VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 SERIA CABO FRIO UM ENCLAVE SEMIÁRIDO NO LITORAL ÚMIDO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO? Heloisa Helena Gomes Coe, UERJ, [email protected]; Cacilda Nascimento de Carvalho, UFF, [email protected] RESUMO: Localizada na costa nordeste do Estado do Rio de Janeiro, Brasil, a região de Cabo Frio, devido a peculiaridades climáticas, geológicas e ecológicas, é considerada um “enclave” fitogeográfico, com um clima mais seco que o restante do litoral fluminense. A região apresenta fracas precipitações (854 mm/ano), taxa de evaporação anual entre 1.200 e 1.400 mm, temperatura média de 23ºC, insolação entre 200 e 220h/mês, verão com predominância de ventos de NE e inverno marcado por períodos descontínuos de ventos de S-SW. As peculiaridades climáticas da região de Cabo Frio têm sido explicadas por fatores como a grande distância da linha de costa até a Serra do Mar e a presença de uma ressurgência costeira intermitente, intensificada pelos fortes ventos de NE. Para fins de caracterização climática da região, foram feitas análises multivariadas de similaridade entre pluviosidade, insolação, temperatura, evaporação e umidade relativa, comparando a região de Cabo Frio, com seu entorno mais úmido e com a caatinga do Nordeste brasileiro. Pelos resultados, pode-se afirmar que Cabo Frio se assemelha mais à caatinga que a seu entorno úmido, comprovando-se o “enclave” climático. A região foi também objeto de estudos paleoambientais, a fim de inferir sua evolução durante o Quaternário, usando como indicadores silicofitólitos extraídos de perfis de solo. As variações observadas, desde 13ka cal BP, não indicam grandes mudanças no tipo de cobertura vegetal, sempre pouco arbórea, característica de clima semiárido. Identifica-se um período relativamente mais úmido em cerca de 4,5ka cal BP, que corresponde a registros de ressurgência mais fraca e um período de menor densidade arbórea entre 6 e 5ka cal BP, quando foram registrados episódios de ressurgência e El Niño mais intensos. ÁREA DE ESTUDOS Para fins de caracterização ambiental, optou-se pela delimitação climática e fisionômica em uma unidade geográfico-ambiental que inclui no conceito de Região de Cabo Frio os municípios de Arraial do Cabo, Búzios, Cabo Frio, Iguaba, São Pedro da Aldeia e Araruama. Abrange uma área de aproximadamente 1.500 km2 e está 1 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais localizada entre as coordenadas 22°30’ – 23°00’ S e 41°52’ – 42°42’ W, com altitudes que variam desde o nível do mar até cerca de 300m. (figura 1) A área apresenta peculiaridades climáticas, geológicas e ecológicas que se buscou sistematizar no esquema da Figura 2. Elas condicionam diversas formações vegetais, com muitas espécies endêmicas e raras. De todos os fatores físicos, o clima parece ser o elemento que exerce maior influência sobre os ecossistemas da região. A marcante ação climática se faz visível na fisionomia seca que caracteriza as matas de Cabo Frio. Esta região apresenta um clima mais seco que o restante do litoral fluminense, relacionado, entre outros fatores, à presença de uma ressurgência costeira local. É considerada como um “enclave fitogeográfico”, reduto de vegetação com fisionomia semelhante à da caatinga (Ab’Saber, 2003), dominada por florestas xeromórficas, com abundância de Cactaceae e Bromeliaceae e cercada por florestas úmidas da Mata Atlântica. Figura 1: Localização da área de estudo A região apresenta um complexo quadro geológico e geomorfológico, cuja litologia é composta principalmente por paragnaisses originados de depósitos marinhos pelíticos (Schmitt et al., 2004), muito antigos e intemperizados, areias e materiais argilosos que formam espessos mantos de alteração, onde concreções ferruginosas e linhas de pedra podem ser encontradas. Esta parte do litoral fluminense, também conhecida como Região dos Lagos, é caracterizada por grandes lagoas de água salgada ou salobra que foram isoladas do oceano por longos pontais distanciados do litoral, em 2 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 grande parte, modeladas pelas variações do nível relativo do mar durante o Quaternário. Os solos na região são pouco desenvolvidos, normalmente rasos, com características morfológicas, químicas e mineralógicas que sugerem um regime pedogenético particular (Camargo, 1979; Moniz et al., 1990). Apresentam considerável variabilidade vertical e horizontal, sendo fortemente influenciados por fatores climáticos e topográficos. Os solos sob caatinga hipoxerófila constituem tanto o substrato fundamental ao ambiente sui generis, quanto a possibilidade de representarem pedoambientes outrora mais amplos e hoje isolados, mantidos graça às peculiaridades morfoclimáticas regionais. (Ibraimo et al., 2004) PECULIARIDADES DE CABO FRIO História paleoevolutiva Fatores geomorfológicos Microclima atual Regime dos ventos (predominância de NE) Flutuações climáticas do Quaternário Alternância de períodos quente/ úmidos frio/ secos Afastamento da costa em relação à Serra do Mar Situação de cabo Mudança na inflexão da costa (de N/S para E/W) Deslocamento sazonal do eixo da CB Variações do nível do mar Zona de divergência entre a costa e a CB Afastamento das águas superficiais próximas à costa ANOMALIA CLIMÁTICA Afloramento de águas oceânicas frias Diminuição das precipitações Aumento da evaporação Ressurgência costeira intermitente Figura 2: Peculiaridades geológicas, geomorfológicas, oceanográficas e climáticas da região de Cabo Frio A principal característica oceanográfica da região de Cabo Frio é a ocorrência de uma ressurgência costeira onde as águas frias e ricas em nutrientes, da Água Central do Atlântico Sul (ACAS), afloram na plataforma continental, devido à mudança brusca de orientação da costa, que passa de uma direção mais ou menos norte-sul a uma leste-oeste; ao deslocamento sazonal do eixo da Corrente do Brasil (CB), que é 3 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais desviado ao largo no verão; e, sobretudo, ao regime de ventos da região (Barbosa, 2003). De setembro a abril, a CB está afastada da costa e a ACAS ultrapassa o talude continental e invade o fundo da plataforma, onde permanece. Durante os meses de primavera e verão, a atuação direta dos ventos locais do setor leste, de alta freqüência e intensidade, promove a subida da ACAS à superfície (Valentin, 1994). O ciclo de ressurgência é interrompido mais frequentemente durante o inverno, quando os ventos SW prevalecem, na passagem de frentes frias, proporcionando o empilhamento das águas superficiais na costa, fazendo com que a ACAS retorne às profundezas. A intensificação da ressurgência na região de Cabo Frio induz a uma redução na precipitação e, conseqüentemente, a um aumento na aridez climática, evaporação e salinidade das lagoas. A condição climática mais seca da região de Cabo Frio determina um panorama peculiar em termos de cobertura vegetal do Rio de Janeiro, ou seja, suas formações vegetais fogem do aspecto exuberante que as Florestas de Encosta do Estado costumam apresentar. As matas da região enquadram-se perfeitamente na definição de floresta seca, proposta por Mooney et al.,1995 (apud Farág, 1999). Já foram também classificadas como “uma disjunção fisionômico-ecológica da estepe nordestina” (Ururahy et al., 1987). Esta vegetação foi considerada por alguns autores como um “enclave” fitogeográfico, com fisionomias de “caatingas”, rodeada por grandes contínuos de mata Atlântica. Acredita-se que, com as mudanças ambientais ocorridas na última glaciação, as caatingas se estenderam por grande parte do Brasil Tropical Atlântico, permanecendo, em alguns locais, desde então, como mini ou mesoredutos onde dominam cactáceas e bromeliáceas. Esta região foi considerada como um testemunho paleoclimático do clima seco e frio do último Período do Quaternário, tendo sido postulado que a área de caatinga antes ocupava um espaço muito maior (Ab’Saber, 1977). MÉTODOS Para comparar o clima de Cabo Frio com o de seu entorno, só estiveram disponíveis dados de precipitação em 15 estações meteorológicas localizadas a menos de 150 km de Cabo Frio (tabela 1), abrangendo períodos de observação maiores que 14 anos. Entretanto, para a região da caatinga foi possível usar dados de evaporação (Eva); insolação (Ins); precipitação (Ppt); temperatura média (Temp) e umidade relativa (Umi) de 34 estações meteorológicas, coletados em um mesmo período de 60 anos. Assim, após uma análise exploratória dos dados, e comparação entre médias de precipitação, 4 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 fez-se análise multivariada de grupamento, com matriz de distância euclidiana entre os locais, amalgamação dos grupos pelo método da variância mínima, utilizando as variáveis padronizadas. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS QUADRO CLIMÁTICO Na porção leste do litoral do Estado do Rio de Janeiro, as estações meteorológicas de Cabo Frio, Iguaba Grande e Saquarema registram precipitações anuais inferiores a 1.000mm, enquanto outras, não muito distantes, podem receber até mais de 2.500 mm anuais de chuva (Barbiére & Coe, 1998). No Estado do Rio de Janeiro, Nimer (1989) distingue a Serra do Mar, com uma vegetação superúmida, que separa a baixada litorânea quente e úmida do planalto interiorano, onde são bem mais definidas as épocas de secas e de chuvas. Na parte norte do estado, o clima é influenciado pela ascensão de ar quente dos vales e da baixada, na margem esquerda do rio Paraíba do Sul. Davis & Naghettini (2001) reforçam os comentários de Nimer (1989), destacando que os níveis mais elevados da Serra da Mantiqueira recebem em média entre 2.000 a 2.500mm de chuva durante o ano e na Serra do Mar os valores variam entre 2.000 a 4.500mm. As encostas meridionais, na maioria das vezes a barlavento, são bem mais chuvosas que as encostas a sotavento. No verão, a forte incidência da radiação solar aumenta a evaporação das águas oceânicas que, devido à posição geográfica e ao relevo bastante acidentado, aumenta a turbulência do ar pela ascendência orográfica, provocando a formação de pancadas de chuvas, normalmente, no final da tarde. A região de Cabo Frio possui um clima sui generis para o litoral sudeste brasileiro (tabela 1), com pluviosidade reduzida em relação às regiões contíguas, destacando-se do conjunto tropical úmido por apresentar um microclima classificado como semiárido quente, uma variação do Bsh de Köppen (Barbiére, 1975). Caracteriza-se por fracas precipitações (em média em torno de 770 a 854 mm/ano) e por uma taxa de evaporação compreendida entre 1.200 e 1.400mm/ano (Barbiére, 1984), notadamente em período estival. A temperatura média é ligeiramente superior a 21ºC de junho a setembro e fica entre 23 e 25ºC de novembro a abril, não apresentando, portanto, grande amplitude térmica anual. A insolação varia entre 200 e 240 horas/mês (Barbiére, 1984), com exceção do período entre setembro e novembro, quando varia de 150 a 190 horas/mês. A região é caracterizada pela existência de duas estações 5 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais bem marcadas: uma estação estival úmida e uma invernal seca (Nimer, 1989). O verão é caracterizado pela predominância de ventos de direção NE, enquanto que o inverno é marcado por períodos descontínuos de ventos do S-SW, ligados à subida de “frentes frias”. Estação Climatológica de CABO FRIO (Álcalis)/RJ – 1961/90 Lat : 22°59' S Long : 42°02' W Alt : 7,00 m MÊS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ EVAPORAÇÃO INSOLAÇÃO PRECIPITAÇÃO (mm) (hs) (mm) 80,9 78,5 77,4 78,1 71,2 67,5 78,3 79,8 83,3 78,7 79,8 78,6 239,8 235,2 227,8 197,7 214,3 201,1 218,5 203,7 156,2 179,1 189,6 201,6 78,1 44,1 52,8 78,3 69,1 43,9 44,7 36,1 61,0 80,7 81,0 101,1 TEMPERATURA MÉDIA COMPENSADA (ºC) 25,1 25,4 25,4 24,3 22,8 21,6 21,3 21,2 21,3 22,2 23,3 24,5 UMIDADE RELATIVA (%) 82,0 82,0 82,0 80,0 81,0 81,0 80,0 81,0 81,0 82,0 82,0 82,0 Tabela 1: Cabo Frio - Normais mensais de 1961 a 1990 Precipitação: Comparando-se uma série de dados de algumas estações meteorológicas do Estado do Rio de Janeiro com outras da região da caatinga (Nordeste do Brasil e norte de Minas Gerais), observou-se que em Cabo Frio chove em média 770 mm/ano, enquanto no resto do estado as precipitações são superiores a 1100 mm/ano, podendo atingir quase 2000 mm/ano nas áreas mais chuvosas (Angra dos Reis). Entretanto, várias estações da caatinga apresentam totais anuais semelhantes aos de Cabo Frio, em torno de 800 mm/ano, como se pode observar na figura 3. Insolação: Os dados do total anual de horas de insolação de Cabo Frio também são superiores aos das outras estações fluminenses (cerca de 2500 horas contra 1700 a 2200 horas), ficando, entretanto, na média das estações da caatinga. (figura 4). Considerando que há grande diferença latitudinal entre as duas regiões estudadas, a semelhança de insolação, entre Cabo Frio, RJ e a Caatinga nordestina, pode estar associada à umidade relativa do ar e à frequência de nuvens. 6 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Fazendo-se a análise através de Box plot (figura 5), verifica-se que Cabo Frio e Iguaba, distantes entre si apenas 14 km, têm precipitação considerada como outliers quando comparados com seu entorno. Já com a caatinga, a região de Cabo Frio se enquadra perfeitamente nos valores medianos, considerando precipitação, evaporação, insolação e umidade relativa. A análise de grupamentos indicou que as menores distâncias euclidianas entre Cabo Frio e os municípios da Caatinga foram com Palmeira dos Índios (AL) - 1,25; Araçuaí (MG) - 2,17 e Jacobina (BA) - 2,88 (figuras 6 e 7). 7 Totais anuais (h) 2900 2700 2500 2300 2100 1900 1700 1300 Fortaleza (CE) Campos Sales (CE) Crateús (CE) Barbalha (CE) Bom Jesus da Lapa (BA) Palmeira dos Índios(AL) Estações Figura 4: Insolação (total de horas/ano) nas estações meteorológicas de Cabo Frio e da caatinga. 8 Cabo Frio Pedra Azul (MG) Araçuí (MG) Senhor do Bonfim Vitória da (BA) Conquista(BA) Remanso (BA) Morro do Chapéu (BA) Paulo Afonso (BA) Lençóis (BA) Jacobina (BA) Itaberaba (BA) Cariranha (BA) Caetité (BA) Barra (BA) Petrolina (PE) Garanhuns (PE) Cabrobó (PE) Arco Verde (PE) Campina Grande (PB) Monteiro (PB) 0 Mossoró (RN) Macau (RN) Florania (RN) Ceará Mirim (RN) Apodi (RN) Tauá (CE) Niterói (Ilha do Modesto) Manoel Ribeiro (Maricá) Bom Jesus do Piauí (PI) Pedra Azul (MG) Vitória da Conquista (BA) Remanso (BA) Paulo Afonso (BA) Morro do Chapéu (BA) Lençóis (BA) Jacobina (BA) Itaberaba (BA) Cariranha (BA) Caetité (BA) Araçuí (MG) Senhor do Bonfim (BA) Palmeira dos Índios (AL) Bom Jesus da Lapa (BA) Barra (BA) Petrolina (PE) Garanhuns (PE) Cabrobó (PE) Arco Verde (PE) Monteiro (PB) Campina Grande (PB) Mossoró (RN) Macau (RN) Florania (RN) Ceará Mirim (RN) Apodi (RN) Tauá (CE) Sobral (CE) Quixeramobim (CE) Fortaleza (CE) Crateús (CE) Campos Sales (CE) Barbalha (CE) Teresina (PI) Picos (PI) Paulistana (PI) Parnaíba (PI) Floriano (PI) Cabo Frio Iguaba Macaé Rio de Janeiro Rio Bonito Rio Mole (Saquarema) Palmital (Saquarema) Maricá Juturnaíba (Araruama) Sambaetiba (Itaboraí) Itaboraí Total anual (mm) Quixeramobim (CE) Sobral (CE) 1500 Teresina (PI) 200 Picos (PI) 800 Tanguá 1000 Paulistana (PI) 1200 Parnaíba (PI) 1400 Niterói (Horto Florestal) 1600 Floriano (PI) 400 Barra de São João 600 Bom Jesus do Piauí (PI) Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais Precipitação total anual - Estações da Caatinga e do Estado do Rio de Janeiro Estações meteorológicas Figura 3: Total anual (mm) de precipitação de estações meteorológicas do entorno de Cabo Frio e da caatinga. Caatinga e Cabo Frio- Insolação (h) VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Box Plot Caatinga e Cabo Frio: Precipitação, Evaporação, Insolação e Umidade Relativa Boxplot Precipitação Cabo Frio e Entorno 1500 4500 1400 4000 Paulistana (PI) 3500 1300 3000 1200 2500 1100 2000 1500 1000 Itaberaba (BA) Bom Jesus do Piauí (PI) 1000 900 800 Cabo Frio Iguaba 700 Ppt (mm) Median = 1168 25%-75% = (1140,5, 1285,5) Non-Outlier Range = (1055, 1432) Outliers Extremes 500 0 -500 Precip Insola Evapo Umidade rel Median 25%-75% Non-Outlier Range Outliers Extremes Figura 5: Box plot de: a) precipitação, evaporação, insolação e umidade relativa da Caatinga e Cabo Frio e b) da precipitação de Cabo Frio e entorno. 9 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais D e n d o g ra m a d o s 3 5 m u n icíp io s A m a lg a m a çã o d e g ru po s p e lo m é to d o d e va riâ n cia m ín im a; D istâ n cia E u clid e an a e n tre m un icíp io s. V a riá veis p a d ro n iza d a s B o m J e s u s d o P ia u í F lo ria n o S o b ra l P ic o s Q u ix e ra m o b im Apodi M o s s o ró Macau P a u lo A fo n s o B a rb a lh a Tauá B om Jesus da Lapa C a rira n h a C ra te ú s F lo ra n ia B a rra R emanso P a u lis ta n a C a b ro b ó P e tro lin a C a m p o s S a le s M o n te iro A rc o V e rd e C a e tité C a m p in a G ra n d e P a lm e ira d o s In d io s A ra ç u i J a c o b in a S e n h o r d o B o n fim P e d ra A z u l C a b o F rio Ita b e ra b a G a ra n h u n s M o rro d o C h a p é u V itó ria d a C o n q u is ta 0 5 10 15 20 25 30 D istâ n cia d e lig a çã o Distância Euclidiana de Cabo Frio aos municípios da Caatinga C21= Palmeira dos Indios (AL); C27=Jacobina (BA); C33=Araçui (MG) C_1 C_2 C_3 C_4 C_5 C_6 C_7 C_8 4.63 4.01 6.38 5.01 4.17 4.22 4.50 3.55 C_9 C_10 C_11 C_12 C_13 C_14 C_15 C_16 3.14 4.31 3.71 4.18 3.27 3.20 2.40 3.66 C_17 C_18 C_19 C_20 C_21 C_22 C_23 C_24 3.57 5.63 3.58 5.36 1.95 4.30 3.94 4.27 C_25 C_26 C_27 C_28 C_29 C_30 C_31 C_32 4.36 3.92 2.88 4.58 3.83 4.48 3.48 3.81 C_33 C_34 C_35 2.17 3.10 0.00 Figura 6: Análise multivariada (Cluster com matriz de distância) comparando-se as variáveis: evaporação, insolação, precipitação e umidade relativa, entre as estações meteorológicas de Cabo Frio e 34 estações da caatinga. 10 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Figura 7: Mapa de localização dos municípios da caatinga cujo clima mais se assemelha a Cabo Frio PALEOCLIMAS A região de Cabo Frio foi também objeto de estudos paleoambientais (Coe, 2009; Coe et al, 2007, 2008, 2009), a fim de inferir mudanças na sua vegetação e, consequentemente do clima, durante o Quaternário. Para tal foram utilizados como indicadores silicofitólitos extraídos de perfis de solo. Foram calculados índices de densidade arbórea (D/P= fitólitos de dicotiledôneas lenhosas/ fitólitos de Poaceae). Se interpretarmos os períodos de maior densidade arbórea como mais úmidos e os de menor densidade como mais secos, podemos inferir que há 13.000 anos cal BP, final do Pleistoceno, o clima na região de Cabo Frio era mais seco que o atual. Os resultados fitolíticos sugerem que no final do Pleistoceno (13.000 anos cal BP), a vegetação era menos arbórea que atualmente, podendo ter ocorrido uma vegetação semelhante em torno de 5.000 anos cal BP. O período de maior densidade arbórea durante o Holoceno deve ter ocorrido em cerca de 4.500 anos cal BP. As mudanças mais significativas da vegetação foram observadas entre 6.210 anos cal BP e 5.600 anos cal BP, com menores valores do índice D/P. Estes resultados foram corroborados por análises δ13C (mais enriquecido, característico do predomínio de gramíneas) e de fenóis das ligninas, índice que apresentou neste período um aumento da razão C/V (aumento de angiospermas não lenhosas). 11 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais CONCLUSÕES Das análises realizadas, conclui-se que Cabo Frio tem precipitação significativamente menor que o seu entorno, ao mesmo tempo em que se assemelha à caatinga, quanto à precipitação, evaporação, insolação e umidade relativa. Comprovase assim, também por análise numérica de dados climatológicos, a existência do “enclave” climático. Este contraste pluviométrico em relação ao restante do Estado do Rio de Janeiro proporciona dois climas distintos a uma reduzida distância: um clima tropical úmido, dominando o estado, e um clima semiárido em Cabo Frio. As razões que respondem pela existência desse enclave climático são múltiplas e complexas, destacando-se a flutuação climática ocorrida no Quaternário, que se observou no litoral leste (Ab’ Saber, 1973) e as condições climáticas especiais da área. Estas peculiaridades climáticas têm sido explicadas por fatores como a grande distância da linha de costa até a Serra do Mar e a emergência de águas frias em uma costa dominada por correntes quentes (fenômeno da ressurgência), resultando na atenuação das precipitações e numa dinâmica climática diferenciada durante os meses de janeiro e fevereiro (Barbiére, 1975). Esta ressurgência é do tipo intermitente, intensificada pelos fortes ventos de nordeste, os quais são fortalecidos durante a primavera-verão. Um fator topográfico explica porque este fenômeno é mais intenso na região de Cabo Frio. Nesse ponto, a costa brasileira muda da direção norte-sul para leste-oeste, inflexão que provoca uma zona de divergência entre a costa e a Corrente do Brasil. Estudos paleoambientais (análises fitolíticas) na região não indicam uma grande mudança no tipo de cobertura vegetal: a vegetação desde 13.000 anos cal BP foi sempre de tipo pouco arbórea (floresta xeromórfica), sugerindo que a vegetação local não atingia a densidade arbórea característica das florestas úmidas do restante do litoral fluminense. Os resultados das análises fitolíticas foram correlacionados com outros estudos paleoambientais sobre a região. As variações no nível do mar, registradas a nível regional (costa leste do Brasil), não parecem ter relações diretas com as mudanças na cobertura vegetal de Cabo Frio. Estas mudanças parecem ser mais influenciadas por variações na intensidade da ressurgência, de âmbito local. O enclave climático da região de Cabo Frio deve existir desde o início do Holoceno, com períodos relativamente mais ou menos úmidos, mas sempre com características mais áridas que o restante do litoral sudeste brasileiro. 12 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Referências Bibliográficas Ab'Saber, A. N. 1973, ‘A organização natural das paisagens inter e subtropicais brasileiras’, Geomorfologia, vol. 41, pp.1-39. Ab'Saber, A. N. 1977, ‘O mecanismo de desintegração das paisagens tropicais do Pleistoceno’, Inter Fácies, vol. 4, pp.1-19. Ab'Saber, A. N. 2003, ‘Redutos de cactáceas, jardins da natureza’, Scientific American Brasil, vol.19, dez. 2003. Barbiére, E. B. 1975, ‘Ritmo climático e extração do sal em Cabo Frio’, Rev. Bras. Geografia, vol.37, n.4, pp.23-109. Barbiére, E. 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