GENÉTICA DE POPULAÇÕES DE OMOPHOITA OCTOGUTATTA (COLEOPTERA: CHRYSOMELIDAE) NA REGIÃO SUL DO BRASIL Ksenia Skorupa Ribeiro dos Santos (PIBIC/Fundação Araucária/UEPG), Matheus Azambuja dos Santos, Mateus Henrique Santos (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Ponta Grossa/Departamento de Biologia Estrutural, Molecular e Genética. Genética Animal/Caracterização da biodiversidade em espécies do gênero Omophoita Chevrolat, 1837 (Coleoptera, Chrysomelidae): Utilizando marcadores citogenéticos e moleculares. Palavras-chave: Estrutura populacional, Fluxo gênico, Coleópteros. Resumo: Coleópteros da tribo Alticini contém o maior número de espécies neotropicais de insetos. Sobre a distribuição de Omophoita octogutatta Fabricius 1775 há uma escassez de trabalhos de genética de populações, sendo importante a compreensão dos padrões de dispersão e níveis de estruturação na espécie. A partir disso, foram amostrados indivíduos de Ponta Grossa, Ivaí e Guarapuava – PR, localidades que apresentam altitudes distintas. Os indivíduos amostrados tiveram seus DNAs extraídos pelo método de Murray e Thompson (1980). Este foi amplificado (PCR) e os alelos verificados em gel de poliacrilamida. Para verificar a influência da altitude na estrutura populacional foram realizados testes de variabilidade e estruturação genética nos programas Arlequin 3.5.2, e Structure 2.3.4. O teste Fst mostrou estruturação para Ivaí e fluxo gênico entre Ponta Grossa e Guarapuava. Já a heterozigosidade apresentou os menores valores para Ponta Grossa, podendo ser um indicativo de Endogamia ou Deriva Genética. Apesar da estruturação do Fst, os demais testes apresentaram fluxo gênico, não corroborando a hipótese de estruturação pela altitude. Desta maneira mais estudos devem ser realizados para compreender quais fatores são os responsáveis pelos padrões de distribuição da variação genética em O. octoguttata. Introdução A ordem Coleoptera é a mais diversa dos insetos e, dentre as quatro subordens, Polyphaga abriga cerca de 90% das espécies em 88 famílias. Chrysomelidae, família de destaque, abriga a tribo Alticini com a maioria dos representantes na região neotropical. Dos Alticini, Omophoita octogutatta Fabricius 1775, endêmica da região, vive em bordas de mata e já foi vista alimentando-se de folhas de algodoeiro. Sobretudo estudos evolutivos e citogenéticos para esta ordem são escassos (RILEY et al, 2002; TRIPLEHORN et al, 2005). De modo geral, as espécies não se apresentam de forma homogênea nos ambientes, podendo se estruturar e conter diferenciações alélicas entre regiões (HARTL & CLARK, 2010). A associação de O. octogutatta com bordas de mata e a escassez de trabalhos fazem desta espécie um ótimo modelo para compreender a influência do ambiente na dispersão de espécies. Pela genética de populações podem ser verificadas barreiras à dispersão de O. octogutatta, como a altitude, entre as regiões de Ponta Grossa, Guarapuava e Ivaí. Material e métodos Foi realizada coleta de 10 indivíduos por localidade nas localidades de Ponta Grossa, Guarapuava e Ivaí – PR. O DNA foi extraído a partir de três pernas (do lado direito) pelo método de Murray e Thompson (1980) e o restante de cada indivíduo, armazenados para futuros trabalhos. As amostras foram diluídas à 40ng/μL. As amplificações por PCR utilizaram 1X tampão; 1,5mM de MgCl2; 0,2 mM de dNTP; 0,5 μM de primers forward e reverse; 1U Taq DNA polimerase e 1 μL de DNA molde, para volume final de 20 μL. Os primers, e seus tamanhos de bandas originais, foram o PnA03 (205-255pb), PnA04 (174180pb), PnD06 9157-184pb), PnH09 (162-165pb) (VERBAARSCHOT et al, 2007) e MVMS-11 (229-247pb) (PATT et al, 2004). Os produtos da PCR foram submetidos a eletroforese em gel de poliacrilamida 10% e a identificação dos alelos foi feita utilizando 100 pb antes e depois do tamanho original descrito anteriormente. No programa Arlequin 3.5.2 (EXCOFFIER, 2015) foram estimados os índices de diversidade populacional, número de alelos e a heterozigosidade. A estrutura populacional foi verificada por Fst de Wright (1931) e Variância Molecular (AMOVA), onde as populações foram agrupadas por altitude considerando Ponta Grossa (960m) e Guarapuava (1100m) como Grupo 1, por apresentarem altitudes similares, e Ivaí (700m) no Grupo 2. A hierarquização populacional realizou-se pelo modelo Bayesiano no programa Structure 2.3.4 (PRITCHARD et al, 2000) obtendo gráficos de estruturação populacional. Resultados e Discussão Os géis de poliacrilamida mostraram bandas próximas as descritas por Verbaarschot et al (2007) e Patt et al (2004). Trabalhos anteriores (SANTOS et al, 2015) obtiveram amplificação do marcador PnA04 para O. octogutatta, entretanto, neste trabalho não foi bem sucedida, possivelmente devido a alterações de equipamentos e reagentes. Índices de variabilidade: A heterozigosidade em marcadores moleculares é a probabilidade de o indivíduo ser heterozigoto naquele locus (SÁNCHEZ, 2008). A heterozigosidade (Tabela II) é a estimativa da variabilidade. Em casos de endogamia ou deriva genética ela encontra-se reduzida, o que pode explicar a baixa quantidade em Ponta Grossa. Estruturação populacional: Os testes Fst estão representados na Tabela I. Tabela I. Marcadores com estruturação significativa (p<0.05). Diagonal inferior esquerda: valores de Fst; Diagonal superior direita: significância. PnA03 Ponta Grossa Ivaí Guarapuava Espécie Ponta Grossa Ivaí Guarapuava Ponta Grossa Ivaí 0.00000 +/- 0.00000 0,30497 0.35626 0.04706 1.00000 0.00000 0.00000 +/- 0.00000 1.00000 Guarapuava 0.00000 +/- 0.00000 0.10811 +/- 0.03780 0.99099 +/- 0.00300 0.00000 +/- 0.00000 - PnA03: Ponta Grossa apresentou estruturação em relação as outras localidades. Guarapuava e Ivaí apresentaram fluxo gênico ente si. PnD06, PnH09 e MvMs11: não significativos, indicando fluxo gênico. Tabela II. Valores de heterozigosidade observada (Ho), esperada (He) e desvio padrão (d.p.) para as três localidades amostradas. Localidade/ Primer PnA03 Ponta Grossa 0.26667 0.25152 0,12500 0,29444 0.47500 0.59722 0.43333 0.47576 (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de 0.09428) 0.07285) 0.17678) 0,08641) 0.41130) 0.27938) 0.32998) 0.01286) Ivaí 0.62963 0.49891 0.32778 0.25752 0.44213 0.35112 0.55000 0.31316 (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de 0.06415) 0.02641) 0.30381) 0,17018) 0.33338) 0.19465) 0.63640) 0.30145) Ho PnD06 He Ho PnH09 He Ho MvMs11 He Ho He Guarapuava 0.59259 0.47059 0,41429 0.43333 0.56389 0.41635 0.55000 0.31316 (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de (d.p. de 0.25660) 0.09056) 0.24032) 0.28480) 0.35525) 0.10565) 0.63640) 0.30145) Total espécie Ho 0.30953 (d.p. de 0.25918) He 0.28392 (d.p. de 0.16985) Os resultados demonstram que apenas Ivaí apresenta estruturação e que existe um fluxo gênico entre Guarapuava e Ponta Grossa. A AMOVA apresentou resultados que indicam que a variabilidade está entre os Grupos 1 e 2, mas os valores apresentados não foram significativos para corroborar estruturação gênica devido à altitude. O programa Structure não mostrou estruturação entre as localidades (Gráfico I), indicando que a altitude não representa barreira ao fluxo gênico. Gráfico I: Análise de estruturação populacional ou fluxo gênico entre todos os primers das regiões amostradas. Conclusões A estruturação foi verificada parcialmente nas análises, demonstrando que a população de Ivaí apresenta indícios de estruturação. Mesmo isso podendo ser o resultado de isolamento pela altitude, os demais testes não corroboram essa hipótese. A variabilidade (heterozigosidade) apresentou valores baixos para a região de Ponta Grossa, indicando possíveis efeitos de Endogamia e/ou Deriva Genética. Apesar dos resultados preliminares, não foi possível concluir que a diferença na altitude é o fator determinante para o padrão de estruturação, porém, mais trabalhos são necessários para se verificar o que rege os padrões de distribuição genética em O. octoguttata. Agradecimentos À minha família, pelo incentivo de ingresso na pesquisa científica. À UEPG, Laboratório de Genética Evolutiva e Fundação Araucária que proporcionaram conhecimento e infraestrutura. Aos meus colegas que auxiliaram no aperfeiçoamento das técnicas de laboratório e a todos que auxiliaram na realização deste trabalho. Referências EXCOFFIER, L. Arlequin: Na Integrated Software for Population Genetics Data Analysis. Computational and Molecular Population Genetics, Unibe. 2015. HARTL, D.& CLARK, A. G. Princípios de Genética de Populações. 4ª ed., 2010. MURRAY, M. G.; THOMPSON, W. F. Rapid isolation of high molecular weight plant DNA. Nucleic Acids Research, Oxford, v. 8, n. 19, p. 4321–4326, oct., 1980. PATT, A. et al. Isolation and characterization of microsatellite loci in Monolepta vincta Gerstaecker, 1871 (Coleoptera, Chrysomelidae, Galerucinae). Molecular Ecology Resources, v. 4, p. 572-574, 2004. PRITCHARD, J. K., STEPHENS, M., DONNELLY, P. Inference of Population Structure Using Multilocus Genotype Data. Genetics 155: 945-959. 2000. RILEY, E. G. et al. Chrysomelidae Latreille 1802. American beetles: p. 617-691, 2002. SANTOS, M. A. et al. Transferibilidade de locus microssatélites entre espécies de Coleoptera e diversidade populacional em Omophoita octoguttata (Coleoptera, Chrysomelidae, Alticinae). Ponta Grossa, 2015 SÁNCHEZ, C. F. B. Diversidade entre e dentro de populações simuladas sob deriva genética. Universidade Federal de Viçosa, MG. 2008. TRIPLEHORN, C. A. et al. Borror and DeLong's Introduction to the Study of Insects. 7. ed. Australia: Brooks Cole, 2005 VERBAARCHOT, P. et al. Isolation of polymorphic microsatellite loci from flea beetle Phyllotreta nemorum L. (Coleoptera: Chrysomelidae). Molecular Ecology Resources, v. 7, p. 60-62, 2007. WRIGHT, S. Evolution and genetics of populations. Vol. 2: The theory of gene frequencies. University of Chicago Press, Londres, p. 511, 1978.