os desenhos animados como ferramenta pedagógica

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OS DESENHOS ANIMADOS COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA
PARA O DESENVOLVIMENTO DA MORALIDADE
SILVA JÚNIOR, Adhemar G. da – UNIVAS - POUSO ALEGRE MG
[email protected]
TREVISOL, Maria Teresa Ceron – UNOESC - Campus de Joaçaba (SC)
[email protected]
EixoTemático: Comunicação e Tecnologia
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
A televisão faz parte da cultura de massa, é uma das mídias que transmite a mesma
informação para muitas pessoas ao mesmo tempo, e isso permite realizar a comunicação de
maneira socialmente igualitária tornando a relação mais prazerosa com novos saberes. Levar a
televisão para a sala de aula implica também ensinar os alunos a vê-la com olhar crítico.
Nesse sentido, buscamos com esse artigo analisar a utilização do desenho animado como
recurso didático-pedagógico para auxiliar no processo de ensino e de aprendizagem, e no
desenvolvimento moral de alunos do ensino fundamental. A base empírica de sustentação
deste artigo é uma pesquisa que se caracteriza como um estudo exploratório, de natureza
qualitativa. Contou com uma amostra composta por professores e alunos do ensino
fundamental. Como procedimento de coleta de dados utilizou-se: a) com os alunos: um
desenho dos programas que mais assistem na televisão e que mais gostam; exibição de dois
episódios do desenho “Bob o construtor”, selecionados para esta atividade; uma entrevista
com um roteiro de questões semi-estruturado, tendo como foco os desenhos animados
assistidos; b) Com os professores: uma entrevista com um roteiro de questões semiestruturado. Como procedimento de análise de dados utilizou-se o procedimento de análise de
conteúdo. No decorrer da atividade realizada evidenciou-se que professores e alunos
encantaram-se com a inserção deste recurso na sala de aula para favorecer a discussão de
temas do cotidiano. Os desenhos constituem um recurso atrativo, pois envolve cor, imagem,
som, um dilema envolvendo seus personagens, enfim, uma situação a ser analisada e refletida.
Entretanto, para que esse recurso possa representar uma ferramenta com finalidade
pedagógica é essencial que o professor se disponibilize a aprender, planejar e a construir a
forma como o utilizará.
Palavras -chave: Desenvolvimento Moral. Desenhos animados. Ferramenta Pedagógica.
Ensino Fundamental.
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Introdução
A televisão (do grego tele = distante e do latim visione = visão)1 é um sistema
eletrônico de transmissão de imagens e sons de forma instantânea. A televisão no Brasil
surgiu na década de 50, trazida por Assis Chateaubriand que fundou o primeiro canal de
televisão no país. Desde então a televisão cresceu e hoje representa um fator importante na
cultura popular moderna na sociedade brasileira. Passa a ser também uma das formas de
telecomunicação que mais tem chamado a atenção de estudiosos interessados no assunto, e
dentre eles os educadores. Considerando a integração do seu significado etimológico, “visão
ao longe”, ao efeito que produz, a televisão tem conseguido manter telespectadores assíduos
aos seus programas, não só na realidade brasileira, mas também entre os habitantes das várias
regiões do mundo.
De acordo com Lobo,
antes da industrialização e da inchação das cidades, antes da especulação
imobiliária, a família era maior e morava em espaços bem mais amplos. Havia mais
tempo disponível para os contatos pessoais dentro de casa. As crianças conviviam
com mais pessoas, parentes mais velhos e mais moços, e tinham oportunidade de
experimentar uma variedade de influências enriquecedoras. Como resultado das
mudanças a mulher foi estudar e/ou trabalhar. Saiu de casa para realizar-se como
pessoa ou para equilibrar o orçamento familiar, diminuindo o risco de desemprego
dentro de casa (LOBO, 1999 p. 23).
Com a crise dos anos 80, quando a situação econômica do país foi de extrema
dificuldade, o fenômeno televisão ganhou proporções, muito mais pessoas em casa pela falta
de emprego, esta situação proporcionou o aumento do número de telespectadores a frente
desse veículo de comunicação.
Com o aumento do desemprego a mulher buscou seu espaço no mercado de trabalho
para poder ajudar seu companheiro com o orçamento doméstico, com isso, teve cada vez
menos tempo para os filhos. Como a família moderna atomizou-se, reduzindo-se ao pai, a
1
Fonte: CUNHA, A. G. da. Dicionário Etimológico - Nova Fronteira, 1999, p. 760-761.
5045
mãe e aos filhos, essas crianças ficaram, cada vez mais cedo com babás, vizinhas e
professores.
A partir da década de 90, as pesquisas mostram que as pessoas passam mais tempo em
frente a este veículo de comunicação. De acordo com Pougy (2005 p.46), a criança relacionase com a TV do mesmo modo que se relaciona com o que está a sua volta. Para ela, a TV
constitui-se em um jogo simbólico, como são as brincadeiras infantis. Nesse sentido,
interessou-nos, de forma particular, verificar como especificamente a televisão, por meio dos
desenhos animados, pode representar uma ferramenta pedagógica para o desenvolvimento de
conteúdos escolares e da dimensão da moral. Os desenhos animados representam um conjunto
de estímulos visuais, auditivos, reflexivos de mensagens e informações sobre diferentes
contextos. Justamente por consistir em uma ferramenta que desperta interesse nos alunos, pela
estória e pelos dilemas que comumente a mesma apresenta, pode favorecer o trabalho
pedagógico, inclusive a descentração de quem a assiste para o contexto em foco, bem como, a
transposição do mesmo para a vida cotidiana. Cabe ao profissional que poderá utilizar este
recurso selecionar desenhos que contenham em sua essência recortes de realidade que
mereçam atenção e possam representar possibilidade de reflexão, discussão e o pensar sobre o
agir diante de cada uma destas questões. Acreditamos que os desenhos animados, enquanto
ferramenta pedagógica pode auxiliar os professores e alunos em sala de aula no que se refere
ao alcance dos objetivos educacionais e da formação integral do aluno.
Constitui objetivo deste artigo, analisar esta possibilidade à luz de uma investigação
realizada durante os anos de 2007/2008, e resultou em uma dissertação de Mestrado em
Educação.
Método de investigação: A pesquisa realizada caracteriza-se como descritiva, de
cunho exploratório e de natureza qualitativa. A amostra foi composta por 63 alunos na faixa
de idade entre 7 e 10 anos, representantes de três instituições de ensino (Escola Pública (EPu),
Escola Particular (EPa) e Escola Municipal (EMu), localizadas no meio oeste catarinense.
Além dos alunos, a amostra foi composta por três professoras que atuam nas séries iniciais de
ensino fundamental, responsáveis pelas referidas salas. A atividade realizada foi,
primeiramente, promover a experiência com relação ao veículo de comunicação televisão, e a
exibição do desenho animado como ferramenta pedagógica para auxiliar no processo de
ensino e aprendizagem e no desenvolvimento moral desses alunos. Observar o
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comportamento dos envolvidos e, a partir da experiência, identificar a compreensão destas
profissionais e dos alunos sobre a utilização dessa ferramenta no cotidiano da sala de aula.
Não constitui nosso objetivo, nesse artigo, efetuar cruzamentos entre as informações
das diferentes instituições. O objetivo é mostrar que a tecnologia de informação e
comunicação (TIC) pode contribuir para o desenvolvimento dos alunos, sem que exista a
diferenciação de escola pública, municipal ou particular, mostrar que a utilização dos recursos
pedagógicos como, a utilização da TV, aproveitando os desenhos animados para trabalhar
conteúdos em sala de aula podem favorecer o alcance de bons resultados no processo de
assimilação dos conteúdos e auxiliar no desenvolvimento moral.
O procedimento de coleta dos dados teve início com a seleção de um desenho, foi
selecionado o desenho do “Bob o Construtor”, pois tem como proposta a transmissão de
valores pessoais, visto que o personagem principal demonstra pensamento positivo e busca o
trabalho em equipe. Além desse aspecto, o desenho incentiva as crianças à prática de ações de
responsabilidade social, características que interessam à investigação. O desenvolvimento
destas ações pode facilitar a inclusão e o saber agir diante de dilemas do cotidiano escolar e
fora dele. A coleta dos dados foi filmada e os sujeitos participantes da pesquisa foram
consultados sobre o procedimento a ser realizado. Mediante a assinatura do Termo de
Consentimento Livre Esclarecido (aprovado pelo CEP/UNOESC) os professores concordaram
com a experiência proposta e os pais dos alunos autorizaram seus filhos a participar da
investigação.
A análise dos dados ocorreu mediante as seguintes etapas: após a filmagem, o material
recolhido foi transcrito em DVDs visando favorecer o manuseio das informações,
possibilitando a transcrição dos momentos que constituíram a coleta dos dados com os alunos
e com as professoras. A partir da transcrição literal das imagens com os dados das entrevistas
com os alunos e com as professoras organizaram-se quadros de análise das respostas e foram
fracionadas por questão. A análise dos dados se deu pela verificação do conteúdo das
respostas dos sujeitos participantes.
A televisão e os processos educativos
A criança é receptiva das mensagens veiculadas na TV, ela as recria de acordo com
suas experiências, um processo de troca de conhecimentos. Ela incorpora o que vê e ouve de
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maneira criativa, retirando o que possui algum sentido e/ou significado para ela, naquele
momento.
É preocupante observar que muitos pais não possuem senso crítico a respeito do tempo
que as crianças devam permanecer assistindo televisão, não percebem que a criança “fica
paralisada” diante deste recurso, bem como de outros jogos eletrônicos, como o Playstation,
videogame, entre outros, e absorve desta relação muitos conteúdos, muitos deles que os pais
desconhecem, além de inibir a possibilidade de envolvimento com a vida real, favorecer o
desenvolvimento psicomotor, de aprendizagens, entre outros. A investigação realizada por
Belloni (1994, p.12) constatou que a presença do público diante do veículo de comunicação é
expressiva, o tempo que essas pessoas passam em frente a este aparelho é muito alto,
chegando a 23 horas semanais.
E se os pais não conversam com as crianças sobre o que elas fazem nos espaços e
horários alternativos, nem se posicionam diante de suas perguntas, depois de algum tempo
seus filhos deixam de perguntar e apenas absorvem o que vêem na televisão. Ela representa
uma possibilidade de entretenimento e, na falta de alternativas mais sedutoras para a criança,
essa atividade se levada ao excesso, pode se transformar em um hábito ou vício.
Particularmente, os desenhos animados, expressam na sua maioria os movimentos das coisas,
seres, ações de uma forma exagerada, caricaturada, sobretudo quando se trata de desenhos
humorísticos ou os chamados cartoons. Além de fonte de prazer e entretenimento, os
desenhos animados podem representar valiosos instrumentos para favorecer a aprendizagem e
o desenvolvimento pessoal e profissional (BOSELLI, 2002 p. 30). Despertam e ativam os
sentidos, mexendo com as emoções de forma eloqüente, duradoura e por vezes,
surpreendente, assim como a vida, que em constante mutação, mostra, a cada instante, novas
lições.
Desmistificar a tevê e a forma como ela é vista torna-se um desafio. Talvez a própria
televisão não concorde em se expor, como um mágico não revela seus truques antes de fazer
seu número. Se educarmos nossos filhos, e nos educarmos, para ver televisão, ela pode não
ser tão prejudicial a eles ou a nós mesmos, ao contrário, pode ser muito útil. Entretanto, a
televisão não é onipotente e nem deve estar onipresente. Ela não pode corrigir as falhas da
educação ou suprir a falta da família, principalmente porque todos os processos pedagógicos
ocorrem numa relação interpessoal.
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A televisão em si, não é má, nem boa. Ela será boa ou má de acordo com os objetivos
que forem agregados em sua utilização pela criança ou pelos pais. A responsabilidade pelo
acompanhamento e desenvolvimento da criança não é da televisão, mas dos pais. Se as
crianças forem criadas de modo a que a vida tenha significado para elas, desenvolverão uma
boa auto-imagem e auto-estima, desenvolvendo também a própria confiança e a capacidade de
confiar, explorar, descobrir, tentar, sem se deixar abater pelos insucessos.
Um dos problemas atuais é que a escala de valores é muito mais influenciada pela
televisão do que estabelecida pelos pais ou desenvolvida na escola. Outro problema mais
grave, ainda, é que os pais estão abrindo mão de suas responsabilidades, há uma crise de
autoridade e de postura destes adultos. Hoje as crianças são mais filhos da televisão do que de
seus pais.
Segundo Gonçalves (apud PERRENOUD, 1999, p.139) as tecnologias podem reforçar
os trabalhos pedagógicos e didáticos, pois permitem que sejam criadas situações de
aprendizagem ricas, complexas, diversificadas, em que o professor bem preparado e
atualizado pode tornar-se um bom mediador do que é visto/ouvido nos diferentes meios de
comunicação. A parceria deste educador se torna imprescindível quando ele passa a ser
mediador dessa interação. Responder as possíveis perguntas passa a ser primordial para o
conhecimento e desenvolvimento desses alunos. Sua presença nesta dinâmica de interação
pode proporcionar a segurança que estas crianças precisam para compreender os desafios que
lhes são apresentados, e qual é o comportamento que precisam desenvolver para agirem de
forma crítica diante das situações do cotidiano.
Para Piaget (1977) a criança não nasce com um conjunto de conhecimentos sociais que
lhe permita viver em sociedade, estes, serão construídos por interações significativas com
diferentes sujeitos e instituições.
Os professores vivenciam experiência com a televisão, porém não a utilizam numa
situação formal de ensino. Quando entram na escola, alguns professores fazem deste veículo
de comunicação uma ferramenta estratégica que fica para o lado de fora da sala de aula. É
necessário educar para a televisão, para que esses alunos adquiram consciência crítica e a
utilizem como veículo de comunicação e entretenimento, caso contrário, também ficarão
prejudicados pela carga de informações e a falta de habilidade em lidar com essas situações.
5049
Análise e discussão de dados
Nas atividades com os alunos contamos com o auxílio das professoras responsáveis
pelas salas, sob a orientação do pesquisador. Inicialmente, foi solicitado que os alunos
desenhassem os desenhos animados que assistem e justificassem por que os assistem. Após o
desenho, houve a apresentação oral dos desenhos mais assistidos por eles. Depois se
organizou um momento para assistirem dois episódios do desenho “Bob o Construtor”. Foram
selecionados para esta apresentação os episódios “Começar de novo” e “Pituca na
reciclagem”.
Independente da instituição de ensino, os desenhos animados mais assistidos pelos
alunos que constituíram nossa amostra foram: Bob esponja, em segundo lugar veio um
desenho mais tradicional, que foi o Pica-Pau e, em terceiro lugar outro desenho tradicional,
Scooby doo.
Após a exibição dos episódios do Bob o construtor, evidenciamos que a interação com
o personagem principal foi instantânea. Os alunos se identificaram com facilidade ao jeito do
Bob o construtor e de sua turma. Cada personagem recebeu importância igualmente, e foi
interessante observar a transferência de sentimentos vivenciados pelos personagens do
desenho como insegurança, medo, coragem para seu contexto diário. Compreendemos que
todo esforço que a instituição escolar puder promover para auxiliar na constituição dos
alunos, não somente do ponto de vista dos conteúdos científicos, mas também na dimensão
dos princípios éticos e morais podem representar a garantia de um indivíduo socialmente
engajado no futuro, alunos politicamente e socialmente inseridos no contexto que vive. O
desenho animado Bob o construtor, como outros desenhos que explorem situações onde os
personagens ficam expostos a decisões que viabilizam a convivência em grupo, possibilitam o
desenvolvimento do indivíduo, questionando atitudes, instigando o pensamento e o processo
de reflexão e crítica do aluno e do professor, podem contribuir de maneira significativa para a
absorção de diferentes conteúdos.
Assistir ao desenho animado, e o momento de reflexão que foi proposto na seqüência
da exibição dos desenhos, propiciaram um ambiente de discussão preciosa para colaborar no
processo de desenvolvimento moral e na realimentação de aspectos necessários para
5050
desenvolver uma “personalidade moral”, como afirma Puig (1998). Um sujeito mais
comprometido e responsável pelo coletivo do que somente com a instância individual.
Quando analisamos os dados coletados com as entrevistas realizadas nas escolas
pública (EPu), particular (EPa) e municipal (EMu) chamou-nos a atenção o fato de que as
informações advindas pela televisão estão chegando com a mesma intensidade nesses
ambientes. O acesso à televisão, a internet, vê-se tanto nas camadas mais populares quanto
nas mais altas, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –IBGE (2007), por
meio de indicadores produzidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – PNAD
informam que 93% dos lares brasileiros2 possuem pelo menos um aparelho de televisão.
Assim, consideramos importante olhar de maneira diferenciada para este veículo de
comunicação e na sua forma de utilização na escola.
Evidenciamos nas respostas dos alunos a responsabilidade de tornar este planeta, este
país, a sociedade onde vivem um lugar melhor para co-habitar. Colocaram-se de maneira
crítica quando propõe que a participação de cada indivíduo é importante para a
sustentabilidade do planeta.
Essa postura ficou evidente quando uma aluna da escola pública respondeu ao
questionamento da Professora (P.A1) com relação à importância de se manter os ambientes
organizados, mais precisamente a casa onde vivem e, nesse sentido, o que fazem com o lixo.
A aluna assim se posicionou: “a mãe joga na rua mais depois ela limpa (AEPu):”, “a gente
não pode jogar lixo na rua” (AEMu). Outro aluno se posicionou da seguinte forma: “a
reciclagem ajuda o planeta, a Terra a ficar em paz, tem que ajudar” (Aluno EMu).
No que se refere às professoras que participaram da investigação manifestaram
também seu encantamento pela utilização desse recurso. Quando nos referimos a
encantamento o entendemos como as formas de criar caminhos que despertem processos
reflexivos da ação e um poder de análise ímpar, possibilitando uma aproximação diferenciada
com os conteúdos por elas trabalhados.
No cotidiano dos espaços educativos há a necessidade de reencantamento do trabalho
do profissional que media os processos de ensino e de aprendizagem, pois esses professores,
em algum momento de sua formação, tomaram conhecimento da diversidade de recursos que
2
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – PNAD – pesquisa vinculada Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE – 2007.
5051
favorecem esses processos, entretanto, esta força geradora de buscar novas alternativas
acabou se enfraquecendo e demanda ser energizada. Nesse sentido, a televisão e os próprios
desenhos animados podem representar um interessante recurso.
A professora da escola pública (PEPu) manifestou sua avaliação sobre a experiência
vivenciada afirmando que buscará selecionar e inserir alguns desenhos animados como
ferramenta para auxiliar no desenvolvimento de alguns conteúdos. Verificou como os alunos
se interessaram pelo trabalho desenvolvido. A posição da professora da escola particular
(PEPa) seguiu a mesma linha de raciocínio, colocando sua argumentação de maneira mais
técnica, mas sem perder o entusiasmo pela utilização dessa ferramenta pedagógica. Segundo
ela “acredito que a televisão fornece subsídios para desenvolver os conteúdos conceituais
desenvolvendo assim inúmeras habilidades nos educandos: observar, analisar, raciocinar,
questionar, entre outras” (PEMu).
Percebemos que existe uma predisposição das professoras em buscar um diferencial
que favoreça a construção de conhecimentos. A experiência pedagógica vivenciada por elas
possibilitou outro olhar sobre a utilização da televisão no espaço da sala de aula. E isso ficou
claro quando uma das professoras entrevistadas explicitou que poderia ter utilizado esse
recurso para trabalhar um conteúdo sobre geografia. As professoras verificaram a
possibilidade de desenvolvimento de uma atividade de uma forma diferenciada. As
professoras validaram a experiência, entretanto, a rotina do trabalho pedagógico, o dia-a-dia
com muitas aulas e horas de trabalho as afasta da utilização e da busca de construção de
outros recursos para favoreçam o processo de ensino e que superem somente o uso daquilo
que constitui as metodologias convencionais, isto é, explanação de conteúdos, resolução de
exercícios, entre outros. Convém destacar que a participação do professor na utilização e
exploração de qualquer tipo de recurso pedagógico continua a ser indispensável, com uma
conotação marcante em seu papel de mediador, desequilibrador cognitivo, organizador de
situações de pensar e de aprender.
O impacto da revolução tecnológica sobre as visões tradicionais do conhecimento é
mais do que significativo e a própria universidade não pode se furtar deste processo. É
importante pensar os impactos dessa revolução e a construção de alternativas para sua
utilização nos diferentes cursos. Nesse sentido, a interface da Pedagogia com outros cursos
como o de Publicidade e Propaganda poderá favorecer a catalogação, seleção de recursos
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pedagógicos como os desenhos animados e a sua disponibilização para a comunidade escolar.
Favorecendo a capacitação destes profissionais para o uso desses recursos novas
possibilidades de ensino e de aprendizagem vão se construindo.
Considerações Finais
Observamos que os professores e os alunos das diferentes instituições de ensino
pesquisadas manifestaram sua aprovação com relação à utilização dos desenhos animados
como, mais um dos recursos pedagógicos, para favorecer o processo de ensino aprendizado.
Mesmo que a experiência tenha ocorrido em um espaço de tempo curto, ficou claro que a
absorção dos conhecimentos ensinados ganhou relevância com a apresentação dos desenhos.
Inclusive um dos episódios exibidos foi relacionado, pelos alunos e professores, com a
discussão de conteúdos aprendidos em uma das disciplinas trabalhadas em sala de aula há
poucos dias atrás. Com isso a assimilação de novos elementos se viu favorecida em virtude
dos desenhos, imagens, som, cenário e enredo da história apresentada. Os episódios exibidos
também favoreceram a discussão da dimensão da moral: atitudes dos personagens, o agir em
determinadas situações, as posturas assumidas pelos personagens, valores imprescindíveis
para que um indivíduo possa conviver em uma sociedade. Entre eles destacaram-se a verdade,
coragem, respeito, generosidade, valores que permearam todos os episódios.
É importante ressaltar, novamente, que a formação continuada dos profissionais da
educação é algo essencial para garantir a qualidade do ensino e dos processos de
aprendizagem dos alunos. As tecnologias de informação e comunicação representam
interessantes recursos que podem auxiliar na construção de conhecimentos e na discussão
entre os alunos, processos reflexivos e quiçá comportamentos mais adequados a serem
implementados. Além disso, possibilita aos alunos colocar-se no lugar do outro
(descentração), pensar o que fariam se estivessem naquela situação, propor outros
encaminhamentos em relação a ação dos personagens e ao final do episódio.
Uma proposta de educação moral envolve a formação de uma personalidade
consciente, livre e responsável, capaz de enfrentar a indeterminação humana, o jogo entre o
individual e o coletivo, a tensão para a otimização. Tais aspectos desembocam no
5053
reconhecimento de que a moralidade supõe necessariamente enfrentar fatos e acontecimentos
que preocupam, inquietam e questionam.
Não podemos negar que durante as últimas décadas, a revolução tecnológica vem
tendo um impacto considerável e está mudando o cotidiano. O impacto que a revolução
tecnológica causa nas visões tradicionais do conhecimento é mais do que significativo. Os
últimos 10 anos foram os da invasão da tecnologia digital em todos os aspectos de nossa vida,
inclusive na educação e nas instituições de ensino. Caberá a cada instituição a
contextualização destas alternativas, a delimitação dos caminhos a ser seguidos, em cada
tempo, a cada novidade. Entretanto, o importante é que as instituições de ensino estejam
sempre à frente de seu tempo, propondo, instigando, fazendo pensar sobre a viabilidade de
aplicação desses recursos na sala de aula.
A universidade e os diferentes cursos de formação de professores não podem se furtar
de auxiliar no processo de construção do fazer pedagógico, no estabelecimento de suas
finalidades e dos recursos que poderão favorecê-lo. Como pesquisadores e profissionais
envolvidos com o contexto educacional precisamos continuar buscando respostas e
construindo alternativas para o encaminhamento da questão: que conteúdos e com que
estratégias podemos desequilibrar o aluno no processo do aprender e da constituição de
sujeitos mais responsáveis com relação a seu fazer?
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PERRENOUD, Phellippe, Pedagogia Diferenciada das intenções à ação Porto Alegre
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PUIG, Josep Maria; BARROS, Luizete Guimarães; ALCARRAZ, Rafael Camorlinga;
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(Série Fundamentos, 140)
SILVA Junior, Adhemar G. da O Desenho animado como ferramenta pedagógica para o
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Universidade do Oeste de Santa Catarina, 2008.
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