Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 1 Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 Editorial Corpo Editorial Mais um passo na caminhada Editor Chefe Dr. Reginaldo de Carvalho Silva Filho, Fisioterapeuta; Acupunturista; Praticante de Medicina Chinesa Editor Executivo Dr. Cassiano Mitsuo Takayassu, Fisioterapeuta; Acupunturista; Praticante de Medicina Chinesa Editor Científico Dr. Rafael Vercelino, PhD, Fisioterapeuta; Acupunturista Coordenação Editorial Gilberto Antonio Silva, Acupunturista; Jornalista (Mtb 37.814) Comitê Científico Dr. Mário Bernardo Filho, PhD (Fisioterapia e Biomedicina) Dra. Ana Paula Urdiales Garcia, MSc (Fisioterapia) Dra. Francine de Oliveira Fischer Sgrott, MSc. (Fisioterapia) Dra. Margarete Hamamura, PhD (Biomedicina) Dra. Márcia Valéria Rizzo Scognamillo, MSc. (Veterinária) Dra. Paula Sader Teixeira, MSc. (Veterinária) Dra. Luisa Regina Pericolo Erwig, MSc. (Psicologia) Dra. Aline Saltão Barão, MSc (Biomedicina) Assessores Nacionais Dr. Antonio Augusto Cunha Daniel Luz Dr. Gutembergue Livramento Marcelo Fábian Oliva Silvia Ferreira Dr. Woosen Ur Assessor es Inter nacionais Assessores Internacionais Philippe Sionneau, França Arnaud Versluys, PhD, MD (China), LAc, Estados Unidos Peter Deadman, Inglaterra Juan Pablo Moltó Ripoll, Espanha Richard Goodman, Taiwan (China) Junji Mizutani, Japão Jason Blalack, Estados Unidos Gerd Ohmstede, Alemanha Marcelo Kozusnik, Argentina Carlos Nogueira Pérez, Espanha CONTATOS Envio de artigos: [email protected] Publicidade: [email protected] Sugestões, dúvidas e críticas: [email protected] Chegamos à esta nossa segunda edição repletos de satisfação e sentimento de dever cumprido. Podemos afirmar que essa primeira revista foi extremamente bem recebida, não apenas dentro do meio da Medicina Chinesa, mas das terapias alternativas em geral. O feedback que recebemos foi muito bom e várias pessoas interessadas enviaram sugestões pertinentes para a evolução da publicação. Este é nosso maior objetivo: fazer de Medicina Chinesa Brasil um foco de convergência para os profissionais da área, que poderão se atualizar, aperfeiçoar e manter contato com informações da melhor qualidade transmitidas de maneira simples e direta. Medicina Chinesa Brasil é uma das únicas publicações referentes à Medicina Chinesa em todo o mundo que chega até você gratuitamente. Essa é a razão de existirem anúncios publicitários em nossa publicação, uma das críticas mais comuns que recebemos, totalmente descabida em seu conteúdo. Existe toda uma estrutura profissional por trás da revista que precisa ser mantida. E divulgar produtos, serviços e cursos faz parte do elo de comunicação que pretendemos formar entre os praticantes e estudantes de Medicina Chinesa. Anunciar em Medicina Chinesa Brasil não apenas é um ótimo negócio como auxilia a manutenção deste projeto. Atrasamos levemente esta edição para podermos mostrar um pouco do seminário ministrado em São Paulo em 30 de abril e 1º de maio pelo Dr. Philippe Sionneau, uma das grandes referências europeias e mundiais em Medicina Chinesa. Pessoa simples e bem humorada, Sionneau cativou o público com seu profundo conhecimento e mostrou que o Brasil entrou, definitivamente, na rota dos grandes nomes da medicina chinesa. Depois do Dr. Carlos Nogueira Per ez, autoridade espanhola em Acupuntura Bioenergética que esteve por aqui no ano passado (e retornará ao Brasil ainda este ano) e Philippe Sionneau, teremos três cursos interessantes em julho com o Dr. Wu Xiang, professor titular da Universidade de Medicina Chinesa de Jiangxi, na China. Nesta edição trazemos uma entrevista com outro nome forte internacional, o Dr. Arnaud Versluys, que também está tentado a vir ao Brasil. Esses cursos e seminários internacionais são extremamente importantes para que possamos estar em sintonia com o que acontece lá fora e possamos aprofundar a Medicina Chinesa em nosso país. No intervalo entre esses importantes eventos internacionais, você pode se aprofundar na medicina chinesa com nossa revista, que traz em todas as edições artigos e resumos científicos, entrevistas e muitas matérias nacionais e internacionais de alta qualidade. E, se você escreveu algum material interessante, envie para nós. Estamos sempre em busca de algo interessante para nossos leitores. Leia as recomendações de publicação no final da revista e participe. Gilberto Gilber to Antônio Silva Coordenador Editorial 4 Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 Sumário 07 Entrevista com o Dr. Arnaud Versluys 11 Microssistemas - Teorias, Relações e Aplicações 14 Resumos Cientificos: Laser na Acupuntura 16 O Qigong do Ganso Selvagem 19 Tratamento de diferentes doenças com o ponto do ápice auricular 21 Relato de Caso: : Esquizofrenia 24 Fitoterapia Chinesa com Ervas Brasileiras: Alcaçuz Brasileiro e Alcaçuz Chinês 26 Estilo Fukaya de Moxabustão 29 Acupuntura Japonesa e Chinesa: Similaridades e Diferenças - por Yoshio Manaka 34 Emoções na Medicina Chinesa: Esclarecimentos - por Philippe Sionneau Seções: 03 Expediente 03 Editorial 04 Sumário 05 Notícias 37 Normas para Publicação de Material Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 A vinda do Dr. Philippe Sionneau ao Brasil era aguardada com grande ansiedade. Um dos maiores especialistas europeus e mundiais em Medicina Tradicional Chinesa e consultor internacional de nossa revista, sua obras são referência em vários lugares do mundo. Dono de uma erudição ímpar, mostrou também um lado carismático e bem humorado durante os dois dias intensos de explanação sobre doenças dermatológicas e seu tratamento pela acupuntura. Estiveram presentes ao evento, realizado em 30 de abril e 1º de maio nas dependências da EBRAMEC, quase 100 pessoas vindas dos mais diversos lugares do Brasil, para absorver um pouco que fosse desse conhecimento tão precioso. Com tradução simultânea do francês realizada de modo impecável pela Profª. Sílvia Ferreira, o público pôde acompanhar as explicações elaboradas sem qualquer tipo de problema. A vinda do Dr. Sionneau exibe o grau de importância que o Brasil começa a mostrar dentro do campo da MTC. Essa experiência extraordinária de troca de ideias e técnicas só tende a se ampliar nos próximos anos. Ainda em 2011 estão previstas as vindas do Dr. Wu Xiang (China) e do Dr. Carlos Nogueira Pérez (Espanha). Reservem um espaço em suas agendas! Alguns participantes do evento em Sâo Paulo Prof. Silvia Ferreira e Dr. Sionneau Notícias Philippe Sionneau encanta público em São Paulo 5 Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 Arnaud Versluys Arnaud Versluys PhD, MD (China), Lac, um dos muito poucos ocidentais que recebeu seu treinamento médico completo na China. Ele passou mais de 10 anos nas Universidades médicas Chinesas de Wuhan, Beijing e Chengdu, onde obteve seus graus de bacharelado, mestrado e doutorado em Medicina Chinesa. Ele também estudou o Shang Han Lun no sistema tradicional de discipulado por vários anos. A paixão do Dr. Versluys recai sobre o estilo canônico da Medicina Chinesa da Dinastia Han. Por cinco anos ele trabalhou como professor da Escola de Medicina Chinesa Clássica da Faculdade Nacional de Medicina Natural em Portland, Oregon, EUA. Em 2008, ele fundou o Institute of Classics in East Asian Medicine (www.iceam.org) para oferecer treinamentos avançados em Medicina Chinesa Canônica pelo mundo. Dr. Versluys tem uma clínica particular em Portland, OR, e pode ser contatado em [email protected] . Como foi que o senhor desenvolveu interesse na Medicina Chinesa? E como foi que você seguiu este objetivo de aprender a Medicina Chinesa? Eu tinha um interesse em medicina desde cedo na minha infância, e desenvolvi um forte interesse em medicina complementar desde a idade de 13 ou 14. Quanto eu tinha cerca de 15 anos, minha mãe começou a se tratar com acupuntura e fitoterapia com o Dr. Pierre Sterckx na Bélgica. Na época, ele era um dos principais profissionais do ramo na Bélgica e tinha vasta experiência na China. Eu acompanhava minha mãe em seus tratamentos e longas conversas com o Dr. Sterckx. Ele é, de fato, a pessoa que plantou em minha a idéia de ir para a China estudar Medicina Chinesa. Com 18 anos, após concluir o ensino médio, me matriculei na Hubei College of Chinese Medicine (agora chamada Hubei University of Chinese Medicine) em Wuhan, onde iniciei meu bacharelado em Medicina Chinesa. Após 5 anos me graduei lá e continuei para obter o título de Mestrado e de Doutorado na Chengdu University of Chinese Medicine. Ao todo eu passei 12 anos estudando na China. Como um exper enomado na Medicina Clássica Chiexpertt e rrenomado nesa, o senhor poderia mencionar a nossos leitores sua opinião sobr e a impor tância dos textos Clássicos sobre importância Clássicos? Há duas definições para “clássicos”. Quando eu falo sobre “clássicos”, estou me referindo aos escritos da Medicina Chinesa compilados durante a Dinastia Han (aproximadamente entre 200 AC e 200 DC). Mas em nosso campo da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), qualquer livro ‘velho’ começou a ser chamado de ‘clássico’, incluindo textos bastante recentes da Dinastia Qing, do final do Século XIX. Obviamente, quando utilizamos as definições de um móvel antigo, então qualquer coisa mais velha que 100 anos pode ser chamada de antiga. Mas na minha opinião, nenhum destes textos são ‘clássicos’ no sentido canônico da palavra. Os clássicos da Dinastia Han são chamados de Cânones, trabalhos seminais da mais alta autoridade no assunto. Estes trabalhos devem ser considerados como a raiz de nossa medicina, como explicada e praticada em sua mais pura e inalterada forma. E, desta forma, eles forma os fundamentos de todos os Divulgação Entrevista 6 estudos ou práticas da Medicina Chinesa, seja fitoterapia ou acupuntura. Como os axiomas na matemática, o conhecimento dos cânones deveriam ser aceitos como exatos, como as regras do trânsito, pois elas estão lá porque é de nosso interesse. O estudo do conhecimento dos cânones deveria ser feito com a motivação de se tornar um clínico ou professor melhor. Enquanto que o questionamento das obscuridades dos cânones deveria sempre ser feito com a intenção de remover suas próprias limitações intelectuais para compreender seu conteúdo. Medicina Chinesa Brasil Nos tempos modernos, nossa incapacidade de entender por completo o conteúdo canônico, combinada com nosso senso de superioridade em relação a coisas arcaicas, muito freqüentemente leva a uma ignorante emissão de vereditos errôneos a respeito deste conteúdo. Isto é como puxar o tapete debaixo de nossos próprios pés e é o primeiro passo em direção à falha tanto como clínico, como estudioso, como professor. Ano I no 02 Os clássicos da Dinastia Han são chamados de Cânones, trabalhos seminais da mais alta autoridade no assunto. Estes trabalhos devem ser considerados como a raiz de nossa medicina, como explicada e praticada em sua mais pura e inalterada forma. No Brasil, a maioria dos praticantes de Medicina Chinesa, na verdade utilizam apenas acupuntura em suas práticas. Quais textos clássicos o senhor recomendaria para os brasileiros? Para praticar acupuntura, a pessoa deveria focar exclusivamente no estudo da linhagem de Medicina Chinesa do Huang Di (Imperador Amarelo), estudando sobre o Huang Di Nei Jing Su Wen (Questões Simples) para teoria geral, e então focar no Ling Shu (Eixo Espiritual) para a acupuntura. Além destes dois textos, deveria aprofundar ainda mais no Nan Jing (Clássico das Dificuldades) da Dinastia Han Ocidental, escrito por Bian Que, e no Zhen Jiu Jia Yi Jing (Clássico Sistemático da Acupuntura e Moxabustão) da Dinastia Jin, escrito por Huang Fu Mi. Todos estes livros já foram traduzidos para o Inglês (NE: e também para o Português) e está prontamente disponíveis O senhor poderia, por favor e sua experifavor,, nos falar sobr sobre tância do modelo mestr e-discípulo de apr enimportância mestre-discípulo aprenência e a impor dizado? De maneira geral, podemos discernir três caminhos para o aprendizado da Medicina Chinesa. O primeiro é através do auto-didatismo, mas este é raro e muito difícil de ser alcançado. O segundo formato e mais tradicional era através de aprendizagem e discipulado. Este caminho de aprendizado foi e ainda é muito comum na esfera da medicina popular, mais prevalente nas localidades rurais ou semi rurais. O discipulado era também a única via para aprender medicina antes da educação da Medicina Chinesa tornar-se institucionalizada. O terceiro caminho é através de instrução institucionalizada. Há certas vantagens e desafios implícitos no discipulado. A primeira e principal vantagem seria a capacidade de viver e aprender com um determinado praticante altamente proficiente e receber seu treinamento e educação exclusivos. A pessoa deve ficar como sombra do praticante na clínica todos os dias e estudar a prática da medicina ao fazer isto. O mestre então também sugere algumas leituras e espera um estudo dedicado fora dos horários clínicos. Entretanto, o discipulado é principalmente guiado para o treinamento clínico da medicina, e não tem muita ênfase na educação teórica. A essência seria a aplicação. A principal dificuldade dos ocidentais é que nós temos dificuldade em se dedicar ao estudo com apenas um mestre. Nós tendemos a acreditar que a grama do vizinho é mais verde. Os ocidentais também possuem uma tendência mais eclética, pesando que as pessoas precisam se especializar em múltiplas coisas, ao invés de se dedicar a apenas um estilo ou sistema. Finalmente, o “saltar de professores” arruína a capacidade da pessoa de em algum momento se tornar mestre em algo. Então, de onde vem o compromisso com um estilo? Vem principalmente de uma compreensão mais avançada da Medicina Chinesa em primeiro ligar. Quando mais a pessoa estuda, mais a pessoa percebe que sabe muito pouco. Com esta consciência vem a compreensão da limitação e foco produz o melhor resultado no estudo. A pessoa deve perceber que somente se decidir focar em uma ou duas coisas é que pode verdadeiramente penetrar profundamente no assunto. Proficiência ou domínio na Medicina Chinesa não é o acúmulo linear a cumulativo de conhecimento, mas vem da profundidade qualitativa do conhecimento. Não é possível saber toda a Medicina Chinesa, então porque perder tempo tentando? A pessoa pode escolher apenas a parte que se adéqua a sua personalidade, estilo, aptidão, crença ou mesmo interesse dos pacientes, e então tentar verdadeiramente atingir profundidades sem paralelo de discernimento e compreensão. Como este discernimento não surge nos corações dos iniciantes, os virtuais estudantes do discipulado clássico já são praticantes amadurecidos prontos para levar seus conhecimentos e habilidades para o próximo nível. O segundo caminho para permitir que alguém se dedique para um estilo particular de prática é por testemunhar o que algumas vezes é chamado de ‘cura milagrosa’. Embora somente seja miraculosa para os olhos não treinados, estes resultados clínicos de ação rápida e longa duração além de qualquer nível de eficácia clínica já testemunhado anteriormente, ela pode tornar-se a mais forte força motivadora para se dedicar ao estudo de um estilo de prática. Este modo, entretanto, tem se tornado muito raro pois muitos dos velhos mestres já faleceram e pelo fato de que a média dos resultados da Medicina Chinesa no mundo ocidental seja talves 5-10% do verdadeiro potencial da Medicina Chinesa. Mas este caminho foi como eu pessoalmente me tornei convencido da eficácia clínica das fórmulas do Shang Han Lun e do Jing Gui Yao Lue. Meu professor, Dr. Zeng Rong Xiu de Chengdu, não disse nada que me convencesse a segui-lo na clínica, mas eu pude testemunhar resultados clínicos melhores e além de qualquer coisa que já havia visto com fitoterapia em qualquer outro lugar da China. Eu fiquei imediatamente convencido e capaz de me dedicar de corpo e alma ao estudo e prática exclusivos deste estilo. Eu não mais olhei para trás desde então nos últimos 11 anos. Eu sei que você tem grande interesse no Shang Han Lun. De onde vem este interesse? Após me graduar na escola médica, eu me senti bastante inseguro sobre meus conhecimentos e habilidades. Eu senti que eu sabia um pouco sobre diversas coisas e não me sentia confiante na clínica. Eu decidi que eu precisava estudar mais e ganhar melhores conhecimentos e confiança. Cada vez que eu participava de um curso sobre Shang Han Lun e Jin Gui Yao 7 8 Medicina Chinesa Brasil Lue na universidade eu saia completamente confuso, mas ao mesmo tempo convencido de que a resposta para muitas das perguntas que eu lutava na Medicina Chinesa poderiam ser encontradas nestes dois livros. Estava convencido que a Fitoterapia Chinesa deveria ser praticada no nível dos sabores e do Qi. Eu estava convencido de que o diagnóstico e a análise deveria ser praticada no nível de Yin e Yang. E eu estava convencido que o tratamento deveria ser conduzido com as prescrições magistrais da escola canônica. Eu apenas não sabia como entrar neste assunto até que eu conheci meu professor quem me mostrou o caminho a percorrer. Tudo desde então é história. Ano I no 02 Han oriental (cerca de 200 DC). O que aconteceu durante estes 400 anos? E como a arquitetura das fórmulas primitivas do Wu Shi Er Bing Fang repentinamente tornaram-se tão sofisticadas e refinadas? Como um graduado no campo das fórmulas, estas eram as questões que eu deseja solucionar. Meus achados demonstraram que durante estes 400 anos, dois importantes livros incorporaram o avanço da ciência das fórmulas, um sendo o Shen Nong Ben Cao Jing (Clássico da Matéria Médica de Shen Nong) e o outro sendo o Yi Yin Tang Ye Jing (Clássico da decocção de Yi Yin). Este último livro estava praticamente perdido no tempo, mas durante o século XX alguns achados arqueológicos o complexo de cavernas de Dun Huang no Nordeste da China forneceram alguns achados fragQual é a impor tância da acupuntura em seus tratamenimportância mentários do trabalho original. Especialmente um trabalho chatos diários? Quando você a utiliza, você considera a teoria mado Fu Xing Jue Zang Fu Yong Yao Fa Yao (Instruções Essencido Shang Han Lun ou você utiliza mais o modo de síndromes ais Secretas para uso de ervas nos Órgãos e Vísceras) da Dida Medicina TTradicional radicional Chinesa? nastia Jin (215-282), de Tao Hong Jing, onde se descreve 60 Eu, felizmente, me esqueci da maior das originalmente 360 prescrições do Yi Yin parte de meu conhecimento convencional Tang Ye Jing. Um estudo de perto destas 60 Eu, felizmente, me da MTC e utilizo apenas a análise baseafórmulas demonstraram claramente que elas esqueci da maior parte funcionaram como um diagrama para o deda nas seis conformações no meu processo de meu conhecimento senho das principais prescrições de Zhang de pensamento. Eu previamente publiquei 1 convencional da MTC e Zhong Jing para tratar as doenças das conno Journal of Chinese Medicine meu método para traduzir e extrapolar as prescrições utilizo apenas a análise formações como descrito no Shang Han Lun. fitoterápicas em prescrições de pontos de Este fato já fora ecoado na Dinastia Jin probaseada nas seis acupuntura. Eu acredito que quando as duas priamente por Tao Hong Jing e Huang Fu conformações. modalidades são finamente ajustadas uma Mi. Eu estudei a Fórmula dos Seis Espíritos a outra, resultam em algo superior. Esta reque corresponde aos ritmos das seis constevista pode estar interessada em traduzir e republicar este arti- lações estrelares, conhecidas como Dragão Verde, Fênix Vergo. melha, Tigre Branco e etc, assim como a Fórmula das duas auroras que corresponde ao nascer do sol do Leste para Sul. Você possui algum material ou livr o publicado, para que livro Meus achados foram que Zhang Zhong Jing adotou e algumas aqueles inter essado possam buscar por mais infor mações interessado informações vezes ligeiramente modificou estas prescrições para desenhar no seu modo de pensar a Medicina Chinesa? suas próprias fórmulas no Shang Han Lun. Mais além, meu Eu tenho alguns artigos 2,3,4,5,6 publicados em diferentes lo- estudo sobre Da Xiao Zang Fu Bu Xie Fang (Fórmulas maiores e cais e tenho contribuído em algumas publicações. Mas nos menores de Órgãos e Vísceras de tonificação e dispersão) deúltimos 7 ou 8 anos tenho principalmente me ocupado ensinanmonstraram que elas freqüentemente formaram o diagrama para do Medicina Chinesa Canônica pelo mundo, viajando princimuitas das fórmulas encontradas no Jin Gui Yao Lue. Desta palmente nos EUA, Europa e Australia. Gradualmente, mais forma, fui capaz de contribuir para um melhor entendimento pessoas estão sendo treinadas como potenciais co-instrutores e do desenvolvimento da ciência das fórmulas durante os quatroespero que eu possa deixar um pouco os seminários e liberar centos anos que precederam a publicação do Shang Han Za um pouco de tempo para começar a escrever. Eu tenho alguns Bing Lun. planos de livros em mente, mas não espere ver alguns de meus Percebi que uma de suas especialidades é o tratamento livros sair antes de 5-6 anos. Eu nunca acreditei em praticantes de doenças auto-imunes, você poderia nos dizer sua expede Medicina Chinesa publicando qualquer coisa antes de 40 riência em doenças como a Esclerose Múltipla? ou 45 anos de idade. Isto seria contra a tradição (risos). Eu gostaria que você tivesse pergunta sobre uma enfermiNo seu doutorado, sua tese foi relacionada com as ori- dade mais fácil, mas posso brevemente introduzir um pouco de gens das fór mulas clássicas. V ocê poderia nos dizer ao meu entendimento sobre a Esclerose Múltipla (EM) a partir de fórmulas Você menos um pouco sobre seus achados? uma perspectiva canônica e, mais especificamente, a perspecHá uma grande lacuna no entendimento sobre o desenvol- tiva do Shang Han Lun e Jin Gui Yao Lue. Imunidade e a expressão ordenada da imunidade e vitalivimento histórico no campo da ciência das fórmulas da Medicina Chinesa entre o Ma Wang Dui Wu Shi Er Bing Fang (Cin- dade são controladas pelo Fogo Imperial do Coração. Isto é qüenta e duas fórmulas da tumba de Ma Wang) da Dinastia ecoado no Capítulo 27 do Ling Shu, onde explica-se as reaHan ocidental (cerca de 200 AC) e o Shang Han Za Bing Lun ções imunes como o Shen (Espírito) da pessoa torna-se ciente (Tratado da Lesão por Frio e Doenças Diversas) da Dinastia da irregularidade na fisiologia do corpo. De acordo com o capítulo 4 do Ling Shu, a cabeça é o agrupamento de todo o Yang e deveria sempre armazenar o aquecimento e o Yang. Por isto é a última parte do corpo a vestir roupas no inverno. Assim, por uma perspectiva canônica, consideramos as doenças auto imunes como uma enfermidade da expressão do Yang, que é confirmado pelo envolvimento do cérebro na EM, especificamente. Esclerose é a formação de placas ou cicatrizes. Estas são consideradas impurezas e são assim de natureza Yin. Em outras palavras, são acúmulos de natureza densa, estagnante e material. Quando uma área tem fogo e aquecimento suficientes, então os agrupamentos e conglomerações Yin não se formam. A presença de tais lesões na EM confirma a lesão do Yang. A partir das seis conformações, estabelecemos o tratamento da EM mais proximamente relacionado com o Fogo Imperial Shao Yin e Vento Madeira Jue Yin. Isto porque o Fogo Shao Yin é a fonte de todo o Yang do corpo e o Cérebro alberga o Shen (Espírito) do Coração. A relação com o Jue Yin é por causa da habilidade do Canal do Jue Yin de entrar no Cérebro, assim como as funções do Jue Yin de impulsionar o Sangue para cima desde o Aquecedor Inferior de volta para o Aquecedor Superior. O Jue Yin também está envolvido em qualquer tipo de enrijecimento de tecido originalmente macio, especialmente verdadeiro para tecidos do sistema nervoso ou mesmo da barreira sangüínea cerebral. Isto ecoa com a máxima teórica que classifica o Fígado como o “Órgão duro” pelo fato do tecido Jue Yin originalmente macio se tornar duro em circunstâncias patológicas. Assim, a Estase de Sangue, que freqüentemente acompanha a presença de escleroses também é um sinal de sangue duro e seco e aponta para uma fisiologia irregular do Jue Yin. Mas o Fígado meramente armazena e circula o Sangue, enquanto que o Sangue por si é controlado pelo Coração. O Coração também controla o Fogo Imperial e é responsável pelo Yang. Assim, o Sangue o Yang possuem um relacionamento bastante próximo. O Capítulo 3 do Su Wen afirma que “o líquido Yang nutre os tendões”. Assim, consideramos o Sangue como o líquido Yang, o líquido material que carrega o aquecimento e o Shen (Espírito) do Coração através do Corpo. Yang é o aquecimento que emana do Sangue que circula através do corpo dentro dos Vasos e dos Colaterais. Como o Sangue carrega a consciência, somente uma área onde uma quantidade suficiente de sangue flui pode ter consciência. Por isto que não dói cortar o cabelo ou as unhas dos dedos, porque não há quantidade suficiente de sangue no cabelo e unhas para manifestar sangramento quando cortados. Um dos muitos sintomas da EM é entorpecimento e paralisia. Entorpecimento ou falta de sensações é, de acordo com Zhang Zhong Jing, parte das doenças de Xue Bi (Impedimento do Sangue). Zhang Zhong Jing afirma no capítulo 5 do Jin Gui Yao Lue: “Quando os patogênicos estão nos Colaterais, há entorpecimento na pele; quando os patogênicos estão nos Canais, há sensação de peso insuperável...” Isto significa que quando há lesão na adequada circulação de Sangue nos Colaterais, há perda da sensibilidade e entorpecimento na pele Ano I no 02 9 e quando o Qi que flui nos Canais é também obstruído, haverá paralisia e incapacidade de elevar ou mover as partes do corpo. O capítulo 6 do Jing Gui Yao Lue então continua a explicar a doença de Xue Bi dizendo: “Como é que alguém contrai Xue Bi? O mestre diz: pessoa nobre tem ossos fracos e carne abundante e, conseqüentemente, transpiram devido ao cansaço, ao passo que se movimentam periodicamente durante o sono, e o acréscimo de Vento suave, assim é contraído. Há apenas suave pulso áspero espontâneo, com Cun e Guan com leve tensão, para isto é apropriado utilizar agulhas para guiar o Yang Qi, permitindo que o pulso seja harmônico, quando a tensão por eliminada, estará curada.” Aqui Zhang Zhong Jing sugere que a falta de sensações seja devida à falta de Yang para atingir uma determinada região e o tratamento apropriado é utilizar a acupuntura para trazer Yang e a sensibilização de volta à região entorpecida. O marcador para o retorno do Yang será o desaparecimento do pulso tenso que significa o Frio por deficiência do Yang. Pela perspectiva do tratamento fitoterápico, Zhang Zhong Jing continua: Na Xue Bi, quando [os pulsos] Yin e Yang estão ambos débeis, e há pulso débil tanto em Cun como Guan, com ligeira tensão em Chi, os sintomas exteriores são falta de sensação, como no Bi de Vento, e Huang Qi Gui Zhi Wu Wu Tang controla.” Aqui a fórmula é uma modificação de Gui Zhi Tang, subtraindo Gan Cai e duplicando a quantidade de Sheng Jiang ao passo que adiciona Huang Qi para tonificar o Yang Qi e atuar como um precursor na circulação do Sangue. Esta fórmu- Divulgação Medicina Chinesa Brasil Medicina Chinesa Brasil la é freqüentemente utilizada no tratamento de desordens cerebrais, incluindo EM. Os dois parágrafos acima claramente ilustram a relevância clínica da relação entre Yang e o Sangue. Um segundo importante exemplo do tratamento do entorpecimento é utilizar a er va Fu Zi (Radix Aconiti Lateralis Praeparata). Quando uma região perde a sensibilização, Quente Yang, então o entorpecimento, Frio Yin, ultrapassará. Zhang Zhong Jing possui duas significantes citações a este emprego no Jin Gui Yao Lue. O Capítulo 5 afirma: “Cui Shi Ba Wei Wan trata Jiao Qi penetrando para cima, com falta de sensibilidade no abdome inferior.” Cui Shi Ba Wei Wan também é conhecida como Shen Qi Wan (Pílula do Qi do Rim) e sua principal erva aquecedora para expulsar o entorpecimento do Aquecedor Inferior é Fu Zi. No Capítulo 10 do Jing ui Yao Lue, ele vai além e sugere o uso de fato da raiz de Wu Tou e não meramente os apêndices da raiz de Fu Zi: “Em Han Shan (Hérnia fria) com dor no abdome, Reversão de Frio, entorpecimento nas mãos e pés, e se há dores no corpo, que moxa, acupuntura e todas as outras ervas não foram capazes de tratar, deve ser Wu Tou Gui Zhi Tang.” Aqui a falta do Yang e Frio interno é tão intenso que não apenas precisamos aquecer a contra corrente de frio das quatro extremidades com Fu Zi como feito na coleção de prescrições de Si Ni Tang, na verdade precisamos utilizar Wu Tou para trazer a sensibilização Yang de volta às quatro extremidades. Wu Tou Gui Zhi Tang é basicamente uma modificação de Gui Zhi Tang pela adição de Wu Tou. Resumidamente, quando aquecer o Yang do Coração e do Cérebro para aumentar ou reparar as funções imunes e restabelecer a adequada condução nervosa a sensibilidade, freqüentemente utilizamos prescrições com base em Fu Zi ou Wu Tou, tais como Fu Zi Tang, Zhen Wu Tang, Gui Zhi Fu Zi Tang, etc. Ao passo que quando desejamos aquecer o Sangue e dissolver as impurezas e placas, escolhemos a principal prescrição do Jue Yin para aquecer o sangue e movimentar o Sangue, Dang Gui Si Ni Tang. Estas duas prescrições são freqüentemente combinadas com a já mencionada Huang Qi Gui Zhi Wu Wu Tang para auxiliar no tratamento do entorpecimento e promoção da circulação de Qi e Sangue. Todas as prescrições acima podem ser utilizadas para tratar EM e, dependendo das necessidades clínicas, outras ervas podem ser adicionadas. Acupuntura também é necessária segundo a sugestão de Zhang Zhong Jing para tratar as complicações mais periféricas da EM. Quando utilizar as abordagens combinadas, muitos pacientes podem ser ajudados e a progressão da doença pode ser retardada grandemente, ao passo que muitas funções corporais podem ser melhoradas. Isto é provavelmente o máximo que se obterá ao tratar EM, visto que curar esta enfermidade é bastante improvável. Foi um prazer tê-lo entrevistado. Nós compreendemos que você tem uma agenda bastante cheia, mas por favor considere sua vinda ao Brasil para promover seu vasto e profundo conhecimento. Eu ficaria muito satisfeito em visitar o Brasil e encontrar praticantes com mentes afins, com um amor pelos escritos clássicos da Medicina Chinesa e uma determinação em praticar em Ano I no 02 um nível mais avançado. Ao passo que haja interesse naquilo que eu possa oferecer, eu ficaria feliz em colaborar. Obrigado por esta oportunidade e desejo a você tudo de melhor para esta nova revista. (Endnotes) Arnaud Versluys, Steph anie Bekooy (2005). ‘Acupuncture Treatment According the Six Conformations of the Shanghan Lun ’, Journal of Chinese Medicine, 77; 17-26. 2 Arnaud Versluys (2004). ‘Ming Dynasty Scholar Xu Feng and Classical Needling Techniques from his Ode of the Golden N eedle ‘, Journal of Chinese Medicine, 75; 30-35. 3 Arnaud Versluys (2004). ‘Discourse on Classical Needling Techniques in the Chapter Official Needling of the Spiritual Axis Canon ’, Journal of Chinese Medicine, 74; 16-22. 4 Arnaud Versluys, Jessica Atkins ( 2006). ‘The Classical Energetics of the Five Tastes ’, Journal of Chinese Medicine, 80; 50-58. 5 Arnaud Versluys (2008). ‘Jueyin Disease and Wumei Wan ’, The Lantern, 5-3. 6 Arnaud Versluys, Kumiko Shirai (2010). ‘Improved Understanding of Shenqi Wan Patter ns through Abdominal Diagnosis ’, Journal of Chinese Medicine, 92; 19-30. 1 Divulgação 10 Dr. Arnaud Versluys e Dr. Zeng Rong Xiu Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 Teorias, Relações e Aplicações Dr. Alan sugere há existência de 10 princípios básicos que devem nortear aqueles que buscam conhecer, determinar e aprofundar nos microssistemas: 1- Há um sistema de micro-acupuntura em cada parte do corpo 2- Todos os sistemas de micro-acupuntura são uma réplica holográfica de nossa anatomia 3- Todos os sistemas de micro-acupuntura estão intimamente relacionados com o sistema tradicional de macro-acupuntura sistêmica e pode ser utilizado para manipular, equilibrar, o todo. 4- Todos os pontos da macro e da micro-acupuntura possuem padrões bidirecionais, apresentando reflexos víscerocutâneos e cutâneo-viscerais. 5- Embora alguns sistemas da micro-acupuntura tenham sido limitados ao diagnóstico na prática, é hipotetizado que todos tenham potencial de realizar as seis funções dos pontos macro: • Diagnóstico • Alívio da dor • Analgesia • Tratamento sistêmico, de Canal ou de Órgão • Tratamento de vícios • Suporte geral e específico ao sistema imunológico 6- Todos os pontos da micro-acupuntura, assim como seus primos da macro-acupuntura, são caracterizados por uma impedância elétrica relativamente menor. 7- Todos os sistemas de micro-acupuntura não são simplesmente uma junção de pontos holográficos de baixa impedância, mas são expressões de micro-canais que, por sua vez, são projeções holográficas dos macro-Canais regulares. 8- A micro-acupuntura não é somente útil para o terapeuta, mas também para o paciente. 9- Na prática clínica, a micro-acupuntura pode ser integrada à macro-acupuntura de quatro formas: • Simultaneamente • Sucessivamente • Alternativamente • Alternadamente 10- A integridade holográfica não apenas define nossos corpos, mas expressa a realidade de nosso universo e de cada uma e todas as suas partes. Teorias Fundamentais Holograma Os hologramas são imagens em três dimensões, como os coloridos emblemas de segurança nos cartões de crédito e nas embalagens de CD. A tridimensionalidade destas imagens não é a única característica importante dos hologramas. Se o holograma de uma rosa é cortado na metade e então iluminado por um laser, em cada metade ainda será encontrada uma imagem da rosa inteira. E mesmo que seja novamente dividida cada parte do filme sempre apresentará uma menor, mas ainda intacta versão da imagem original. Holograma é um de registro ou apresentação de uma imagem em três dimensões. O nome holograma derivado de holografia, vem do grego holos (todo, inteiro) e graphos (sinal, escrita). Arquivo Dr. Ralph Alan Dale foi o primeiro a utilizar o termo microacupuntura, tendo já em 1975 apresentado uma diferenciação entre esta e a acupuntura sistêmica. “devemos diferenciar dois tipos de sistemas de acupuntura: 1 o sistema clássico com pontos e Canais distribuídos por toda a superfície do corpo e; 2 qualquer sistema em que uma parte definitiva do corpo, como orelha, manifesta reflexos para todos Canais principais e Órgãos do corpo” Desta forma, Dr. Alan também foi o primeiro a utilizar termos que são empregados hoje na sua forma original ou ligeiramente alterados como: Macro-Acupuntura Acupuntura Sistêmica Acupuntura em Microssistemas Micro-Acupuntura Artigo Microssistemas 11 Medicina Chinesa Brasil 12 Os hologramas possuem uma característica única: cada par te deles possui a infor mação do todo. parte informação Assim, um pequeno pedaço de um holograma terá informações de toda a imagem do mesmo holograma completo. Este conceito de registro “total”, no qual cada parte possui informações do todo, é utilizado em outras áreas, como na Neurologia, na Neurofisiologia e na Neuropsicologia, para explicar como o cérebro armazena as informações ou como nossa memória funciona. O termo Holograma está cada vez mais presente nos textos relacionados com microssistemas, sendo especialmente encontrado naqueles textos referentes à prática da Acupuntura do Segundo Metacarpo Arquivo Fractais Um fractal é um objeto geométrico que pode ser dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao objeto original. Diz-se que os fractais têm infinitos detalhes, são geralmente autossimilares e independem de escala. Em muitos casos um fractal pode ser gerado por um padrão repetido, tipicamente um processo recorrente ou iterativo. O médido russo Vadim Bouevitch afirma que: “Os microssistemas da acupuntura são uma das manifestações da fractalização - o princípio universal da própria organização da natureza - sendo que o número possível de microssistemas é ilimitado. A resolução de um microssistema e sua influência sobre o organismo, depende do local de sua projeção sobre a superfície da pele, mucosa e periósteo. A influência é mais efetiva em pontos dos Canais clássicos da acupuntura.” Os fractais podem ser classificados de acordo com s u a autossimilaridade, que é a semelhança exata ou aproximada de uma parte em relação ao seu todo, em três tipos: · Autossimilaridade exata: é a for ma em que a autossimilaridade é mais marcante, evidente. O fractal é idêntico em diferentes escalas. Fractais gerados por sistemas de funções iterativas geralmente apresentam uma autossimilaridade exata. ·Quase-autossimilaridade: é uma forma Ano I no 02 mais solta de autossimilaridade. O fractal aparenta ser aproximadamente idêntico em escalas diferentes. Fractais quaseautossimilares contém pequenas cópias do fractal inteiro de maneira distorcida ou degenerada. Fractais definidos por relações de recorrência são geralmente quase-autossimilares, mas não exatamente autossimilares. Autossimilaridade estatística: é a forma menos evidente de autossimilaridade. O fractal possui medidas númericas ou estatísticas que são preservadas em diferentes escalas. As definições de fractais geralmente implicam alguma forma de autossimilaridade estatística Fractais aleatórios são exemplos de fractais que possuem autossimilaridade estatística. Bouevitch faz um comparativo entre o sistema de Canais e Colaterais da acupuntura, representado por uma grande figura central, com diversas outras figuras absolutamente idênticas na forma e conteúdo em torno da primeira, mas em menor dimensão, representando os inúmeros microssistemas de acupuntura. ECIWO Foi por volta do ano de 1973 o Dr. Zhang Ying Qing desenvolveu um método terapêutico revolucionário que foi a Acupuntura ECIWO cuja base vem a ser a estimulação de pontos específicos de acupuntura na região radial do segundo metacarpo, sendo que esta técnica também pode ser denominada de terapia e diagnóstico bio-holográfico. De um modo muito simplificado temos que de acordo com esta teoria celular, qualquer organismo pluricelular nada mais é que um mosaico de células vivas, sendo que graças à especialização das espécies, estas células perdem o potencial embriológico, porém não perdem um potencial importante para a auto cura, o potencial de regeneração, que pode estar presente em diferentes graus de atuação, podendo ser estimulados, como fazemos através da acupuntura, por exemplo. Esta teoria ainda lembra que no período embrionário, cada uma das células possuem uma potencialidade inerente para se tornar um ser completo. Assim, mesmo com todo o desenvolvimento, cada uma das partes do corpo com suas células próprias, possui relações relativamente definidas com qualquer outra parte do corpo. Sendo que um grande microssistema pode ser mais tarde subdividido em microssistemas memores e este subdivididos até chegarmos a uma única célula. Variedades Mediante tudo o que foi exposto, é possível perceber que as possibilidades de microssistemas são, virtualmente, infinitas. No entanto, há alguns que são mais difundidos e já estão consagrados na prática clínica diária da acupuntura, dentre os quais podemos destacar como exemplos: Acupuntura Auricular (método chinês e método francês) Acupuntura Craniana (Jiao Shung Fa, Zhu Ming Qing, Fang Yun Peng, padronizada, YNSA) Acupuntura Abdominal (Chinesa, Japonesa, Brasileira, Holandesa) Medicina Chinesa Brasil Acupuntura nas mãos (Koryo Sooji Chim, chinesa, chinesa holográfica, Su Jok) Acupuntura Facial; Acupuntura Lingual; Acupuntura Nasal; Acupuntura Podal, etc... Aplicações Ponto vivo Na prática da acupuntura através dos microssistemas, o praticante deve estar extremamente atento à busca do ponto mais adequado para o estímulo. Este ponto mais adequado os japoneses chamam de ponto vivo, o ponto que produz uma reação à palpação, capaz de produzir importantes efeitos terapêuticos mesmo com um mínimo estímulo. Jochen Gleditsch de Munique na Alemanha descreve uma abordagem terapêutica nomeada por ele como “Very Point” Technique, ou Técnica do Ponto Verdadeiro. O princípio básico desta técnica, e que poderia ser empregado em praticamente todos os microssistemas, é empregar uma agulha de acupuntura curta e extremamente fina para suave e repetidamente tocar ao redor da região onde se busca o ponto ideal para tratamento. Jochen Gleditsch criou este método quando de suas investigações para o desenvolvimento do que ficou conhecimento como acupuntura oral. Neste momento cabe uma pergunta para a reflexão, O que são os pontos de microssistemas? Analisando de maneira adequada e conhecendo bem as teorias que norteiam esta forma de acupuntura, podemos dizer que, os pontos de microssistemas são ZONAS específi- Ano I no 02 13 cas distribuídas na superfície do pavilhão auricular, que refletem fielmente a atividade funcional de todo o corpo humano. Mais uma vez cabe ressaltar uma informação importante que afirma que todos os pontos de microssistemas são padrões bidirecionais; são reflexos orgânico-cutâneos e cutâneoorgânicos. · O reflexo orgânico-cutâneo é um indicador diagnóstico quando o paciente tem sensibilidade no local. · O reflexo cutâneo-orgânico, ao contrário, é um gatilho que dispara o efeito terapêutico. Estímulos No que diz respeito à aplicação prática da microacupuntura, alguns são os possíveis e mais empregados métodos de estímulo: • Agulha sistêmica; • Agulha de pressão (auricular); • Agulha intradérmica; • Agulha dérmica; • Sangria; • Sementes (semen vaccaria, ...); • Esferas (outro, prata, cristal, aço, magneto...); • Massagem; • Aparelhos; • Outros... Dr. Reginaldo de Carvalho Silva Filho Praticante de Medicina Chinesa e Fisioterapeuta Diretor Geral da Escola Brasileira de Medicina Chinesa Chefe do Centro Avançado de Pesquisas em Ciências Orientais ANUNCIE EM MEDICINA CHINESA BRASIL e atinja diretamente seu alvo Seu produto, curso ou serviço apresentado a um público selecionado de especialistas e profissionais da Medicina Tradicional Chinesa Entre em contato: Cassiano (11) 9980-8656 / [email protected] Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 Laser na Acupuntura Smoking Cessation Center in Wuhan, China Resumos Científicos 14 Zhongguo Zhen Jiu. 2010 Dec;30(12):977-81. Observação clínica em irradiação de acuponto com Laser combinado ou infra-vermelho em pacientes com osteoartrite de joelho por deficiência de Yang e do tipo coagulação de frio Clinical observation on acupoint irradiation with combined laser or red light on patients with knee osteoarthritis of yang deficiency and cold coagulation type Ren XM, Wang M, Shen XY, Wang LZ, Zhao L. Acupuncture and Tuina College, Shanghai University of TCM, Shanghai 201203, China. [email protected] Objetivos: Explorar os efeitos do laser combinado em pacientes com osteoartrite (OA) de joelho por deficiência de Yang e do tipo coagulação de frio. Métodos: Quarenta e um casos com OA de joelho por deficiência de Yang e do tipo coagulação de frio foram randomizados em um grupo de laser combinado (n=22) e outro de infra-vermelho (n=19), com irradiação de laser combinado e infra-vermelho em E-35 (Dubi) e Neixiyan (Extra-LE 4), respectivamente. Foram tratados por 6 semanas. Os escores do Índice de Osteoartite das Universidades de Western Ontario e McMaster (WOMAC VA3.1) foram utilizados para avaliação dos efeitos terapêuticos. Resultados: Após tratamento por 2 semanas e 6 semanas, os escores WOMAC diminuiu significativamente nos dois grupos quando comparados com aqueles de antes do tratamento (P < 0.05, P < 0.01 e P < 0.001). A média das taxas de melhora nos escores WOMAC no grupo de laser combinado foi melhor que aquela no grupo de infra-vermelho. Conclusão: Irradiação de laser combinado pode melhorar a dor, rigidez e limitação funcional de pacientes com OA de joelho por deficiência de Yang e do tipo coagulação de frio. Conf Proc IEEE Eng Med Biol Soc. 2010;2010:1262-5. Efetividade do tratamento a laser em pontos de acupuntura comparado a acupuntura tradicional no tratamento de doença arterial periférica Effectiveness of Laser treatment at acupuncture sites compared to traditional acupuncture in the treatment of peripheral artery disease. Cunha RG, Rodrigues KC, Salvador M, Zangaro RA. Research and Development Institute, IP&D, Univap, Av. Shishima Hifumi, 2911, São José dos Campos, 12244-000, SP, Brazil. [email protected] Introdução: Doenças cardiovasculares são a maior causa de mortalidade, não somente no Brasil, mas em todo o mundo. O uso da acupuntura como tratamento alternativo e complementar para doenças cardiovasculares tem sido sugerido para animais e humanos. Possíveis vantagens para o uso da acupuntura são o baixo custo de tratamento e baixos riscos de Medicina Chinesa Brasil efeitos colaterais na associação de acupuntura com outros tratamentos médicos. Objetivos: o objetivos deste estudo foi avaliar o efeito da acupuntura tradicional com agulhas e da acupuntura a laser na pressão arterial e circulação periférica nos membros inferiores de pacientes com deficiência circulatória. Métodos: Dez pontos foram estimulados em 40 sujeitos, sendo que 20 foram estimulados por emissão de Laser de arsenieto de gálio e alumínio (AlGaAs) com emissão na região espectral vermelha (650 nm) com densidade de 2,4 J/cm2, e 20 foram estimulados por agulhas de acupuntura sistêmica. A nálise da circulação periférica foi realizada baseada na medida da pressão arterial do tornozelo e braços, utilizando esfigmomanômetro e equipamento de Doppler. Resultados: A variação do índice de revascularização do grupo de acupuntura a laser foi 0.057, e 0.030 para o grupo de agulhas com p=0.006. Conclusão: Estes resultados mostram que somente aqueles tratados com acupuntura a laser exibiram aumento significativo na pressão sistólica dos membros inferiores, com uma conseqüente melhora no índice de revascularização, sugerindo que diferentes estímulos nos pontos de acupuntura produzem diferentes variações na resistência periférica nos membros inferiores. J Acupunct Meridian Stud. 2011 Mar;4(1):69-74. Acupuntura a laser e auriculoterapia em instabilidade postural – relatório preliminar Laser acupuncture and auriculotherapy in postural instability - a preliminary report. Bergamaschi M, Ferrari G, Gallamini M, Scoppa F. First Faculty of Medicine and Surgery, Sapienza University, Rome, Italy. Introdução: O risco de quedas é bastante elevado entre os idosos. Índices obtidos através do teste estabilométrico de Romberg em uma plataforma de força têm sido sugeridos como tendo relação com risco de quedas. Objetivos: Este trabalho objetivou testar a efetividade da auriculopuntura e do laser potência ultra-baixa versus placebo (estimulação falsa) na melhora do controle postural em uma população idos. Métodos: A capacidade de equilíbrio foi mensurada em uma plataforma de força antes e após ambas as formas de estimulação. Resultados: Os principais parâmetros do equilíbrio apontaram para uma melhora média em curto prazo de aproximadamente 15%, uma hora após o tratamento e 5-10% após um intervalo de 3 dias. Entretanto, alguns participantes demonstraram um melhora maior que 30% com os mesmos parâmetros. Embora a amostra não permita análise estatística confiável, as modificações são marcantes e algumas diferenças são observadas entre os dois tipos de estimulo. Mais pesquisas, com grupos maiores e com um grupo incluindo ambos os estímulos, são indicadas. Embora a instabilidade postural tenha que ser definida como multi-fatorial, é comumente associada a distúrbi- Ano I no 02 os do equilíbrio que não são relacionados a problemas vestibulares ou danos centrais, mas sim a déficits proprioceptivos. Um papel significativo pode ser atribuído (mesmo que subliminar) às interferências nociceptivas com inputs proprioceptivos e a uma capacidade reduzida de atualizar modelos motores corticais no caso de declínio progressivo de capacidades locomotoras. A explanação provisoriamente apresentada para explicar os resultados obtidos neste estudo preliminar é que estimulação com acupuntura a laser e auriculopuntura reduzem interferências nociceptivas e portanto melhorar o controle postural. J Urol. 2011 Mar 17 [Epub ahead of print] Terapia com acupuntura a laser para enurese noturna primária monossintomática Laser Acupuncture Therapy for Primary Monosymptomatic Nocturnal Enuresis. Karaman MI, Koca O, Küçük EV, Oztürk M, Günes’ M, Kaya C. Department of Urology, Haydarpasa Numune Training and Research Hospital, Istanbul, Turkey. Intr odução: Enurese noturna monossintomática é o urinar Introdução: na cama a noite que ocorre entre crianças sem sintomas no trato urinário inferior ou disfunções da bexiga, e afeta uma parte considerável da população. Objetivos: Neste estudo, o efeito da terapia com acupuntura a laser em pacientes com enur ese notur na primária monossintomática foi avaliado em um estudo prospectivo, randomizado, placebo controlado e cego. Materiais e métodos: Um total de 91 crianças com idade média de 8.5 anos que se apresentam em nossa clínica com enurese noturna primária monossintomática e não haviam recebido nenhuma terapia medicamentosa foram incluídos no estudo. As crianças foram randomizadas em 2 grupos. No grupo 1, acupuntura a laser foi realizada 3 vezes por semana durante 4 semanas, enquanto o mesmo protocolo, por meio de uma luz não-laser nos mesmos pontos, foi realizado nas crianças do grupo 2 (grupo placebo). O número de episódios de enurese antes da terapia foi registrado e as crianças foram reavaliadas 15, 30, 90 e 180 dias após o tratamento. Resultados: O número médio de episódios de enurese foi 1.7 por semana após 6 meses de terapia com laser. No grupo placebo o número médio de episódios semanais foi de 3.1. Terapia com acupuntura a laser foi significativamente mais benéfica se comparada ao grupo placebo em termos de secura completa, melhora parcial e melhora na diminuição no número médio de episódios de enurese. Conclusão: Terapia com acupuntura a laser (uma terapia não-invasiva, indolor, com efeitos a curto-prazo e baixo custo) pode ser considerada como um tratamento alternativo para pacientes com enurese noturna primária monossintomática. Material traduzido por Dr. Gustavo Silveira, Acupunturista e Fisioterapeuta, revisado por Dr. Reginaldo de C. S. Filho Acupunturista e Fisioterapeuta. 15 16 Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 Divulgação O Qigong do Ganso Selvagem Medicina Chinesa Brasil O Qigong (Chi Kung) Terapêutico ou Médico é parte integrante da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) objetivando não somente capacidades psíquicas importantes, saúde física e mental, controle e emissão do Qi (Energia Vital) mas, principalmente, nos ensinar a conectar com as forças da Natureza e seguir seu fluxo natural. Assim poderemos atingir a longevidade. Quando praticamos um bom Qigong procuramos inicialmente encontrar o fluxo do Qi liberando os canais de Energia em nosso corpo energético. Quando o fluxo do Qi é melhorado a circulação do Sangue também será implementada , e então,como resultado deste processo, teremos mais oxigênio para o cérebro tornando-o mais alerta e perceptivo. Também teremos mais disposição física e mental e sentiremos nosso organismo mais pleno e eficaz. Este são ganhos iniciais de uma prática correta. O Qigong tem princípios que devem ser seguidos para a sua prática por isto é necessário orientação correta de um professor para uma prática realmente eficaz e segura. Dominar as diversas formas da respiração e seus efeitos fisiológicos, posturas corretas assim como atitudes mentais corretas. As atitudes mentais corretas aquietam o coração tornando-se um mecanismo fundamental para a obtenção de resultados mais profundos e perenes. Ser saudável além de encontrar a saúde do corpo e da mente é necessário buscar a compreensão da nossa natureza interna e nos aproximar da percepção da verdadeira força do Universo, aquela que estamos ao mesmo tempo mergulhados e também faz parte de cada essência do nosso Ser. O Qi do Dao (caminho). A mestra em Qigong do Ganso Selvagem, Yang Mei Jun, repetia “Dao De De Dao Zheng Dao Xing” que poderemos traduzir como “Quando a virtude e a Moral são a conduta o verdadeiro Dao florescerá”. Isto também significa que pensamentos e atitudes corretos podem trazer bons resultados nutrindo o coração. Quando o coração está nutrido e correto a força do Dao se revela por si mesma. A For ma de Qigong do Ganso selvagem (Da Y an Qigong) Forma Yan é uma das formas mais eficaz de Qigong médico se prestando para a Harmonia e Equilíbrio dos diversos fatores que impactam a Saúde, em seus aspectos físicos, psíquicos, energéticos e espirituais. Além de ser uma das formas mais bonitas e agradáveis de praticar. No noroeste da China, acima do Himalaia, estão as místicas montanhas KunLun. Há cerca de 1700 anos atrás, dinastia Jin, um professor legendário ermitão chamado Dao An (O Caminho da Paz) observando os movimentos dos muitos Gansos Selvagens que habitavam a região começou incorporar em suas práticas diárias sendo reconhecido como o criador do sistema Ganso Selvagem mesmo que sabemos que a atual estrutura de 72 formas foi concebido ao longo de quase 30 gerações de incríveis mestres de Qigong e monges de KunLun. O Qigong Médico é uma forma de exercícios para a Saúde, que inclui preparação corporal e mental além de profunda coordenação com a respiração, desenvolvido na China há Ano I no 02 milênios. O Ganso Selvagem é uma das principais formas de Qigong Médico com uma impressionante e bem conhecida lista de benefícios sustentada e pesquisada pelos médicos chineses como: • Fortalece a Saúde geral • Cura e Previne diversas doenças e doentes • Promove a Longevidade • Fortalece o Sistema Nervoso Central • Promove e Fortalece a Circulação (Artérias, Veias, Linfáticos e Meridianos) • Promove a Digestão e Melhora a Prisão de Ventre • Fortalece a Capacidade Pulmonar • Fortalece o Sistema Imunológico O Qigong do Ganso Selvagem faz parte da Escola Taoísta KunLun a qual existe há mais de 4000 anos. Ele imita o movimento de um Ganso Selvagem o qual combina força e graça. O ganso Selvagem na China é símbolo da Longevidade e então os Taoístas observaram cuidadosamente seus movimentos e criaram o Sistema do Ganso Selvagem baseados naquelas observações. Este imponente e extraordinário método foi passado secretamente dentro da linhagem de monges do templo até a geração 27 representada pela Mestra Yang Mei Jun que começou a ensinar publicamente em 1978. Ela começou a aprender com seu avô aos 13 anos de idade e viveu praticando até os 106 anos de idade em 2002. Até os 100 anos de idade ela ministrava aulas regulares de Qigong do Ganso Selvagem. A geração atual 28 é mantida pelo seu filho mais velho, o Mestre Chen Chuan Gang, que vive em Wuhan, China. O Ganso Selvagem é um Sistema que compreende 72 formas. Contudo Yang Mei Jun somente ensinou publicamente 11 formas e 07 técnicas de meditação os quais estão documentados em seus dois livros publicados em Chinês. Somente a primeira parte do primeiro livro foi traduzida para o inglês contendo os 64 movimentos da Forma I. Nas palavras de Yang Mei Jun: “A Forma I de 64 movimentos é particularmente benéfica para homens e mulheres de meia idade assim como idosos. Os movimentos suaves são numerosos mas de fácil aprendizado. Podem ser praticados somente uma parte ou completo. Este Qigong ajuda a promover a circulação do sangue e abrir os Jingmai (Meridianos de Energia) que são as passagens através das quais a Energia Vital flui. Ajuda a captar o Zheng Qi (novas Energias saudáveis) e eliminar o Xie Qi (as Energias Patogênicas). Também poderá tornar a pessoa capaz em emitir o Qi (Energia) externo para curar doenças em si mesmo ou em outras pessoas. É particularmente interessante para indivíduos que sofrem de Hipertensão, Hipotensão, doenças cardíacas, Neurastenia, Insônia, Desordens funcionais do sistema nervoso autônomo, Problemas gastrointestinais, Artrite reumatóide, Doenças de pele. Também ajuda os obesos a perderem gorduras. Esta prática serve como uma terapia de auto-regulação e auto-reparo o que beneficia o corpo humano e seus órgãos por inteiro. Como tratamento médico não há efeitos colaterais. Alguém de qual- 17 18 Medicina Chinesa Brasil quer idade que pratique o Qigong do Ganso selvagem por 02 ou 03 meses sentirá seus músculos mais tonificados, articulações de punho, cotovelo, pernas, quadris, ombros e braços mais flexíveis, assim como sua função cerebral aumentada e sua memória fortalecida. Em uma frase: O Qigong do Ganso Selvagem ajuda a envelhecer com muita Saúde e prolongar a vida”. Ainda nas palavras da Mestra Yang Mei Jun agora falando da Forma II do Ganso Selvagem também composta de 64 movimentos: “O Qigong do Ganso Selvagem II, através de seus amáveis e expressivos movimentos, desenvolve tanto nosso Dantian superior (terceiro olho) quanto o Dantian inferior (abaixo do umbigo). Ele treina não somente nossa habilidade para captar Energia fresca, mas também para eliminar a Energia turva e doentia, permitindo-nos desintoxicar e nos fortalecer ao mesmo tempo. Através de sua longa história a Forma II do Ganso Selvagem tem sido comprovada sua efetividade para: - Potente ferramenta para a auto-saúde. - Rejuvenescimento geral do corpo, mente, pele, cabelos e todo os órgãos. - Melhora significativa das funções cognitivas. - Desenvolvimento do potencial cerebral/mental. A Forma II trabalha primariamente com a Energia Pré-natal Ano I no 02 (Xian Tian Qi zhi) sendo extremamente útil a problemas que o indivíduo já nasceu ou geneticamente adquirido de seus pais. Tendo trabalhado a abertura dos 12 canais de Energia e os 8 vasos maravilhosos (Trabalho da Forma I), a Forma II Clareia (abre) os Canais (meridianos da Medicina Chinesa) para absorver o Qi, Expelir o Qi tur vo e restaurar o equilíbrio orgânico. As torções, os alongamentos e as pressões produzem campos de Qi (Energia) mais fortes e intensa circulação dos 8 colaterais.” O Trabalho sobre o fluxo da Energia interna e os campos magnéticos do corpo ajustam as capacidades do equilíbrio Yin/ Yang favorecendo as capacidades de adaptação e transformação do indivíduo tornando-o presente neste Universo de forma plena e feliz, como conseqüência, Saudável. Dr. Gutembergue Livramento Professor de Qigong e Taijiquan e estudioso da Medicina Chinesa. Fisioterapeuta e Engenheiro, mestrando em Medicina e Saúde Humana. Presidente/Fundador do IBRAPEQ (Instituto de Ensino e Pesquisa em Qigong e Medicina Chinesa). Ano I no 02 19 Artigo Medicina Chinesa Brasil Tratamento de diferentes doenças com o ponto do ápice auricular Resumo A função do ponto auricular (Erjian M-HN-10) é discutida neste trabalho e anamneses mostraram o tratamento eficaz de herpes zoster, conjuntivite aguda, febre alta, faringite e afonia pela sangria no ápice da orelha com a agulha trifacetada são discutidos. Em cada caso o sofrimento do paciente foi aliviado dentro de poucos minutos. Introdução A auriculoterapia é microsssitema do corpo humano e a área de confluência dos doze canais primários. O ponto do ápice auricular é localizado no topo da helix. Com a metade posterior da orelha dobrada para frente, o ponto é localizado na parte mais alta da prega superior. Sua ação é promover o Qi e a circulação de Sangue, limpar calor umidade e patogenos tóxicos, remover estagnação de Qi e sangue, resolver edema e aliviar a dor. É muito efetivo para doenças de cabeça e pescoço, especialmente aquelas caracterizadas pelo excesso de Yang, calor e dor. Neste artigo, nós contamos algumas historias de casos de pacientes cujas desordens foram tratadas pela sangria do ápice auricular com a tradicional agulha trifacetada usando o método de pinçar e beliscar. Com esta técnica, o ponto a ser tratado é pinçado entre o dedo polegar e indicador. Esta ação isola o ponto e promove uma concentração venosa de sangue, que facilita o sangramento. O ponto a ser sangrado é limpo com 70% de álcool isopropilico e deixado secar naturalmente. O desconforto do sangramento pode praticamente ser eliminado através de uma inserção rápida para a profundidade superficial desejada de 0,05-0,1 cun. Relato de caso 1- Herpes zoster Um homem de 60 anos queixou-se de severa dor em queimação com vermelhidão em seu pescoço e atrás de sua orelha direita durante os últimos cinco dias. Ele tinha hipersensibilidade ao toque, anorexia e inquietação. Associado aos sintomas, inclui-se um gosto amargo na boca, um ape- Medicina Chinesa Brasil 20 tite ruim, garganta seca, constipação e urina escassa e escura. Sua maior preocupação era que ele tinha dormido mal durante cinco dias e noites. Sua condição não apresentava melhora após tomar medicação e seu amigo recomendou-o para mim. No exame ele tinha pequenos aglomerados de bolhas cheias de um liquido claro, vermelhidão na ponta da língua e laterais com revestimento fino amarelado e pulso em corda e rápido. O diagnóstico foi herpes zoster e a Diferenciação de Síndromes foi calor umidade e patogenos tóxicos afetando os canais de fígado e vesícula biliar. Depois de rigorosamente esterelizado o ápice auricular com betadyne e álcool, piquei os pontos bilareralmente para deixar sair sete ou oito gotas de sangue. Ele imediatamente relatou que a maior parte das dores foi aliviada e que ele sentiu uma sensação de relaxamento em sua cabeça e pescoço. Em seguida sementes de Wang Bu Liu Xing (semente de Vaccaria) foram aplicadas em sua orelha esquerda nos pontos de fígado, vesícula biliar, pescoço, cabeça e shenmen da orelha e foram mantidas por sete dias. Quando ele visitou-me no dia seguinte, ele relatou que se sentiu muito melhor e havia tido cinco horas de sono profundo na noite anterior. Depois de mais um tratamento, sua doença foi curada. Relato de caso 2: Conjuntivite aguda Um homem de 35 anos que estava sofrendo de dor ocular e prurido nos olhos por dois dias. Ele tinha dor de cabeça, fotofobia, olhos vermelhos com secreção abundante pegajosa e amarela , dor em pontada, lacrimejamento e a sensação de um corpo estranho nos olhos, mas sua visão estava normal. A ponta da língua estava vermelha e seu pulso estava levemente em corda.O diagnóstico foi conjuntivite aguda e a Diferenciação de Síndromes foi vento calor afetando o canal do Fígado. O ápice auricular foi sangrado como descrito acima. Durante o tratamento, ele relatou que seus olhos estavam confortáveis e refrescados. Seguindo mais um tratamento no dia seguinte, ele estava curado. Relato de caso 3: Febre alta Um homem de 22 anos que tinha sofrido de febre por um dia. Ele tinha leves calafrios, dor em todo corpo, fraqueza, dor de garganta e um apetite ruim. A temperatura estava 40 °C. A contagem de células brancas estava em 10.300 cel/mm³. A sua língua estava vermelha com uma saburra fina amarela e seu pulso estava rápido e flutuante. O diagnóstico foi febre alta e a diferenciação foi Hiperatividade de Calor Perverso no Nível do Qi. Depois da picada do ápice para deixar sair sete ou oito gotas de sangue, ele instantaneamente sentiu-se mais confortável e sua dor de garganta tinha quase desaparecido. Sua temperatura caiu para 39,5 °C e uma hora depois reduziu para 38°C. Foi lhe dado Ban Lan Gen ( Radix Isatidis seu Baphicacanthi ) para que ele levasse consigo. Dois dias depois sua febre tinha desaparecido completamente. Relato de caso 4 : Faringite Um homem de 40 anos teve resfriado e subsequentemente sofreu de dor e coceira na garganta por duas semanas, acom- Ano I no 02 panhado por uma secura na boca e tosse seca sem catarro. Sua garganta estava vermelha e suas amídalas estavam inchadas. A ponta e as laterais da língua estavam vermelhas e seu pulso estava flutuante e um pouco rápido. O diagnóstico foi faringite e a Diferenciação de Síndromes foi vento e calor perverso no aquecedor superior. Depois da sangria no ápice, perfuramos uma mancha vermelha próxima ao Feishu (B13) e deixamos sair 3-4 gotas de sangue. Seguindo o tratamento, ele disse que sua dor de garganta tinha quase desaparecido. No dia seguinte a sua boca seca tinha se resolvido, ele apenas ocasionalmente tinha tosse seca, sua faringe estava ligeiramente vermelha e o inchaço nas suas amídalas tinha reduzido. Picamos o ápice da orelha novamente e ele se recuperou totalmente. Relato de caso 5: Afonia Uma mulher de 26 anos tinha um frio por cinco dias e estava incapacitada de falar por dois dias, com a garganta dolorida e boca seca. Sua garganta estava vermelha sem inchaço das amígdalas. A ponta e lateral da sua língua estavam vermelhas e seu pulso estava flutuante. O diagnóstico foi afonia e a diferenciação (de síndromes) foi deficiência de pulmão pelo ataque de vento calor perverso. Depois de picar e sangrar o ápice da orelha, ela sentiu sua garganta fresca e confortável e poderia falar em voz baixa. Depois de mais um tratamento no dia seguinte, ela estava totalmente curada. Discussão A terapia auricular tem diversas vantagens em relação a acupuntura sistêmica, por exemplo a simplicidade, praticidade e fácil aceitação pelos pacientes. Picar e sangrar o ápice auricular é um método ideal para tratamento de algumas doenças da cabeça e pescoço causadas pela invasão do corpo pela umidade calor, vento calor e patogenos tóxicos. Durante o tratamento, atenção deve ser dada para os seguintes ponto. 1- Não tratar pacientes que estão fracos, em jejum ou em estados nervosos. 2- Não usar este tipo de tratamento para pacientes que sofrem de anemia, hipotensão, qualquer doença hemorrágica etc. 3- Durante o tratamento, certeza, precisão e velocidade são a chave para uma boa técnica. 4- Se um capilar distinto do ápice auricular é observado, seu sangramento ao invés de sangrar a localização mais convencional, pode produzir resultados dramáticos. Jor nal de Medicina Chinesa. Númer o 82. Jornal Número Outubro de 2006 Jour nal of Chinese Medicine (tradução autorizada) Journal Traduzido por Aline Saltão Barão, MSc., Acupunturista e Biomédica, Revisado por Dr. Reginaldo de C. S. Filho, Fisioterapeuta e Acupunturista Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 21 22 Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 Descrição: Zhang, sexo masculino, 25 anos, trabalhador Data de registro: 20 de novembro de 1973 Histórico: A acompanhante do paciente, no caso sua mãe, revelou que ele havia discutido com a família duas semanas antes de buscar o atendimento e então começou a apresentar perturbações sem cessar. Ela também relatou que o paciente não conseguia dormir adequadamente, e em algumas noites não conseguia dormir nada. O paciente apresentava-se com tonturas e esquecimentos, além de ter falta de vontade de se movimentar. Sua aparência estava sem brilho, sem vitalidade e com aspecto depressivo. O paciente não tinha apetite e tinha tendência a se esconder nos cantos e ficar conversando consigo mesmo, gritando, chorando e rindo ao mesmo tempo. Sua fala era sem sentido, além de estar sempre pessimista e suspeitando de tudo e de todos. Ele já tinha um histórico pregresso de doença mental. 23 U.S. National Institute of Mental Health Esquizofrenia Ano I no 02 Pontos de tratamento: VG26 (Renzhong), VG20 (Baihui), C7 (Shenmen), E40 (Fenglong), BA6 (Sanyinjiao). O estímulo do ponto VG26 (Renzhong) foi feito com a agulha inserida de forma oblíqua e para cima, estimulada com movimentos de rotação de grande amplitude, objetivando sensação do De Qi forte. Todas as agulhas foram retidas em seus pontos por 15 minutos e o tratamento foi realizado diariamente. Explicação: A doença Dian (Ausência ) é um distúrbio da Mente (Shen), com característica Yin. Esta doença normalmente apresenta uma relação com Estagnação do Qi do Fígado (Gan) e Estagnação de Mucosidade. A Mente (Shen) e os orifícios dos órgãos do sentido ficam obstruídos, desta forma o paciente não consegue distinguir a fala das pessoas, assim como tem dificuldade de falar e quando fala suas palavras parecem não apresentar qualquer lógica. O paciente apresentava alternância de momentos com choro e momentos com risos e sorrisos de forma imprevisível, além de apresentar um comportamento bastante estranho e confuso. No tratamento executado, o ponto de acupuntura VG26 (Renzhong) foi o ponto principal na combinação proposta, sendo este um importante ponto de intersecção do Vaso Governador, do Canal Principal do Intestino Grosso (Da Chang) e do Canal Principal do Estômago (Wei), além de ser um dos pontos mais importantes para o tratamento de doenças mentais. No Xi Hong Fu (Versos de Xi Hong ) há uma passagem onde é possível encontrar a seguinte citação: “VG26 (Renzhong), para Ausência, é o ponto mais efetivo”. O ponto de acupuntura VG20 (Baihui) em combinação com o C7 (Shenmen) tem a capacidade de aliviar as condições de estresse mental e refrescar a Mente (Shen). A combinação dos pontos E40 (Fenglong) e BA6 (Sanyinjiao) tem a capacidade de dissolver a Mucosidade, aliviar a depressão, além de possibilitar um fortalecimento das funções do Fígado (Gan), Baço (Pi) e Estômago (Wei) Acompanhamento: Após a realização de seis sessões de tratamentos a sensação de peso e entorpecimento na cabeça, que estava presente anteriormente, já havia melhorado, e o paciente já era capaz de dormir durante a noite. Após mais seis sessões de tratamento, o paciente já era capaz de manter uma conversação normal. Um total de vinte e quatro sessões de tratamento foram realizadas até que o paciente fosse reavaliado e considerado curado. O caso foi acompanhado por um período de seis anos e não houve qualquer sinal de recaída, com retorno da condição. Zhang Deng Bu ( ) Professor Associado da Universidade de Medicina Tradicional Chinesa de Shandong; membro da Associação de Acupuntura e Moxabustão da China; Diretor de Ensino e Pesquisa Unidade de Canais, Departamento de Acupuntura; Diretor do Departamento de Acupuntura do Hospital da Universidade de Medicina Tradicional Chinesa de Shandong Avaliação: O paciente aparentava estar deprimido, e estava relutante a falar. Quando falava e respondia às perguntas, suas respostas não eram de acordo com as perguntas feitas. O corpo de sua língua estava de cor vermelho pálido, a saburra da língua esta branca e pegajosa. Seu pulso estava profundo ( chén) e em arame ( xián). Diagnóstico: Dian (Ausência ), relacionado com Estagnação do Qi do Fígado (Gan) e Estagnação de Mucosidade. Princípios de tratamento: Eliminar a Mucosidade, regular o fluxo de Qi, aliviar o estresse da Mente (Shen), refrescar a Mente (Shen). Relato de Caso Medicina Chinesa Brasil 24 Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 25 Fitoterapia 26 Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 Fitoterapia Chinesa com Ervas Brasileiras: Alcaçuz Brasileiro e Alcaçuz Chinês O Alcaçuz é aparentemente igual, mas porque eles não são iguais se não possuem o mesmo princípio ativo? É simples! Apesar de ambos terem como princípio ativo principal a Glicirrizina Glicirrizina, o solo e os fatores ambientais fazem com que estes princípios se acumulem com maior ou menor intensidade. É por isso que apesar de serem semelhantes não são totalmente iguais. Além disso, na China, o Alcaçuz é usado a partir de seu rizoma e no Brasil são usadas as raízes advindas do rizoma principal, motivo pelo qual a concentração de princípios ativos seja menor. Além destas características, o Alcaçuz Chinês (Radix glycyrrhizae) passa por processos de processamento que adicionam certas características terapêuticas que não se encontra no Alcaçuz brasileiro (Radix glycyrrhizae mediterranea). Para facilitar a compreensão das semelhanças e diferenças de ambas as ervas, estas serão abordadas em tabela, estando lado a lado suas características. As diferenças serão abordadas em um anexo à tabela. Medicina Chinesa Brasil Combinações típicas: o Alcaçuz geralmente é usado como uma erva servo. Sua função principal é facilitar a absorção do composto de ervas pelo organismo, assim como direcionar a ação de cada erva para cada um de seus canais, já que atua em todos os canais. Neste caso, o Alcaçuz pode ser usado em toda e qualquer fórmula com exceção dos compostos que possuem em sua constituição algas marinhas. Combinada com Dente de Leão (Herba Taraxaci) para inflamação da pele devida a toxinas do Calor, dor, queimação e vermelhidão. Como podemos observar, o Alcaçuz brasileiro possui algumas desvantagens perante o Alcaçuz chinês. Estas diferenças se devem principalmente as características do solo como citadas anteriormente. O Alcaçuz brasileiro para oferecer a mesma eficácia do seu correspondente chinês, deve ser usado com a dose mínima de 3 gramas, porém com a dose máxima de 6 gramas, pois acima desta dose provoca sensação de pigarro na garganta, coriza aquosa e aumento da pressão arterial. Estes efeitos não são observados no Neste primeiro trecho do texto podemos observar o seguinte: O Alcaçuz é chamado de Raiz Doce, assim como Mi cao, que poderia ser Raiz doce como mel (que na verdade é o Alcaçuz preparado em mel). A escrita ý [[guo lao]] pode ser traduzida como “Servo”, indicando sua posição na fórmula chinesa e em (gen) gan, ping, wu du. Podemos observar que o alcaçuz possui sabor doce, neutro e não tóxico. Em zhuzhi, podemos ver que a planta não é Ano I no 02 Alcaçuz chinês. O tempo de preparo em mel das duas ervas é o mesmo. Preparadas, ambas ofereceram a mesma eficácia terapêutica, principalmente quanto a tonificação do baço e no relaxamento da tensão muscular. indicada simplesmente, como costuma-se ver em formulários ocidentais, mas é indicada também sua forma de preparo, método de cozimento e dosagem. Fracisco Vorcaro Praticante de Medicina Chinesa Especialista em Fitoterapia 27 Artigo 28 Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 Estilo Fukaya de Moxabustão Nesta edição, eu gostaria de introduzir o estilo de moxabustão de Fukaya, este é o método de tratamento principal que utilizo em minha própria prática. A moxa cone direta é à base do método de Fukaya. Usar um tubo de bambu para incentivar a penetração do calor é outra característica do estilo de Fukaya. Isaburo Fukaya, nascido em 1901 na cidade de Tokyo, iniciou seus estudos na Universidade de Waseda. Quando estava no meio de seu curso, se transferiu para a Universidade Nippon Nichidai, para cursar direito. Estava também se preparando para se tornar monge budista quando adquiriu uma grave doença. Esta fez com que permanecesse em sofrimento na cama durante 5 anos. Moxabustão. Foi reitor da escola Tokyo Koto Shinkyu I Gaku (Escola Superior de Acupuntura e Moxa de Tokyo), até falecer em 1974. Sempre foi uma pessoa adorada pelo seu carisma, humor e admirado por todos pela sua facilidade em discursar sobre o assunto. Teve dois filhos, nenhum seguiu o seu caminho, mas tinha inúmeros discípulos, dentre eles pessoas que não eram terapeutas. Fukaya, formou o seu estilo próprio de tratamento em moxaterapia baseado no livro ¨Moxa dos Eruditos¨ que foi escrito durante o fim da era Edo(1603-1867) no Japão. O seu aluno mais dedicado foi Seiji Irie que escreveu o livro Fukaya Kyu Ho (Terapia de Moxabustão de Fukaya). Onde sempre destacava que a fim de tratar com sucesso com a técnica de moxabustão, é importante saber como encontrar os pontos que necessitam de tratamento e como agir para tratar o ponto. Tendo estabelecido as regras básicas de seu estilo. As 10 Regras básicas do estilo de Moxa Fukaya Segundo a história de sua vida, esteve bem perto da morte, quando recebeu tratamento fortalecendo o seu corpo através do uso da tradicional técnica de moxaterapia japonesa. Durante a sua recuperação adquiriu grande interesse pelo estudo da acupuntura e moxaterapia (nesta época ainda não havia tratamento ocidental amplamente desenvolvido no Japão). Por 5 anos, Fukaya recebeu tratamento com moxa e se restabeleceu totalmente. “tornei-me um ser re-nascido...”. A partir daí não parou mais de se dedicar ao estudo da moxa, ficou famoso em todo o Japão ao escrever livros sobre o assunto, pois tinha facilidade literária. Tornou-se membro da Associação de Moxaterapeutas japoneses alcançando o cargo de Chefe do departamento didático desta associação durante o vigésimo congresso de tratamento por acupuntura e moxa. Dedicou sua vida ao trabalho voluntário, e durante 20 anos escreveu 222 exemplares da Revista de Acupuntura e Estas regras quando seguidas fielmente fazem com que a sua técnica terapêutica seja eficiente e que haja rendimento de seu esforço ao tratar seus pacientes: 1. Não há nenhum ponto eficaz. Você é que faz com que ele seja eficaz. 2. As posições padrão dos pontos nos mapas apenas mostram por alto onde eles se encontram. 3. Os pontos quando recebem tratamento ou se encontram patológicos se movem. 4. Use pontos de moxa “famosos tradicionais” frequentemente para tratar com eficácia. 5. Para tratar eficazmente, use poucos pontos. 6. O ponto não é eficaz se não ocorre à reação. 7. Não trate pontos na área sintomática somente. 8. Usar pontos considerados famosos não é a única maneira se assegurar do sucesso. 9. O número e o tamanho de cones do moxa dependem da constituição do corpo do paciente. 10. Encontre os pontos habilidosamente. A primeira das dez regras básicas é onde se fundamenta o método de Fukaya. “Não há ponto eficaz é você que faz com que ele seja eficaz”. Isto significa que você terá que saber como localizá-lo corretamente ou escolhe-lo corretamente pelo seu grau de dor a pressão e sensibilidade ao toque, assim como o sinal de estase sangüínea apresentado. Sobre este teste falaremos depois (Teste com o Tubo de Bambu). As nove regras restantes nos explicam como nós podemos usar os pontos (ou como atuar sobre eles para que trabalhem em beneficio do paciente) gerando resposta eficaz. A Regra número dois que diz “As posições padrão dos pontos nos mapas apenas mostram por alto onde eles se encontram”, nos ilustra o fato observado por Sawada na antigui- Medicina Chinesa Brasil dade que cada paciente devido ao seu grau de doença possui deformações em seus meridianos e pontos o que provoca deslocamento dos mesmos de 1cm a diante ou atrás ao lateralmente em média. Assim quando os tratamos eles possuem a característica de voltar a sua posição original ou posição de curados, a que seria igual a dos mapas de acupuntura. Portanto se o ponto esta no mesmo local do mapa não necessita de tratamento. Sendo reforçada na terceira lei de Fukaya este fenômeno., A regra número quatro que diz “Use pontos de moxa “famosos tradicionais” frequentemente para tratar com eficácia”. Esta regra nos diz que há pontos tradicionais de moxaterapia usados em templos budistas e shintoistas para tratar os fieis. Estes pontos devem ser respeitados como pontos famosos tradicionais. A regra número cinco nos informa para usarmos o menor número de pontos possível para que não disperse o efeito quando tratamos com moxa. Os pontos devem ser escolhidos segundo os conceitos referidos por Fukaya. A experiência clínica do terapeuta vai ajudar mais, portanto pratique bastante para alcançar a maestria deste sistema. A regra número seis nos fala sobre a reação do ponto enquanto aplicamos e após aplicarmos os cones de moxa segundo a técnica de Fukaya. A vermelhidão da pele após a aplicação de moxa nos mostra o grau de modificação ocorrida na circulação periférica o que assegura o efeito terapêutico da estase de sangue. A segunda reação seria sentida pelo paciente como a sensação de uma fagulha quente que penetra profundamente no ponto. A regra sete reza não tratar os pontos no mesmo local do sintoma, isto é importante para demonstrar o efeito de migração circulatória oferecida pela aplicação de moxa cone. Pois os pontos distantes renderiam um excelente efeito de drenagem linfática e sangüínea. A regra oito nos ensina que o uso de pontos famosos apenas não constitui uma norma eficaz de tratamento, mostrando que devemos sempre fazer a palpação exploratória a busca de pontos reativos pessoais do paciente como pontos satisfatórios terapêuticos. A regra nove nos mostra que o tamanho do cone depende diretamente do grau de sensibilidade do paciente. Uns preferem um estímulo com cone maior, já outros se ofendem com um tamanho um pouco maior sendo necessário adaptá-los ao que o paciente sente para gerar um excelente estímulo terapêutico. Ano I no 02 A regra dez nos diz que devemos confiar na nossa habilidade de encontrar os pontos chave de tratamento, sendo necessário praticar até alcançar uma boa qualidade de detecção de pontos responsivos, para que o tratamento renda efeito. Embora o compreender estas regras possa ser dependente do nível técnico do terapeuta e de sua experiência e habilidade técnica, estas habilidades quando treinadas podem tornar-se grandes armas para tratar quando nos esforçamos no treino destes requisitos. Eu utilizo pessoalmente estas regras não somente para praticar a moxabustão de Fukaya, mas igualmente como fundamento básico para praticar os tratamentos utilizando a acupuntura. Escolhendo os pontos corretamente encontrando o posicionamento pessoal de cada paciente e aplicando Moxabustão. Não importa qual seja a doença, o método básico de Fukaya é baseado em procurar toda a reação (dor da tensão ou a pressão) na área para-vertebral das costas. Escolher e encontrar os pontos depende diretamente de sua habilidade detectora e sensibilidade dos dedos. Como o corpo do paciente sente e reage é mais importante do que a teoria. Para fortalecer a sua capacidade de detectar os pontos patológicos aconselhamos o treino de Shiatsu até conseguir alcançar a maestria nesta detecção. Aqui, eu gostaria de apresentar o meu método pessoal de detecção de pontos “vivos” pontos na parte para-vertebral das costas, destacadamente a região do Canal da Bexiga (Pang Guang) e Vaso Governador (Du Mai). Primeiramente, coloque as polpas do dedo no Vaso Governador (Du Mai)e percorra para baixo. Ao apertar e pressionar na busca de sinais de tensão e dor a palpação, você pode detectar que seus dedos sentem como que “freados por atrito na pele” enquanto desliza os mesmos pelo local. Marque essa área com lápis der mográfico. Use os mesmos recursos nos pontos, paravertebrais, Hua Tuo Jia Ji marque com o lápis os pontos responsivos nas áreas internas e externas do Canal da Bexiga (Pang Guang). Marque os pontos que você percebe que há discordância com o que você sente. Use o dedo que sentir o mais confortável para você. É importante pressionar e deslizar imediatamente e rapidamente de cima para baixo, mais deslizando do que aplicando o dedo em pressão em cada ponto como no Shiatsu. Não pesquise vezes demais. Até três vezes é aceitável. Não pense demasiado. Sinta com seus dedos. Áreas onde seus dedos sentem “freados” ou onde você sente uma diferença na textura do tecido (rugosidade e secura), são as áreas onde você encontrará provavelmente “pontos vivos” ou pontos patológicos. Apalpe a área marcada, procure a tensão ou exerça pressão sobre a dor, e marque-a outra vez. É importante mudar o ângulo de pressão de seus dedos, mude a qualidade de pressão, e a profundidade. Se você encontrou mais de 10 pontos vivos, diminua os mesmos para baixo, para no máximo seis pelo tamanho do nódulo tenso muscular, pelo grau de rigidez ou tensão, pela profundidade, e pela reação de desconforto ou incômodo do paciente relativo a reações de qualidade de dor a pressão. 29 Medicina Chinesa Brasil 30 Ano I no 02 O Teste com Tubo de Bambu. Pressione fortemente então o tubo de bambu nos pontos escolhidos durante 4-5 segundos; repita esta pressão algumas vezes. Você pôde ver sinais da estagnação do sangue (áreas escuras vermelhas ou roxas) que aparecem após retirar de pronto o tubo. O tubo de bambu oco é uma importante ferramenta no método de Fukaya mesmo para encontrar pontos responsivos. Ele é usado geralmente para diminuir a sensação do calor durante a queima do cone de moxa na pele e aprofundar a sensação do calor nos tecidos. Mas você pode igualmente usá-lo como na maneira acima. Isto fornece os indícios visuais aproximados para escolha de pontos - especialmente úteis para o tratamento de seus pacientes.Os terapeutas praticantes da moxabustão de Fukaya para se tornarem experientes precisam melhorar o seu grau de habilidade de detecção de pontos “vivos” pessoais de seu paciente. Então usando as polpas dos dedos, verificam a tensão outra vez, assim como as reações do paciente como caretas ou rumores de dor característicos como reação, devendo testar também o grau da cor representante da estagnação do sangue pressionando a pele com o tubo de Fukaya, para escolher entre todos os pontos aqueles três melhores pontos para o tratamento. Levando em consideração que a posição destes três pontos pode ser não exatamente igual as posições dos mapas tradicionais de acupuntura. Estes são “os pontos considerados reais” ou reconhecidos como pontos “chave” para o tratamento. Dr. Antonio Augusto Cunha Fisioterapeuta e Acupunturista da linhagem tradicional japonesa Autor de diversos livros sobre ventosa e acupuntura japonesa Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 31 O objetivo do NAJOM (Jornal Norte Americano de Medicina Oriental) é facilitar a comunicação e intercâmbio de informações entre os profissionais da medicina oriental, para que possam aumentar seus conhecimentos e habilidades. Como uma publicação internacional e multidisciplinar, NAJOM não defende uma abordagem ou ponto de vista particular, mas seu objetivo é promover o crescimento e aperfeiçoamento da medicina oriental. Com o devido respeito por todas as tradições e as perspectivas da medicina oriental, NAJOM prossegue este objetivo, destacando as teorias e práticas da medicina tradicional japonesa. Isso inclui a acupuntura e moxabustão japonesa, kampo (Fitoterapia), shiatsu, anma, e do-in. Tendo se desenvolvido ao longo de mil anos, a medicina tradicional japonesa é uma fusão de vários aspectos, a evolução, e as interpretações da medicina oriental no Japão. medicina oriental é praticada atualmente em todo o mundo e continuará a evoluir e desenvolver para se adequar ao ambiente e necessidades únicas de cada região. NAJOM visa contribuir para o desenvolvimento da medicina oriental da América do Norte, tornando mais informações disponíveis sobre as práticas tradicionais japoneses e como estão sendo aplicados hoje. A intenção por trás NAJOM, assim como a nossa revista, MCB, é servir como um fórum para o intercâmbio de idéias que inspiram e motivam os profissionais da medicina oriental para aprofundar a sua compreensão e aperfeiçoar sua arte. Nas próximas edições da MCB serão apresentados mais traduções de artigos publicados pelo NAJOM, com os devidos agradecimentos ao Sensei Junji Mizutani, seu diretor. Nesta edição trazemos um artigo escrito pelo grande mestre Yoshio Manaka, médico, poeta, pesquisador, acupunturista, grande defensor do pensamento crítico, tendo dedicado grande parte de sua vida para a promoção e demonstração dos efeitos da acupuntura. Foi responsável pela criação de técnicas, sistemas e instrumentos que são empregados nos dias de hoje pelos praticantes de diversas linhagens japonesas. Acupuntura Japonesa e Chinesa: Similaridades e Diferenças por Yoshio Manaka Desde os tempos antigos o Japão importou e adaptou elementos chaves da cultura e civilização chinesa. Isso inclui tudo desde ideologia, sistema de escrita, tecnologia e medicina, até o sistema legal. É possível que tenha havido um sistema original de escrita, assim como de medicina, no Japão, mas não seria nada comparado com aquele desenvolvido no continente. Ninguém pode simplesmente ignorar o fato de que por muitos séculos o Japão existiu dentro da esfera de influência da China. O Japão deve muito para a China em muitos aspectos. Até cerca do período Tokugawa (1603), a Medicina Japonesa era basicamente a Medicina Chinesa com algumas pequenas adaptações. Qualquer desenvolvimento ou avanço na medicina do continente era rapidamente transmitido para o Japão e as mudanças na Medicina Japonesa nos períodos inicias refletiam as mudanças na Medicina Chinesa. Desta forma, se alguém for apontar as diferenças entre as medicinas tradicionais do Japão e da China, isso seria feito mais com base nos desenvolvimentos históricos mais recentes. Sem aprofundar muito em detalhes de sua história, três razões básicas podem ser listadas para as diferenças ou características únicas da acupuntura japonesa: · A primeira razão é que mais de 1000 anos passou desde que a Medicina Chinesa foi introduzida no Japão; · A segunda razão é que no Japão e na China respectivamente, a acupuntura possui um diferente local no sistema médico e serve para diferentes papéis; · A terceira razão é que cada uma das duas culturas assimilou a medicina moderna ocidental de formas diferentes. Eu vou elaborar mais as idéias sobre estes temas com alguns exemplos e ilustrações. O desenvolvimento único da acupuntura no Japão É apenas natural que, no milênio desde que a Medicina Chinesa foi introduzida, praticantes japoneses modificariam seus métodos de diversas formas com base em suas experiências clínicas. A seguir são alguns desenvolvimentos únicos ao Japão: a) O primeiro e mais importante desenvolvimento é a redução no tamanho das agulhas. b) Tubos para inserção começaram a ser utilizados para simplificar a inserção de agulhas finas e reduzir a dor ocasionada pela inserção. Professor Yi da Coréia destacou que é provável que quando o Japão, uma pequena nação ilhada, importou coisas do continente, tudo desde bolas de arroz até casas foram reduzidas em tamanho. Reduzindo a grossura das agulhas era como manter em sintonia com a tendência geral. c) Desenvolvimento das agulhas intradérmicas de Kobei Akabane é de se destacar como um epítome desta tendência japonesa em relação à miniaturização. Meu colega Itaya Kazuko e eu estudamos os efeitos da acupuntura na microcirculação utilizando agulhas intradérmicas. NAJOM Artigo do NAJOM: North American Journal of Oriental Medicine 32 Medicina Chinesa Brasil Embora possa parecer ir contra a percepção comum da acupuntura, nossos achados provaram que mesmo a mais leve estimulação por agulha induz um aumento vasomotor geral. As mais finas agulhas intradérmicas foram suficientes para melhorar o estado nutricional do tecido e facilitar muito a reabsorção nos casos de hemorragia interna ou edema. Isso indica que a tendência japonesa pela miniaturização foi benéfica, ao menos para a acupuntura. d) Moxabustão direta tornou-se muito popular no Japão. Há uma pintura chinesa da Dinastia Sung que mostra diversas pessoas segurando um paciente ao passo que o terapeuta aplica moxabustão. É difícil dizer se essa era uma prática típica de moxabustão na China naquela época, porém a prática da moxabustão direta provavelmente nunca chegou a ser tão popular devido à dor. Talvez isso também possa ser relacionado com a relutância chinesa em se desnudar, mas a moxabustão tem sido popular no Japão, onde a nudez é mais aceita. A China é um grande país, e a situação era um tanto diferente, dependendo da região, assim é difícil generalizar, mas claramente a moxabustão direta não é mais tão praticada. A moxabustão no Japão, por outro lado, pode ser considerada uma forma de terapia popular como praticada até o período Meiji (1868). Muitas famílias praticavam moxabustão como uma tradição e muitas pessoas praticavam moxabustão sem qualquer treinamento especial. Muitos famosos pontos e técnicas de moxabustão estão associados com templos budistas e tradições familiares. A popularidade da moxabustão no Japão, entretanto, declinou rapidamente durante os últimos 20 ou 30 anos. Esta mudança é especialmente clara entre a nova geração, que não gosta de dor e marcas e tende a ter medo da moxabustão. Assim, esta forma de terapia tradicional perdeu popularidade, menos e menos famílias praticam moxabustão, e isso é ruim pois muitas técnicas valiosas estão sendo perdidas.. Este é um exemplo de como o aumento e queda de popularidade de certas formas de terapia não está necessariamente relacionado com a eficácia da terapia. e) Variações únicas na acupuntura e moxabustão foram desenvolvidas. Apenas no período moderno, após Meiji, muitas novas terapias relacionadas a acupuntura e moxabustão foram desenvolvidas no Japão. Okubo Tekisai desenvolveu sua “cirurgia do nervo simpático” com base na acupuntura, Hara Shimetaro fez algumas pesquisas originais sobre a moxabustão e desenvolveu seu método especial de tratamento de oito pontos na região lombar. Osawa Masaru também fez pesquisas sobre a moxabustão e descobriu o que ele nomeou de histo-toxinas ou proteínas denaturadas em tecidos que foram queimados. Osawa dizia que isso era responsável pelos efeitos da moxabustão e defendia que a injeção de histo-toxinas extraídas co tecido queimado possuíam efeitos terapêuticos. Hirata Kurakitchi também inventou um instrumento para aquecer a superfície da pele que supostamente tinha o mesmo efeito da moxabustão e poderia ser aplicado muito mais facilmente. Hirata também mapeou linhas ou zonas horizontais pelo corpo correspondendo a diferentes órgãos que são muito úteis para o tratamento. Infelizmente, muito poucos cientistas ou terapeutas seguiram seus trabalhos, e estes métodos estão sendo esquecidos. Ano I no 02 Moxabustão japonês (Séc. XVIII) Status relativo da acupuntura dentro do sistema médico Durante o período Tokugawa (1603-1868) no Japão, o status social dos acupunturistas e moxaterapeutas começou a declinar em relação aos fitoterapeutas. O lapso social e legal entre a medicina e a acupuntura tornou-se ainda mais notável no período Meiji com um incentivo à ocidentalização. Isso trouxe um baixo destaque, especialmente na comunidade científica, para a acupuntura e moxabustão que são formas terapêuticas respeitáveis com longa tradição. Houve uma mudança similar na China, mas após a revolução comunista, mesmo com algumas disputas internas, tanto a medicina ocidental como Oriental foram colocadas em igual destaque. A política de unificação da medicina moderna ocidental e a Medicina Chinesa foi estabelecida e vem sendo buscada até hoje. Como resultado, houve uma tremenda diferença na quantidade e natureza das pesquisas sobre acupuntura e moxabustão conduzidas no Japão e na China. No volume 10 de uma revista japonesa, Asahi Modern Medicine, Shi Qi, o vice presidente do departamento de saúde de Shanghai, apresentou uma resumida descrição da situação na China, no artigo intitulado “Médicos em Shanghai estudando Medicina Chinesa”. De acordo com Shi, há 600.000 médicos na China e aproximadamente 2.000 que incluíram a Medicina Chinesa em suas práticas. Há também praticantes de Medicina Chinesa, mas o número não é informado. Pelo que Medicina Chinesa Brasil ouvi, há cerca de metade de escolas de Medicina Chinesa em relação à quantidade de escolas médicas modernas. Em números, parece que os médicos, de Medicina Ocidental, são dominantes na China, mas em termos de status social, todos os médicos (aqui incluindo os da medicina ocidental e praticantes de Medicina Chinesa) são tratados igualmente. Em relação àqueles que combinam medicina ocidental e Medicina Chinesa, Shi explica: Conhecimento aumentado da Medicina Chinesa auxilia no tratamento e prevenção. Nós nos esforçamos em nosso país desde a década de 1950 para organizar e ensinar nossos médicos sobre Medicina Chinesa. Isso é porque acreditamos que a farmacopéia da Medicina Chinesa é um grande tesouro e nós devemos nos esforçar para redescobrir e desenvolver isso. Médicos da medicina moderna tem respondido entusiasmadamente a este chamado do governo e tem participado de vários programas de estudo e aqueles com um interesse especial continuaram a pesquisar por si e produziram excelentes resultados. Atualmente, além dos médicos modernos e os praticantes de Medicina Chinesa, temos muitos médicos que se especializaram em Medicina Chinesa (conhecidos como médicos que praticam medicina combinada ocidental e Chinesa). Estes médicos são uma característica única do sistema médico chinês. Em Shanghai um curso para médicos que estão seriamente interessados em Medicina Chinesa foi estabelecido em 1956. O período de estudo é de 2 ou 3 anos e foi conduzido por 13 vezes e mais de 1.000 médicos completaram este curso. Este curso está dividido em duas linhas, uma onde os médicos se dedicam exclusivamente aos estudos e outra onde estudam duas ou três vezes por semana e continuam a trabalhar. Os cursos seguem por alguns anos, mas em alguns casos são de curta duração, durante entre um ou dois meses, e os médicos podem escolher a estudar em seus tempos livres. Os padrões de tratamento e prevenção aumentaram consideravelmente porque médicos treinados em ambos conhecimentos médicos e técnicas, ocidentais e chinesas, são ativos em seus trabalhos clínicos e agarraram a Medicina Chinesa que vê o corpo como um todo e captura a doença como um processo em evolução. Muitos destes médicos participaram de pesquisas científicas e somente nos últimos 10 anos em Shanghai, quatro prêmios nacionais de pesquisa de ciências médicas, 88 prêmios do ministério da saúde para pesquisas de ciências médicas e 169 prêmios municipais foram conquistados. Novos métodos de tratamento e prevenção foram desenvolvidos neste tipo de pesquisas combinando medicina ocidental e Medicina Chinesa. Certos aspectos das teorias da Medicina Chinesa, como Yin e Yan, Qi e Sangue, Zang Fu, Estagnação de Sangue, diagnóstico por pulso e língua, analgesia por acupuntura e Qi Gong também foram elucidados por pesquisas básicas. Atualmente, médicos em nosso país estão ativamente estudando e pesquisando sobre práticas tradicionais: medicina ocidental e chinesa estão aprendendo a partir da força uma da outra, reduzindo os seus pontos fracos, unindo forças e contribuindo para a saúde e bem estar da população chinesa. Normalmente quando um médico (de medicina ocidental) Ano I no 02 aprende Medicina Chinesa ele deve passar por três estágios de educação: conceitos básicos da Medicina Chinesa, terapêuticas da Medicina Chinesa e clínica da Medicina Chinesa. O terceiro estágio é o treinamento clínico sobre a supervisão de um expert tradicional. Geralmente o aluno trabalha com um terapeuta tradicional com muitos anos de experiência (Laozhongyi) e aprende sobre os aspectos práticos da Medicina Chinesa. Ao obser var o trabalho clínico dos experts e tomar nota de seus tratamentos e prescrições, os médicos aprendem a diagnosticar e tratar pacientes utilizando um modelo mais holístico. Há uma grande variedade de abordagens clínicas na Medicina Chinesa e há muitas escolas de pensamento. Cada terapeuta tradicional possui seu próprio ponto de vista e experiência, assim mesmo para a mesma doença, uma variedade de métodos de tratamento podem ser aplicados. Como estes médicos aderem aos princípios da Medicina Chinesa, entretanto, eles raramente desviam por completo dos padrões tradicionais de tratamento. Uma vez que o médico atinge certo nível de competência sob a super visão do expert, ele pode diagnostica e tratar sozinhos. Há um aspecto positivo e negativo em um médico (de medicina ocidental) estudar Medicina Chinesa. O aspecto positivo é que ele já possui experiência clínica anterior a se dedicar à Medicina Chinesa e está familiarizado com as causas das doenças e os diversos processos patológicos assim como seus métodos de tratamento. O aspecto negativo é que a teoria da Medicina Chinesa é um esquema abstrato baseado em um modelo altamente integrado e que, embora seja muito prático, os iniciantes freqüentemente acham difícil de dominar as bases teóricas. Desta forma, quando um médico moderno estuda a Medicina Chinesa, ele deve fazer um esforço especial para aprender sobre seu modelo holístico que é fundamental para a Medicina Chinesa assim como as abordagens básicas do diagnóstico e tratamento diferencial. A combinação da Medicina Chinesa e ocidental atingida através do processo acima é agora praticada em hospitais e institutos de pesquisa por toda a China. Estes praticantes possuem credenciais e status de médicos assim podem conduzir pesquisas científicas e ensaios clínicos em hospitais públicos. Isso é algo impossível no Japão. Em uma mesa redonda de discussão sobre a situação da Medicina Oriental no Japão alguns anos atrás, Shirota Fumihiko comentou: “A pesquisa atual em acupuntura é principalmente dedicada ao mecanismo terapêutico e faz pouco para comprovar a eficácia da acupuntura e moxabustão como praticada de verdade.” Eu não poderia concordar mais com esta afirmação. Pesquisadores japoneses precisam de “um amplo e profundo plano de pesquisa (para acupuntura) com padrões estritos e análise estatística que leva em consideração a cura natural e o efeito placebo.” Há muito poucos hospitais ou universidades públicas no Japão que desejam de fato assumir este tipo de projeto, arrecadar fundos suficientes e permitir pesquisas independentes sobre acupuntura e moxabustão. Na mesa redonda de discussão descrita acima, o professor Yamashita Kumio comentou que quando ele disse a seus alunos na escola médica que eles tratavam disenteria na China com acupuntura, um aluno per- 33 34 Medicina Chinesa Brasil guntou porque eles se preocupavam com acupuntura quando a disenteria poderia ser tratada facilmente com medicamentos. Considerando a geografia e população da China, e que alguns medicamentos podem não estar facilmente disponíveis no interior do país, pode ter sido necessário desenvolver tratamentos alternativos. Este tipo de pesquisa clínica não é possível nem aceitável no Japão. Em qualquer caso, a China teve condições sociais que permitiram a expansão da pesquisa clínica da medicina tradicional e eles não tiveram problema em conseguir quantidades de pessoas que chegam a três ou quatro dígitos. Médicos como eu, entretanto, trataram muitos pacientes com acupuntura e moxabustão em casos difíceis onde nenhum efeito foi obtido com a medicina moderna. Nós freqüentemente experimentamos grande sucesso com estes pacientes utilizando apenas métodos tradicionais. O termo ‘casos difíceis’ implica em muitas coisas incluindo muitas condições. Em 1987 houve um simpóiso internacional em Tianjin sobre o tratamento de Estagnação de Sangue (Houxuehuayu). Professor Zhang Zhi Nan da Xiehe Medical University de Beijing apresentou um impressionante resumo do tratamento de casos difíceis sob a perspectiva de ambas medicinas, moderna e Chinesa. Quando falamos de casos difíceis que são geralmente crônicos e freqüentemente associados com estagnação de Sangue e Líquidos Corporais do ponto de vista tradicional, há pouco que se possa fazer na medicina moderna. Assim somos levados à tentativa e erro utilizando abordagens tradicionais de acupuntura e moxabustão e aplicar métodos de tra- Ano I no 02 tamento deduzidos por nossa experiência. É difícil no Japão para conseguir pacientes suficientes desta forma apresentando padrões similares de modo que eles possam ser estudados estatisticamente. Eu tenho obtido com muita freqüência sucesso com estes casos e tenho relatado estes sempre que há oportunidade. Há, por outro lado, casos em que a queixa é bastante simples mas eles são extremamente difíceis de tratar. Funeke, um médico alemão desenvolveu a ‘terapia neural’ envolvendo injeção hipodérmica de quantidades extremamente pequenas de novocaína em pontos locais. Ele relatou um caso onde apenas um tratamento curou um sintoma crônico que persistia por muito tempo, e o sintoma não retornou mais. Funeke nomeou estes efeitos pronunciados de ‘sekunden phaenomen’ ou resposta instantânea. Ele observou este fenômeno em cerca de 7% dos pacientes. É desconhecido se isso será essencialmente um efeito placebo ou se era devido a algum mecanismo terapêutico desconhecido. Em seu livro, Health and Healing, Andrew Well afirma: “É bastante perplexo considera todos os tipos de terapias do Ocidente e Oriente do passado ao presente à partir de uma perspectiva neutra e sem viés, mesmo para a aparentemente simples cura de uma doença, porque fatores inexplicáveis sempre existem.” Ao aplicar acupuntura e moxabustão, o praticante freqüentemente encontra o que Funeke chamou de ‘resposta instantânea’. E isso ocorre mesmo em casos onde o médico tratou o paciente por um longo período sem sucesso. Há também uma grande variedade de condições ou sintomas onde este fenômeno ocorre. O mecanismo deste fenômeno continua um mistério, mas é uma realidade. Diferenças entre a medicina ocidental e Oriental O avanço da tecnologia médica nos anos recentes é verdadeiramente notável. Agora é possível tratar com sucesso pacientes que no passado poderiam ser dado como mortos. A situação da prática médica mudou completamente nos últimos 50 anos. Se a Medicina Chinesa não se desenvolveu tanto neste período, como é que este antigo e tradicional sistema médico ainda tem algo para oferecer aos cuidados da saúde nos dias de hoje? Por que as pessoas estão começando a falar sobre medicina holística? Olhando para a situação do ponto de vista do paciente, aqueles que recebem os cuidados, a medicina moderna é realmente são perfeita e sem problemas? É verdade que as pessoas estejam protegidas por nossa altamente avançada medicina e todos estejam mais saudáveis? Medicina, além de tudo, é um sistema criado por seres humanos. Quem pode garantir que um sistema operado por seres humanos irá funcionar de forma ideal para todas as pessoas e sem cometer erros? Aplicando medicina tradicional para tratar os chamados casos difíceis da medicina ocidental, nós nos tornamos atentos a muitos problemas que a medicina moderna falhou em tratar. Eu vou citar apenas um caso para ilustrar minha idéia. Uma professora mulher em seus quarenta anos veio a mim após receber tratamento médico praticamente contínuo por 30 anos. Durante este tempo, ela recebeu cinco grandes cirurgias, uma Medicina Chinesa Brasil das quais para remover tumores em ambas adrenais. Ela estava em uma condição bem emaciada, queixando de dor muscular e incapacidade de sentar mesmo que por apenas 20 minutos. Quando ela ia aos hospitais, eles faziam uma cirurgia exploratória para ver o que estava errado. Se ela se queixa-se de dores articulares eles a examinavam com um ortoscópio. Desta forma, ela tinha cicatrizes por todo o corpo. Além disso, ela tinha queimaduras por todo o corpo por causa de um acidente de carro. Ela também tinha crises de depressão e tinha tentado suicídio no passado. Sua menstruação era irregular e era assim desde a primeira vez, sua temperatura corporal basal flutuava irregularmente. Começamos o tratamento desta mulher com acupuntura e moxabustão. Sem entrar em muitos detalhes do tratamento, os seguintes resultados foram obtidos: sua condição geral melhorou drasticamente e ela foi capaz de voltar a trabalhar. Além das melhoras de seus sintomas, sua menstruação se tornou regular pela primeira vez mesmo ela se aproximando da menopausa. Sua temperatura basal indicou que ela estava ovulando regularmente. Suas dores musculares pararam e ela voltou a ganhar força. Quando sua mãe teve um AVC, ela pode ajudar sua mãe a andar de cadeira de rodas e auxiliar na reabilitação trazendo ela para tratamentos por acupuntura, como ela mesma. Assim, ela teve sucesso em ajudar na recuperação da sua mãe. Como Fritof Capra disse: “Quando uma doença é curada, a verdadeira cura ocorre não apenas quando o corpo se recupera, mas quando a pessoa ganha forças e capacidade de enfrentar novos desafios.” Assim, esta professora finalmente recebeu a verdadeira cura, que ela não teve como conseguir em seus 30 anos de tratamento médico. A medicina não é apenas tecnologia médica e também não é definida pelas instalações médicas. Deve ser algo que traz um nível mais alto de integração e função na pessoa como um todo. Não está claro o porque mesmo as mais modernas instalações médicas e a mais competente equipe médica, estão freqüentemente estão falhando neste quesito, mas é um fato não adequado. Em todas as instalações médicas, alguns pontos básicos precisam ser seguidos no cuidado dos pacientes: Ano I no 02 35 • Se casos difíceis serão tratados, estes pacientes devem ser cuidados até que sejam curados; • Também, sua confiança deve ser mantida enquanto estão sob tratamentos; • Sua situação econômica também precisa ser considerada de modo que eles não interrompam o tratamento; • A rede de apoio ao paciente, incluindo seus amigos e familiares devem ser considerados para desenvolver uma relação de cooperação com estes indivíduos também; • O médico que trata o paciente não deveria mudar freqüentemente ou inesperadamente; • Quando dois ou mais médicos trabalham em conjunto no caso, seus entendimentos e intenção dêem estar em concordância; • Testes desnecessários e procedimentos invasivos devem ser mantidos no mínimo; • Finalmente, as interações com o paciente deveriam servir como parte do tratamento. Mesmo em hospitais de ponta com as mais modernas instalações, se estiverem falhando nos pontos acima, não estão capacitados para o tratamento de casos difíceis. Nós entendemos suas insistências de que a administração do ‘tratamento legítimo’ com eliminação do efeito placebo, é científico e pode produzir a melhor opção para tratar os pacientes. Entretanto, um ser humano é freqüentemente visto meramente como um agrupamento de partes do corpo e a reparação das partes individuais é entendida como capaz de trazer a cura. Alguém pode dizer que um reducionismo tão simplista irá criar um caso difícil à partir de algo simples como uma enurese noturna. Há também uma forte tendência para o reducionismo no estudo da medicina tradicional hoje. Como estamos indo longe para a aplicação da medicina tradicional, espero que médicos vão mais longe do que estudar apenas o hardware, como as técnicas e ações de ervas. Acredito que Shi Qi estava aludindo este problema quando ele falou do ‘aspecto negativo’ dos médicos aprendendo Medicina Chinesa. Reimpresso à partir da versão da NAJOM vol. 16 n47, tradução de Dr. Reginaldo de C. S. Filho, Acupunturista e Fisioterapeuta XII Congresso Internacional de Acupuntura e Terapias Orientais & V Congresso de Massoterapia do SATOSP Dias 27 e 28 de agosto de 2011 na Casa de Portugal Casa de Portugal Avenida Liberdade, 602 São Paulo (SP) Informações e Inscrições: (11) 5584-7733 www.satosp.com Concorra a um convite para o Congresso do SATOSP. Promoção válida de 20/05 a 20/06, exclusiva para Assinantes de Medicina Chinesa Brasil - www.medicincachinesabrasil.com.br 36 Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 Artigo Emoções na Medicina Chinesa: Esclarecimentos por Philippe Sionneau Desde a publicação do meu livro “Distúrbios psíquicos em medicina chinesa” (Edições Trédaniel), minhas pesquisas me permitiram aprofundar algumas noções nesta área. Eu gostaria de sublinhar neste artigo a importância da “relatividade” da ligação emoção/órgão que eu já tinha abordado neste livro. Na mesma linha, eu proponho um quadro que recapitula os 3 níveis de significado de cada emoção. Enfim, na terceira parte, eu apresento os esclarecimentos sobre a noção “Gui”, os espíritos terrestres que estão relacionados ao Po. Alguns leitores pensaram que esta era uma invenção pessoal visando permanecer na corrente de pensamento de alguns autores franceses muito “imaginativos”. Bom, não é. A noção “Gui” é totalmente fundamentada nos textos clássicos. Eu apresento aqui alguns dados precisos deste assunto delicado. As cinco emoções não são um sistema rígido A classificação das emoções segundo os cinco movimentos (Wu Xing) não deve ser utilizada como um sistema rígido e reducionista. Ao contrário, como o conjunto das relações descritas na teoria dos cinco movimentos, trata-se mais de uma simbologia que abrange realidades mais amplas. Nós estamos lidando com 5 categorias de energia emocional que correspondem a numerosos fenômenos psíquicos. Muito praticantes consideram que cada emoção de base tem relação com apenas um único órgão. Isto é demasiadamente reducionista. A maioria das emoções podem implicar diferentes órgãos ou fatores patogênicos. Para ser mais concreto, aqui estão alguns exemplos precisos retirados da literatura chinesa (principalmente de Qi Qing Bing Bian Liao – Tratamentos baseados na diferenciação das doenças dos sete sentimentos, de Yu Kuang Qing, edições científicas médicas da China, Beijing, 1998) que demonstram claramente que as coisas são um pouco mais complexas do que a equação simplista: “uma emoção específica=um órgão específico”. • 1 – A tristeza pode ser induzida por uma deficiência de Qi do Pulmão. Os sintomas chaves serao então: tristeza sem razão, choro, fadiga psíquica, respiração curta, voz baixa, lingua pálida, saburra branca, pulso fino (Xi), fraco (Ruo), sem força (Wu Li). “ o Jing Qi se acumula no Pulmão, então ocorre a tristeza”. (Huang Di Nei Jing Su Wen). • 2 – A tristeza pode ser induzida pela deficiência de Qi do Baço. Os sintomas chaves serão então: tristeza, choro, inaptência, fadiga psíquica, falta de força, gusto insípido na boca, diminuição do paladar, lingua pálida, saburra branca, pulso fino (Xi) e sem força (Wu Li). • 3- A tristeza pode ser induzida por uma deficiência de Qi do Coração. Os sintomas chaves serao então: tristeza, cho- ro, palpitações, taquicardia, insônia, sonhos abundantes, embotamento, lingual pálida, saburra branca, pulso fino (Xi), amarrado (Jie), interrompido (Dai). “O Qi do Coração está deficiente, então há tristeza”, (Huang Di Nei Jing Ling Shu). • 4- A tristeza pode ser induzida pela deficiência de Qi do Fígado. Os sintomas chaves serao então: tristeza, choro, irritabilidade, insônia, sonhos abundantes, múltiplos pesadelos, fadiga psíquica e física, lingual pálida, saburra branca, pulso fino (Xi), em corda (Xian). “ a tristeza do Fígado se agita no interior então fere a Alma Etérea”, (Huang Di Nei Jing Ling Shu) • 5- A tristeza pode ser induzida por uma deficiência de Qi do Rim. Os sintomas chaves serão então: tristeza, choro, demência, vertigens, acúfenos, região lombar e joelhos doloridos e fracos, lingua pálida, saburra branca, pulso profundo (Chen) e fino (Xi). • 6- A tristeza pode ser induzida por uma deficiência de Qi da Vesícula Biliar. Os sintomas chaves serão então: medo, sensação de terror ao menor estímulo, inquietude, tristeza, choros sem razão aparente, lingua pálida, saburra branca, pulso fino (Xi) e em corda (Xian). • 7- A tristeza pode ser induzida por uma estagnação de mucosidade. Os sintomas chaves serão então: demência, alternância entre alegria e tristeza, choro e riso sem razão aparente, opressão torácica, distensão do tórax, saburra branca e pegajosa, pulso escorregadio (Hua), sem força (Wu Li). “no meridiano do Pulmão, há mucosidade secura (…) tristeza, inquietude, mal estar, além disso a mucosidade é adstringente e difícil de expulsar”, (Yi Zong Bi Du – leituras médicas obrigatórias) (1) • 8- A tristeza pode ser induzida por uma estagnação de sangue. Os sintomas chaves serao então: tristeza, choro, agitação-disforia, perda de memoria, lingual escura ou com manchas de estagnação, pulso rugoso (se). Observa-se, então, que a tristeza não está somente associada ao Pulmão mas também a, pelo menos, cinco outros órgãos Zang ou Fu e à duas produções patógenas: mucosidade e estagnação de sangue. Isto deve nos fazer compreender que embora as emoções sejam particularmente associadas a um órgão específico, nosso diagnóstico não deve depender de uma idéia pré-concebida e reducionista que poderá nos induzir ao erro. Medicina Chinesa Brasil Nós devemos sempre enquadrar um sintoma chave dentro de um contexto geral que confirme a origem e natureza daquele sintoma. Quer dizer, se a tristeza é acompanhada de sintomas de deficiência do Pulmão, então o Pulmão realmente está envolvido. Por outro lado, se ela não está acompanhada de sinais de Pulmão, mas por sintomas de umidade-calor na Bexiga, então o diagnóstico correto sera umidade-calor na Bexiga, mesmo se esta idéia pareça estranha a nossa equação mental simplista “tristeza=pulmão”. Um sintoma sozinho não tem valor, só quando está contextualizado é que adquire significado. Recapitulação do significado das emoções Podemos considerar que existem três níveis de expressão para cada emoção. O primeiro se situa a nível do espírito associado à emoção (Wu Shen). Ele representa o aspecto mais nobre, mais espiritual, mais natural da emoção. O Segundo representa a emoção associada aos órgãos Zang. Trata-se da emoção “normal”, “fisiológica” que constitue o tecido primor- Ano I no 02 dial de nossa vida afetiva e emocional. O terceiro é o desvio patológico das cinco emoções (Wu Zhi) que se transformam então em sete sentimentos (Qi Qing), principais causas internas das doenças. Para esclarecer, retomemos o exemplo da tristeza. A nível do Shen (espírito), trata-se da emoção veículada pela compaixão que nos permite sentir a tristeza e a piedade pelos males que atingem as outras pessoas. A nível do órgão, trata-se da emoção produzida pela perda de um ente querido, aquela do luto. A nível patológico trata-se da tristeza que perdura e que leva à insatisfação com a vida. Vemos que cada situação psicológica descrita anteriormente corresponde à fenômenos diferentes embora tenham uma ligação entre si. É importante notar que, no que se refere às emoções e os cinco espíritos (coluna da esquerda) é uma dedução pessoal. É necessário, então, entender esta parte como uma tese de trabalho e não como um afirmação da tradição médica chinesa. As traduções de base das cinco emoções são as seguintes: Xi= alegria, Nu= raiva, Bei= tristeza, Si= preocupação, Kong= medo. 37 38 Medicina Chinesa Brasil Os Espíritos Terrestres : os Gui O termo Gui pode ser traduzido pelo espírito maligno, fantasma, demônio, espectro…Gui corresponde ao espírito do defunto que ainda está ligado ao mundo terrestre. Nós os chamamos errante, procurando se apossar de um novo corpo (2). A natureza do Gui é oposta àquela do Shen. Shen (espírito) é de origem celeste, Gui de origem terrestre. Shen é benevolente, Gui é malevolente. Shen é universal, Gui individual. Shen é divino, Gui demoníaco. Shen é centrífugo, Gui centrípeto. Shen é luminoso, Gui obscuro, etc. Nós poderíamo definir os Gui como sendo forças terrestres, centrípetas, descendentes, fixadoras, separadoras, mórbidas, destrutivas e individualistas. No organismo, estes Gui são associados ao Po. O Po representa a utilização dos Gui pelo Shen para gerar um corpo e uma individualidade. O Po permanece no Pulmão. É o aspecto físico do Pulmão. O Po é a influência Metal do Shen: descendente, denso, separador. É a manifestação mais material, a mais terrestre da consciência. Po é feminino, de natureza Yin. É imóvel e frio. O corpo (a forma – Xing) pertence ao Po. Nós falamos do Po, mas na verdade existem 7 Po que animam o Ser Humano. Os 7 Po são considerados espíritos mal-feitores. Segundo alguns textos de alquimia taoísta, eles se chamam: Shui Gou (cachorro cadáver), Fu Shi (cadáver enterrado), Que Yin (demônio pardal), Du Zei (monstro glutão), Fei Du (veneno deslumbrante), Chu Sui (varredor de lixo), Bi Chou (caçador de fedores) (3) É interessante notar que dentre as numerosas tradições que a ciência moderna classifica como primitivas, as doenças eram consideradas como uma forma de possessão demoníaca. Os demônios do Cristianismo, os djinns do Islamismo, os bhouts do Hinduísmo, os Gui do Taoísmo certamente têm em comum uma origem xamânica anterior ao aparicimento das grandes religiões ou filosofias. Os demônios, os monstros, os imortais, o sobrenatural em geral sempre estiveram presentes na cultura chinesa desde a sua origem, provavelmente impregnada desta cultura xamânica muito antiga. Ano I no 02 No entanto, não se trata aqui de acreditar ou não na existência destes espíritos malignos. É importante pegar estes conceitos como uma representação possível da realidade, uma maneira de explicar os fenômenos seguindo uma certa raiz de pensamento. Se numa visao taoísta da medicina chinesa é útil imaginar que os corpos são constituídos de demônios, por que não se propor a investigar por um instante, onde isso pode levar à uma eficácia clínica? De fato, a “natureza demoniaca” do Po e “divina de “Hun” pode explicar certas tendências patológicas do comportamento psíquico humano. Pertencendo à esta tradição médica, me pareceu justo que esta concepção seja integrada no estudo da medicina chinesa, mesmo se nos for proibido de relativizá-la e de restringí-la à seu contexto cultural e à nossa prática clínica. Notas (1) Livro da época dos Ming, escrito em 1637 por Li Zhong Zi (aliás Li Nian E, Li Shi Cai) que viveu de 1588 à 1655. Influenciado pelas correntes médicas dos Song, dos Jin e dos Yuan e também pelos trabalhos do ilustre Zhang Zhong Jing, ele foi à origem de várias obras dentre elas o Nei Jing Zhi Yao (conhecimentos essenciais do Nei Jing). Ele nasceu em uma família de mestres de Wu Shu. Doente, ele caminhou para o estudo dos clássicos da medicina chinesa como autodidata. Após anos de estudos e prática, foi considerado como um dos grandes médicos de sua época. (2) em algumas correntes taoístas, Gui representa o espírito dos seres que é condenado a continuar os ciclos de renascimento em oposição ao Shen que é o espírito de uma pessoa tendo atingido a imortalidade (3) O nome dos 7 Po vem do livro “Taoísmo e corpo humano”, de Catherine Despeux, Editora Trédaniel. Tradução e preparo: Professora Silvia Ferreira, Acupunturista e Educadora Física © Copyright Philippe Sionneau 151, bld Jean Jaurès - 92110 Clichy-laGarenne (France) - Tél : (003) (0)8.70.25.20.13 - [email protected] Medicina Chinesa Brasil Ano I no 02 A Revista Medicina Chinesa Brasil publica artigos de interesse científico e tecnológico, realizados por profissionais dessas áreas, resultantes de estudos clínicos ou com ênfase em temas de cunho prático, específicos ou interdisciplinares. Serão aceitos artigos em inglês, português ou espanhol. Seus volumes anuais e números trimestrais, serão publicados em março, junho, setembro e dezembro. A linha editorial da revista publica, preferencialmente, artigos Originais de pesquisa (incluindo Revisões Sistemáticas). Contudo, também serão aceitos para publicação os artigos de Revisão de Literatura, Atualização, Relato de Caso, Resenha, Ensaio, Texto de Opinião e Carta ao Editor, desde que aprovados pelo Corpo Editorial. 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O Corpo Editorial emitirá um Protocolo de Recebimento do Artigo e enviará a Carta de Autorização, a ser assinada por todos os autores, mediante confirmação de que o artigo seja inédito, e uma declaração de even- tuais conflitos de interesse pessoais, comerciais, políticos, acadêmicos ou financeiros de cada autor. O Corpo Editorial enviará, então, o artigo para, pelo menos, dois revisores dentro da área do tema do artigo, no sistema de arbitragem por pares, que em até 60 dias deverão avaliar o conteúdo e a forma do texto. O Corpo Editorial analisará os pareceres e encaminhará as sugestões para os autores, para aprimoramento do conteúdo, da estrutura, da redação e da clareza do texto. Os autores terão 15 dias para revisar o texto, incluir as modificações sugeridas, cabendo-lhes direito de resposta. O Corpo Editorial, quando os revisores sugerirem a adição de novos dados, e a depender do estudo, poderá prover tempo extra aos autores, para cumprimento das solicitações. O Corpo Editorial verificará as modificações realizadas no texto e, se necessário, sugerirá correções adicionais. O Corpo Editorial poderá aceitar o artigo para publicação ou recusá-lo se for inadequado. Para publicação, será observada a ordem cronológica de aceitação dos artigos e distribuição regional. Os artigos aceitos estarão sujeitos à adequações de gramática, clareza do texto e estilo da Revista Medicina Chinesa Brasil sem prejuízo ao seu conteúdo. Ficará subentendido que os autores concordam com a exclusividade da publicação do artigo no periódico, transferindo os direitos de cópia e permissões à publicadora. Separatas poderão ser impressas sob encomenda, arcando os autores com seus custos. Os artigos são de responsabilidade de seus autores. Deseja mais informações? Acesse o site www.medicinachinesabrasil.com.br ASSINE MEDICINA CHINESA BRASIL E RECEBA OS EXEMPLARES GRATUITAMENTE Faça sua assinatura gratuita em nosso site. Basta preencher o formulário - é simples e rápido. 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