Manejo dos sintomas mais comuns no câncer

Propaganda
cuidados paliativos
Manejo dos sintomas mais
comuns no câncer
O
ALÍVIO DE SINTOMAS FÍSICOS, PSICOLÓGICOS E
Divulgação
ESPIRITUAIS PODE SER ALCANÇADO EM ATÉ
Ricardo Caponero
* Oncologista clínico da Clínica de
Oncologia Médica; sócio-diretor do
Instituto SIMBIDOR;
diretor científico da Associação
Brasileira de Cuidados Paliativos
Contato:
[email protected]
Ana Lúcia Coradazzi
*Oncologista do Hospital
Amaral Carvalho, em Jaú
Contato:
[email protected]
Juliana dos Santos Oliveira
*Oncologista do Hospital
Amaral Carvalho, em Jaú
Contato:
[email protected]
30
90% DOS PACIENTES COM CÂNCER AVANÇADO,
através da abordagem paliativa multiprofissional. A
base multidisciplinar que caracteriza a medicina paliativa justifica-se pela grande complexidade dos
sintomas trabalhados, além do reconhecimento da
influência que os aspectos não físicos exercem sobre
a intensidade do quadro clínico.
A diversidade de sintomas observados em pacientes com câncer avançado é grande, bem como
as diferenças em sua severidade e o impacto que
causam na qualidade de vida dos pacientes. No Brasil, há pouca informação sobre incidência de sintomas e seu manejo em pacientes oncológicos, e é
possível que os dados disponíveis estejam subestimados. Assim, foram selecionados aqui os sintomas
descritos como mais prevalentes na literatura mundial, cujo impacto na qualidade de vida é intenso e
cujo tratamento é frequentemente desafiador para
o médico não especialista.
Síndrome anorexia-caquexia (SAC)
Grande parte dos pacientes com neoplasias
avançadas apresenta perda involuntária de peso (caquexia) e redução do apetite (anorexia). Mais de
80% dos pacientes com câncer avançado são caquéticos, especialmente em suas últimas semanas de
vida. A caquexia leva à astenia, hipoalbuminemia,
anasarca, disfunção do sistema imunológico, disfunções metabólicas e falência autonômica. Está
ainda associada a falha de tratamentos oncológicos,
maior toxicidade relacionada à terapêutica, retardo
no início do tratamento (e sua interrupção precoce), menor sobrevida e desconforto psicossocial 1,2. O diagnóstico de SAC deve ser considerado
quando há perda de peso > 5% em 6 meses, perda
significativa do apetite (≥ 3 numa escala visual de
novembro/dezembro 2013 Onco&
1 a 10) e redução ≥ 75% da ingesta nutricional3. A
SAC é causada por alterações metabólicas induzidas
pelo tumor, gerando lipólise e proteólise severas,
que resultam em perda tanto de tecido adiposo
quanto de musculatura esquelética4,5.
As alterações metabólicas observadas na caquexia são significativamente distintas daquelas descritas nos quadros de desnutrição severa.
Na desnutrição, as reservas proteicas são preservadas, o gasto energético é reduzido e os ácidos graxos e cetonas são a principal fonte de obtenção de
energia. Esse cenário contrasta com a caquexia maligna, na qual as taxas de gasto energético em repouso encontram-se elevadas e tanto as reservas
proteicas quanto os estoques de gordura são depletados, sendo sua utilização feita de forma ineficiente6.
A perda de 30% do peso corporal pode significar a depleção de até 85% do tecido adiposo e de
até 75% da musculatura esquelética, o que tem impacto devastador sobre funções fisiológicas vitais,
como o processo respiratório, e pode representar a
causa direta de óbito em pelo menos 20% dos portadores de câncer avançado7. O quadro clínico resultante inclui redução da atividade física, disfunções
psicológicas e sociais no paciente e na família e sintomas físicos, como náuseas, saciedade precoce e intensa fadiga.
O primeiro passo na abordagem da SAC é o esclarecimento do paciente e seus familiares de que
o quadro não é consequência da vontade do paciente, e sim da atividade da doença, e que sua reversão é improvável. Tal entendimento facilita o
processo de tomada de decisões, evita procedimentos invasivos desnecessários e permite um planejamento terapêutico realista.
A identificação de causas possivelmente reversíveis deve ser criteriosa, corrigindo-se as que forem
possíveis, entre elas: dispepsia, alterações do pala-
dar, xerostomia, mucosite, constipação intestinal, estase gástrica, depressão, ansiedade, dor mal controlada, náuseas/vômitos, disfunção
tireoidiana, hipercalcemia, hiponatremia, uremia, relacionadas ao tratamento oncológico. É importante também reavaliar as indicações de
todas as medicações em uso pelo paciente, uma vez que várias drogas
podem interferir negativamente na ingesta alimentar.
As estratégias clínicas de tratamento da SAC envolvem medicamentos, intervenções não farmacológicas, intervenções nutricionais e
acompanhamento psicológico. O número de estudos clínicos prospectivos confiáveis é restrito e, embora existam vários protocolos de pesquisa em andamento, as opções medicamentosas consideradas eficazes
ainda são poucas (Quadro 1). O uso de talidomida, inibidores da ciclooxigenase, canabinoides e ácido eicosapentaenoico (EPA) tem sido descrito, mas sua eficácia ainda é controversa.
Constipação intestinal
A constipação intestinal é um sintoma frequente em pacientes oncológicos, principalmente nas fases mais avançadas da doença, com incidência variável de 40% a 90%17,18,19. É caracterizada por evacuações
dificultosas ou dolorosas associadas a evacuações infrequentes e fezes
endurecidas e/ou em pequena quantidade, associadas à distensão abdominal, redução de ruídos hidroaéreos, dor abdominal à palpação, presença de fezes endurecidas ou fecaloma ao toque retal e/ou exame
radiológico compatível com o quadro. A etiologia é frequentemente multifatorial, estando as causas mais frequentes descritas no Quadro 220.
Relacionadas à doença de base
• imobilidade • redução da ingesta alimentar • dieta pobre em resíduos
Depleção de fluidos
• redução da ingesta hídrica
Fraqueza
Acetato de megestrol
É capaz de promover aumento do apetite e da ingesta calórica, embora por mecanismos pouco claros. Iniciar com 160
mg via oral/dia e aumentar até um máximo de 1.280 mg,
a depender da resposta clínica e toxicidade (especialmente
eventos tromboembólicos). A dose eficaz média é de 800
mg/dia8,9,10.
Corticosteroides
Podem reduzir a inapetência e promover sensação de bemestar, mas apenas por curtos períodos de tempo (uma a quatro semanas). O uso a longo prazo pode piorar a caquexia
devido a perda muscular e resistência à insulina. Considerar
dexametasona 4-16 mg/dia (ou prednisona 10 a 20 mg VO
duas vezes ao dia) por duas semanas para pacientes nos
quais se deseja aumento rápido do apetite e melhora da
qualidade de vida por poucas semanas.
Metoclopramida
Particularmente útil na presença de estase gástrica, pela
ação procinética. Reduz a sensação de náuseas.
Quadro 1 Terapia farmacológica da síndrome anorexia-caquexia
A avaliação e o acompanhamento do nutricionista são importantes
e têm impacto significativo na condução bem-sucedida dos casos, proporcionando base técnica clara e segurança para a família. O uso de
dietas com densidade calórica elevada e a suplementação de proteínas
de alto poder biológico parecem ter alguma eficácia na estabilização
do peso12,13,14.
A indicação de nutrição enteral ou parenteral, no entanto, deve ser
restrita a casos selecionados, como neoplasias obstrutivas do trato gastrintestinal, por exemplo, ou nos quais há expectativa real de controle
da neoplasia através do tratamento oncológico. Em pacientes em fase
muito avançada da doença, o suporte nutricional artificial não é capaz
de reverter a SAC ou aumentar a sobrevida dos pacientes, estando inclusive associado a complicações como sobrecarga hídrica, infecções
e até mesmo aumento da mortalidade15,16.
Atividades físicas regulares, não extenuantes, podem ter impacto
favorável no controle da SAC. Além disso, o acompanhamento psicológico do paciente e da família é de grande importância, uma vez que
facilita a aceitação da evolução inexorável do quadro, permitindo a redução do sofrimento.
• incapacidade para aumentar a pressão intra-abdominal (paraple
abdominais volumosas) • inabilidade para alcançar o banheiro quando necessário
Obstrução intestinal
• obstrução mecânica extraluminal (crescimento de neoplasia abdominal, massas mesentéricas, aderências
• obstrução intraluminal (linite plástica intestinal, tumor
intraparietal) • obstrução funcional (alterações da motilidade intestinal por
musculatura e nervos da parede intestinal e mesentério, comprometimento maligno do plexo celíaco,
neuropatia paraneoplásica no câncer de pulmão)
Medicações
• opioides, analgésicos • diuréticos • antimuscarínicos (fenotiazinas, antidepressivos tricíclicos, derivados
da hioscina) • inibidores da serotonina (ondansetrona, granisetrona, tropisetrona) • análogos da somatostatina (octeotride) • quimioterápicos (derivados da vinca e platina, taxanes, talidomida) • suplementos de
ferro e cálcio • anticonvulsivantes • alguns anti-hipertensivos (bloqueadores de canais de cálcio)
• anestésicos
• ansiolíticos e hipnóticos
Distúrbios metabólicos e endócrinos
• hipercalcemia e hipocalcemia
mellitus • uremia
• hipocalemia • hiponatremia • hipotireoidismo • diabetes
Fatores ambientais
• incapacidade para utilizar o sanitário sem assistência • ambiente não familiar ou pressa na defecação
• mudanças no hábito das evacuações (uso de fraldas ou “comadres”) • falta de privacidade
Outras
• constrangimentos pessoais •
• doenças intestinais
(diverticulite, estenose actínica, doenças anorretais, distúrbios do esvaziamento do reto etc.) • depressão
• doenças neuromusculares (compressão de medula neural, acidente vascular cerebral, neuropatia etc.)
Quadro 2 Etiologia da constipação intestinal em pacientes sob
cuidados paliativos
O diagnóstico da constipação exige história médica detalhada, que
inclui hábito intestinal (frequência, quantidade e características das
fezes), sintomas associados (dor, flatulência, cólicas, náuseas, vômitos
e tenesmo), uso prévio de laxativos, hábito alimentar e medicações em
uso. O achado de massa ou distensão abdominais, alterações dos ruídos intestinais e alterações ao exame anorretal contribuem significativamente para o diagnóstico etiológico. A solicitação de exames
laboratoriais e de imagem (enema opaco e colonoscopia) deve ser individualizada a depender dos achados clínicos21.
O tratamento da constipação intestinal inclui várias modalidades
terapêuticas e deve ser iniciado de maneira precoce. Tratamento não
farmacológico, orientações ao paciente e cuidador sobre dieta e ingesta
hídrica e tratamento medicamentoso formam a base terapêutica. O tratamento não medicamentoso inclui medidas relacionadas aos hábitos
alimentares, orientações sobre exercícios, promoção de conforto e privacidade durante a evacuação, terapias psicocomportamentais e cognitivas22. Tais orientações têm importância tanto no tratamento quanto
na prevenção da constipação intestinal.
Onco& novembro/dezembro 2013
31
O tratamento farmacológico, baseado na administração de laxativos, é utilizado na maioria dos pacientes e deve levar em consideração
os mecanismos provavelmente envolvidos na etiologia da constipação
intestinal23,24.
Os laxativos formadores de bolo fecal promovem retenção de água
na luz intestinal, aumentam o volume das fezes e estimulam o peristaltismo. Os mais utilizados são: metilcelulose (dose de 1 unidade /
3xdia), psilio (dose de 1 unidade / 3xdia) e farelo de trigo. Não são indicados para pacientes acamados, com mobilidade reduzida nem para
os com dificuldade para a ingesta de grande quantidade de líquidos.
Os laxativos emolientes/lubrificantes aumentam a penetração de
água e amolecem as fezes. Os mais usados são: docusato de sódio
(10-30 ml/dia) e óleo mineral (10-45 ml/dia). São contraindicados
para pacientes acamados, com vômitos, disfagia intensa, doença do
refluxo gastroesofágico e antecedente de esofagectomia (risco de
broncoaspiração).
Os agentes osmóticos (orais) retêm fluidos no lúmen intestinal e
estimulam o peristaltismo. Os mais utilizados são: hidróxido de magnésio (dose de 8-32 g/dia) e lactulose (15-50 ml/noite). Podem causar
distensão abdominal, flatulência e toxicidade pelo magnésio.
Os agentes estimulantes atuam no aumento da secreção de água
e eletrólitos pela mucosa intestinal e possivelmente pela estimulação
dos nervos entéricos, aumentando o peristaltismo. Os mais usados
são bisacodil (oral, 1-2 cp/noite e supositório), picossulfato de sódio
e sene (5-10 mg ou ml/noite), cuja evidência clínica não está disponível para a sua recomendação. Esses laxantes podem causar cólicas
e diarreia aquosa como efeito colateral, com possibilidade de distúrbio hidroeletrolítico.
Os lubrificantes retais atuam amolecendo as fezes e facilitando a evacuação. O mais utilizado é o supositório de glicerina (1 unidade/dia).
Outros laxativos que podem ser utilizados por via retal são enema de
óleo mineral (100-250 ml/dia), fosfato enema (1 unidade/dia) e bisacodil
supositório (10mg/noite / 3xsemana). A indicação de cada um deles depende das características das fezes ao toque retal.
A escolha do laxativo deve levar em conta a preferência do paciente. A associação de drogas pode resultar em maior eficácia, como
por exemplo um laxativo estimulante e um surfactante. A dose e o tipo
devem ser ajustados de acordo com o quadro clínico.
Agentes procinéticos e antagonistas de receptores opioides podem
ser úteis no controle da constipação intestinal, dependendo de sua
etiologia. Os procinéticos apresentam um efeito mais importante no
trato digestivo superior, aumentam a pressão do esfíncter esofágico inferior, aumentam o esvaziamento gástrico, intensificam o peristaltismo
duodenal, com consequente aceleração do trânsito intestinal e aumento na peristalse. A metoclopramida (30 mg/dia / via oral) pode ser
utilizada em alguns casos refratários às medidas convencionais, e é de
fácil acesso para a nossa população.
O brometo de metilnaltrexona é o principal antagonista de receptores opioides, atuando de forma seletiva nos receptores da mucosa
32
novembro/dezembro 2013 Onco&
colônica, e portanto preservando a ação analgésica do opioide. É utilizado por via subcutânea, na dose de 8 mg para pacientes que pesam
de 38 kg a 61,9 kg, ou de 12 mg para pacientes que pesam de 62 kg
a 114 kg, uma vez por dia ou em dias alternados, conforme a necessidade. Se disponível, está indicado para os casos de constipação intestinal induzida por opioides e resistente aos laxativos convencionais e
não deve ser utilizado na suspeita de obstrução intestinal25.
Náuseas e vômitos
Até 70% dos pacientes com câncer avançado referem algum grau
de náusea ou vômito26. Ambos os sintomas são desconfortáveis e
podem afetar a qualidade de vida. Os cancerologistas clínicos estão
habituados a prescrever medicamentos para prevenir e/ou tratar as
náuseas e os vômitos (N/V) relacionados ao tratamento antineoplásico.
No entanto, a discussão deste tópico ultrapassa as N/V relacionadas
aos antineoplásicos, focando o paciente com câncer avançado em cuidados paliativos com N/V de múltiplas etiologias.
O vômito é causado por um estímulo nocivo em um ou mais dos
seguintes locais: trato gastrointestinal (TGI), sistema vestibular (SV),
zona de gatilho quimiorreceptora (ZGQ) (localizada na área postrema
do assoalho do quarto ventrículo) e centros superiores do sistema nervoso central (tálamo, hipotálamo, córtex, meninges). Os principais
neurotransmissores envolvidos na via do vômito são a dopamina, a
histamina, a acetilcolina, a serotonina e a substância P. Os respectivos
receptores – alvos do tratamento antiemético – incluem dopamina tipo
2 (D2), histamina tipo 1 (H1), colinérgicos muscarínicos tipo 1-5 (M15), serotonina tipo 3 (5-HT3) e neurocinina-1 (NK-1). A ZGQ apresenta receptores D2 e pode ser estimulada por toxinas endógenas e
exógenas, sendo parcialmente desprovida de barreira hematoencefálica. A ativação da ZGQ estimula o centro do vômito (núcleo do trato
solitário e formação reticular do bulbo) que desencadeia o vômito propriamente dito. O centro do vômito apresenta receptores H1 e M1.
Uma das maneiras nas quais o TGI pode ativar o centro do vômito é
pela liberação de serotonina pelas células enterocromafins intestinais,
que por sua vez estimulam os receptores 5-HT3 nos ramos aferentes
do nervo vago. O SV estimula o centro do vômito por movimento, por
doenças no labirinto e também por medicamentos (por exemplo, os
opioides) Os receptores NK-1 estão presentes no centro do vômito e
também na ZGQ35.
No exame clínico do paciente com N/V é essencial determinar a
relevância clínica do sintoma. Sugere-se usar uma escala numérica ou
visual analógica para avaliação da intensidade. Investigar início, duração, frequência, fatores de melhora e piora, assim como o uso de medicamentos e a presença de comorbidades. É necessário determinar o
grau de desidratação, a presença de desequilíbrio eletrolítico e pesquisar sinais clínico-radiológicos de obstrução intestinal.
Um dos princípios para o adequado tratamento de sintomas em
cuidados paliativos é o conhecimento da fisiopatologia relacionada ao
sintoma. Dessa forma, sempre que possível, recomenda-se tratar as
N/V levando-se em consideração a causa subjacente (abordagem baseada na etiologia) (Quadro 3). Em 75% dos casos uma causa é identificada, sendo reversível em metade das vezes. Assim, as causas
potencialmente reversíveis de N/V devem ser sempre aventadas, sendo
as principais a hipercalcemia, a uremia, as infecções, a constipação intestinal, o uso de alguns medicamentos (opioides, antibióticos, sulfato
ferroso, digoxina), a obstrução intestinal alta e a irritação gástrica36.
Nos casos sem causa diagnosticada e também naqueles em que uma
investigação diagnóstica mais extensa não se justifica (nos últimos dias
de vida), recomenda-se uma abordagem empírica, seguindo, se necessário, uma sequência de condutas como sugerido a seguir:
Medicamento
Afinidade pelo receptor
D2
Metoclopramida
+++
Clorpromazina
++++
H1
+
++
Síndrome
Causas
Granizetrona
++++
1 mg VO a cada 12-24 horas
Ondansetrona
++++
8 mg VO/IV a cada 8 horas
++
++++
++
12,5-25 mg IV ou 25 mg VO/VR a
cada 4-8 horas (máximo 100 mg/dia)
Levomepromazina
++++
+++
++
6.25–25 mg SC a cada 12 horas;
25–50 mg/dia ICSC
Haloperidol
++++
+
Prometazina
0,5-2 mg, VO/IV/SC até a cada 6 horas;
1–5 mg/dia por ICSC
100 µg SC a cada 8 horas;
300–1200 µg/dia ICSC
Octreotidea
4-20 mg VO/IV/SC diariamente
Meclizina
+++
+
Dimenidrinato
+++
+
50-100 mg VO/IV até a cada 6 horas
+
+
2.5–10 mg VO/dia
Olanzapina
++
25-50 mg VO até a cada 6 horas
Domperidona
++++
10-20 mg VO a cada 6-8 horas
Bromoprida
++++
10 mg VO/IV a cada 6-8 horas
Lorazepana
aMedicamento
0,5 – 2 mg VO a cada 4-8 horas
possui outro mecanismo de ação não relacionado.
Legenda: Musc.=muscarínico; VO=via oral; IV= intravenosa; SC= subcutânea; ICSC=infusão contínua subcutânea;
IM=intramuscular.
Quadro 4 Principais antieméticos de uso no Brasil, os receptores onde
atuam e as respectivas posologias
Opções medicamentosas preferenciais
Estase
gástrica
Câncer gástrico,
Hepatomegalia ou ascite com compressão gástrica,
Neuropatia paraneoplásica,
Metoclopramida, domperidona, bromoprida
Neuropatia diabética,
Medicamentos (opioides, tricíclicos etc.)
Metabólica
Hipercalcemia,
Metástases hepáticas,
Uropatia obstrutiva,
Obstrução intestinal,
Drogas (opioides, antineoplásicos,
antibióticos, digoxina),
Infecções
“Toxinas” (síndrome de anorexia-caquexia)
Haloperidol, levomepromazina, antagonistas
5-HT3, dexametasona
PIC
Elevada
Tumores cerebrais primários ou secundários,
Acometimento meníngeo
Dexametasona
Vestibular
Metástases cerebrais,
Uso de opioides,
Vestibulopatias
Dimenidrinato, meclizina, prometazina
Obstrução intestinal
Câncer colorretal,
Carcinomatose peritoneal,
Ascite de grande volume,
Aderências,
Constipação intestinal
Cortical
10-20 mg VO/IV/SC até a cada 6 horas;
40-60 mg/dia por ICSC
10–25 mg VO a cada 4-6 horas;
25-50 mg IM a cada 6-8 horas
+
Dexametasonaa
1º: Iniciar com um antagonista de dopamina (metoclopramida ou haloperidol) e titular a dose até o máximo benefício clínico.
2º: Associar um antagonista do receptor 5-HT3.
3º: Associar um corticosteroide.
4º: Considerar infusões parenterais contínuas por via intravenosa ou
hipodermóclise. Considerar rodízio de opioides.
5º: Considerar uso de medicina integrativa (acupuntura, hipnose e terapia cognitivo-comportamental).
Posologia
Musc. 5-HT3
Parcial:
Metoclopramida, dexametasona
Completa:
Haloperidol, dexametasona, ocreotide
Transtorno de ansiedade, náusea antecipatória, dor Lorazepam
Legenda: NK1=neurocinina 1, 5-HT3=5-hidroxitriptamina 3, N/V=náuseas e vômitos, PIC=pressão intracraniana.
Quadro 3 Principais síndromes relacionadas com N/V, suas causas e
seu tratamento recomendado35
O Quadro 4 mostra os principais medicamentos utilizados como
antieméticos no Brasil, os receptores onde atuam e as respectivas posologias recomendadas para uso em cuidados paliativos. O aprepitante
– antagonista do receptor NK-1 – é bastante utilizado para prevenção
de N/V em casos de quimioterapia de moderado-alto potencial emetogênico; no entanto, não há evidência que justifique seu uso para tratamento de N/V em pacientes em cuidados paliativos.
Medidas não farmacológicas podem ser utilizadas em conjunto
com medicamentos. Evitar alimentos com gosto e/ou cheiro fortes, alimentos com excesso de gordura e excesso de bebidas gaseificadas. Estimular dieta hiperfracionada. Controlar adequadamente o odor de
feridas ou úlceras tumorais. Estimular adequada higienização oral.
Acupuntura, hipnose e terapia cognitivo-comportamental podem ser
úteis em casos selecionados.
Dispneia
A Sociedade Torácica Americana define dispneia como uma experiência subjetiva de desconforto respiratório que consiste de sensações
qualitativamente distintas e de intensidade variável. A dispneia deriva
da interação de múltiplos fatores fisiológicos, psicológicos, sociais e
ambientais, induzindo respostas comportamentais variadas29. Tratase de um sintoma comum em pacientes com câncer avançado, ocorrendo em 21% a 78% dos pacientes, especialmente em suas últimas
semanas de vida30.
O primeiro passo diante do paciente que se queixa de dispneia é
a identificação de suas prováveis causas. As causas mais frequentes do
sintoma no paciente oncológico são o comprometimento da função
pulmonar pela própria neoplasia, derrame pleural, infecção, anemia,
caquexia e comorbidades, como insuficiência cardíaca e enfisema pulmonar. A etiologia é comumente multifatorial e, portanto, o tratamento adequado pode envolver a combinação de estratégias31. A
correção das causas identificadas deve ser priorizada, sempre que possível. Medidas como toracocentese nos pacientes como derrame pleural, hemotransfusão nas anemias sintomáticas, antibioticoterapia nas
infecções e radioterapia nos casos de obstrução da árvore respiratória
ou síndrome de veia cava superior podem ser de grande valia para o
controle do quadro32.
Independentemente da etiologia, medidas gerais podem ser instituídas imediatamente, visando o alívio rápido do sintoma. As ações
de maior impacto estão descritas no Quadro 4.
O impacto da dispneia sobre cada paciente é extremamente variável. Pacientes com doenças pulmonares obstrutivas crônicas, que têm
a capacidade pulmonar já limitada, podem ser menos afetados que
Onco& novembro/dezembro 2013
33
pacientes cuja função pulmonar anterior era normal. É de grande importância o esclarecimento das dúvidas e preocupações do paciente e
dos familiares sobre as possíveis causas e evolução provável do quadro.
Essa medida é capaz de reduzir significativamente o componente de
ansiedade da dispneia, além de promover a colaboração da
Opioides de curta duração em baixas doses:
família no controle do quadro36. Ações não medicamentosas
Diminuem a sensação de dispneia. Iniciar com sulfato de morfina 5 mg via oral ou 2 mg via endovenosa a cada 4 horas .
Nebulização com solução salina
também podem ter benefício importante, como técnicas de
Embora sem efeito na função pulmonar, inalações com solução salina 0,9% 5 ml podem aliviar a sensação de falta de ar.
relaxamento, manter as janelas abertas, uso de ventiladores,
Ansiolíticos
Podem auxiliar quando há componente significativo de ansiedade exacerbando o quadro clínico. Iniciar diazepam 2,5-5 mg via
redução da atividade física, entre outras.
oral a cada 8 horas ou lorazepam 0,5-1 mg via oral a cada 12 horas.
Após a adoção das medidas iniciais, o sintoma deve ser
Broncodilatadores inalatórios
Podem auxiliar se houver broncoespasmo associado. Iniciar salbutamol 2,5-5 mg até a cada 2 horas .
cuidadosamente reavaliado. Considera-se que o tratamento
Corticosteroides
está sendo bem-sucedido quando há controle adequado da
Úteis nos casos em que há linfangite ou broncoespasmos. Iniciar dexametasona 8 mg via oral ou endovenosa pela manhã. Se a
medida for eficaz, reduzir lentamente a dose na semana subsequente até atingir a dose mínima eficaz (em geral 2-6 mg/dia).
dispneia, redução da angústia do paciente e seus familiares
Considerar o uso de protetor gástrico profilático.
Oxigenoterapia
e otimização da qualidade de vida. Caso tais objetivos não
Tem papel limitado na dispneia associada ao câncer de pulmão avançado, mas, se houver hipoxemia importante à oximetria de
sejam atingidos, deve-se reavaliar as abordagens adotadas
pulso, a manutenção de oxigênio entre 2 e 4 litros/minuto pode trazer benefício. Suporte ventilatório temporário (CPAP, BiPAP)
pode ser útil em condições severas reversíveis.
no sentido de otimizá-las ou corrigir eventuais novas causas
Diuréticos
Podem ser utilizados quando há componente de edema pulmonar. Iniciar furosemida 20 mg via endovenosa a cada 15-30 minutos
para o sintoma. Em pacientes cujo sintoma não pode ser
até a melhora dos sintomas.
controlado adequadamente com medidas clínicas e cujo
Escopolamina
Pode ser utilizada para reduzir o acúmulo de secreções relacionadas à dispneia. Iniciar com a dose de 1 ampola SC 8/8h .
prognóstico é reservado, deve-se considerar a indicação de
Quadro 5 Medidas clínicas para o manejo da dispneia
sedação terminal37.
33
34
35
Referências bibliográficas:
1. Kumar NB, Kazi A, Smith T, et al. Cancer cachexia: traditional therapies and novel
molecular mechanism-based approaches to treatment. CurrTreatOptionsOncol 2010;
11:107-117
2. Oberhoizer R, Hopkinson JB, Baumann K, et al. Psychosocial Effects Os Cancer Cachexia: A Systematic literature search and qualitative analysis. J PainSymptomManage
2012
3. Strasser F, Bruera ED. Update on anorexia and cachexia. HematolOncolClin North Am
2002; 16: 589–617
4. Agustsson T, Ryder M, Hoffstedt J, et al. Mechanism of increased lipolysis in cancer
cachexia. Cancer Res 2007; 67:5531–5537
5. Michael J. Tisdale. Cancer Cachexia. Current Opinion in Gastroenterology 2010,
26:146 – 151
6. Tisdale M. Molecular Pathways Leading to Cancer Cachexia. Physiology 2005, 20:340-348
7. Inagaki J, Rodriguez V, and Bodey GP. Causes of death in cancer patients. Cancer 1974,
33: 568–571
8. Maltoni M, Nanni O, Scarpi E et al. High-dose progestins for the treatment of cancer
anorexia-cachexia syndrome: a systematic review of randomised clinical trials. Ann Oncol
2001; 12: 289–300. 4.
9. Mateen F, Jatoi A. Megestrol acetate for the palliation of anorexia in advanced, incurable
cancer patients. ClinNutr 2006; 25: 711–715. 8.
10. Mateen F, Jatoi A. Megestrol acetate for the palliation of anorexia in advanced, incurable cancer patients. ClinNutr 2006; 25: 711–715.
11. Ettinger AB, Portenoy RK. The use of corticosteroids in the treatment of symptoms
associated with cancer. J PainSymptomManage 1988; 3: 99–103.
12. Sinclair CT. Communicating a prognosis in advanced cancer.J Support Oncol. 2006
Apr;4(4):201-4.
13. Kinzbrunner BM. Hospice: what to do when anti-cancer therapy is no longer appropriate, effective, or desired. SeminOncol. 1994 Dec;21(6):792-8.
14. Dy SM, Lorenz KA, Naeim A, Sanati H, Walling A, Asch SM Evidence-based recommendations for cancer fatigue, anorexia, depression, and dyspnea. J ClinOncol. 2008
Aug 10;26(23):3886-95)
15. McCann RM, Hall WJ, Groth-Juncker A. Comfort care for terminally ill patients. The
appropriate use of nutrition and hydration. JAMA 1994 Oct 26;272(16):1263-6.
16. Winter SM. Terminal nutrition: framing the debate for the withdrawal of nutritional
support in terminally ill patients Am J Med. 2000 Dec 15;109(9):723-6.
17. Lamparelli MJ, Kumar D. Investigation and management of constipation. ClinMed J
R Coll PhysiciansLond 2002; 2: 415-20
18. Mancini I, Bruera E. Constipation in advanced cancer patients. SupportCare Cancer
1998;6:356-6
34
novembro/dezembro 2013 Onco&
19. Consenso Brasileiro de Constipação Intestinal Induzida por Opioides. Revista Brasileira de Cuidados Paliativos 2009;2 (3- suplemento1))
20. Oxford HandbookofPalliativeCare, 2006. Max Watson, Caroline Lucas, Andrew Hoy,
Ian Back. Oxford University Press.
21. Jorge JMN, Guilger N. Constipação intestinal: abordagem diagnóstica e terapêutica.
Revista Brasileira de Cuidados Paliativos, 2009;2:37-49
22. Hatanaka VMA- Constipação em Cuidados Paliativos- In: Cuidado Paliativo – CREMESP 2008: 427-444
23. Miles CL, et al. Laxatives for the management of constipation in palliative care patients. Cochrane DatabaseSystRev.2006;18(4):CD003448
24. Oxford Handbook of Palliative Care, 2006. Max Watson, Caroline Lucas, Andrew
Hoy, Ian Back. Oxford University Press
25. Thomas JR, Karver S, Cooney GA, et al. Methylnaltrexone for opioid-induced constipation in advanced illness.NEngl J Med 2008;358:2332
26. HARRIS, Dylan G. Nausea and vomiting in advanced cancer. British medical bulletin,
v. 96, n. 1, p. 175-185, 2010.
27. SHOEMAKER, Laura K. et al. Symptom management: an important part of cancer
care. Cleveland Clinicjournalof medicine, v. 78, n. 1, p. 25-34, 2011.
28. GLARE, Paul A.; SINCLAIR, Christian T. Palliative medicine review: prognostication.
Journalofpalliative medicine, v. 11, n. 1, p. 84-103, 2008.
29. American Thoracic Society. Dyspnea. Mechanisms, assessment, and treatment: a consensus statement. Am J RespirCrit Care Med 1999; 159: 321–340
30. Bhatnagar S, Madhurima S, Mishra S. Dyspnoea in cancer patients. EUROPEAN
JOURNAL OF PALLIATIVE CARE, 2006; 13(4)
31. Jennings AL, Palliation of breathlessness: a combined approach is needed. EUROPEAN JOURNAL OF PALLIATIVE CARE, 2010; 17(4)
32. Watson M, Lucas C, Hoy A, Back I (eds). Oxford Handbook of Palliative Care, 1a ed.
Oxford: Oxford University Press
33. Jennings AL, Davies AN, Higgins JPT, Broadley K. Opioids for the palliation of breathlessness in terminal illness. Cochrane Database Syst Rev 2001; 4: CD002066
34. Watson M, Lucas C, Hoy A, Back I (eds). Oxford Handbook of Palliative Care, 1a ed.
Oxford: Oxford University Press.
35. Hans Wildierset al. Atropine, hyoscinebutylbromide, or scopolamine are equally effective for the treatment of death rattle in terminal care. Journal of Pain and Symptom
Management. Volume 38, Issue 1 , Pages 124-133, July 2009
36. Jennings AL, Palliation of breathlessness: a combined approach is needed. EUROPEAN JOURNAL OF PALLIATIVE CARE, 2010; 17(4)
37. Bhatnagar S, Madhurima S, Mishra S. Dyspnoea in cancer patients. EUROPEAN
JOURNAL OF PALLIATIVE CARE, 2006; 13(4)
Download