O SR. FLÁVIO BEZERRA (PMDB-CE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Senhor Presidente, Senhoras e senhores Deputados, marisqueiras e pescadores: Subo mais uma vez a esta tribuna, desta feita para fazer um alerta sobre a Ameaça de Internacionalização de Portos Pesqueiros, em detrimento ao Desenvolvimento da Pesca Oceânica. Dessa forma, quero informar que recebi correspondência do Conselho Nacional de Aqüicultura e Pesca – CONEPE, entidade representativa da classe empresarial que congrega o setor pesqueiro e aqüícola nacional, desaconselhando a abertura de porto pesqueiro nacional para embarcações estrangeiras, pelas razões que passo a informar: O Setor pesqueiro no Brasil gera uma produção de pescado estimada em 900 mil toneladas por ano, frente a uma produção mundial de 126 milhões de toneladas, o que tem sido tomada como pequena, principalmente considerando os 8,5 mil quilômetros de costa, 12% do total da reserva mundial de água doce disponível no mundo, os seus milhões de quilômetros quadrados de Zona Econômica Exclusiva - ZEE e os milhões de hectares de águas represadas, estuários e terras alagadas. O Brasil é detentor da propriedade (mar territorial) e da posse (Zona Econômica Exclusiva) de regiões marítima, costeira e oceânica, de aproximadamente 4,3 milhões de km2. Espaço oceânico, este, que se convencionou chamar de “AMAZÔNIA AZUL BRASILEIRA”. A conquista desse patrimônio oceânico é fruto de lutas políticas, diplomáticas e de forte ação econômica das empresas e da frota brasileira . Contudo, com o esgotamento dos recursos pesqueiros costeiros, a pesca oceânica (voltada para a captura de atuns e espécies afins) se configura, atualmente, como uma das últimas alternativas para o crescimento da produção brasileira de pescado, excetuando a aqüicultura. A grande maioria, se não a totalidade, das espécies de atuns e afins, além de serem espécies altamente migratórias, já estão sendo capturadas no limite de suas capacidades máximas sustentáveis, ou seja, não há, concretamente, como se ampliar à captura total de atuns no Oceano Atlântico sem comprometer a sustentabilidade do recurso. Essa situação condena os países costeiros em desenvolvimento, por não terem tradição na pesca oceânica, a serem meros entrepostos de pesca dos países desenvolvidos, sem condições de usufruir os direitos conquistados com a Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar – COVEMAR e o Acordo das Nações Unidas sobre as Espécies Transzonais e Altamente Migratórias, que assegura o pleno direito aos países pesqueiros em desenvolvimento de ampliar a sua pesca oceânica. Assim sendo, é evidente que o crescimento da produção nacional de atuns e afins implicará, necessariamente, na redução das capturas por parte de países pesqueiros tradicionais. Considerando-se que esta atividade no Oceano Atlântico envolve valores da magnitude de US$ 4 bilhões, é fácil compreender a forma agressiva com que os países pesqueiros tradicionais têm defendido a sua hegemonia histórica nesta atividade. É óbvio, também, que o atum que o Brasil não pescar, será pescado por outras nações. O Governo Federal, ao criar a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca–SEAP/PR, teve como objetivo fomentar o desenvolvimento sustentável da atividade pesqueira e com o especial compromisso de desenvolver a pesca oceânica. Nos últimos dois anos, o setor do agronegócio, dentre ele o pesqueiro, têm sofrido fortes pressões pelas autoridades européias quanto às garantias oficiais para a segurança alimentar dos produtos brasileiros exportados para os seus EstadosMembros. Com isso, fica a indagação se as exigências sanitárias impostas aos produtos brasileiros estão diretamente relacionadas com a pressão para a instalação de Portos Internacionais na Costa Brasileira (portos livres). Assim, não interessa ao Setor Pesqueiro alimentar propostas que vulnerem a possibilidade de desenvolvimento da pesca no país. Ressalta-se, ainda, que o pedido de internacionalização de porto pesqueiro já fora examinado pelo governo brasileiro em outras ocasiões, por solicitação do Japão e da Espanha, oportunidade em que foram negadas tais pretensões. Dessa forma, Senhor Presidente, quero manifestar meu total apoio ao Setor Pesqueiro nacional, em prol do desenvolvimento sustentável da atividade pesqueira no nosso país e declarar que por todas essas questões apresentadas, somos contra a internacionalização pesqueiros. Era o que tinha a dizer. de nossos portos