Aula de Parasitologia Clínica Michel Parente Gomes Teníase e Cisticercose Classe: Cestoda Gênero: Taenia Agente etiológico: Taenia solium e Taenia saginata Nome popular: solitárias Teníase e cisticercose: causadas pela mesma espécie, porém com fases de vida diferentes. Teníase: forma adulta de Taenia solium e Taenia saginata no intestino delgado do hospedeiro definitivo, os humanos. Cisticercose: alteração provocada pela presença da larva (vulgarmente chamada de canjiquinha) nos tecidos hospedeiros intermediários normais, tais como suínos e bovinos. A cisticercose é altamente endêmica em áreas rurais da América Latina (México, Guatemala, El Salvador, Honduras , Colômbia, Equador, Perú, Bolíviae Brasil). No Brasil é endêmica nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Morfologia: Verme adulto: a Taenia solium e Taenia saginata apresentam corpo achatado, dorsoventralmente em forma de fita, dividido em escólex ou cabeça, colo ou pescoço e estróbilo ou corpo. São de cor branca leitosa com a extremidade anterior bastante afilada e de difícil visualização. Escólex: órgão de fixação no intestino. Apresenta 4 ventosas. Colo: área de crescimento (gerador de proglotes). Estróbilo: é o restante do corpo do parasito. Inicia-se após o colo, observando-se diferenciação que permite o reconhecimento de órgãos internos, ou da segmentação do estróbilo. Cada segmento formado denomina-se proglote ou anel. As proglotes são subdivididas em: jovens, maduras e grávidas. Proglotes jovens ou imaturas: contém apenas esboços de órgãos. Proglotes maduras: aparelho genital feminino e masculino completamente formados. Proglotes grávidas: apenas útero abarrotado de ovos. Essas proglotes sofrem apólise (desprendem-se espontaneamente do estróbilo). Apólise das proglotes grávidas: Taenia solium: de 3 a 6 anéis reunidos. Taenia saginata: 1 a 1 isoladamente deixam o intestino ativamente no intervalo das defecações. São móveis e forçam o esfíncter anal. Ovos: esféricos, medindo cerca de 30 µm de diâmetro. Embrião hexano (oncosfera) com 6 acúleos e dupla membrana. Casca de cor marrom, estriada radialmente. Cisticerco: Taenia solium: vesícula translúcida com líquido claro. Em seu interior: 1 escólex com 4 ventosas, rostelo e colo. Taenia saginata: mesma morfologia, diferenciando apenas pela ausência do rostelo. No sistema nervoso central humano, o cisticerco pode se manter viável por vários anos. Durante este tempo, observam-se modificações anatômicas e fisiológicas até a completa calcificação da larva. Estágio vesicular: o cisticerco apresenta membrana veicular delgada e transparente, líquido vesicular incolor e hialino e escólex normal; pode permanecer ativo por tempo indeterminado ou iniciar processo degenerativo a a partir da resposta imunológica do hospedeiro. Estágio coloidal: líquido vesicular turvo (gel esbranquiçado) e escólex em degeneração alcalina. 1 Estágio granular: membrana espessa, gel vesicular apresenta deposição de cálcio e o escólex é uma estrutura mineralizada de aspecto granular. Estágio granular calcificado: o cisticerco apresenta-se calcificado e de tamanho bastante reduzido. A larva cisticercóide perde a forma elipsóide para assumir um aspecto irregular. O escólex não é identificado e o tamanho pode variar de 10 a 20 cm. Estas larvas são formadas por várias membranas aderidas umas às outras, formando agrupamentos semelhantes a cachos de uvas. É encontrada no SNC, com maior frequência nos ventrículos cerebrais e espaço subaracnóideo. O Cisticercus racenosus não foi registrado até o momento em animais domésticos, apenas em tecidos humanos. Biologia: Habitat: Taenia saginata e Taenia solium em fase adulta ou reprodutiva viem no intestino delgado humano. Cisticerco da Taenia solium é encontrado no tecido subcutâneo muscular, cardíaco, cerebral e no olho de suínos, e acidentalmente, em humanos. Cisticerco de Taenia saginata é encontrado nos tecidos dos bovinos. Ciclo biológico: Ciclo Taenia saginata Ciclo Taenia solium 2 Transmissão: Teníase: o hospedeiro definitivo (humanos) infecta-se ao ingerir carne suína ou bovina, crua ou mal cozida, infectada, respectivamente pelo cisticerco de cada espécia de Taenia. A cisticercose humana é adquirida pela ingestão acidental de ovos viáveis da Taenia solium que foram eliminados nas fezes de portadores de teníase. Os mecanismos de infecção humana são: Auto infecção externa: proglotes e ovos levados à boca por mãos contaminadas. Auto infecção interna: poderá ocorrer durante vômitos ou movimentos retroperistálticos do intestino, possibilitando presença de proglotes grávidas ou de Taenia solium no estômago. Estes, depois da ação do suco gástrico e posterior ativação das oncosferas voltariam ao intestino delgado, desenvolvendo o cilo auto-infectante. Heteroinfecção: humanos ingerem alimentos ou água contaminados com ovos disseminados no ambiente através das dejeções de outro paciente. Patogenia e sintomatologia: Teníase: devido ao longo período que parasita o homem podem causar: fenômenos tóxicos alérgicos, provoca hemorragias através da fixação da mucosa; destruir o epitélio e produzir inflamação com infiltrado celular com hipo ou hipersecreção de muco, suplemento nutricional, tonturas, astenia, apetite excessivo, náuseas, vômitos, alargamento do abdômem, dores de vários graus de intensidade em diferentes regiões do abdômem, perda de proglote no apêndice. Cisticercose: Em humanos: alterações nos tecidos e grandes variedades de manifestações. Alojam-se em tecidos musculares ou subcutâneos, glândulas mamárias (mais raramente), globo ocular e com mais frequância no SNC, inclusive intramedular, o que traz maiores repercussões clínicas. 79 a 96% de neurocisticercose no Brasil (SNC). Manifestações clínicas causadas pelo C. Cellulosae, vai depender de vários fatores como: número, tamanho e localização dos cisticercos; estágio de desenvolvimento, viáveis em degeneração ou calcificados, e, finalmente, à resposta imunológica do hospedeiro aos antígenos da larva. As localizações mais frequentes dos cisticercos no SNC são córtex e leptomeninge (substância cinzenta). Cerebelo e medula espinhal são mais raras. As manifestações clínicas em geral aparecem alguns meses após a infecção. Em cerca de 6 meses o cisticerco está maduro e tem uma longevidade estimada entre 2 e 5 anos no SNC. No início da fase de degeneração da larva podem ocorrer graves consequências como encefalite focal, edema dos tecidos adjacentes, vasculite e ruptura da barreira hematoencefálica. As manifestações clínicas mais frequentes são: crises epiléticas, síndrome de hipertensão intracraniana, cefaléias, meningite cisticercótica, distúrbios psíquicos e síndrome medular (mais raramente). 3 Diagnóstico Parasitológico: Ovos de Taenia nas fezes; Pesquisa de proglotes; Elisa – coproantígenos (CoAg). Clínico: Relatos, como procedência do paciente. Laboratorial: Pesquisa do parasito através de observações anatomopatológicas das biopsias, necropsias e cirurgias. Imunológico: LCR (líquido cefalorraquidiano); Elisa; EITB (Imunoblot ou Enzime-Linked Imuno Electrotransfer Blot) é considerada a melhor para o diagnóstico da cisticercose em decorrência da alta sensibilidade e especificidade produzindo altos valores preditivos positivos sendo útil em estudos epidemiológicos. Neuroimagens: RX; TC (Tomografia Computadorizada) – é o método de escolha; RNM (Ressonância Nuclear Magnética). Epidemiologia Áreas populacionais onde se consomem carne de porco ou de boi crua ou mal mal cozida; No Brasil, há falta de dados recentes sobre a incidência da doença em animais; Devido às precárias condições de higiene de grande parte da população, métodos de criação extensiva dos animais e o hábito de ingestão de carne pouco cozida ou assada; Profilaxia Liberação de carnes adequadas para o consumo da população; Tratamentos especiais para as carcaças com cisticerco (salga por 21 dias, defumação, refrigeração à -10C por 10 dias) ou rejeição total para o consumo humano, podendo haver aproveitamento das carcaças para a fabricação de farinhas; Impedir o acesso do suíno e do bovino às fezes humanas; Saneamento básico; Tratamento em massa dos casos humanos nas populações-alvo; 4 Orientar a população à não comer carne crua ou mal cozida; Estimular a melhoria do sistema de criação de animais; Inspeção rigorosa da carne e fiscalização dos matadouros. Tratamento Niclosamida: 2 em 2 comprimidos intervalados de 1 hora (pela manhã); Obs: uma hora após a ingestão dos últimos comprimidos, o paciente deverá ingerir 2 colheres de leite de magnésia para facilitar a eliminação das Taenias inteiras e evitar a auto-infecção interna por Taenia solium Praziquantel: 4 comprimidos de 150 mg em dose única Obs: o praziquantel não deve ser empregado para o tratamento da teníase em pacientes e cisticercose ao mesmo tempo. Neste caso, é recomendado o tratamento separado e específico para cada uma das formas clínicas. Tratamento da neurocisticercose Praziquantel (pacientes sintomáticos): associar corticóides; Albendazol (medicamento de escolha): 2 comprimidos em dose única durante 8 dias; Obs: associar dexametazona com propósito de atenuar a reação inflamatória observada durante o tratamento. Principais diferenças entre Taenia solium e Taenia saginata Estrutura Taenia solium Taenia saginata Escólex Globoso Com rostro Com dupla fileira de acúleos Quadrangular Sem rostro Sem acúleos Proglotes Ramificações uterinas pouco numerosas, de tipo dentrítico Saem passivamente com as fezes Ramificações uterinas muito numerosas, de tipo dicotônico. Saem ativamente no intervalo das defecações Cysticercus C. celulosae Apresenta acúleos C. bovis Não apresenta acúleos Capacidade de levar à cisticercose humana Possível Não comprovada Ovos Indistinguíveis Indistinguíveis 5