Nº 16 Out/2011 CENTRO DE ESTUDOS EM ATENÇÃO FARMACÊUTICA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (CEATENF/UFC) - (85) 3366.8276/8293 – www.ceatenf.ufc.br // e-mail: [email protected] Equipe Editorial: Profª Drª Marta Fonteles; Profª Drª Ângela Ponciano; Profª Drª Luzia Izabel Mesquita; Profª Drª Nirla Romero; Farm. Msc. Henry Pablo Reis; Estg(s): Liana Rocha Mesquita CUIDADOS FARMACÊUTICOS NA OTIMIZAÇÃO DA ANTIBIOTICOTERAPIA INTRODUÇÃO Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, as infecções bacterianas causam 25% das mortes em todo o mundo e 45% nos países menos desenvolvidos. A administração de antibióticos dá-se com a finalidade de eliminar ou impedir o crescimento de um agente infeccioso sem danos ao hospedeiro. Essa ação pode ocorrer através de vários mecanismos: a) interferência na síntese da parede celular do microorganismo, comprometendo os peptideoglicanos estruturais, por exemplo, penicilinas, cefalosporinas, a vancomicina e a bacitracina, b) comprometimento da síntese de proteínas bacterianas: os aminoglicosídeos, as tetraciclinas, a eritromicina, entre outros e c) inibição da síntese de ácidos nucléicos: o metronidazol, as quinolonas, a rifampicina, as sulfonamidas e trimetoprima. ORIENTAÇÃO AO PACIENTE A prática da Atenção Farmacêutica é de extrema importância para a adesão ao tratamento com antimicrobianos. Este exercício profissional objetiva assegurar um tratamento farmacológico apropriado, efetivo, seguro e cômodo aos pacientes, satisfazendo suas necessidades em relação aos medicamentos, a promoção do uso racional destes, a redução dos custos com a saúde e melhoria contínua da qualidade de vida da população. O paciente deve ter conhecimento da duração do tratamento e do intervalo entre as administrações, garantindo que haja adesão completa ao tratamento, visando a manutenção da concentração plasmática. É importante que o paciente saiba que pode contar com o Farmacêutico caso seja observada ineficácia do fármaco ou o surgimento de efeitos adversos. É necessário também um sistema de educação ao paciente para o uso racional de medicamentos, bem como para diminuir os riscos de contrair novas infecções e ressaltar a importância de não se compartilhar medicamentos com outras pessoas. Isto pode ser feito através de panfletos, palestras, campanhas e nos estabelecimentos de saúde através do exercício da atenção farmacêutica. Uma Assistência Farmacêutica eficiente é essencial para que as etapas de produção, seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição, prescrição e dispensação sejam cumpridas e não haja interrupção do tratamento do paciente por falta de medicamento, pois isso causaria prejuízos. No ambiente NO HOSPITAL No ambiente hospitalar, o Farmacêutico pode atuar em diversas áreas a fim de otimizar a antibioticoterapia. É de extrema importância a participação deste profissional, visto que um dos maiores problemas causados na falha desse tipo de tratamento é a resistência bacteriana aos antimicrobianos. Esta, quando acontece no ambiente hospitalar é muito mais agressiva e de difícil controle, muitas vezes levando o paciente a óbito, dependendo do tipo de microrganismo envolvido. Erros na administração, gerados pela pressão seletiva dos antimicrobianos, ainda são comuns e têm como conseqüência: o aumento do custo e do tempo de tratamento, utilização de medicamentos mais caros e até mais tóxicos; aumento de tempo de hospitalização; isolamento do paciente; aumento da freqüência e da gravidade das infecções hospitalares; elevação da taxa de mortalidade associada a este tipo de infecção. O funcionamento inadequado do sistema de distribuição de medicamentos da farmácia hospitalar também pode ser um fator para que ocorram erros de horário, já que leva a atrasos na entrega do medicamento e, conseqüentemente, na sua administração. Outra estratégia que pode ser recomendada é a participação do Farmacêutico clínico na unidade de internação, fazendo parte da equipe multidisciplinar, para realizar o seguimento da farmacoterapia e contribuir para o uso racional de medicamentos. O Farmacêutico pode atuar juntamente com a equipe de enfermagem, na elaboração de manuais de utilização de medicamentos, abordando aspectos como preparo, esquemas de administração, interações, incompatibilidade e reações adversas. Assim como seria imprescindível a elaboração de uma lista de antibióticos de uso restrito, levando-se em conta o custo do tratamento, o potencial de induzir resistência, a toxicidade e os padrões de sensibilidade dos microorganismos. Estes antimicrobianos seriam utilizados somente em caso de falha da terapia clássica ou na vigência de cepas multirresistentes. O Farmacêutico também pode atuar na realização de auditoria associada à implementação de protocolos, a racionalização das prescrições, suspensão, rotação de ciclos dos fármacos de maior demanda e de sistemas computadorizados para controle adicional de efeitos adversos e registro de ocorrências de resistência bacteriana. Com o objetivo de diminuir o aparecimento de novas cepas resistentes a antimicrobianos, o Ministério da Saúde tornou obrigatório que as Comissões de Controle de Infecção Hospitalar possuam um programa de racionalização do uso de antimicrobianos em todos os hospitais. ESGOTAMENTO TERAPÊUTICO O uso indevido de antimicrobianos (para o tratamento de infecções virais, doses insuficientes, uso de antibiótico de largo espectro, entre outros fatores) é o principal agente causador do aparecimento de cepas resistentes que foram selecionadas ao longo dos anos. Aliado a este fato, o problema é ainda mais agravado devido à redução de muitos programas de pesquisa e desenvolvimento de antibióticos pela indústria farmacêutica. O aparecimento de bactérias multirresistentes se torna ainda mais sério, pois faltam alternativas para evitar sua disseminação na população, visto que o aparecimento de resistência impede a ação eficaz da maioria dos antimicrobianos utilizados. Já se pode antecipar uma escassez crítica de novas classes de antibióticos, por isso é cada vez mais necessário reduzir a taxa de consumo destes. Algumas medidas podem ser tomadas para tentar reverter, ou pelo menos frear, a falta de alternativas para o tratamento das infecções bacterianas, como: educação de prescritores e do público sobre o uso adequado dos antimicrobianos, desenvolvimento de métodos laboratoriais rápidos e confiáveis para diferenciar infecções virais de bacterianas, vacinação e incentivos para a indústria farmacêutica desenvolver novas drogas são fatores essenciais na luta contra o esgotamento terapêutico. MARCADOR INFLAMATÓRIO A Procalcitonina (marcador inflamatório que vem sendo utilizado como um indicador de infecção bacteriana grave) quando utilizada juntamente com a antibioticoterapia, está associada a redução no uso de antibióticos, e pode, muitas vezes, reduzir os custos gerais do atendimento. LEGISLAÇÃO O uso indiscriminado de antimicrobianos, por ser o principal meio pelo qual as bactérias podem tornar-se resistentes, originando novas cepas, fez com que aumentasse bastante a preocupação com esse problema de saúde pública mundial. Sendo assim, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), com o intuito de diminuir o uso irracional de antimicrobianos, e consequentemente o aparecimento de mais cepas de bactérias resistentes a estes, lançou a RDC 44 em 26 de outubro de 2010. Esta, decreta que a dispensação de antimicrobianos deve ser feita sob prescrição em receituário de controle especial e lista o nome dos fármacos que só poderão ser vendidos desse modo. Já no ano vigente, foi publicada a RDCº 20 de 5 de maio, revogando a RDCº44, em que aumenta-se a fiscalização em outros estabelecimentos de saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS O farmacêutico é o profissional capacitado para avaliar as prescrições, propor o uso racional de medicamentos e praticar a atenção farmacêutica, proporcionando as devidas informações e orientação imparcial sobre a utilização dos mesmos. Deve-se ressaltar que os medicamentos de venda livre também devem ter sua utilização orientada. Tanto os farmacêuticos, quanto os demais profissionais dos centros de saúde devem ser treinados para informar sobre as doenças e tratamentos com o objetivo de diminuir a utilização inadequada de antimicrobianos, e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Bibliografia Gurgel, T. C., Carvalho, W. S. A Assistência Farmacêutica e o Aumento da Resistência Bacteriana aos Antimicrobianos. Latin American Journal of Pharmacy. Ano 2008, v. 27, n.1, páginas 118-123. Lima, A.P.C.S., Gallani, N.R., Toledo, M.I., Lopes, L.C. Utilização de um Sistema de Gerenciamento de benefícios farmacêuticos (PBM) para a caracterização do perfil de prescrição e aquisição de antibióticos. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. Ano 2008, v.44, n.2, abr/jun. APOIO PARA DIVULGAÇÃO: