UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO ROSEANE NUNES DE SANTANA DISCOPATIA INTERVERTEBRAL EM CÃES E REABILITAÇÃO FISIOTERÁPICA: REVISÃO DE LITERATURA. SALVADOR-BA 2009 1 ROSEANE NUNES DE SANTANA DISCOPATIA INTERVERTEBRAL EM CÃES E REABILITAÇÃO FISIOTERÁPICA: REVISÃO DE LITERATURA. Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), como pré requisito para obtenção do título de especialização em Clínica Médica de Pequenos Animais. Orientador: Prof. M.Sc Euler Moraes Penha SALVADOR-BA 2009 2 ROSEANE NUNES DE SANTANA DISCOPATIA INTERVERTEBRAL EM CÃES E REABILITAÇÃO FISIOTERÁPICA: REVISÃO DE LITERATURA. Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do semi – árido ao Departamento de Agrotecnologia e Ciências Sociais para obtenção do título de especialização em clínica médica de pequenos animais. APROVADA EM ______/______/______ BANCA EXAMINADORA ________________________________________________________ Prof. – UFERSA Presidente ________________________________________________________ Prof. – UFERSA Primeiro Membro ________________________________________________________ Prof. – UFERSA Segundo Membro [SA1] Comentário: VEJA A ANTERIOR COLE 3 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço a Deus por me dar força e coragem de seguir em frente e não desistir dos meus sonhos; Aos animais, seres indefesos e sem maldade a minha vida sem eles não teria graça. Dedico esta vitória a todos eles, pois nas atitudes, gestos e olhares fizeram com que eu me dedicasse com todo amor e carinho ao curso de Medicina Veterinária. Agradeço principalmente a meus filhos Bob, Prince, Lua e Vitória, vocês são a minha alegria e também aos animais que me deixam muitas saudades e lembranças tristes: Sonho, Tito, Sucker, Ruan, Bonnie e Billy; Sou muito grata a minha mãe e super amiga, Teca, por estar sempre ao meu lado com sua calma, bondade e paciência, me orientando e me ajudando. Obrigada por ter me dado forças para mudar de curso e seguir minha vocação. Você é tudo para mim!!! A meu pai, Enaldo, por ter me proporcionado à realização deste sonho e por ser para mim, um exemplo de homem batalhador. Obrigado por tudo!!! A meus irmãos Elder e Edinho, pelo apoio que me dão sempre. Pai, mãe e irmãos, amo vocês!!! Agradeço a Fabrício, meu esposo, amigo e companheiro, pelo incentivo carinho e amor que me proporciona. Saiba que te admiro muito como pessoa e como profissional. Te amo!!! A minha filha Clarice que me proporcionou um grande amadurecimento e uma felicidade inexplicável. Mamãe te ama muito!!! Agradeço a minha sogra e amiga Clese por ter me ajudado e incentivado para realização dessa pós – graduação; A minha grande amiga-irmã e agora fisioterapeuta dos cães Dra. Cyntia Torres. Saiba que sem sua participação e apoio este trabalho não estaria completo. você é especial, te adoro!!! Ao pessoal da Vet Spa, Bia e Cecília foi muito bom esses dias aí, saibam que aprendi muito com vocês!!! Aos amigos e professores da pós, Laurinha obrigada pelo carinho e atenção; A Euler, por que além de ser um excelente profissional, tem um caráter espetacular, demonstrando sempre honestidade e simplicidade. Valeu Professor!!! 4 RESUMO A Discopatia intervertebral é uma das patologias mais comuns que causam sinais neurológicos em cães, sendo a reabilitação física muito útil na recuperação da qualidade de vida dos pacientes que apresentam esta enfermidade. Reabilitação física é o tratamento das doenças por meio da utilização de agentes físicos como calor, frio, água, som eletricidade e massagem. As modalidades de fisioterapia utilizadas na doença de disco intervertebral podem ser: massoterapia, cinesioterapia, termoterapia e eletroterapia, além disso, podem ser usados aparelhos como o ultra-som terapêutico e o laser. Estas modalidades poderão ser usadas em cães que estejam recebendo tratamento clínico ou no pós-operatório de animais submetidos à cirurgia. Os protocolos para reabilitação física em cães com Discopatia intervertebral são estipulados de acordo com a necessidade do paciente, e das metas a serem alcançadas. Palavras-chave: Cães; Discopatia Intervertebral; Reabilitação Física. 5 ABSTRACT The invertebral disk disease is one of abnormalities that more signs neurological in dogs, still the physical rehabilitation so much helpful in the quality of patients’ life that presents this illness. Physical rehabilitation is the disease treatment whereby utilization of physicals agent as heat, cold, water, electricity sound and massage. The physiotherapy arrangements used in invertebral disk disease can be: mass therapy, kinesiotherapy, thermotherapy and electrotherapy, besides, can be used apparatus as the therapeutic ultrasound and the laser. These arrangements can be used in dogs that were receiving clinic treatment or in the postoperative of animals subjected to surgery. The protocols to dog’s physicals rehabilitation with invertebral disk disease are stipulated according the patient’ necessity, and the targets to be achieved. Key-words: Dogs; Invertebral Disk Disease; Physical Rehabilitation. 6 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1 – Anatomia de uma vértebra típica.................................................................... 12 Ilustração 2 – Anatomia do disco intervertebral - corte transversal do disco intervertebral (na região central internamente está o núcleo pulposo e externamente o anel fibroso).................................................................................................... 13 Ilustração 3 – Medula espinhal e segmentos medulares - Intumescências (cervical e lombar) e segmentos medulares...................................................................... 15 Ilustração 4 – Neurônio Motor superior e Inferior - Localização do neurônio motor superior (NMS) e do neurônio motor inferior (NMI), no cão......................... 16 Ilustração 5 – Relação entre disco intervertebral e medula espinhal...................................... 17 Ilustração 6 – Hérnia de Hansen do tipo I.............................................................................. 19 Ilustração 7 – Sinais clínicos da hérnia de disco.................................................................... 22 Ilustração 8 – Exame do posicionamento proprioceptivo...................................................... 24 Ilustração 9 – Reflexo tricipital, plexímetro próximo ao olecrano.......................................... 26 Ilustração 10 – Reflexo Patelar.............................................................................................. 27 Ilustração 11 – Reflexo de retirada........................................................................................ 28 Ilustração 12 – Radiografia Simples...................................................................................... 30 Ilustração 13 – Radiografia contrastada................................................................................. 31 Ilustração 14 – Técnicas descompressivas............................................................................. 35 Ilustração 15 – Massagem por amassamento (Petrissage) - Terapeuta enrolando a pele e o tecido subcutâneo da coluna vertebral de um cão......................................... 39 Ilustração 16 – Alongamento – Tração na coluna vertebral de um animal de raça shi-tzu com hérnia toracolombar.............................................................................. 40 Ilustração 17 – Exercício Passivo – Terapeuta realizando flexão nos músculos, tendões e ligamentos dos membros pélvicos do animal.................................................. 41 Ilustração 18 – Exercício ativo assistido – Uso de uma toalha na região inguinal para auxiliar o animal na sustentação do corpo.................................................... 42 Ilustração 19 – Pista de Propriocepção - pista com pisos diferentes, para treinamento proprioceptivo.................................................................................................. 43 7 Ilustração 20 – Influência da altura da água no peso do animal............................................ 44 Ilustração 21 – Animal de raça Golden Retriever, com 7 meses de idade, na esteira aquática...... 45 Ilustração 22 – Eletroterapia - Aparelha de estimulação elétrica utilizado na aplicação da neuroestimulação elétrica transcutânea (TENS), estimulação elétrica neuromuscular (EENM)................................................................................ 48 Ilustração 23 – TENS - Realização de Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea (TENS) na região da coluna vertebral torácica de um animal com hérnia de disco torácica.......................................................................................................... 51 Ilustração 24 – Ultra-som – Aparelho de ultra-som terapêutico............................................ 53 Ilustração 25 – Laser – Aplicação do laser de forma pontual na coluna vertebral de um cão.......... 54 8 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Sinais de lesões nos neurônios motores................................................................ 25 Quadro 2 – Prognóstico da lesão medular segundo os sinais observados............................... 32 [SA2] Comentário: TITULO IGUAL A ILUSTRAÇÃO 9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................10 2 REVISÃO DE LITERATURA ...............................................................................11 2.1 ASPECTOS GERAIS DA COLUNA VERTEBRAL..............................................11 2.1.1 Anatomia............................................................................................................11 2.1.1.1 Discos intervertebrais .......................................................................................12 2.1.1.2 Músculos associados à coluna vertebral ............................................................13 2.1.2 Neuroanatomia ..................................................................................................14 2.1.2.1 A medula espinhal e o canal vertebral ...............................................................14 2.1.2.2 Neurônio motor inferior e superior....................................................................15 2.1.3 Biomecânica .......................................................................................................16 2.2 DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL .........................................................17 2.2.1 Etiologia .............................................................................................................17 2.2.2 Fisiopatologia .....................................................................................................18 2.2.3 Sinais Clínicos ....................................................................................................19 2.2.4 Diagnóstico.........................................................................................................22 2.2.4.1 Exame clínico geral ..........................................................................................22 2.2.4.2 Exame neurológico ...........................................................................................22 2.2.5 Diagnóstico por Imagem ...................................................................................29 2.2.5.1 Radiografia simples ..........................................................................................29 2.2.5.2 Radiografia contrastada ....................................................................................30 2.2.5.3 Outras técnicas de diagnóstico por imagem .......................................................31 2.2.6 Diagnóstico Diferencial .....................................................................................32 2.2.7 Prognóstico ........................................................................................................32 2.2.8 Tratamento ........................................................................................................33 2.2.8.1 Tratamento clínico ............................................................................................33 2.2.8.2 Tratamento cirúrgico ........................................................................................34 2.3 REABILITAÇÃO FÍSICA .....................................................................................35 2.3.1 Modalidades de Reabilitação Física Utilizadas na Doença do Disco Intervertebral .............................................................................................................36 2.3.1.1 Massoterapia ....................................................................................................36 2.3.1.2 Cinesioterapia ...................................................................................................38 2.3.1.3 Hidroterapia .....................................................................................................43 2.3.1.4 Termoterapia ....................................................................................................46 2.3.1.5 Eletroterapia .....................................................................................................47 2.3.1.6 Ultra-som terapêutico .......................................................................................52 2.3.1.7 Laser terapêutico ..............................................................................................53 2.3.2 Protocolos...........................................................................................................54 2.3.2.1 Abordagens no tratamento conservativo............................................................55 2.3.2.2 Abordagens no pós-operatório ..........................................................................56 3 OBJETIVOS............................................................................................................58 3.1 GERAL ..................................................................................................................58 3.2 ESPECÍFICOS .......................................................................................................58 4 DISCUSSÃO............................................................................................................59 5 CONCLUSÃO .........................................................................................................60 6 REFERÊNCIAS ......................................................................................................61 10 1 INTRODUÇÃO A Discopatia intervertebral em cães é uma patologia comum em cães e causa muitos sinais neurológicos, tais como: deficiências proprioceptivas, paresia, paralisia e perda da sensibilidade superficial e/ou profunda. Estes sinais podem ser compensados com a reabilitação física em conjunto com o tratamento clínico e/ou cirúrgico da doença do disco intervertebral. Apesar da grande evolução da medicina veterinária, a reabilitação física de animais no Brasil deixa muito a desejar e infelizmente muitos animais paralíticos ou paraplégicos ainda são eutanasiados sem passar se quer por nenhuma tentativa de reabilitação. Existem várias modalidades de fisioterapia que podem ser usadas para o benefício do paciente com discopatia intervertebral. Para isto é importante saber qual a função de cada uma no organismo do animal e qual freqüência, tempo e intensidade, estas podem ser utilizadas. Para que o veterinário realize um tratamento fisioterapêutico correto em cães acometidos com discopatia intervertebral é necessário que tenha um bom conhecimento da anatomia e neuroanatomia da coluna vertebral canina, e da semiologia dos exames físicos e neurológicos, e assim identificar quais sinais clínicos estejam acometendo o cão e tentar fazer com que este volte próximo ou até mesmo aos padrões de sua fisiologia normal. Antes do início da reabilitação, o animal deve ser examinado atentamente, quanto aos exames físicos e neurológicos. É necessário também a observações dos exames que foram usados para diagnosticar a patologia, além disso, é importante saber qual o local da lesão na coluna vertebral. Os protocolos de fisioterapia são estipulados de acordo com as necessidades do paciente e podem ser alterados durante o curso do tratamento. 11 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 ASPECTOS GERAIS DA COLUNA VERTEBRAL 2.1.1 Anatomia A Coluna vertebral estende-se do crânio até a ponta da cauda, envolve e protege a medula espinhal e estruturas acessórias dentro do canal central, de um modo geral, protege as estruturas do pescoço, do tórax do abdome e da pelve. (DYCE et al., 1997). As vértebras da coluna vertebral estão arranjadas em cinco grupos: cervical, torácica, lombar, sacral e caudal (EVANS; deLAHUNTA, 2001). O cão tem 7 vértebras cervicais, 13 torácicas, 7 lombares e 3 sacrais (DYCE, et al., 1997). Segundo Evans; deLahunta (2001), uma vértebra típica consiste em um corpo; um arco vertebral formado por pedículos e lâminas direitas e esquerdas; processos transversos, espinhosos e articulares (Ilustração 1). O corpo de uma vértebra possui constrição central, a extremidade cranial é convexa e a caudal é côncava. Os corpos vertebrais adjacentes são ligados pelos discos intervertebrais. O arco subdivide-se em partes basais, os pedículos, e a porção dorsal formada por duas lâminas, juntamente com o corpo o arco vertebral forma um tubo, o forame vertebral, todos os forames vertebrais em conjunto formam o canal vertebral. Os pedículos de cada vértebra apresentam incisuras que quando a coluna vertebral é articulada em conjunto com as incisuras adjacentes formam os forames intervertebrais direito e esquerdo por onde passam os nervos espinhais e os vasos sanguíneos. Nos mamíferos há 7 vértebras cervicais, nos carnívoros são 13 torácicas, sendo as extremidades dos processos espinhosos destas palpáveis através da pele e 7 vértebras lombares com os processos espinhosos e os processos transversos palpáveis (CONSTANTINESCU, 2005). As vértebras formam dois conjuntos de articulações: um é cartilagíneo, envolvendo conexão direta dos corpos vertebrais e o outro é sinovial, existente entre as facetas apresentadas nos arcos vertebrais. Além disso, ligamentos longos se estendem sobre muitas vértebras (DYCE et al., 1997). As articulações da maioria das vértebras combinam sínfises entre os corpos e articulações sinoviais entre os processos articulares. Os corpos das vértebras adjacentes são ligados por meio de discos intervertebrais (DYCE et al., 1997). 12 Ilustração 1 – Anatomia de uma vértebra típica. Fonte: EVANS; deLAHUNTA, 2001. 2.1.1.1 Discos intervertebrais Como foi citado, os corpos das vértebras adjacentes são ligados por meio de coxins espessos, porém flexíveis, os discos intervertebrais, estes contribuem de maneira apreciável para articulação da coluna (DYCE et al., 1997). A função do disco é minimizar e amortecer o choque e a pressão sofrida pelas vértebras (CHIERICHETTI; ALVARENGA, 1999). Os discos intervertebrais estão presentes entre todas as vértebras, com exceção do espaço entre C1 e C2 e nas vértebras sacrais (GETTY, 1986). Há 26 discos intervertebrais na coluna espinhal, eles formam aproximadamente 18% do comprimento da coluna e são mais espessos na região cervical e lombar, e mais estreitos na coluna vertebral torácica (BOJRAB et al., 1996). Os principais componentes moleculares dos discos intervertebrais do cão são as proteínas colágenas e não colágenas, agregados de proteoglicanos e glicoproteínas. A função de sustentação do disco e sua capacidade de suportar pressões vertebrais parecem depender principalmente da constituição e integridade dos seus agregados de proteoglicanos (BOJRAB et al., 1996). Os discos intervertebrais consistem em fibras colágenas circunferenciais externas, o anel fibroso, e em uma área gelatinosa mais interna, o núcleo pulposo (EVANS; deLAHUNTA, 2001) (Ilustração 2). Este ocupa posição levemente excêntrica, no disco 13 intervertebral, já o anel fibroso passa obliquamente de uma vértebra a outra através de seus feixes de tecido fibroso (DYCE et al., 1997). O anel fibroso do disco intervertebral está provido de fibras sensitivas, já o núcleo pulposo não contém fibras nervosas (PELLEGRINO et al., 2003). Ilustração 2 – Anatomia do disco intervertebral - corte transversal do disco intervertebral (na região central internamente está o núcleo pulposo e externamente o anel fibroso). Fonte: SILVA, 2004. 2.1.1.2 Músculos associados à coluna vertebral Os músculos do tronco e do pescoço classificam-se morfologicamente em grupos hipaxial e epaxial. Os músculos hipaxiais localizam-se ventralmente aos processos transversos das vértebras e incluem os das paredes do abdome e do tórax, já os músculos epaxiais ficam dorsais aos processos transversos das vértebras e funcionam principalmente como extensores da coluna vertebral (EVANS; deLAHUNTA, 2001). O músculo eretor da espinha inclui o músculo iliocostal, o músculo longo e o músculo espinhal. Todos eles são músculos epaxiais e estão dorsalmente às costelas e aos processos transversos, são extensores da coluna vertebral e ocupam a área do ílio até as vértebras cervicais craniais. O músculo transverso espinhal é um sistema de músculos epaxiais profundos, no qual está incluso o músculo semi-espinhal (GETTY, 1986). Os músculos hipaxiais compreendem o longo do pescoço, o longo da cabeça e os músculos psoas na área lombar. O músculo longo do pescoço segue da região torácica cranial até o atlas, cobrindo as superfícies ventrais dos corpos vertebrais. O músculo longo da cabeça fica lateral ao longo do pescoço e estende-se dos processos transverso das vértebras da região cervical média até o crânio. Os músculos psoas consistem em maior e menor, o psoas maior 14 se origina dos corpos das vértebras lombares e passa caudalmente onde se funde com o ilíaco para formar o iliopsoas, este flexiona a coluna vertebral lombar, o psoas menor tem origem semelhante ao psoas maior e também flexiona a coluna lombar (DYCE et al., 1997). Há quatro músculos retos e dois oblíquos associados às articulações atlantoccipital e atlantoaxial, que formam um grupo próprio, os músculos retos movem a cabeça para cima e para baixo e os oblíquos são responsáveis pela rotação da cabeça (DYCE et al., 1997). 2.1.2 Neuroanatomia 2.1.2.1 A medula espinhal e o canal vertebral Como foi dito anteriormente, o canal vertebral é formado por todos os forames vertebrais em conjunto (EVANS; deLAHUNTA, 2001). Este é mais largo dentro do atlas e vai diminuindo rapidamente dentro do sacro, expande-se mais onde contém as intumescências cervical e lombar da medula espinhal. Mesmo com a inclusão de seus envoltórios meníngeos, a medula espinhal é mais fina do que o canal vertebral e também é consideravelmente mais curta (DYCE et al., 1997). A medula espinhal é dividida em segmentos (EVANS; deLAHUNTA, 2001). Os segmentos medulares dão origem a um par de nervos espinhais (direito e esquerdo), cada um com sua raiz dorsal (sensitiva) e uma raiz ventral (motora) (NELSON; COUTO, 2001). É importante saber que os segmentos da medula não correspondem exatamente com as vértebras de respectivo número (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Os segmentos C1-C5 estão dentro das vértebras C1-C4, os C6-T1 estão nas C5-C7, os T2-L3 estão entre as vértebras T1-L2, os segmentos L3-L4 estão entre T1-L2, os L4-L7 estão dentro de L3-L4 e os segmentos S1-S3 estão em L5 (PELLEGRINO et al., 2003), a intumescência cervical inclui o quinto segmento da medula espinhal cervical até o segundo segmento da medula espinhal torácica. A intumescência lombar tem inicio no quarto segmento lombar e termina no terceiro segmento sacral com a medula espinhal afunilando-se até formar o cone medular. A medula espinhal termina muito próximo da junção da sexta e sétima vértebras lombares (Ilustração 3) (GETTY, 1986). 15 Ilustração 3 – Medula espinhal e segmentos medulares - Intumescências (cervical e lombar) e segmentos medulares. Fonte: FOSSUM, 2002. A medula espinhal é recoberta por três membranas de tecido conjuntivo ou meninges. A dura-máter é a mais espessa e mais externa delas. Na maior parte do canal vertebral, está separada do periósteo do canal ósseo pelo tecido conjuntivo frouxo do espaço epidural, que freqüentemente contém gordura e vasos sanguíneos (EVANS; deLAHUNTA, 2001). Um espaço capilar separa a dura-máter da aracnóide, este espaço subdural normalmente contém apenas uma quantidade de um líquido límpido e do tipo linfático, este líquido protege a medula. A superfície mais interna da aracnóide está ligada à pia-máter, por trabéculas e filamentos, esta meninge mais interna, a pia-máter está fixada diretamente à medula e acompanha cada mudança em seus contornos. Todas as meninges formam bainhas ao redor das raízes de origem dos nervos espinhais (DYCE et al., 1997). 2.1.2.2 Neurônio motor inferior e superior O neurônio motor inferior (NMI) é aquele que conecta o sistema nervoso central (SNC) com o órgão efetor, que realizará a ação gerada por uma descarga nervosa. O neurônio motor superior (NMS) é originado no encéfalo para controle do NMI. As vias motoras do NMS estão localizadas na substância branca da medula espinhal (NELSON; COUTO, 2001) e nos segmentos medulares C1- C5, T3-L3. O NMS é responsável pelo início dos movimentos e está conectado ao NMI, exercendo um efeito modulador e dependente deste pra manifestar sua descarga como ação (PELLEGRINO et al., 2003). (Ilustração 4). O NMI é a via final de todo o impulso nervoso (PELLEGRINO et al., 2003). Os corpos celulares do neurônio motor inferior (NMI) estão localizados na substância cinzenta da medula espinhal e nos segmentos medulares C6-T2, L4-S3, seus axônios deixam as raízes 16 nervosas ventrais indo torna-se parte de um nervo periférico e terminam em um músculo (ETTINGER; FELDMAN, 1997). O neurônio motor inferior é o mediador dos reflexos espinhais (MIKAIL; PEDRO, 2006). Os sistemas de neurônio motor superior e do neurônio motor inferior são responsáveis pela integração da função motora normal (NELSON; COUTO, 2001). Ilustração 4 – Neurônio Motor superior e Inferior - Localização do neurônio motor superior (NMS) e do neurônio motor inferior (NMI), no cão. Fonte: (NELSON; COUTO, 2001). 2.1.3 Biomecânica O termo biomecânica vem sendo empregado desde o inicio da década de 1970, como referência à estrutura e à função dos sistemas biológicos por meio de aplicação dos princípios mecânicos no estudo dos organismos vivos (MIKAIL; PEDRO, 2006). A mecânica vertebral é complexa. Todas as vértebras têm dimensões, formas e localizações diferentes (ROSA FILHO, 2006). A movimentação da coluna é uma somatória de pequenos movimentos realizados entre os corpos vertebrais (GOLDENBERG, 2006). Os movimentos básicos da coluna vertebral são: extensão, flexão, flexão lateral e rotação (BERNSTEIN, 2006). A flexibilidade é sua principal característica, pois as vértebras apresentam mobilidade entre si (GOLDENBERG, 2006) e a estabilidade é dada pelos componentes ósseos e tecidos moles (NETO; TUDURY, 2006). Um estudo dos movimentos corporais permitiu a constatação do importante papel exercido pela coluna vertebral (GOLDENBERG, 2006). Sendo esta responsável pela 17 manutenção da saúde global do animal, visto que todos os sistemas do organismo estão interelacionados através do sistema nervoso (BERNSTEIN, 2006). A coluna vertebral está constantemente submetida a forças compressivas resultantes da ação da gravidade e cargas externas. Estas forças estão distribuídas ao longo da coluna, sendo os discos intervertebrais as principais estruturas capazes de suportar estas forças (WEIDLE, 2004), porém, esforços mecânicos podem afetar a integridade dos discos intervertebrais e influenciar nos processos degenerativos destes (OLIVER; MIDDLEDITCH, 1998). O conhecimento dos padrões de apoio e movimentação, em cães normais, garante informações que podem ser válidas na reabilitação dos pacientes (LEVINE et al., 2008). 2.2 DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL 2.2.1 Etiologia A Discopatia intervertebral é uma alteração relacionada aos discos intervertebrais e pode resultar em protrusão ou extrusão discal no interior do canal vertebral, resultando em compressão das meninges, da medula espinhal e das raízes nervosas conseqüentes (TILLEY; SMITH JR., 2003; AIELLO, 2001). (Ilustração 5). Ilustração 5 – Relação entre disco intervertebral e medula espinhal - A 1ª Ilustração demonstra uma relação normal entre o disco intervertebral e a medula espinhal, na 2ª existe uma extrusão do núcleo pulposo, onde este herniou para dentro do canal vertebral, através do anel fibroso lesionado e na 3ª há uma protrusão discal, uma saliência convexa do disco dentro do canal vertebral. Fonte: PELLEGRINO et al., 2003. A degeneração do disco intervertebral (DDIV) é a causa mais comum das síndromes neurológicas em cães (CHIERICHETTI; ALVARENGA, 1999). 18 Existem dois tipos de doença degenerativa discal que foram classificados por Hansen em tipo I e tipo II (PELLEGRINO et al., 2003). A hérnia de Hansen do tipo I é mais comum em raças condrodistróficas, de pequeno porte, acometendo principalmente, Dachshund, Pequinês, Beagles, Lhasa Apso e Shih Tzu, porém também são ocasionalmente diagnosticadas em cães de raça de grande porte. Já a hérnia de Hansen tipo II é mais comum em cães idosos de raças de grande porte, particularmente em Pastores Alemães, Labradores Retrievers e Doberman Pinscher, mas também foi identificada em cães de raça de pequeno porte (NELSON; COUTO, 2001). 2.2.2 Fisiopatologia Segundo Aiello (2001); Bojrab et al., (1996); Ettinger & Feldman (1997) a Discopatia intervertebral do tipo I ocorre devido a uma metaplasia condróide. O disco degenera e o núcleo pulposo desidrata sendo substituído por cartilagem hialina; esse processo inicia-se da periferia para o centro (MIKAIL; PEDRO, 2006), ao mesmo tempo em que a metamorfose do núcleo avança, este perde sua elasticidade normal e ocorre uma desintegração difusa, que promove calcificação homogênea. Essa deficiência do núcleo pulposo resulta em ruptura das fibras dorsais do anel fibroso, onde ele é mais fraco (PELLEGRINO et al. 2003). Então a hérnia de hansen do tipo I consiste na extrusão do núcleo pulposo para o canal vertebral, devido à perda da elasticidade normal do núcleo pulposo e ruptura do anel fibroso (ETTINGER; FELDMAN 1997). A extrusão do núcleo pode causar compressão dorsal, dorsolateral ou circunferencial da medula espinhal (MIKAIL; PEDRO, 2006) (Ilustração 6), além disso, o material extruído pode migrar cranial ou caudalmente, abrangendo 1 a 3 segmentos medulares, bem como pode permanecer no mesmo local da extrusão (PELLEGRINO et al. 2003). A hérnia de Hansen tipo II ocorre devido a uma metaplasia fibróide no disco intervertebral dos cães, como parte do processo de envelhecimento (NELSON; COUTO, 2001) Este processo ocorre com uma degeneração gradual do disco, sendo o núcleo pulposo substituído por uma fibrocartilagem (MIKAIL; PEDRO, 2006). Esta hérnia consiste na evaginação insidiosa do anel fibroso dorsalmente e sua protrusão para o interior do canal vertebral (TILLEY; SMITH JR, 2003). O trauma da medula espinhal associado à hérnia de Hansen pode ser caracterizado por uma lesão aguda ou uma injúria compressiva progressiva da medula espinhal. A lesão aguda 19 geralmente está associada à hérnia de Hansen do tipo I, enquanto que a compressão pode estar associada à hérnia de Hansen do tipo I ou II (MIKAIL; PEDRO, 2006). A influencia genética, o comprimento da coluna, a aptidão muscular e o peso corporal podem influenciar na herniação do disco intervertebral (SIMPSON, 1992 apud CHIERICHETTI; ALVARENGA, 1999), mas algumas vezes como conseqüência de um traumatismo pode ocorrer a protrusão de um núcleo pulposo sadio (PELLEGRINO et al., 2003). Ilustração 6 – Hérnia de Hansen do tipo I - A 1ª Ilustração mostra uma extrusão dorsal central e a segunda uma extrusão dorsolateral bilateral. Fonte: MELODYSOFT, 2006. 2.2.3 Sinais Clínicos Cinco grupos de sinais clínicos são observados geralmente em animais portadores de enfermidades que afetem a medula espinhal. Estes são: Perda dos movimentos voluntários, alterações nos reflexos espinhais, mudança no tono muscular, atrofia muscular e disfunção sensitiva (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Para os movimentos voluntários a denominação plegia e paralisia correspondem a perda completa da função sensorial e motora da extremidade afetada, enquanto o termo paresia corresponde a perda da sensação parcial mais a perda completa ou parcial da função motora da extremidade afetada. Os termos tetraparesia ou tetraplegia correspondem aos 4 membros afetados; paraparesia ou paraplegia ambos os membros pélvicos afetados; hemiparesia o membro traseiro e dianteiro afetados do mesmo lado e monoplegia, apenas um membro afetado (FOSSUM, 2001). A ataxia é a falta ou deficiência de coordenação dos 20 movimentos, caracteriza-se pelo aumento da base de sustentação e perda do equilíbrio, esta também é conseqüência de lesões na medula espinhal (PELLEGRINO et al., 2003). Os reflexos espinhais são respostas involuntárias e os componentes do sistema nervoso central responsável por estes localizam-se inteiramente na medula espinhal. Em animais com distúrbios na medula espinhal os reflexos podem estar diminuídos (hiporreflexia), ausentes (arreflexia) ou exagerados (hipereflexia) (FOSSUM, 2002). A manutenção do tono muscular é uma função dos reflexos espinhais. O tono pode estar diminuído (hipotonia), ausente (atonia) ou exagerado (hipertonia), dependendo da localização da lesão na medula espinhal. A atrofia pode ocorrer por denervação e é observada quando neurônios motores que inervam o músculo são danificados por lesões que afetem seu segmento de origem na medula espinhal, a atrofia também pode ser observado por desuso e geralmente acomete músculos caudais a lesão da medula espinhal. Já a disfunção sensitiva ocorre devido às anormalidades nas vias sensitivas da medula espinhal, e o animal apresentase com alteração na propriocepção (percepção da posição ou movimento corporal) e percepção da dor que pode estar normal, diminuída (hipoestesia), ausente (anestesia) ou exagerada (hiperestesia) (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Os sinais clínicos observados na Discopatia intervertebral dependem de qual tipo de degeneração está acometendo o disco intervertebral (tipo I ou tipo II), qual a localização da lesão na medula espinhal e a gravidade desta lesão. (ETTINGER; FELDMAN, 1997; PELLEGRINO et al., 2003). O início dos sintomas clínicos em cães pode ser abrupto (em minutos), súbito (em horas) ou gradual (vários dias ou semanas) e estes podem desaparecer e recidivar posteriormente (BOJRAB, et al., 1996). A dor é uma característica proeminente em cães com Discopatia intervertebral, sendo causada pelo material deslocado que irrita as raízes nervosas e as meninges (NELSON; COUTO, 2001). A avaliação do tempo de duração da lesão é muito importante, pois lesões crônicas são lentas e promovem adaptação medular antes da visualização dos sinais clínicos, quando as lesões ocorrem de forma aguda não há tempo para adaptação medular e as mudanças progridem de edema medular, hipóxia, isquemia, necrose da massa cinzenta, degeneração axonal e até mielomalácia (CHIERICHETTI; ALVARENGA, 1999). Na hérnia de Hansen tipo I na região cervical os sinais clínico são menos graves do que na região toracolombar, pois o canal vertebral é mais largo na cervical e assim o material extruído causa menor compressão na medula e com isso menor lesão (NELSON; COUTO, 2001; SHAW; IHLE, 1999). Os animais com lesões cervicais apresentam espasmos musculares na região, dor a palpação, rigidez cervical e relutância em flexionar ou estender a 21 cabeça e pescoço (BOJRAB et al., 1996; TILLEY; SMITH JR, 2003). Alguns animais apresentam hemiparesia ou tetraparesia. Um dos sinais que podem acontecer também é o cão acometido com DDIV cervical manter um dos membros torácicos em flexão mostrando relutância em deambular (BOJRAB, et al., 1996), isso acontece quando uma extrusão discal invade uma raiz nervosa cervical ventral (TILLEY; SMITH JR, 2003). A hérnia de Hansen tipo I na região toracolombar resulta em arqueamento no dorso do animal que apresente esta patologia e tensão nos músculos abdominais destes (BOJRAB et al., 1996; NELSON; COUTO, 2001; SHAW; IHLE, 1999; TILLEY; SMITH JR, 2003). Os animais com DDIV toracolombar podem apresentar um grau de paraparesia, diminuição ou ausência da propriocepção nos membros pélvicos, os reflexos espinhais podem estar exagerados quando há uma lesão entre os segmentos T3 a L3 e diminuídos quando afetam os segmentos caudais, a percepção da dor superficial e profunda pode ficar diminuída ou ausente e pode haver retenção ou incontinência urinária (TILLEY; SMITH JR, 2003). Os sinais na hérnia de Hansen tipo II são lentamente progressivos, embora possam ocorrer também sinais agudos. A compressão pode causar ataxia, déficits proprioceptivos e paresia dos membros posteriores ou todos os membros. A dor pode estar presente, mas é menos proeminente do que nas hérnias do tipo I (SHAW; IHLE, 1999). A localização dos locais de compressão constitui um fator importante nos sinais clínicos, ou seja, se houver uma compressão na raiz nervosa haverá como maior sinal a dor, já se a compressão estiver na medula espinhal haverá mais alterações neurológicas (SLATTER, 1998). A cascata da perda das funções associadas à lesão na medula espinhal vai nesta ordem, desde o animal neurologicamente intacto, para deficiências proprioceptivas, paresia, paralisia e perda da nocicepção (SLATTER, 1998). (Ilustração 7). Para Tilley; Smith Jr, (2003), os pacientes com Discopatia intervertebral são divididos em: animais que apresentem somente um episódio de dor na coluna vértebra; episódios recorrentes de dor; paresia com percepção de dor profunda e paralisia com perda da dor profunda. 22 Ilustração 7 – Sinais clínicos da hérnia de disco - 1º animal com déficit proprioceptivo nos membros pélvicos, devido a uma compressão medular. O 2º animal apresenta paraplegia, devido a uma protrusão discal toracolombar. Fonte: PELLEGRINO et al., 2003. 2.2.4 Diagnóstico 2.2.4.1 Exame clínico geral A anamnese e o exame físico em pacientes com suspeita de doença de disco intervertebral são fundamentais e não podem ser omitidos. Ao examinar o paciente o Médico Veterinário saberá qual roteiro deverá ser seguido e quais exames serão solicitados para confirmar o diagnóstico presuntivo (PELLEGRINO et al., 2003). É importante observar o animal à medida ele se movimenta pelo consultório, enquanto se obtém a anamnese a partir do proprietário (FOSSUM, 2002). A história clínica e o tempo da afecção devem ser registrados, além disso, os sinais vitais como: freqüência cardíaca, freqüência respiratória, temperatura retal, coloração das mucosas e tempo de reperfusão capilar devem ser avaliados, antes do exame neurológico (CHIERICHETTI; ALVARENGA, 1999) 2.2.4.2 Exame neurológico O exame sistemático do sistema nervoso é talvez a etapa diagnóstica mais importante na avaliação de cães com sintomas neurológicos (NELSON; COUTO, 2001). Segundo Birchading; Scherding (1998), o exame neurológico tem como objetivo confirmar a presença 23 de uma neuropatia, localizar a lesão, auxiliar na escolha dos auxílios diagnóstico e determinar o prognóstico. O êxito de um exame neurológico depende do conhecimento do exame neurológico, como realizar os testes, a finalidade de cada teste, como interpretar a resposta do animal a cada teste e como converter os resultados obtidos em uma localização anatômica. (SLATTER, 1998). Para Fossum (2002), o exame neurológico é dividido em: avaliação do estado mental, avaliação da postura e marcha, reações posturais, reflexos espinhais, avaliação sensorial e avaliação dos nervos cranianos. A) Observações gerais i) Avaliação do estado de consciência É realizado com dados obtidos na anamnese e por meio da observação do animal em geral (PELLEGRINO et al., 2003). O nível de consciência pode estar normal ou diminuído como depressão, torpor ou mesmo coma (NELSON; COUTO, 2001). ii) Avaliação da postura e da marcha Deve ser feito quando o animal estiver livre e em um piso adequado. E importante que o animal seja observado movendo-se de lado, em direção ao examinador, em círculos e para trás (FOSSUM, 2002). Ao observar a postura e a marcha do animal pode se comprovar se há lordose, cifose ou escoliose; se há tremores que podem indicar dor; se o animal não adota uma postura antiálgica e se não há movimentos anormais. Uma das posturas que o animal com lesões compressivas agudas entre T3 e L3 pode apresentar é cifose em conjunto com hiperextensão dos membros torácicos e paraplegia, podendo estar acompanhada de diminuição ou perda da sensibilidade dolorosa e hipotonia, esta postura é chamada de síndrome de Schiff-sherrington (PELLEGRINO et al., 2003). B) Avaliação das manobras posturais i) Posicionamento proprioceptivo 24 A propriocepção consciente permite ao animal conhecer a posição de seus membros para corrigi-la se não for adequada. A deficiência da propriocepção consciente é um dos sinais precoces de lesão medular (PELLEGRINO et al., 2003). (Ilustração 8). Ilustração 8 – Exame do posicionamento proprioceptivo. Fonte: FOSSUM, 2002. ii) Reação do posicionamento O teste para reação de posicionamento avalia também a capacidade proprioceptiva e motora de cada membro. Cada um dos membros é avaliado segurando-se o animal e deslocando-o na direção da borda de uma mesa ou balcão, o animal deve observar e identificar a superfície, posicionando apropriadamente a pata (SLATTER, 1998). iii) Carrinho de mão Suspendem-se os membros torácicos ou pélvicos, enquanto se caminha com o paciente para frente e para trás (BIRCHADING E SCHERDING, 1998), a iniciação dos movimentos de forma lenta ou exagerada pode indicar anormalidades no cordão espinhal (FOSSUM, 2001). iv) Saltitamento 25 O animal é posicionado de tal forma que o centro de gravidade se situe sobre o membro testado (FOSSUM, 2002; SLATTER, 1998), iniciação fraca de saltitamento sugere déficits proprioceptivos (FOSSUM, 2002). C) Reflexos espinhais Os reflexos miotáticos e flexores são dois tipos de reflexos espinhais comumente examinados (NELSON; COUTO, 2001). Estes reflexos são promovidos através do arco reflexo, este é constituído pelo receptor, via nervosa periférica aferente, sinapse, via nervosa periférica eferente e músculos eferentes (PELLEGRINO et al., 2003). A integridade dos componentes sensitivos e motores do arco reflexo é avaliada durante o exame dos reflexos espinhais (FOSSUM, 2002; NELSON; COUTO, 2001). As diferenças funcionais entre o neurônio motor superior e o neurônio motor inferior podem ser utilizadas na localização das lesões da medula espinhal (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Sinais de lesão no NMI incluem hiporreflexia ou arreflexia e os sinais de lesão no NMS consistem em reflexos normais ou aumentados (PELLEGRINO et al., 2003), se houver lesão na junção neuromuscular, em nervo periférico ou em um segmento da medular (C6-T2, L4-S3), haverá arreflexia e outros sinais de NMI, como tônus muscular diminuído e atrofia. A perca unilateral de um reflexo indica que a lesão está localizada em um nervo periférico ou em uma raiz nervosa e não na medula espinhal, já se a lesão ocorrer no encéfalo ou na medula espinhal nos segmentos (C1-C5, T3-L3) haverá sinais de NMS como hiperreflexia e aumento do tônus muscular (NELSON; COUTO, 2001; GROSS, 2002). (Quadro 1). SINAIS LNMI LNMS Função Motora Paresia ou paralisia flácida Paresia ou paralisia espástica Reflexos Hiporreflexia ou arreflexia Normorreflexia e hiperreflexia Atrofia muscular Precoce e grave neurogênica Mais lenta e leve por falta de uso Tônus Muscular Hipotonia ou atonia Normotonia ou hipertonia Quadro 1 – Sinais de lesões nos neurônios motores Fonte: PELLEGRINO et al., 2003. 1) Reflexos dos membros torácicos i) Reflexo bicipital [SA3] Comentário: TITULO IGUAL A ILUSTRAÇÃO [SA4] Comentário: Fora das normas para os subsecções 26 É feito através de um golpe no tendão bicipital cranial, próximo ao cotovelo, reflexos ausentes ou diminuídos sugerem lesões entre os segmentos C6-T8 e reflexos exagerados indicam lesões craniais ao segmento C6 (FOSSUM, 2002). ii) Reflexo tricipital Deve ser realizado com o animal em decúbito lateral, o tendão tricipital é golpeado com o plexímetro bem próximo ao olecrano, reflexos exagerados ou diminuídos são anormais, o teste avalia os segmentos espinhais C7-T1 (SLATTER,1998). (Ilustração 9). Ilustração 9 – Reflexo tricipital, plexímetro próximo ao olecrano. Fonte: PELLEGRINO et al., 2003. 2) Reflexos dos membros pélvicos i) Reflexo patelar O reflexo patelar é induzido percutindo o ligamento patelar médio com a articulação patelar semiflexionada, obtém-se como resposta a contração do músculo quadríceps femoral e a extensão da articulação (PELLEGRINO et al., 2003). A perda deste reflexo bilateral sugere lesão no cordão espinhal entre L4 a L6, reflexos exagerados sugerem uma lesão cranial ao segmento espinhal L4 (FOSSUM, 2002). (Ilustração 10). 27 Ilustração 10 – Reflexo Patelar Fonte: FOSSUM, 2002. ii) Reflexo ciático É obtido através da percussão caudal ou cranial ao trocanter femoral, a ausência de reflexo pode indicar uma lesão medular no nível de L6 a S2 e se houver hipereflexia pode haver lesões craniais a L6 (PELLEGRINO et al., 2003). iii) Reflexo gastrocnêmio É feito através do golpeamento com o plexímetro do dedo indicador posicionado sobre a extremidade distal do tendão gastrocnêmio. A resposta normal é a rápida extensão do tarso. Este reflexo testa o ramo tibial do nervo ciático que se origina do segmento L6-S2 da medula espinhal (SLATTER, 1998). iv) Reflexo tibial cranial Percute-se o músculo do mesmo nome, imediatamente distal a epífise proximal da tíbia, obtendo como resposta a flexão do tarso. Não é um reflexo confiável, quanto o patelar, mas a ausência deste reflexo indica lesão nos segmentos entre L6-S2 (PELLEGRINO et al., 2003). 28 3) Reflexos flexores Estes reflexos são promovidos para que seja avaliada a capacidade do animal em recolher o membro em resposta a um estímulo (BIRCHARD; SCHERDING, 1998; SLATTER, 1998). i) Reflexo de retirada Deve-se aplicar um menor estímulo danoso possível na extremidade dos membros anteriores e posteriores, a resposta normal é a flexão do membro inteiro (FOSSUM, 2002). Este reflexo avalia o funcionamento da intumescência cervical e lombar (SLATTER, 1998). (Ilustração 11). Ilustração 11 – Reflexo de retirada. Fonte: FOSSUM, 2002. D) Outros reflexos i) Reflexo cutâneo do tronco (Panículo) Este reflexo é uma contração do músculo cutâneo do tronco que ocorre em resposta a um estímulo ou pinçamento cutâneo ao longo do dorso. A lesão medular é sempre levemente cranial ao local onde o reflexo do panículo é interrompido (NELSON; COUTO, 2001). ii) Reflexo do extensor cruzado 29 Este reflexo é avaliado ao mesmo tempo em que é feito o reflexo flexor, com o paciente em decúbito lateral, o reflexo ocorre quando o membro voltado para cima é recuado, após um estímulo e o membro contralateral situado no lado de baixo se estende. Esta resposta indica ausência de inibição contralateral, sendo interpretada como lesão no neurônio motor superior (SLATTER, 1998). iii) Reflexo perineal Avalia o funcionamento do nervo pudendo e dos segmentos S1-S3 da medula, é feito através de uma leve estimulação no períneo com agulha romba a resposta deve ser uma contração do esfíncter anal externo (FOSSUM, 2002; SLATTER, 1998). E) Avaliação sensorial A presença ou ausência de percepção dolorosa superficial e profunda constitui o teste prognóstico mais importante do exame neurológico (FOSSUM, 2002; SLATTER, 1998). O teste para avaliação sensorial é realizado em cada um dos membros e na cauda, mediante a aplicação de estímulos dolorosos nos dedos e na extremidade da cauda (FOSSUM, 2002), apenas a identificação consciente do estímulo, como vocalização, tentativa de fuga, movimento de voltar-se e olhar para a fonte do estímulo, denota vias nociceptivas intactas (NELSON; COUTO, 2001). Esta avaliação costuma ser realizada no final do exame neurológico, para não alterar o comportamento animal durante o exame dos reflexos espinhais (PELLEGRINO et al., 2003). 2.2.5 Diagnóstico por Imagem 2.2.5.1 Radiografia simples As radiografias podem ser tiradas para verificar doença de disco intervertebral e descartar outras doenças (NELSON; COUTO, 2001). A anestesia geral do animal faz-se necessária para o posicionamento preciso e obtenção de radiografias com valores e laudos radiográficos (ETTINGER; FELDMAN, 1997; NELSON; COUTO, 2001). As alterações radiográficas compatíveis com herniação de um disco incluem espaço de disco diminuído, forame intervertebral pequeno ou mal delineado, estreitamento das facetas 30 articulares e densidades calcificadas no interior do canal vertebral acima do espaço do disco acometido (NELSON; COUTO, 2001), embora o espaço discal entre uma vértebra e outra de um disco extrusado pode estar mais estreito que os espaços discais adjacentes é importante lembrar que os espaços discais C7-T1, T9-T10, T10-T11, L7-S1, são normalmente mais estreitos (ETTINGER; FELDMAN, 1997), Com isso é necessário estar atento à geometria da formação da imagem radiológica, antes de decidir se a redução aparente na largura de um determinado espaço é genuína e indicativa de patologia (DYCE et al. 1997). (Ilustração 12). Ilustração 12 – Radiografia Simples - Radiografia ventrodorsal de um cão S.R.D com 11 anos de idade e história de paresia dos posteriores. Diminuição dos espaços intervertebrais entre T9-T10, T10-T11, T11-T12. Fonte: Arquivo Pessoal, 2006. Segundo Nelson; Couto, (2001), nem todos os discos intervertebrais herniados, são aparentes nas radiografias de rotina e como regra geral, as radiografias simples não devem ser utilizadas como único meio de confirmar um local de compressão medular no pré-operatório. 2.2.5.2 Radiografia contrastada É técnica que permite delinear o espaço subdural, é realizada pela injeção de um meio de contraste na cisterna magna ou no espaço subaracnóideo da região lombar (L4-L6) (PELLEGRINO et al., 2003). Quase sempre a mielografia é necessária para confirmar de que o material discal, ou o próprio disco herniou para o interior do canal espinhal e resultou na compressão da medula 31 espinhal (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Sendo indispensável em pacientes em que a cirurgia esteja indicada (NELSON; COUTO, 2001). (Ilustração 13). Ilustração 13 – Radiografia contrastada - Mielografia lateral de um Pastor alemão com 5 meses de idade e história de ataxia progressiva. Existe uma compressão medular na porção caudal da vértebra L1. Fonte: NELSON; COUTO, 2001. Segundo Chierichetti;Alvarenga (1999) a radiografia contrastada (mielografia) é a técnica mais efetiva para delimitar e determinar o local da compressão medular, porém Tudury (2006), concluiu que o edema medular pode se projetar cranialmente ao local da protrusão, impedindo assim a demarcação exata do local inicial da compressão. A mielografia é um procedimento invasivo é requer anestesia geral do paciente (BOJRAB et al., 1996; PELLEGRINO, et al., 2003). Segundo Bojrab et. al (1996) os meios de contrastes mais utilizados são o metrizamida, o ioexol e o iopamidol, Tudury, (2006) afirma que o ioversol apresenta-se como seguro e apropriado para realização de mielografias, não gerando alterações cardiovasculo-respiratórias, até quando injetado por duas vezes consecutivas (intervalo de 30 minutos). 2.2.5.3 Outras técnicas de diagnóstico por imagem Além da radiografia simples e contrastada há outras técnicas que podem ser utilizadas para o diagnóstico de hérnia de disco, estas são ressonância magnética (RM) e tomografia computadorizada (TC) (CHIERICHETTI; ALVARENGA, 1999). 32 A tomografia e a Ressonância oferecem a visualização direta da medula espinhal e das estruturas circunjacentes (SLATTER, 1998), esses exames são capazes de detectar mínimas alterações na medula espinhal que uma radiografia simples ou contrastada podem não revelar (FOSSUM, 2002). Infelizmente por questões econômicas o proprietário não aceita a realização destes exames e esses diagnósticos não se encontram facilmente disponíveis para o uso na Medicina Veterinária (SLATTER, 1998). 2.2.6 Diagnóstico Diferencial Os diagnósticos diferencias são muitos, porém os mais importantes na hérnia de hansen tipo I são traumatismos, infarto medular, embolia fibrocartilaginosa e compressões causadas por tumores, já na hérnia de hansen do tipo II os diagnósticos diferenciais são: espondilose deformante, mielopatia degenerativa e discoespondilite (PELLEGRINO et al., 2003; TILLEY; SMITH JR, 2003). 2.2.7 Prognóstico O prognóstico é emitido levando em conta o exame neurológico. Fatores como gravidade das deficiências neurológicas, presença ou não de função motora voluntária e principalmente presença ou ausência de dor profunda , a escolha do tratamento clínico ou cirúrgico também influenciam no prognóstico (CHIERICHETTI; ALVARENGA, 1999). A falta de sensibilidade dolorosa profunda indica prognóstico grave (PELLEGRINO et al., 2003; TILLEY; SMITH JR, 2003). (Quadro 2) SINAIS PROGNÓSTICO Somente dor Muito bom Dor, ligeira ataxia, perda da propriocepção consciente Bom Paresia sem perda da sensibilidade dolorosa superficial Reservado a favorável Paralisia. Controle vesical presente. Sensibilidade dolorosa superficial presente Reservado Paralisia. Controle vesical ausente. Sensibilidade dolorosa superficial ausente Reservado a grave Paralisia. Sensibilidade dolorosa profunda ausente Grave Quadro 2 – Prognóstico da lesão medular segundo os sinais observados. Fonte: PELLEGRINO et al., 2003. 33 2.2.8 Tratamento As opções de tratamento para doença do disco intervertebral em cães consistem em clínico e/ou cirúrgico e estão relacionadas ao estágio e ao grau da doença (MIKAIL; PEDRO, 2006), cada animal deve ser avaliado individualmente a depender do estado neurológico em que se encontra (ETTINGER; FELDMAN, 1997). 2.2.8.1 Tratamento clínico Segundo Bojrab et al., (1996); Pellegrino et al., (2003) e Tilley; Smith Jr, (2003), o tratamento não cirúrgico pode ser indicado nos casos em que o paciente tem o primeiro episódio dor e não tem deficiência motora. O repouso estrito é prescrito para pacientes que na hérnia de disco apresentem dor sem déficits neurológicos e ocasionalmente para cães com pequenos déficits neurológicos (ETTINGER; FELDMAN, 1997; NELSON; COUTO, 2001), após o repouso de 2 semanas são recomendados exercícios monitorados e se necessário um programa de redução de peso (NELSON; COUTO, 2001). O uso de corticóides está indicado no tratamento clínico ou pré - cirúrgico (ETTINGER; FELDMAN, 1997), a predinisolona parece ser efetiva no tratamento da lesão medular, mas apesar disso existe uma grande controvérsia em relação a qual dos antiinflamatórios esteróides são mais efetivos e como estes devem ser utilizado (PELLEGRINO et al., 2003). Nos animais com déficits neurológicos graves, o succionato de metilprednisolona poderá melhorar a recuperação das lesões graves no cordão espinhal se for administrado até 8 horas após a lesão (AIELLO, 2001), contudo Costa (2006), afirma que apesar de ainda não existir consenso sobre o assunto, atualmente não se recomenda mais o uso rotineiro desta medicação, apenas em casos selecionados com apresentação grave. A administração de corticóides pode diminuir a dor do animal, resultando em maior atividade deste e com isso maior risco de compressão adicional (NELSON; COUTO, 2001). Durante o tratamento clínico é importante que seja feito um tratamento de suporte, submetendo o animal a fisioterapia ( CHIERICHETTI; ALVARENGA, 1999), pois esta é de grande importância na recuperação dos animais acometidos com discopatia intervertebral (PELLEGRINO et al., 2003). 34 2.2.8.2 Tratamento cirúrgico Embora muitos pacientes se recuperem com o tratamento não cirúrgico, a cirurgia de descompressão da medula espinhal oferece chance de recuperação rápida e completa da função motora e sensitiva de animais cometidos com hérnia de disco (COSTA, 2006). Segundo Bojrab et al., (1996), as indicações gerais para o tratamento cirúrgico da discopatia intervertebral são sinais clínicos recidivantes ou progressivos e paresia ou paralisia com preservação da sensibilidade dolorosa ou ausência de dor profunda com duração inferior a 24 horas, porém segundo Tudury, (2006) a existência de analgesia profunda e paraplegia por mais de 48 horas, conforme recentes estudos científicos não devem contra indicar iniciativas de descompressão cirúrgicas da medula espinhal. O tratamento cirúrgico pode ser dividido em procedimentos profiláticos e terapêuticos. A profilaxia envolve a fenestração para remoção do material nuclear do próprio disco, enquanto que o procedimento terapêutico envolve técnicas descompressivas (SLATTER, 1998). A fenestração ou remoção do disco impede extrusões posteriores, aliviando possivelmente a dor, por diminuir a pressão nas estruturas sensíveis a esta (BOJRAB et al., 1996). Para Costa (2006), o alto índice de recidiva de herniações de disco intervertebral sugere que a fenestração profilática dos discos intervertebrais seja realizada. Segundo Pellegrino et al., (2003), a fenestração sem descompressão não é recomendada, porém uma vez que foi feito a descompressão é importante fenestrar o disco protruído. As técnicas descompressivas têm como objetivo alívio da pressão sobre a medula espinhal e isto pode ser alcançado através da criação de um espaço adicional para a medula espinhal (BOJRAB et al., 1996). Existem muitas técnicas descompressivas, as mais utilizadas são laminectomia dorsal, hemilaminectomia e pediculectomia, porém na região cervical realiza-se com mais freqüência a abertura de uma fenda ventral (FOSSUM, 2002; SLATTER, 1998). Segundo Harari, 1992 Apud Chierichetti; Alvarenga, 1999; Toombs, 1993 apud Chierichetti; Alvarenga, 1999 a laminectomia dorsal é feita pela remoção do processo espinhoso, lâmina dorsal e processos articulares até que a medula seja visualizada, já hemilaminectomia é praticada na região dorso lateral do corpo vertebral e feita pela remoção dos processos articulares e a pediculectomia é uma técnica descompressiva com acesso lateral em que apenas o pedículo está envolvido. (Ilustração 14). 35 Ilustração 14 – Técnicas descompressivas - 1ª Ilustração mostrando as estruturas retiradas na técnica de laminectomia dorsal e na 2ª as estruturas retiradas na hemilaminectomia. Fonte: CHIERICHETTI, ALVARENGA, 1999. Qualquer que seja a técnica descompressiva utilizada, é importante a remoção do material herniado para evitar deficiências neurológicas residuais (CHIERICHETTI; ALVARENGA, 1999). Segundo Tudury (2006), a fisioterapia pós operatória é um fator primordial para aumentar a velocidade e o grau de recuperação dos animais acometidos com discopatia intervertebral. 2.3 REABILITAÇÃO FÍSICA A fisioterapia é definida como medicina física e utiliza como tratamento das lesões agentes físicos como: luz, calor, frio, água, agentes elétricos, massagem e agentes mecânicos (WHITTICK, 1974). O veterinário que utiliza a reabilitação física como tratamento faz uso de técnicas não invasivas para reabilitação de injúrias nos animais utilizando: o laser, a estimulação elétrica, o ultra-som terapêutico, exercícios, massagem, a hidroterapia e a aplicação do calor e do frio (MILLIS et al., 2004). A Associação Americana de Terapia Física afirma que na reabilitação física está incluído o exame e avaliação física do paciente com limitações funcionais, para assim 36 determinar um diagnóstico, um prognóstico e um programa de reabilitação adequado (MILLIS et al., 2004). Segundo Pellegrino et al., (2003) a fisioterapia tem como objetivo encurtar o tempo fisiológico da recuperação do paciente, restabelecendo ou mantendo maior funcionalidade possível e evitando complicações secundárias e seqüelas que possam provocar invalidez. 2.3.1 Modalidades de Reabilitação Física Utilizadas na Doença do Disco Intervertebral 2.3.1.1 Massoterapia A massagem é uma manipulação sistêmica dos tecidos corporais, sendo um componente natural da fisioterapia e podendo ser muito efetiva na recuperação dos animais (BOCKSTAHLER et al., 2004). A terapia por massagem é composta por 5 componentes: ritmo, direção, pressão, freqüência e velocidade. Existem inúmeras manobras de massagem e normalmente são aplicadas de acordo com a necessidade do paciente (GALLINARO, 2004). Os efeitos da massagem são divididos em reflexos e mecânicos, os efeitos reflexos são produzidos na pele, quando há estimulação dos receptores periféricos, estes estímulos produzem uma sensação de prazer e relaxamento, já os efeitos mecânicos consistem em medidas que auxiliam o retorno do fluxo sanguíneo e linfático e que produzem mobilização muscular, podendo remover acúmulos de líquidos e desfazer aderências (MIKAIL; PEDRO 2006). A massagem é indicada para diminuir a tensão muscular causada por desordens espinhais, além disso, em pacientes neurológicos que apresentem paresia e paralisia ela é utilizada para promover uma recuperação no tônus muscular do membro acometido e melhorar as respostas sensoriais (BOCKSTAHLER et al., 2004). Esta terapia é indispensável para auxiliar na mobilidade de pacientes debilitados com restrições locomotoras, sendo uma importante ferramenta no tratamento fisioterapêutico, por ser de baixo custo, não possuir características invasivas e ser agradável ao paciente (LEVINE et al., 2008). A) Modalidades de massagem i) Deslizamento (“Effleurage”) 37 Normalmente se inicia um procedimento de massagem com o deslizamento, pois permite que o paciente se acostume com a sensação transmitida pelas mãos do terapeuta. No deslizamento superficial se realiza movimentos suaves e leves com pouca pressão, para relaxamento da musculatura (GALLINARO, 2004; LEVINE et al., 2008). No modo profundo se aplica um pouco mais de pressão e a direção da força é muito importante, porque o objetivo principal é auxiliar no retorno do fluxo sanguíneo e linfático; assim a força deve ser realizada na direção desses vasos (MIKAIL; PEDRO 2006). ii) Amassamento (“Petrissage”) Essa modalidade de massagem envolve a aplicação de pressão aos tecidos em forma de amassamento, rolamento ou torcedura da pele. Esta técnica pode ser efetuada com toda a mão, com os dedos ou só com o polegar e os movimentos devem ser realizados com bastante lentidão e com uma pressão significativa (GALLINARO, 2004). No amassamento superficial o terapeuta enrola a pele e o tecido subcutâneo. Quando a massagem é feita na regia dorsal, primeiro se faz o amassamento na direção das fibras musculares e depois ao contrário das fibras (BOCKSTAHLER et al., 2004). A técnica de petrissage libera as aderências por meio do alongamento e da separação das fibras musculares e ao mesmo tempo auxilia no retorno venoso e retirada de restos metabólicos da musculatura (STARKEY, 2001). (Ilustração 15). Ilustração 15 – Massagem por amassamento (Petrissage) - Terapeuta enrolando a pele e o tecido subcutâneo da coluna vertebral de um cão. Fonte: Arquivo pessoal, 2006. 38 iii) Fricção A finalidade da massagem por fricção é liberar os pontos de tensão, as aderências e tratar os espasmos musculares. Existem dois tipos básicos de massagem por fricção: circular e transversal. Na fricção circular a pressão é aplicada com o polegar, ou ponta dos dedos em movimentos breves e circulares. Na massagem por fricção transversal o polegar ou as pontas dos dedos atingem o tecido a partir de direções opostas (STARKEY, 2001). A massagem por fricção deve ser realizada com cautela, pois pode provocar dor e ruptura de pequenos capilares na região. Para facilitar a realização desta, a área na qual a massagem será aplicada pode ser aquecida previamente. A utilização do gelo após o término minimiza uma possível hemorragia capilar e diminui a dor (MIKAIL; PEDRO 2006). 2.3.1.2 Cinesioterapia Cinesioterapia é um método de acelerar a recuperação do paciente por meio de exercícios, utilizando movimentos com finalidade precisamente terapêutica. Cinesio significa movimento e terapia tratamento. A cinesioterapia é uma técnica que se baseia nos conhecimentos de anatomia, fisiologia e biomecânica, a fim de proporcionar ao paciente um melhor e mais eficaz trabalho de prevenção, cura e reabilitação (GUIMARAES; CRUZ, 2006). O exercício terapêutico é um essencial componente na reabilitação do animal (GROSS, 2002). Os exercícios utilizados na cinesioterapia podem ter movimentos passivos, quando realizado pelo terapeuta, sem nenhum esforço por parte do animal e ativos quando são realizados pelo próprio animal (LEVINE et al., 2008). A indicação da cinesioterapia é bastante criteriosa, necessitando de avaliação para traçar objetivos e estratégias, além de reavaliações freqüentes, visando a atualização junto a progressão do paciente em conseqüência da necessidade de correções ao programa inicial até atingir o potencial de recuperação esperado (GUIMARAES; CRUZ, 2006). A) Alongamento O alongamento mantém os músculos mais elásticos e flexíveis e os prepara para as atividades físicas (MIKAIL; PEDRO 2006). Uma boa flexibilidade permitirá a realização de 39 determinados movimentos que de outra forma, seriam impossíveis, além disso, esta qualidade física reduz o risco de lesões músculo-articulares (DANTAS et al., 2002 apud SANTOS; ARAÚJO, 2003). Na medicina veterinária o alongamento é feito quando se usa uma força externa proporcionada por uma máquina ou pessoa. Existem três tipos de alongamento: Estático, Mecânico prolongado e balístico, mas o comumente usado na rotina da doença do disco intervertebral é o estático. Nesta técnica o individuo não contribui para realização do trabalho, pois alguém irá gerar uma tensão alongando o músculo lentamente até a amplitude desejada, mantendo-a por algum tempo e voltando depois a posição inicial (MIKAIL; PEDRO 2006). É importante que ao alongar o membro de um animal o terapeuta coloque uma mão estabilizando o osso proximal à articulação, e a outra estabilizando o osso distal da mesma (MILLIS et al.,2004). Outra técnica utilizada na Discopatia intervertebral é a tração na coluna vertebral, esta é uma técnica, na qual uma força longitudinal é aplicada à coluna e estruturas associadas. A tração contínua é feita quando uma pequena força é aplicada durante um período prolongado e mantém a coluna alongada, esta tração pode reduzir a dor e diminuir o grau de pressão mecânica exercida às raízes nervosas e o espasmo muscular, além disso, se a dor for proveniente de uma lesão discal, o núcleo pulposo protruso é estimulado a centralizarse ou retornar a sua posição normal (STARKEY, 2001). (Ilustração 16). Ilustração 16 – Alongamento - Tração na coluna vertebral de um animal de raça shi-tzu com hérnia toracolombar. A bola terapêutica é utilizada como apoio para o animal. Fonte: VET SPA, 2006. 40 Há evidências de que o alongamento muscular tem efeito positivo na melhora da dor e na qualidade de vida dos pacientes (ARAÚJO, 2003), além disso, é um importante processo na prevenção e reabilitação de lesões (MIKAIL; PEDRO 2006). B) Exercício passivo São exercícios utilizados quando o paciente apresenta-se muito debilitado e com problemas neurológicos. O exercício passivo é o método de exercício terapêutico utilizado, quando o animal tem limitações funcionais e não consegue sustentar o peso do corpo (MILLIS et al., 2004, LEVINE et al., 2008), sendo muito utilizado em animais com hérnia de disco intervertebral (BOCKSTAHLER et al., 2004). No exercício passivo são realizadas técnicas de flexão e extensão dos músculos tendões e ligamentos, através de reflexos e alongamentos. Para a realização deste tipo de exercício é essencial que o animal seja mantido em uma posição confortável, os movimentos sejam lentos, a musculatura esteja relaxada e o animal não apresente dor ao executar o movimento (BOCKSTAHLER et al., 2004) . (Ilustração 17). Ilustração 17 – Exercício Passivo - Terapeuta realizando flexão nos músculos, tendões e ligamentos dos membros pélvicos do animal. Fonte: VET SPA, 2006. Os exercícios passivos reduzem os espasmos e previnem retrações e aderências (PELLEGRINO et al., 2003). 41 C) Exercício ativo O exercício ativo se divide em três tipos: ativo-assistido, ativo livre, ativo resistido o ativo assistido é realizado pelo paciente que recebe ajuda parcial do terapeuta; o ativo livre é o exercício realizado sozinho pelo paciente e o ativo resistido quando o movimento é realizado contra uma resistência manual ou mecânica (GUIMARAES; CRUZ, 2006). No exercício ativo assistido, quando o animal não consegue sustentar o peso do corpo, o terapeuta proporciona um suporte para que o animal fique na posição quadrúpede. Mantendo o corpo nesta posição o animal estará fortalecendo os membros, além de ser uma forma de propriocepção, onde o animal receberá estímulos dos músculos e tendões (MILLIS et al., 2004). O suporte utilizado pode ser uma toalha ou uma tipóia elástica (BOCKSTAHLER et al., 2004). (Ilustração 18). Ilustração 18 – Exercício ativo assistido - Uso de uma toalha na região inguinal para auxiliar o animal na sustentação do corpo. Fonte: PELLEGRINO et al., 2003. Quando o animal tem capacidade de suportar o peso podem ser utilizados como exercício ativo assistido, bolas e rolos fisioterapêuticos (BOCKSTAHLER et al., 2004). Quando o cão está em cima da bola terapêutica pode ser feito movimento de extensão da coluna e fortalecimento da postura desse animal (GROSS, 2002). Os exercícios ativos podem ser feitos através de caminhadas controladas com o animal, utilizando pisos emborrachados, colchões e rampas, além disso, pode ser utilizada 42 também a esteira elétrica. Esse tipo de exercício é usado quando os animais já apresentam ambulação independente, serve para ajudar os animais a utilizar todos os membros de forma correta e para coordenar o andar do animal (MILLIS et al., 2004). O exercício ativo resistido é usado para aumentar a força do paciente. É utilizado quando o animal não necessita mais de ajuda para caminhar. Um dos métodos de exercício resistido mais utilizado é o uso de peso nos membros do animal, enquanto este caminha ou faz corrida (BOCKSTAHLER et al., 2004). Além disso, exercícios impostos ao animal como sentar e levantar, trote, corrida e natação também fortalecem a musculatura (GALLINARO, 2004). D) Propriocepção Segundo Mikail; Pedro (2006), propriocepção é a percepção do posicionamento do corpo no espaço durante a fase estática ou de movimento. Como já foi dito anteriormente, a propriocepção consciente permite ao animal conhecer a posição de seus membros para poder corrigi-la se não for adequada (PELLEGRINO et al., 2003). O uso da reeducação proprioceptiva por meio de estímulos proprioceptivos excita as terminações nervosas a fim de obter, de maneira automática ou reflexa, as contrações musculares com finalidade de aprender o movimento, de reabilitar ou ainda, reprogramar a função do movimento (MIKAIL; PEDRO 2006). A propriocepção pode ser estimulada por mudança no centro de gravidade do cão, quando o terapeuta empurra gentilmente o animal de um lado para o outro ou oferece um alimento, movendo também o animal, além disso, existem rampas ou plataformas que podem ser usadas para balançar o animal para frente e para trás, na diagonal e em 360 graus (MILLIS et al., 2004). O treinamento proprioceptivo também pode incluir o caminhar na pista com diferentes pisos, onde a intenção é provocar um “bombardeio” de informações sensoriais diferentes, conforme o animal caminha sobre a areia fina, cimento, pedriscos, borracha triturada e areia grossa (MIKAIL; PEDRO 2006). (Ilustração 19). 43 Ilustração 19 – Pista de Propriocepção – pista com pisos diferentes, para treinamento proprioceptivo. Fonte: VET SPA, 2006. 2.3.1.3 Hidroterapia A utilização da água como forma de terapia é bastante antiga. Por causa das propriedades da água, como densidade relativa, flutuação, pressão hidrostática e resistência, a realização de exercícios submersos torna-se diferente dos exercícios realizados fora da água, além disso, quando a água é aquecida ou resfriada, os efeitos da hidroterapia podem ser associados aos efeitos do calor e dor frio (MIKAIL; PEDRO 2006). A terapia aquática é indicada na reabilitação de injúrias neurológicas causadas por embolia fibrocartilaginosa, mielopatia degenerativa e em doenças do disco intervertebral, sendo utilizada com cuidado em animais com problemas cardio-respiratórios e totalmente contra-indicada em animais com infecções na pele (BOCKSTAHLER et al., 2004), além disso, muitos animais podem apresentar medo e relutância para entrar na água podendo causar acidentes e maiores lesões, por isso é importante a adaptação do animal, antes do início da terapia (MILLIS et al., 2004). Na terapia aquática os animais com problemas neurológicos podem precisar de uma assistência para entrar e permanecer na água, como: o auxílio manual de um terapeuta, equipamentos de terapia com suporte para sustentação do animal e colete salva-vidas (MILLIS et al., 2004). 44 A) Imersão parcial (Hidroginástica) A imersão parcial é uma modalidade de terapia aquática onde a piscina tem uma profundidade que permite o apoio do animal ao solo (MIKAIL; PEDRO 2006). O nível da água depende dos objetivos da terapia. Em cães, por exemplo, a imersão na altura do maléolo lateral da tíbia proporciona uma quantidade de carga de 91% (em relação ao peso do animal ao solo), na altura do côndilo lateral do fêmur, a carga é de 85% e, em nível do trocanter maior do fêmur o animal sustenta apenas 38% do peso. (MIKAIL; PEDRO 2006; MILLIS et al., 2004). (Ilustração 20). Ilustração 20 – Influência da altura da água no peso do animal - Na 1ª Ilustração a imersão parcial proporciona uma descarga de peso para o animal de 91%, na 2ª proporciona uma descarga de 85% e na 3ª uma descarga de 38%. Fonte: MILLIS et al., 2004. 45 A esteira aquática é um valioso equipamento na terapia aquática. Há vários tipos de exercícios que podem ser feitos nesta esteira (BOCKSTAHLER et al., 2004). O uso de esteiras submersas vem ganhando espaço e mostra resultados surpreendentes (Ilustração 21). Alguns dos benefícios da esteira aquática são a redução das forças do peso, aumento da amplitude do movimento articular, diminuindo assim a espasticidade muscular e auxiliando o fortalecimento da musculatura do animal. Porém, é importante lembrar que os pacientes podem cansar facilmente, por isso a hidroterapia deve ser feita por pouco tempo e em dias alternados, incluindo sempre avaliação dos parâmetros cardíacos e respiratorio do paciente (LEVINE et al., 2008). Ilustração 21 – Animal de raça Golden Retriever, com 7 meses de idade, na esteira aquática. Fonte: VET SPA, 2006. B) Imersão total (Natação) Na imersão total, o animal encontra-se praticamente submerso, apenas com a cabeça e a parte do pescoço para fora da água, e não tem apoio no piso, portanto, tem que movimentar os quatros membros constantemente para manter-se na superfície. Esses movimentos tendem a ser lateralizados, como de abdução e adução e o animal costuma adquirir uma postura de coluna diferente (MIKAIL; PEDRO 2006), com isso os movimentos de natação são diferentes dos movimentos em que o animal tem apoio no solo (BOCKSTAHLER et al., 2004). 46 Os benefícios da natação são: melhora na capacidade respiratória, melhora no retorno venoso e débito cardíaco, manutenção do tônus muscular e da amplitude do movimento (MIKAIL; PEDRO 2006; MILLIS et al., 2004). 2.3.1.4 Termoterapia Entre todos os recursos físicos terapêuticos utilizados, o calor e o frio são os mais antigos. Qualquer forma de aquecimento ou resfriamento tissular corporal leva a um conjunto de modificações fisiológicas que podem ser benéficas quando utilizadas na forma terapêutica (GALLINARO, 2004). O aumento ou diminuição de temperatura em um tecido variam de acordo com o tipo de agente físico utilizado, o tempo de exposição, a natureza do tecido e a localização (MIKAIL; PEDRO, 2006), tanto o calor como o frio podem ser formas efetivas para o tratamento de uma série de distúrbios e problemas (KITCHEN; BAZIN, 1998). A) Terapia pelo frio (Crioterapia) A crioterapia se refere ao uso do resfriamento local ou geral do corpo com fins terapêuticos. A aplicação do frio na pele promove uma série de eventos metabólicos e vasculares que produzem os efeitos benéficos da crioterapia (STARKEY, 2001), tais como vasoconstricção (redução do fluxo sanguíneo), redução do metabolismo celular e permeabilidade, diminuição sensorial e motora da velocidade de condução nervosa, analgesia, redução do edema induzido pelo trauma, diminuição dos espasmos musculares e redução temporária da espasticidade antes do exercício (MILLIS et al., 2004). Para Mikail; Pedro (2006) o uso do gelo não diminui a resposta inflamatória, apenas atenua os sinais cardinais da inflamação, como dor, edema, hiperemia, aumento da temperatura e diminuição da função. Os métodos de aplicação da crioterapia mais utilizados são: imersão em água, massagem com gelo, sprays de evaporação, bolsas de gelo e toalhas geladas. Quanto ao tempo de aplicação, Gallinaro (2004) afirma que a aplicação do gelo por 12 minutos resulta em efeito de anestesia e amortecimento, após este período observa-se vasodilatação profunda e reflexa. Porém, segundo Mikail; Pedro (2006) mesmo que ocorra vasodilatação após a aplicação da crioterapia, não ocorre aumento no diâmetro do vaso a valores maiores que o diâmetro inicial. As variações na aplicação do frio são de 10 a 20 minutos, até que novos 47 estudo sejam feitos em animais para determinar a temperatura específica atingida no tecido durante a aplicação (LEVINE et al., 2008). A crioterapia pode ser aplicada nas primeiras 24 a 72 horas. A aplicação do frio é contra-indicada em feridas abertas e áreas isquêmicas. B) Terapia pelo calor A aplicação do calor pode ser de forma superficial ou profunda. O aquecimento superficial atua na pele e tecido subcutâneo e atinge profundidades de 1 a 2 cm. O aquecimento profundo, também chamado de conversão, baseia-se na transformação da energia que passa entre os tecidos em calor, como é o caso do ultra-som, diatermia por ondas curtas e microondas (GALLINARO, 2004). O calor superficial apresenta efeitos locais de vasodilatação, aumento da taxa de metabolismo celular, aumento da liberação de leucócitos e aumento da permeabilidade capilar (STARKEY, 2001), sendo indicado quando se necessita de analgesia, e relaxamento muscular e contra-indicado na fase aguda de processos inflamatórios (MIKAIL; PEDRO, 2006), em pacientes com falta de sensibilidade térmica, em áreas de sangramento ou hemorragias recentes, feridas abertas, em áreas com circulação comprometida e neoplasias (KITCHEN; BAZIN, 1998). A aplicação do calor superficial pode ser feito por diversos meios como compressas quentes, terapias aquáticas com água aquecida e lâmpadas de radiação infravermelha (BOCKSTAHLER et al., 2004), alguns deles podem ser mais adequados a depender da situação, em decorrência dos aspectos práticos de sua utilização (KITCHEN; BAZIN, 1998). 2.3.1.5 Eletroterapia Para o entendimento da eletroterapia é necessário que se compreendam alguns conceitos básicos como o da eletricidade, que é uma força criada por um desequilíbrio no número de elétrons entre dois pontos. Na tentativa de equilibrar as cargas os elétrons se movimentam, gerando assim uma corrente elétrica (STARKEY, 2001). Os aparelhos de estimulação elétrica vendidos com finalidade terapêutica (Ilustração 22), apresentam basicamente 3 tipos de corrente elétrica que são divididas em: corrente direta (CD), alternada (CA) e pulsada (MIKAIL; PEDRO, 2006). As correntes diretas são classificadas por um fluxo contínuo de elétrons em uma única direção, nas correntes 48 alternadas o fluxo de elétrons muda constantemente de direção, já a corrente pulsada indica que o fluxo de elétrons é periodicamente interrompido, além disso, as correntes pulsadas podem fluir em uma única direção (unidirecional), de forma semelhante a CD, ou podem ter movimento bidirecional, como na CA (STARKEY, 2001). (Ilustração 22). Ilustração 22 – Eletroterapia – Aparelha de estimulação elétrica utilizado na aplicação da neuroestimulação elétrica transcutânea (TENS), estimulação elétrica neuromuscular (EENM). Fonte: Arquivo pessoal, 2006. As correntes elétricas podem ser utilizadas de várias formas: para o tratamento da dor, através da neuroestimulação elétrica transcutânea (TENS), para estimular um músculo inervado, através da estimulação elétrica neuromuscular e estimular um músculo desenervado (EENM) (BOCKSTAHLER et al., 2004). Estas correntes são transmitidas a partir de um gerador e atingem o paciente através de eletrodos que são colocados sobre a superfície da pele (GALLINARO, 2004), a tricotomia na área onde se coloca o eletrodo deve ser realizada sempre, caso ela não seja possível é necessário utilizar bastante gel para eliminar os espaços entre os pêlos, pois o ar contido nestes espaços atrapalha a condução da corrente elétrica (MIKAIL; PEDRO, 2006). Existem vários tipos de eletrodos (de silicone, auto-adesivos e metálicos), sendo os de silicone os mais utilizados na medicina veterinária devido a seu baixo custo e maior praticidade, os de auto-adesivos são usados em áreas tricotomizadas e de difícil contato, no entanto apresentam como desvantagem o alto-custo (MIKAIL; PEDRO, 2006), além disso, 49 produzem maior desconforto durante o tratamento causando uma sensação de queimação (STARKEY, 2001). O tamanho e o contato do eletrodo com a pele influenciam na transmissão da corrente, ou seja, quanto menor o tamanho do eletrodo, maior é a densidade da corrente, quanto maior a superfície do eletrodo maior será o fluxo da corrente. A proximidade entre os eletrodos determina quais tecidos são estimulados, quando os eletrodos são colocados próximos uns aos outros, a corrente flui superficialmente, quando se aumenta a distancia a corrente pode atingir maior profundidade nos tecidos (STARKEY, 2001). O posicionamento dos eletrodos varia com o tipo de corrente utilizada e com os objetivos do tratamento, estes podem ser dispostos de maneira monopolar, bipolar e quadripolar (KITCHEN; BAZIN, 1998). A aplicação monopolar consiste no uso de dois eletrodos, um ativo, colocado no local onde se deseja o efeito do tratamento e um dispersivo usado para completar o circuito, no eletrodo ativo utiliza-se eletrodos menores e no dispersivo os efeitos da densidade da corrente são minimizados utilizando eletrodos grandes. A aplicação bipolar consiste no uso de eletrodos de tamanhos iguais colocados na área do tratamento e a aplicação quadripolar envolve o uso de dois conjuntos de eletrodos provenientes de dois canais diferentes (STARKEY, 2001). A estimulação elétrica tem vários benefícios para o paciente, como aumento da massa e da força muscular, aumento da amplitude de movimento, diminuição do edema e da dor e retorno da função normal do sistema musculoesquelético afetado (MILLIS; LEVINE, 1997 apud GALLINARO, 2004), basicamente, na fisioterapia todo caso com componente neurológico é candidato a eletroestimulação (PELLEGRINO et al., 2003). A) Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM) e Estimulação Elétrica Funcional (EEF) O nome NMES (Neuromuscular Electrical Stimulation) ou EENM (Estimulação Elétrica Neuromuscular) pode ser atribuído de forma genérica à aplicação de correntes elétricas com o objetivo de provocar contrações musculares. O mecanismo de ação da NMES ocorre mediante à estímulos elétricos terapêuticos aplicados sobre o tecido muscular, através do sistema nervoso periférico íntegro (PELIZZARI; MAZZANTI, 2006). Quando se aplicam estímulos elétricos em músculos privados de controle nervoso, com o objetivo de promover o retorno de habilidades funcionais, existe uma técnica internacionalmente difundida denominada FES (Functional Electrical Stimulations) ou EEF 50 (Estimulação Elétrica Funcional). A FES é utilizada principalmente como recurso terapêutico complementar em reabilitação de doenças neurológicas (BRAZ, 2003). Para fins didáticos, existe uma diferenciação entre as aplicações clínicas da NMES e FES. Na prática clínica, existem situações em que ambas são consideradas as mesmas (BRAZ, 2003). A EENM é utilizada para reeducação muscular, redução dos espasmos, retardo da atrofia e fortalecimento do músculo (STARKEY, 2001), sendo uma modalidade terapêutica utilizada há mais de 40 anos (PELIZZARI; MAZZANTI, 2006), esta corrente recruta primeiro as fibras de rápida contração e logo depois as fibras de lenta contração, fazendo o inverso da contração voluntária (MILLIS et al., 2004). A EEF provoca a contração de um músculo paralisado, afetando as vias sensitivas que contribuem para a normalização das atividades motoras reflexas básicas e assim produzindo uma contração funcionalmente útil (KITCHEN; BAZIN, 1998). É comum empregar a técnica bipolar de colocação dos eletrodos, quando se deseja uma contração muscular, assim os eletrodos são colocados sobre as terminações proximal e distal do músculo ou do grupo muscular afetado (STARKEY, 2001). O tamanho do eletrodo depende do tamanho do músculo a ser estimulado e da intensidade de contração a ser promovida, lembrando que pequenos eletrodos tendem a intensificar as contrações musculares (KITCHEN; BAZIN, 1998). A estimulação elétrica é contra – indicada em áreas da pele que estejam anestesiadas, em casos de inflamação aguda no local do tratamento, em lugares onde se tenha tumores e doenças infecciosas (BOCKSTAHLER et al., 2004). B) Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea (TENS) A estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) é o termo utilizado para descrever uma modalidade eletroterapêutica empregada no controle da dor (STARKEY, 2001). (Ilustração 23). O mecanismo de analgesia produzido pelo TENS é explicado pela teoria das comportas, proposta por Melzac e Wall (1965) (MIKAIL; PEDRO, 2006; KITCHEN; BAZIN, 1998). Os impulsos gerados nos receptores cutâneos chegam ao corno dorsal da medula por fibras largas aferentes e bloqueiam os “portões”, inibindo assim a transmissão dos impulsos dolorosos para o cérebro (MIKAIL; PEDRO, 2006), porém o mecanismo exato de como a dor é inibida baseia-se numa completa compreensão da patologia da lesão e das 51 subseqüentes alterações que podem ocorrer nas vias nervosas e do sistema nervoso central (KITCHEN; BAZIN, 1998). Embora a TENS reduza a percepção da dor, o tratamento exerce pequeno efeito sobre a patologia principal, por isso essa modalidade deve ser empregada em conjunto com terapias que tratem a origem da dor (STARKEY, 2001). Há vários modos de utilização da TENS, como: TENS de alta freqüência e baixa intensidade (modo convencional), TENS de baixa freqüência e alta intensidade (modo acupuntura) e TENS burst ou pulsado (BOCKSTAHLER et al., 2004; MIKAIL; PEDRO, 2006). No TENS convencional a analgesia costuma ocorrer imediatamente, mas a duração é curta, o TENS acupuntura não é um método confortável e muitos animais não o toleram, no TENS pulsado o alívio da dor ocorre entre 10 a 30 minutos (MIKAIL; PEDRO, 2006). A posição dos eletrodos determina o caminho que a corrente seguirá. Os eletrodos podem ser aplicados sobre o nervo, no local onde esta estrutura seja mais superficial e proximal ao local da ocorrência da dor, sendo um eletrodo cranial e outro caudal do mesmo lado (TENS longitudinal) ou em cada lado da região dolorida (TENS transversal) (KITCHEN; BAZIN, 1998). A TENS é indicada no controle da dor crônica, no tratamento da dor pós - cirurgia e na redução da dor aguda, sendo contra-indicada na dor de origem central e desconhecida (STARKEY, 2001). Ilustração 23 – TENS - Realização de Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea (TENS) na região da coluna vertebral torácica de um animal com hérnia de disco torácica. Fonte: Arquivo pessoal, 2006. 52 2.3.1.6 Ultra-som terapêutico Na medicina veterinária o meio mais seguro para promover o aquecimento profundo dos tecidos é o ultra-som terapêutico (MIKAIL; PEDRO, 2006) (Ilustração 24). O ultra-som consiste em vibrações mecânicas de alta freqüência, não audíveis criadas por um gerador que produz energia elétrica, sendo esta convertida em energia acústica por um cristal piezoelétrico localizado no transdutor (GALLINARO, 2004). Por causa da alta freqüência o ultra-som precisa de um meio denso para percorrer e, portanto é incapaz de atravessar o ar, por isso antes de ser aplicado diretamente sobre a pele deve ser utilizado um agente de acoplamento que permita que as ondas passem do transdutor para o tecido, sendo o gel solúvel em água o material mais utilizado para esta finalidade (STARKEY, 2001), além disso, é importante a tricotomia da região na qual o ultra-som será utilizado. Na aplicação do ultra-som o terapeuta deve mover o cabeçote continuamente em relação aos tecidos, para evitar a formação de ondas estacionárias que causam lesões temporárias nas células sanguíneas circulantes, aquecimento excessivo (GALLINARO, 2004), e cavitação, ou seja, a formação de bolhas ou cavidades micrométricas nos líquidos que contém gás levando a formação de radicais livres e morte tecidual (STARKEY, 2001). Quando o ultra-som penetra em um tecido ele pode produzir efeitos térmicos e não térmicos (KITCHEN; BAZIN, 1998, MIKAIL; PEDRO, 2006; STARKEY, 2001). Quando utilizado no modo contínuo produz um efeito térmico que tem como indicação analgesia, diminuição da rigidez articular, aumento do fluxo sanguíneo, aumento da extensibilidade do tecido colágeno e redução do espasmo muscular, já no modo pulsátil o ultra-som produz efeitos não térmicos que servem para regeneração de tecidos moles e reparo ósseo (MIKAIL; PEDRO, 2006). O ultra-som é contra indicado em ossos em crescimento, medula espinhal e em todo caso de diminuição ou ausência de sensibilidade (PELLEGRINO et al., 2003). Na doença do disco intervertebral o ultra-som terapêutico é utilizado na musculatura epaxial, com o objetivo de reduzir espasmos musculares e dor (MILLIS et al., 2004). 53 Ilustração 24 – Ultra-som - Aparelho de ultra-som terapêutico. Fonte: Arquivo pessoal, 2006. 2.3.1.7 Laser terapêutico A palavra laser significa Luz Amplificada Estimulada pela Emissão de Radiação e refere-se à produção de um feixe de radiação que difere da luz comum (GALLINARO, 2004). O laser apresenta três propriedades. Ele é coerente, colimado e monocromático, estas propriedades tornam o laser uma forma muito especial de terapia (MIKAIL; PEDRO, 2006). O laser utilizado na fisioterapia tem uma ponteira com diodo de arsenato de gálio, irradia em longitude de onda de 904 nM e está incluído nas denominadas radiações ionizantes, ou seja , que não podem alterar nem degradar moléculas e tecidos biológicos (PELLEGRINO et al., 2003). O laser apresenta efeitos terapêuticos antiinflamatórios, analgésicos e cicatrizantes O laser pode ser aplicado em contato direto com a pele ou não. Quando aplicado na pele do paciente, o aparelho estará sempre em contato com a pele, quando não o laser deverá ficar perpendicular à área alvo, para assim evitar a reflexão de raios na superfície da pele, o que reduziria a quantidade de energia enviada aos tecidos e comprometeria a eficácia do tratamento (LEVINE et al., 2008). Além disso, a aplicação do laser pode ser feita de forma pontual ou na forma conhecida como varredura (MIKAIL; PEDRO, 2006). (Ilustração 25). 54 Na coluna a aplicação do laser é feita de forma local na região acometida, tanto entre as apófises espinhosas quanto na região paravertebral, irradiando em média 60 segundos em cada ponto (PELLEGRINO et al., 2003). As indicações do laser nas afecções da coluna devem-se as características antiinflamatórias e analgésicas (MIKAIL; PEDRO, 2006). Estudos experimentais recentes sobre o laser, demonstraram formação de novos axônios, no local das lesões da medula espinhal (LEVINE et al., 2008). O laser é contra-indicado em pacientes com infecção (por exemplo, osteomielite, discoespondilite), neoplasias, em indivíduos convulsivos e em fêmeas prenhes (PELLEGRINO et al., 2003). Ilustração 25 – Laser – Aplicação do laser de forma pontual na coluna vertebral de um cão. Fonte: MIKAIL; PEDRO, 2006. 2.3.2 Protocolos A capacidade de planejar um programa de reabilitação é, talvez, a habilidade mais complexa que os especialistas em reabilitação devam dominar. Este processo integra perícia em avaliação física, conhecimento da patologia, conhecimento dos princípios e técnicas terapêuticas aplicáveis e estabelecimento de metas (STARKEY, 2001). No momento de começar o processo de fisioterapia e reabilitação é preciso avaliar o caso (PELLEGRINO et al., 2003). O processo de avaliação inclui o reconhecimento do problema do paciente, a priorização dos problemas, estabelecimento de metas (curto e longo 55 prazo) e planejamento do tratamento (STARKEY, 2001). Assim será determinando o número aproximado de sessões necessárias e sua freqüência semanal (PELLEGRINO et al., 2003). O proprietário deve sempre ser explicado da importância do papel dele no processo de reabilitação, especialmente no que se refere às atividades domiciliares de execução diária (PELLEGRINO et al., 2003). 2.3.2.1 Abordagens no tratamento conservativo A reabilitação física de animais com discopatia intervertebral cervical e que estejam com o tratamento conservador inclui: massagem terapêutica, terapia pelo calor, estimulação elétrica, ultra-som e hidroterapia. Os procedimentos e protocolos fisioterapêuticos usados no tratamento clínico da hérnia de disco toracolombar são similares aos utilizados na hérnia de disco cervical (MILLIS et al., 2004). Bockstahler et al., (2004) afirma que pode ser perigoso a realização de algum tipo de atividade, quando o animal está em um quadro agudo de discopatia intervertebral, pois o anel fibroso está frágil e pode apresentar uma ruptura completa, piorando assim as condições física do animal. Os cães com Doença do disco intervertebral aguda devem ter movimentos restritos até que o anel tenha uma recuperação satisfatória e possa receber uma pressão adicional causada por uma suave atividade, portanto esses pacientes necessitam de cuidados contínuos. Segundo Bockstahler et al., (2004), os protocolos de tratamento fisioterapêutico utilizado no tratamento clínico de animais com discopatia intervertebral são: 1º ao 3º dia – TENS transversal ou longitudinal, aplicado na região dolorosa da coluna, aplicação de gelo nos músculos dorsais por 15 minutos, e exercício passivo, utilizando o reflexo flexor. 4º ao 14º dia – TENS transversal ou longitudinal, por 15 minutos, aplicação de gelo nos músculos dorsais por 15 minutos, exercício passivo, utilizando reflexo flexor e movimentos de bicicleta massagem superficial e suave na região dorsal e nos membros e ultra-som no modo pulsátil, com intensidade de 0,5 a 1W/cm2 nas áreas dolorosas, por no máximo 15 minutos. 3ª a 8ª semana – Todas as técnicas utilizadas anteriormente, incluindo exercício ativo, sendo este feito com pequenas caminhadas controladas e de curta duração. 56 9ª em diante – O TENS será usado em dores persistentes, será utilizado também a massagem e o exercício ativo, sendo este feito através de caminhadas lentas e caminhadas rápidas com movimentos uniformes e contínuos, porém nunca devem ser feito saltos, pulos e subidas de degrau. 2.3.2.2 Abordagens no pós-operatório A fisioterapia deve começar imediatamente ou dentro de 48 horas após a cirurgia, para aliviar a dor e os espasmos musculares. As modalidades terapêuticas e exercícios prescritos dependem do estado neurológico em que o animal foi operado, estando incluído no início do tratamento: a crioterapia, exercícios passivos, a estimulação elétrica e o ultra-som, sendo este utilizado apenas na musculatura epaxial, pois o excesso de calor, na região acima da incisão cirúrgica pode ser prejudicial para os nervos e medula espinhal. Exercícios ativos são usados após uma melhora nos movimentos e a hidroterapia quando a incisão cirúrgica estiver cicatrizada (MILLIS et al., 2004). Os objetivos do programa de reabilitação de lesões medulares são: recuperação da dor pós-operatória e muscular, manutenção da amplitude de movimento articular, prevenção do desenvolvimento de atrofia muscular e restauração da função neuromuscular (LEVINE et al., 2008). Segundo Bockstahler et al., (2004), os protocolos de reabilitação no pós-operatório de animais com discopatia intervertebral são: No dia da cirurgia – Aplicação de gelo no local por 15 minutos e alongamento, com movimentos confortáveis da articulação. 1º ao 3º dia após cirurgia – Crioterapia por 15 minutos, alongamento, massagem com gentis mobilizações nos tecidos ao redor da incisão e nos membros, exercício passivo estimulando o reflexo flexor e exercícios terapêuticos, sendo feito o exercício assistido com o animal em pé por 5 minutos. 4º ao 14º dia após a cirurgia – TENS longitudinal, no qual um eletrodo é colocado na região cranial e o outro na região caudal do mesmo lado do local dolorido, crioterapia nos locais onde a temperatura nos músculos dorsais está elevada e terapia pelo calor, com aplicação de compressas quentes nos músculos dorsais que estão com a temperatura normal, massagem, alongamento, exercício passivo, 57 exercícios ativo assistido, com o uso da bola e exercícios ativos nos animais que estão conseguindo sustentar o peso. 3ª a 8ª semana – TENS, terapia pelo calor, alongamento, massagem, NMES, exercícios passivos, exercícios ativo assistido, exercício ativo, uso de esteiras submersas e natação. 8ª semana em diante – TENS nas dores persistentes, massagem, NMES exercício ativo, uso de esteiras submersas e natação. 58 3 OBJETIVOS 3.1 GERAL Escrever sobre Discopatia intervertebral e as técnicas de reabilitação física utilizadas nesta patologia. 3.2 ESPECÍFICOS Descrever a anatomia e biomecânica da coluna vertebral; Relatar a etiopatogenia da Doença do disco intervertebral; Mostrar os diagnósticos e tratamentos da Discopatia intervertebral; Descrever as técnicas de fisioterapia; Demonstrar os protocolos de fisioterapia utilizados no tratamento clínico e cirúrgico da Doença do disco intervertebral. 59 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Existem diversos pontos controversos em relação à Doença do disco intervertebral em cães, primeiro em relação ao diagnóstico, alguns autores citam que a radiografia simples é conclusiva e que a radiografia contrastada (mielografia) só é necessária quando se deseja fazer uma cirurgia para saber qual o local correto da medula está sofrendo compressão, outros citam que nem todos os discos intervertebrais herniados são aparentes na radiografia de rotina e alguns afirmam que a mielografia pode não demarcar o local exato da compressão. Além disso, a classificação dos animais acometidos com discopatia intervertebral em graus, ainda não está muito esclarecida. Quanto ao tratamento existem pesquisadores que são a favor do uso de corticoesteróides, outros não, além disso, não se define exatamente qual deles é mais efetivo, qual a dose e por quanto tempo utilizar. Ainda existe a discussão pela opção do tratamento clínico conservador ou cirúrgico e qual técnica do cirúrgico é a mais apropriada. Embora todos os casos de Discopatia intervertebral não sejam iguais e não se deva usar um esquema rígido, muito ainda precisa ser estudado e pesquisado para que se tenha um melhor esclarecimento desta patologia e conseqüentemente, uma diminuição nas controversas geradas por esta doença. A fisioterapia têm por objetivo encurtar o tempo fisiológico de recuperação do animal, restabelecendo ou mantendo a maior funcionalidade deste e evitando complicações secundárias, além disso, estes recursos permitem diminuir o uso de agentes farmacológicos, que a médio ou longo prazo são agressivos para o paciente, porém novos estudos devem ser realizados para determinar doses, intensidades, freqüências e o tempo de tratamento para cada modalidade terapêutica na medicina veterinária, pois muito ainda é extrapolado da medicina humana. 60 5 CONCLUSÃO Para um bom diagnóstico e tratamento da discopatia interevertebral o clínico deve estar ciente da anatomia e neuroanatomia da coluna vertebral, assim como observar radiografias e os sinais neurológicos apresentados pelos animais A fisioterapia é de grande ajuda para a recuperação de animais com hérnia de disco intervertebral, pois colabora na resolução dos problemas locais e nos distantes, gerados por uma extrusão ou protrusão discal, ou seja, no local da lesão: na medula espinhal e coluna vertebral, e nos sinais causados por esta patologia : déficits proprioceptivo, paresia ou paralisia dos membros. É desejado que em um futuro próximo que à utilização da reabilitação física seja uma forma de tratamento indispensável na Medicina Veterinária. 61 6 REFERÊNCIAS AIELLO, S. E, Manual merck de veterinária, 3.. ed. São Paulo: Rocca, 2001. BERNSTEIN, M. Quiroprática em medicina veterinária. Disponível em: <http://www.veterinariaonline.com.br/medalternativa.php?cd_artigo=15>. Acesso em: 16 ago. 2008. BIRCHARD, S. J; SCHERDING, R. G. Manual saunders clínica de pequenos animais, 1. ed. São Paulo: Roca, 1998. BOCKSTAHLER, B; LEVINE, D; MILLIS, D. Essential facts of physiotherapy in dogs and cats rehabilitation an pain management, 1.ed., Germany: Vet Verlag, 2004. BOJRAB, M. J; SMEAK, D. D; BLOOMBERG, M. S. Mecanismos de moléstias na cirurgia dos pequenos animais, 1. ed., São Paulo: Manole, 1996. BRAZ, G. P. 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