Conhecimento da malária e adesão ao tratamento

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ENFERMAGEM
PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
MESTRADO EM ENFERMAGEM
TAÍSA GUIMARÃES DE SOUZA
Conhecimento da malária e adesão ao tratamento
Cuiabá – MT
2012
1
TAÍSA GUIMARÃES DE SOUZA
Conhecimento da malária e adesão ao tratamento
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em
Enfermagem, da Universidade Federal de Mato Grosso, como
requisito para obtenção do título de Mestre em Enfermagem.
Área de concentração: Processos e Práticas em Saúde e Enfermagem
Orientadora: Profa. Dra. Annelita Almeida Oliveira Reiners
Cuiabá – MT
2012
2
TAÍSA GUIMARÃES DE SOUZA
Conhecimento da malária e adesão ao tratamento
Esta dissertação foi submetida ao processo de avaliação pela Banca
Examinadora para obtenção do título de:
Mestre em Enfermagem
E aprovada na sua versão final em ___/___de _____, atendendo às normas de legislação
vigentes da UFMT, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, área de concentração
Processos e Práticas em Saúde e Enfermagem.
______________________________
Profa Dra. Áurea Christina de Paula Corrêa
Coordenadora do Programa
BANCA EXAMINADORA
Profa Dra ____________________________________________________
Profª Drª. Annelita Almeida Oliveira Reiners
Faculdade de Enfermagem/UFMT
(Presidente – Orientadora)
Profa. Dra ____________________________________________________
Profª. Drª. Eleonora Arnaud Pereira Ferreira
Faculdade do Pará/UFPA
(Membro efetivo externo)
Prof. Dr. ____________________________________________________
Profª Drª. Marina Atanaka dos Santos
Instituto de Saúde Coletiva/ UFMT
(Membro efetivo interno)
Profa Dra____________________________________________________
Profª Drª. Rosemeiry Capriata de Souza Azevedo
Faculdade de Enfermagem/UFMT
(Membro suplente)
3
Dedico esta dissertação aos meus pais Caetano e Luíza, com amor
e admiração pela compreensão e carinho na realização dos meus
sonhos.
4
AGRADECIMENTOS
Neste momento, após noites mal-dormidas, longas orientações, choros, viagens,
finalizo uma etapa da minha vida. O mestrado em Enfermagem era um objetivo alicerçado
ainda no início da graduação, um sonho, que por muitas vezes parecia impossível e
inalcançável.
Diante dessa conquista agradeço primeiramente a Deus, que me deu o dom da vida,
presenteando-me com a liberdade e abençoando com inteligência e força para lutar.
Aos meus pais, Caetano e Luíza, que por amor dedicaram da vida os melhores
momentos, que souberam acolher-me quando a tarefa se mostrava árdua, impulsionando-me a
superar obstáculos, comemorando com o mesmo entusiasmo cada uma de minhas tentativas e
cada conquista. A vocês, exemplos de vida e força, agradeço a possibilidade de realização de
um grande sonho. Amo Vocês!
A tia Vera, tio Hamilton, Bruna e Mateus, agradeço pelo apoio durante esses dez anos
de convivência, pela paciência nos momentos em que errei, pelo carinho diário e atenção nos
momentos que precisei.
Ao Vinícius, que soube entender o meu grande sonho mesmo sabendo que para que
fosse realizado seria necessário a distância, renúnicas e assim respeitou profundamente a
minha maneira única de ser. A sua companhia, o seu sorriso, as suas palavras e mesmo a sua
paciência foram expressões de amor sincero. Muito obrigada por todas aquelas vezes que
você me ouviu e deu o seu apoio. As alegrias de hoje também são suas.
Ao meu irmão, tios e primos, que aguentaram minhas reclamações e vibraram com as
minhas conquistas, obrigada pelo apoio, dedicação, respeito e paciência.
A minha irmã de alma, grande amiga e confidente Rita Graziella, que por tantas vezes
de mãos dadas caminhamos para um mesmo objetivo; lado a lado, lutando contra os mesmos
obstáculos, rindo, chorando e comemorando pelos mesmos motivos obrigada pelo apoio
incodicional.
As minhas amigas Daniela e Priscilla que maneira ímpar foram fundamentais na
construção deste trabalho.
A Drª. Annelita Reiners, professora, orientadora, cuja inteligência e cultura têm
colocado a serviço do ensino e do qual tenho recebido os maiores e melhores conhecimentos,
5
suas lições incluíram compreensão, amizade e mais que tudo, a consciência do valor da
profissão, dizer-lhe muito obrigado é muito pouco e não expressa em plenitude tudo aquilo
que gostaria de dizer.
A professora Drª. Rosemeiry Capriata, que me fez conhecer o mundo das pesquisas,
por toda dedicação, disposição e conhecimento, diante de minhas limitações.
Ao professor Drº. Cor Fontes e professora Marina Atanaka pelo apoio e orientações.
A equipe da Secretaria Estadual de Saúde, principalmente à Elaine e Luís, pelo apoio
durante a coleta de dados da pesquisa.
A mineradora São Francisco pela acolhida e logística em Três Fronteiras.
Aos agentes de endemias, microscopistas e toda população do distrito de Três
Fronteiras é por vocês, por uma melhor qualidade de vida que esse trabalho foi construído.
Ao Programa de bolsa de demanda social da Capes e ao CNPq pelo apoio financeiro.
Por fim, agradeço a todos os mestres e funcionários do Programa de Mestrado em
Enfermagem e da Faculdade de Enfermagem, pela atenção e paciência nesses dois anos.
6
SOUZA, T. G. Conhecimento da malária e adesão à terapêutica. 2012. 53f. Dissertação
(Mestrado em enfermagem) – Programa de Pós - Graduação em Enfermagem, Universidade
Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2012.
RESUMO
Embora dados recentes revelem queda expressiva dos casos de malária, a doença ainda
constitui um problema de saúde pública importante. No ano de 2010 foram diagnosticados
cerca de 216 milhões de casos clínicos e 655 mil mortes, principalmente no continente
Africano. No Brasil, a doença ocorre principalmente na região da Amazônia Legal. Segundo
dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica – Malária (SIVEP –
MALÁRIA), em 2011, foram registrados 284.643 casos da doença. Apesar do tratamento da
malária se mostrar eficaz na cura e controle da doença ainda ocorrem casos de não-adesão ao
tratamento medicamentoso da malária que, juntamente com outros fatores, podem acelerar a
disseminação da resistência dos parasitas aos fármacos. Dentre os estudos que verificam os
fatores que influenciam a adesão ao tratamento, vários apontam o conhecimento que as
pessoas têm sobre a doença e o tratamento como um dos mais importantes. Entretanto,
somente poucos estudos têm verificado a relação desse fator com a adesão ao tratamento.
Diante do exposto, nosso objetivo nesta investigação é analisar a relação entre o
conhecimento que os pacientes têm sobre a malária, seu tratamento e prevenção e a adesão à
terapêutica medicamentosa. Trata-se de um estudo epidemiológico, do tipo inquérito,
descritivo e transversal, realizada no distrito de Três Fronteiras – MT. A população da
pesquisa foi todos os residentes na área de abrangência do distrito no período do estudo e
utilizou-se amostragem por conveniência para compor a amostra. Foram elegíveis para o
estudo pessoas com idade igual ou superior a 18 anos diagnosticados com malária vivax ou
falciparum e que tinham recebido medicamentos para o tratamento da doença de acordo com
o esquema de primeira escolha preconizado pelo Ministério da Saúde. Portanto a amostra se
constituiu de 27 pacientes. Neste estudo ficou evidente que os pacientes participantes da
pesquisa têm um conhecimento satisfatório da doença, meios de transmissão, tratamento e
medidas preventivas da malária. Segundo os critérios estabelecidos neste estudo, encontrou-se
que a maioria dos pacientes aderiu ao tratamento medicamentoso indicado para o tipo de
malária adquirido, entretanto mostrou que não houve diferença no conhecimento de quem
aderiu ou não aderiu ao tratamento, evidenciando que esta relação nem sempre acontece. Os
resultados desta pesquisa têm ainda, implicações para o planejamento de intervenções de
educação em saúde para melhorar o controle da malária, através de ações que atendam as suas
reais necessidades de saúde. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
HUJM sob o protocolo de no 982/2010 (ANEXO B) e possui o financiamento do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), inscrito sob processo
número: 555652/2009-2.
Palavras chave: Malária, Conhecimento, Adesão à medicação.
7
SOUZA, T. G. Malaria Knowledge and adherence to the medical treatment.
2012.53f.Dissertation (MSc Nursing) - the Postgraduate in Nursing, Federal University of
Mato Grosso, Cuiabá, 2012.
ABSTRACT
In spite recent data showing an expressive decrease of malaria cases, the disease still
constitutes an important problem to public health. In the year of 2010 around 216 million
clinic cases were diagnosed and 655 thousand deaths, mostly in the African continent. In
Brazil the disease strikes particularly in the Legal Amazon Region. According to the System
of Epidemiologic Surveillance and Information – Malaria (SIVEP - Sistema de Informação da
Vigilância Epidemiológica – Malária), in 2011, 284.643 cases of the disease were registered,
the majority (126.627) occurred in the Pará State, mainly caused by the Plasmodium vivax.
Despite the fact that the treatment of malaria shows to be effective to the cure and control of
the disease, some cases of non-adherence to the malaria medical treatment, combined with
other factors, can accelerate the dissemination of the parasites’ resistance to the
pharmaceuticals. Among the studies that verify the facts that influence the adhesion to the
treatment, several of them point the knowledge people have over the diseases as one of the
most important ones. However, only a few studies verify the relation between this fact and the
adherence to the treatment. Considering what was exposed, the objective during the
investigation is to analyze the relationship between the knowledge of the patients over
malaria, its treatment and prevention and the adhesion to the pharmaceuticals treatment. It is
an epistemological study, survey methodological, descriptive and cross-sectional, conducted
at Três Fronteiras – Mato Grosso District. The research`s population is composed by all the
residents of the District`s Scope during the period the study was conducted; a sampling over
convenience was used to compose the sample. People with at least 18 years old, diagnosed
with malaria vivax ou falciparum and who had received the disease’s medicine treatment
were considered eligible to the study, according to the first chosen scheme prioritized by the
Ministry of Health (Ministério da Saúde). Therefore 27 patients constitute the sample. During
this study it was evident that the researcher’s participant patients have a satisfactory
knowledge of the diseases, its spread forms, the treatment and the preventive measures of
malaria. According to the criteria established in this study, it was found out that most of the
patients joined the medical treatment indicated for the type of malaria acquired. However,
there was no difference between the knowledge of the ones who joined and did not join the
treatment, showing that that this relationship not always happens. The results of the research
hold important implications to the planning and intervention of health education to improve
and control malaria, trough actions which answer the real necessities of health. This research
was approved by the Research Committee of Health of HUJM (Comitê de Ética em Pesquisa
do HUJM) under the protocol number 982/2010 (APPENDIX B) and it was financed by the
National Council of Scientific Development (do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – CNPq), subscribed under the process number: 555652/2009-2.
Keywords: Malaria, Knowledge, Medication Adherence.
8
SOUZA, T. G. Conocimiento de la malaria e inclusión a la terapia. 2011. 53f. Tesis
(Maestría en Enfermería) – Programa de Pos – Graduación en Enfermería, Universidad
Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2012.
RESUMEN
Aunque datos recientes muestran una reducción significativa en casos de malaria, esta
enfermedad todavía se considera un problema de salud pública importante. En el año 2010
fueron diagnosticados cerca de 216 millones de casos clínicos y 655 mil muertes,
principalmente en el continente Africano. En Brasil, la enfermedad aparece con frecuencia en
la región Amazónica. Según datos del Sistema de Información de Vigilancia Epidemiológica
– Malaria (SIVEP – MALARIA), en 2011, fueron registrados 284.643 casos, la mayoría
(126.627) ocurrieron en el estado del Pará, grande parte fue causada por el
“Plasmodium vivax”. A pesar del tratamiento de la malaria ser eficaz en la cura y el control
de la enfermedad, todavía se producen casos de falta de inclusión al tratamiento
farmacológico de la malaria que, junto a otros factores, pueden acelerar la propagación de la
resistencia del parásito a las drogas. Entre los estudios que verifican los factores que influyen
en la inclusión del tratamiento, muchos señalan que la gente tiene conocimiento sobre la
enfermedad y el tratamiento como uno de los más importantes. Sin embargo, solamente
algunos estudios han comprobado la relación de este factor con la inclusión al tratamiento.
Teniendo en cuenta lo expuesto, nuestro objetivo en esta investigación es analizar la relación
entre el conocimiento que tienen los pacientes sobre la malaria, su tratamiento, prevención e
inclusión terapéutica farmacológica. Se trata de un estudio epidemiológico sobre una
investigación, descriptiva y transversal, que se celebró en el distrito de Trê Fronteiras – MT.
La población de estudio fue todos los residentes en la zona que abarca el distrito en el periodo
de investigación y se utilizó muestras por conveniencias para componer la prueba. Fueron
escogidas para el estudio, personas con edades iguales o superiores a los 18 años
diagnosticados con malaria vivax o falciparum y que habían recibido medicamentos para el
tratamiento de la enfermedad de acuerdo con el esquema de la primera opción preconizada
por el Ministerio de Salud. Por tanto la prueba se adquirió de 27 pacientes. En este estudio
queda claro que los pacientes participantes de la investigación tienen un conocimiento
satisfactorio de la enfermedad, los medios de transmisión y medidas preventivas de la malaria.
Según los criterios establecidos en esta encuesta, nos deparamos que la mayoría de los
pacientes se adhirió al tratamiento farmacológico indicado para el tipo de malaria contraído,
sin embargo mostró que no hubo diferencia en el conocimiento de quien se adhirió o quien no
se adhirió al tratamiento, evidenciando que esta relación no siempre ocurre. Los resultados de
esta encuesta aspiran para el planteamiento de intervenciones de educación en salud para
mejorar el control de la malaria, a través de acciones que cumplan con sus necesidades reales
de salud. Este estudio fue aprobado por el Comité de Ética en Investigación del HUJM sobre
el protocolo de no 982/2010 (ANEXO B) y posee financiamiento del Consejo Nacional de
Desarrollo Científico y Tecnológico (CNPq), inscrito sobre proceso número: 555652/2009-2.
Palabras llave: Malaria, Conocimiento, Cumplimiento de la Medicación
9
LISTA DE SIGLAS
Capes
Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CNPq
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
HUJM
Hospital Universitário Júlio Muller
MS
Ministério da Saúde
OMS
Organização Mundial da Saúde
OPAS
Organização Pan-americana de Saúde
PCR
Polimerase chain reaction
PNCM
Plano Nacional de Controle da malária
RAVREDA Rede Amazônica de Vigilância da Resistência ao Antimaláricos
SES-MT
Secretaria de Saúde do Estado de Mato Grosso
SIVEP
Sistema de Vigilância epidemiológica
SUS
Sistema Único de Saúde
WHO
World Health Organization
10
LISTA DE FIGURAS
Quadro 1 −
Conhecimento sobre a malária, o tratamento e a prevenção apresentado
pelos pacientes. Três Fronteiras - Mato Grosso. Brasil. 2011. n=27..............
37
11
LISTA DE TABELAS
PRIMEIRO ARTIGO
Tabela 1 −
Distribuição dos pacientes de acordo com as características
sociodemográficas, a avaliação do conhecimento sobre a doença, o
tratamento e a prevenção, e adesão ao tratamento. Três Fronteiras Mato Grosso. Brasil. 2011. N=27............................................................
38
12
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14
2.
REVISÃO DE LITERATURA ...........................................................................
18
2.1
Malária ...............................................................................................................
18
2.2
Tratamento da malária .....................................................................................
20
2.3
Conhecimento da malária..................................................................................
23
3.
METODOLOGIA ................................................................................................ 25
3.1
Tipo de pesquisa ................................................................................................. 25
3.2
Local do estudo ..................................................................................................
3.3
População e amostra .......................................................................................... 26
3.4
Coleta de dados ..................................................................................................
3.5
Análise dos dados ............................................................................................... 27
3.6
Resultados da pesquisa....................................................................................... 28
REFERÊNCIAS
4.
RESULTADOS DA PESQUISA
4.1
ARTIGO 1: Analisar a relação entre o conhecimento que os pacientes têm
25
26
29
sobre a malária, seu tratamento e prevenção e a adesão à terapêutica
medicamentosa.....................................................................................................
32
RESUMO ...........................................................................................................
32
INTRODUÇÃO .................................................................................................
33
METODOLOGIA .............................................................................................. 34
RESULTADOS ..................................................................................................
36
DISCUSSÃO ......................................................................................................
40
CONCLUSÃO..................................................................................................... 44
REFERÊNCIAS.................................................................................................. 46
5.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
48
13
6.
APÊNDICES E ANEXOS
APÊNDICE A ....................................................................................................
50
ANEXO A ........................................................................................................... 52
ANEXO B ...........................................................................................................
53
14
1. INTRODUÇÃO
Embora dados recentes revelem queda expressiva dos casos de malária, a doença ainda
constitui um problema de saúde pública importante, na medida em que contribui para o
adoecimento e morte de muitas pessoas, além de acarretar custos significativos para seu
tratamento e controle.
A malária é uma doença que ocorre no mundo todo com características que variam de
acordo com a região. No ano de 2010 foram diagnosticados no mundo cerca de 216 milhões
de casos clínicos e 655 mil mortes, principalmente no continente africano (WHO, 2011). A
malária também ocorre em vinte e um países da América Central e do Sul, entre eles, Brasil,
El Salvador, Guatemala, México, Venezuela, Guiana Francesa, Haiti, República Dominicana,
em que cerca de 77% dos casos da doença sucedem da transmissão por Plasmodium vivax
(WHO, 2009).
No Brasil a doença ocorre em várias regiões, principalmente na região da Amazônia
Legal nos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Roraima, Rondônia, Tocantins, Pará e Mato
Grosso pelas espécies de Plasmodium vivax, falciparum e maláriae. Em 2011, segundo dados
do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica – Malária (SIVEP – MALÁRIA),
foram registrados 284.643 casos da doença, a maioria (126.627) ocorreu no estado do Pará,
grande parte causados pelo Plasmodium vivax (BRASIL, 2011).
O meio ambiente natural da região Amazônica possui condições ideais para
transmissão da malária: topografia, hidrografia, tipo de solo e clima. A temperatura e o padrão
pluviométrico maximizam o risco de transmissão quando os solos estão mais úmidos e a
variação do nível da água nos rios e igarapés propicia a formação de criadouros de mosquito
em suas margens. Outros fatores determinam a ocorrência da doença, como a ação do homem
sobre o meio ambiente, como a de abertura de estradas na mata, ocupação de lotes,
construções de casas que não oferecem proteção contra mosquitos, assim como o
desmatamento descontrolado que aumenta o número de criadouros de mosquito e
consequentemente seu contato com o homem (CASTRO; SINGER, 2007).
Em Mato Grosso, os casos da doença também são registrados como sendo a maior
parte provocada pelo P. vivax. No ano de 2011, 2.135 casos foram diagnosticados: 1.275 em
Colniza, 203 em Aripuanã e 133 em Arenápolis (BRASIL, 2011).
Visando a prevenção da enfermidade são necessárias ações de controle da doença, por
meio de adoção de medidas que competem ao indivíduo e a família, como usar repelentes,
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roupas e acessórios que protejam o corpo; evitar ficar ao relento e manter-se afastado da mata,
pescar ou tomar banho de rio ao anoitecer ou ao amanhecer; fazer uso de mosquiteiros ou
cortinados; construir casas com paredes completas, afastadas da mata e coleções de água,
além de medidas que competem às esferas governamentais, são elas, repasse de informações,
saneamento ambiental com drenagens de terrenos, desobstrução de igarapés, aterros e
limpezas de valas que evitam o acúmulo de água, combatendo assim as larvas e criadouros do
mosquito além de borrifações com inseticidas químicos intradomiciliares e extradomiciliares
para acabar com os mosquitos adultos (BRASIL, 2008).
Segundo Renault et al. (2007), a aplicação de medidas preventivas contra a malária
responde pela diminuição dos casos de morbidade e mortalidade.
Para os casos de ocorrência da doença, existem tratamentos preconizados pelo
Ministério da Saúde que consistem em esquemas terapêuticos designados para cada tipo da
malária, através de fármacos como primaquina, cloroquina, mefloquina, artesunato, quinina e
doxiciclina (BRASIL, 2010). Esses esquemas são prescritos após o diagnóstico realizado por
meio do exame da gota espessa, anamnese do paciente e então distribuídos gratuitamente.
O tratamento da malária têm se mostrado eficaz na cura e controle da doença
(ABDON et al., 2001). Segundo a WHO (2006), ainda ocorrem casos de não-adesão ao
tratamento medicamentoso da malária que, juntamente com outros fatores, podem acelerar a
disseminação da resistência dos parasitas aos fármacos.
Entretanto, para que isso aconteça, a utilização de fármacos e suas combinações de
forma correta são fundamentais (KREMSNER; KRISHNA, 2004) e a não-adesão ao
tratamento pode levar ao aumento do número de recidivas ou recaídas, ou seja, o retorno da
manifestação da doença (ROCHA, 2008).
O MS, no Manual de Adesão ao Tratamento para Pessoas vivendo com HIV e AIDS
(BRASIL, 2008), com a finalidade de promover adesão ao tratamento, entre outras ações,
propõe a utilização de estratégias como consultas e atendimentos individuais e
multiprofissionais, tratamento diretamente observado, reuniões em grupo ou rodas de
conversa, atividades educativas na sala de espera das unidades básicas, além do uso de
dispositivos como porta – pílulas, diários, alarmes, tabelas e mapas de doses.
Especificamente, para o tratamento da malária, autores têm proposto várias estratégias
com o fim de proporcionar alternativas para melhorar a adesão: oficinas, atividades em grupo,
visitas domiciliares, formação de profissionais, panfletos, entre outras (CROPLEY, 2004,
AFENYADU et al., 2005, AYI et al., 2010,).
16
Entretanto, para que tais estratégias tenham impacto sobre a adesão ao tratamento é
preciso saber as reais necessidades dos pacientes levando em consideração os vários fatores
que influenciam o seguimento do tratamento.
De modo geral, os fatores apontados como contribuintes para a não-adesão ao
tratamento de várias doenças podem estar relacionados ao paciente (idade, sexo, estado civil,
cor, status socioeconômico, conhecimento, crenças, motivações, nível de escolaridade); à
doença (gravidade, alívio dos sintomas); ao tratamento (complexidade, efeitos colaterais,
custo elevado); ao serviço e à equipe (localização, burocracia, rotatividade de profissionais,
comunicação e abordagens inadequadas) (REINERS et al., 2008)
No caso da malária, estudos demonstram que fatores diversos podem dificultar a
continuidade do tratamento da doença, como os relacionados à terapia medicamentosa (efeitos
colaterais dos fármacos, melhora dos sintomas), os socioeconômicos (renda, local de moradia,
escolaridade, migração); os culturais, os relacionados às pessoas (déficits cognitivos e
sensitivos), e ainda aos serviços e equipes de saúde (PIMENTEL et al., 2007, PEREIRA et
al., 2011).
Vários deles apontam o conhecimento que as pessoas têm sobre a doença e o
tratamento como um desses fatores (SANTOS et al., 2010, NERBASS et al., 2010, ROCHA,
2001, KHANTIKUL et al., 2009). Entretanto, somente poucos estudos têm verificado a
relação desse fator com a adesão ao tratamento (SERAFIM et al., 2010, PIERIN, 2001).
A adesão ao tratamento da malária, portanto, constitui-se em um problema
preocupante que necessita de medidas que visem incrementá-la. Neste sentido, é preciso que
sejam realizadas ações que venham de encontro aos fatores que têm contribuído para a sua
não efetivação.
No caso da malária, os estudos sobre essa temática são escassos.
Khantikul et al. (2009) realizaram uma pesquisa com o objetivo de verificar os fatores
que influenciavam a adesão e não-adesão ao tratamento de pessoas com malária vivax em uma
cidade da Tailândia e descobriram que a não-adesão ao tratamento estava relacionada, entre
outros fatores, aos conhecimentos que a população tinha sobre a malária, seu tratamento e
seus efeitos.
De outra forma, Yépez et al. (2000) em seu estudo sobre fatores associados a nãoadesão ao tratamento em pacientes equatorianos acometidos de malária por P. falciparum,
descobriram que o conhecimento que eles tinham sobre a gravidade da enfermidade
influenciou sua adesão ao tratamento.
17
Diante do exposto, nosso objetivo nesta investigação é:
Analisar a relação entre o conhecimento que os pacientes têm sobre a malária,
seu tratamento e prevenção e a adesão à terapêutica medicamentosa.
Acreditamos que os resultados deste estudo poderão trazer benefícios aos pacientes
acometidos pela malária, no sentido de trazer informações sobre o conhecimento que essas
pessoas possuem da doença, seu tratamento e prevenção, além da forma como aderem ao
tratamento, possibilitando assim que os profissionais da área da saúde realizem o
planejamento e implementação de ações que atendam as suas reais necessidades de saúde.
Além disso, podem subsidiar pesquisas futuras no sentido de buscar as razões do
pouco conhecimento que as pessoas têm sobre a malária e o tratamento de modo a favorecer o
planejamento e implementação de ações de educação em Saúde com populações que residem
em regiões onde a malária é endêmica.
18
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Malária
A malária é uma doença infecciosa aguda ou crônica, causada pelos parasitas do
gênero Plasmodium e transmitida pela picada do mosquito Anopheles (NEVES et al., 2008).
É conhecida também como: paludismo, impaludismo, febre palustre, febre intermitente, febre
terçã benigna, febre terçã maligna, febre quartã, maleita, sezão, tremedeira ou batedeira,
caracteriza-se por episódios de calafrios, febre e sudorese, que podem ser acompanhados por
cefaléia, náuseas e vômitos (BRASIL, 2010).
As espécies de Plasmodium associadas à malária humana são: P. falciparum, P. vivax
P. malariae e P. ovale, sendo registrada a transmissão deste último apenas em determinadas
regiões da África. O período de incubação da doença é diferente para cada espécie de
plasmódio. Para o P. falciparum, a média é de 12 dias; P. vivax, são 14 dias; e para o P.
malariae, 30 dias (BRASIL, 2010).
Os parasitas da malária possuem um ciclo complexo, são inoculados ao homem pela
saliva que o mosquito produz durante a picada, ocorrendo a forma infectante inicial esporozoítos, caem na corrente sanguínea atingem as célula parenquimatosas do fígado onde
se aglomeram e por um processo de divisão múltipla (esquizogônica) (FERRAZ, 2002).
No interior das células hepáticas, os plasmódios passam por uma divisão assexuada
(esquizogonia tecidual), formando os chamados merozoítos. Após o período de incubação os
parasitas irrompem das células hepáticas e entram na corrente sanguínea, infectando os
eritrócitos, passando assim por nova divisão assexuada (esquizogonia eritrocítrica). É durante
este período que surgem os sintomas clínicos típicos da malária. Eventualmente, alguns dos
parasitas não sofrem divisão assexuada, mas formam gametócitos que ficam incubados nas
hemácias.
Assim, se um mosquito Anopheles fêmea sugar o sangue de um indivíduo
infectado, os gametócitos passarão para um novo hospedeiro. No estômago deste mosquito
hospedeiro, os parasitas irão iniciar uma fase sexuada com a fecundação e formação de um
zigoto. Este zigoto implanta-se depois nas paredes do tubo digestivo, onde dará origem a
novos esporozoítos que, quando libertados, se alojam nas glândulas salivares do mosquito,
podendo assim causar novas infecções (FERRAZ, 2002).
19
Estima-se que mais de 40% da população mundial está exposta ao risco de adquirir
malária, visto que a doença ocorre principalmente nas áreas tropicais e subtropicais do
planeta e, mesmo nessas regiões, sua distribuição não é homogênea. A doença ocorre
principalmente em países com baixo desenvolvimento socioeconômico, onde as populações
vivem em condições precárias de habitação e trabalho, e existem condições ecológicas
favoráveis à proliferação dos vetores (TAUIL, 2006).
A ocorrência da doença no Brasil também é decorrente de diferentes situações
epidemiológicas, como as formas de ocupação do solo e das diversas modalidades de
exploração econômica dos recursos naturais. Houve um aumento significativo da incidência
da malária a partir da década de 70, diante da política de ocupação e desenvolvimento da
Amazônia,
associada
ao
afluxo
de
migrantes
(BARATA,
1995,
CARDOSO;
GOLDENBERG, 2007).
A explosão de casos de malária em Mato Grosso está associada à intensificação das
atividades garimpeiras de forma mais expressiva a partir de 1988. A descoberta de ouro
aluvião, na região de Peixoto Azevedo e diamantes em Juína, atraíram os migrantes,
inicialmente garimpeiros nordestinos e nortistas e, mais tarde, os sulistas que recorreriam a
esta região atraído pela agropecuária e exploração de madeiras. Nesse período, a precária
estrutura de serviços de saúde nas áreas de colonização e a dificuldade de acesso aos serviços
de saúde existente e dos profissionais de saúde à localidade contribuíram para o aumento da
mortalidade por malária no estado (ATANAKA-SANTOS et al., 2006).
Com o objetivo de diminuir os casos da malária e os danos causados por ela, o
Ministério da Saúde adotou políticas públicas com orientações da Estratégia Global da OMS
de 1992, como a diagnóstico e tratamento precoce, planejamento, implementação de medidas
preventivas ajustadas às características particulares de transmissão de cada localidade,
detecção e contenção ou prevenção de epidemias e monitoração regular da situação da
malária, seus determinantes ecológicos, sociais e econômicos.
Foi criado ainda o Programa Nacional de Controle da Malária (PNCM) que visava às
estratégias de diagnóstico precoce e tratamento imediato como prioridade. O programa
também se preocupava com as intervenções para controle do vetor, a detecção imediata de
epidemias e um maior envolvimento do nível estadual e municipal para execução das medidas
de controle da doença. Outra ação importante foi a publicação da Portaria SVS/MS nº 5 que
definia a malária como uma doença de notificação compulsória (BRASIL, 2010).
20
O MS estabelece como competência da Atenção Básica do Sistema Único de Saúde
(SUS), ações que promovam a proteção da saúde, prevenção de agravos, o diagnóstico,
tratamento e reabilitação da saúde, através de equipes multidisciplinares.
Para o controle da malária foram determinadas algumas especificidades e atribuições
aos profissionais de saúde, desde identificação dos sinais e sintomas, diagnóstico, notificação
dos casos suspeitos, tratamento até a implementação de medidas preventivas para o controle
da enfermidade (BRASIL, 2006).
O MS estabeleceu que ao realizar o diagnóstico fosse necessário a avaliação do
quadro clínico do paciente ou pelo diagnóstico laboratorial, como: parasitológico de sangue
(gota-espessa), métodos imunocromatográficos, de biologia molecular (PCR) e sorológica
(imunofluorescência indireta, ELISA, etc.). O exame da gota espessa é simples, eficaz, tem
baixo custo e é o método usado oficialmente no Brasil (BRASIL, 2003).
Para a efetividade no controle da malária foi necessário a adoção de medidas de
prevenção individual, como a utilização de mosquiteiros impregnados ou não com inseticidas,
roupas protetoras, uso de telas em janelas e portas, uso de repelentes, além de métodos de
prevenção coletiva através de drenagens, aterros, limpezas de terrenos, modificação do fluxo
da água, melhoramento das moradias, de forma que não sejam construídas próximo a coleções
de água e pelo uso racional da terra (BRASIL, 2002).
Essas estratégias estão de acordo com o Relatório Mundial sobre a Malária (WHO,
2010), que tem dois grandes objetivos: prevenção e
gerenciamento de casos. Entre as
medidas a serem adotadas estão o controle de vetores da malária, proteção contra as picadas
de mosquito da malária infecciosa, redução da intensidade de transmissão da malária na
comunidade além das políticas de tratamento que visam reduzir a morbidade e mortalidade,
assegurando rápida e completa cura da infecção evitando assim casos da doença grave ou
complicada, prevenção da infecção crônica, prevenção da frequência e duração da infecção da
malária durante a gravidez e seu impacto negativo sobre o feto.
2.2 Tratamento da malária e adesão ao tratamento
A OMS orienta os países onde a malária é endêmica sobre a necessidade de
estabelecer protocolos específicos e detalhados de tratamento da doença, levando em
consideração a capacidade de atendimento de saúde no país e a possíveis resistências às
drogas antimaláricas. Determina ainda que o objetivo do tratamento da malária não
21
complicada é curar a infecção, através da eliminação do parasita, evitando a progressão para
doença grave e morbidade adicional associada com a falha da terapêutica e, no caso da
malária graveevitar a morte (WHO, 2010).
No ano de 2001, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) desenvolveu como
estratégia para apoiar os países na atualização das políticas de antimaláricos a Rede
Amazônica de Vigilância de Resistência aos Antimaláricos (RAVREDA) com base no
monitoramento da resistência do Plasmodium falciparum aos antimaláricos. Tal estratégia que
vem sendo um mecanismo eficaz para a cooperação técnica em malária, alinhando os
programas de controle, doadores e instituições de assistência técnica em torno das prioridades,
estratégias e ferramentas recomendadas internacionalmente (OPAS, 2008).
O Ministério da Saúde (MS), por meio de política nacional de tratamento da malária,
preconiza a terapêutica e disponibiliza gratuitamente os fármacos antimaláricos no Sistema
Único de Saúde (SUS). O tratamento visa atingir o parasito em seu ciclo evolutivo, através da
interrupção da esquizogonia sanguínea, responsável pela patogenia e manifestações clínicas
da infecção e destruição das formas latentes das espécies P .vivax e P. ovale no ciclo tecidual
(hipnozoítos), evitando assim as recaídas tardias; interrupção da transmissão do parasito, pelo
uso de drogas que impedem o desenvolvimento de suas formas sexuadas (gametócitos)
(BRASIL, 2010).
Entretanto, para que a terapia medicamentosa tenha resultado positivo, é necessário
identificar o tipo de Plasmodium infectante, a idade e peso do paciente, presença de exposição
anterior à doença e gestação. Além disso, que as prescrições sejam realizadas de forma clara e
objetiva visando o entendimento do paciente.
Entretanto, a resistência aos medicamentos antimaláricos tem sido documentada em
todas as classes de anti-maláricos, constituindo-se em ameaça ao controle da malária,
principalmente pelo seu uso generalizado e indiscriminado. (WHO, 2010).
A utilização correta ou não dos fármacos podem interferir no tratamento,
representando uma das causas da manutenção da parasitose em questão e surgimento de novos
focos em regiões não endêmicas. Além de provocar o aparecimento de recaídas, ou seja, o
retorno das manifestações clínicas de uma infecção por P. vivax, causada por uma nova
invasão dos eritrócitos por formas de origem hepática (hipnozoítos), pode também levar a
recidivas, caracterizadas pelo reaparecimento de manifestações (sintomas clínicos,
parasitemia, ou ambos) de uma infecção malárica, depois de transcorrido um tempo superior
ao da periodicidade normal dos acessos (BRASIL, 2003).
22
Abdon et al.(2001) consideram que as recaídas da malária decorrentes da não adesão
ao tratamento possa ser resultado do tratamento de longa duração (cloroquina por três dias e
primaquina por quatorze dias). De outro modo, Silva et al.(2003) consideram a importância
dos fármacos utilizados no tratamento de curta duração (cloroquina por três dias e primaquina
por sete dias), pois essa pode ser uma das alternativas para melhorar a adesão dos doentes ao
tratamento, principalmente nas regiões de alto potencial malarígeno, como é a Amazônia,
onde o acesso ao tratamento é difícil.
O MS adota como definição de adesão: um processo dinâmico e multifatorial que
inclui aspectos físicos, psicológicos, sociais, culturais e comportamentais, que requer decisões
compartilhadas e co-responsabilizadas (BRASIL, 2008).
A adesão ao tratamento prescrito é um processo no qual os sujeitos estão em contato
com uma variedade de fatores que influenciam sua continuidade ou a descontinuidade. Inclui
fatores terapêuticos e educativos relacionados aos pacientes, como o reconhecimento e a
aceitação de suas condições de saúde, adaptação ativa a estas condições, identificação de
fatores de risco no estilo de vida, cultivo de hábitos e atitudes promotoras de boa qualidade de
vida e desenvolvimento da consciência para o autocuidado, bem como o conhecimento da
doença e do tratamento. Além disso, fatores relacionados ao profissional como promoção de
ações de saúde centradas na pessoa, orientação, informação, adequação dos esquemas
terapêuticos ao estilo de vida do paciente, esclarecimentos, suporte social e emocional
(SILVEIRA; RIBEIRO, 2005)
No entanto, ainda podemos observar que muitas vezes a responsabilidade pela nãoadesão ao tratamento é tida como resultado da ignorância dos pacientes ou responsáveis por
eles, sobre a importância do tratamento ou como simples desobediência de "ordens médicas".
É necessário compreender questões relacionadas ao paciente e ao meio em que está inserido
como importantes no procedimento de adesão à prescrição medicamentosa (LEITE;
VASCONCELOS, 2003).
A literatura descreve algumas formas de medir a adesão ao tratamento. Podem ser
diretas (mensuração da concentração da droga na urina e no sangue) e indiretas (auto-relato,
contagem de pílulas, registro na dispensação da farmácia e dispositivos eletrônicos Medication Event Monitoring Systems/MEMS), ou ainda através da combinação de métodos
(entrevista + contagem de pílulas, registros na farmácia + dispositivo eletrônico, registro
diário + registro do paciente).
23
Portanto, a adesão ao tratamento é um processo complexo que depende tanto do
comprometimento da equipe de saúde na forma de orientar quanto do paciente ao apreender
sobre a doença, seu tratamento, prevenção, controle ou cura. Pois conforme Queiroz,
Nogueira (2010) o conhecimento da doença e seu tratamento precisam ser difundidos, vistos
que são fundamentais na adesão a terapêutica.
2.3 Conhecimento da doença e sua relação com a adesão ao tratamento
Cada pessoa possui características próprias de personalidade, habilidades, capacidades
e conhecimentos e age e se comporta conforme sua própria motivação. A mudança no estado
atual e futuro da saúde do paciente está relacionada não somente à melhora da condição física
do paciente , como também da social e psicológica, pela satisfação e pelo conhecimento que o
indivíduo tenha adquirido sobre sua saúde (MARIN, 2003).
O conhecimento que o paciente tem sobre sua doença permite que ele decida a respeito
do tratamento futuro, além de contribuir para seu maior bem-estar emocional e funcional,
prevenção de complicações, podendo retardar a progressão da enfermidade além de promover
mudanças de comportamento.
Estudos destacam o conhecimento sobre a doença e seu tratamento, como um fator
que pode influenciar na adesão de modo a interferir no controle e cura de doenças (WHO,
2003; MEINERS, 2006; LIMA, et al., 2010).
A WHO (2005) recomenda a redução da falta de conhecimento sobre a malária, por
meio do ensino de habilidades para reconhecer os sinais e sintomas da doença, tratamento
adequado, da consciência busca do diagnóstico e tratamento precoce. Para tal, é necessário
aos profissionais habilidades de comunicação para aconselhar e oferecer educação para a
saúde.
O MS afirma que o fato da população ter maior participação no seu tratamento está
relacionado à informação que a população tem sobre as manifestações clínicas da doença, sua
gravidade e tratamento, os fatores determinantes e colaboradores de sua incidência e as
medidas necessárias para diminuir esses fatores (BRASIL, 2003).
Analisando a produção bibliográfica relativa ao conhecimento das pessoas acerca da
malária e também referente à relação entre o conhecimento e a adesão ao tratamento da
24
doença, constatamos que a maioria dos estudos foram realizados em países da África e da
América do Sul (Brasil, Venezuela, Colômbia e Guiana Francesa), principalmente porque
nestes continente, nas regiões tropicais e subtropicais, a malária atinge a maior parte da
população, especialmente as crianças, mas também as gestantes, cuidadores, profissionais de
saúde e curandeiros. Na maioria dos artigos, o aspecto mais explorado pelos pesquisadores em
relação ao conhecimento da malária foi o conhecimento que as pessoas tinham sobre sua
transmissão (formas de transmissão, maneiras de reconhecer o mosquito transmissor da
enfermidade, locais e períodos com maior risco de contrair a doença). Também buscaram
investigar sobre a maneira pela qual a malária era identificada pelas pessoas ou sobre seus
sintomas.
Em relação ao conhecimento que as pessoas tinham sobre o tratamento, o interesse dos
pesquisadores foi tanto pelo tratamento medicamentoso oficial quanto por qualquer tipo de
tratamento que as populações investigadas adotavam para combater a malária. Já a respeito do
conhecimento sobre a prevenção da malária, os autores se atentam principalmente em saber se
as pessoas sabem que a malária tem prevenção e quais medidas eles conhecem e/ou adotam
para o controle da malária
Segundo Pineda e Agudelo (2005), é necessário aprofundar os estudos sobre o
conhecimento da população em relação à doença para entender como os fatores
comportamentais da população exposta à malária facilitam ou dificultam as intervenções de
controle da enfermidade.
Através da identificação do conhecimento da pessoa sobre a malária, tratamento e
formas de prevenção, poderão ser construídas medidas educativas que atendam as reais
necessidades da população através de processos que contribuam para a mudança de atitudes e
mesmo do comportamento das pessoas, por meio da implementação de ações capazes de
extrapolar os limites das informações relativas a uma determinada prescrição.
Por fim apesar de a literatura apontar o conhecimento do paciente sobre a malária, o
tratamento as medidas preventivas como contribuintes da adesão ao tratamento, a análise da
produção bibliográfica encontrada, revelou ainda, que nenhum dos textos encontrados teve
como objetivo pesquisar sua relação a adesão ou a não-adesão ao tratamento da malária, o que
aponta para necessidade de pesquisas que tenham como objetivo investigar essa relação.
25
3. METODOLOGIA
3. 1 Tipo de estudo
Trata-se de um estudo epidemiológico, do tipo inquérito, descritivo e transversal.
Consideramos que, para o objetivo proposto, a pesquisa epidemiológica permite ao
pesquisador uma coleta sistemática de informações sobre eventos ligados à saúde de uma
população definida e na quantificação destes eventos, com a possibilidade de propor
intervenções que possam modificar o padrão de saúde dessas populações (MEDRONHO et
al., 2007).
3.2 Local do estudo
Realizada na região Noroeste do Estado de Mato Grosso, no distrito de Três
Fronteiras, localizado a 370 km do município de Colniza, do qual é integrante. Em 2010, o
distrito possuía uma população aproximada de 606 habitantes cujas principais atividades
econômicas são a mineração, o garimpo e a exploração da madeira (MATO GROSSO, 2010).
Nesta localidade, a malária é considerada endêmica. Em 2011, o distrito contribuiu
com 805 casos identificados da doença em Mato Grosso, sendo a maior parte (635) por P.
vivax e um número menor (167) por P. falciparum, além do registro de infecções mistas de p.
vivax e falciparum (3). Sua transmissão é maior após o período das chuvas que compreende
os meses de novembro a abril, pois nesta época existem condições favoráveis para a
proliferação do mosquito (BRASIL, 2011).
No distrito existe um Posto de Saúde que atende toda a demanda de saúde da
população. A rotina de atendimento aos pacientes com malária compreende o diagnóstico na
unidade por meio do exame da gota espessa. Nos casos em que os resultados são positivos, a
dispensação dos medicamentos é realizada gratuitamente aos pacientes, dentro de um
envelope no qual estão algumas informações sobre a posologia e a forma de ingestão.
26
3.3 População e amostra
A população da pesquisa foi todos os residentes na área de abrangência do Distrito de
Três Fronteiras no período do estudo e utilizou-se amostragem por conveniência para compor
a amostra. Assim, a partir da realização de busca ativa para detecção de casos de malária no
distrito pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-MT), procurou-se pelas pessoas com
diagnóstico positivo da doença.
Durante a busca ativa foram realizados exames de gota espessa em todas as pessoas
que, no período da coleta de dados se encontravam no distrito ─ 618 pessoas.
Foram elegíveis para o estudo pessoas com idade igual ou superior a 18 anos
diagnosticados com malária vivax ou falciparum e que tinham recebido medicamentos para o
tratamento da doença de acordo com o esquema de primeira escolha preconizado pelo MS, a
saber: Cloroquina, quatro comprimidos no primeiro dia, três comprimidos no segundo e
terceiro dias de tratamento (total de 10 comprimidos), associados ao uso de dois comprimidos
de Primaquina, uma vez ao dia, por 7 dias (total de 14 comprimidos); e combinação fixa de
artemeter + lumefantrina, sendo 4 comprimidos de 12 em 12 horas (8 comprimidos diários)
por 3 dias (total 24 comprimidos), respectivamente. Excluíram-se gestantes, pacientes com
malária grave ou complicada ou que apresentavam dificuldades cognitivas e de comunicação.
Após o paciente receber o diagnóstico de malária por meio do exame da gota espessa,
os agentes de endemia dispensaram os medicamentos conforme rotina do serviço de saúde.
Dos 52 pacientes com diagnóstico da malária, 7 eram menores de 18 anos, 2 receberam
tratamento diferente do preconizado pelo MS e foram excluídos do estudo. Além disso, foram
considerados como perdas 16 pacientes que não foram encontrados em suas residências no
momento do retorno para conferência dos medicamentos e entrevista. Acreditamos que isso
aconteceu porque uma característica importante desta população é a migração, pois boa parte
dos indivíduos não fixa residência e permanece na região apenas para trabalho temporário. A
amostra final deste estudo, portanto, se constituiu de 27 pacientes.
3.4 Coleta de dados
27
Anteriormente à etapa de coleta de dados foi realizado o teste piloto no Ambulatório
Especializado da Malária do Hospital Universitário Julio Muller, no município de CuiabáMT, em seguida os instrumentos foram reformulados de acordo com o que se considerou
necessário mudar. As entrevistas não foram utilizadas no estudo.
A coleta dos dados ocorreu durante o mês de julho de 2011, seguindo-se todos os
procedimentos éticos necessários para investigações com seres humanos. Realizou-se
entrevista no domicílio dos sujeitos, utilizando um formulário estruturado com questões
fechadas sobre seus dados sociodemográficos e seu conhecimento sobre a malária, o
tratamento e formas de prevenção da doença, bem como sobre a adesão ao tratamento
(Apêndice A). Os formulários foram preenchidos pela pesquisadora durante a entrevista e não
foram utilizados recursos audiovisuais como gravador e câmera de filmagem.
A adesão do paciente à terapêutica foi verificada por meio do auto-relato fazendo a
pergunta “Você conseguiu tomar os medicamentos prescritos?” e da conferência dos
envelopes e blisteres de medicamentos.
3.5 Análise dos dados
Os dados obtidos na coleta de dados foram organizados em um banco de dados com o
auxílio do programa EPIDATA 3.1 e foram construídos indicadores para a avaliação do
conhecimento e da adesão ao tratamento dos pacientes.
Na avaliação do conhecimento sobre a doença, o tratamento e as medidas preventivas,
consideraram-se como corretas as respostas compatíveis com as informações preconizadas
pelo MS. Além disso, considerou-se que os pacientes deveriam responder corretamente as
perguntas sobre tratamento, prevenção, sinais e sintomas da malária e apresentar pelo menos 3
respostas corretas às 4 questões sobre a transmissão da doença.
Consideraram-se como tendo conhecimento
satisfatório os pacientes que
responderam a 70-100% das perguntas corretamente e como tendo conhecimento
insatisfatório os pacientes que responderam quantidade de perguntas abaixo desta proporção.
Na avaliação da adesão ao tratamento, os pacientes foram classificados da seguinte
forma:
28
 Adesão ao tratamento: pacientes com diagnóstico de malária vivax que
responderam sim à pergunta e que apresentaram o envelope de Cloroquina vazio ou não o
apresentaram e, no blister de Primaquina, saldo de 2 a 4 comprimidos. Do mesmo modo,
pacientes com diagnóstico de malária falciparum que responderam sim à pergunta e que
apresentaram saldo de 4 a 8 comprimidos no blister de artemeter + lumefantrina.
 Não-adesão ao tratamento: pacientes que responderam não à pergunta ou
pacientes com diagnóstico de malária vivax que responderam sim à pergunta e que
apresentaram qualquer saldo de comprimido no envelope de Cloroquina, ou não apresentaram
o blister de Primaquina ou apresentaram-no vazio, ou com saldo de mais de 4 comprimidos.
Do mesmo modo, pacientes com diagnóstico de malária falciparum que responderam sim à
pergunta e que apresentaram o blister de comprimidos de artemeter + lumefantrina ou
apresentaram-no com saldo de mais de 8 comprimidos.
Foi realizada análise descritiva dos dados, utilizando-se freqüência absoluta e relativa,
os resultados encontrados foram apresentados sob a forma de gráficos e tabelas e analisados
com base no referencial teórico produzido sobre o assunto.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HUJM sob o
protocolo de no 982/2010 (ANEXO B) e possui o financiamento do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), inscrito sob processo número:
555652/2009-2.
3.6 Resultados da pesquisa
Os resultados da pesquisa serão apresentados em formato de artigo no tópico 4.
29
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32
4. RESULTADOS DA PESQUISA
CONHECIMENTO DA MALÁRIA E ADESÃO AO TRATAMENTO
Taísa Guimarães de Souza
Annelita Almeida Oliveira Reiners
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RESUMO
Objetivo: Analisar o conhecimento de pacientes acometidos pela malária sobre a doença, o
tratamento e a prevenção, relacionando-o à adesão ao tratamento medicamentoso.
Metodologia: Estudo epidemiológico, descritivo, transversal, tipo inquérito, realizado no
distrito de Três Fronteiras-MT, com uma amostra de 27 pacientes diagnosticados com malária
a partir de busca ativa. Os dados foram coletados por meio de entrevistas e formulário. Para a
análise, construíram-se indicadores para a avaliação do conhecimento e da adesão ao tratamento e
utilizou-se o programa EPIDATA 3.1. Resultados: 18 dos 27 pacientes apresentaram
conhecimento satisfatório (66,6%) e 9 foram avaliados como tendo conhecimento
insatisfatório (33,4%). A maioria deles aderiu ao tratamento medicamentoso indicado para o
tipo de malária adquirido. Na relação entre o conhecimento e a adesão ao tratamento verificamos
que tanto quem tem conhecimento satisfatório quanto quem não o possui, aderiu ao
tratamento. Conclusão: O conhecimento pode ou não ter influenciado a adesão ao tratamento
dos pacientes pesquisados e outros fatores devem ser considerados como contribuintes do
comportamento.
Palavras chave: Malária. Conhecimento. Adesão à medicação.
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33
INTRODUÇÃO
Ainda que a ciência tenha avançado no conhecimento da malária e nas estratégias para
enfrentá-la, ela ainda se constitui em um problema de saúde pública importante,
principalmente em regiões menos desenvolvidas economicamente, na medida que contribui
para o adoecimento e morte de muitas pessoas, além de acarretar custos significativos para
seu tratamento e controle.
A terapêutica da malária têm se mostrado eficaz na cura e controle da doença
(ABDON et al., 2001). Entretanto, um dos problemas ainda encontrado é a falha terapêutica,
resultado de vários fatores, dentre eles, a não-adesão ao tratamento medicamentoso (WHO,
2006). Além de comprometer a efetividade do tratamento, a não-adesão pode levar ao
aumento do número de recidivas ou recaídas (ROCHA, 2008), assim como acelerar a
disseminação da resistência dos parasitas aos fármacos.
Fatores diversos podem dificultar a adesão ao tratamento de várias doenças, como os
relacionados à terapia medicamentosa (efeitos colaterais dos fármacos, melhora dos
sintomas), os socioeconômicos (renda, local de moradia, escolaridade, migração); os culturais
(crenças, uso de terapias alternativas), os relacionados aos pacientes (déficits cognitivos e
sensitivos), e ainda aos serviços e equipes de saúde (acesso, comunicação) (WHO, 2003,
REINERS, 2008). Dentre os relacionados aos pacientes, alguns estudos apontam o
conhecimento que as pessoas têm sobre a doença e o tratamento como um deles (ROCHA,
2008; KHANTIKUL et al., 2009; SANTOS et al., 2010; NERBASS et al., 2010).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2003), o conhecimento que os
pacientes têm sobre a doença, juntamente com outros fatores, de maneira ainda não
completamente entendida, interage no comportamento de adesão aos tratamentos. Entretanto,
a literatura é controversa na questão da relação entre o conhecimento que as pessoas têm
sobre a doença e o tratamento e a maneira como cuidam da sua saúde, mais especificamente,
aderem ao tratamento.
Alguns autores afirmam que o conhecimento favorece a adesão ao tratamento na
medida em que ajuda o paciente a compreender melhor o que está acontecendo com ele, bem
como a função e os objetivos da terapia. Isso contribuiria para que se sentisse mais motivado a
seguir as recomendações dos profissionais de saúde (ARAÚJO, GARCIA, 2006; BRASIL,
2008; OLIVEIRA, ZANETTI, 2011). Todavia, estudos que investigam a relação entre
34
conhecimento e adesão ao tratamento nem sempre constatam associação positiva entre estas
variáveis (PERES et al. 2003; NERBASS et al., 2010).
Muitos estudos têm sido produzidos sobre adesão/ não-adesão aos tratamentos. Em
revisão de literatura constatamos que, relacionadas ao tratamento da malária, pesquisas de
adesão ainda são poucas e, menos ainda, as investigações na América Latina. O mesmo pode
ser afirmado em relação aos estudos sobre conhecimento da doença e tratamento e adesão/não
adesão à terapêutica antimalárica. Embora o foco de investigações sobre conhecimento,
percepções e práticas dos indivíduos sobre a malária seja crescente (COMORO, et al. 2003),
ainda são limitados os estudos latino-americanos que tiveram esse propósito (ALVES et al
1990, PINEDA, AGUDELO 2005, SOJO-MILANO et al. 2008).
Diante do exposto e, considerando que devido à inteface existente entre o
comportamento humano e a eficácia das terapias, tanto os profissionais de saúde quanto os
pesquisadores devem entender os fatores associados à adesão dos pacientes ao tratamento
(WHO, 2003, p. 60), nosso objetivo nesta investigação foi analisar o conhecimento de
pacientes acometidos pela malária sobre a doença, o tratamento e a prevenção, relacionando-o
à adesão ao tratamento medicamentoso.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo epidemiológico, do tipo inquérito, descritivo e transversal,
realizado no distrito de Três Fronteiras, localizado a 370 km do município de Colniza, na
região Noroeste do Estado de Mato Grosso, onde a malária é considerada endêmica. Todos os
residentes na área de abrangência do Distrito de Três Fronteiras no período do estudo
constituíram-se na população da pesquisa. A amostra foi determinada por meio de
amostragem por conveniência a partir da realização de busca ativa no distrito pela Secretaria
Estadual de Saúde (SES-MT), para detecção de casos de malária por meio de exames de gota
espessa em todas as pessoas que se encontravam no distrito ─ 618 pessoas.
Foram elegíveis para o estudo pessoas com idade igual ou superior a 18 anos
diagnosticados com malária vivax ou falciparum e que tinham recebido medicamentos para o
tratamento da doença de acordo com o esquema de primeira escolha preconizado pelo MS, a
saber: Cloroquina, quatro comprimidos no primeiro dia, três comprimidos no segundo e
35
terceiro dias de tratamento (total de 10 comprimidos), associados ao uso de dois comprimidos
de Primaquina, uma vez ao dia, por 7 dias (total de 14 comprimidos); e combinação fixa de
artemeter + lumefantrina, sendo 4 comprimidos de 12 em 12 horas (8 comprimidos diários)
por 3 dias (total 24 comprimidos), respectivamente. Excluíram-se gestantes, pacientes com
malária grave ou complicada ou que apresentavam dificuldades cognitivas e de comunicação.
Após o paciente receber o diagnóstico de malária por meio do exame da gota
espessa, os agentes de endemia dispensaram os medicamentos conforme rotina do serviço de
saúde. Dos 52 pacientes com diagnóstico da malária, 7 eram menores de 18 anos, 2 receberam
tratamento diferente do preconizado pelo MS e foram excluídos do estudo. Além disso, foram
considerados como perdas 16 pacientes que não foram encontrados em suas residências no
momento do retorno para conferência dos medicamentos e entrevista. Acreditamos que isso
aconteceu porque uma característica importante desta população é a migração, pois boa parte
dos indivíduos não fixa residência e permanece na região apenas para trabalho temporário. A
amostra final deste estudo, portanto, se constituiu de 27 pacientes.
A coleta dos dados ocorreu durante o mês de julho de 2011, no domicílio dos
pacientes, por meio de entrevista. Foi aplicado um questionário previamente testado com uma
parte contendo questões sobre os dados sociodemográficos dos pacientes, outra parte com
perguntas sobre seu conhecimento acerca da malária, o tratamento e formas de prevenção da
doença, e na última parte as questões versavam sobre a adesão ao tratamento. As perguntas
sobre conhecimento foram elaboradas de acordo com as informações preconizadas pelo MS.
A adesão do paciente à terapêutica foi verificada por meio do auto-relato e da
conferência dos envelopes e blisteres de medicamentos.
Os dados obtidos na coleta de dados foram organizados em um banco de dados com o
auxílio do programa EPIDATA 3.1 e foram construídos indicadores para a avaliação do
conhecimento e da adesão ao tratamento dos pacientes.
Na avaliação do conhecimento definiu-se que o paciente deveria ter um conhecimento
mínimo que se supõe o ajudaria a buscar o serviço de saúde para diagnóstico e tratamento,
bem como a aderir à terapia medicamentosa. Assim, considerou-se como tendo conhecimento
satisfatório os pacientes que responderam corretamente o seguinte:
 Das perguntas relacionadas à doença, a questão sobre sinais e sintomas da malária;
 Das questões relacionadas à transmissão da doença, a pergunta sobre como se
adquire a malária;
 A questão relacionada ao tratamento e,
36
 Qualquer uma das respostas formuladas sobre medidas preventivas.
De outro modo, considerou-se como tendo conhecimento insatisfatório os pacientes
que não as responderam corretamente a todas as questões supracitadas.
Na avaliação da adesão ao tratamento, os pacientes foram classificados da seguinte
forma:
 Adesão ao tratamento: pacientes com diagnóstico de malária vivax que
responderam sim à pergunta e que apresentaram o envelope de Cloroquina vazio ou não o
apresentaram e, no blister de Primaquina, saldo de 2 a 4 comprimidos. Do mesmo modo,
pacientes com diagnóstico de malária falciparum que responderam sim à pergunta e que
apresentaram saldo de 4 a 8 comprimidos no blister de artemeter + lumefantrina.
 Não-adesão ao tratamento: pacientes que responderam não à pergunta ou pacientes
com diagnóstico de malária vivax que responderam sim à pergunta e que apresentaram
qualquer saldo de comprimido no envelope de Cloroquina, ou não apresentaram o blister de
Primaquina ou apresentaram-no vazio, ou com saldo de mais de 4 comprimidos. Do mesmo
modo, pacientes com diagnóstico de malária falciparum que responderam sim à pergunta e
que apresentaram o blister de comprimidos de artemeter + lumefantrina ou apresentaram-no
com saldo de mais de 8 comprimidos.
Foi realizada análise descritiva dos dados, utilizando-se freqüência absoluta e relativa,
os resultados encontrados foram apresentados sob a forma de gráficos e tabelas e analisados
com base no referencial teórico produzido sobre o assunto.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Universitário Julio Muller sob o protocolo de no 982/2010 e possui o financiamento do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), inscrito sob
processo número: 555652/2009-2.
RESULTADOS
Os dados sociodemográficos dos 27 participantes deste estudo, mostraram que a
maioria deles era de adultos jovens, do sexo masculino, solteiros, com mais de 4 anos de
escolaridade. A maior parte era trabalhador mineiro, procedente da região Norte do país,
37
residente na mineradora local juntamente com outras pessoas e tinham renda superior a um
salário mínimo. A maioria contraiu a doença do tipo P. vivax.
Os resultados da avaliação do conhecimento sobre a malária, o tratamento e a
prevenção, a partir dos critérios estabelecidos neste estudo, mostraram que o conhecimento da
maioria dos participantes (18 dos 27 pacientes) era satisfatório (66,6%). Em contrapartida, 9
pacientes foram avaliados como tendo conhecimento insatisfatório (33,4%), pois não
responderam corretamente a todas as questões estabelecidas como necessárias ao
conhecimento mínimo (Figura 1).
CONHECIMENTO
Satisfatório
Insatisfatório
Sinais e sintomas
Sabe
Transmissão
Sabe
Não
Tratamento
Sabe
Não
Prevenção
Sabe
Não
Não sabe
N
%
N
%
sabe
N
18
66,6
9
33,4
N
%
27 100
N
0
sabe
sabe
%
0
%
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
24 89
3
11
22 81
5
19
23 85
4
15
Figura 1. Conhecimento sobre a malária, o tratamento e a prevenção. Três Fronteiras - Mato Grosso.
Brasil. 2011. n=27
Mesmo tendo respondido incorretamente a algumas questões sobre a doença e a
transmissão, as perguntas estabelecidas como necessariamente corretas foram respondidas
pela maior parte dos pacientes. Dos 27 respondentes, 100% sabiam os sinais e sintomas
clássicos da malária (Figura 1). Os mais relatados foram: cefaléia, febre e dores no corpo.
Eles reconheciam a febre da malária principalmente pela sua intensidade e por estar
acompanhada de calafrios e tremores.
Igualmente, a maior parte dos pacientes (89%) sabia que a malária é transmitida pela
picada do mosquito, que o horário em locais de maior risco para contrair a malária é ao
amanhecer e ao anoitecer e aqueles próximos a matas e coleções de água, respectivamente.
38
Eles apontaram ainda o período chuvoso como a época mais propícia para adquirir a doença
(Figura 1).
Quanto ao tratamento, 81% pacientes julgavam, ser necessária a que a terapia com os
fármacos fornecidos pelo MS é para tratar a malária (Figura 1). Todavia, entre eles treze
levasse em consideração não somente o tratamento padrão, mas o uso concomitante de outros
medicamentos
(analgésicos,
por
exemplo),
medidas
complementares
(repouso,
abstenção/restrição de alimentos e bebida alcoólica) ou terapias complementares (chás,
banhos).
Por fim, 85% pacientes consideravam que a malária tem prevenção e conheciam pelo
menos uma medida preventiva (Figura 1). As principais foram: permanecer afastado das
matas, evitar pescar ou tomar banho de rio ao amanhecer e ao anoitecer, fazer uso de
repelente. As medidas menos citadas foram profilaxia medicamentosa, drenagem de terrenos e
uso de mosquiteiros.
Na avaliação da adesão ao tratamento, segundo os critérios estabelecidos neste estudo,
encontrou-se que a maioria dos pacientes (n=21) aderiu ao tratamento medicamentoso
indicado para o tipo de malária adquirido, perfazendo 77,8% da amostra estudada. Seis
pacientes (22,2%) não aderiram ao tratamento.
Na Tabela 1, quando as variáveis conhecimento e adesão ao tratamento foram
relacionadas, observou-se que tanto a maioria dos pacientes que tiveram conhecimento
satisfatório (72,2%) quanto a maior parte dos que tiveram conhecimento insatisfatório
(88,8%), aderiram ao tratamento. Por outro lado, cinco pacientes (27,8%) que não aderiram ao
tratamento foram classificados como tendo conhecimento satisfatório. Somente um paciente
cujo conhecimento foi considerado insatisfatório, não aderiu ao tratamento.
39
Tabela 1. Distribuição dos pacientes de acordo com as características sociodemográficas, a avaliação do
conhecimento sobre a doença, o tratamento e a prevenção, e adesão ao tratamento. Três Fronteiras Mato Grosso. Brasil. 2011. N=27
Características
sociodemográficas
Sexo
Feminino
Masculino
Faixa etária
18 a 35 anos
36 a 59 anos
60 anos ou mais
Estado civil
Solteiro
Casado
Divorciado
Viúvo
Escolaridade
Analfabeto
Até 4 anos
Mais de 4 anos
Reside com
Família
Outras pessoas
Sozinho
Local de Residência
Mineradora
Serraria
Vila
Área rural
Procedência
Região Norte
Região Centro-Oeste
Região Nordeste
Região Sul
Região Sudeste
Renda mensal
Não possui/até 1 salário
mínimo
Mais que 1 salário
mínimo
Ocupação
Do lar
Trabalhador de
mineradora
Trabalhador rural
Trabalhador de serraria
Tipo de malária
Conhecimento
Satisfatório
Adesão
Não-adesão
(13 – 72,2%) (5 – 27,8%)
Conhecimento
insatisfatório
Adesão
Não-adesão
(8 – 88,8%)
(1 – 11,2%)
5
8
2
3
1
7
4
8
1
4
1
6
2
1
7
5
1
3
2
6
1
1
1
1
2
11
5
1
6
1
5
8
1
4
8
1
7
4
2
5
4
2
1
1
2
9
2
2
5
2
1
1
11
4
7
1
2
1
7
4
3
1
4
8
1
3
2
40
adquirida
P. vivax
P. falciparum
No malária adquirida
anteriormente
Nenhuma
Um
Mais de um
9
4
4
1
6
2
1
2
13
5
6
1
Ainda na Tabela 1, quando as variáveis conhecimento e adesão ao tratamento foram
relacionadas, com as características sociodemográficas dos pacientes, observamos que os
pacientes que tiveram conhecimento satisfatório e aderiram ao tratamento (13) eram em sua
maioria homens, na faixa etária entre 36-59 anos, solteiros, com mais de quatro anos de
escolaridade e que tiveram mais de um episódio de malária ou que tiveram a malária mais de
uma vez. Dos pacientes que tem conhecimento insatisfatório e aderiram ao tratamento (8),
constatamos que a maior parte era do sexo masculino, na faixa etária de 18 - 35 anos,
solteiros, com mais de quatro anos de escolaridade e que tiveram mais de um episódio de
malária ou que tiveram a malária mais de uma vez.
DISCUSSÃO
Este estudo destaca-se por tratar de pesquisa realizada em região endêmica da malária.
Em 2011, o distrito de Três Fronteiras contribuiu com 805 casos identificados da doença em
Mato Grosso, sendo a maior parte (635) por P. vivax e um número menor (167) por P.
falciparum, além do registro de infecções mistas de p. vivax e falciparum (3) (BRASIL,
2011). De igual modo, este estudo também é importante por ter como foco o conhecimento,
das pessoas sobre a doença, o tratamento e a prevenção como um dos fatores associados à
41
não-adesão ao tratamento desta enfermidade, o qual interfere na eficácia da terapêutica
antimalárica e prejudica o controle da malária na região.
A principal atividade econômica desenvolvida pelos participantes deste estudo, a
mineração, é característica deste distrito pelo fato de ser um local com subsolo rico em
minérios. Por este motivo, na região é comum a migração de homens jovens e solteiros em
busca deste tipo de trabalho (LIMA et al. 2006). A localização do distrito de Três Fronteiras
na Amazônia Legal, próximo aos estados da região Norte, pode explicar o maior contingente
de pacientes procedentes dessa região.
O fato de a maioria dos pacientes trabalhar na mineração, igualmente pode explicar
sua renda superior um salário mínimo. Os trabalhadores de mineradoras desta localidade
costumam receber por produtividade e, às vezes, o montante percebido chega a mais de 70
salários mínimos atuais. Provavelmente, o nível de escolaridade dessas pessoas seja maior que
o esperado para uma população do interior do Brasil, justamente porque uma situação comum
nesta região do país é a existência de pessoas que, mesmo tendo mais anos de estudo, não
encontraram oportunidades de trabalho com remuneração satisfatória em centros urbanos
maiores e buscam oportunidades em outra região (PÓVOA-NETO, 1997).
O predomínio dos casos de malária por P. vivax entre os pacientes condiz com dados
epidemiológicos da região da Amazônia Legal que registrou em 2011 cerca de 249.190 casos
de malária vivax (87,5%) e 32.153 casos de falciparum (12,5%). É condizente também com o
que ocorre na América Central e do Sul (WHO 2009, BRASIL, 2011).
Corroborando os resultados desta investigação, diversos estudos, em diferentes
regiões, concluiram que os pacientes de alguma forma reconhecem os sinais e sintomas da
malária, sua forma de transmissão e de prevenção (ONWUJEKWE et al., 2000; LAVER et al
2001; EHRHUN et al. 2004, AL- TAIAR et al 2009; MAZIGO et al. 2010, YEWHALAW et
al 2010, IRIEMENAM et al 2011).
42
De acordo com Deressa et al. (2003), o conhecimento da malária é algo comum em
áreas endêmicas, o que nos faz pensar que o conhecimento dos pacientes desta pesquisa
acerca da doença parece ser produto de sua experiência individual e social, em consequência
da presença constante da enfermidade no seu cotidiano.
Embora a literatura advogue que o conhecimento das pessoas sobre a doença, o
tratamento e a prevenção contribui para a adesão deles às terapêuticas (SANTOS et al., 2010,
NERBASS et al., 2010, ROCHA, 2001, KHANTIKUL et al., 2009), nesta pesquisa, a análise
da relação entre o conhecimento dos pacientes sobre a doença, o tratamento e a prevenção e a
adesão ao tratamento medicamentoso mostrou que tanto quem tinha conhecimento satisfatório
quanto quem não o possuía, aderiu ao tratamento. Esse resultado permite depreender que o
conhecimento pode ou não ter influenciado a adesão ao tratamento dos pacientes.
O conhecimento que as pessoas têm sobre questões de saúde pode advir tanto da
educação formal quanto de suas vivências (ANDRADE 2008; BRITO 2010). Neste sentido,
os pacientes deste estudo que têm conhecimento satisfatório e aderiram ao tratamento (13)
apresentam ambos, e podem ter aderido por este motivo. A maioria possuía mais de 4 anos de
escolaridade, viviam em área onde a malária é recorrente e possuíam acesso a informações
sobre a doença.
Na região onde a pesquisa foi realizada, são constantes as ações desenvolvidas pelos
agentes de endemias para redução dos casos da enfermidade, dentre elas, orientações sobre
identificação de sinais e sintomas, tratamento e o uso de medidas preventivas individuais e
coletivas. Tais ações vão de encontro com uma recomendação da Organização Mundial da
Saúde (WHO, 2005) sobre a necessidade de diminuir a falta de conhecimento sobre a malária,
como habilidades para reconhecer os sinais e sintomas da doença, tratamento adequado,
consciência da necessidade de diagnóstico e tratamento precoce.
43
Entretanto oito pacientes, mesmo com bom nível de escolaridade e experiência com a
doença, apresentaram conhecimento insatisfatório, mas aderiram ao tratamento. A adesão é
um comportamento que sofre influência de diversos fatores e, considerando isso, é que
acreditamos que esses pacientes podem ter aderido por outros motivos. Em recente pesquisa
bibliográfica, constatou-se que a adesão dos pacientes ao tratamento da malária sofre
influência de vários fatores contribuintes, sendo o conhecimento da doença o mais citado.
Entretanto, nos resultados também apareceram a gravidade dos sintomas, os relacionados aos
serviços de saúde (a dose supervisionada e a gratuidade dos fármacos), aos medicamentos
(uso de figuras pictóricas na embalagem dos antimaláricos), e aos profissionais de saúde (boas
orientações acerca dos medicamentos e seus efeitos)
No caso dos participantes deste estudo, a adesão ao tratamento pode ter acontecido
também por fatores relacionados tanto a eles (motivação, confiança no tratamento), ao serviço
de saúde (gratuidade e forma de dispensação dos fármacos), aos medicamentos (esquema de
curta duração), como aos profissionais de saúde (orientações adequadas em relação aos
medicamentos e seus efeitos e bom relacionamento com os pacientes).
Da mesma forma, motivos diversos podem ter levado os cinco pacientes desta
pesquisa a não aderir ao tratamento, mesmo apresentado conhecimento satisfatório. A adesão
ao tratamento é um fenômeno complexo que envolve questões multidimensionais, tanto de
ordem física, psicológica, socioambiental quanto cultural (REINERS, NOGUEIRA, 2009).
Neste sentido, os participantes desta pesquisa podem não ter aderido por causa da melhora dos
sintomas, distância entre sua moradia à unidade de saúde, ou por entender que a malária não é
uma doença grave. Nas entrevistas, alguns participantes, comparam a malária a uma gripe,
que apresenta um mal estar geral, mas logo passa.
Independente das razões que levaram tais pacientes a aderir ou não, é indubitável que
o conhecimento das pessoas sobre a doença e o tratamento contribui para a melhora dos
44
comportamentos de saúde. O impacto positivo do conhecimento na adesão ao tratamento da
malária tem sido evidenciado na literatura (LAVER et al. 2001; SIMSEK , KURCER 2005,
YÉPEZ et al 2010, REINERS et al 2010, GERSTL et al, 2010).
Acreditamos que conhecer os sinais e sintomas da doença, seu modo de transmissão e
as medidas preventivas é um fator que permite às pessoas não somente se protegerem por
meio de medidas apropriadas de prevenção, como também buscar precocemente a
comprovação do diagnóstico e o início do tratamento antimalárico.
Igualmente, cremos que o conhecimento tanto dos medicamentos, dos cuidados na
administração e ingestão, assim como dos seus possíveis efeitos colaterais, permite que o
tratamento seja realizado, possibilitando a redução dos sinais e sintomas, do ciclo de
transmissão da doença evitando que outras pessoas fiquem doentes, as recidivas e recaídas,
além da resistência aos fármacos antimaláricos.
CONCLUSÃO
Neste estudo, a análise do conhecimento de pacientes acometidos pela malária sobre a
doença, o tratamento e a prevenção, a partir dos critérios estabelecidos, mostrou que 18 dos
27 pacientes têm conhecimento satisfatório (66,6%) e 9 foram avaliados como tendo
conhecimento insatisfatório (33,4%).
Igualmente, a pesquisa descobriu que, de alguma forma, eles reconheceram os sinais e
sintomas da malária, sua forma de transmissão e de prevenção. Todos os participantes sabem
identificar os sinais e sintomas clássicos da malária, que a transmissão ocorre pela picada do
mosquito, que o horário de maior risco para contrair a malária é ao amanhecer e ao anoitecer
45
sendo os locais com maior risco aqueles próximos a matas e coleções de água. Eles apontaram
ainda o período chuvoso como a época mais propícia para adquirir a malária. Relataram ainda
que a terapia com os fármacos fornecidos pelo MS é necessária para tratar a malária e
consideram que esta tem prevenção e conheciam, pelo menos, uma medida preventiva.
Segundo os critérios estabelecidos neste estudo, constatou-se que a maioria dos
pacientes aderiu ao tratamento medicamentoso indicado para o tipo de malária adquirido.
Entretanto, quando se relacionaram os resultados de conhecimento dos pacientes com os de
adesão ao tratamento, verificou-se que tanto quem tinha conhecimento satisfatório quanto
quem não o possuía, aderiu ao tratamento, mostrando que o conhecimento pode ou não ter
influenciado a adesão ao tratamento dos pacientes pesquisados e que outros fatores devem ser
considerados como contribuintes do comportamento.
Uma das limitações deste estudo refere-se ao tamanho da amostra que não permitiu a
realização de testes estatísticos para verificações mais aprofundadas. Isso aconteceu não
somente pelo fato de que, no período da coleta dos dados, poucos pacientes tiveram o
diagnóstico de malária, como porque boa parte deles procura o restabelecimento de sua saúde
próximo às suas famílias e centros com melhores condições e recursos. Porém, é indubitável
que os resultados desta pesquisa são importantes e espera-se que possam subsidiar
investigações futuras. Sugerem-se estudos de intervenção para verificar ações profiláticas ou
terapêuticas a fim de avaliar a eficácia de medidas de educação em saúde que contribuam para
melhorar a adesão das pessoas ao tratamento da malária. Ações de saúde realizadas nesta
perspectiva permitem à população que vive com o risco eminente da malária, ter ferramentas
para que possam ser indivíduos ativos no controle e cura da enfermidade.
Por fim, os resultados desta pesquisa têm implicações no planejamento de ações de
controle da malária na região com consequente contribuição na redução dos casos de nãoadesão ao tratamento, a partir do momento em que mostra um recorte da situação de
46
conhecimento das pessoas residentes naquela localidade sobre a doença, o tratamento e a
prevenção, bem como de sua capacidade de adesão à terapêutica antimalárica.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da diminuição dos casos de malária nos últimos anos, a doença ainda é
responsável por endemias nas regiões tropicais e subtropicais do mundo e, particularmente, no
Brasil, provocando altos índices de morbidade e mortalidade. Da mesma forma, o sucesso no
tratamento da doença ainda está aquém do que se espera devido a vários motivos, dentre eles,
a não-adesão ao tratamento.
Em concordância com a literatura, acreditamos que o conhecimento do indivíduo pode
ser um dos mais importantes contribuintes na adesão à terapêutica prescrita. Nesse sentido, os
resultados deste estudo trazem algumas implicações.
Aos profissionais de saúde que atuam em regiões endêmicas, implica em realizarem
capacitações que os instrumentalizem a fornecer conhecimento sobre a malária, o tratamento e
as medidas preventivas de modo criativo e participativo, considerando as características das
49
populações que assistem. Além disso, que os habilitem a lidar com a adesão / não-adesão ao
tratamento antimalárico considerando as principais razões que levam os pacientes a aderir ou
não aderir.
Aos governantes dos municípios das áreas endêmicas, a partir do conhecimento da
população pode direcionar ações educativas de tratamento e controle da malária que atendam
as necessidades e particularidades locais.
Consideramos ser necessária a realização de outras pesquisas com intuito de investigar
outras questões importantes para o entendimento do fenômeno da adesão aos tratamentos
como estudos de crenças, suas atitudes e práticas, aspectos da interação entre o profissional de
saúde e o paciente que favorecem a adesão ao tratamento, assim como estudos de avaliação de
projetos que implementem a educação em saúde nos serviços.
50
6. APÊNDICE E ANEXOS
APÊNDICE A
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Ficha nº.:
Digitador:
Nome do entrevistado:
DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS
Sexo:
[ ] feminino [ ] masculino
Idade:
[ ] 18 a 35 anos [ ] 36 a 59 anos [ ] 60 anos ou mais
[ ] casado [ ] solteiro [ ] viúvo/divorciado
Estado civil:
[ ] Norte [ ] Nordeste [ ] Centro-oeste [ ] Sudeste [ ] Sul
Procedência:
[ ] garimpo [ ] mineradora [ ] distrito
Residência:
Com quem reside:
[ ] sozinho [ ] família [ ] outras pessoas ____________
[ ] analfabeto [ ] 1º grau completo [ ] 1º grau incompleto [ ] 2º grau
Nível de escolaridade:
completo [ ] 2º grau incompleto [ ] 3º grau completo [ ] 3º grau
incompleto
[ ] Não possui [ ]Do lar [ ] Trabalhador rural [ ] Pescador [ ]
Ocupação atual:
Trabalhador mineiro [ ] Garimpeiro ( ) Comerciante ( )
outro______________
[ ] Não possui
[ ] até meio salário mínimo [ ] 1 salários mínimo [ ]
Renda:
mais de 1 salário mínimo
[ ] renda variável
Quantas vezes já teve
malária?
VERIFICAÇÃO DO CONHECIMENTO
Sobre a doença
1. O senhor(a) sabe o que é a malária?
2. O senhor (a) sabe como se “pega” a
[ ] doença
malária?
[ ] não sabe
[ ] pela picada do mosquito
[ ] outros: _____________________
[ ] não sabe
[ ] outro:________________________
3. O senhor (a) sabe quais são os sintomas da malária?
[ ] febre,
[ ] vômitos
[ ]calafrios
[ ] dores no corpo
[ ] cefaléia
[ ] fadiga
[ ] sudorese
[ ] anorexia)
[ ] náuseas
[ ] outros:_______________________
4. O senhor(a) sabe como é a febre da malária?
5. O senhor (a) sabe qual o horário com mais
[ ] acontece sempre no mesmo período
risco para pegar malária?
[ ] não passa com uso de antitérmicos
[ ] qualquer horário
[ ] a temperatura sofre maior elevação
[ ] ao amanhecer e ao anoitecer
[ ] Acompanhada de calafrios e tremores
[ ] durante a noite
[ ] não sei
[ ] não sabe
6 – O senhor (a) sabe quais são os lugares com maior riso
7 – O senhor (a) sabe se tem uma época do
para pegar malária?
ano mais propícia a pegar malária?
[ ] no distrito
[ ] na período chuvoso
[ ] no garimpo
[ ] após as chuvas
[ ] na mineradora
[ ] não tem lugar específico
51
[ ] na zona rural
[ ] não sabe
[ ] não tem lugar específico
[ ] outros _________________________
[ ] não sabe
[ ] outros______________________
Sobre o tratamento
8. O senhor (a) sabe como se trata a malária?
[ ] fazer uso de terapias complementares
[ ] tomar a medicação do posto
[ ] fazer uso de medidas complementares
[ ] tomar outros medicamentos
[ ] fazer uso de terapias complementares +
[ ] tomar a medicação do posto + outros medicamentos
medidas complementares
[ ] tomar a medicação do posto + terapias complementares
[ ] outro:______________________
[ ] tomar a medicação do posto + medidas complementares [ ] não sei
(repouso, abstenção/restrição de alimentos e bebida
alcoólica)
Sobre a prevenção
9. O senhor (a) sabe o que é necessário para prevenir-se da
malária?
Procurar não construir casas com paredes
profilaxia medicamentosa
[ ] sim [ ] não
incompletas próximo à mata e coleções de
drenagem de terrenos
[ ] sim [ ] não
água
[ ] sim [ ] não
desobstrução de igarapés
[ ] sim [ ] não
fazer uso de repelentes
[ ] sim [ ] não
aterros, limpezas de valas
[ ] sim [ ] não
roupas e acessórios que protejam o corpo
permanecer afastada de matas [ ] sim [ ] não
[ ] sim [ ] não
evitar ficar ao relento
[ ] sim [ ] não
mosqueteiros ou cortinado [ ] sim [ ] não
pescar ou tomar banho de rio ao anoitecer o ao amanhecer não tem como prevenir [ ]
[ ] sim [ ] não
não sabe
.[ ]
outros:________________________
VERIFICAÇÃO DA ADESÃO AO TRATAMENTO
Perguntar ao paciente sobre o seu estado de saúde e o seguimento do tratamento da malária prescrito,
solicitando que apresente os envelopes e blisteres de medicamentos recebidos.
Cloroquina:
Primaquina:
[ ] Não apresentou o envelope
[ ] Não possui o blister
[ ] Apresentou o envelope vazio (sem
[ ] Apresentou o blister sem comprimidos
comprimido)
[ ] Apresentou o blister com 2 a 4 comprimidos
[ ] Apresentou o envelope com comprimidos
[ ] Apresentou o blister com mais de 4 comprimido
Artemeter + lumefantrina
Manhã
[ ]Apresentou 4 comprimidos
[ ]Apresentou mais de 4 comprimidos
[ ]Apresentou menos de 4 comprimidos
[ ]Não apresentou nenhum comprimido ou não
apresentou o blister
Noite
[ ]Apresentou 8 comprimidos
[ ]Apresentou mais de 8 comprimidos
[ ]Apresentou menos de 8 comprimidos
[ ]Não apresentou nenhum comprimido ou não
apresentou o blister
52
ANEXO A
Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller
Registrado na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa em 25/08/97
(Resolução n º. 196 de 10.10.1996 – CNS)
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Projeto: “Contribuição do conhecimento sobre a malária na adesão ao tratamento”.
Pesquisador: Taísa Guimarães de Souza.
Objetivo principal: Descrever o conhecimento de pacientes acometidos pela malária vivax sobre a
doença, o tratamento e a prevenção, relacionando com a sua adesão ao tratamento medicamentoso, em
um distrito endêmico do estado de Mato Grosso.
Significado de adesão ao tratamento: Seguimento do tratamento prescrito para combater a malária
Procedimentos: Entrevista.
Possíveis riscos e desconfortos: Nenhum risco de vida e desconforto inicial mínimo.
Benefícios previstos: Nenhum benefício material.
Eu..............................................................................................., RG:.............................................. fui
informado dos objetivos, procedimentos, riscos e benefícios desta pesquisa, descritos acima.
Entendo que terei garantia de confidencialidade, ou seja, que apenas dados consolidados serão
divulgados e ninguém, além do pesquisador, terá acesso aos nomes dos participantes desta pesquisa.
Entendo também, que tenho direito a receber informações adicionais sobre o estudo a qualquer
momento, mantendo contato com o pesquisador. Fui informado ainda, que a minha participação é
voluntária e que nenhum dano, risco ou ônus ocorrerá sobre a minha pessoa. Se eu preferir não
participar ou deixar de participar deste estudo em qualquer momento, isso NÃO me acarretará
qualquer tipo de penalidade.
Compreendendo tudo o que me foi explicado sobre o estudo a que se refere este documento, inclusive
o significado de adesão ao tratamento.
Concordo em participar do estudo.
Assinatura do participante:........................................................................................................
Assinatura do pesquisador:........................................................................................................
Em caso de necessidade contate o pesquisador no endereço: R. Governador Fernando Correa nº36,
Bairro: Centro, Várzea Grande - Mato Grosso. Fone: (65) 99188642.
53
ANEXO B
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