i UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE GURUPI MESTRADO EM PRODUÇÃO VEGETAL MEMORA PEREGRINA: ANÁLISE ANATÔMICA DO CAULE E CONTROLE COM O HERBICIDA TOGAR (TRICLOPIR + PICLORAN) APLICADO NO CAULE COM DOIS TIPOS DE VEÍCULOS (ÓLEO DIESEL E GLICERINA). GURUPI-TO SETEMBRO DE 2012 ii UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE GURUPI MESTRADO EM PRODUÇÃO VEGETAL MEMORA PEREGRINA: ANÁLISE ANATÔMICA DO CAULE E CONTROLE COM O HERBICIDA TOGAR (TRICLOPIR + PICLORAN) APLICADO NO CAULE, COM DOIS TIPOS DE VEÍCULOS (ÓLEO DIESEL E GLICERINA). MELQUEZEDEQUE DO VALE NUNES Engº Agrônomo Dissertação apresentada a Universidade Federal do Tocantins (UFT), Campus Universitário de Gurupi no dia 30 de Julho de 2012, como parte das exigências para a obtenção do titulo de Mestre em Produção Vegetal. GURUPI-TO SETEMBRO DE 2012 iii Trabalho realizado junto ao laboratório de Plantas Daninhas, Universidade Federal do Tocantins, Campus Universitário de Gurupi, sob orientação do Professor: Prof. Dr.: Eduardo Andrea Lemus Erasmo e como Co-Orientador, o Prof. Dr.: Luíz Gustavo de Lima Guimarães. BANCA EXAMINADORA: _________________________________ Professor: Doutor: Eduardo Andrea Lemus Erasmo Universidade Federal do Tocantins Orientador ________________________________ Professor: Doutor: Luíz Gustavo de Lima Guimarães Universidade Federal do Tocantins Co-Orientador ___________________________________ Professor: Doutor: Tarcisio Castro Alves de Barros Leal Universidade Federal do Tocantins ___________________________________ Doutor: José Iran Cardoso da Silva Universidade Federal do Tocantins iv Esta Dissertação foi apresentada e aprovada em 30 de Julho de 2012, como parte das exigências para a obtenção do titulo de Mestre em Produção Vegetal. Ofereço este trabalho á Deus, meu pai eterno, e Jesus Cristo seu filho, meu Senhor e Salvador por sempre está comigo e me conceder, inteligência, Saúde e o dom da vida. Ofereço Ao senhor Manoel Antonio de Vale e senhora Maria das Dores Freire, meus pais, por serem essenciais em meus ensinamentos, exemplos de vida e dignidade. v Dedico. Agradecimento especial Venho através deste simples parágrafo, agradecer a uma pessoa muito especial, que muito contribuiu para a minha formação ética, pessoal e social. Como forma de gratidão eu dedico esta dissertação à professora Celina dos A. Andrade, a quem sou eternamente grato. vi AGRADECIMENTOS • À Universidade Federal do Tocantins, pela oportunidade de realização deste curso. • A coordenação do curso de pós - graduação em Produção Vegetal e todo corpo docente pelos conhecimentos transmitidos e fundamentais para minha formação acadêmica. • À Universidade Federal de Lavras, em especial ao professor Paulo Trurgilho, Antonio Claret de Matos e aos pósgraduandos do departamento de Ciências Florestais. • Ao professor Eduardo Andrea Lemus Erasmo, pelas orientações ensinamentos e paciência. • Ao professor Luis Gustavo de Lima Guimarães, pela colaboração na logística do trabalho. • Aos membros da banca pelos comentários, sugestões e conhecimentos que aprimoraram este trabalho. • Aos meus colegas Dhiego Brito, Fábio Pinto dos Reis, João Josué Neto, Deyvid Brito pelo apoio na idealização e consolidação deste trabalho. • Ao grupo de Pesquisa do Laboratório de Plantas Daninhas/UFT, em especial ao Thomas Nunes, por ceder toda estrutura para realização deste trabalho. • E a todos que de alguma forma contribuíram nesta grandiosa tarefa. vii SUMÁRIO Pg 1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 A PECUÁRIA NO BRASIL 2.2 PLANTAS DANINHAS EM PASTAGENS 2.2.1 MEMORA PEREGRINA: ESPÉCIE DANINHA PRESENTE EM ÁREAS DE PASTAGENS 2.3 MANEJO DE PLANTAS DANINHAS EM PASTAGENS 2.3.1 CONTROLE QUÍMICO 2.4 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO HERBICIDA TOGAR 1 4 4 4 7 2.5 ABSORÇÃO DOS HERBICIDAS PELAS PLANTAS 2.6 PENETRAÇÃO E ABSORÇÃO DE HERBICIDAS PELO CAULE 2.7 MORFOLOGIA E COMPOSIÇÃO QUIMICA DE CAULE DE PLANTAS 2.7.1 MORFOLOGIA DO CAULE 2.8 GLICERINA: CO-PRODUTO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL 2.8.1 UTILIZAÇÃO DA GLICERINA PULVERIZAÇÕES AGRÍCOLAS 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMO VEICULO CAPITULO I CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA E QUÍMICA DO CAULE DE M. peregrina RESUMO ABSTRACT INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS RESULTADOS E DISCUSSÃO CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS EM 7 8 1 0 1 0 1 3 1 5 1 5 2 1 2 3 2 5 3 4 3 4 3 5 3 6 3 7 3 9 4 1 4 8 4 viii CAPÍTULO II UTILIZAÇÃO DA GLICERINA CO-PRODUTO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL, COMO VEÍCULO NA APLICAÇÃO DO HERBICIDA TOGAR* TB NO CONTROLE DE Memora peregrina. RESUMO ABSTRACT INTRODUÇÃO MATERIAIS E MÉTODOS RESULTADOS E DISCUSSÃO CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 9 5 4 5 4 5 5 5 6 5 7 6 0 6 4 7 3 7 4 LISTA DE TABELAS Pg. TAB. 1 ANÁLISE QUÍMICA DA M. PEREGRINA TAB. 2 TRATAMENTOS A SEREM AVALIADOS FÍSICA E QUIMICAMENTE. TABELA 3. TRATAMENTOS DA AVALIAÇÃO NO CAMPO. TAB. 4 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DA GLICERINA BRUTA UTILIZADA. TAB. 5 ANÁLISE QUÍMICA DA GLICERINA PRÉ – PURIFICADA COM H3PO4 TAB. 6 VISCOSIDADE E TENSÃO SUPERFICIAL DA GLICERINA PRÉ PURIFICADA TAB. 7 AVALIAÇÃO NO CAMPO DO EFEITO DA GLICERINA SOBRE A M. PEREGRINA 4 3 6 2 6 3 6 4 6 4 6 7 7 0 ix LISTA DE QUADROS QUADRO 1. PLANTAS DANINHAS CONTRLADAS PELO HERBICIDA TOGAR TB* Pg. 9 x LISTA DE FIGURAS Pg. FIG. 1 IMPACTOS CAUSADOS PELAS ESPÉCIES INVASORAS FIG. 2 ESTRUTURAS QUÍMICAS DO PICLORAN E DO TRICLOPIR. FIG. 3 APLICAÇÃO DE HERBICIDA VIA CAULE NA M. PEREGRINA. FIG. 4 CORTE TRANSVERSAL DO CAULE VEGETAL PERTENCENTE Á FAMÍLIA BIGNONIACEAE EM DIFERENTES ESTÁDIOS DE DESENVOLVIMENTO. FIG. 5 ANATOMIA DE UM CAULE JOVEM E DESENVOLVIDO. 5 8 1 0 1 8 1 xi FIG. 6 ANATOMIA DO CAULE DE MEMORA PEREGRINA. FIG. 7 VISUALIZAÇÃO DAS FASES (ÁCIDOS GRAXOS, GLICERINA E SAIS) LISTA DE SIGLAS PIB CM US$ % PRODUTO INTERNO BRUTO CENTIMETRO CIFRÃO DO DÓLAR PORCENTAGEM 9 4 1 6 0 xii UA/HÁ KG PH BR MMHG E.A/L ºC PPM RNA DNA PKA KOW KOC MESH AIA 2,4D UNIDADE ANIMAL POR HECTARE QUILOGRAMA PODER HIDROGENIÔNICO BRASIL MILIMETRO DE MERCÚRIO INGREDIENTE ATIVO POR LITRO GRAU CÉLCIUS PARTE POR MILHÃO ACIDO RIBONOCLEICO ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLEICO CONSTANTE DE EQUILÍBRIO ACIDEZ PARTIÇÃO OCTANOL ÁGUA CONSTANTE CARBONO ORGÂNICO UNIDADE DE MEDIDA ÁCIDO INDOL ACÉTICO ÁCIDO 2, 4 – DICLOROFENOXIACÉTICO 1 1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA A pecuária constitui-se no setor mais importante nas exportações nacionais, com uma participação de 8,39% no PIB do país (IBGE, 2010). Do total da área de pastagem estabelecida, 18 % estão concentradas na região norte do Brasil, totalizando especificamente no estado do Tocantins 12.000.000 ha, com um rebanho de 7.585.791 milhões de cabeça (ADAPEC, 2012). Dias-Filho (2011) relatou que cerca de 70 milhões de hectares de pastagens, nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, estariam degradadas ou em processo de degradação, isto é, seriam pastagens improdutivas ou de muito baixa produtividade. Diversos fatores contribuem para isto, como solos de baixa fertilidade, forrageiras inadequadas, alta pressão de pastejo e elevada infestação das plantas daninhas, sendo estes, reflexo direto de um manejo inadequado. Uma espécie vegetal é considerada como planta daninha se estiver direta ou indiretamente prejudicando determinada atividade humana, como, por exemplo, plantas interferindo no desenvolvimento de culturas comerciais ou plantas tóxicas em pastagens (CONCENÇO, 2012). Entre as plantas daninhas de mais difícil controle encontram-se as arbustivas, sendo de maior importância as que possuem estruturas reprodutivas vegetativas (CHRISTOFFOLETI et al., 2004). Entre estas, nas áreas de cerrado, destaca-se a Memora peregrina, conhecida popularmente como ciganinha. É uma planta pertencente à família Bignoniaceae, nativa da flora do cerrado e que se tornou invasora de pastagens cultivadas (KOLLER, 2011). Segundo Grassi et al. (2005) isto se deve ao fato de a mesma ser uma espécie de muito difícil controle. A dificuldade de controle da ciganinha, assim como, a capacidade de regenerar a parte aérea quando cortadas, ou mal controladas, tem promovido o surgimento de métodos de controle pouco tradicionais, porém eficazes como, por exemplo, a utilização de herbicidas aplicados no toco ou a aplicação diretamente no caule, utilizando-se como veículo de aplicação o óleo diesel (VITORIA FILHO, 2002). O uso de óleo diesel nestes tipos de aplicação torna-se muito oneroso para o produtor, visto a expressiva quantidade utilizada nas pulverizações, 2 correspondendo á 92% de volume da calda. Outra variável em questão é a contaminação que o óleo diesel tende a causar no meio ambiente, sendo necessária a substituição deste contaminante por um produto menos tóxico e mais barato para o produtor. A atividade biológica de um herbicida na planta ocorre de acordo com a sua absorção, translocação, metabolismo e sensibilidade da planta perante o mesmo e, ou, a seus metabólitos. Por isso, o simples fato de um herbicida atingir as folhas e, ou, ser aplicado no solo não é suficiente para que ele exerça a sua ação. Há necessidade de que ele penetre na planta, transloque e atinja o local de ação (FERREIRA et al., 2010). Para melhorar a eficiência do controle químico de plantas, ocorre a associação dos herbicidas com produtos denominados adjuvantes e/ ou surfactantes, sendo que estes atuam diretamente no molhamento, espalhamento, formação de espuma, e dispersão da calda de pulverização (MELO et al., 2012) Uma das funções dos adjuvantes na calda de pulverização juntamente com herbicidas é ampliar a eficiência destes últimos, agindo na estrutura molecular da solução, quebrando a tensão superficial, agregando energia de quebra molecular, agindo diretamente no tecido vegetal, facilitando e auxiliando na penetração cuticular (MACIEL et al., 2011). A implantação da obrigatoriedade da adição gradativa de Biodiesel ao óleo diesel, determinada por meio de lei federal, incrementou a instalação de usinas produtoras de Biodiesel acarretando junto com isto a produção de diversos co-produtos. Um dos mais expressivos é a glicerina, visto á quantidade resultante no processo de transesterificação, em média 10 litros para 100 litros de Biodiesel produzido (DADOSGOV, 2012). No Brasil, no ano de 2011, a produção de Biodiesel foi 16.955.989 barris equivalente de petróleo, sendo que no estado do Tocantins o total foi de aproximadamente 641.897 barris equivalente de petróleo, gerando uma oferta de glicerina bruta de aproximadamente 10% (DADOSGOV, 2012). No ano de 2011, no Brasil foram oferta de glicerina foi de 1.695.598 barris equivalente de petróleo, no entanto a demanda da glicerina no Brasil foi de aproximadamente 24 milhões de litros (ASSOCIAÇÃO DA INDÚSTRIA QUÍMICA BRASILEIRA, 2012). Frente a esta diferença, diversas áreas de pesquisa procuram 3 alternativas para a utilização da glicerina, além daquelas tradicionalmente utilizadas no setor químico, alimentício e farmacêutico. Este composto apresenta propriedades físico-químicas que abrem a possibilidade da utilização mesmo no setor agrícola, especificamente como adjuvante nas caldas de pulverização de defensivos. Desta maneira, o presente trabalho teve como objetivo analisar a anatomia e composição química do caule de M. Peregrina, assim como, as características físico-químicas da glicerina pré-purificada, de forma a ser utilizada em substituição ao óleo diesel na aplicação do herbicida Togar* TB no controle de plantas daninhas. 4 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 A Pecuária no Brasil e no Tocantins A pecuária é uma das atividades econômicas mais importantes do país. Em 2010 a produção de carne bovina, em equivalente carcaça, foi estimada em 8,75 milhões de toneladas (CONSELHO NACIONAL DA PECUÁRIA DE CORTE, 2011). No mesmo ano, o consumo interno de carne foi de 6,66 milhões de toneladas e as exportações de 2,15 milhões de toneladas, garantindo ao Brasil, a permanência como o maior exportador de carne bovina do mundo, em volume comercializado. O superávit comercial de US$ 2,99 bilhões representou 6,7% do total do saldo da balança comercial brasileira, que foi de US$ 44,76 bilhões (BRASIL, 2011). No Estado do Tocantins estima-se que dos cerca de 12 milhões de hectares agriculturáveis do Estado, mais da metade seja ocupada por áreas de pastagens (IBGE, 2010), com um rebanho de 7.585.791 milhões de cabeça no ano de 2011 (ADAPEC, 2012). 2.2 Plantas daninhas em pastagens Segundo Harris (2010), a degradação das pastagens é um dos maiores problemas da pecuária brasileira, e as causas de uma pastagem mal formada ou formação desuniforme é a ocorrência de pragas, com destaque para plantas daninhas. Estes problemas podem representar grandes perdas para o produtor. A degradação de pastagens é um fenômeno de abrangência global (HARRIS, 2010; MIEHE et al., 2010), sendo um evento comum em pastagens formadas em diferentes ecossistemas da América Latina tropical. No Brasil, esse fenômeno tem sido reportado como causa importante de prejuízos econômicos e ambientais Dias-Filho (2011), sendo particularmente comum nas áreas de fronteira agrícola do País. Diversos fatores contribuem para a baixa produtividade, como solos de baixa fertilidade, forrageiras inadequadas, pressão de pastejo inadequada, e infestação das plantas daninhas. 5 Estimativas citadas em Dias-Filho (2011) indicam que cerca de 70 milhões de hectares de pastagens, nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, estariam degradados ou em processo de degradação, isto é, seriam pastagens improdutivas ou de muito baixa produtividade. Uma das principais características destas áreas degradadas é a presença abundante de plantas daninhas, as quais competem com a cultura forrageira e intoxicam os animais, alterando o comportamento de pastejo dos mesmos. Em trabalho realizado por Freitas et al. (2005), foi evidenciado um aumento de 47,3% na produção de biomassa de Brachiara brizantha quando se utilizou o controle químico com o herbicida indicado para controle de plantas invasoras de pastagens. Na Figura 1 podem ser observados os diferentes aspectos envolvidos pela presença de plantas daninhas. Figura 1 - Impactos causados pelas espécies invasoras nos ecossistemas invadidos. Fonte: Marchante (2003). Trabalhos de Costa et al. (2011) realizados na região norte do Tocantins, identificaram várias espécies invasoras com efeito tóxico para animais, as quais foram Ipomoea setifera (causadora de incoordenação em bovinos), a Manihot glaziovii (responsável por morte súbita em bovinos), a Senna occidentallis (causadora de miopatia em bovinos), a Enterolobium 6 gumiferum (causa de fotossensibilização em ovinos), a Crotalaria sp (causa de hepatopatia em bovinos) e Asclepias sp. (responsável por tremores musculares em bovinos). O sistema de produção animal é comandado por crescimento, utilização e conversão da forragem consumida em produto animal, e quando ocorre a desuniformidade de pastejo, todas as etapas do processo são comprometidas, pois os animais passam a superpastejar, ocasionando alterações estruturais nas plantas o que leva a uma diminuição na produção de forragem tanto nas áreas subutilizadas quanto nas superpastejadas (BERNDT, 2010). Além da redução do desempenho animal, as plantas daninhas promovem alterações no sistema de produção diminuindo a capacidade de suporte da pastagem, provocando mudanças na morfologia da planta forrageira que conduzem a uma menor produção de massa, além de uma menor utilização da forragem pelo animal. Com isso são afetados os principais componentes da produtividade animal de um sistema, que são o desempenho animal (ex: kg/dia, litros de leite/dia) e a taxa de lotação (UA/ha). Dessa forma a planta daninha causa no sistema pecuário danos nas duas faces do processo produtivo, tanto para o animal quanto para a própria planta forrageira e ainda na interação desses dois componentes, sendo de suma importância o seu controle para obtenção de resultados produtivos e econômicos (QUEIROZ et al., 2012). A identificação das principais plantas daninhas, observando suas características morfológicas, anatômicas, ecológicas, grau de agressividade e resposta a determinados tratamentos, é o primeiro passo para se determinar o melhor método de manejo (DIAS-FILHO, 2011). A infestação de pastagens por plantas daninhas na Amazônia é formada por uma comunidade diversificada, em termos de espécies e densidade populacional, sendo relatadas mais de 500 espécies daninhas, distribuídas em um grande número de famílias botânicas (FONTES et al., 2011). As plantas daninhas no ecossistema da pastagem, de um modo geral são constituídas por plantas dicotiledôneas arbustivas e arbóreas. Dantas & Rodrigues (1980) realizaram um levantamento em pastagens cultivadas na 7 Amazônia, apresentando uma lista de 266 espécies pertencentes a 54 famílias e 168 gêneros. 2.2.1 Memora peregrina: espécie daninha presente em áreas de pastagens A M. peregrina conhecida popularmente como “ciganinha”, é nativa do Brasil e pertence à família das Bignoniaceaes, é uma planta perene, ereta de ramos escandentes, lenhosa, pouco ramificada, com folhas de textura coriácea e áspera e altura de 80- 140 cm. Propaga-se por sementes, contudo expandese numa grande reboleira através de rizomas (MENDONÇA, 2004). É típica dos cerrados brasileiros, perpetuando nestas áreas após a sua transformação em pastagens, tornando-se uma planta indesejável e de difícil controle. Nunes (2002) alerta que a infestação da ciganinha já inviabilizou várias áreas de pastagens ou mesmo propriedades, por causa dos altos níveis de infestação e elevados custos para erradicá-la. Ainda destaca que esta alta capacidade de infestação deve-se as eficientes formas de dispersão (sementes aladas) e propagação vegetativa, possuem caules subterrâneos com grande capacidade de rebrota. Estudos realizados por Grassi et al. (2005) demonstram que extratos metanólicos da casca do caule e extratos etanólicos e hexânicos de folhas de M. peregrina, apresentam atividade alelopática, indicando a presença de compostos inibidores da germinação de outras espécies. Embora esta planta não faça simbiose com microrganismos fixadores de nitrogênio, estes mesmos autores observaram que ela apresenta uma alta capacidade de armazenar nitrogênio no caule subterrâneo, na forma de alantoína (cerca de 16 % do peso seco). Esta característica pode ser uma das estratégias utilizadas por esta espécie para se estabelecer com sucesso como invasora. 2.3 Manejo de plantas daninhas em pastagens O manejo das plantas daninhas é a combinação de uma forma racional de medidas preventivas com medidas de controle e erradicação. As medidas preventivas consistem na adoção de métodos que impeçam ou minimizem a introdução e disseminação de plantas daninhas na área. O melhor método de 8 controle de plantas daninhas é evitar o aparecimento delas. Contudo podem-se utilizar diversos tipos de controle, seja ele cultural, mecânico, biológico e químico, sendo que este último se mostra mais eficiente, devido à capacidade de aplicação em grandes áreas e controle de plantas com grande capacidade de rebrota. 2.3.1 Controle químico O controle químico é realizado com herbicidas, que provocam a morte ou impedem o desenvolvimento das plantas daninhas. Esses produtos devem e ser seletivos às forrageiras. Segundo Correia et al. (2010) para o sucesso de pulverizações de herbicidas deve-se levar em conta características foliares como o pH foliar, ceras epicuticulares, estômatos, tricomas, bem como, características físicoquímicas da solução de pulverização, como a tensão superficial, área de molhamento, pH da solução, tipo de formulação, etc. Dentre as moléculas utilizadas no controle de plantas daninhas denominadas duras (semi-arbustivas e arbustivas) destacam-se o ácido 3,5,6tricloro-2-piridiloxiacético (triclopir) e o ácido 4-amino-3,5,6-tricloropiridina-2carboxílico (picloram), que são os princípios ativos dos principais herbicidas registrados para pastagens. Sendo estas moléculas seletivas e sistêmicas, pertencentes á classe dos compostos que possui um anel piridínico como estrutura base (Figura 2). NH2 Cl Cl N P i c l o Cl Cl CO2H Cl r a n Cl N T O r i c l o p CO2H i r Figura 2 - Estruturas químicas do picloran e do triclopir. Juntas estas moléculas formam o herbicida Togar TB*, sendo este recomendado para o controle de plantas perenes e anuais de folhas largas em pastagens conforme descrito no Quadro 1 (U.S.E.E.P.A, 1991). 9 Quadro 1- Plantas daninhas controladas pelo herbicida Togar TB*. Indicação (Nome Comum – Nome científico) Dose 4% a 8% (misturar 4,0 a Cambotá – Tapirira guianensis 8,0 litros do produto em 96,0 ou 92,0 L de óleo diesel). Limãozinho – Polygala klotzschii Ata-brava – Duguetia furfuracea Pastagens Leiteiro – Peschiera fuchsiaefolia Aroeirinha – Schinus terebinthifolius 6% a 8% (misturar 6,0 a 8,0 litros do produto em Goiabinha – Psidium guianeese 94,0 ou 92,0 L de óleo Ciganinha – M. peregrina diesel). Ipê-tabaco – Tabebuia chrysotricha Ipê-tabaco – Tabebuia chrysotricha Jurema-preta – Mimosa hostilis Fonte: Adaptado da Dow AgroSciences 2012. O picloran possui alta solubilidade, pKa 2,3, Kow 1,4 e Koc médio de 16 mL g-1 de solo (SILVA et al., 2005). As demais características são citadas abaixo: - Formulação: sal amina; - Volatilidade: baixa 6,2 x 10-7 mmHg a 25ºC; - Absorção; folhas, raiz e caule; - Translocação: apossimplástica; - Persistência: variável dependendo de condições ambientais; - Tolerância de resíduos na carne: 0,2 ppm; O triclopir apresenta alta solubilidade; pKa 2,68; Kow 2,64 e Koc médio (RODRIGUES; ALMEIDA, 2005). As demais características são citadas abaixo: - Formulação: sal amina; - Marcas comerciais: Togar (triclopir + picloran); Garlon (triclopyr) – 480 g e.a/l; - Absorção: folhas, raiz e caule; - Translocação: apossimplástica; - Persistência: meia via no solo de 20 a 45 dias. 10 2.4 Características gerais do herbicida Togar TB O herbicida Togar TB*, com formulação concentrado emulsionável, é comercializado pela multinacional DOW AgroSciences, específico para aplicação basal dirigida (Figura 3). Sua aplicação deve ser realizada por meio de pulverizador costal manual, em aplicação dirigida no 1/3 inferior das plantas daninhas em todo o perímetro do caule das mesmas, até atingir o ponto de escorrimento. Na aplicação deve-se utilizar bicos de jato tipo cone cheio, preferencialmente de jato com ângulo variável, regulando com o menor ângulo possível, em volume de óleo diesel suficiente para uma distribuição uniforme (DOW AGROSCIENCES, 2012). Figura 3: Aplicação do herbicida Togar em plantas de Memora peregrina. Ainda segundo a Dow AgroSciences (2012), o TOGAR* TB causa fitotoxicidade somente na área onde está a planta daninha, pois a aplicação é localizada, nos restante da área não haverá dano à pastagem. 2.5 Absorção dos herbicidas pelas plantas Os herbicidas podem penetrar nas plantas através das suas estruturas aéreas (folhas, caules, flores e frutos) e subterrâneas (raízes, rizomas, estolões, tubérculos, etc.), de estruturas jovens como radículas e caulículo e, também, pelas sementes. 11 Um mesmo herbicida pode influenciar vários processos metabólicos na planta, entretanto a primeira lesão biofísica ou bioquímica que ele causa na planta é caracterizada como o seu mecanismo de ação. A seqüência de todas as reações até a ação final do produto na planta caracteriza o seu modo de ação (SILVA et al., 2007). Algumas características físico-químicas de herbicidas, tais como: solubilidade em água, pressão de vapor, pKa, Kow, Koc e meia-vida, podem explicar a maioria dos aspectos relacionados com a eficácia e o comportamento ambiental. A absorção de herbicidas pela planta envolve a penetração inicial por regiões metabolicamente não ativas e, posteriormente, a absorção simplástica, sendo a duração desse processo dependente da espécie envolvida, da idade da planta, das condições ambientais, da concentração do herbicida, dentre outros fatores (SILVA et al., 2007). Segundo Concenço (2007) a translocação de herbicidas, do local de absorção até o sítio de ação, pode ser realizada principalmente por duas vias: xilema e floema. Uma vez que o transporte pelo xilema é unidirecional (para as folhas), ele é de importância secundária para o transporte de herbicidas aplicados às folhas até órgãos de crescimento rápido com baixas taxas de respiração, como gemas, flores ou frutos. Essa tarefa é cumprida pelo floema. Antes de apresentar ação fitotóxica, o herbicida deve ser absorvido via apoplasto e/ou simplasto e alcançar o seu sítio de ação, geralmente localizado no interior de uma organela. No entanto, após atingir a superfície foliar, o herbicida está sujeito a vários destinos: escorrer, ser lavado pela ocorrência de chuva, secar e formar substância amorfa, cristalizar após a evaporação do solvente ou, ainda, penetrar na cutícula e permanecer retido nela, não sendo translocado (WERLANG et al., 2003). O efeito disto é a menor absorção e, consequentemente, a menor eficiência do herbicida. Martins et al. (2009) estudando a ação de adjuvantes na absorção e translocação de glifosato em plantas de Eichhornia crassipes, afirmaram que períodos inferiores a seis horas após a aplicação do glifosato não é suficiente para uma absorção e/ou translocação eficiente e controle efetivo das plantas. Segundo Araldi (2010) a absorção e translocação de herbicidas dependem das propriedades apresentadas acima, sendo que a principal 12 característica é constituída pelas propriedades lipofílicas e hidrofílicas dos herbicidas, as quais podem ser medidas através do coeficiente de partição octanol-água (Kow). Este coeficiente representa a proporção entre as quantidades de um determinado herbicida que migram para um solvente orgânico apolar (geralmente o octanol) ou para a água (polar). Sendo que quanto maior o coeficiente de partição do herbicida, maior a sua lipofilicidade, sendo verificada correlação linear inversa entre os valores de tal coeficiente e a solubilidade em água. Briggs et al. (1982) verificaram que herbicidas com Kow próximos a 100, são os que apresentam maior facilidade para atravessar a plasmalema, ou seja, entram e saem com maior facilidade no simplasto, e são mais facilmente transportados das raízes à parte aérea das plantas. Produtos mais lipofílicos, (Kow > 10.000) ou hidrofílicos (Kow < 0,32), foram transportados à parte aérea com grande dificuldade, apesar do grande acúmulo dos produtos lipofílicos nas raízes. De acordo com Briggs (1984) compostos lipofílicos podem sofrer forte adsorção pela matéria orgânica do solo, dificultando sua absorção pela planta, no entanto, quando absorvido por esta, compostos com K ow entre 10 e 30 tendem a ser melhor transportados para a parte aérea da mesma, apesar de os máximos transportes terem sido verificados para compostos que possuem valores de Kow próximos a 100. O Kow de alguns herbicidas utilizados na cultura da cana-de-açúcar é de 16 para o amicarbazone, 11,3 para hexazinone, 671 para o tebuthiuron e em torno de 0,01 para o imazapic (RODRIGUES; ALMEIDA, 2005). De acordo com a observação de Briggs (1984) é possível inferir que o amicarbazone apresente melhor condição de ser absorvido pelas plantas devido à faixa de abrangência ótima do Kow de 10 a 30. Mendonça (2004) estudando a absorção e translocação do ácido 2,4diclorofenoxiacético (2,4-D) e a mistura deste composto com o picloram, aplicados via foliar em plantas de M. peregrina, concluiu que a translocação do herbicida 2,4-D isolatamente ou em mistura com picloran, foi insignificante em plantas de M. Peregrina. Desta forma a utilização do 2,4-D como método de controle desta espécie não é recomendada. O controle foliar não funciona para a M. peregrina devido ao fato de suas folhas serem bastante grossas impedindo a absorção do produto para 13 posterior translocação, e também devido a alta quantidade de reservas de nutrientes que a planta armazena em seu sistema radicular o que permite que ela perca suas folhas, mas não morra, recompondo sua área foliar em pouco tempo (BRAGA et al., 2012). Esse método pode funcionar apenas em plantas bem novas, quando ainda apresentam folhas finas e macias, necessitando de avaliação criteriosa da situação. 2.6 Penetração e absorção de herbicidas pelo caule A M. peregrina possui um caule aéreo e outro subterrâneo, tendo este último, gemas prontamente dispostas a germinarem, dependendo do estresse sofrido pela parte aérea da planta, como por exemplo, uma roçada. No controle desta planta comumente recomenda-se iniciar um programa de erradicação utilizando herbicidas quando a planta ainda se encontra em seu estado jovem, com caule herbáceo, o que aumenta consideravelmente a eficiência de controle. De acordo com Raven et al. (2007), caules herbáceo tendem á ser tenros, flexíveis, possuem epiderme recoberta por cutícula, parênquima cortical, colênquima e medula (cilindro central), sendo assim mais susceptíveis à herbicidas. A camada cuticular funciona como uma barreira à perda de água e também como uma barreira à entrada de pesticidas e microrganismos na planta. O processo de absorção de um herbicida é complicado em razão da espessura, composição química e permeabilidade da cutícula, que variam em função da espécie, da idade da folha e do ambiente sob o qual a folha se desenvolve (SILVA et al., 2007). A penetração de herbicidas através do caule de plantas resistentes a aplicação foliar, é uma opção muito aproveitada na prática nos dias atuais. Entretanto, o caule também possui componentes estruturais que podem dificultar a entrada dos herbicidas, como a periderme recoberta pela cutícula, presença de taninos, ácidos graxos, lignina, celuloses e terpenos. Baseado na sua estrutura e composição, a periderme apresenta baixa permeabilidade à água e, também, aos herbicidas aplicados na parte aérea, principalmente os polares. No entanto, existem estruturas especificas 14 denominadas lenticelas que atravessam a periderme, sendo, portanto rotas importantes para a penetração de herbicidas via caule. Além de pequenas rupturas na casca que ocorrem com o crescimento do caule, em diâmetro (SILVA et al., 2007). Para a atuação de herbicidas aplicados via caule, eles são preparados em formulações lipofílicas, usando-se óleo como veículo, sendo esses aplicados em altas concentrações (5% - 10%), através de pulverização ou pincelamento. Alternativa prática mais eficiente seria injetar o herbicida com equipamento próprio com uma pistola injetora, até a região do câmbio. Neste caso, o herbicida será mecanicamente introduzido através da casca, este processo está sendo implantado em algumas empresas de reflorestamento, usando o herbicida imazapir 20 a 30 dias antes da derrubada das árvores de eucalipto, visando evitar a rebrota das cepas (SILVA et al., 2007). Mendonça (2000) estudando características bioquímicas de espécies daninhas observou que as espécies daninhas que apresentaram ceras epicuticulares com maior porcentagem de compostos apolares, prejudicam a absorção de herbicidas com baixo Kow. De acordo com Silva et al. (2007), os herbicidas lipofílicos (alto Kow) se solubilizam nos componentes lipofílicos da cutícula e se difundem através desta. Com relação aos herbicidas hidrofílicos, admite-se que a cutícula tenha uma estrutura porosa, que se mantém hidratada, dependendo das condições ambientais, sendo esta água de hidratação da cutícula a rota de penetração hidrofílica. Velini e Trindade (1992) citam como outra possível rota de absorção dos herbicidas polares os filamentos de pectina dispersos na matriz da cutina, que podem cruzar toda a cutícula. Esses filamentos, desde que hidratados, podem atuar como via de transporte desses produtos. Passine et al. (1997), estudando uma forma de se controlar o Tecoma stans (Amarelinho), concluíram que a melhor forma de controle é a pulverização no caule utilizando a mistura de 2,4-D, picloram e óleo mineral, uma vez que, esta planta mostrou-se bastante resistente perante a pulverização foliar. Monquero et al. (2004), caracterizando a composição das ceras epicuticulares das plantas grandifolia e Amaranthus daninhas Commelina benghalensis, hybridus, correlacionando-as com a Ipomoea absorção 15 diferencial do glifosato entre essas espécies, concluíram que um dos mecanismos de tolerância em C. benghalensis a herbicidas é a penetração diferencial devido à composição química das ceras epicuticulares, que apresentam componentes de natureza lipofílica em maior concentração que as demais espécies estudadas. O mecanismo de ação das moléculas que compõem o herbicida Togar* TB envolve o metabolismo de ácidos nucléicos e a plasticidade da parede celular. Estes herbicidas provocam a acidificação da parede celular através do estímulo da atividade da bomba de prótons da ATPase, ligada à membrana celular. A redução no pH apoplástico induz à elongação celular pelo aumento da atividade de certas enzimas responsáveis pelo afrouxamento celular. Baixas concentrações destes herbicidas também estimulam a RNA polimerase, resultando em aumentos subseqüentes de RNA, DNA e biossíntese de proteínas. Aumentos anormais nestes processos levam à síntese de auxinas e giberilinas, as quais promoverão divisão e alongamento celular acelerado e desordenado nas partes novas da planta, ativando seu metabolismo e levando ao seu esgotamento. Por outro lado, em concentrações mais altas, estes herbicidas inibem a divisão celular e o crescimento, geralmente nas regiões meristemáticas, as quais acumulam tanto assimilados provenientes da fotossíntese quanto o herbicida transportado pelo floema. Estes herbicidas estimulam a liberação de etileno que, em alguns casos, produzem sintomas característicos de epinastia associados à exposição a estes herbicidas. 2.7 Morfologia e composição quimica do caule 2.7.1 Morfologia do caule Para entender a penetração de herbicidas na planta por meio do caule, inicialmente, deve analisar a morfologia e a composição química do mesmo, que interagirão com as características físico-químicas do herbicida aplicado. O caule é um órgão da planta que desempenha diversas funções como sustentação, transporte, armazenamento, produção de folhas e estruturas reprodutivas. Origina-se a partir do epicótilo do embrião e ao contrário da raiz, o caule é dotado de nós e entrenós. Os nós são as regiões de onde se 16 originam as folhas e os entrenós são delimitados por dois nós. Em cada nó, origina-se uma folha e na sua axila uma gema lateral ou axilar. A gema lateral permanece dormente até que um estímulo quebre a sua dormência para que esta se desenvolva produzindo um ramo lateral (RAVEN et al., 2007). Em um corte transversal do caule, observa-se a epiderme, o córtex, o cilindro vascular e a medula. A epiderme, via de regra é unisseriada apresentando cutícula e algumas vezes estômatos. O córtex é a região de sistema fundamental que está abaixo da epiderme e externo ao cilindro vascular. No córtex podem estar presentes laticíferos, ductos de mucilagem ou de resina (VIDAL et al., 2000). Viana et al. (2010) caracterizando anatomicamente o caule de Anemopaegma arvense (VELL.) constataram a presença de uma epiderme unisseriada e tricomas unicelulares, sendo que o córtex é formado por células do colênquima e parênquima. Apresentando ainda um crescimento secundário, formado por raios de xilema secundário. Ainda observaram células de metaxilema e protoxilema, que são circundados por vasos de floema. Uma visualização melhor da estrutura anatômica do caule pode ser vista na Figura 4, especificamente na espécie Tynanyhus fasciculatus Miers da família Bignoniaceae, mesma família da M. peregrina, objeto de estudo deste trabalho. 17 Figura 4: Corte transversais do caule de Tynanyhus fasciculatus em diferentes estádios de desenvolvimento. Legenda: A: Fase meristemática; B: Crescimento primário estabelecido e inicio do crescimento secundário; C: Crescimento secundário usual; D – F: Crescimento secundário não usual; CP: Cordões procambiais; Ep: Epiderme; F: Floema primário; Fi: Fibras periciclicas; FS: Floema secundário usual; FSN: Floema secundário não usual; M: medula; MF: meristema fundamental; P: Periderme; Pd: Protoderme; X: Xilema primário; XS: Xilema secundário usual; XSN: Xilema secundário não usual; Barras variando de 300 a 5000 µm. Fonte: Adaptado de Nascimento (2008). 18 Na formação de um caule, o meristema apical do sistema caulinar origina meristemas primários, protoderme, procâmbio e meristema fundamental, que se desenvolvem no corpo primário da planta originando: epiderme, tecidos vasculares (xilema primário e floema primário). O córtex do caule geralmente contém parênquima com cloroplastos, e colênquima, e em algumas plantas, é o esclerênquima e não o colênquima que se desenvolve como tecido de sustentação. A parte mais interna do tecido fundamental, a medula, é composta de parênquima (RAVEN et al., 2007). O crescimento secundário resulta da atividade de dois meristemas laterais: o câmbio vascular e o câmbio da casca, originados a partir dos meristemas primários, procâmbio e meristema fundamental de forma respectiva. O câmbio vascular será responsável pela produção de xilema e floema secundários no caule, resultando na formação de um cilindro de tecidos vasculares. Comumente, muito mais xilema secundário do que floema secundário é produzido no caule, como acontece na raiz, causando a destruição da região medular. Com o crescimento secundário o floema é empurrado para fora e suas células de parede fina são destruídas (RAVEN et al., 2007). Na Figura 5 pode ser observado um comparativo de dois caules em diferentes estádios de desenvolvimento. No caule jovem, observa-se o parênquima medular e o xilema (protoxilema e metaxilema) em estádio de formação, o floema ainda não está totalmente desenvolvido, bem como ainda observa-se a presença do colênquima, este se origina do meristema fundamental, sendo o tecido de sustentação constituído por células vivas. No caule adulto, observa-se que os vasos condutores (xilema e floema), estão bem desenvolvidos, o parênquima já se apresenta na sua forma adulta (globular), e os tecidos de revestimentos, como por exemplo, a periderme, em estádio avançado de desenvolvimento, sendo que este é formada pelo súber pluriestratificado, felogênio e feloderme. 19 Figura 5: Anatomias de um caule jovem (A) e de um caule desenvolvido (B). Fonte: Adaptado de (RAVEN et al., 2007). O caule é constituído por celulose, lignina e hemiceluloses como componentes estruturais e por diversos compostos não pertencentes à parede celular, denominados de extrativos (GULLICHSEN; PAULAPURO, 2000). Esse termo se refere a substâncias de baixa ou média massa molecular, que podem ser extraídas em água ou solventes orgânicos. 20 Os constituintes do caule solúveis em água são principalmente alguns sais ou minerais inorgânicos, açúcares e polissacarídeos. Os compostos solúveis em solventes orgânicos pertencem às classes dos ácidos e ésteres graxos, alcoóis de cadeia longa, esteróides, compostos fenólicos e glicosídeos (MORAIS et al., 2005). Alves et al. (2011) estudando a composição química de Struthanthus marginatus Desr. Blume, concluíram que seus compostos bioquímicos (extrativos, lignina), aumentaram em função do tempo. Dentre os compostos bioquímicos deve-se ressaltar a importância dos pertencentes á classe dos ésteres graxos, que na planta tem função de defesa, e estão contidos na cutícula, estes previnem a perda de água e entrada de patógenos e de moléculas químicas indesejáveis, como por exemplo, de herbicidas (RAVEN et al., 2007). Com o passar do tempo, estes compostos tendem á aumentar em quantidade, tornando a planta ainda mais resistente, por este motivo recomenda-se efetuar o controle de plantas daninhas denominadas duras, a exemplo da M. peregrina, no seu estado juvenil onde o caule é mais herbáceo e menos lignificado. A absorção de herbicidas pelo caule é influenciada pela disponibilidade dos produtos nos locais de absorção e por fatores ambientais (temperatura, luz, umidade relativa do ar e umidade do solo), que influenciam também a translocação destes até o sítio de ação. Além destes fatores, cita-se a proteção mecânica da planta, como fonte de impedimento á absorção e translocação da molécula até o sítio de ação. A proteção mecânica dos vegetais tem como principal responsável a cutícula, sendo que esta recobre todas as células da epiderme da planta, incluindo aquelas tecidos presentes no caule vegetal (SILVA et al., 2007). A cutícula é recoberta por uma camada de cera e esse conjunto, freqüentemente, é referido como camada cuticular. Em geral, essa camada é uma complexa mistura de alcanos de longas cadeias (21 - 37 carbonos), álcoois, cetonas, aldeídos, ésteres, ácidos graxos, etc. (FERREIRA et al., 2005). Em conseqüência da variabilidade de seus componentes o grau de polaridade das cutículas varia muito. Comumente as ceras são compostos químicos apolares, e nos caules evitam a entrada de moléculas de herbicidas em quantidade suficiente para o efetivo controle. No caso de plantas duras, não 21 se recomenda aplicar o herbicida com a água como veículo, e sim uma solução contendo o herbicida mais um aditivo apolar, no caso o óleo diesel. Este além de ter afinidade com compostos lipofílicos promove a ruptura da cutícula do caule, facilitando à absorção e translocação da molécula do herbicida em quantidade suficiente para causar danos à planta daninha. 2.8 Glicerina: Co-produto da produção de biodiesel O uso extensivo de combustíveis fósseis, a fonte de energia mais popular para o transporte, têm causado um impacto negativo cumulativo sobre o meio ambiente (HOUGHTON et al., 2001), o que tem motivado a busca de fontes de energia "limpa" para sua substituição, a exemplo do biodiesel. O biodiesel é biodegradável e não tóxico, apresenta perfis de baixa emissão de CO e CO2, e consequentemente menor impacto sobre o meio ambiente (DORADO et al., 2003). Esta energia alternativa é atualmente produzida a partir de óleo vegetal, óleo de cozinha usado e gordura animal (DEMIBRAS, 2005). No Brasil conforme a Resolução CNPE nº 6 de 16/9/2009 a partir de 01/01/2010, o Biodiesel passou a ser adicionado ao óleo diesel na proporção de 5% em volume. No processo de produção de biodiesel (transesterificação) ocorre a produção de um co-produto denominado de glicerina (Figura 6), sendo que, de cada 100 litros de Biodiesel produzido se formam 10 litros de glicerina. A produção de biodiesel no ano de 2011 foi de 16.955.989 barris equivalentes de petróleo, deste total produzido aproximadamente 10% é composta por glicerina bruta (DADOSGOV, 2012). Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (2001), a demanda pela glicerina no mercado, acerca de 40 milhões de litros/ano, o que gera um excedente considerável. A glicerina ou glicerol (1,2,3-propanotriol), é um poliálcool oleoso, incolor, viscoso e de sabor doce, solúvel na água e no etanol em todas as proporções (LOPES et al., 1999). A glicerina resultante do processo de transesterificação (glicerina bruta) apresenta cerca de 30% de impureza, o que evidencia a necessidade de purificá-la, a fim de viabilizar seu emprego no setor industrial. As impurezas encontradas na glicerina bruta são: água, catalisador (alcalino ou ácido), álcool 22 (não reagido), impureza provinda dos reagentes, ácidos graxos, ésteres, propanodióis, monoéteres, oligômeros de glicerina e polímeros (FERRARI et al., 2005). A glicerina é normalmente usada na preparação de diversos produtos tais como remédios, produtos de uso pessoal, comida, bebida, tabaco, resinas alquídicas, poliol-poliéter, celofane e explosivos, todavia o seu uso é condicionado ao seu grau de pureza, que deve estar usualmente acima de 95%. Segundo Ribeiro et al. (2001) a glicerina vegetal oriunda do Biodiesel pode ser empregada como composto de partida para síntese de compostos que são largamente produzidos pela indústria petroquímica, tais como o ácido fórmico e o ácido acrílico, além do tradicional uso na indústria farmacêutica e cosmética, esta ainda pode ser utilizada na agricultura, como aditivos em misturas com herbicidas. 2.8.1 Utilização da glicerina como veículo em pulverizações agrícolas A utilização de herbicidas é a principal estratégia utilizada para o controle de plantas daninhas na agricultura empresarial. Esse produto é largamente utilizado em função de sua alta eficiência; facilidade de utilização; por ter ação rápida e a um custo acessível (ARAÚJO et al., 2007). A ação dos herbicidas é dependente de constituintes da calda de pulverização, que, embora não compondo o ingrediente ativo, têm a capacidade de melhorar sua eficácia. Ramsdale e Messersmith (2001) afirmam que os adjuvantes melhoram, em muitos casos, a eficácia das aplicações, no entanto, a interação adjuvante herbicida é um processo complexo, que envolve muitos aspectos físicos (tensão superficial e viscosidade), químicos e fisiológicos, e varia para cada condição testada. Os adjuvantes atuam de maneira diferente entre si, afetando o molhamento, a aderência, o espalhamento, a formação de espuma e a dispersão da calda de pulverização (MONTÓRIO et al., 2004; MENDONÇA et al., 2007). Lan et al. (2007) comentam que a adição de adjuvantes altera o desempenho das aplicações, no entanto seu efeito pode ser positivo ou até mesmo negativo no que se refere à deposição do produto no alvo. 23 A água é utilizada como solvente para moléculas polares e é o veículo mais utilizado na diluição das formulações de herbicidas. Entretanto, a água não surte efeitos satisfatórios quando aplicada sobre alvos com superfícies cerosas e hidrofóbicas, como é o caso do caule da M. peregrina. Com isso torna-se necessária a adição de surfactantes (adjuvantes) e/ou aditivos à calda de pulverização. Os surfactantes agem na tensão superficial do fluido, contribuindo para a formação de filmes líquidos sobre a superfície das plantas. Cunha et al. (2009) avaliando o efeito da adição de adjuvantes, em diferentes doses, nas características físico-químicas de soluções aquosas, concluíram que o efeito dos adjuvantes mostrou-se dependente de sua composição química e formulação. O comportamento dessas características não foi semelhante, mesmo para produtos com mesma indicação de uso. A alteração da dose influenciou as características físicoquímicas de maneira diferenciada para cada adjuvante. O pH, tensão superficial e a viscosidade foram as propriedades mais sensíveis à adição dos adjuvantes. A adição de alguns adjuvantes pode levar à instabilidade da calda, requerendo maior agitação da calda no tanque dos pulverizadores. Segundo Fleck (1993) os aditivos são substâncias que aumentam a absorção dos herbicidas devido à sua ação direta sobre a cutícula das plantas. Enquadram-se nesta categoria, o óleo mineral ou vegetal, o sulfato de amônio e a uréia, entre outros. Segundo Carmona et al. (2001), os óleos minerais, como por exemplo, o diesel é largamente utilizado como aditivo em aplicações em pósemergência, aumentando a eficácia de um grande número de herbicidas apresenta efeito fitotóxico, por causarem a solubilização das paredes celulares, levando à desintegração celular e extravasamento do seu conteúdo para os espaços intercelulares. Estes autores, estudando a eficácia agronômica e econômica de herbicidas no controle das plantas daninhas de pastagens: Acacia farnesiana e Mimosa pteridofita, ambas plantas daninhas duras, concluíram que estas plantas são controladas eficientemente quando cortadas ao nível do solo sendo o toco pincelado com solução aquosa de 2,4-D + picloram + óleo diesel, na concentração de 4% do herbicida, em plantas com qualquer tamanho, ou com óleo diesel puro desde que a altura máxima das plantas seja de 2,5 m para A. farnesiana e 1,5 m para M. pteridofita. 24 Lima et al. (2007) avaliando o índice de eficiência da glicerina resultante da reação de transesterificação como adjuvante agrícola, concluíram que o glicerol pode ser utilizado como agente surfactante na preparação de defensivos agrícolas, já que reduziu a tensão superficial do líquido de pulverização, aderindo às superfícies foliares de maneira satisfatória, não interferindo nas características e propriedades fitotóxicas do herbicida aplicado, promovendo conseqüentemente uma maior eficiência do produto agrícola. A glicerina ideal para substituição do óleo diesel em aplicação no controle da M. peregrina deve ter características físico-químicas semelhante ao diesel. Segundo a ANP (2012) o óleo diesel é formado basicamente por hidrocarbonetos, formado por átomos de hidrogênio e carbono, oxigênio, nitrogênio e enxofre. O diesel apresenta-se em forma de líquido amarelado viscoso, límpido, pouco volátil, cheiro forte e marcante e com nível de toxicidade mediano. 25 3 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ADAPEC - Números da pecuária tocantinense - disponível em: http://adapec.to.gov.br/conteudo.php?id=186. Acesso em 2012. ANP – Agência Nacional de Petróleo Gás Natural e Bicombustíveis, dados Técnicos. Disponível em: http://www.anp.gov.br/?id=328. Acesso em 07 de 2012. ALVES E. M; FAGUNDES L. L; MARINS A. K; COSTA A. V; PINHEIRO P. F; QUEIROZ V. T. Caracterização Fitoquímica da Erva-de-passarinho (Struthanthus marginatus desr. blume) parasitando goiabeira (Psidium guajava l.). XV ENCONTRO LATINO AMERICANO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E XI ENCONTRO LATINO AMERICANO DE PÓS-GRADUAÇÃOUNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA. 2011. ARALDI R. Avaliação da absorção do Amicarbazone e intoxicação em cana-de-açúcar e plantas daninhas. BOTUCATU, 2010. 83 P. 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Para determinação do teor de lignina, holocelulose e extrativos totais, foi utilizada a metodologia normatizada pela ABCP (Associação técnica brasileira de celulose e papel) nº M3/69 ABTCP 1974 e M70/71 ABTCP 1974, e a determinação do poder calorífico superior teve como base a norma ABNT NBR 8633/84. A determinação elementar foi realizada através do equipamento de análise vario MICRO CHN, e a determinação dos compostos apolares e polares dos extrativos do caule. Anatomicamente, o caule da M. peregrina possui vasos parcialmente solitários e em arranjo radial múltiplo contendo pontoações guarnecidas ao longo da parede do elemento de vaso. O parênquima axial é do tipo apotraqueal difuso e as fibras apresentam pequenas aréolas e pontoações simples. Quimicamente o caule da M. peregrina possui uma quantidade expressiva de nitrogênio, se comparada com outras espécies, e alto teor de lignina que lhe caracteriza como espécie mais resistente. Na idade em que o caule foi coletado, apresenta-se com propriedade predominantemente polar. A característica anatômica e química constatadas no caule de M. peregrina lhe distingue como planta típica de ambientes limitados (escassez de recursos essenciais para a sobrevivência) e submetidos á condições extremas (altas temperaturas, luminosidade, solos ácidos e etc.). Palavras-chave: Ciganinha, Fitoquímica, Anatomia. 36 ABSTRACT The Memora peregrina, popularly known as ciganinha, is a shrub belonging to the family Bignoniaceae, native flora of the cerrado and presenting as weed of cultivated pastures. Their physiological and anatomical characteristics to constitute a difficult plant to control. Efficient control has been achieved by the application of the herbicide Togar* TB via stem. This study aimed to characterize the anatomical stem of plants of M. peregrina age (young plants) recommended for herbicide application, considering there are no anatomical studies in this regard. To carry out the anatomical analyzes were performed cross sections, longitudinal and radial longitudinal tangential. For determination of lignin, holocellulose and extractives, standardized methodology was used by the ABCP (Brazilian Technical Association of Pulp and Paper) No. M70/71 M3/69 ABTCP ABTCP 1974 and 1974, and the determination of gross calorific value was based ABNT NBR 8633/84. The determination was performed by elemental analysis equipment vario MICRO CHN, and determination of no polar compounds and polar extractives of stem. Anatomically, the stem of M. peregrina has partially vessels solitary and in radial arrangement containing multiple pits trimmed along the wall of the vessel element. The axial parenchyma is diffuse and apotracheal type fibers have small areolas and simple pits. Chemically the stem of M. peregrina has a significant amount of nitrogen, compared with other species, and high lignin content which characterizes how most resistant species. At the age when the stem was collected, presents with predominantly polar property. The anatomical and chemical found in the stem of M. peregrina distinguishes him as typical of plant environments limited (scarcity of resources essential for survival) and submitted to extreme conditions (high temperature, luminosity, and acidic soils etc.). Keywords: Ciganinha, Phytochemistry, Anatomy. 37 INTRODUÇÃO Segundo Dias-Filho (2011), dos 70 milhões de hectares de pastagens, nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, estima-se que 80% estão degradados ou em processo de degradação. Isso se deve principalmente a solos de baixa fertilidade, forrageiras inadequadas, alta pressão de pastejo, e elevada infestação das plantas daninhas. Entre as plantas daninhas invasoras de pastagens, ressalta-se a importância da ciganinha (M. peregrina), considerada planta nativa da flora do cerrado, que se tornou invasora de pastagens cultivadas, tendo como característica especial, a propagação por rizomas (KOLLER, 2011). Nunes (2002) alerta que a infestação da ciganinha já inviabilizou várias áreas de pastagens ou mesmo propriedades, por causa dos altos níveis de infestação e elevados custos para erradicá-la. Ainda destaca que esta alta capacidade de infestação deve-se as eficientes formas de dispersão (sementes aladas) e propagação vegetativa, uma vez que, possuem caules subterrâneos com grande capacidade de rebrote. Segundo Victória Filho (2009) o melhor controle para a ciganinha é a utilização do herbicida Togar* TB (triclopir + picloram) diluído em óleo diesel, em aplicação dirigida no caule. Neste tipo de aplicação é interessante ter o conhecimento da estrutura anatômica e composição química do caule, de forma a contribuir não só no conhecimento da absorção e translocação do herbicida, mas também, em estratégias a serem tomadas para aumentar a eficiência dos mesmos. Viana et al. (2010) realizando a caracterização anatômica do caule de espécies jovem da família Bignoniaceae, constataram a presença de uma epiderme unisseriada e tricomas unicelulares, sendo que o córtex é formado por células do colênquima e parênquima, ainda, citam que, apresentam um crescimento secundário, formado por raios de xilema secundário, sendo que as células de metaxilema e protoxilema são circundadas por vasos de floema. Segundo Raven et al. (2007), um dos compostos bioquímicos fundamentais para as plantas, são os pertencentes á classe dos ésteres graxos (ceras), visto que estes revestem a cutícula da epiderme do caule, tendo função de defesa, e previnem contra a perda de água para o ambiente, entrada 38 de patógenos e moléculas químicas indesejáveis, como é o caso de herbicidas. Ainda segundo Raven et al. (2007) estes compostos tendem á aumentar em quantidade, e complexidade molecular em função da idade da planta, ou seja, uma planta herbácea jovem é menos lignificada e contem menos extrativos que uma planta em maior estádio de desenvolvimento, como demonstrado em trabalho de Alves et al. (2011), que estudando a composição química do caule de Struthanthus marginatus Desr. Blume, concluíram que seus compostos bioquímicos (extrativos, lignina), aumentaram em função do tempo. Segundo Araldi (2010) a entrada de herbicidas nas plantas depende das propriedades ambientais, físico-química dos herbicidas e das plantas, sendo que a principal característica é constituída pelas propriedades lipofílicas e hidrofílicas dos herbicidas, as quais podem ser medidas através do coeficiente de partição octanol - água (Kow). Este coeficiente representa a proporção entre as quantidades de um determinado herbicida que migram para um solvente orgânico apolar (geralmente o octanol) ou para a água (polar). Sendo que, quanto maior o coeficiente de partição do herbicida, maior a sua lipofilicidade, ocorrendo uma correlação linear inversa entre os valores de tal coeficiente e a solubilidade em água. Mendonça (2000) em estudos dos componentes bioquímicos de plantas daninhas, concluiu que as espécies que apresentam ceras epicuticulares com maior porcentagem de compostos apolares, prejudicam a absorção de herbicidas com baixo Kow. Silva et al. (2010) explicam que os herbicidas lipofílicos (alto Kow) se solubilizam nos componentes lipofílicos da cutícula e se difundem através desta. Visto à carência de trabalhos sobre a absorção de herbicidas via caule, e, principalmente estudos específicos na espécie em questão, o presente trabalho de pesquisa foi conduzido com o objetivo de conhecer a estrutura anatômica e composição química do caule de plantas de M. peregrina, em idade recomendada para aplicação de herbicida. 39 MATERIAL E MÉTODOS Os caules das plantas daninhas da espécie M. perergina foram colhidos em uma área pertencente ao município de Alvorada – TO, localizado nas coordenadas geográficas, 12° 28' 48” de latitude Sul e 49° 07' 29'' de longitude W.Gr, a 280 m de altitude, no mês de Julho de 2011. Estas plantas encontravam-se com caules de 3 cm de diâmetro, conforme tamanho recomendado para controle com o herbicida Togar* TB. As análises anatômicas foram realizadas no Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Lavras (DCF/UFLA). Fragmentos do caule de M. peregrina foram submersos em um recipiente contendo água até que ocorresse a saturação. Após esta etapa foram feitos cortes transversais, longitudinal radial e longitudinal tangencial, por meio de um micrótomo de deslizamento (Jung SM 2000), e em seguida estes cortes foram desidratados em série etílica (etanol 30%, 40%), posteriormente corados com safrablau e montados entre lâmina e lamínula em etellan. A documentação fotográfica foi obtida em fotomicroscópio (DiagTech). A descrição anatômica realizada seguiu a recomendação do IAWA committee (1989). Para a análise química do caule, amostras de três cm de diâmetro e 20 cm de comprimento foram retiradas, e secas em estufa de circulação de ar forçada à temperatura de 70º C, até alcançar peso constante. Após isto as amostras foram moídas em um moinho de martelo, e passadas por peneiras de 40 e 60 Mesh. Para determinação do teor de lignina, holocelulose e extrativos totais, foi utilizada a metodologia normatizada pela ABCP (Associação técnica brasileira de celulose e papel) nº M3/69 ABTCP 1974 e M70/71 ABTCP 1974, sendo as análises realizadas em triplicatas. A determinação do poder calorífico superior teve como base a norma ABNT NBR 8633/84 (ABNT, 1984), sendo utilizada uma bomba calorimétrica (IKAR, C 200). Para determinação elementar quantitativa de C, N, H, S e O, foram utilizadas as amostras compostas classificadas com fração de 200 mesh. Em seguida, as mesmas foram secas em estufa a 103 +/- 2°C durante 4 horas e, posteriormente, levadas para o analisador “vario MICRO CHN”, para a quantificação de carbono, hidrogênio, nitrogênio, enxofre e, por diferença, o oxigênio do material, sendo que a constituição elementar compreende a formação essencialmente orgânica do 40 vegetal. Essa analise foi realizada no Laboratório de Energia da Biomassa (LEBF) do DCF/UFLA. Os trabalhos foram realizados em diferentes locais, por exemplo, a coleta do material vegetal foi no município de Alvorada, as análises químicas foram realizadas no campus de Gurupi/ UFT e em Lavras no DCF/UFLA. Para determinação do teor de componentes apolares e polares dos extrativos do caule de M. peregrina, após a coleta de caules herbáceos, no mesmo diâmetro e idade de recomendação para a aplicação de herbicidas, estes foram secados em estufa com temperatura de 70º C por 72 Horas. Triturou-se a amostra em moinho de martelo, até atingir uma fração de 60 Mesh. Foram utilizados dois gramas da amostra (60 mesh). Esta foi acondicionada em papel de filtro e colocada dentro do extrator Soxhlet de tal forma que a mesma permanecesse submersa no solvente hexano (determinação teor de compostos apolares) e metanol (determinação teor de compostos polares). Pesou-se o balão de 250 mL em uma balança analítica de quatro casas decimais. Adaptou-se o sistema, em uma manta aquecedora (110º), deixando o solvente circular por um período de 12 horas de acordo com as normas da AOCS – Método AC 3.11, 1983. Após este período, foi interrompida a extração exatamente após o esvaziamento da câmara de extração, posteriormente este foi colocado no dessecador por 30 minutos até atingir a temperatura ambiente. Eliminou-se o solvente em evaporador rotativo. Pesou-se o balão novamente na balança analítica e por diferença se calculou a porcentagem de ésteres (composto apolar), o mesmo procedimento foi utilizado para a determinação dos compostos polares, e o que variou foi o solvente, sendo que para este último foi utilizado o metanol. Este procedimento experimental foi realizado em quadruplicatas. 41 RESULTADOS E DISCUSSÃO Anatomicamente em corte transversal observou-se xilema secundário tipicamente poroso, com vasos parcialmente solitários e parcialmente em arranjo radial múltiplo, variando de dois a dois (Figura 6A). Ainda verificou-se a presença de “Tiloses e/ou caloses”, nos elementos de vasos e nas células de parênquima axial e radial (Figura 6B). O parênquima axial é do tipo apotraqueal difuso (Figura 6A). Foi possível observar pontoações guarnecidas ao longo da parede do elemento de vaso (Figura 6C). As fibras apresentam pequenas aréolas e pontoações simples (Figura 6D). Figura 6: Anatomia do caule de Memora peregrina. A B e D - cortes Transversais; C e F Cortes Longitudinais radiais; e E corte Longitudinal Tangencial. Ev: Elemento de vaso; Pr: Parênquima radial; Pa: Parênquima axial; Fi: Fibras. Seta Figura 6C: pontoações guarnecidas e na Figura 6D: fibras. 42 Läuchli (1972) atribuiu ao parênquima radial a função de transporte de íons entre xilema e floema. Entretanto, Braun (1984) propôs que os dois tipos de parênquima, axial e radial, constituem tecidos acessórios aos elementos condutores, cuja principal função seria originar maior força osmótica dentro dos vasos através da mobilização de substâncias osmoticamente ativas, aumentando o fluxo nos vasos, favorecendo, assim, as espécies que as apresentam. Quanto ao parênquima axial, alguns trabalhos relacionam sua maior abundância nos espécimes de ambientes mais secos (FAHN et al., 1986). O parênquima axial de M. peregrina apresenta-se de maneira difusa, não sendo possível sua nítida distinção. Mesmo assim ele pode estar contribuindo para favorecer o estabelecimento da espécie em estudo em ambientes com restrições de água, e com limitações de nutrientes e submetidos á altas temperaturas e luminosidades como é o caso do cerrado. Ainda de acordo com o observado neste trabalho, o raio do caule da M. peregrina, apresenta porções unisseriadas e multisseriadas de duas a quatro fileiras de células e é ainda não estratificado (Figura 6E), heterocelular com células procumbentes e quadradas (Figura 6F). Segundo Shiratsuchi et al. (2002) plantas jovens, são mais susceptíveis a pulverização de herbicida para o mesmo volume de calda, devido a condições próprias como: cutícula mais fina e epiderme menos espessa. Portanto, torna-se importante a época de aplicação do herbicida, pois as fases fenológicas da planta influenciam na eficiência do herbicida. Segundo Silva et al. (2007), o processo de absorção de moléculas químicas de herbicidas pela planta envolve penetração por regiões não ativas na planta e posteriormente a absorção ocorre por meio da via simplástica, ou seja, no caule, primeiramente o herbicida terá que atravessar a camada da cutícula recoberta por ceras, região lipofílica, passando pela região do córtex, onde se encontra o parênquima axial, que, na M. peregrina, como observado na (Figura 6A), é do tipo apotraqueal difuso, para uma posterior translocação até o local de ação. De acordo com a análise observou-se a presença de conteúdos, possivelmente “tiloses” ou “caloses” nos elementos de vasos nas células de 43 parênquima axial e radial (Figura 6B), possivelmente estas “tiloses” e/ou “caloses” dificultam o transporte pelos vasos, inclusive a translocação de herbicidas aplicados via caule, visto que estes vasos são importantes para a translocação da molécula até o sítio de ação. Para o controle da M. peregrina atualmente é utilizado o herbicida Togar TB* diluído em óleo diesel, na proporção 8% (v/v) do herbicida e 92% (v/v) do óleo diesel pulverizados via caule. Segundo Oliveira Jr. et al. (2011), este herbicida pertence ao grupo químico do ácido piridinacarboxílico, tendo como mecanismo de ação a mimetização de auxina (efeito semelhante ao da auxina natural). Na planta funciona da seguinte forma; primeiramente o herbicida precisa atravessar a cutícula, rompendo as ceras (Figura 6A), a partir daí, o mesmo atravessa a região do córtex, passando e se redistribuindo pelo parênquima axial e radial (Figura 6B), atingindo os elementos de vaso (Figura 6C) ocorrendo então sua translocação até o local de ação. Ainda segundo Oliveira Jr. et al. (2011), a ação deste herbicida é semelhante à auxina natural. No entanto, são mais persistentes e mais ativos que o ácido indol acético, e todos são translocados pelos elementos de vaso (floema e xilema) (Figura 6C). A composição química do caule da M. peregrina (Tabela 1) é caracterizada pela presença dos componentes elementares, macromoleculares e acidentais (extrativos e cinzas). Segundo a análise elementar dos compostos orgânicos, este é composta por 46,6% de carbono, 6,12% e hidrogênio, 0,04% de enxofre, 1,8% de nitrogênio e 45,4% de oxigênio. Tabela 1 - Análise química do caule da Memora peregrina Kcal . g-1 Teores (%) HO ET LIG 62,12 9,32 28,55 C H C/H O 46,6 6,12 7,61 45,4 N C/N S 1,8 25,8 0,04 PC 4686,21 HO: teores de holocelulose; ET: extrativos totais; LIG: lignina total; C: carbono; H: hidrogênio; C/H: relação carbono/hidrogênio; O: oxigênio; N: nitrogênio; C/N: relação carbono/nitrogênio; S: enxofre; PC: poder calorífero do caule de M. peregrina. 44 Dentre estes elementos, o nitrogênio, de acordo com a análise, foi muito significativo para M. peregrina, assumindo assim papel especial, tendo função primordial na fotossíntese, por fazer parte da molécula da clorofila. O que se observa nesta espécie, é a capacidade de armazenar nitrogênio em forma de ureídeos, sendo estes utilizados em momento de seca prolongada, fazendo com que esta espécie resista bem ao estresse hídrico, e não tenha problemas por falta do nitrogênio (LORENZI et al., 2000). Segundo Grassi et al. (2005) o alto teor de ureídeos, juntamente com o comportamento de M. peregrina como planta daninha, sugere alguma relação com estratégias adaptativas e de competitividade com outras espécies. Apesar de os ureídeos serem considerados compostos de síntese complexa, apresentam certas vantagens relacionadas ao menor custo energético, e ainda são úteis e específicos no transporte de nitrogênio, levando-o aos órgãos de interesse na planta, onde são rapidamente metabolizados (THOMAS et al., 1981). Grassi et al. (2005), realizando uma investigação química e a avaliando a atividade alelopática de M. peregrina, constataram a presença do composto 4–hidróxi-N-metilprolina. O teor desta substância e alguns de seus análogos em tecidos celulares vegetais tem sido correlacionado ao estresse hídrico, podendo tais compostos estar envolvidos no mecanismo de ajuste osmótico. Ainda, de acordo com a Tabela 2, observa-se a presença de 62,12% de holocelulose, 9,32% extrativos totais e 28,55% de lignina. Dentre as folhas, caule e raiz, o caule tende a ser mais lignificado, o que dificulta a entrada do herbicida. Fato constatado por Lacerda et al. (2006), que estudando a concentração de lignina na parte aérea de (Avena byzantina L.) medida por quatro métodos analíticos, concluíram que a concentração de lignina foi mais elevada na fração caule do que na folha. Puhl et al. (2007) estudando a morfoanatomia das folhas e dos caules jovens da Arrabidaea chica, espécie pertencente à família Bignoniaceae, concluíram que no caule desta espécie, ocorre estruturação reticulada de parênquima e esclerênquima junto aos tecidos condutores. Cita ainda, a presença de cristais prismáticos na medula, e testes microquímicos mostraram 45 a presença de compostos fenólicos e principalmente a presença de gotículas de lipídeos (ceras) no tecido. De acordo com os resultados obtidos no presente trabalho, verificou-se que M. peregrina seguiu um padrão típico de plantas pertencentes á ambientes limitados, e submetidos á condições extremas, como por exemplo, solos ácidos, déficit hídrico, altas temperaturas e baixa fertilidade. Este fato pode ser explicado pelo teor de extrativos observados, os quais são oriundos do metabolismo secundário em respostas á condições adversas, corroborando assim, com a afirmação de Nunes (2002) que cita a rusticidade da M. peregrina em resposta a fatores edafoclimáticos limitados. Dentre algumas plantas resistentes do cerrado cita-se a Achyrocline satureoides (Macela), Anadenanthera falcata (Angico), Anemopaegma arvense (Catuaba), Caryocar brasiliense (Pequi), Dimorphandra mollis (Faveira), Eugenia dysenterica (Cagaita), Mysine guianensis (Cafezinho), Psidium myrsinoides (Araçá), Sclerobium paniculatum (Carvoeiro), Solanum lycocarpum (Lobeira), Stryphnodendron barbadetimam (Barbatimão), Curatella Americana (Lixeira), dentre outras. O poder calorífico é a quantidade de energia na forma de calor, liberada pela combustão de uma unidade de massa de vegetal, podendo ser expresso em calorias/grama ou quilocalorias/quilograma. Conforme Burger e Richter (1991) a combustibilidade e o poder calorífico são altamente influenciados pelo teor de lignina e pela presença de materiais extrativos inflamáveis (óleos, resinas, ceras, etc.). Santana (2009) estudando as espécies Eucalyptus grandis e Eucalyptus urophylla em função da idade, concluiu que para 74 meses as duas espécies possuem um poder calorífero de 4587,25 cal/grama. Contudo a M. peregrina foi superior a essas espécies estudadas por e usadas como matéria prima para combustão em siderúrgicas. Segundo dados obtidos neste trabalho, conclui-se que o teor de extrativos totais correspondeu a 9,32% (alto teor), o que pode explicar à adaptação desta espécie a ambientes limitados. A M. peregrina possui considerável teor de extrativos, seguindo um padrão de outras espécies ricas em extrativos como, por exemplo, o Carvalho (10,47%), Sassafrás (11,57%), Cerejeira (17,91%), Angelim (8,88%), Óleo bálsamo (10,55%), Jatobá 46 (13,32%), Peroba do campo (10,39%), Sucupira (8,24%), Angico vermelho (15,31%), Jequitibá rosa (9,46%) (MORI et al., 2003). Quanto à análise da proporção de compostos apolares (estéres) e polares dos extrativos do caule de M. peregrina, constatou-se teores de 5 % e 95%, respectivamente. Os compostos apolares determinados a partir dos extrativos da planta são ácidos graxos, lipídios, ceras extraídas ou outros compostos apolares não identificados, extraídos pelo hexano. Já os demais são compostos polares foram extraídos pelo metanol. Os extrativos são compostos químicos da parede celular, geralmente formados a partir de graxas, ácidos graxos, alcoóis graxos, fenóis, terpenos, esteróides, resinas ácidas, resinas, ceras, e alguns outros tipos de compostos orgânicos (GULLICHSEN; PAULAPURO, 2000). Os extrativos totais são todos os metabólitos secundários. Oliveira et al. (2011), analisando o teor de extrativos, fenóis totais e lignina, encontraram saponinas, taninos, alcalóides, flavonóides, terpenos e esteróides. Outra característica interessante é que os extrativos são formados por diferentes tipos de substâncias. Essas substâncias são retiradas do vegetal através de solventes de acordo com sua polaridade. Carvalho et al. (2009) estudando a composição fitoquímica do caule da Tynnanthus fasciculatus, espécie da família Bignoniaceae, concluíram que esta apresentava quantidades significantes de taninos, flavonóides e heterosídeos cardiotônicos. Segundo Vitoria Filho (2009) a cutícula impede à penetração dos herbicidas, sendo esta constituída de cera, cutina, pectina e celulose. As ceras são lipofílicas, a cutina é parcialmente lipofílica, a pectina e celulose são hidrofílicas. Portanto, existem duas rotas de penetração de substâncias através da cutícula: a rota aquosa, que ocorre com as substâncias polares (ex.: água), que atravessam a cutícula difundindo-se nas substâncias polares da cutícula (ex.: pectina); e a rota lipoidal, que ocorre com as substâncias não polares (ex.: óleo), que penetram mais facilmente pela cera e pela cutina. Portanto, de modo geral, os óleos e herbicidas veiculados em óleo penetram mais facilmente pela cutícula do que a água e herbicidas mais hidrofílicos. A passagem de qualquer substância pela cutícula é por difusão, ou seja, o movimento do produto químico é feito pelo gradiente de concentração, sendo que a espessura da 47 cutícula varia de 0,1 a 10μm dependendo da espécie e das condições ambientais (VITORIA FILHO, 2009). De acordo com os resultados constatados no presente trabalho, o teor de lignina encontrado na M. peregrina é de 28,55%, sendo classificada como caules resistentes, de acordo com (BONONI, 1999 e LARS, 2000). Comprovando assim, o observado neste trabalho sobre a rusticidade e adaptabilidade da mesma. A lignina, além das funções inerentes à fisiologia das plantas, apresenta-se como uma barreira de defesa física e química, dificultando a penetração de microrganismos e substâncias nocivas, protegendo as plantas contra os fatores bióticos e abióticos, advindos do ambiente. Essas funções justificam-se por ser encontrada principalmente na parede celular e na lamela média de células xilemáticas e de outras partes de diferentes origens citológicas, como: folha, caule, casca e raízes (FIRMINO et al., 2006). Segundo Taiz e Zeiger (2009) a lignina é uma substância fenólica muito complexa, só perdendo em abundância, nas plantas, para a celulose. A estrutura da lignina ainda não é completamente conhecida, mas sua presença é fundamental para a rigidez das células e tecidos e na resistência a estresses bióticos a abióticos. Juntamente com a holocelulose, a lignina é um dos principais constituintes da planta, e sua finalidade é de conferir rigidez, impermeabilidade e resistência contra ataques biológicos aos tecidos vegetais. Esta é um bio polímero aromático amorfo, tridimensional, formado via polimerização oxidativa. A lignina ocorre na parede celular de plantas superiores em diferentes composições, como, por exemplo: em madeiras duras, de 25 a 35%; madeiras macias, de 18 a 25%; e gramíneas, de 10 a 30% (BONONI, 1999; LARS, 2000). 48 CONCLUSÕES Anatomicamente, o caule da M. peregrina possui vasos parcialmente solitários e em arranjo radial múltiplo contendo pontoações guarnecidas ao longo da parede do elemento de vaso. O parênquima axial é do tipo apotraqueal difuso e as fibras apresentam pequenas aréolas e pontoações simples. Quimicamente o caule da M. peregrina possui uma quantidade expressiva de nitrogênio, se comparada com outras espécies, e alto teor de lignina que lhe caracteriza como espécie mais resistente. Como foi analisado o caule como todo, e não somente a casca, e teoricamente os compostos apolares tendem a se concentrar em maior quantidade na região da casca da planta, na idade em que o caule foi coletado, apresenta-se com propriedade predominantemente polar. A característica anatômica e química constatadas no caule de M. peregrina lhe distingue como planta típica de ambientes limitados (escassez de recursos essenciais para a sobrevivência) e submetidos á condições extremas (altas temperaturas, luminosidade, solos ácidos e etc.). 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Associação Brasileira Técnica de Celulose E Papel ABTCP. Normas Técnicas. São Paulo: 1974. Associacao Brasileira de Normas Técnicas. NBR 8633: Carvão Vegetal: Determinação do Poder Calorífico. Rio de Janeiro: ABNT, 1984. ALVES, E. 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No entanto a produtividade no setor, na maioria das áreas, é baixa, com uma lotação de 1UA/ha, isto se deve a solos de baixa fertilidade, forrageiras inadequadas, e principalmente o manejo inadequado de plantas daninhas, dando ênfase a Memora peregrina, popularmente conhecida como Ciganinha. Este estudo teve como objetivo caracterizar a glicerina pré-purificada, em relação a alguns parâmetros físicos e químicos, bem como avaliar o efeito da mesma como aditivo do herbicida Togar TB, no controle da Memora peregrina no Sul do estado do Tocantins. A glicerina bruta foi adquirida junto á Usina de Biodiesel BIOTINS. Para as características físicas foram determinadas: Tensão superficial e viscosidade. Já para caracterização química, foram analisadas: Umidade; Índice de acidez, poder hidrogeniônico; cloretos; compostos voláteis a 180 ºC; cinzas e impurezas. A elevação da concentração de ácido fosfórico provocou aumento do índice de acidez, concentração de cloreto, nas soluções com glicerina. Os tratamentos contendo a glicerina pré - purificada com 5% e 6% de H3PO4 obtiveram maiores viscosidades e foram superiores aos demais tratamentos. Nos tratamentos contendo glicerina pré-purificada, a tensão superficial foi sempre maior quando comparados com o tratamento envolvendo o óleo diesel. Na avaliação da rebrota, os tratamento contendo a glicerina, não se mostraram eficientes no controle da M. peregrina. O tratamento contendo o óleo diesel em mistura com o herbicida Togar* TB na proporção de 8% V/ V, mostrou-se eficiente no controle da M. peregrina. Palavras chave: Ciganinha, Controle, Defensivos. 56 ABSTRACT Livestock is one of the most important economic activities in Brazil, accounting for 8.39% of the national GDP. However productivity in the sector, in most areas, is low, with a capacity of 1UA/ha, this is due to low soil fertility, inadequate fodder, especially the inadequate management of weeds, emphasizing the Memora peregrina popularly known as Ciganinha. This study aimed to characterize the pre-purified glycerin, in relation to some physical and chemical parameters, and to evaluate its effect as an additive herbicide Togar TB in control Memora peregrina in the Southern state of Tocantins. The crude glycerin was acquired near the Biodiesel Plant Biotins. For the physical characteristics were determined: Surface tension and viscosity. As for chemical characterization were analyzed: Moisture; Acid value, Hydrogen power, chlorides, volatile compounds at 180°C, ash and impurities. Raising the concentration of phosphoric acid caused an increase in acid number, concentration of chloride in solution with glycerol. Treatments containing glycerin pre - purified with 5% and 6% H3PO4 and had higher viscosities were higher than other treatments. In treatments containing glycerin pre-purified, the surface tension was always larger when compared with treatment involving diesel oil. In assessing the regrowth, the treatment containing glycerin, not efficient in controlling M. peregrina. The treatment containing diesel fuel mixed with the herbicide Togar* TB in the proportion of 8% V/V, was effective in controlling the M. peregrina. Keywords: Ciganinha, Control, Defensive. 57 INTRODUÇÃO A pecuária é uma das atividades econômicas mais importantes do país, sendo que o rebanho nacional, em 2010, era de 209,5 milhões de cabeças, distribuídos em 152 milhões de ha de pastagens (IBGE, 2010), participando com 8,39% do PIB nacional. No entanto a produtividade no setor é considerada na grande maioria das áreas como baixa, com capacidade média de um animal por hectare. Diversos fatores contribuem com essa realidade, tais como, solos de baixa fertilidade, forrageiras inadequadas, pressão de pastejo inadequada, e manejo inadequado de plantas daninhas, entre outros (FILHO, 2009). Entre as plantas daninhas de mais difícil controle encontram-se as arbustivas, sendo aquelas que possuem estruturas reprodutivas vegetativas (Ferreira et al., 2003). Entre estas, nas áreas de cerrado, destaca-se a Memora peregrina, conhecida popularmente como ciganinha, é uma planta pertencente à família Bignoniaceae, nativa da flora do cerrado e que se tornou invasora de pastagens cultivadas (LORENZI et al., 2000). O seu controle é extremamente difícil uma vez que consegue se propagar por rizomas, e se recuperar facilmente. No mercado há um herbicida recomendado para o controle dessa planta, sendo aplicado via caule e comercializado pela Dow AgroSciences com o nome de Togar TB. Este produto possui como princípio ativo a mistura das moléculas de picloram (4,85 m/m) e triclopir (9,22 m/m), cujos mecanismos de ação correspondem aos mimetizadores de auxina, de translocação sistêmica (NUNES et al., 2002). Uma das particularidades na aplicação desse herbicida é a utilização do óleo diesel como veículo de pulverização, que apesar da sua eficiência, corresponde à maior parcela no custo da aplicação, além de, ser tóxico as forrageiras e ao meio ambiente, uma vez que o mesmo é composto principalmente por hidrocarbonetos, compostos que podem poluir o solo. Alternativas de substituição do óleo diesel por produtos mais baratos e de 58 menor impacto ambiental, porém, com a mesma efetividade, seria de grande valia no sistema de produção de pastagens. O Biodiesel é uma das alternativas na substituição do diesel, uma vez que é um produto originário de recursos de origem vegetal ou animal. Atualmente a legislação obriga a mistura de 5% Biodiesel no diesel comum, sendo produzidos em 2010, 2,4 bilhões de litros. Para cada 100 litros de Biodiesel produzido são gerados aproximadamente 10 litros de glicerina, no ano de 2010 foram gerados 240.000 litros deste co-produto (ANP, 2010). Considerando que a demanda da glicerina no Brasil foi de aproximadamente 12 milhões de litros/ano (ABIQUIM, 2007), o restante constitui-se em um grande passivo ambiental. A glicerina é uma matéria-prima que pode ser empregada em diversos setores das indústrias de cosméticos, saboaria, farmacêutico, alimentício, entre outros. É chamado de glicerina os produtos comerciais com aproximadamente 95% de glicerol, o 1,2,3-propanotriol, mas atualmente, com o aumento da produção de Biodiesel em todo o mundo, uma fração com cerca de 80% de glicerol é normalmente denominada de glicerina loira ou bruta (MOTTA; PESTANA, 2011). A glicerina obtida pela reação de transesterificação de óleos vegetais (produção de Biodiesel) apresenta impurezas como água, catalisador alcalino, álcool não reagido, e ácidos graxos, entre outros compostos (MOTTA; PESTANA, 2011), o que pode limitar a sua utilização em determinadas áreas, sendo necessário uma pré-purificação normalmente realizada através da utilização de ácidos. Na aplicação de um herbicida devem ser levadas em consideração as seguintes características físico-químicas: solubilidade em água, pressão de vapor, pKa, Kow, Koc e tempo de meia-vida, viscosidade, tensão superficial e etc. pois tais propriedades podem explicar a maioria dos aspectos relacionados com a eficácia e o comportamento do herbicida na planta. A glicerina com propriedades desejáveis para substituição do óleo diesel em aplicação no controle da M. peregrina deve ter características, físicoquímica semelhante ao mesmo. Segundo a ANP (2012), o óleo diesel é uma mistura de hidrocarbonetos, e outros compostos constituídos de átomos de hidrogênio, carbono, oxigênio, nitrogênio e enxofre. O mesmo apresenta-se 59 em forma de líquido amarelado viscoso, límpido, pouco volátil, possui cheiro forte e marcante e nível de toxidade mediano. Frente a esta realidade, diversas áreas de pesquisa procuram alternativas para utilização da glicerina além daquelas, tradicionalmente utilizadas no setor químico, alimentício e farmacêutico. Desta maneira o presente trabalho objetivou avaliar os parâmetros físicos e químicos bem a utilização da glicerina produzida no processo de produção do Biodiesel, na substituição do diesel, utilizado como veículo na aplicação do herbicida Togar TB* no controle da planta daninha de pastagens M. peregrina. 60 MATERIAIS E MÉTODOS Foram realizados dois trabalhos, um em laboratório para avaliação dos parâmetros físico-químicos das amostras e outro em campo para avaliar a eficiência do herbicida Togar TB* no controle de M. peregrina utilizando a glicerina pré-purificada como veiculo de aplicação. - Avaliação dos parâmetros físico-químicos das amostras: A glicerina bruta (sub-produto da fabricação do biodiesel), foi adquirida junto á Usina de Biodiesel “BIOTINS”, localizada no município de Paraíso do Tocantins. A glicerina foi obtida a partir da fabricação do Biodiesel, tendo como fonte de matéria prima o óleo de soja. Este foi transesterificado utilizando como catalisador do NaOH (hidróxido de sódio). Devido à presença de diversos contaminantes esta foi previamente pré-purificada, com diferentes concentrações de ácido fosfórico (85%), conforme procedimento sugerido por Swearingen (2012). Após a adição do ácido fosfórico, a glicerina foi colocada em funil de separação, onde permaneceu por um período de descanso de 24 horas, para posterior separação das fases (TAQUEDA, 2007). Conforme pode ser observado na Figura 7, após o processo anterior ocorre a formação de três fases: no topo (fase escura) com ácido graxo livre no estado líquido; na fase intermediária (cor âmbar) está a glicerina, e no fundo (cor clara) os sais formados da mistura de catalisador e ácido fosfórico. 61 Figura 7: Visualização das fases (ácidos Graxos, glicerina e sais) após prépurificação da glicerina bruta com 20% de H3PO4 á 85% de Pureza. Inicialmente foi instalado um experimento inteiramente casualizados com onze tratamentos (Tabela 2) e uma testemunha de referência (água destilada), para avaliação de características físicas e químicas dos componentes das caldas de pulverização a serem utilizadas na segunda parte do trabalho, sendo realizado em triplicatas. Tabela 2: Tratamentos utilizados no experimento a campo e que tiveram suas propriedades físicas e químicas caracterizadas. Tratamentos Água Destilada Glicerina Pré-purificada com 5% de H3PO4 a 85% de Concentração. Glicerina Pré-purificada com 6% de H3PO4 a 85% de Concentração. Glicerina Pré-purificada com 8% de H3PO4 a 85% de Concentração. Glicerina Pré-purificada com 9% de H3PO4 a 85% de Concentração. Glicerina Pré-purificada com 5% de H3PO4 a 85% de Concentração mais Togar TB. Glicerina Pré-purificada com 6% de H3PO4 a 85% de Concentração mais Togar TB Glicerina Pré-purificada com 8% de H3PO4 a 85% de Concentração mais Togar TB Glicerina Pré-purificada com 9% de H3PO4 a 85% de Concentração mais Togar TB Togar TB Diesel Togar TB + Diesel Na glicerina pré-purificada foram avaliados os seguintes parâmetros físicos: viscosidade, tensão superficial e químicos: pH, umidade (%), índice de acidez (mg/l), teor de cloreto (mg/l), concentração de voláteis, concentração de cinzas (%) e concentração de impurezas (%). Inicialmente foi determinada a densidade das amostras, utilizando a equação d=massa/volume. Para isso pesou-se um balão de 50 mL vazio e com 62 as amostras, posteriormente determinou-se a massa da amostra subtraindo a massa do balão com a mesma da massa do balão vazio, dividiu-se a diferença por 50, obtendo assim a densidade da amostra em g/mL ou g/cm³. Para determinação da viscosidade foi utilizado o metodologia descrita por (RANGEL, 2006). A fórmula para realizar o cálculo da viscosidade foi: Ya/ Yh = Da x Ta/ Dh x Th Em que: Ya: Viscosidade da amostra Yh: Viscosidade da água Ta: Tempo de escorrimento da amostra Dh: Densidade da água Th: Tempo de escorrimento da água. A determinação da tensão superficial das amostras foi calculada pelo método da gota, (PILLA, 1979). Utilizando a seguinte fórmula: γ= mi . g 2..π. r . f Em que: γ: tensão Superficial; mi: massa de uma gota; g: aceleração da gravidade cm/s; π: 3,14159; r: raio de uma gota; f: fator de correção. Utilizou-se a seguinte equação (r= - 0,02815 + 3,81292 x m) para determinar o raio a partir da massa de uma única gota; encontrou-se a relação r / V⅓ para cada amostra e determinou a correção f por meio de tabelas. Os parâmetros pH, umidade (%), índice de acidez (mg/l), teor de cloreto (mg/l), concentração de voláteis, concentração de cinzas (%) e concentração de impurezas (%), dos diferentes tratamentos utilizados no trabalho, foram determinados por laboratório especializado. 63 - Avaliação a campo da eficiência do herbicida Togar TB* no controle de M. peregrina utilizando a glicerina pré-purificada como veiculo de aplicação: O trabalho de campo foi instalado, em uma área de produção de gado de corte em modo extensivo, no município de Alvorada do Tocantins situado a uma Latitude de 12º 48’ 05” e Longitude de 49º 12’ 54”. O experimento seguiu o modelo de blocos casualizados com seis tratamentos (Tabela 3) e quatro repetições. As unidades experimentais foram constituídas por seis plantas de M. peregrina por tratamento. Estas plantas foram escolhidas mantendo-se um padrão, de mesma idade e diâmetro de caules (3 cm). Tabela 3: Tratamentos para avaliação de campo. Tratamentos Glicerina Pré-purificada com 5% de H3PO4 a 85% de Concentração mais Togar TB. Glicerina Pré-purificada com 6% de H3PO4 a 85% de Concentração mais Togar TB Glicerina Pré-purificada com 8% de H3PO4 a 85% de Concentração mais Togar TB Glicerina Pré-purificada com 9% de H3PO4 a 85% de Concentração mais Togar TB Togar TB + Diesel : Padrão comercial Testemunha: Sem aplicação. As aplicações (200 ml/planta) foram feitas no terço inferior da planta, na forma de aplicação basal dirigida, utilizando pulverizador costal manual, com bico tipo cone, sem o core interno (jato cone cheio), aplicando-se em todo o perímetro do caule até ocorrer o ponto de escorrimento. Estas plantas foram avaliadas quanto ao controle, aos 30 e 60 DAA por meio de escala percentual de notas visuais, variando de 0 a 100 %, onde 0 (zero) corresponde a nenhuma injuria na planta e 100 (cem) à morte das plantas e aos 270 dias após a aplicação (DAA) foram avaliados por meio da contagem do número de brotações por planta, considerando-se para nível de aceitação, eficiência de no mínimo 80%. Este método segue as normas propostas por Frans (1986) e pela Sociedade brasileira da ciência das plantas daninhas, (1995). Todos os dados foram analisados pelo software estatístico SISVAR, as médias foram comparadas pelo teste Skott Knott. (FERREIRA, 2000). 64 RESULTADOS E DISCUSSÃO Analisando-se as características químicas da glicerina bruta utilizada no presente trabalho (Tabela 5), verifica-se o teor de glicerol de 62,14% e pH 12,6 evidenciando a presença de catalisador básico. O teor de cinzas sulfatadas e material orgânico não glicérico (MONG) apresentaram valores de 9,6 e 25,43 %, respectivamente, enquanto o resíduo de metanol foi de 7,09. Tabela 4: Características químicas da glicerina bruta. Características Método de análise Teor de água (%) ASTM E 203 Cinzas sulfatadas (%) ASTM E D 874 Glicerol total (%) AOCS Ea 6-94/Mod MONG¹ (%) ISO 2464 Metanol EN 14110 pH NBR 10891 1 Matéria Orgânica não glicérica. Fonte: Laboratório SAYBOLT L.T.D.A / BIOTINS. 2011. Total 2,83 9,6 62,14 25,43 7,09 12,60 Tendo em vista que o objetivo do trabalho foi avaliar a utilização da glicerina como veículo de pulverização de herbicidas, fez-se necessário tratá-la com concentrações diferentes de ácido fosfórico de forma a se obter diferentes pH(s) e resíduos, conforme descrito na Tabela 6. Tabela 5: Análise química da glicerina pré-purificada com H3PO4 85%. Parâmetros 5 Concentrações de H3PO4 (%) 6 8 9 65 Umidade (%) 4,03 4,46 4,93 4,96 Índice de acidez (mg/L) 2,10 15,9 15,4 22,7 pH 6,20 2,32 2,28 2,01 Cloreto (mg/L) 514,46 2.033,49 2.176,80 2.621,04 Voláteis a 180 ºC Ausente Ausente Ausente Ausente Cinzas (%) 18,76 13,46 24,80 37,90 Impureza (%) 0,2 0,2 0,2 0,1 Fonte: QUINOSAN Laboratório Químico Ltda – Brasília – DF. 2011. Conforme esperado o incremento da concentração de H3PO4 (85%) à glicerina bruta, aumentou o índice de acidez e concomitantemente expressou uma redução nos valores de pH, correspondendo a 6,20, 2,32, 2,28 e 2,01 para as glicerinas pré-purificadas com 5, 6, 8 e 9 % de H3PO4 (85%), respectivamente. Isto já havia sido observado por Cubas et al. (2010) os quais encontraram que com adição do ácido fosfórico a 85% de concentração em doses crescentes na glicerina bruta, ocorre a diminuição do seu pH, e separação das fases, como por exemplo, os ácidos graxos, sais e glicerol. Os valores de cloreto e cinzas (exceto 6%) expressaram um incremento em função do aumento da concentração de ácido fosfórico. O aumento das doses de ácido fosfórico promoveu aumento no teor de cloreto presente na glicerina, este provavelmente devido às reações químicas que ocorrem neste processo, visto que o cloreto surge como contaminante do processo de transesterificação para obtenção do biodiesel. Ferreira (2009) estudando o processamento químico do Biodiesel e derivado, concluiu que o cloreto é um íon que provém do pró-processamento da transesterificação de óleos e gorduras, na produção do biodiesel. Knothe et al. (2009) citaram que a neutralização da glicerina com o ácido, clorídrico ou fosfórico, promove a sua purificação a “glicerina loira” que depois de ser destildada pode atingir uma pureza de 60 a 80%, separando nitidamente os sais e cloretos. O cloreto pode interagir com o sódio da solução, formando o NaCl, sendo este um agente espessante capaz de aumentar a viscosidade da solução, através da interação com os agentes tensoativos empregados, desde que os níveis salinos não ultrapassem certos limites (COUTO et al., 2007). Segundo Brown et al. (2002), a presença de íons cloretos na solução promove 66 aumento na tensão superficial devido ao aumento das interações intermoleculares (maior coesão entre as moléculas). Em relação à presença do cloreto nos tratamentos utilizados, observase um aumento nítido em função do aumento da quantidade de H3PO4, sendo que este pode influenciar significativamente, aumentado à tensão superficial e viscosidade, interferindo diretamente na eficiência de aplicação. Montório et al. (2005) diz que uma calda de pulverização ideal é aquela que apresenta elevado ao coeficiente de eficácia associada às tensões mínimas. Portanto, a pulverização de líquidos que tenham maior viscosidade e maior tensão superficial produz gotas maiores (CHRISTOFOLETTI, 1999). Segundo Miller e Butler Ellis (2000), as mudanças nas propriedades do líquido pulverizado podem influenciar tanto o processo de formação das gotas quanto o comportamento destas em contato com o alvo, alterando o risco potencial de deriva na aplicação. Apesar de não ter sido quantificado o teor de glicerol nos diferentes tratamentos, é de se esperar o incremento do mesmo, uma vez que com a acidificação, ocorrerá maior separação dos resíduos presentes, principalmente ácidos graxos e sabões. Segundo Gervajio (2005) quando se acidifica a glicerina bruta com H3PO4, ocorre à separação nítida de ácidos graxos, sais como o fosfato de sódio, se o catalisador da reação for NaOH, ou o fosfato de potássio, se o catalisador da reação for KOH. Barbosa (2009) trabalhando com glicerina proveniente da produção de sebo bovino verificou que a acidificação desta com ácido fosfórico (85%) abaixou seu pH de 12,57 (glicerina bruta) para 4,00 (glicerina pré-purificada), promovendo um aumento de 25,8% na quantidade de glicerol. Segundo Kirk Othmer (2007) o glicerol tende à ser higroscópio e seu teor máximo de água chega á 5%, fato este evidenciado neste trabalho, onde o teor de umidade das amostras não ultrapassou 5%. Pasquetti (2011) verificou maior concentração de ácidos graxos na glicerina bruta (21,5%) do que na semi-purificada (5,1%), também observou uma redução no teor de MONG de 32,8 para 13,22%, respectivamente. No presente trabalho, tal fato foi evidenciado, mas como não foram determinadas estas duas características nas amostras de glicerina pré-purificada, isto pode ser visualizado na Figura 8, onde se percebe nitidamente a separação dos ácidos graxos da glicerina. O incremento no teor de cinzas pode ter sido devido 67 à acidificação pelo uso de um ácido inorgânico, como é o caso do H 3PO4, visto que as cinzas são basicamente constituídas de sais inorgânicos remanescentes do processo fabril do biodiesel, que acaba sendo incorporado à glicerina bruta. Martines (2007) cita que as cinzas sulfatadas (sódio, potássio, etc.) indicam resíduos do catalisador utilizado durante a reação de transesterificação e que não foram removidos na sua totalidade no processo de purificação do Biodiesel. Na Tabela 6, estão apresentados os valores de viscosidade e tensão superficial correspondentes aos tratamentos avaliados. Verificou-se maiores valores de viscosidade variando de 19 a 22 cP nos tratamentos com a glicerina pré-purificada, sendo que, os tratamentos glicerina 5% e glicerina 6% apresentam maior viscosidade diferindo significativamente dos outros e não diferindo entre si. Estes foram praticamente cinco vezes superiores a aqueles determinados no diesel e na mistura diesel mais herbicida Togar TB. Tabela 6. Viscosidade e tensão superficial da glicerina pré-purificada com diferentes concentrações de ácido fosfórico (85%), isolada ou em mistura com o herbicida Togar TB, assim como, da água, do herbicida e do diesel. Tratamentos Glicerina 5 % Glicerina 6 % Glicerina 8 % Glicerina 9 % Glicerina 5 % + Togar TB Glicerina 6 % + Togar TB Glicerina 8 % + Togar TB Glicerina 9 % + Togar TB Togar TB Diesel Togar + Diesel Água Destilada F CV % Viscosidade (cP*) 21.95a 21.80a 20.85c 21.17b 20.83c 21.17b 20.43d 19.80e 3,28 g 4,91 f 4.80 f 0.99 h 4356.46** 1.50 Tensão superficial (mN/m-1) 35.43 b 34.25 c 35.37 b 33.19 d 30.36 e 30.23 e 28.45 f 28.37 f 23.34 h 23.47 h 24.36 g 72.40 a 6874.31** 0.82 *centi-Poise. Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, de acordo com o teste de Skott Knott a 5% de probabilidade. A viscosidade do óleo diesel verificada no trabalho está próximo da descrita pela normas técnicas da Petrobras, que é de 2,05 a 4,84 cP a 40 °C. 68 Enquanto herbicida Togar* TB ficou um pouco acima daquela apresentada no relatório técnico da empresa que comercializa o produto (DOW AgroScience) cujo valor é de 3,04 cP a 25ºC. Nos compostos que contém grupos OH, a exemplo da glicerina (três grupos OH), estes podem formar ligações de hidrogênio intermoleculares, aumentando assim a viscosidade (ATKINS 2006). Outro fator a ser considerado na determinação da viscosidade de fluídos é a temperatura. Quanto maior for à temperatura durante o processo de avaliação menor será a viscosidade, fato que pode ser explicado pela expansão das moléculas, ou seja, menor coesão. Santos (2007) trabalhando com glicerina etoxilada constatou valores de viscosidade de 646,9 cP a 10 °C, enquanto a 40 °C esta foi de 169,0 cP. Cordoba (2011) verificou que a viscosidade da glicerina bruta a 70 °C é aproximadamente 22 vezes superior a da loira e 528 vezes a do óleo diesel. O grau de pulverização está diretamente ligado à viscosidade e escoamento da solução. Além disso, características como estabilidade e densidade também influenciam no processo de formação da gota, cujo conhecimento é fundamental para o sucesso de uma aplicação de agrotóxico. Butler et al. (1993) e Liu e Stansly (2000) ressaltam que os produtos com maior viscosidade, quando utilizados junto a defensivos agrícolas sintéticos, reduzem a evaporação e podem reduzir a lavagem dos mesmos durante estações chuvosas. Ainda segundo Butler et al. (1993), Liu e Stansly (2000) e Basf (2012), estes produtos ainda oferecem melhor poder de penetração na cutícula cerosa, além de melhorar a deposição dos defensivos nas folhas, permitindo que este defensivo possa agir de forma mais efetiva e, desta forma, o volume aplicado pode ser reduzido. Outra propriedade importante da calda para a aplicação do agrotóxico é a tensão superficial, resultante de forças que agem nas moléculas da superfície do líquido. Uma molécula que se localiza no interior do líquido fica sujeita a forças intermoleculares de todas as moléculas em próximas. Contudo, a tensão superficial das gotas e sua interação com a superfície alvo influenciam não só a molhabilidade, mas também o processo de absorção, que é fundamental para a efetividade da aplicação (MENDONÇA et al., 2007). 69 Quando se analisa a tensão superficial observa-se que nos tratamentos onde se fazia presente a glicerina pré-purificada, a tensão superficial foi maior, variando de 28 a 36 mN/m-1, sendo que os tratamentos glicerina 5% e glicerina 8% diferiram significativamente dos outros, porém não entre si. Segundo Santos (2007) a tensão superficial é responsável pela forma esférica das gotas pulverizadas, sendo que a capacidade de um líquido molhar ou espalhar-se sobre uma superfície sólida (molhamento) depende diretamente da tensão superficial. Menor tensão superficial foi constatada nos tratamentos: diesel, Togar e Togar mais diesel (23,34 a 24,36 mN/m-1). Segundo o fabricante (DOW Agroscience) o herbicida Togar TB possui tensão superficial de 31,58 mN/m-¹ a 25ºC, valor superior ao encontrado no trabalho (23,34 mN/m -1). Isto pode ser explicado pelo fato de não se ter o controle total da temperatura no experimento. A tensão superficial está diretamente relacionada com a temperatura, ou seja, a temperatura promove a quebra das interações intermoleculares do composto, deixando-o com menos coesão, assim reduzindo sua tensão. Foi o que observou Sundaram (1987) avaliando o efeito da temperatura na determinação da tensão superficial, sendo que estes valores de tensão superficial apresentaram pequeno decréscimo com o aumento da temperatura Schampheleire et al. (2008) afirmaram que o grau de pulverização, está ligado diretamente à viscosidade e à tensão superficial da calda ou seja, uma menor tensão superficial permitindo transpor obstáculos como a presença de pelos foliares, aumentando a quantidade de princípio ativo que atinge as áreas de absorção. A efetividade dos tratamentos no controle da M. peregrina foi avaliado a campo por meio de notas de intoxicação e porcentagem de rebrota das plantas após um período de tempo 30, 60 DAA e 270 DAA para a rebrota (Tabela 7). O tratamento comercial (óleo diesel + Togar TB) foi o mais rápido e efetivo no controle da planta daninha, provocando porcentagem de toxicidade acima de 84%, o que é considerado excelente, assim como apenas uma rebrota por planta. A aplicação do herbicida com a glicerina pré – purificada a 5 % pode ser considerado como o segundo tratamento mais expressivo no 70 controle de M. peregrina, porém com notas de intoxicação abaixo de 70% (67,50% aos 60 DAA) considerado como controle ruim. Neste tratamento foi observado o menor número de rebrotas em comparação aos tratamentos onde se utilizou a glicerina, correspondendo a uma redução de 54,16 % quando comparado à testemunha. No tratamento padrão Togar* TB + Diesel esta redução correspondeu a 83,33%. Tabela 7: Avaliação do efeito do herbicida Togar* TB em Memora peregrina aplicado no caule, com diferentes veículos de aplicação. Tratamentos Togar* TB + Glicerina 5 % Togar* TB + Glicerina 6 % Togar* TB + Glicerina 8 % Togar* TB + Glicerina 9 % Togar* TB + Diesel Testemunha F DMS CV % Porcentagem de intoxicação Brotações/ tratamento 30 DAA* 60 DAA 270 DAA 33.50b 25.00b 27.00b 27.00b 84.50ª 0.00c 42.67** 19,59 25.97 67.50ab 33.75c 41.60bc 50.00b 88.75a 0.00d 20.85** 31,18 28.68 2.75c 3.75bc 4.50b 3.00c 1.00d 6.00a 45.00** 1,16 14.44 * DAA: Dias após aplicação; Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, de acordo com o teste de Tukey a 5% de probabilidade. A qualidade da solução é fator importante no desempenho dos agroquímicos. Uma solução alcalina com pH acima de 7,0 podem diminuir a eficiência dos herbicidas, especialmente de dessecantes à base de glifosato (THEISEN; RUEDELL, 2004). Segundo Carbonari et al. (2005) alguns herbicidas têm sua eficiência aumentada na planta com a redução do pH da água a valores próximos a 4,0. Além disso, em pH mais baixo, a taxa de hidrólise é retardada, mantendo a folha úmida por maior tempo, pois a superfície das folhas tem um pH neutro, 71 havendo uma interação com o pH da calda. Este fato pode ser comprovado no uso do Togar TB* mais Glicerina 5% pH 6,20 ocorreu um maior controle da M. Peregrina de acordo com a Tab. 6, mas se comparado com os demais tratamentos, a acidez não influenciou no controle. O processo de pulverização para converter um líquido em gotas e o destino final destas gotas depende das propriedades físico-químicas das soluções empregadas (PROKOP E KEJKLÍCEK, 2002). O grau de pulverização está diretamente ligado à viscosidade e escoamento da solução. Além disso, características como estabilidade e densidade também influenciam no processo de formação da gota, cujo conhecimento é fundamental para o sucesso de uma aplicação de agrotóxico. Contudo, a tensão superficial das gotas e sua interação com a superfície do alvo influenciam não só a molhabilidade, mas também o processo de absorção, que é fundamental para a efetividade da aplicação. Em geral, a elevação da viscosidade está associada à geração de gotas de pulverização maiores e, portanto, com menor perda por deriva. No entanto, não está definida a magnitude desta elevação necessária para o aumento do diâmetro das gotas (CUNHA et al., 2003). Uma boa retenção ou adesividade dos produtos fitossanitários na superfície foliar é conseqüência de uma boa molhabilidade. Esta ocorre em função do ângulo de contato que a gota pulverizada forma com o alvo, que por sua vez é influenciado pela presença de surfactantes na calda (TANG et al., 2008). De acordo com a Tabela 7, nota-se que aos 30 DAA, não houve uma diferenciação significativa entre os tratamentos em que se utilizou a glicerina mais o herbicida Togar TB, sendo que o tratamento padrão comercial atual, que é o Diesel mais o herbicida Togar TB a 8% V/V, foi superior e diferiu de todos os tratamentos realizados de acordo com o teste Tukey a 5% de probabilidade. Vale destacar que foi evidenciado maior controle da ciganinha apenas aos 60 DAA, podendo ser explicado devido às características físicoquímica do herbicida. Segundo Silva (2005) em geral herbicidas contendo a molécula picloram, como é o caso do Togar TB, apresenta efeito lento, porém extremamente persistente, ou seja, a planta não consegue metabolizar 72 rapidamente este herbicida, e com isso o controle tende á ser mais eficiente em função do tempo. Na parcela onde foi aplicado o herbicida mais o óleo diesel, observouse rápida intoxicação visual nas plantas de M. peregrina nos primeiros 30 dias após a aplicação. Tal fato pode ser explicado pela agressividade do diesel sobre os tecidos vegetais, destruindo a cutícula e promovendo a secagem da planta, maximizando a eficiência do herbicida. Conforme Akobundu (1987) e Deuber, (1992) o óleo diesel apresenta efeito fitotóxico, por causar a solubilização das paredes celulares, levando à desintegração celular e extravasamento do seu conteúdo para os espaços intercelulares. Aos 60 DAA observou-se que o resultado da aplicação da glicerina a 5% mais herbicida Togar TB* não difere estatisticamente do tratamento no qual se utiliza o óleo diesel mais o herbicida Togar TB, sendo que neste período foi evidenciada maior intoxicação nas plantas causada pelo herbicida. Nunes et. al., (2002), em estudos para controle basal da M. peregrina, utilizando as moléculas picloram e triclopir, obtiveram resultados promissores com esse método, tendo nível de desfolha de 100% aos 421 DAA. Na avaliação da taxa de rebrota, aos 270 DAA não foi evidenciado o nível de controle aceitável, maior que 80% para os tratamentos que utilizam a glicerina. Contudo para o tratamento contendo o óleo diesel, houve nível de controle de 83,3%, valores estes acima do valor de referência para aceitação que é de 80%. Valores semelhantes foram constatados por Nunes et al. (2002), aos 421 DAA. 73 CONCLUSÕES A elevação da concentração de ácido fosfórico provocou aumento do índice de acidez, concentração de cloreto, nas soluções com glicerina; Os tratamentos contendo a glicerina pré - purificada com 5% e 6% de H3PO4 obtiveram maiores viscosidades e foram superiores aos demais tratamentos; Nos tratamentos contendo glicerina pré-purificada, a tensão superficial foi sempre maior quando comparados com o tratamento envolvendo o óleo diesel; Na avaliação da rebrota, os tratamento contendo a glicerina, não se mostraram eficientes no controle da M. peregrina; O tratamento contendo o óleo diesel em mistura com o herbicida Togar TB na proporção de 8% V/ V, mostrou-se eficiente no controle da M. peregrina. 74 REFERÊNCIAS ABIQUIM - Associação Brasileira de Química - Anuário 2007. AKOBUNDU, I. E. Weed Science in the Tropics: Principles and Practices. Norwich: J. Wiley, 1987. 522 P. ANP - Agência Nacional de Petróleo Gás Natural e Bicombustíveis. Dados Técnicos. 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