A carreira de Matemática para estudantes negros e minorias

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A carreira de Matemática para estudantes negros e minorias
Por Carlos Castillo-Chavez
Estados Unidos - O casamento entre a Matemática e as Ciências (naturais e físicas) sempre
foi marcado por laços fortes e profundos, mas no mundo interdisciplinar de hoje, a Matemática pode
cada vez mais se associar também a outras áreas como a Arte, Educação Física, Direito, e as
Ciências Sociais. Espero que os estudantes não digam, "Matemática é muito difícil - eu seria louco de
tentar uma graduação!", mas que sim, pensassem seriamente no assunto. Este artigo é o primeiro de
uma série intitulada "Além dos números e provas", que visa fornecer apoio a estudantes
(especialmente os estudantes minoritários) interessados na carreira matemática.
O papel da Matemática como força promotora de mudanças nunca foi claro para mim quando
estudante de graduação e de pós-graduação. Já que eu adorava teoria dos conjuntos, minha meta era
terminar um Ph.D. em Matemática pura. Esperava que minha tese incluísse extensões do trabalho
realizado no início do século XX por matemáticos poloneses tais como Banach, Sierpinski e
Kuratowski.
Entretanto, as vozes internas que ouvi disseram que eu precisava fazer algo útil para minha
comunidade e que a matemática pura tinha pouco a oferecer. Eu estava errado. Alterei levemente
minha área de expertise e em 1984 terminei um doutorado em matemática aplicada na universidade de
Wisconsin, em Madison.
Portanto as perguntas são: posso transferir esta minha nova experiência aos estudantes
minoritários que se sentem como eu me sentia em relação à matemática pura e aplicada? Como posso
mostrar aos meus estudantes de graduação e pós-graduação que a fronteira entre a matemática pura
e a aplicada é um tanto nebulosa? Não é tão simples assim! Ainda existe uma cultura na comunidade
matemática que promove o estudo da Matemática em prol da Matemática em si. Portanto, não é
surpresa que o conhecimento desta comunidade seja limitado em relação as questões filosóficas e
sociais que impulsionam e influenciam as opções profissionais de muitas minorias.
Além disso, quem poderá ser mentor dessas pessoas? A comunidade matemática em geral
está apenas começando a discutir ou lidar com estes receios. Na verdade, eu nunca achei que
pudesse compartilhar estas opiniões e sentimentos até mesmo com os mentores solidários que tive
quando estudante de graduação e de pós-graduação. Na época eu achava que deveria abordar
minhas decisões de carreira sobre profissão e motivação exatamente da mesma forma que meus
mentores. A cada ano, este conflito interno me levava a beira de desistir. Por que não desisti? Por que
terminei meu Ph.D.? Francamente não sei, mas tenho certeza que a sorte e meu forte desejo de me
tornar um matemático tiveram peso.
Quando entrei para os corredores da vida acadêmica, este sentimento pungente me levou a
criar um programa que pudesse esclarecer a importância da Matemática para os estudantes, portanto
em 1996 fundei o Mathematical and Theoretical Biology Institute (MTBI) na Cornell University (o MTBI
se mudou recentemente para a Arizona State University).
A filosofia do MTBI vai ao encontro das minhas considerações sociais, especialmente em seu
programa de verão. Começa com a suposição de que todo estudante precisa descobrir um valor social
em sua pesquisa. Em outras palavras, se a relevância da Matemática para os problemas do mundo de
hoje é fonte estratégica de motivação, então isto deve ser o impulso do programa de ensino do
estudante. Se as considerações sociais/profissionais, tais como se tornar um mentor numa
universidade pública, escola primária, ou mentorear professores de matemática são importantes para
um indivíduo, então tais considerações precisam ser parte integral de seu modelo "de ensino".
No MTBI os estudantes escolhem seus próprios projetos de grupo nas férias de verão. Estes
projetos também enfatizam a natureza interdisciplinar que hoje permeia a Ciência e a Tecnologia.
Alguns tópicos recentes incluem o impacto do álcool no cérebro, tratamento de distúrbio bipolar para
casais, a dinâmica da bulimia, a droga ecstasy, a dinâmica das invasões, a dinâmica das gangues, e o
papel dos professores não credenciados nos níveis de abandono do ensino secundário. A pesquisa
dos estudantes do MTBI gerou várias publicações. Na verdade, os estudantes do MTBI foram os
primeiros a publicar um trabalho sobre um modelo para a dinâmica da população que sofre de bulimia.
["Am I too fat? Bulimia as an epidemia," Journal of Mathematical Psychology47, 515-526 (2003)].
O que os estudantes aprendem com seus próprios questionamentos é que a matemática é uma
ferramenta poderosa e que nunca se pode saber matemática o bastante. Meu conselho para os que
querem usar a matemática em aplicações é aprender o máximo possível de Matemática. Portanto, o
desafio é maior para aqueles que querem fazer uma diferença identificável usando Matemática,
profissionais conhecidos como matemáticos "aplicados". Eles precisam se tornar altamente versados
em Matemática Pura e Computacional e se especializar numa determinada área da Ciência.
Os contínuos avanços e mudanças de paradigmas em Biologia, no meio ambiente, e nas
Ciências Sociais oferecem um acesso "rápido" à vanguarda da pesquisa científica. O crescimento de
áreas como a matemática usada em Epidemiologia, Imunologia, Fisiologia, Neurobiologia, Genética,
Bioinformática, Biologia de Conservação e Segurança Nacional começaram a mudar a cultura da
comunicação em departamentos de Matemática de todo o país.
Assim, os estudantes que precisam muito saber "a razão da Matemática", agora podem achar
um lar em muitos programas de Matemática. O National Science Foundation e o National Institutes of
Health acharam por bem financiar programas como, por exemplo, o Programa Nacional de
Recrutamento do Integrative Graduate Education and Research Traineeship e de institutos que
promovem estudos interdisciplinares.
Congressos de Matemática
O 110º congresso anual da American Mathematical Society e o 87º congresso da Mathematics
Association of America destacaram a natureza temporal e de certa forma universal das respostas à
pergunta "o por quê da matemática". O congresso conjunto de 2004, que aconteceu de 7 a 10 de
janeiro de 2004 em Phoenix, no Arizona, incluiu sessões especiais sobre ensino da Matemática,
Mecânica Celeste, Modelagem de Recursos Naturais, Dinâmica Topológica e Teoria Ergódica, Teoria
Numérica, Modelagem Neurocientífica, Biomedicina, Genética e Epidemiologia, Dinâmica Competitiva
e Adaptativa em Ecologia, e outras coisas mais. Exemplos de palestras incluíram "Desafios
matemáticos em biologia molecular" e "Um novo tipo de ciência e o futuro da matemática”.
Então por que a Matemática? Felizmente, há uma crescente cultura que apóia a idéia de não
se ter necessariamente um única resposta! A importância de tais mudanças culturais e uma crescente
aceitação na diversidade de pensar fez com que vários programas acadêmicos com ênfase em
Matemática se tornassem receptivos a pessoas negras. As minorias estão interessadas em muitas
questões relacionadas à Saúde, mas especialmente em diabetes, nutrição e no impacto
socioeconômico em suas comunidades. A Matemática pode ajudar a resolver estes problemas,
portanto os desafios são nossos. Precisamos agir encorajando o desenvolvimento de matemáticos
oriundos da minorias, para que a contribuição futura de algumas das mentes mais brilhantes do país
não se perca.
Carlos Castillo-Chavez é um professor Joaquin Bustoz Jr. de biologia matemática da Arizona State University e seu e-mail de
contato é [email protected]
*Traduzido por Karen Shishiptorova
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