MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO COORDENADORIA GERAL DE PESQUISA Programa Institucional de Iniciação Científica Voluntária - ICV Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Bloco 06 – Bairro Ininga Cep: 64049-550 – Teresina-PI – Brasil – Fone (86) 3215-5560 E-mail: [email protected] AVALIAÇÃO DO EFEITO PROTETOR DE UMA FRAÇÃO DE POLISACARÍDEOS SULFATADOS EXTRAÍDO DE Hypnea musciformis SOBRE A DIARREIA AGUDA INDUZIDA POR ÓLEO RÍCINO EM RATOS Monique Soares Campos (Bolsista ICV/UFPI); Jand Venes Rolim Medeiros (Orientador, Depto de Biomedicina – UFPI) INTRODUÇÃO Existe uma diversidade de fatores que podem ser responsáveis pelo aparecimento da diarreia, tais como agentes infecciosos, toxinas, ansiedade e medicamentos. Todos esses fatores alteram a consistência do bolo fecal, que está associada à absorção de água e à intensidade de propulsão intestinal. Na presença da diarreia tem-se uma diminuição da absorção ou hipersecreção de água, além de aumento da motilidade intestinal, que aumenta a fluidez do bolo fecal. Partindo desse pressuposto, uma droga é considerada antidiarreica se reduzir a secreção intestinal de água, aumentar a absorção ou diminuir a motilidade intestinal. A Organização Mundial da Saúde reconhece o uso de produtos naturais como forma de recurso terapêutico na atenção primária à saúde, contribuindo para a autonomia no cuidado dos usuários do sistema público de saúde (OMS, 1978). Assim, as algas e os produtos naturais em geral, surgem como fontes alternativas de tratamento para esses pacientes. As algas marinhas são importantes fontes de polissacarídeos sulfatados com ação de evitar a desidratação (ALVES, 2011). Entre os compostos derivados de produtos naturais, polissacarídeos têm sido descritos por diversos efeitos biológicos (SUN; MATSUMOTO; YAMADA, 1991; MATSUMOTO et al., 2008). Esses achados são indicativos da potencialidade farmoquímica dos produtos naturais em outras alterações intestinais. A Hypnea musciformis é uma alga cosmopolita do filo Rhodophyta, que possui o polissacarídeo k-carragenana na parede celular. O óleo de rícino é obtido a partir das sementes da planta Ricinus communis. Possui diversas aplicações descritas na literatura, dentre elas sua potente atividade laxativa. A diarreia induzida pelo óleo de rícino é atribuída ao seu princípio ativo, o ácido ricinoléico, um triglicerídeo de cadeia insaturada que após a ingestão oral é hidrolisado em ácido ricinoléico por lipases no lúmen intestinal, fazendo com que uma quantidade considerável de ácido ricinoléico seja absorvida no intestino (FORNAZIERI, 1986). Este por sua vez provoca uma irritação, levando à resposta inflamatória e estresse oxidativo, o que conduz à libertação de autocóides e prostaglandinas, mediadores que são conhecidos por estarem implicados na etiologia da diarreia no homem e em modelos experimentais A liberação destes mediadores causa diminuição da absorção e aumento da secreção, da motilidade e do trânsito intestinal. Neste contexto, o presente estudo, que objetiva avaliar o potencial de utilização de uma fração do polissacarídeo sulfatado da alga marinha Hypnea musciformis na diarreia induzida por óleo de rícino, justifica-se pelo grande potencial farmoquímico dos polissacarídeos oriundos de algas, podendo ser uma nova opção terapêutica para a saúde pública e colaborar para a redução da mortalidade por doenças diarreicas. Além disso, polissacarídeos derivados de produtos naturais são de fácil aquisição e geram poucos efeitos adversos. METODOLOGIA O modelo de diarreia induzida por óleo de rícino em ratos foi realizado de acordo com o método descrito por MASCOLO et al (1994). Os grupos teste foram pré-tratados com o polissacarídeo (10, 30 e 90 mg/Kg), enquanto os controles foram tratados com salina 0,9% (2,5ml/Kg) e com Loperamida (5 mg/Kg), droga padrão para o estudo da diarreia. A administração de todos os compostos foi feita por via oral. Após 1 hora, todos os grupos receberam o óleo de rícino e imediatamente foram acondicionados em caixas forradas com papel absorvente e observados durante 3 horas para verificar a presença de fezes mal formadas, bem como o aspecto das mesmas na porção próxima à cauda do animal. Para cada rato, foi atribuído um escore de severidade da diarreia de 0 a 3, sendo 0 = ausência de diarreia; 1 = eliminação de fezes de aspecto úmido; 2 = eliminação de fezes de aspecto pastoso em pequena/moderada quantidade e 3 = eliminação de fezes de aspecto fluido ou pastoso em grande quantidade. Além disso, as fezes totais e diarreicas foram quantificadas, por grupo, em miligramas. O grupo controle do óleo de rícino foi considerado como 100% de diarreia. O modelo de enteropooling induzido por óleo de rícino foi realizado de acordo com o método descrito por ROBERT et al. (1976) com algumas modificações. Os animais foram divididos em grupos e pré-tratados com Loperamida (5 mg/Kg v.o.) ou com o polissacarídeo da Hypnea musciformis (10, 30 e 90 mg/Kg v.o.). Após 1 hora do pré-tratamento foi induzido o enteropooling pela administração do óleo de rícino. Os grupos controles receberam apenas salina 0,9%, 2,5ml/Kg v.o. ou salina e óleo de rícino. Após o período de 3 h os ratos foram sacrificados e o intestino delgado foi isolado do piloro ao ceco. Em seguida, o conteúdo intestinal foi pesado e o volume de secreção intestinal foi mensurado em tubo graduado. A determinação da motilidade intestinal em ratos foi avaliada pelo método descrito por MARONA e LUCCHESI (2004), que utiliza carvão ativado como marcador. Inicialmente, foi administrado óleo de rícino (10ml/kg) para induzir a motilidade intestinal. Após 1 hora, os animais receberam o polissacarídeo da Hypnea musciformis (dose mais eficiente encontrada) ao grupo I, salina ao grupo II e Loperamida ao grupo III. As administrações foram feitas por via oral. Uma hora depois foi administrado 1ml de carvão ativado a todos os grupos. Após 1 hora, ocorreram os sacrifícios dos animais e o todo o intestino de cada animal foi retirado, a fim de medir a distância percorrida pelo marcador. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foi observado que a administração do polissacarídeo da Hypnea musciformis (PLS H. musc) por via oral reduziu consideravelmente (P<0,05) o número total de fezes. As doses de 10, 30 e 90 mg/Kg do polissacarídeo, quando administradas via oral, inibiram 50,829%; 46,839% e 63,160% da diarreia, respectivamente, quando comparadas ao grupo controle. No enteropooling induzido por óleo de rícino houve inibição de 24,137%; 20,689% e 43,310% nos grupos tratados com o polissacarídeo de Hypnea musciformis nas doses 10, 30 e 90 mg/Kg, respectivamente. Baseado nos dois resultados acima, observou-se que a dose mais eficaz entre as testadas foi a de 90 mg/Kg, pois inibiu a diarreia de forma mais significativa, bem como diminuiu o volume intestinal. Depois disso, foi realizado o experimento para estabelecer o efeito do polissacarídeo sobre o trânsito intestinal na diarreia induzida por óleo de rícino. Quando comparado ao grupo controle, o PLS (90mg/Kg) inibiu 27,52% do trânsito gastrointestinal utilizando carvão ativado como marcador. CONCLUSÃO A partir dos resultados obtidos, sugere-se que o polissacarídeo da Hypnea musciformis reduz o número total de fezes, a quantidade de fezes diarreicas, bem como diminui o trânsito gastrointestinal. A dose de 90mg/Kg do PLS H. musc mostrou que pode ser utilizada como um potencial fármaco para o tratamento de diarreia. Entretanto, outros tipos de estudos ainda devem ser realizados. REFERÊNCIAS ALVES, M. G. C. F.; Propriedades antioxidante, anti-hemostática e antiproliferativa de galactanas sulfatadas da alga vermelha Hypnea musciformis (Wulfen) J. V. Lamouroux. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2011. BERN, C.; MARTINES, J.; DE ZOYSA, I.; GLASS, R.I. The magnitude of the global problem of diarrhoeal disease: a tem-year update. Bull. World Health Organ., v. 70(6), p. 705–714, 1992. FORNAZIERI, A. J.; Mamona uma rica fonte de óleos e divisas, 1a ed.; Ed. Ícone: São Paulo, 1986. SUN, X.B.; MATSUMOTO, T.; YAMADA, H. Effects of a polysaccharide fraction from the roots of Bupleurum falcatum L. on experimental gastric ulcer models in rats and mice. J. Pharm. Pharmacol., v.43, p.699–704. 1991. Palavras-­‐chave: Óleo de Rícino. Diarreia. Produtos naturais. Apoio: CNPq, CAPES.