O Sr. PASTOR PEDRO RIBEIRO (PMDB-Ce.) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, comemoramos, no dia 14 de maio do corrente ano, o 57º (quinquagésimo sétimo) aniversário de criação do Estado de Israel. A aprovação da Resolução n.º 181, da Organização das Nações Unidas/ONU, que permitiu a criação do Estado de Israel, foi o coroamento de uma longa batalha pela afirmação do direito natural de o povo judeu decidir o seu próprio destino, estabelecendo-se como estado soberano em sua própria terra. O bravo povo judeu, mesmo distante de sua terra, manteve uma forte unidade religiosa, o que lhe deu forças para lutar durante gerações, sempre lançando as bases da constituição de um estado localizado na “Terra Prometida”. Seria por demais extenso relatar, aqui, todos os fatos que marcaram a trajetória deste povo, desde a Diáspora até a institucionalização do estado judaico. É pertinente, porém, lembrar que a luta pelo retorno à “Terra Prometida” intensificou-se com o holocausto, quando milhões de judeus foram massacrados, em toda a Europa, entre 1930 e 1945. Após a derrota do Nazi-fascismo, a questão judaica passou a ser uma das grandes preocupações dos líderes mundiais, reafirmando-se, assim, a luta pelo estabelecimento do Estado de Israel, que passaria a abrigar todo o povo judeu, que vivia em diáspora, espalhado pelo mundo. Como coroamento desta luta, no dia 29 de novembro de 1947, a Assembléia Geral da ONU, presidida, naquela oportunidade, pelo brasileiro, Embaixador Oswaldo Aranha, aprovou a Resolução que determinou o estabelecimento de um estado judeu, em Eretz-Israel. A presença de um brasileiro foi, portanto, marcante na realização daquele fato histórico de elevado significado mundial. A ação do Chanceler brasileiro foi decisiva no processo de negociação política que antecedeu a 1 votação da Resolução n.º 181, que terminou sendo referendada por 33 países. A atuação de Oswaldo Aranha foi intensamente elogiada não só pelo povo de Israel, mas por representantes de vários países com assento na Assembléia Geral da ONU. Foram ressaltados o seu “espírito de objetividade, sua sabedoria e justiça, sua imparcialidade e frieza”, no encaminhamento das discussões e na direção dos trabalhos acerca da questão da Palestina. Finalmente, em 14 de maio de 1948, os membros do Conselho do Povo, representantes da Comunidade Judaica e do Movimento Sionista, em virtude de direitos naturais e históricos e por força da Resolução da ONU, declarou o estabelecimento do Estado Judeu em Eretz-Israel, a ser conhecido como Estado de Israel. E assim se confirmaram as palavras de Ezequiel: - “Eu vos tomarei dentre as nações, recolhendo-vos de todos os países e vos conduzirei à vossa terra” (Ez. 36,24). - “Habitareis no país que dei a vossos pais. Sereis o meu povo e eu serei o vosso Deus”(Ez. 36,28). A luta deste povo heróico não parou aí. Logo depois da instalação do estado, Israel teve de enfrentar os exércitos do Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque, que invadiram o país, travando-se sangrentas lutas conhecidas como “Guerra da Independência”, que durou 15 meses e custou a vida de quase 1% da população judaica fixada naquele país, à época. Finda a guerra, com a assinatura de armistício, o líder David Ben-Gurion, no cargo de Primeiro Ministro, iniciou os trabalhos de acolhimento dos judeus “exilados”, de construção do novo estado e de reorganização de sua economia. Promoveu-se, também, o desenvolvimento industrial, a mecanização da agricultura, a montagem da infra-estrutura econômica (rodovias, energia, telecomunicações) e da infra-estrutura social (habitação, escolas, hospitais). Quando o Estado de Israel celebrou o seu 10º aniversário, a sua população já era de mais de 2 milhões de habitantes e pujante se tornava a 2 sua economia, com o crescimento acelerado da produção industrial, ampliação das áreas agrícolas cultivadas, auto-suficiência no suprimento de alimentos e elevação do volume de exportações. Na década seguinte (1958-68), as exportações duplicaram e o Produto Nacional Bruto apresentou taxas anuais de crescimento da ordem de 10%. Artigos anteriormente importados passaram a ser fabricados no país. O crescimento mais vertiginoso se deu, porém, nos ramos da metalurgia, mecânica, química e eletrônica. Intensificaram-se as relações com outros países, em especial os Estados Unidos, Comunidade Britânica, Europa Ocidental, América Latina e África. Desenvolveram-se programas de cooperação, permitindo-se o compartilhamento de experiências com outros países. O processo de construção e de organização do Estado de Israel continuou, porém, sendo entrecortado por períodos de intranqüilidade, destacando-se os conflitos, em 1967, com a “Guerra dos Seis Dias”, finda a qual aquele País manteve sob seu controle vastas áreas, inclusive a Cidade de Jerusalém - centro da vida espiritual judaica e ícone do conteúdo religioso do povo judeu - que estivera dividida entre Israel e Jordânia, desde 1949. Terminada a guerra, o desafio era traduzir as vitórias militares em paz permanente, através do reconhecimento da soberania, da integridade territorial e da independência política de todos os estados da região. As hostilidades cessaram, em 1970, quando Egito e Israel acertaram um novo cessar-fogo, ao longo do Canal de Suez, mas não durou muito. Três anos de relativa calma terminaram no Yom Kipur - dia sagrado do calendário judaico - quando Egito e Síria lançaram um ataque, de surpresa, em 06 de outubro de 1973, acarretando sérios prejuízos à economia de Israel. Mas, já na segunda metade de 1974, as atividades econômicas retornaram à normalidade. Os investimentos estrangeiros voltaram a crescer. Incrementou-se o turismo. Em 1975, Israel tornou-se membro associado do Mercado Comum Europeu. 3 Em 1978, a paz já parece bem mais perto, com a assinatura dos Acordos de Camp David, que asseguraram as linhas básicas para a consolidação de uma convivência pacífica na Região. A partir daí, outras tantas iniciativas foram tomadas, com o objetivo de promover o entendimento e a harmonia, no Oriente Médio, destacando-se a Conferência de Paz de Madri, em 1991, e a “Declaração de Princípios”, assinada por Israel e pela OLP, em 1993, que, embora aquém das aspirações do povo palestino e da comunidade internacional, representava o início de um novo processo de paz duradoura. A despeito de todos os entraves, inclusive o anti-sionismo ainda enraizado em muitas culturas, o Estado de Israel, estabelecido como nação independente do povo judeu, em sua “Terra Prometida”, é, hoje, um fato consumado no cenário político e jurídico internacional. Com uma população de 6,8 milhões de habitantes e um PIB per capita da ordem de U$ 17.200, Israel disponta, também, no cenário internacional como uma economia altamente competitiva e se afirma como centro de excelência em pesquisa e tecnologia, principalmente nas áreas de biotecnologia e agrotecnologia. O volume de exportações de Israel atingiu, em 2004, o total de U$ 33,7 bilhões. As transações comerciais com o Brasil, porém, muito embora apresentem sinais sensíveis de crescimento, ainda são muito incipientes: as exportações do Brasil para Israel alcançaram, em 2004, apenas U$ 206 milhões, com a aquisição por aquele país, principalmente de carne, produtos animais, soja e metais. São inúmeras, porém, as possibilidades de incremento de cooperação e de mútuo apoio entre os dois países. É importante que se alcance, nas relações comerciais, um patamar compatível com a dimensão das duas economias. Mês passado realizou-se, em Tel Aviv, o Encontro Empresarial Brasil-Israel, que reuniu empresários dos dois países. Através do fortalecimento das relações comerciais, o Brasil espera estreitar, ainda mais, as relações diplomáticas e aprofundar o diálogo com este país. 4 No campo das relações internacionais, Senhor Presidente, o mundo inteiro testemunha, diariamente, o heróico esforço do povo judeu na defesa do seu direito inalienável de ser uma nação independente e aplaude a luta para reconstruir a sua própria história. E, aqui, é pertinente ressaltar os gestos, que vêm sendo feitos pelo povo judeu, de diálogo e de tolerância, superando a fase de confronto e de hostilidade. Refiro-me, especificamente, ao plano de retirada de 9 mil colonos israelenses da Faixa de Gaza, como resultado de acordo recentemente celebrado entre o Governo de Israel e a Autoridade Nacional Palestina. Acordo esse que tem custado muito caro ao Primeiro Ministro, Ariel Sharon, pelo inconformismo do povo ali estabelecido à décadas, que terá de abrir mão e deixar tudo o que já fez, em nome da paz tão necessária. O gesto de Israel e da Autoridade Nacional Palestina, viabilizando a retirada de colonos israelenses da Faixa de Gaza, é simbólico, e tem um peso significativo na luta pela paz na região. O Governo brasileiro, por ocasião da recente visita do seu Ministro das Relações Exteriores - Celso Amorim - reconheceu e expressou o esforço que está sendo feito no sentido da viabilização da paz, da concórdia, da harmonia e da cooperação entre os dois países. A posição do Brasil é sempre bem clara, em relação à questão dos conflitos no Oriente Médio: total neutralidade, mantendo-se, porém, sempre disponível para ouvir os dois lados e de intermediar acordos. Por ocasião da visita que 16 integrantes do Grupo Parlamentar de Amizade Brasil-Israel realizou à nação judaica, no período de 16 a 24 de fevereiro de 2004, da qual fiz parte, tivemos a preocupação não só de conhecer a realidade daquele país, mas, também, de acompanhar, de perto, o encaminhamento das soluções para a superação dos conflitos na região, em busca de uma paz duradoura. Vale ressaltar, neste momento, o pedido que nos foi feito, naquela oportunidade, pelo ex-Primeiro Ministro de Israel, Shimon Peres, 5 quando respondia a uma intervenção do Deputado Adelor Vieira: “queremos que os senhores, que são parlamentares brasileiros, façam tudo para promover a paz entre o povo israelense e o povo palestino, já que o Brasil é uma nação que acolhe e convive muito bem e em paz com estes dois povos”. Queremos, nas comemorações do quinquagésimo sétimo aniversário da Fundação do Estado de Israel, em nome da Câmara dos Deputados e, em especial, da Frente Parlamentar Evangélica, expressar o nosso apreço e estima por esta valorosa nação que vem se afirmando como estado soberano na “Terra Prometida”. Esperamos que os princípios da justiça, da paz e da convivência entre os povos estejam sempre presentes na história de Israel. À Excelentíssima Senhora Tzipora Rimom, Embaixadora de Israel no Brasil, queremos transmitir efusivos parabéns pelo transcurso desta simbólica data, ao tempo em que reafirmamos que o exemplo de luta e de dignidade do bravo povo judeu merece o nosso respeito e consideração. Era o que tínhamos a dizer. 6