Domingo, 18 de outubro de 2009, 15h10 Ácido hialurônico pode ser usado para aumentar seios Rosana Ferreira Turbinar os seios é o sonho de inúmeras brasileiras, tanto que uma recente pesquisa encomendada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) revelou que o procedimento para aumento de mamas representa 21% das intervenções estéticas e ocupa o primeiro lugar no ranking de cirurgias plásticas no Brasil. A demanda, portanto, gera o desenvolvimento de novas técnicas, como a aplicação do ácido hialurônico para aumentar os seios. A substância é conhecida pela excelente indicação no tratamento de rugas faciais e sulcos, com resultados seguros e previsíveis há 15 anos. Apesar de ser um procedimento não-invasivo e sem anestesia para aumentar os seios, gera controvérsias na comunidade médica. Por isso, quem gosta de novidades é bom ir devagar. "Esse tipo de aplicação do ácido hialurônico ainda não possui estudos científicos que avaliem os reais efeitos ou complicações que ele pode trazer para a beleza e saúde da mulher", disse Alexandre Mendonça Munhoz, especialista em cirurgia plástica de mama e oncoplástica, membro especialista e titular da SBCP. Além disso, ele afirma que, como a substância é reabsorvível, o volume pode diminuir num prazo curto em comparação com o efeito da prótese. Em 2006, na Suécia, iniciou-se um estudo para avaliar o uso do ácido hialurônico de última geração (Macrolane) no tratamento de irregularidades do contorno corporal. Nesse estudo, que é o único publicado no mundo sobre aumento de mama, divulgado em 2009, um dos grupos avaliados era de pacientes com hipomastia (mamas pequenas). Na pesquisa, 19 pacientes foram submetidas à injeção de ácido hialurônico com volume médio de 200ml na posição atrás da glândula mamária e na frente do músculo peitoral. Com dois anos de acompanhamento, 40% do volume inicial injetado ainda permaneciam. Dentre as principais complicações, o estudo observou reações como dor intensa durante a injeção, reação local e endurecimento e processo inflamatório temporário. Segundo os autores, no acompanhamento de dois anos com mamografia e ultrassom não foram observadas alterações importantes, como nódulos e calcificações, porém o acompanhamento ainda continua. O ácido hialurônico é um polímero da família dos polissacarídeos, biocompatível e utilizado em larga escala desde a década de 1990 para o tratamento de rugas e pequenas depressões cutâneas. Normalmente, são pequenos volumes (de 1 a 5ml) injetados dentro da camada dérmica da pele. A partir de meados do ano 2000, novas aplicações clínicas começaram a surgir devido à evolução da produção do polímero desse ácido, bem como maior pureza da molécula e, por consequência, menor reação local. Esses polímeros mais modernos começaram a ser indicados, portanto, para o tratamento de depressões cutâneas, pós-lipoaspiração e sequelas profundas de acne com irregularidades na face. Consequências Segundo Munhoz, a aplicação de ácido hialurônico pode acarretar infiltração no músculo peitoral ou mesmo dentro da glândula mamária, o que pode levar à formação de nódulos ou calcificações que atrapalhariam o acompanhamento com mamografia e ultrassom. Como existe a necessidade de injeção de grandes volumes (mais de 100ml) para se obter um bom resultado, a chance de erro na injeção ou mesmo de reação local (inflamação) é muito maior. De acordo com Munhoz, até o momento não há estudos que avaliem ainda se grandes volumes de ácido hialurônico poderiam ser absorvidos pelos vasos linfáticos e chegar à circulação sanguínea, o que causaria embolia no fígado, rins ou outro órgão vital. Também não existem dados sobre as consequências desse procedimento na amamentação. "Teoricamente não há riscos, desde que a injeção tenha sido feita totalmente na região correta. Mas nada impede que algumas moléculas cheguem aos lóbulos mamários (por difusão direta ou por erro na aplicação) e entrem em contato com o leite materno. Há a necessidade de estudos futuros, porque o trabalho sueco não avaliou essa questão", disse o médico.