TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Econômica HONG KONG E

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TRABALHOS TÉCNICOS
Divisão Econômica
HONG KONG E MACAU NO INTERCÂMBIO COM A CHINA
Carlos Tavares de Oliveira
Assessor de comércio exterior da CNC
Sem dúvida, essas duas belas cidades, à beira mar, no próspero delta do rio das Pérolas, com a abertura econômica decretada por Deng Xiaoping, em 1979, tornaram-se movimentadas portas de entrada do mercado chinês, que não para de crescer. Pouco conhecidas dos
brasileiros, Hong Kong e Macau – ao Sul e bem longe das badaladas Pequim e Xangai, as
principais cidades da China – reúnem todas as condições não só para o estabelecimento de
negócios como para o início de um roteiro turístico.
Coincidentemente, as duas metrópoles têm características semelhantes: ambas tiveram
longo tempo sob domínio estrangeiro e possuem parte do território em ilhas. Com população
quase totalmente chinesa, tanto Hong Kong quanto Macau estão, de fato, agora bem integradas no sistema econômico da potência asiática.
Para começar, Hong Kong, após 155 anos sob tutela da Inglaterra – como troféu da
deplorável Guerra do Ópio –, em 1997, devidamente reanexada à China, acabou se tornando o
principal centro econômico e financeiro da Ásia e um dos maiores do mundo. Por lá, em
2010, foi processada mais da metade dos investimentos estrangeiros na China, bem como, dos
que ela realizou no exterior. Agora, como Região Administrativa Especial de Hong Kong
(Raehk), dispõe também de porto modelar, segundo da China e terceiro do ranking mundial
na movimentação de contêineres.
Verdadeiramente impressionante a credencial da Raehk – com seus 7 milhões de habitantes numa área de 1,1 mil km² entre a ilha e parte do Continente – como cidade moderna,
rica e confortável. Em 2010, crescendo 6,8%, o Produto Interno Bruto chegou a US$ 224 bilhões, com a renda per capita alcançando US$ 31,7 mil, e inflação não passando de 2,4%. A
balança comercial subiu 23%, com exportação total (contando a reexportação, mais 22%)
somando US$ 388,6 bilhões e importação (mais 25%) atingindo US$ 431,4 bilhões.
O seu ultramoderno porto – com equipamentos e criações inexistentes em nenhum
outro complexo entre os maiores da escala mundial – tem apenas área de 50 km², com 10 km
de cais e 24 berços de atracação. Mas, em compensação, utiliza edifício de 13 andares para
armazenar contêineres e também os movimenta em grandes barcaças, ao largo do cais, no
costado dos navios.
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Dispensando a autoridade portuária e a gestão pública direta, toda a respectiva estrutura está subordinada ao Departamento de Marinha da Raehk, que cuida apenas, discretamente,
das indelegáveis tarefas de fiscalização e controle do tráfego marítimo. Operando com toda a
autonomia, os serviços do porto (Kwai Chung) estão entregues a cinco grandes terminais
privados, mais conhecidos por suas siglas: HIT, MTL, CHT, ACT e CT3.
Aliás, essa situação do porto - sem burocracia, taxas abusivas e prevalência do setor
privado - deve ter contribuído bastante para a Raehk manter, nesses 14 anos, o título de “maior centro mundial da economia de mercado”, outorgado pela Heritage Foundation/ Wall Street
Journal e o Cato Institute, dos Estados Unidos. Em 2010, o porto movimentou 267 milhões de
toneladas de carga e 23,5 milhões de Teus (contêineres de 6,2 metros), mantendo-se entre os
líderes do setor. Cerca de 180 mil navios internacionais e fluviais ali atracam anualmente,
tornando o porto o mais movimentado nesse item.
Entre os cinco terminais em que se subdivide o serviço do porto, o maior deles, o
Hong Kong International Terminal (HIT), da multinacional Hutchison Port Holding (pertencente ao bilionário chinês Li Ka-shing), dispondo de 4,5 km de cais, com 12 berços, tem a
responsabilidade de cerca da metade da movimentação geral do porto. A vantagem do HIT é
que a Hutchison, além de possuir frota de navios mercantes (porta-contêineres), controla a
maior cadeia mundial de portos/terminais privados, com 292 berços em 25 países. Inclusive
tornou-se proprietária do Europe Container Terminals, responsável por 80% da movimentação
de Roterdã, o maior porto europeu.
Para a orientação geral de negócios dessa importante cidade-porto, foi criado o Hong
Kong Trade Development Council (HKTDC), que coordenou essa minha nova visita. O
HKTDC dispõe de 40 escritórios em todo o mundo, inclusive 11 nas principais cidades chinesas, dispondo de 900 mil importadores registrados. O escritório de São Paulo, situado na rua
Cel. Xavier de Toledo, 316 (tel: 113159-0765 – e-mail: [email protected]), tem
a direção da experiente executiva Marina Barros.
MACAU
No encerramento dessa produtiva visita à China, apresentou-se a cidade de Macau, antiga concessão portuguesa e atualmente também centro de negócios, além de importante polo
turístico do delta. Com a natural e devida reanexação à China, em 1999, a bela cidade (semelhante ao Rio de Janeiro) tornou-se a Região Administrativa Especial de Macau (Raem), situada em 29,5 km² de área, com população de 560 mil habitantes.
Os resultados financeiros são extraordinários: PIB de US$ 26 bilhões, com a renda per
capita chegando a US$ 39 mil, nível dos principais países industrializados. A moeda local é a
pataca, que equivale a 8 dólares.
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A grande atração da Raem são os seus moderníssimos 33 cassinos, com 4.853 mesas
(roleta, bacará, etc) e 13.787 máquinas caça-níqueis funcionando ininterruptamente, durante
toda a semana. O maior deles, o Venetian, de amplidão e beleza indescritíveis, com um hotel
com 3 mil luxuosas suítes, tem em sua volta o canal em que circulam embarcações, imitando
Veneza.
Além do bilionário chinês Stanley Ho, controlam o jogo em Macau as multinacionais
Las Vegas Sands, Four Seasons, Winn e outras. Em 2010, com elevado crescimento de 57%,
o faturamento da rede chegou a US$ 23,6 bilhões, confirmando sua posição de maior centro
mundial do jogo em cassinos. Até maio deste ano, batendo recorde, crescendo 43%, o faturamento havia atingido US$ 12,9 bilhões, e no final do exercício o total deverá ser cerca de três
vezes superior ao de Las Vegas (EUA).
É importante assinalar que o jogo, regulamentado e fiscalizado, funciona muito bem,
sem fraudes, lavagem de dinheiro ou outras irregularidades, como em Mônaco, Punta del Este
ou Las Vegas. E traz grandes benefícios para a cidade (e o país), com a entrada de turistas –
foram 24 milhões em 2010 –, além dos empregos criados e os tributos cobrados, 35%, destinados exclusivamente à saúde e à educação.
Brevemente essa rica região do delta terá novo estímulo para sua economia, com a
extensa ponte (com 50 km, a maior do mundo) que ligará as cidades de Hong Kong, Macau e
Zhuhai, iniciada em 2009 e com conclusão prevista para 2014.
Os empresários que desejarem estabelecer negócios com base em Macau dispõem
de amplos escritórios de brasileiros e duas instituições. Presidido pelo empresário Jorge
Rangel, o Instituto Internacional de Macau (IIM) – que me ofereceu total assistência – funciona na Rua de Berlim, Edifício Magnificent Court, tel: 853-2875 1727 – e-mail:
[email protected]. Por seu turno, o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento
de Macau (Ipim), fica na Avenida da Amizade, nº 918, tel: 853-2871 0300, fax: 853-2859
0309, e-mail: [email protected]
Finalmente, os empresários que forem à China não precisam levar seus notebooks,
pois nos quartos dos bons hotéis (como nos cinco em que estive em Pequim, Tianjin, Xangai,
Hong Kong e Macau) existem não só televisões, ligadas à rede internacional, como computadores para livre contato com o exterior. Sem censura, restrições ou interferência governamental, a China tem atualmente o maior número não só de usuários de telefones celulares e de
televisões, como também de internet, que já são 477 milhões.
Ao encerrar esta série de reportagens, cabe uma rápida apreciação sobre o que encontrei na China, após 19 anos da última visita.
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Quando tratou da reanexação de Macau e Hong Kong, inclusive em frígida reunião
com a primeira-ministra Margareth Thatcher, em 1984, o arguto Deng referindo-se à antiga
colônia inglesa, não só falou em “50 anos para total integração”, como criou o célebre lema
“um país com dois sistemas econômicos”. Evidentemente que essas duas frases de efeito foram criadas para tranquilizar não só ingleses e portugueses, mas também muitos compatriotas
radicais. No entanto, como agora se verifica, não serão necessários 50 anos, nem existem mais
os dois sistemas, pois toda a China prospera com a economia de mercado. Certamente não foi
a economia “centralmente planificada” que manteve o país, desde 1979, em crescimento acelerado de 10% ao ano.
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