ABCESSO DE MÚSCULO ILEOPSOAS PRIMÁRIO, SEM RELAÇÃO COM TRAUMA OU IMUNOSSUPRESSÃO: RELATO DE CASO Caldas, A.G.S.; Souza, J.A.; Vasconcelos, J.E.; Maksymczuk, D.R.D. Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo – Departamento de Terapia Intensiva [email protected] INTRODUÇÃO O abcesso do músculo ileopsoas é uma condição rara e subdiagnosticada na prática clínica. Pode ser classificado em primário ou secundário. O primário ocorre por disseminação hematogênica ou linfática, acomete principalmente crianças, usuários de drogas injetáveis, pacientes com algum grau de imunossupressão ou é precedido por um trauma muscular. Já o secundário é mais comum e decorre de processos inflamatórios intra-abdominais. O diagnóstico é clínico, sendo a tomografia computadorizada o exame de imagem para confirmação¹. OBEJTIVOS Relatar caso de adolescente masculino, previamente hígido, sem histórico de traumas ou imunossupressão, diagnosticado com abcesso de músculo ileopsoas. RELATO DE CASO P.L.F.B., masculino, 14 anos, hígido, admitido com quadro de dor em quadril à esquerda e febre alta há 15 dias levando a posição antálgica de membro inferior esquerdo (Figura 1.), sem história de trauma ou lesões cutâneas prévias. Deu entrada em sepse grave, com suspeita de abdome agudo inflamatório, sendo submetido à laparotomia exploradora, não diagnóstica. No pós-operatório, paciente mantinha febre, taquidispnéia, astenia e persistência da dor articular. Solicitada avaliação da ortopedia por suspeita de abcesso do músculo ileopsoas esquerdo, sendo submetido a drenagem cirúrgica com saída de moderada quantidade de material purulento e antibioticoterapia para cobertura de germes Gram positivos. Durante a internação foram descartadas causas de imunossupressão, tais como diabetes, HIV, doenças autoimunes e insuficiência renal crônica. Paciente evoluiu com melhora clínicolaboratorial, recebendo alta hospitalar assintomático. Figura 1. Posição antálgica adotada pelo paciente no leito: rotação externa e flexão de membro inferior esquerdo. DISCUSSÃO O músculo ileopsoas é o principal flexor do quadril¹. O abcesso do músculo ileopsoas foi descrito pela primeira vez por Mynter em 1881². É uma condição rara e subdiagnosticada, sendo a maioria da literatura existente constituída por Relatos de Casos¹. Pode ser classificado como primário ou secundário. O primário ocorre por disseminação hematogênica ou linfática; já os secundários resultam da expansão direta de um processo infeccioso próximo ao músculo³. Segundo Shields et al., os casos primários correspondem à apenas 30% e são mais comuns em crianças, portadores de HIV/SIDA, tuberculose, doenças autoimunes, diabetes mellitus, insuficiência renal e usuários de drogas injetáveis. Traumas na região abdominal e lombar também são fatores de risco¹. O diagnóstico é clínico e pode ser apoiado pela tomografia computadorizada⁴. Hemoculturas e cultura do aspirado também são úteis, entretanto no nosso caso não houve crescimento bacteriano. O agente mais comum é o S. aureus, incluindo o MSRA, seguido pela E. coli.² O diagnóstico diferencial se faz com artrite séptica do quadril e outras causas de abdome agudo inflamatório¹. O tratamento preconizado é a drenagem aberta do abcesso e antibioticoterapia com cobertura para germes Gram positivos. Em nosso caso o paciente apresentou boa resposta após a drenagem cirúrgica e o uso de ceftriaxone por 7 dias. Como não havia relato de traumas abdominais ou lombares, nem lesões cutâneas prévias, o paciente foi submetido à investigação de possíveis causas de imunossupressão como HIV, doenças auto-imunes, diabetes, doença renal crônica - sendo todas descartadas. CONCLUSÃO Apresentamos um quadro atípico de psoíte, no qual não havia relato de trauma ou lesões cutâneas e possíveis causas de imunossupressão foram descartadas. A clínica marcante de dor em quadril esquerdo associada a marcadores sugestivos de infecção bacteriana orientaram a suspeita. Conclui-se portanto, que a hipótese de abcesso do músculo ileopsoas, apesar de pouco comum, deve fazer parte do arsenal de diagnósticos diferenciais de abdome agudo inflamatório e das afecções do quadril, mesmo na ausência de comorbidadas ou trauma. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. SHIELDS, D.; ROBINSON, P.; CROWLEY, T.P. Iliopsoas abcess – A review and update on the literature. International Journal of Surgery, v. 10, p. 466-469, 2012. MYNTER, H. Acute psoits. Buffalo Med Surg J. v. 21, p. 202-10, 1881. DUARTE, A.C.M.S.D.; FREITAS, V. F.; FERNANDES, R. C. de S. Abcesso de Íliopsoas em escolar, de provável origem hematogênica: relato de caso. Revista Científica da Faculdade de Medicina de Campos, v.2, n.2, p. 37-42, 2007. ZISSIN, R. et al. Ileopsoas abcess: a report of 24 pacientes diagnosed by CT. Abdom Imaging, v. 5, p. 533-539, 2001.