Wagner Araújo

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
CAMPUS I – CAMPINA GRANDE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE ENFERMAGEM
WAGNER ARAUJO
Através da terra:
Estudo Etnobotânico de plantas utilizadas em rituais
de cura por participantes de cultos religiosos de
Matriz Africana em Campina Grande-PB
CAMPINA GRANDE – PB
2014
0
WAGNER ARAUJO
Através da terra:
Estudo Etnobotânico de plantas utilizadas em rituais
de cura por participantes de cultos religiosos de
Matriz Africana em Campina Grande-PB
Monografia apresentada
Graduação de Enfermagem
Estadual da Paraíba em
exigência para obtenção do
em Enfermagem.
ao Curso de
da Universidade
cumprimento à
grau de Bacharel
Orientador: Prof. Dr. Thulio Antunes de Arruda
CAMPINA GRANDE – PB
2014
1
2
3
AGRADECIMENTOS
A Deus pelo dom da vida, por não ter desistido de mim, e por ter me acompanhado até
aqui.
Aos Orixás, em especial a dona do meu Orí (cabeça), Iemanjá, por ter me colocado no
colo e ter exercido seu papel de mãe de forma incondicional.
As mulheres da minha vida, Josefa Henriques de Oliveira e Ieda Araujo, por sempre
acreditarem no meu potencial e ter incentivado a buscar sempre os estudos.
Ao Prof°. Dr. Thúlio Antunes Arruda por ter aceitado ser meu orientador e pela
amizade e dedicação de sempre. Ter convivido com ele por esse tempo foi um prazer imenso.
Espero levar sua amizade para a vida.
Em especial as minhas amigas: Suênya, Fernanda, Glaucilene, Walnielma, Thatiana,
Laís, Aligia, Thayna, Thaynar e Leide Jane, por ter feito meus dias mais felizes. Não sei o que
será de minha vida sem a presença de vocês. Mas as separações da vida são inevitáveis.
Enfim, a todos aqueles que contribuíram para que eu pudesse chegar até aqui.
4
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 –
TABELA 2 –
Categorias de sistemas corporais tratados pelas plantas medicinais
utilizadas nos terreiros de Campina Grande –PB, com respectivos
números de espécies....................................................................................
23
Lista das plantas utilizadas nos terreiros em Campina Grande –
PB..…..........................................................................................................
24
5
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 –
FIGURA 2 –
Dados sociodemográficos e etnobotânicos fornecidos pelos informantes
de terreiro do município de Campina Grande-PB..........................................
19
Distribuição por família das plantas utilizadas nos terreiros em Campina
Grande-PB......................................................................................................
20
6
RESUMO
As pesquisas etnobotânicas cresceram de forma visível em várias partes do mundo na ultima
década, principalmente na América Latina, onde se destaca países como o México, Colômbia
e Brasil. No caso do Brasil, a construção e a transformação dos saberes etnobotânicos se dão
em meio de um cenário bastante peculiar no que se refere à diversidade cultural no tocante ao
conhecimento e as práticas de seus habitantes e também a diversidade biológica, em
conseqüência disso, um imenso saber em relação às plantas de interesse e potencial de
mercado e que podem vim a ser possíveis fontes de renda com sustentabilidade ambiental. O
presente estudo teve como objetivo conhecer o saber popular dos participantes de cultos
religiosos de matriz africana sobre plantas medicinais na Cidade de Campina Grande. Trata-se
de um estudo etnobotânico no qual foi utilizado o método descritivo-analítico, que permitirá o
conhecimento e a seleção das plantas citadas. A pesquisa de campo foi realizada com os
participantes de cultos religiosos de matriz africana que aceitaram participar do estudo, em
terreiros da Cidade de Campina Grande, PB. Entre os entrevistados 40% são idosos. A maior
parte dos informantes (60%) do gênero feminino, este tipo de conhecimento foi repassado em
sua maioria (40%) pelas mães de santo, mas alguns afirmam também ter sido por pais de
santo (20%), Ogans (10%), igreja (10%), entidades (10%), familiares (10%). Resultaram
deste levantamento 29 espécies, distribuídas em 20 famílias botânicas, sendo as principais
Fabaceae (6), Laminaceae (3), Boraginaceae (2) e Anacardiaceae (2) e Poaceae (2). Em
relação a origem observou-se que 43% são nativas e 57% exóticas. As famílias com maior
representatividade foram: Fabaceae (6 espécies), Laminaceae com 3 espécies, Boraginaceae,
Anacardiaceae e Poaceae com 2 espécies.Esse estudo oferece subsídio para outras pesquisas
etnobotânicas, sendo que o terreiro, enquanto espaço religioso e seus adeptos possuidores de
um saber ancestral, passado através da oralidade,possuem grande conhecimento acerca de
ervas com grande potencial terapêutico.
PALAVRAS-CHAVE: Etnobotânica, Religiões de Matriz Africana, Ervas, Enfermagem.
7
ABSTRACT
The ethnobotanical studies grew visibly in various parts of the world in the last decade,
mainly in Latin America, which highlights countries such as Mexico, Colombia and Brazil. In
the case of Brazil, the construction and transformation of ethnobotanical knowledge are given
in the middle of a very peculiar scenario with regard to cultural diversity in relation to the
knowledge and practices of its inhabitants and also biological diversity, as a result, one
immense knowledge in relation to plants of interest and market potential and that can come to
be possible sources of income on environmental sustainability. This study aimed to know the
popular wisdom of the participants in religious cults of African origin on medicinal plants in
the city of Campina Grande. This is an ethnobotanical study in which the descriptiveanalytical method, which allows the knowledge and selection of plants mentioned was used.
The field research was conducted with the participants in religious cults of African origin who
agreed to participate in terraces of the City of Campina Grande, PB. Among the respondents
40% are elderly. Most respondents (60%) were female, this kind of knowledge was passed
mostly (40%) of the mothers holy (10%) , but some also claim to have been a saintly fathers
(20%), ogans(10%), church (10%) entities (10%) family (10%). Resulted from this survey 29
species, distributed in 20 botanical families, the main Fabaceae (6), Laminaceae (3),
Boraginaceae (2) and Anacardiaceae (2) and Poaceae (2). Regarding the origin was observed
that 43% and 57% are native exotic. The families with the largest representation were:
Fabaceae (6 species), Laminaceae with 3 species, Boraginaceae, Anacardiaceae and Poaceae
with 2 espécies.Esse job offers subsidy for other ethnobotanical studies, and the yard, while
religious space and possessors of a crowd ancestral knowledge, passed down through the oral
tradition, have great knowledge of herbs with great therapeutic potential.
KEYWORDS: Ethnobotany, Religions of African matrices in Brasil, Herbs, Nursing.
8
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10
2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 12
2.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 12
2.2. Objetivos específicos ..................................................................................................... 12
3. REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................... 13
3.1 Histórico da Fitoterapia .................................................................................................. 13
3.2 Uso de plantas em ritual.................................................................................................. 14
3.3 Uso de plantas como terapêutica alternativa e promoção da saúde ................................ 17
4. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................... 18
4.1 Desenho do estudo .......................................................................................................... 18
4.2 Variáveis socioeconômicas e plantas com fins medicinais............................................. 18
4.3 Descrição e propriedades terapêuticas dos vegetais ....................................................... 18
4.4 Aspectos Éticos ............................................................................................................... 18
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 19
5.1 Considerações sobre os informantes ............................................................................... 19
5.2 Conhecimento etnobotânico............................................................................................ 19
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 27
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 28
APÊNDICE A ......................................................................................................................... 33
APÊNDICE B.......................................................................................................................... 36
9
1. INTRODUÇÃO
As pesquisas etnobotânicas cresceram de forma visível em várias partes do mundo na
última década, principalmente na América Latina, onde se destaca países como o México,
Colômbia e Brasil. No caso do Brasil, a construção e a transformação dos saberes
etnobotânicos se dão em meio a um cenário bastante peculiar no que se refere à diversidade
cultural no tocante ao conhecimento e as práticas de seus habitantes e também a diversidade
biológica, em conseqüência disso, um imenso saber em relação às plantas de interesse e
potencial de mercado e que podem vir a serem possíveis fontes de renda com sustentabilidade
ambiental (OLIVEIRA et al., 2009).
Em virtude do aumento do consumo de fitoterápicos no Brasil, o Governo Federal
criou, em 2006, a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterapia que tem como
objetivo geral “garantir à população brasileira o acesso seguro e racional de plantas
medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o
desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional” (BRASIL, 2006).
As populações tradicionais têm sofrido crescentes pressões econômicas e culturais
impostas pela sociedade urbano-industrial, o que tem levado a consequências negativas para
as suas práticas cotidianas. O conhecimento acumulado durante várias gerações por essas
populações através do contanto com o meio constitui rico acervo de informações acerca do
uso de recursos naturais, especialmente nos trópicos (MONTELES e PINHEIRO, 2007).
Na pesquisa etnobotânica o pesquisador procura conhecer a cultura e o cotidiano da
comunidade a ser pesquisada, os conceitos de saúde/doença, o modo como a comunidade
utiliza os recursos naturais na cura de doenças, e o seu uso para atrair ou afastar animais, etc.
Ele procura repassar o conhecimento apreendido para o meio científico de modo que não
ocorram erros de interpretação (PATZLAFF e PEIXOTO, 2009).
O pesquisador vê a comunidade como espaço de aprendizado, de construção de
conhecimento, e procura mostrar que está nela para aprender e trocar conhecimentos. A
valorização dos saberes passados pelos informantes é de extrema importância como modo de
estimular o auto-reconhecimento como conhecedores em determinado tema e o
reconhecimento por pares é importante para autoestima tanto dos informantes como da
comunidade, fortalecendo a unidade da comunidade (PATZLAFF e PEIXOTO, 2009).
Os africanos trouxeram um vasto acervo cultural para o Brasil, como línguas,
costumes, religiões, práticas culinárias, tecnologias, e várias outras informações que foram
10
incorporadas ou desprezadas pelos colonizadores em razão do preconceito. Entre os
conhecimentos que foram trazidos destacamos o saber sobre o uso de plantas que é uma
prática que foi repassada e ainda hoje é de grande importância dentro dos terreiros de
Umbanda e Candomblé do país (MEIRA e OLIVEIRA, 2011).
Neste sentido a valorização do conhecimento dito ‘popular’, o ‘senso comum’ das
comunidades tradicionais ou dos grupos marginalizados socialmente é, também, uma forma
de contribuir para uma Educação Popular e através disso favorecer a construção de um
conhecimento socializado significativo (SILVA, 2006).
Para tanto, esta investigação, vislumbra conhecer o saber popular dos participantes de
cultos religiosos de matriz africana sobre plantas medicinais na cidade de Campina Grande e,
a partir daí, ao confrontar com a literatura, verificar se condizem com as indicações praticadas
na comunidade em estudo.
11
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Investigar o saber popular dos participantes de cultos religiosos de matriz africana
sobre plantas medicinais na Cidade de Campina Grande.
2.2. Objetivos específicos

Identificar o perfil da população em estudo;

Realizar uma breve descrição botânica das espécies vegetais;

Investigar a forma de utilização das plantas citadas;

Confrontar as informações prestadas pelos sujeitos da pesquisa sobre as propriedades
medicinais com dados constantes na literatura.
12
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Histórico da Fitoterapia
A fitoterapia é um método racional e alopático, baseado em evidências científicas,
empregado no tratamento médico de várias patologias (ALVES, 2013). A fitoterapia (do
grego, fitos, planta; terapia, tratamento) está em franca expansão no mundo inteiro, e os
pesquisadores não cessam de redescobrir vegetais que substituem (com vantagens, em alguns
casos) os produtos químicos convencionais. O uso das plantas para fins curativos é, de longe,
a mais antiga forma de medicina praticada pelo homem (JUNQUEIRA, 2014).
A utilização das plantas de forma terapêutica faz parte de um saber milenar e
tradicional, passado oralmente ao logo das gerações, representando parte importante e
integrante da cultura de um povo (SILVEIRA, 2005).
É possível, portanto, que os nossos ancestrais tenham aprendido através da observação
da natureza o valor terapêutico das plantas. Na verdade, existem evidências históricas e
arqueológicas de que as propriedades curativas das plantas medicinais já eram conhecidas
desde o período Neolítico (ALVES, 2013).
Por volta do ano 3000 a.C., médicos chineses dispunham de sofisticadas farmacopéias
(lista de ervas e suas indicações terapêuticas); algo semelhante ocorria na Assíria e no Egito a
2500 a.C., e, bem mais tarde, na Grécia (JUNQUEIRA, 2014).
Até o presente momento, acredita-se que o primeiro livro que descreve o uso de
plantas medicinais é de 2.700 a.C. vem dos Chineses com a obra intitulada de Pen Ts’ao (A
Grande Fitoterapia), de ShenNung, conforme Eldin; Dunford (2001 apud TOMAZZONE et
al, 2006). Entretanto, o primeiro tratado médico egípcio aceito e respeitado pela comunidade
científica que inclui o uso de plantas foi o papiro decifrado em 1873 pelo egiptólogo alemão
Georg Ebers. Esse papiro é datado de aproximadamente 1500 anos antes da era Cristã e tem
como frase introdutória “Aqui começa o livro relativo à preparação dos remédios para todas
as partes do corpo humano” (CUNHA, 2003).
Os gregos e os romanos absorveram e ampliaram o conhecimento na utilização das
plantas medicinais. O uso medicinal da Artemisia annua contra a malária foi descrito pela
primeira vez nas ‘52 Prescrições’ escritas durante a Dinastia Mawangdui Han que reinou na
China de 206 a.C. a 220d.C (ALVES, 2013).
As propriedades do ópio (Papaver somniferum) como sedativo e calmante, do óleo de
rícino (Ricinus communis), da alcaravia (Carum carvi) e da hortelã pimenta (Mentha piperita)
13
como digestivo e da cila (Drimia urticaria) como estimulante cardíaco, já eram conhecidas no
Egito há mais de 4.000 anos. Os egípcios sabiam como preparar diuréticos, vermífugos,
purgantes e antissépticos de origem natural (ALVES, 2013).
A Índia também teve um importante papel na descrição de plantas medicinais,
principalmente devido à medicina Ayurvédica (ayur = vida, veda = conhecimento), baseada
nos Vedas, o livro sagrado dos hindus. No século I antes de Cristo, os indianos produziram
um tratado médico intitulado Caraka, com mais de 500 plantas (ALVES, 2013).
Uma tumba descoberta por arqueólogos no Irã, em 1963, comprovou a existência de
uma fitoterapia rudimentar há mais de 60 mil anos. O fato nada tem de estranhável, se
considerarmos que o mundo vegetal sempre constituiu importante fonte de alimentos para a
espécie humana; e que o conhecimento das plantas ‘boas’ e ‘más’ (saudáveis e tóxicas)
acumulou-se pelo método do ensaio e erro. Por esse caminho, os habitantes das cavernas
aprenderam também a identificar as espécies curativas (JUNQUEIRA, 2014).
No Brasil, mesmo com o incentivo da indústria farmacêutica para a utilização de
medicamentos industrializados, grande parte da população ainda se utiliza de práticas
complementares para cuidar da saúde, como o uso das plantas medicinais, usadas para aliviar
ou mesmo curar algumas enfermidades (BADKE, 2011).
A diversidade cultural do Brasil permitiu que o uso e o conhecimento sobre essas
plantas medicinais sofressem a influência de diversos povos, especialmente africanos,
indígenas e europeus. Como apontam Lorenzi & Matos (2002), os escravos africanos
trouxeram sua contribuição com o uso de plantas trazidas da África, as quais eram utilizadas
em rituais religiosos, mas também por suas propriedades terapêuticas. Os pajés de tribos
indígenas, grandes conhecedores das plantas medicinais, disseminavam seus conhecimentos
sobre ervas locais e o seu uso aos seus descendentes, que o transmitiam e o aprimoravam. Por
sua vez, os Europeus, que passaram a viver no Brasil, absorveram todos esses conhecimentos
e os mesclaram com os que haviam trazido da Europa.
3.2 Uso de plantas em ritual
Estudos demonstram que uma das principais motivações pelas quais as pessoas
procuram o universo religioso estão relacionadas a questões ligadas ao processo de doença.
Assim vêem a religião como alternativa de cura, cuja adesão estará influenciada por
experiências individuais ou coletivas de eficácia. Entre as escassas informações sobre as
14
primeiras manifestações de religiosidade de matriz africana no Brasil referem-se a serviços de
cura que eram prestados pelos africanos e por seus descendentes. Isso ocorria devido ao
número reduzido de médicos que praticavam a medicina oficial e na falta de recursos às
pessoas recorriam às práticas africanas e indígenas (MOTA e TRAD, 2006).
Os africanos se reuniam ao redor dos chamados “candomblés rurais”, onde ofereciam
consulta aos doentes, inclusive aos senhores de engenho. No Brasil, as religiões afrobrasileiras, estão instaladas em espaços denominados terreiros, que se constitui um lugar
importante para compreender a concepção de vida afro-brasileira baseada na sacralização da
natureza e na sua relação com a humanidade, é também neste espaço o lugar de busca pela
originalidade, sendo sagrado, energizado e composto por uma atmosfera mítica, onde se
constrói um espaço a parte do dia a dia urbano (MOTA e TRAD, 2006).
Não de modo diferente das outras religiões, o candomblé e as religiões de matriz
africanas, possuem seus significados acerca da doença, da morte e de outros infortúnios, como
também um conjunto de práticas e hábitos ligados ao corpo e à saúde são difundidos através
de seus preceitos e rituais(MOTA e TRAD, 2006).
No candomblé que se caracteriza como uma religião que está fortemente ligada ao
transe e a possessão, busca-se através de processos rituais reestabelecer o equilíbrio, ou seja,
restabelecer a unidade que tinha sido desfeita entre o aiê (o mundo físico, a terra) e o orun (o
mundo espiritual, o céu) onde habita os Orixás. O desequilíbrio entre essas duas dimensões,
terra e céu, seria o motivo do processo de doença. Dentre as principais queixas que chegam
aos terreiros de candomblé podemos citar a dor de cabeça, desmaios, taquicardia, doenças de
pele, doenças mentais e muitas delas podem ser fatores para que a pessoa venha a passar por
algum processo iniciático (MOTA e TRAD, 2006).
Outro recurso pelo o qual o Pai ou Mãe de Santo recorre dentro dos espaços religiosos
para o diagnóstico de doenças tanto físicas como espirituais é o jogo de búzios. Dentre as
diversas práticas que podem ser tomadas para aliviar o processo de sofrimento do
cliente/paciente podemos destacar o uso de banhos, folhas, as benzeduras, as beberagens,
limpeza do corpo e do espírito, além de aconselhamentos (MOTA e TRAD, 2006).
As doenças ganham aspectos que diferem do pensamento médico-científico. O mal
que atinge o corpo, na maioria das vezes, está ligado a alguma causa sobrenatural. Nesse
mesmo ambiente os seus adeptos podem entrar em contato com o sobrenatural através da
mediunidade. É nesse contanto que se estabelecem as soluções para os problemas ligados a
15
saúde espiritual, física ou mental. É nesse contexto que se inserem as plantas, ou ervas, para
restabelecimento do equilíbrio do corpo e do espírito (CAMARGO,2014).
As religiões de matriz africana possuem um olhar especial sobre o meio ambiente, pois
acreditam que é deste que emana a força de sua existência, o poder (axé), e é no contato com
as folhas que isso fica claramente percebido. As folhas constituem o elemento vegetal mais
utilizado pelos candomblecistas. É importante frisar que “folha” também seria um termo
genérico para raízes, sementes, cascas e troncos, e até mesmo a planta toda, dentro do
universo dos terreiros. Nesse contexto certas folhas são dotadas de “poderes espirituais” e
outras de valor medicinal (OLIVEIRA et al., 2007).
Antes de colher as folhas, para saber quais serão utilizadas para determinados fins ou
rituais é preciso consultar-se os encantados, que podem estar incorporados nos filhos da casa
ou no pai de santo. O segredo do poder e utilização das folhas são passados através da
oralidade, de geração em geração, de pai para filho, de tio para sobrinho, ou seja, em relação
de parentesco, que não precisa ser necessariamente consangüíneo, mas como também os laços
criados a partir da família de santo. O uso de um determinado tipo de planta pode variar de
terreiro para terreiro, sendo que algumas casas fazem o uso para alguns tipos de problemas e
outras com outras finalidades (OLIVEIRA et al., 2007).
Dentre as plantas utilizadas na ritualística podemos destacar as que têm propriedades
psicoativas, pois elas permitem estados alterados de consciência e isso possibilitaria o
contanto com o sobrenatural, por meio da incorporação. Estas entidades podem estar em
movimentação do corpo, enquanto dançam ao som de atabaques e de cânticos que são
ecoados pelos adeptos ou quando em ritual de cura, que é comum na umbanda (CAMARGO,
2014).
No nordeste, em especial na Paraíba, tem-se a utilização da Jurema (Mimosa hostilis)
como planta sagrada, usada nos rituais e também na confecção da bebida de mesmo nome.
Essa planta sobreviveu nas cerimônias de catimbó do nordeste, onde representa a principal
herança da religiosidade indígena a permanecer na cultura brasileira, em diversos ritos
sincretizados afro-indígenas, onde predomina a dança e os cânticos e se consomem cachimbos
de tabaco e jurema, chamados de candomblé de caboclo. A antropologia das religiões
caracterizou o Candomblé de Caboclo no Brasil, entre os quais o catimbó e a jurema, como
cultos a parte dos Candomblés de Orixás que se tornam mais tradicionais no país desde a
primeira metade do século XX (CARNEIRO, 2004).
16
3.3 Uso de plantas como terapêutica alternativa e promoção da saúde
A enfermagem caracteriza-se por ser uma profissão que busca o cuidar a partir de uma
visão do todo e tem seu exercício baseado em alternativas não apenas de cura, mas de
prevenção de doenças e manutenção da saúde. O uso de plantas medicinais apresenta-se como
uma prática comum observada por enfermeiros da Estratégia de Saúde da Família (ESF)
atuantes em zonas rurais (SILVA et al., 2007).
A resolução COFEN – 197/1997 estabelece e reconhece as Práticas Alternativas como
especialidade e/ou qualificação profissional de enfermagem. Entretanto, que para receber a
titulação o profissional deve ter concluído e sido aprovado em curso reconhecido por
instituição superior ou entidade congênere, possuindo uma carga horária mínima de 360 horas
(COFEN,1997).
Entendemos que em nosso país a grande diversidade de plantas favorece o uso de
fitoterápicos, entretanto a não divulgação, como também a falta de pesquisas na área,
desestimula aqueles que acreditam e desejam utilizar esse recurso como método de prevenção
e de cura (SILVA et al., 2007).
Como profissionais de saúde devemos orientar a população a utilizar os fitoterápicos
de forma correta, pois eles apresentam princípios ativos com a capacidade de oferecer
resultados satisfatórios desde que empregados corretamente. Compreende-se que o enfermeiro
exerce papel fundamental na área da fitoterapia, pois ele está diretamente ligado à população
tendo oportunidade de educá-la e orientá-la quanto o uso das plantas que podem vim a ser
maléficas ou benéficas, e a forma que essas plantas podem ser utilizadas. O trabalho de
educação em saúde pode ser desenvolvido no hospital, junto à comunidade, ou na Estratégia
de Saúde da Família (SILVA et al., 2007).
17
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Desenho do estudo
Trata-se de um estudo etnobotânico no qual foi utilizado o método descritivo-analítico,
que permitirá o conhecimento e a seleção das plantas citadas. A pesquisa de campo foi
realizada com os participantes de cultos religiosos de matriz africana (Pais, Mães e filhos de
santo) que aceitaram participar do estudo, em terreiros da Cidade de Campina Grande, PB.
4.2 Variáveis socioeconômicas e plantas com fins medicinais
Para a determinação das variáveis socioeconômicas, bem como das indicações
terapêuticas das plantas, foi utilizado um formulário elaborado especificamente para este
estudo (APÊNDICE A).
4.3 Descrição e propriedades terapêuticas dos vegetais
As plantas foram descritas botanicamente, e as propriedades medicinais citadas,
confrontadas com dados disponíveis em fontes literárias confiáveis.
4.4 Aspectos Éticos
Este projeto foi registrado no Sistema Nacional de Pesquisa (SISNEP), como
CAAE0475.0.133.000-10 e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade
Estadual da Paraíba, de acordo com os requisitos básicos da Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde, Ministério da Saúde do Brasil (1996). Para a participação na pesquisa os
sujeitos da pesquisa foram informados sobre os objetivos do estudo, e os que aceitaram
participar assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE (APÊNDICE B)
em duas vias, sendo uma retida pelo sujeito da pesquisa e/ou seu representante legal e uma
arquivada pelo pesquisador.
18
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Considerações sobre os informantes
Entre os entrevistados 40% são idosos. A maior parte dos informantes (60%) do
gênero feminino, este tipo de conhecimento foi repassado em sua maioria (40%) pelas mães
de santo, mas alguns afirmam também ter sido por pais de santo (20%), Ogans (10%), igreja
(10%), entidades (10%), familiares (10%). Durante a entrevista foi verificada a ocorrência de
pessoas que freqüentaram outras denominações religiosas como as neopentecostais e
adquiriram nessas religiões saberes sobre plantas. Em relação ao nível de escolaridade em sua
maioria possui nível médio e superior, sendo que 40% apresentam ensino médio e outros 40%
ensino superior.
Figura 1. Dados sociodemográficos e etnobotânicos fornecidos pelos informantes
de terreiro do município de Campina Grande-PB.
5.2 Conhecimento etnobotânico
Resultaram deste levantamento 29 espécies, distribuídas em 20 famílias botânicas
(Tabela 2),sendo as principais Fabaceae (6), Laminaceae (3), Boraginaceae (2),
Anacardiaceae (2) e Poaceae (2)(Figura 2). Em relação à origem observou-se que 43% são
nativas e 57% exóticas. Azevedo e Kruel (2007) apontam resultados semelhantes em estudo
19
realizado em feiras livres no município do Rio de Janeiro onde do total de espécies
identificadas apenas 33% são nativas e 67% são exóticas, tal resultado verificou-se devido à
forte influência da cultura européia em especial para uso de plantas para fins medicinais e da
africana em relação a uso ritualístico.
Os resultados indicaram a folha (72%) como sendo a parte vegetal mais empregada no
preparo dos remédios caseiros, banhos e limpezas espirituais e em seguida a casca (28%).
Franco e Barros (2006) demonstram resultados semelhantes em um estudo ocorrido em
Esperantina (PI), onde dentre as 85 espécies citadas, cerca de 43,5% a folha é citada como
parte indicada seguida das cascas 19,5% e sementes 8%. Moreira et al. (2002) obteve
resultados semelhantes estudando o uso das plantas medicinais na Vila Cachoeira, Ilhéus
(BA). O uso acentuado da folha se dá devido à conservação do recurso vegetal, pois sua
retirada não impede o desenvolvimento e a reprodução da planta, caso a parte aérea da planta
não for excessiva (BELIZÁRIO e SILVA, 2012).
Quanto as formas de preparo, o chá (56%) é de uso mais freqüente. Logo a seguir
vem os banhos (11%) para limpeza e descarrego e bebidas (11%) em rituais. Ainda foram
citadas as pomadas, porém de uso menos freqüente (4%). Oliveira (2012) obteve resultados
semelhante estudando o uso de plantas medicinais em comunidades rurais da cidade de
Alagoa Nova (PB) onde constatou que a forma de preparo de preparo mais utilizada é o chá
(infusão) com 65,1 %. Segundo Fucket al. (2005), o uso de infusões, popularmente
conhecidas como chás, é a mais recomendada.
Distribuição por família das plantas
medicinais utilizadas em terreiros de
Campina Grande-PB
Fabaceae
21%
Laminaceae
Boraginaceae
48%
10%
7%
7%
7%
Anacardiaceae
Poaceae
Outras
Figura 2. Distribuição por família das plantas utilizadas nos terreiros em Campina Grande-PB
20
Com base nas 29 espécies catalogadas, Tabela 2, para a realização da correlação entre
conhecimento popular sobre o uso das espécies medicinais com o conhecimento científico,
foram selecionadas as 6 espécies mais citadas pelos entrevistados, em relação a uso medicinal,
dentre as famílias que tiveram um maior número de espécies nesse estudo, levando- se em
consideração: nome científico e popular, indicação do uso popular e correlação entre outros
conhecimentos.
Alecrim: Rosmarinus officinalisL.
Indicação do uso popular: Hipertensão.
Correlação entre conhecimento científico e uso popular: Barbosa (2009), Oliveira e
Araujo (2007), Silva et al. (2009), Oliveira (2012), obtiveram resultados semelhantes em seus
estudos onde as indicações terapêuticas foram hipertensão, infarto, trombose, derrame,
rouquidão, dor de garganta, infecções, gripe, chá calmante. Ainda destaca-se a ação
antifúngica do óleo essencial da Rosmarinusofficinalis L. tendo sua atividade reconhecida por
apresentar compostos fenólicos, aldeídos e alcoóis: citral, geraniol, linalol e timol têm alto
poder anti-séptico (FENNER et al., 2006).
Observou-se que o uso popular do alecrim confirma-se pela presença de compostos ativos
que possuem atividades terapêuticas semelhantes às indicações dos entrevistados.
Aroeira: Myracrodruon urundeuva Fr. Allem
Indicação do uso popular: Micose/Expectorante/Vermífugo
Correlação entre conhecimento científico e uso popular: Segundo Pereira et al. (2014) o
óleo essencial da aroeira é o principal responsável pela ação antimicrobiana contra vários
tipos de bactérias e fungos, sendo eficaz no tratamentos de micoses, candidíases, como
também em alguns tipos de câncer, em virtude de sua capacidade de regeneração de tecidos.
Estudos etnofarmacológicos referem o uso da aroeira no tratamento de inflamações, doenças
do aparelho urinário, micoses, afecções respiratórias, doenças do trato gastrointestinal,
diarréia, ferimentos, câncer, tratamento de hemorragias, cicatrizante (SOUZA, 2006;
PACHECO, 2006; OLIVERA, 2010; FURTADO, 2012; PEREIRA, 2014).
O conhecimento popular se correlaciona com o conhecimento cientifico.
Cajueiro: Anacardium occidentale
Indicação do uso popular: Anti-inflamatório/cicatrizante
21
Correlação entre conhecimento científico e uso popular: Estudos apontam que o efeito
antiinflamatório do estrato da casca do cajueiro foram atribuídos a presença de taninos que
demonstra eficácia tanto no tratamento da inflamação aguda, quanto na crônica, possuindo
também potencial gastroprotetor e ação antimicrobiana( MELO et al. 2006; MENDONÇA,
2011; SOUZA, 2013) . As principais indicações terapêuticas descritas na literatura são
cicatrizante, anti-inflamatório, bactericida, hipoglicemiante, expectorante, anticancerígeno,
analgésico e anti-hemorrágico (JÚNIOR e CONCEIÇÃO, 2010; CONCEIÇÃO, 2011;
SANTOS, 2014; CAETANO et al.,2014) .
Todas as atividades foram confirmadas pelo conhecimento científico.
Capim Santo: Cymbopogon citratus
Indicação do uso popular: Calmante/ Dor abdominal
Correlação entre conhecimento científico e uso popular: Estudos demonstram que os
extratos do Capim Santo apresentam efeito hipotensor, diurético, antiinflamatório e
antibacteriano (VENDRUSCOLO et al., 2005). O citral é o principal responsável pela
atividade antibacteriana e comprovou-se através do óleo volátil sua atividade antifúngica
frente a diferentes espécies de dermatófitos (SCHUCK et al. 2001). O óleo volátil ainda
apresenta propriedades antifebril, antireumático, diaforético, analgésico, sendo basicamente
composto por alfacitral e beta-citral, além do mirceno que já foi comprovada a sua ação
analgésica periférica (MEDEIROS et al. 2004;SING et al., 2005; COSTA et al., 2010)
Constata-se que o uso popular foi comprovado a partir da literatura cientifica.
Confrei: Symphytum officinaleL.
Indicação do uso popular: tratamento de câncer
Correlação entre conhecimento cientifico e uso popular: O uso interno do confrei foi
proibido por ser carcinogênico e hepatotóxico, além de apresentar atividade teratogênica,
mutagênica e induzir o aborto devido a alcalóidespirrolizidínicos (RITTER et al.,
2002;TOMAZZONI
et
al.,
2006;
GRUBE
et
al.,
2007;SILVEIRA
et
al.,
2008;SANTOS,2014).
Constata-se que o uso popular ainda não foi comprovado a partir da literatura
científica e que a forma que foi indicada para consumo (chá) apresenta contra-indicação por
seus efeitos tóxicos.
22
Hortelã: Mentha sp.
Indicação do uso popular:Calmante/Amebíase
Correlação entre conhecimento científico e uso popular: O uso tópico da Mentha sp. foi
indicado em trabalhos farmacológicos para o alívio de sintomas de cefaléia e prurido, além de
possuir ação anti-espamótica, antiinflamatória, anti-ulcerativa e anti-viral. Ainda evidenciouse o uso como expectorante sendo que essas indicações se justificam pela presença de
cumarinas. A Menthasp.mostra eficácia no tratamento de amebíase, giardíase e tricomoníase
(BARATA, 2006; RODRIGUES,2009; VASCONSELLOS et al.,2010; SILVA, et al.,2012) .
Constata-se que o uso popular foi comprovado a partir da literatura científica.
As categorias de sistemas corporais com maior número de espécies citadas foi o
sistema nervoso com 9 indicações, as doenças sexualmente transmissíveis e problemas do
sistema respiratório, ambos com 3 indicações (Tabela 1). Podemos citar ainda as plantas
alucinógenas que foram citadas, dentre elas destacamos Juncus L. e Mimosa hostilisBenth
utilizadas na confecção de bebidas para serem consumidas durante os rituais. Destacamos
também as plantas que foram citadas para limpeza e cura espiritual e que são utilizadas
durante o tratamento feito pelo cliente/paciente nos terreiros em forma de banho como a
Petiveria tetranda,Beta patellaris Moq, Vismia guianensis (Aulbl.) Pers., Bryophytum
pinnatum e Senna alata (L.) Roxb.
Tabela 1. Categorias de sistemas corporais tratados pelas plantas medicinais
utilizadas nos terreiros de Campina Grande –PB, com respectivos números de
espécies.
Categoria
Doenças da pele e do tecido subcutâneo
Doenças infecciosas e parasitárias
Doenças Sexualmente Transmissíveis
Inflamaçõesem geral
Neoplasias
Problemas do sistema cardiovascular
Problemas do sistema digestório
Problemas do sistema nervoso
Problemas do sistema respiratório
Número de
espécies
2
1
3
2
1
2
3
9
3
23
Tabela 2. Lista das plantas utilizadas nos terreiros em Campina Grande –PB.
Família/Espécie
Nome
Origem
Parte utilizada
Indicação
Formas de uso e posologia
Cajueiro
Nativa
Folha
Anti-inflamatório/cicatrizante
Chá, tomar durante a manhã e a noite.
Aroeira
Nativa
Folha
Micose/Expectorante/Vermífugo
Chá, tomar durante a manhã e a noite.
Endro
Exótica
Folha
Gases
Chá, toma-se até obter os resultados.
Alface
Exótica
Folha
Calmante
Chá, toma-se até obter os resultados
Mastruz
Exótica
Folha
Torcicolo
Chá, toma-se até obter os resultados
Vernacular
Anacardiacea
Anacardium occidentale
Myracrodruon urundeuva Fr.
Allem.
Apiaceae
Anethum graveolens
Asteraceae
Lactuca sativa
Brassicaceae
Lepidium virginicum L.
Problemas Respiratórios
Boraginaceae
Heliotropium i ndicum
Symphytum officinaleL.
Chenopodiaceae
Beta patellaris Moq.
Clusiaceae
Vismia guianensis (Aulbl.) Pers
Fedegoso
Nativa
Folha
Vermífugo
Chá, tomar durante a manhã e a noite.
Confrei
Exótica
Folha
Câncer
Chá, tomar duas ou três vezes ao dia.
Beti
Exótica
Folha
Limpeza espiritual
Banhos, 1 por dia, durante 3 dias.
Nativa
Folha
Limpeza espiritual
Banhos, 1 por dia, durante 3 dias.
.
Lacre
24
Família/Espécie
Nome
Origem
Parte utilizada
Indicação
Formas de uso e posologia
Pau Pereiro
Nativa
Folha
DST/Cancro
Pomada, sabão ou banho (manhã e noite).
Vernacular
Fabaceae
Platycyamus regnellii
Caesalpinia leiostachya (Benth.)
Senna alata (L.) Roxb.
Erythrina velutina
Mimosa hostilis Benth.
Jucá
Nativa
Casca
Cicatrização
Mangerioba
Nativa
Folha
Cura espiritual
Mulungu
Nativa
Casca
Insônia
Jurema
Nativa
Casca
Alucinógena/ Cicatrizante
Angico
Nativa
Casca
-
Junco
Exótica
Casca
Alucinógena
Macassá
Exótica
Folha
Lavar manhã e noite com a água da casca
Passar as folhas no corpo do consulente
Tomar a água da casca até obter resultados
Bebida
Bebida
Anadenanthera falcata
Juncaceae
Juncus L.
Laminaceae
Aeollantrus suaveolens Mart.
.
Mentha sp.
Rosmarinus officinalis L.
Passifloraceae
Passifora sp.
Chá, toma-se até obter resultados.
Calmante
Hortelã
Exótica
Folha
Calmante/Amebíase
Chá, toma-se até obter resultados.
Alecrim
Exótica
Folha
Hipertensão
Chá, não especificou
Exótica
Folha/casca
Calmante
Chá, toma-se até obter resultado
Romã
Exótica
Folha/casca
Antiinflamatório
Chá, toma-se até obter resultado
Maracujá
Nativa
Folha
Calmante
Chá, toma-se até obter resultado
Laureaceae
Annamomum zeylanicum
Lythaceae
Punica granatum
Bebida
Caneleira
25
Família/Espécie
Nome
Origem
Parte utilizada
Indicação
Formas de uso e posologia
Guiné
Exótica
Folha
Cura espiritual
Banho, não enxugar-se
Vernacular
Phytolaccaceae
Petiveria tetranda
Poaceae
Cymbopogon citratus
Elionurus muticus
Capim-Santo
Exótica
Folha
Calmante/Dor abdominal
Chá, toma-se até obter resultado
Erva-Cidreira
Nativa
Folha
Calmante
Chá, toma-se até obter resultado
Juazeiro(Juá)
Nativa
Casca
Limpeza bucal
Escovar os dentes com a água da raspa
Laranjeira
Exótica
Folha
Calmante
Chá, toma-se até obter resultado
Jaramataia
Exótica
Folha
Problemas Gastrointestinais
Chá, 3 ou 4 vezes ao dia
Colônia
Exótica
Folha
Rhammaceae
Ziziphus joazeiro Mart.
Rutaceae
Citrus aurantium L.
Verbenaceae
Avicenia africana
Zingiberáceas
Alpina zerumbet
Hipotensão Arterial
Chá,tomar sempre que necessário
26
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foram catalogadas 29 espécies medicinais e místicas que são utilizadas em rituais de
curas nos terreiros da cidade de Campina Grande-PB. As mesmas estão distribuídas em 20
famílias. As famílias com maior representatividade foram: Fabaceae (6 espécies), Laminaceae
com 3 espécies, Boraginaceae, Anacardiaceae e Poaceae com 2 espécies. Podemos considerar
que as plantas são de grande importância para o uso místico dentro dos rituais afro-brasileiros,
tanto pelo seu valor enquanto representação, quanto aos efeitos que causam naquelas que a
utilizam. Existem plantas que são utilizadas para dor física e para espiritual, e também como
oferenda para os orixás dos adeptos. A parte da planta mais citada foi a folhas, principalmente
utilizada para chás e as cascas utilizadas para fins ritualísticos. Quanto às formas de uso a
mais citadas foi o chá (56%), seguido de bebidas e banhos, ambos com 11%.
Esse trabalho oferece subsídio para outras pesquisas etnobotânicas, sendo que o
terreiro, enquanto espaço religioso e seus adeptos possuidores de um saber ancestral, passado
através da oralidade, possuem grande conhecimento acerca de ervas que podem contribuir
potencialmente para futuras descobertas no campo da fitoterapia.
27
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32
APÊNDICE A
FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS
33
APÊNDICE - A
FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS
Entrevistador: ____________________________
Data: ___/___/____
I. Dados de identificação
1.Qual o seu nome completo?
2. Qual a sua idade?
| __ || __ |
3. Sexo (observar e anotar):
| __ |
(1) masculino
(2) feminino
4. Até que série o sr (a) estudou? ______________________
II. Dados socioeconômicos
5. Quantas pessoas moram na sua casa? (incluir o entrevistado e empregado fixo se houver)
| __ | __ |
6. Quantas pessoas da sua casa estão trabalhando?
| __ | __ |
7. Qual a renda mensal de todos os moradores?
Pessoas
123456 - Outra fonte de renda (bolsa família, pensão, aluguel)
Especificar: _________________________________
Renda mensal ( R$)
( 1 ) Não
( 2 ) Sim
| __ |
| __ | __ | __ | __ | __ |
TOTAL
III. Conhecimento sobre plantas medicinais
8. O sr (a) conhece alguma planta(s) usada(s) EM RITUAIS DE CURA?
(1) Não
(2) Sim
9. Em caso afirmativo, quais?
Plantas
Para quê?
Partes
Formas de Administração
Posologia
10. Destas, qual (is) o sr (a) reconhece como mais importante?
34
____________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
11. Há quanto tempo o sr (a) trabalha/ utiliza com plantas medicinais?
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12. Com quem o sr (a) aprendeu os conhecimentos sobre o uso medicinal de plantas?
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Data: ___/___/___
Visto: ____________________________________
Observação:
35
APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
36
Apêndice B
Universidade Estadual da Paraíba
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Departamento de Farmácia
Av. das Baraúnas, 351 – Campus Universitário - Bodocongó
Campina Grande, Paraíba – CEP: 58109-753
Eu, __________________________________________, declaro, para os devidos fins, que
livremente aceito participar da pesquisa intitulada “ESTUDO ETNOBOTÂNICO DE
PLANTAS UTILIZADAS POR PARTICIPANTES DE CULTOS RELIGIOSOS DE
MATRIZ AFRICANA EM CAMPINA GRANDE, PB”, coordenada pelo Prof. Thúlio
Antunes de Arruda, docente da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Na referida
pesquisa será feito um levantamento de dados a respeito do conhecimento popular sobre as
propriedades medicinais das plantas medicinais utilizadas.
Fui informado(a) e esclarecido(a) de que os seguintes procedimentos serão realizados.
Vou responder a um formulário de identificação socioeconômico e sobre meu
conhecimento a respeito das plantas com fins medicinais;
Ficou garantida a ausência de riscos a minha integridade física, mental e moral. Será
garantido o sigilo das informações prestadas.
A importância da pesquisa para a comunidade científica e para a população foi
ressaltada. Qualquer dúvida que eu tiver será esclarecida pelo responsável por esta pesquisa,
sendo assegurado que, em qualquer momento do estudo, posso anular este termo de
consentimento, sem qualquer constrangimento ou prejuízo.
Campina Grande, ____ de __________________ de _______.
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Informante
Assinatura ou Impressão dactiloscópica
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Pesquisador
37
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