Qual a importância do fósforo na sustentabilidade das

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DOSSIER TÉCNICO
CABEÇA
Qual a importância do fósforo na sustentabilidade
das pastagens biodiversas?
Nas pastagens biodiversas, as leguminosas podem suprir as
suas necessidades azotadas através da fixação do N2 atmosférico pelas bactérias rizobianas específicas associadas às raízes,
onde formam os nódulos. Para uma eficiente captura do N2, a
leguminosa precisa de fósforo.
Ana Cristina M. Boucho, Sylvia H. Ribeiro, Pablo
Pereira, José Semedo, Fátima Calouro, Corina
Carranca . INIAV, I.P.
Ramón Redondo . Laboratorio de Isotopos Estables,
Univ. Autonoma de Madrid
Manuel V. Madeira . Instituto Supeior de Agronomia,
Universidade de Lisboa
O fósforo potencia
a produção de biomassa e nódulos
mento dos nódulos rizobianos e para a maximização da fixação simbiótica do N2.
O fósforo (P) é um nutriente essencial ao Num ensaio em vasos concluiu-se que a do- raízes das três espécies pratenses analisacrescimento das espécies pratenses e forra- tação de 60 kg P ha-1 conduz às maiores pro- das, em especial o azevém-anual, quando em
geiras sendo necessário à bactéria rizobiana, duções de biomassa aérea, em especial do monocultura (Fig. 3). O trevo-subterrâneo é
que se encontra no interior do nódulo radi- trevo-subterrâneo (Trifolium subterraneum a espécie que apresentou menos arbúsculos.
cular (Fig. 1), para obtenção de energia para L.), cultivado como cultura estreme,
a captura do azoto (N2) atmosférico durante e da serradela-rosa em consociação
o processo simbiótico. Também a capacida- com o trevo e com o azevém-anual
de fotossintética das plantas leguminosas (Lolium perenne L.). No entanto, o
noduladas pode ser reduzida em presença P não favoreceu o desenvolvimento
de baixo teor de P disponível no solo. Assim, desta gramínea (Fig. 2).
um adequado nível de P no solo é fundamen- A dose de 60 kg P ha-1 promoveu tamtal para o bom desenvolvimento da planta bém o maior desenvolvimento das
leguminosa, para um adequado funciona- raízes, noduladas no caso das leguminosas, produzindo o dobro do pe- Figura 3 – Percentagem de micorrização, medida pela percentagem de
arbúsculos micorrízicos presentes nas raízes de azevém-anual, serradela-rosa
so comparativamente com as plantas e trevo-subterrâneo em monocultura e em resposta ao teor de P adicionado
(P0 = 0, P1 = 30, P2 = 60, P3 = 90 kg P ha‑1)
cultivadas na ausência do nutriente.
As micorrizas arbusculares resultam da simbiose entre os fungos do solo e as Em monocultura, a adição de 30-60 kg P ha‑1
nódulos rizobianos indeterminados
raízes das plantas. Os arbúsculos formados contribuiu para o aumento da eficiência minas células corticais permitem a difusão da corrízica (formação de arbúsculos) das espéágua e nutrientes absorvidos pelas hifas do cies pratenses (azevém-anual, trevo-subterfungo micorrízico na planta, em especial o râneo e serradela-rosa), contribuindo para
Figura 1 – Aspecto de uma raiz de serradela-rosa (Ornithopus
P. A dose de 60 kg P ha-1 conduziu à maior uma maior absorção e difusão do P nas plansativus L.) nodulada pela bactéria Bradyrhizobium spp.
formação de arbúsculos micorrízicos nas tas. Em consociação, a colonização micorrízica das leguminosas foi pouco evidente.
A adição de 60 kg P ha-1 potenciou o número
(208 planta-1) e a biomassa (35 mg PS planta-1) dos nódulos rizobianos (Fig. 4). A serradela-rosa produziu mais nódulos (343 planta-1) do que o trevo-subterrâneo (57 planta-1),
mas de menor biomassa (15 e 30 mg PS planta-1, respetivamente).
A concentração de P não diferiu na parte
aérea e na raiz (sem nódulos) das espécies
pratenses em consociação (Fig. 5), variando
entre 0,22% na serradela-rosa e 0,27% no
trevo em monocultura, teores de P superiores aos do azevém (0,17% e 0,10%, respetivamente na parte aérea e raiz). Em consociação, a serradela apresentou maior teor de
P na biomassa aérea do que na raiz (Fig. 4).
A adição de 60 kg P ha-1 aumentou a concentração do elemento nos nódulos. Em monoFigura 2 – Variação da biomassa aérea (PS) produzida pelas espécies pratenses (azevém-anual, trevo-subterrâneo e serradela-rosa)
cultura, os nódulos das leguminosas aprecultivadas como culturas estremes e em consociação, em resposta ao tratamento fosfatado (P0 = 0, P1 = 30, P2 = 60, P3 = 90 kg P ha‑1;
sentaram um teor de 0,45% de P, enquanto
médias seguidas de letras diferentes diferem para p < 0,05)
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em consociação os nódulos das mesmas leguminosas revelam um menor teor de P, da
ordem dos 0,35%.
O fósforo potencia a taxa de fixação
simbiótica
A dose de 60 kg P ha-1 aumentou o teor de
N2 fixado na simbiose das leguminosas pratenses inoculadas com as bactérias selecionadas, apresentando um valor médio de
87-88 mg N na parte aérea e raiz (Fig. 6a), o
que equivale a 77% das necessidades azotadas da planta, e 2,1 mg N no nódulo (Fig. 6b),
i.e., 92% do N fixado no nódulo.
Conclusões
Figura 4 – Efeito do tratamento fosfatado (P0 = 0, P1 = 30, P2 = 60, P3 = 90 kg P ha-1) no número e peso (g PS planta-1) dos nódulos
produzidos pelo trevo-subterrâneo e serradela-rosa, quando cultivados como culturas estremes e em consociação
(barras azuis = biomassa; linha vermelha = n.º nódulos; médias seguidas de letras diferentes diferem significativamente, p < 0,05)
Figura 5 – Comparação dos teores de P total (%) na parte aérea e raiz (não nodulada) das espécies pratenses [azevém-anual (A),
trevo‑subterrâneo (T) e serradela-rosa (S)] em monocultura (M) e consociação (C), na ausência de resposta ao tratamento fosfatado
(médias seguidas de letras diferentes diferem para p < 0,05)
a)
A dotação de 60 kg P ha-1 poderá ser uma
referência de recomendação para pastagens
biodiversas de sequeiro, instaladas em solos
ácidos e pobres em P. Em monocultura, o trevo-subterrâneo é a espécie vegetal mais eficiente no uso do P mineral, mas o seu cultivo
em conjunto com a serradela-rosa, de porte
ereto e elevado, não se revela promissor, uma
vez que não permite um bom desenvolvimento do trevo, que apresenta porte prostrado. Por outro lado, o azevém revela-se uma
gramínea pouco exigente em P, com grande
capacidade micorrízica, sendo por isso adequada para a mistura a usar nas pastagens
biodiversas em solos ácidos e pouco férteis.
Agradecimentos
Os autores agradecem à empresa Fertiprado a oferta das
sementes inoculadas. Agradecem também ao INIAV a cedência da estufa e ao Eng. Fernando Vasconcelos a recolha
dos dados climáticos no período experimental. Agradecem, ainda, ao Prof. Luiz Gazarini, da Universidade de Évora, as facilidades concedidas na identificação e colheita do
solo, e ao Eng. Paulo Marques o apoio na colheita e transporte do mesmo.
b)
Figura 6 – N2 fixado na parte aérea e raiz a) e nódulo rizobiano b) das leguminosas pratenses, em simbiose com as bactérias inoculadas nas sementes, por efeito do tratamento fosfatado
(P0 = 0, P1 = 30, P2 = 60, P3 = 90 kg P ha-1) (médias seguidas de letras diferentes diferem para p < 0,05)
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