocentra
(folhas),
Melocactus
zehntneri
(folhas),
(caule),
Com. Sci., Bom Jesus, v.8, n.1, p.43-58, Jan./Mar. 2017
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Tacinga
Cereus
inamoena
jamacaru
Fitotecnia e Defesa Fitossanitária
(cladódios) e Cnidoscolus quercifolius (planta
enquadram seu uso para forração, à exemplo
inteira espinescente, Figura 2D) (Tabela 2). O
de Chamaecrista repens (Figura 3D), Diodella
Bioma Caatinga é conhecido pela vegetação
teres (Figura 3E), Evolvulus cordatus (Figura 3F),
xerófila,
espinhosa,
Gomphrena desertorum (Figura 3G), Mitracarpus
com a queda de folhas na época da seca
lenhosa
baturitensis (Figura 3J), Pavonia cancellata (Figura
(marcada pela baixa disponibilidade hídrica),
4L), Rhaphiodon echinus (Figura 4N), Richardia
troncos esbranquiçados e folhas modificadas
scabra (Figura 4O), Selaginella convoluta (Figura
em espinhos. Estas caraterísticas são estratégias
4P) e Zornia brasiliensis (Figura 4U). São plantas
adaptativas
(Castro
que podem ser utilizadas para a finalidade de
& Cavalcante, 2010; Loiola et al., 2012). Na
forração, pela vistosidade de suas estruturas
elaboração de um projeto de paisagismo,
ornamentais e pelo rápido preenchimento de
deve-se levar em consideração o público
espaço dos locais onde foram caracterizadas.
alvo, no entanto, a presença de espinhos nas
Segundo Malamut (2014), as forrações são
plantas nem sempre deve ser considerada um
usadas para dar unidade à paisagem, podendo
aspecto negativo ao se indicar plantas para
substituir gramados, quebrar sua monotonia ou
uso nos jardins. Plantas com espinhos podem
fazendo a transição entre estes e árvores e/ou
ser indicadas, por exemplo, para compor jardins
arbustos. No entanto, são plantas que, apesar
contemplativos, destinados ao prazer sensorial
de
da visão, ou ainda, para atuar como barreiras
encobrir o solo e estruturalmente assumirem o
físicas sem, no entanto constituir em barreiras
papel de piso, não toleram ao pisoteio como os
visuais.
gramados, mas podem proteger o solo contra
à
Conforme
caducifólia
deficiência
e
hídrica
evidenciado,
48,8%
das
formarem
horizontais,
podendo
erosões originadas do vento e da chuva.
espécies indicadas possuem hábito herbáceo
(Tabela 2).
planos
Dentre as espécies indicadas como
Foi notória a presença destas
forração (Tabela 2), Biondi (2013) também cita
espécies ao longo das avaliações, ocorrendo
as espécies dos gêneros Evolvulus e Selaginella
tanto indivíduos jovens como adultos em plena
como plantas aptas para esta finalidade,
fase de florescimento, o que resultou no maior
especificamente para causar contraste na
número de pontos apresentados no mapa (Figura
composição
1). Deduz-se que estas espécies apresentam
existente. Também indica o uso para composição
facilidade na sua perpetuação. Malamut (2014)
de maciços homogêneos e revestimento de
faz menção às plantas que tem facilidade de
taludes. Neste contexto, a espécie R. echinus
propagação e, ao longo do tempo, tornarem-
(Figura
se invasoras, ocupando espaço e competindo
revestimento de taludes e barrancos, pelo
com a flora existente, podendo causar prejuízo
fato de apresentar um crescimento acelerado
ao equilíbrio do ambiente original. Desta forma,
recobrindo a superfície do solo.
4N)
elaborada
é
ou
altamente
na
paisagem
indicativa
para
reitera-se a necessidade de estudos para
A espécie S. convoluta (Tabela 2, Figura
evitar uso indiscriminado de uma determinada
4P), uma pteridófita, não apresenta flores, mas
espécie vegetal. É fundamental avançar na
destaca-se pelo pouco crescimento, o verde
domesticação e no melhoramento genético
de suas folhas e apresentam uma resistência à
das espécies e, conjuntamente, incrementar a
seca, no qual durante o período de estiagem,
respectiva conservação.
permanece
Segundo Leal & Biondi (2006), plantas
morta;
enrolada
porém
com
e
as
com
aspecto
primeiras
de
chuvas,
de porte herbáceo podem ser utilizadas como
rapidamente recupera a turgidez das folhas.
forração na composição de canteiros; como
Estas características fazem dela uma planta
maciços combinados ou não com outras
interessante para uso no paisagismo como
espécies; ou até mesmo como bordaduras,
forração no qual sugere pouca manutenção e
delimitando caminhos e canteiros.
reduzido uso de água. Também foi documentada
Dentre as plantas do porte herbáceo
por Kiill et al. (2013) e Alvarez & Kiill (2014) com
(Figura 3 e 4), 42,9% das espécies (Tabela 2)
potencialidade de uso como planta ornamental.
Com. Sci., Bom Jesus, v.8, n.1, p.43-58, Jan./Mar. 2017
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Bromelia laciniosa
Chamaecrista repens
Diodella teres
Evolvulus cordatus
Gomphrena desertorum
Habranthus sylvaticus
Melocactus zehntneri
Mitracarpus baturitensis
Neoglaziovia variegata
Pavonia cancellata
Piriqueta duarteana
Rhaphiodon echinus
Richardia scabra
Selaginella convoluta
Sida galheirensis
Stachytarpheta microphylla
Tacinga inamoena
Turnera subulata
Zornia brasiliensis
Equilibrada
Mimosa ophthalmocentra
Ruellia asperula
Verticalizada
Horizontalizada
Verticalizada
Jatropha mollissima
Poincianella microphylla
Verticalizada
Calliandra macrocalyx
Horizontalizada
Verticalizada
Calliandra leptopoda
Mimosa verrucosa
Verticalizada
Allamanda puberula
Arbustos
-
Angelonia cornigera
Forma
Alophia linearis
Herbáceas
Espécies/Hábitos
Simétrico
Simétrica
Assimétrica
Simétrica
Assimétrica
Simétrica
Simétrica
Assimétrica
Assimétrica
Simétrica
Assimétrica
Simétrica
Simétrica
Simétrica
Assimétrica
Assimétrica
Simétrica
Assimétrica
Simétrica
Simétrica
Simétrica
Simétrica
Assimétrica
Assimétrica
Simétrica
Assimétrica
Simétrica
Simétrica
Simétrica
Simetria
Flor
Inflorescência
Inflorescência
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Opaca, lisa, glabra
Opaca, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, pilosa
Flor
Folha
Inflorescência
Brilhante, lisa, pilosa
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Inflorescência
Inflorescência
Flor
Flor
Opaca, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Cladódio
Flor
Flor
Opaca, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, rugosa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Opaca, lisa, pilosa
Opaca, lisa, glabra
Brilhante, lisa, pilosa
Brilhante, lisa, glabra
Flor
Flor
Folha
Flor
Inflorescência
Flor
Flor
Inflorescência
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Cladódio
Flor
Flor
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Flor
Inflorescência
Flor
Opaca, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, pilosa
Flor
Folha
Flor
Brilhante, Lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Textura
Inflorescência
Flor
Flor
Estrutura
Vermelha
Amarela
Rosa
Alva
Vermelha
Verde
Alva e base rósea
Vermelha
Amarela
Amarela
Ausente
Desagradável
Ausente
Ausente
Ausente
Agradável
Agradável
Agradável
Ausente
Ausente
Ausente
Alva à amarela
Ausente
Verde
Laranja à
vermelha
Ausente
Ausente
Ausente
Agradável
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Agradável
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Aroma
Vermelha
Laranja
Verde
Alva
Roxa
Salmão
Amarela
Rosa
Alva
Verde
Rósea
Rósea
Rósea
Azul
Alva
Amarela
Verde
Rósea
Roxa
Roxa
Cor
Ausente
Ausente
Ausente
Presente
Ausente
Ausente
Ausente
Presente
Ausente
Ausente
Presente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Presente
Ausente
Presente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Presente
Ausente
Ausente
Espinho
Tabela 2. Descrição das características ornamentais de plantas do Bioma Caatinga indicativas de uso no paisagismo Petrolina-PE, 2014-2015.
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Multifuncional
Jardim
Multifuncional
Jardim
Jardim
Multifuncional
Jardim
Jardim
Multifuncional
Multifuncional
Multifuncional
Uso
Isolada e/ou maciço
Isolada
Isolada
Isolada
Isolada e/ou cerca-viva
Isolada
Isolada
Isolada e/ou cerca-viva
Forração
Maciço
Maciço
Forração
Maciço e/ou
bordadura
Maciço
Forração
Forração
Maciço
Forração
Maciço e/ou vaso
Forração
Maciço e/ou vaso
Maciço
Forração
Maciço e/ou vaso
Forração
Forração
Maciço e/ou vaso
Maciço e/ou vaso
Maciço e/ou vaso
Especificidade de uso
Beckmann-Cavalcante et al. (2017) / Potencial ornamental de espéciese...
50
Verticalizada
Verticalizada
Verticalizada
Verticalizada
Equilibrada
Verticalizada
Verticalizada
Cereus jamacaru
Cnidoscolus quercifolius
Commiphora leptophloeos
Fraunhofera multiflora
Libidibia ferrea
Luetzelburgia bahiensis
Schinopsis brasiliensis
-
Simétrica
Assimétrica
Assimétrica
Simétrica
Assimétrica
Simétrica
Assimétrica
Assimétrica
Simétrica
Assimétrica
Assimétrica
Simétrica
Assimétrica
Assimétrica
Inflorescência
Flor
Flor
Flor
Folha
Folha
Caule
Folha
Folha
Folha
Cladódio
Flor
Folha
Flor
Folhas
Flor
Inflorescência
Inflorescência
Brilhante, lisa, glabra
Opaca, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, pilosa
Opaco, rugoso, glabro
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabro
Brilhante, lisa, glabra
Brilhante, lisa, pilosa
Opaca, lisa, glabra
Brilhantes, rugosa,
glabra
Brilhante, lisa, glabra
Opaca, lisa, glabra
Brilhante, lisa, glabra
Roxa
Rósea
Alva
Esverdeada
Verde
Verde
Cinza
Verde
Verde
Verde-amarelada
Verde
Branca
Verde
Alva
Verde
Lilás
Alva
Amarela
Agradável
Ausente
Agradável
Agradável
Ausente
Ausente
Agradável
Ausente
Agradável
Agradável
Agradável
Ausente
Ausente
Agradável
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Presente
Presente
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Jardim
Multifuncional
Jardim
Jardim
Isolada
Isolada
Isolada
Isolada
Isolada
Isolada
Isolada
Isolada
Isolada
Isolada
Isolada
Isolada e/ou vaso
Isolada e/ou maciço
Isolada e/ou maciço
Com. Sci., Bom Jesus, v.8, n.1, p.43-58, Jan./Mar. 2017
ou glabra); Cor da(s) estrutura(s) de maior valor ornamental (folhas, ramos, caule, flores, frutos): determinada visualmente; Aroma (Presente – agradável ou desagradável; Ausente); Espinhos: (Presente – em qualquer parte da planta; Ausente).
a conformação geral é uniforme; imprime unidade e organização; Assimétrico – quando os ramos se desenvolvem em diferentes direções, desuniforme; Textura da(s) estrutura(s) de maior valor ornamental (folhas, ramos, caule, flores, frutos): (Brilhante ou opaca; Lisa ou rugosa; Pilosa
de árvores ou à conformação geral de arbustos (Verticalizada – quando a altura é maior que o diâmetro da copa; Horizontalizada – quando o diâmetro da copa é maior que a altura; Equilibrada – quando o diâmetro da copa é semelhante à altura); Simetria: (Simétrico – quando
Hábito: (Herbáceas – plantas de pequeno porte e com caule tenro; Arbustos – plantas lenhosas com caules múltiplos, ramificados desde a base; Árvore – plantas lenhosas providas de caule único; trepadeira/cipós* – caule e ramos longos, ascendentes); Forma: relacionada à copa
Dioclea grandiflora
Cipós*
Ipomoea incarnata
-
Verticalizada
Anadenanthera colubrina
Trepadeira*
Verticalizada
Amburana cearensis
Árvores
Verticalizada
Verticalizada
Varronia leucocephala
Vellozia cinerascens
Verticalizada
Senna martiana
Fitotecnia e Defesa Fitossanitária
Beckmann-Cavalcante et al. (2017) / Potencial ornamental de espéciese...
Figura 3. Espécies de hábito herbáceo do Bioma Caatinga indicativas de uso no paisagismo. Características ornamentais do
hábito, caule, flores/inflorescências, folhas e frutos (S). Petrolina-PE, 2014-2015. Fotos: Silva, H.L. da Costa & Cotting, J.C.
Com. Sci., Bom Jesus, v.8, n.1, p.43-58, Jan./Mar. 2017
51
Fitotecnia e Defesa Fitossanitária
Figura 4. Espécies de hábito herbáceo do Bioma Caatinga indicativas de uso no paisagismo. Características ornamentais do
hábito, caule, flores/inflorescências, folhas e frutos (S). Petrolina-PE, 2014-2015. Fotos: Silva, H.L. da Costa & Cotting, J.C.
Algumas espécies selecionadas podem
enquadram as espécies Melocactus zehntneri
apresentar dupla função, ou seja, para a
(cactácea)
(Figura
3I)
e
as
bromeliáceas
formação de maciços e também recomendadas
Bromelia lacioniosa (Figura 3C) e Neoglaziovia
para cultivo em vaso (Tabela 2), a exemplo
variegata (Figura 4Kb), que em conjunto podem
da Alophia linearis (Figura 3A) e Angelonia
formar grandes maciços.
campestres (Figura 3B). As flores dessas espécies
Kiill et al. (2013) evidenciam que em
são de coloração roxa, considerada uma cor
ambiente natural, os cactos juntamente com
fria no paisagismo promovendo a sensação
bromélias
de calma e alívio, sendo assim indicadas para
Por outro lado, em função de apresentarem
ambientes menores, jardins com espaços restritos
espinhos, requerem certo critério na escolha
(Alvarez & Kiill, 2014). Nesta categoria, ainda se
do lugar onde serão cultivadas, sendo o mais
compõem
Com. Sci., Bom Jesus, v.8, n.1, p.43-58, Jan./Mar. 2017
52
harmoniosos
jardins.
Beckmann-Cavalcante et al. (2017) / Potencial ornamental de espéciese...
indicado para locais de restrita circulação, assim
no qual prevalece a linearidade de um porte
como sugeriram Stumpf et al. (2009) ao elegerem
menor. Este tipo de efeito tende a compor as
espécies do Bioma Pampa com espinhos.
bordas de um canteiro ou de um caminho, por
Estas são espécies que podem simbolizar o
exemplo.
ecossistema típico em que se encontram,
As
5)
espécies
de
representam
hábito
25,6%
das
arbustivo
contribuindo para composições rústicas ou
(Figura
típicas regionais e fortalecendo o valor da flora
prospectadas para uso o paisagismo. Dentre
plantas
local, inclusive atrativo ao turismo.
estas, 54,5% são representantes da família
Ainda de acordo com Kiill et al. (2013),
Fabaceae (Tabela 2), destacando-se Calliandra
a N. variegata apresenta um porte elegante,
leptopoda (Figura 5B), Calliandra macrocalyx,
folhas estreitas e lineares (Figura 4Ka), com listras
Mimosa ophthalmocentra, Mimosa verrucosa,
alternadas, tipo zebrado, o que lhe confere
Poincianella microphylla (Figura 5D) e Senna
aspecto
martiana (Figura 5F). Estas espécies podem ser
peculiar.
Apresenta
inflorescência
racemosa (Figura 4Kc), com tonalidade do
cultivadas
vermelho ao rosa, localizada na parte central da
volume suficiente destacando-se na paisagem e
isoladamente
planta. Suas flores são tubulares, com pedúnculo
podem se sobressair às árvores pela plasticidade
róseo e pétalas roxas. Durante as incursões
quanto às formas, cores e volumes diferenciados.
em campo, observou-se longevidade de suas
As
inflorescências. Embora o objeto de estudo
aparentam
fora plantas para paisagismo, as características
bonsais, pois apresentam muitas ramificações,
desta espécie, sugerem um indicativo de uso
tamanho pequeno das folhas e parece resistir
para a arte floral, tanto suas folhas quanto suas
a podas drásticas, aramações e intervenções
hastes florais.
em suas raízes, além da beleza de sua floração.
caliandras
e
ter
por
mimosas,
arquitetura
apresentarem
por
exemplo,
moldável
para
Para a formação de maciços também
A P. microphylla apresenta plasticidade para
podem ser indicadas as espécies Piriqueta
topiarias (arte de moldar plantas)sugerindo-se
duarteana (Figura 4M), Sida galheirensis (Figura
iniciar quando a planta ainda é jovem para uma
4Qa e 4Qb), Stachytarpheta microphylla (Figura
boa formação.
4R), Tacinga inamoena (Figura 4S), Turnera
A espécie S. martiana (Figura 5F), embora
subulata (Figura 4T), e Habranthus sylvaticus
tenha volume suficiente para ser cultivada de
(Figura 3H). Estas espécies destacam-se pelo
forma isolada, recomenda-se também o cultivo
colorido das flores e volume que formam ao
em maciço, pelo efeito contrastante que formam
serem observadas em campo, apropriados
quando encontradas próximas uma da outra,
para composição de maciços homogêneos.
compondo assim maciços homogêneos. Biondi
Destaca-se que a H. sylvaticus é uma espécie
(2013) recomenda também seu uso em canteiros
que apresenta bulbo e floresce somente quando
centrais para diminuir o ofuscamento. Também
iniciam as chuvas, após um período longo de
as espécies Ruellia asperula (Figura 5E) e Varronia
estiagem (em torno de 9-10 meses), surgindo
leococephala (Figura 5G), cujas inflorescências
do solo árido e sem vegetação, belas flores que
são as principais características ornamentais,
formam um tapete natural (Figura 3Ha e 3Hb).
podem
Cabe salientar, que ao fazer uso de plantas para
entanto, sugere-se que estas sejam cultivadas
compor maciços, considera-se a associação
em maciços, para que se destaquem na
de plantas de mesma espécie ou de espécies
paisagem e possam gerar os benefícios estéticos
variadas, no qual a característica básica é
e funcionais. O encanto destas plantas reside
um volume cheio em que o espaço ocupado
na sua floração. A R. aspérula (Figura 5Eb), por
tende
em
apresentar flores tubulosas é polinizada por beija-
horizontalidade e verticalidade, tendendo mais
flores, característica interessante por atrair aves.
a
ser
proporcionalmente
igual
para o horizontal. Das espécies indicadas para
ser
As
cultivadas
arbustivas
isoladamente,
Allamanda
no
puberula
maciço, S. galheirensis (Figura 4Qb) também
(Figura 5A) e Jatropha mollissima (Figura 5C),
pode ser utilizada para formar bordaduras,
além do cultivo isolado, podem ser indicadas
Com. Sci., Bom Jesus, v.8, n.1, p.43-58, Jan./Mar. 2017
53
Fitotecnia e Defesa Fitossanitária
para formação de cercas-vivas (Tabela 2).
individualidade e passam a formar associações,
Apresentam formato verticalizado mais aberto,
característica útil para cerca-vivas, e, um cultivo
promovendo uma assimetria. De acordo com
mais adensado destas espécies, pode resultar
Malamut (2014), o afloramento dos caules
numa cerca-viva mais fechada. A espécie
junto ao solo permite a formação de conjuntos
Vellozia cinerascens (Figura 5H) apresenta uso
vegetacionais onde as plantas perdem a sua
multifuncional seja isolada em jardins ou em
Figura 5. Espécies arbustivas do Bioma Caatinga indicativas de uso no paisagismo. Características ornamentais do hábito (Ca,
Da, Ea, F, Ha); Flores/Inflorescências (Aa, B, Cb, Db, F, G, Eb, Hb); Folhas (Cb, Db, Ha); Frutos (Ab). Petrolina-PE, 2014-2015. Fotos:
Silva, H.L. da Costa & Cotting, J.C.
vaso (Tabela 2). Torna-se ornamental pelas
(Figura 2), sugere-se a indicação de nove
flores (Figura 5Ha) que apresenta, no entanto,
espécies (Tabela 2), e em sua totalidade podem
encanta pelo seu conjunto, coloração e beleza
ser indicadas para cultivo isolado, no entanto,
da folhagem (Figura 5Hb).
não impede que sejam cultivadas formando
Com relação às espécies arbóreas
grandes maciços ou ainda, formando maciços
Com. Sci., Bom Jesus, v.8, n.1, p.43-58, Jan./Mar. 2017
54
Beckmann-Cavalcante et al. (2017) / Potencial ornamental de espéciese...
heterogêneos. Malamut (2014) descreve a
aberta, ramificando desde a base, no entanto,
importância do uso de árvores para compor
é totalmente espinescente. Com apelo no
cenários de paisagismo, por serem úteis para
paisagismo, pode ser introduzida em cultivo
sombrear pisos e fachadas, melhorando a
isolado, mas deduz-se que se cultivada de forma
qualidade térmica do ambiente as quais serão
adensada poderia ser utilizada como cerca-viva
inseridas.
para formar uma barreira física, de proteção.
Anadenanthera
colubrina
(Figura
2B), por exemplo, se destaca na paisagem
A espécie Ipomea incarnata (Figura 6A),
pelo brilho de suas folhas verde-amareladas,
uma trepadeira herbácea, se desenvolve muito
enquanto a Amburana cearencis (Figura 2A),
bem em épocas de chuva na Caatinga, tem a
Fraunhofera multiflora (Figura 2F), Libidibia ferrea
capacidade de escalar cercas de propriedades
(Figura 2G), Luetzelburgia bahiensis (Figura 2H)
rurais (Figura 6Aa) e arbustos (Figura 6Ab)
e S. brasiliensis (Figura 2I), destacam-se também
decorando,
pelas flores, que além da beleza, em sua maioria
como
apresentam
aroma
agradável.
A
naturalmente,
mencionam
Castro
esses
&
suportes,
Cavalcante
espécie
(2010). A Dioclea grandiflora (Figura 6B), um
Commiphora leptophloeos é decídua (Figura
cipó vigoroso, exclusivo da Caatinga brasileira,
2Ea), no entanto suas folhas são aromáticas
apresenta inflorescências elegantes e atraentes
e destaca-se no ambiente por seu tronco
nas extremidades dos ramos com flores roxas
contorcido e avermelhado (Figura 2Eb). Dentre
(Figura 6Ba e 6Bb). Ambas as espécies podem
as arbóreas, encontra-se a cactácea Cereus
ser cultivadas isoladamente, e em função do seu
jamacaru (Figura 2C), árvore áfila, imponente,
hábito de crescimento, acabam proporcionando
que apresenta floração exuberante embora
a ideia de serem vários os indivíduos que causam
efêmera e, simboliza uma espécie típica do
o efeito paisagístico de revestimento. Estes tipos
Bioma Caatinga.
de plantas, segundo Malamut (2014), podem
O uso de espécies arbóreas nativas,
ser utilizadas para encobrimento de muros ou
da flora regional à exóticas deve prevalecer,
estruturas indesejáveis, para cobrir pérgolas,
no entanto, como sugere Alvarez et al. (2012),
proporcionando espaços sombreados ou para
de forma sustentável para não causar risco
criar painéis verticais, ornamentando fachadas
de extinção, não só arbóreas, mas também
ou criando barreiras visuais para áreas privativas.
de organismos que dela dependem. Ainda
Castro
&
Cavalcante
(2010),
na
segundo estes autores, poucas são as cidades
busca por plantas nativas do Bioma Caatinga
no Semiárido que utilizam em seu paisagismo
que pudessem ser aproveitadas, por meio
espécies
Estudos
de estudos, exploração e comercialização
realizados por Calixto Junior et al. (2009) e Lima
arbóreas
da
Caatinga.
adequados, indicam uma serie de espécies
Neto & Melo e Souza (2011), e, evidenciaram a
com
dominância de espécies exóticas na arborização
as herbáceas elencadas também sugeriram
urbana em cidades do nordeste brasileiro.
as espécies S. galheirensis, T. inamoena e
Fazer uso de espécies arbóreas nativas com
H. sylvaticus), para arbustos (J. mollissima,
indicação para paisagismo é fundamental, pois
R. asperula, V. leococephala e espécies do
são adaptadas às condições de clima e solo,
gênero Calliandra e Mimosa), para arbóreas (A.
podem apresentar maior resistência a pragas
cearencis, A. colubrina, C. jamacaru e espécies
e doenças e contribuem para conservação do
do gênero Senna e Poincianella), trepadeiras
patrimônio genético e da biodiversidade. Alvarez
(espécies do gênero Ipomoea) e como cipó
et al. (2012), também recomendam as espécies
também indicaram D. grandiflora.
potencialidades
ornamentais.
Dentre
A. cearensis, P. simplicifolium, S. brasiliensis e
Commiphora leptophloeos para serem utilizadas
De acordo com Souza et al. (2012),
na arborização urbana.
A
espécie
as espécies nativas do Bioma Caatinga, de
arbórea
C.
quercifolius
diferentes hábitos de vida são úteis nos jardins
(Figura 2D) se desta no ambiente natural por
diversificados
apresentar uma estrutura verticalizada mais
ambientes
e
heterogêneos,
formando
com
características
singulares,
Com. Sci., Bom Jesus, v.8, n.1, p.43-58, Jan./Mar. 2017
55
Fitotecnia e Defesa Fitossanitária
com vistas à substituição de modo eficiente
para indicar a melhor utilização das espécies
e
em um projeto paisagístico. Percebe-se que
sustentável
aquelas
tradicionalmente
empregadas em projetos de paisagismo.
os ecossistemas rurais e urbanos do semiárido
De acordo com Leal & Biondi (2006)
nordestino, inserido numa região de clima
a análise de variáveis estéticas é importante
quente e seco, com período de até nove
Figura 6. Espécie trepadeira e cipó do Bioma Caatinga indicativas de uso no paisagismo. Características ornamentais do hábito
(Aa, Ba); Flores/Inflorescências (Ab, Bb). Petrolina-PE, 2014-2015. Fotos: Silva, H.L. da Costa & Cotting, J.C.
meses de estiagem, necessitam da presença de
estabelecer protocolos de propagação e auxílio
vegetação que proporcione melhorias estéticas
do melhoramento genético, sem, contudo leva-
e funcionais em suas paisagens. Considerando
las à extinção.
que as espécies indicadas estão adaptadas a
Conclusões
estas condições, ao serem introduzidas, podem
apresentar
melhor
desenvolvimento,
É possível afirmar que o Vale do
menor
Submédio São Francisco, inserido no Bioma
custo de manutenção com relação às espécies
Caatinga, abriga inúmeras espécies nativas
exóticas além da conservação ex situ.
cujas
As espécies prospectadas podem ser
características
mostram
adequação
ornamental para uso no paisagismo.
aproveitadas em suas diferentes formas tornando-
Todas
se sinônimo de fonte de renda para população
as
espécies
analisadas
apresentam um grande potencial para diversos
local bem como, poderão tornar-se numa forma
usos e efeitos paisagísticos.
de divulgação e valorização da flora local. No
A indicação do potencial ornamental
entanto, vale ressaltar que há necessidade
das 43 espécies analisadas reforça e estimula
de estudos mais aprimorados, sugerindo-se
Com. Sci., Bom Jesus, v.8, n.1, p.43-58, Jan./Mar. 2017
56
Beckmann-Cavalcante et al. (2017) / Potencial ornamental de espéciese...
o uso de espécies nativas do Bioma Caatinga
Morim, M.P., Peixoto, A.L., Pirani, J.R., Prado, J.,
em projetos de paisagismo, cujo potencial
Queiroz, L.P., Souza, S., Souza, V.C., Stehmann,
ornamental ainda é pouco valorizado.
J.R., Sylvestre, L.S., Walter, B.M., Zappi, D.C. 2012.
New Brazilian floristic list highlights conservation
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