CIRCULAR N° 96 ISSN 0100-3356 eucena Utilização na Alimentação Animal José Pedro Garcia Sá1 ¹Eng° Agr° M.Sc., pesquisador da Área de Zootecnia. IAPAR. Caixa Postal 481, CEP 86001-970, Londrina-PR e membro da Comissão Paranaense de Avaliação de Forrageiras-CPAF. E-mail:[email protected]. INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ VINCULADO À SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO Rodovia Celso Garcia Cid, km 375 - Fone: (043)376-2000 - Fax: (043)376-2101 Cx. Postal 481 - 86001-970 - LONDRINA-PARANÁ-BRASIL DIRETORIA EXECUTIVA Diretor-Presidente: Florindo Dalberto PRODUÇÃO Editoração e revisão de texto: Edmilson G. Liberal Arte-final e capa: Tadeu K. Sakiyama Coordenação Gráfica: Antonio Fernando Tini Impresso na Área de Reproduções Gráficas Tiragem: 1.000 exemplares Todos os direitos reservados ao Instituto Agronômico do Paraná. É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte. É proibida a reprodução total desta obra. SUMÁRIO Pág. INTRODUÇÃO ...................................................................... CARACTERÍSTICAS GERAIS DA PLANTA......................... EXIGÊNCIAS DE CLIMA E SOLO...... . ................................ CLIMA................................................................................... 1 1 4 4 SOLO ............................................................................................ 4 IMPLANTAÇÃO .......................................................................... 5 PREPARO DO SOLO ................................................................... 5 ESPAÇAMENTO. ........................................................... ............... 6 ÉPOCA DE SEMEADURA ............................................................. 6 QUANTIDADE DE SEMENTES ..................................................... 6 MUDAS .......................................................................................... 6 ESCARIFICAÇÃO DAS SEMENTES............................................. 6 INOCULAÇÃO DAS SEMENTES .................................................. 7 PELETIZAÇÃO DAS SEMENTES ................................................. 7 PRODUÇÃO DE FORRAGEM E VALOR NUTRITIVO.......... INTOXICAÇÃO ..................................................................... GANHO DE PESO POR ANIMAL E POR ÁREA .................. PRODUÇÃO DE LEITE POR VACA...................................... UTILIZAÇÃO E MANEJO.. ........ .......................................... 8 8 9 10 10 BANCO DE PROTEÍNA OU LEGUMINEIRA ................................ 17 PASTEJO ...................................................................................... 17 MÉTODO AUSTRALIANO ............................................................ 17 APROVEITAMENTO DE ÁREAS DECLIVOSAS.................. RESUMO DAS FORMAS DE UTILIZAÇÃO ........................ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................... 18 20 21 INTRODUÇÃO A leucena é uma planta com múltiplas possibilidades de uso, podendo ser empregada para alimentação animal, adubação verde, sombreamento e obtenção de madeira ou lenha. Embora reconhecida como uma forrageira produtiva e de alta qualidade, ideal para corrigir as deficiências nutricionais dos pastos, seu emprego no Paraná ainda é restrito, o que pode ser atribuído aos seguintes fatores: a) ser de estabelecimento lento; b) preferir solos corrigidos, de melhor fertilidade e drenados; c) perder folíolos em épocas secas mais prolongadas e em consequência de geadas; d) exigir manejo cuidadoso, por se tratar de planta arbustiva, que pode atingir altura de crescimento além do alcance do animal; e) provocar intoxicação quando consumida em excesso. Esta publicação tem por objetivo sintetizar as informações e esclarecer o produtor sobre o uso adequado da leucena (tipo Peru) na alimentação animal. Uma outra publicação recente do IAPAR intitulada Leucena: resultados de pesquisa no Norte do Paraná (Informe da Pesquisa n° 122) traz outras informações que complementam esta Circular. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA PLANTA A leucena é uma leguminosa perene de porte arbustivo a arbóreo; geralmente de autofecundação; originária da América Central; possui sistema radicular profundo e pode atingir porte elevado quando deixada crescer livremente (Figura 1). Apresenta folhas de 15 a 25 cm de comprimento; flores brancas agrupadas em uma cabeça globular, e vagens finas e achatadas com 15 a 25 sementes de coloração marrom brilhante (Figuras 2, 3 e 4). De acordo com a velocidade de crescimento e hábito de ramificação, as cerca de 100 variedades de leucena são classificadas, segundo Gray (1969), em três grupos: 1 Fig. 1. Árvores de leucena (tipo Peru) em crescimento livre (sem cortes). Fig. 2. Leucena em flor. Fig. 3. Vagens de leucena. Fig. 4. Sementes de leucena (1 kg contém de 15 a 16 mil sementes). Tipo Havaiano - plantas baixas, com até 5 m de altura, arbustivas, bem ramificadas, florescimento precoce e baixa produção de forragem. Tipo Salvadorenho - plantas muito altas, com até 20 m de altura, eretas, pouco ramificadas, florescimento tardio, alta produção de forragem, madeira e lenha, sendo comumente conhecida por Havaí gigante, K 8, K 28 e K 67. Tipo Peru - plantas altas, com até 15 m de altura, eretas, muito bem ramificadas desde a base, florescimento tardio e com alta produção de forragem. A leucena tipo Peru (Leucaena leucocephala) é, dentre as dez espécies conhecidas, a mais importante e difundida em nosso meio, seguida pelas espécies L. diversifolia e L. pulverulenta. EXIGÊNCIAS DE CLIMA E SOLO CLIMA A faixa ótima de temperatura para o crescimento da leucena está entre 22°C e 30°C e raramente ela cresce em temperatura abaixo de 15°C. É tolerante à seca, mantendo-se verde durante o inverno, perdendo, no entanto, os folíolos quando sombreada e em períodos de seca mais prolongada e mesmo quando ocorre geadas leves. Geada severa pode provocar a morte de toda a parte aérea da planta, ocorrendo rebrota posteriormente somente na estação quente, o que resulta em atraso no desenvolvimento da planta. Algumas espécies de leucena crescem melhor em regiões altas e de temperaturas mais baixas como a L. diversifolia, L. pulverulenta e L. esculenta. SOLO Tem preferência por solos bem drenados e corrigidos quanto à acidez e ao alumínio tóxico. A Tabela 1 resume a adubação e a calagem necessárias para a implantação e manutenção da leucena. Consultar um engenheiro agrónomo para proceder os cálculos necessários, de acordo com as condições locais reveladas pelas análises de solo. 4 IMPLANTAÇÃO A leucena é uma planta de estabelecimento lento, principalmente na primeira fase depois da germinação das sementes, por apresentar uma baixa competição com plantas invasoras além de atrair formigas cortadeiras e lebres. Entretanto, após se estabelecer, rebrota e cresce vigorosamente. PREPARO DO SOLO Considerando-se um preparo convencional, com uma aração e duas gradagens, realizar a segunda gradagem a pouca profundidade (2 a 3 cm), depois de alguns dias de uma chuva e imediatamente antes do plantio. As sementes de plantas invasoras que germinaram e as plântulas que emergiram, no intervalo de tempo entre a chuva e a segunda gradagem, serão destruídas por essa operação e, esta, sendo rasa, evita que sementes de plantas invasoras que estavam a maior profundidade sejam trazidas à superfície. Desse modo reduz-se a probabilidade de plântulas de espécies invasoras emergirem antes ou junto com as plântulas de leucena. 5 ESPAÇAMENTO Plantios densos em espaçamento de 1 m entre fileiras com a finalidade de cortes freqüentes, permite manter os ramos de leucena mais finos devido a elevada população de plantas, o que garante forragem de melhor qualidade. Quando o objetivo for o pastejo direto empregam-se espaçamentos maiores, de 1,5 a 4 m entre linhas. Independente do espaçamento entre fileiras, as sementes na linha devem ficar distanciadas 5 cm e enterradas a uma profundidade de 2 a 4 cm. ÉPOCA DE SEMEADURA A semeadura realizada em outubro-novembro garante desenvolvimento mais rápido. Efetuada mais tarde (fevereiro-março) tem a vantagem de enfrentar menos invasoras, porém retarda seu desenvolvimento. QUANTIDADE DE SEMENTES Considerando que 1 kg de sementes de leucena de boa qualidade contém pelo menos 15 mil sementes, a quantidade» necessária, por, exemplo, para a semeadura em plantio denso (1 m entre linhas e 20 sementes por metro na linha) é de 13 kg/ha de sementes, 9 kg/ha em espaçamento de 1,5 m entre linhas e 6,5 kg/ha em espaçamento de 2 m entre linhas. Como esses cálculos se referem a sementes puras, com 100% de germinação, é necessário, na prática, dobrar tais quantidades, considerando uma germinação média de 50% após a escarificação. MUDAS Em locais de semeadura mais difícil é possível efetuar o plantio de mudas previamente desenvolvidas em sacos plásticos com 1 a 2 kg de terra de boa qualidade. Usar um espaçamento de 20 a 30 cm entre as mudas dentro da linha. ESCARIFICAÇÃO DAS SEMENTES Para germinar, sementes escarificadas, enquanto aquelas 6 mais novas armazenadas necessitam ser vão natural e gradativamente reduzindo a dormência ao longo dos anos. O ideal é fazer o teste de germinação antes de decidir pela necessidade de escarificação das sementes. Os métodos mais práticos para superar a dormência das sementes de leucena são: a) arranhar a superfície das sementes com o emprego de uma lixa comum, ns 120; b) sacudir as sementes em uma lata contendo pequenas pedras ou em uma lata com vários furos feitos com um prego de fora para dentro para formar uma superfície interna áspera (tipo ralador); c) ferver uma quantidade suficiente de água, apagar o fogo e mergulhar as sementes na água quente durante 10 minutos; d) cobrir as sementes com uma solução composta por três partes de água para uma parte de soda cáustica comercial (em escamas). Agitar cuidadosamente com um pedaço de madeira uma vez que o produto pode causar queimadura em contato com a pele. Deixar as sementes na solução durante uma hora. Em seguida, com a ajuda de uma peneira, lavar bem as sementes em água corrente, deixar secar à sombra sobre folhas de jornal, inocular com rizóbio ou peletizar (métodos descritos a seguir) e semear imediatamente ou, no mais tardar, dentro de uma semana. INOCULAÇÃO DAS SEMENTES A leucena pode fixar cerca de 200 kg/ha/ano de nitrogénio. Para garantir essa importante vantagem económica, é necessário fazer a inoculação com rizóbio específico (bactéria capaz de fixar o nitrogénio do ar atmosférico e passar para a planta). Aproximadamente 1 g do inoculante (na forma de pó preto ou turfa) é suficiente para inocular 200 g de sementes de leucena. O inoculante é um produto barato produzido no Paraná e pode ser recebido pelo correio quando solicitado à empresa produtora. O processo de inoculação é muito simples e na própria embalagem do pacotinho do inoculante vêm impressas as instruções de como proceder. PELETIZAÇÃO DAS SEMENTES Consiste em escarificar, inocular e cobrir as sementes com uma camada superficial de hiperfosfato na forma de pó bem fino. Tem a finalidade de proteger a bactéria do inoculante (pó preto) e fornecer 7 parte do fósforo necessário ao início de crescimento das plantas. O procedimento é o seguinte: a) misturar bem o conteúdo de um pacotinho de inoculante (pó preto) em meio copo d'água até formar uma lama preta; b) preparar uma goma utilizando farinha de trigo ou maizena mais água morna. Evitar formar grumos (pelotas); c) deixar esfriar a goma, misturá-la com o inoculante (lama preta) e despejar tudo sobre as sementes. Misturar bem, o que pode ser feito sobre um plástico ou piso de cimento; d) assim que as sementes ficarem uniformes e superficialmente tomadas pela goma mais inoculante, despejar o pó de hiperfosfato e misturar bem até que todas as sementes fiquem completamente revestidas; e) espalhar as sementes peletizadas sobre um jornal, na sombra e com boa ventilação até secarem completamente; f) o excesso de pó do adubo pode ser retirado com o auxílio de uma peneira; g) as sementes peletizadas devem ser semeadas num prazo de uma semana. PRODUÇÃO DE FORRAGEM E VALOR NUTRITIVO A leucena cresce mais no período quente com boa distribuição de chuvas e fertilidade adequada do solo. No Norte do Paraná a leucena produziu em média 15 toneladas de matéria seca consumível (folhas mais hastes finas), sendo 70% desse total no verão e 30% no inverno (Sá, 1997). O valor nutritivo da leucena é comparável ao da alfafa. É uma fonte adequada de proteína bruta (25% na fração folha e 17% na fração folha mais hastes de até meio centímetro de diâmetro), podendo substituir totalmente os concentrados proteicos tradicionais (farelos de soja e algodão). INTOXICAÇÃO Uma substância chamada mimosina existente em maior quantidade nos brotos e folhas da leucena, pode prejudicar a saúde dos animais. 8 O consumo de até 30% de leucena em relação ao total ingerido diariamente (ou 3% de leucena em relação ao peso vivo), não acarreta efeitos tóxicos. Um animal, por exemplo, de 400 kg de peso vivo pode consumir 12 kg/dia de leucena, o que significa 30% do total do volumoso consumido diariamente (aproximadamente 40 quilos). O sintoma mais claro de intoxicação por excesso de ingestão de leucena é a queda de pêlos da cabeça e na inserção da cauda. A recuperação do animal é mais rápida quanto mais cedo for interrompido o consumo de leucena. Também a menor exposição ao sol evita queimaduras da pele nas áreas onde ocorreu a queda de pêlos. Evitar fornecer leucena para equinos e asininos por serem mais sensíveis que os ruminantes. GANHO DE PESO POR ANIMAL E POR ÁREA Novilhas ¾ holandês-zebu com peso médio inicial de 237,5 kg, alimentadas com farinha de folhas de leucena e tendo como volumoso cana-de-açúcar mais 1% de ureia/sulfato de amónio, ganharam, em média, 870 g/dia de peso, em trabalho conduzido durante 84 dias na Estação Experimental do IAPAR de Ibiporã (Lançanova & Codagnone, 1994). Novilhos Nelore com peso médio de 256 kg, em pastejo de capim-colonião exclusivo, ganharam, durante o inverno, 63 g/cabeça/dia e, com acesso livre a um banco de proteína de leucena, o ganho de peso médio subiu para 189 g/cabeça/dia, em experirnento de três anos de duração conduzido em Nova Odessa, São Paulo (Lourenço, 1991). Em outro trabalho experimental também com novilhos da raça Nelore, conduzido em Nova Odessa (SP) durante 608 dias (novembro de 92 a julho de 94), a braquiária brizanta Marandu (brizantão), exclusivamente sob pastejo, permitiu ganho de peso de 334 g/cabeça/dia, ou 390 kg/ha; e com a inclusão de uma área de 25% de leucena na forma de banco de proteína o ganho de peso foi, em média, de 464 g/cabeça/dia, ou 541 kg/ha nesse período de pouco mais de 20 meses (Lourenço et ai., 1996). 9 PRODUÇÃO DE LEITE POR VACA A leucena pode reduzir o emprego de concentrados proteicos, constituindo-se num método de suplementação do gado leiteiro. Em experimento de curta duração, conduzido em Cuba com vacas holandesas em pastagem de grama estrela, foi observado que a suplementação diária com 4 a 5 kg de leucena foi capaz de produzir os mesmos 15 kg/vaca/dia de leite que a suplementação com 4 kg de concentrado (Senra et ai., 1982, citados por Funes e Jordan, 1987). Outro experimento também de curta duração (90 dias), conduzido em Cuba em pastagem de grama coast-cross, vacas holandesas que pastejavam leucena, durante uma hora depois da ordenha, alcançaram a mesma produção de 12 kg/vaca/dia de leite que a obtida quando a leucena foi substituída por 2 kg de concentrado (Senra et al., 1982, citados por Funes e Jordan, 1987). O pastejo de 4 horas diário de leucena, que ocupava 25% da área do pasto de capim-colonião, permitiu que vacas holandesas produzissem a média diária de 11,7 kg de leite em experimento conduzido num período de 124 dias em Cuba (Garcia, 1982, citado por Funes e Jordan, 1987). Na Estação Experimental do IAPAR de Ibiporã, vacas holandesas (PC), alimentadas durante 68 dias com silagem de milho com ureia produziram os mesmos 10,3 kg de leite que quando receberam 4 kg de ração ou 4 kg de folhas de leucena mais farelo de soja (Codagnone & Lançanova, dados não publicados). UTILIZAÇÃO E MANEJO A leucena exige um manejo específico mais cuidadoso devido a sua alta aceitabilidade pelos ruminantes (bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos), o que pode resultar em super pastejo, prejudicando os rebrotes das plantas e ainda provocar intoxicação dos animais devido ao consumo exagerado. O excesso de forragem produzida no verão pode ser aproveitado da seguinte maneira: incluir até 30% de leucena na silagem de milho ou sorgo ou secar e produzir farinha de folhas (25% de proteína bruta). As Figuras 5 a 16 ilustram as principais formas de utilização e manejo da leucena. 10 Fig. 5. Corte manual dos ramos de leucena (emprego de facão ou foice), realizado a 20-30 cm da superfície do solo, para fornecimento aos animais no cocho após picado em triturador. Fig. 6. Corte mais alto dos ramos de leucena (50 a 70 cm do solo) realizado com tesoura de poda, facão ou foice. Esse corte evita o desconforto do operador, que trabalha com a coluna mais ereta, e estimula rebrotas mais rápidas devido à maior quantidade de reservas na base da planta. Fig. 11. Folhas secas de leucena (25% de proteína bruta). Fig. 12. Folhas secas moídas (farinha) de leucena (25% de proteína bruta). Fig. 13. Farinha de leucena peletizada (facilita o armazenamento, distribuição e consumo, além de diminuir o volume e as perdas) Fig. 14. Rebrota de leucena em altura ideal de corte (manual ou mecânico) ou pastejo. Espaçamento de 1,5 m entre linhas. Fig. 15. Vacas secas pastejando leucena. Fig. 16. Animais de recria pastejando leucena (Estação Experimental do IAPAR em Ibiporã-PR). 16 BANCO DE PROTEÍNA OU LEGUMINEIRA São áreas utilizadas para corte ou pastejo onde há predominância ou mesmo exclusividade de leucena. Destinada a corte e fornecimento no cocho, a leucena é plantada em espaçamentos menores entre fileiras (1 m) e com a finalidade de pastejo direto é necessário espaçar mais as fileiras (1,5 m ou mais). Também é preciso cercar a área para controlar a entrada dos animais. PASTEJO Um critério é permitir a permanência dos animais durante dois dias por semana quando a legumineira representar 10% da área da pastagem. Outro sistema é formar 20% com leucena e deixar os animais entrarem na área 3 a 4 dias por semana ou 3 horas diariamente. Outra sugestão é formar 30% com leucena e liberar a entrada dos animais em dias alternados (dia sim, dia não) durante todo o inverno. No final do inverno torna-se necessário o rebaixamento da leucena a cerca de 20 cm da superfície do solo, visando estimular a produção de hastes finas com mais folhas, o que melhora a qualidade e o consumo da forragem e mantém a altura da planta mais acessível ao pastejo (2 m, no máximo). MÉTODO AUSTRALIANO Uma outra maneira de utilização do banco de proteína, descrito por Wildin (1980), é o desenvolvido na Fazenda Mona Vale (Austrália) de criação de gado mestiço zebu, cuja característica principal é que as plantas são deixadas crescer livremente em espaçamentos de 3 a 4 m entre fileiras, atingindo altura além do alcance dos animais (Figura 17). Durante nove meses do ano (março a dezembro), o gado tem acesso contínuo e livre à leucena, que ocupa 5% da área total da pastagem nativa da propriedade. É mantida uma lotação de 2,5 cabeças/ha na área de leucena. Os bovinos consomem rebrotas dos ramos laterais que conseguem alcançar e pequenas plantas nascidas do excesso de sementes caídas entre as fileiras das árvores. 17 Fig. 17. Banco de proteínas de leucena (Fazenda Mona Vale, Austrália). A quantidade de forragem aproveitável fora do alcance dos animais é sempre maior do que aquela que podem aproveitar. Essa parte alta representa reserva valiosa para o período de inverno, podendo, se necessário, cortar a copa de algumas árvores cuja forragem é deixada caída para consumo no próprio local. Acrescenta-se, em defesa do método, a maior proteção das plantas contra geadas, a receita da venda de sementes, a existência de raízes mais profundas que conseguem explorar mais umidade do solo, e não ter sido observado nenhum caso de intoxicação animal. APROVEITAMENTO DE ÁREAS DECLIVOSAS A grama mato-grosso (ou forquilha ou batatais ou gramão) costuma cobrir áreas de morro, cujo solo em muitos locais apresenta boa fertilidade, incompatível com a baixa oferta de forragem dessa grama, cuja importância principal se restringe a proteger essas áreas declivosas da ação erosiva das chuvas. As áreas de difícil mecanização cobertas por grama mato-grosso podem ser melhor aproveitadas na forma de banco de proteína de leucena, semeando-se a leucena sobre faixas de grama mato-grosso mortas cora herbicida glyphosate. Para isso, sugere-se a seguinte sequência de operações: 18 a) marcar com estacas as linhas onde será semeada a leucena, obedecendo o espaçamento de 2 m ou mais entre uma e outra (Figura 18); b) pulverizar o herbicida acompanhando o alinhamento das estacas (na linha), utilizando equipamento com um único bico na ponta da lança. A largura da faixa de grama morta será a mesma na faixa de pulverização proporcionada pelo bico e deverá ser, no mínimo, de 50 cm; c) esperar que toda a planta (parte aérea e raízes) fique seca e morra. Também como medida de precaução, aguardar mais alguns dias para o provável surgimento (ou reinfestação) de novas espécies de plantas indesejáveis (folhas largas) provenientes de sementes, as quais igualmente deverão ser eliminadas; d) as sementes de leucena serão semeadas com plantadeira manual (matraca) no meio da faixa onde terá boas condições de germinar e crescer sem a competição agressiva das outras espécies. No entanto, caso ainda necessário, capinar com enxada as invasoras remanescentes. Fig. 18. Esquema de uma área declivosa coberta por grama mato-grosso com leucena em faixas para utilização como banco de proteína. É conveniente cercar ao redor do morro para controlar a entrada dos animais. 19 O estaqueamento em linha, além de orientar a pulverização, facilitará o cálculo do volume de herbicida que será gasto na área (comprimento multiplicado pela largura da faixa). O herbicida glyphosate (formulação comercial de 480 g/l) é recomendado na dose de 200 ml do produto comercial em 10 1 de água. Considerando o uso de pulverizador costal manual, com vazão de 300400 l/ha, com bico tipo lçque 110.01 e mantendo-se a ponta da lança a uma altura entre 30-40 cm do alvo, consegue-se com 10 1 de solução (herbicida mais água) a cobertura de uma faixa de aproximadamente 1 m de largura por 250 a 333 m de comprimento (Passini, T., informação pessoal). RESUMO DAS FORMAS DE UTILIZAÇÃO O esquema seguinte (Figura 19) resume as principais formas de utilização da leucena na alimentação animal. 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FUNES, F.; JORDAN, H. Leche. In: RUIZ & FEBLES ed. Leucaena: una opción para Ia alimentación bovina en el trópico y subtrópico. Habana : Instituto de Ciência Animal, 1987. p. 129-43. GRAY, S.C. Breeding Leucaena leucocephala for Queenslands. Tropical Grasslands v.3, p.79, 1969. LANÇANOVA, J.A.C, e CODAGNONE, H.C.V. Efeitos de diferentes fontes proteicas no desempenho de novilhas mestiças em confinamento. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 31., Maringá, 1994. Anais... Maringá : SBZ, 1994. p.691. LOURENÇO, A.J. Leguminosas tropicais como banco de proteína em pastagens: efeitos no solo, na dieta e no ganho de peso de bovinos. Piracicaba : ESALQ, 1991. 17lp. (Tese de Doutorado). LOURENÇO, A.J.; CARRIEL, J.M.; BEISMAN, D.A. Desempenho de bovinos Nelore em pastagens de Brachiaria brizantha associada à Leucaena leucocephala. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 33., Fortaleza, 1996. Anais... Fortaleza : SBZ, 1996. p.10-2. MARUN, F. ; ALVES, S.J. Nutrição, adubação e calagem de forrageiras no Estado do Paraná. In: Forragicultura no Paraná. Londrina : CPAF, 1996. p.53-73. MARUN, F. Nutrição, adubação e calagem da Leucaena leucocephala (Lam) de Wit utilizada como forrageira no Estado do Paraná. IAPAR (no prelo). SÁ, J.P.G. 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