REMEDIAÇÃO IN-SITU DE SOLOS E ÁGUAS SUBTERRÂNEAS ATRAVÉS DE PROCESSOS TÉRMICOS R. C. M. Nobre Dept. de Águas e Energia, Universidade Federal de Alagoas M. de M. M. Nobre Universidade Federal de Alagoas e Consultor da Maia Nobre Engenharia N. R. Thomson Dept of Civil Engineering, University of Waterloo RESUMO: O aumento da taxa de extração de fluidos orgânicos e imiscíveis (NAPLs) de solos e águas subterrâneas também pode ser realizado através de processos térmicos. Este processo de remediação tem como objetivo o incremento da temperatura na região impactada, possibilitando transferência de fase e aceleração da descontaminação. Como primeiro passo no entendimento de estratégias de remediação que envolvem processos térmicos, a avaliação do fluxo não-isotérmico de umidade torna-se necessária. Este trabalho trata da formulação de um modelo numérico que simula este mecanismo, onde o método dos elementos finitos de Galerkin é utilizado. Resultados de simulação revelam que gradientes de temperatura transientes alteram os campos de pressão e, como consequência, o fluxo de umidade devido, principalmente, aos efeitos de viscosidade nas propriedades hidráulicas do meio. Em contrapartida, as alterações causadas por gradientes de pressão no campo de temperatura são consideradas não significativas. A eliminação de fontes secundárias de NAPLs pode ser alcançada através da aplicação de processos térmicos que possibilitam um aumento, na região contaminada, da temperatura do solo e das águas subterrâneas. Diversos mecanismos de natureza física são responsáveis pela eficácia desta tecnologia. Existe uma variedade de métodos in-situ que promovem o fornecimento de energia térmica ao meio poroso, incluindo a injeção de água ou ar aquecido (p.e., Davis, 1998), injeção de vapor (p.e. She e Sleep, 1999; Funk e Taylor, 1998; Udell, 1997), aquecimento elétrico (p.e., Dablow e Biddle, 1998), aquecimento por frequência de rádio (p.e., Dev et al., 1988; Marley et al., 1993), combinação da injeção de vapor com aeração (p.e., Aines et al., 1998) ou com processos de bioremediação (p.e., Basile e Smith, 1994), bem como processos de desorção térmica (p.e., Vinegar et al., 1988; Vis e Krijger, 1998). Todas essas tecnologias permitem uma maior 1. INTRODUÇÃO Tecnologias de remediação in-situ aplicadas à remoção de líquidos orgânicos residuais imiscíveis com a água (NAPLs - Non Aqueous Phase Liquids) do subsolo, tais como sistemas de extração pump-and-treat, sistemas de extração de gás, sistemas de aeração, bioremediação e outros têm sido extensivamente abordadas na literatura. A taxa de extração desses contaminantes do subsolo, entretanto, é muitas vezes limitada o que implica em períodos de tratamento extensivos e custos sempre elevados, particularmente quando se trata de compostos orgânicos recalcitrantes inseridos na região saturada do subsolo ou quando se trata de solos de reduzida permeabilidade. A maioria dessas novas tecnologias trata apenas da fase dissolvida. De fato, a eliminação da fase livre da fonte secundária de NAPLs é quase sempre impraticável na maioria desses casos. 533 liberando calor latente de vaporização de forma a aquecer o meio poroso e os fluidos intersticiais. Com o processo contínuo de injeção, três zonas distintas irão ser desenvolvidas, conforme Figura 1: uma zona de vapor isotérmico, uma zona de temperatura variável e uma zona isotérmica de temperatura ambiente (Stewart e Udell, 1988). A frente de vapor promove o deslocamento da água e dos contaminantes através da vaporização. Os compostos orgânicos são transportados da fase de vapor para a frente de condensação, onde eles condensam, sendo então removidos pelo sistema de bombeamento. A injeção de vapor é caracterizada por elevadas taxas de fluxo de vapor e gradientes de pressão. A Figura 2 apresenta uma ilustração esquemática do sistema de injeção de vapor no solo. extração de contaminantes em função, principalmente, do aumento das taxas de transferência de massa da fase livre do NAPL para fase gasosa ou fase dissolvida na água. É considerada, dessa forma, a forte influência da temperatura nas diversas propriedades dos fluidos presentes, tais como: i) viscosidade; ii) tensão superficial entre o NAPL e a fase aquosa; e iii) solubilidade efetiva dos contaminantes (p.e., Miller et al., 1990; Feenstra, 1990). Os efeitos da variação da temperatura nos processos de transferência de massa, no entanto, são ainda pouco conhecidos. Na maioria dos casos de remediação de solos e águas subterrâneas, a fonte secundária de NAPL pode ser constituída de uma mistura de compostos químicos com distintas propriedades termodinâmicas e que se encontra, normalmente, imobilizada em camadas geológicas com diferentes permeabilidades. Assim, com a aplicação da energia térmica, a evaporação se processa conforme a concentração da fase gasosa de cada componente em equilíbrio com a massa líquida imiscível. De acordo com a Lei de Raoult, essa concentração é proporcional à pressão de vapor multiplicada pelo peso molecular do constituinte, ajustado a sua fração molecular na mistura. Em geral, observa-se um incremento de 25% a 40% nas taxas de evaporação com o aumento de temperatura. Para compostos com pontos de ebulição maiores que o da água, a vaporização completa da fase líquida do contaminante pode ocorrer com custos relativamente reduzidos. Compostos voláteis e semi-voláteis podem ser, de fato, eliminados através de processos térmicos com grande eficiência (Nobre e Thomson, 1993). Por outro lado, nos casos de contaminantes com reduzida pressão de vapor, como óleo diesel ou óleos lubrificantes, as taxas de extração de massa são limitadas. Em casos de formações permeáveis, os processos térmicos mais usuais acoplados aos sistemas in-situ de extração de água ou gás, incluem o sistema de injeção de vapor (steam injection) ou acoplamento do sistema de injeção de vapor com outros processos como aeração (air sparging) ou bioremediação. Quando o vapor saturado é injetado num solo inicialmente não-aquecido, o vapor condensa, Figura 1. Perfil de temperatura próximo à fonte de condensação. A injeção de água moderadamente aquecida (50 oC) em zona contaminada possibilita um aumento na solubilidade de muitos contaminantes orgânicos em sua fase imiscível aumentando, assim, as taxas de extração da massa em sua fase dissolvida. Como já mencionado, o mecanismo físico mais importante envolvido é a redução da viscosidade desses líquidos em suas fases imiscíveis com a temperatura, permitindo que as águas aquecidas possam removê-las (USEPA, 1995). A injeção de gás aquecido, por outro lado, tem aplicação em casos de contaminantes semi-voláteis presentes na região não-saturada do subsolo. O reduzido calor específico do ar, no entanto, não permite a obtenção de taxas elevadas de energia a não 534 Figura 2. Sistema de injeção de vapor no solo (Udell, 1997) ser que o gás esteja extremamente aquecido. Como comparação, o ar teria que ser injetado a uma temperatura de 2200ºC, para se obter o mesmo nível de eficiência térmica no tratamento, equivalente ao vapor com 100ºC, utilizando-se igual taxa de injeção em massa. Os processos térmicos que utilizam os princípios de frequência de rádio e resistência elétrica (corrente alternada) são eficientes em solos de reduzida permeabilidade (solos argilosos). As propriedades elétricas das argilas mostram-se favoráveis à captura de energia de frequência de rádio ou corrente alternada, apresentando elevada condutividade elétrica. Durante o aquecimento do solo e das águas subterrâneas, sob temperaturas iguais ou superiores a 100oC, as taxas de extração de massa podem ser aumentadas por: i) incremento da pressão de vapor e difusividade do contaminante em sua fase livre; ii) maiores permeabilidades efetivas da argila; iii) aumento na volatilidade do contaminante dissolvido através de sua estripagem; iv) maior viscosidade e mobilidade do contaminante. A tecnologia, no entanto, torna-se limitada uma vez que quando as argilas se aquecem, a corrente pode ser interrompida devido ao seu fissuramento. Os processos de desorção térmica in-situ podem ser aplicados em meios porosos contaminados por compostos orgânicos voláteis e semi-voláteis, no qual a energia térmica é aplicada no meio simultaneamente a um sistema de vácuo. A aplicação de calor pode ser realizada através de sistemas de aquecimento elétrico a altas temperaturas, onde os contaminantes vaporizados são removidos e descartados in-situ (Vinegar et al., 1998). Este processo pode eliminar uma grande variedade de compostos orgânicos, em suas fases imiscíveis, provocando completo deslocamento dos mesmos em suas fases gasosas. A utilização de processos térmicos para a recuperação de líquidos voláteis e semivoláteis do meio poroso não é recente. O processo de injeção de vapor, em particular, foi extensivamente aplicado na área de engenharia de petróleo para incrementar as taxas de extração secundária, através da redução de viscosidade e distilação (p.e., Davidson et al., 1967; Hong e Hsued, 1987). A utilização desses mecanismos na recuperação de contaminação de solos e águas subterrâneas, 535 entretanto, é bastante recente. Como primeiro passo na investigação da influência da temperatura nos processos de transferência de massa, a interação entre gradientes transientes de temperatura e fluxo de umidade (água no estado líquido e de vapor) deve ser quantificada para o estabelecimento de um modelo físico conceitual e propriedades do material relevantes ao cenário de remediação. Uma investigação dessa natureza determinará os processos físicos, hipóteses e simplificações que poderão ser utilizadas numa análise de modelagem que envolva o transporte de energia térmica, o fluxo de umidade e o transporte de massa. O presente trabalho tem como objetivo o estudo de interações térmicas no meio poroso através do desenvolvimento e aplicação de um modelo numérico bidimensional de fluxo de umidade e calor, em meios parcialmente saturados, baseado no método numérico dos elementos finitos, onde a carga de pressão e a temperatura são utilizados como variáveis dependentes do problema. Uma formulação mista das equações de umidade e calor é utilizada a fim de assegurar, numericamente, a conservação de massa e energia térmica. condutividade hidráulica não-saturada do solo (cm.s-1), ψ é a carga de pressão d'água (cm), T é a temperatura (oC) e δ é o delta de kronecker. A variação do fluxo de água líquida como função de T resulta dos efeitos da temperatura na viscosidade da água assim como na umidade volumétrica, através do termo de condutividade hidráulica (Constantz, 1982). A obtenção do fluxo de umidade na forma de vapor é dada por q v i = - ρ l Dψ δ ij 2 -1 .s ), Dψ é a difusibilidade de vapor isotérmica (cm.s-1), e DTv é a difusibilidade de vapor térmica (cm2.s-1.oK-1). A equação do fluxo de umidade é obtida adicionando-se as equações do fluxo de umidade na fase líquida Eq.(1) e na fase de vapor Eq.(2) de forma a obter qmi ρl = - ( K ij + Dψ δ ij ) - ( DTa + DTv ) δ ij ∂ψ ∂ xj ∂T - K ij e j ∂ xj (3) O termo de armazenamento d'água θM (g.cm-3 ) é definido como sendo a quantidade total de água por unidade de volume de meio poroso, ou seja 2.1 Fluxo de Umidade θ M = ρ l θ + ρ vθ a A transferência de umidade em meios porosos ocorre na fase líquida e de vapor. A equação do fluxo de umidade na fase líquida é obtida através da modificação da equação de Richards (1931) quando aplicada a sistemas não-isotérmicos. Esta expressão modificada, de acordo com Milly (1982), é dada por (4) onde θ é a umidade volumétrica, θa é o percentual de ar no solo e ρv é a densidade do vapor d’água (g.cm-3). Ao aplicar o princípio da conservação de massa na equação do fluxo de umidade, obtém-se a equação geral que governa o fluxo de água transiente em um dado meio poroso, sob a influência de gradientes de temperatura e de pressão, ou seja ∂ψ ∂T - ρ l DTa δ ij ∂xj ∂xj 0 j =1 - ρ l Kij e j e j = 1 j=2 (2) onde q vi é o fluxo de densidade de vapor (g.cm- 2. FORMULAÇÃO MATEMÁTICA ql i = - ρ l K ij ∂ψ ∂T - ρ l D Tv δ ij ∂ xj ∂ xj (1) ∂θ M 1 ∂ ∂ψ ∂T = +( DTv+DTa )δ ij + ( Kij +Dψ δ ij ) ∂xj ∂t ρl ∂ xi ∂xj onde ql i é o fluxo de densidade líquida (g.cm-2 .s-1), ρl é a densidade da água (g.cm-3), DTa é um coeficiente relacionado com o fluxo de água adsorvida (cm2.s-1.oC-1), Kij é o tensor de + 536 ∂ K ij ej ∂ xi (5) segunda ordem com variáveis dependentes ψ e T, que governam a distribuição de temperatura e umidade num meio poroso, saturado ou parcialmente saturado. Os parâmetros presentes nestas equações encontram-se em Nobre e Thomson (1993). Condições iniciais e de contorno foram especificadas com a finalidade de tornar o sistema de equações completo. 2.2 Fluxo de Calor A expressão do fluxo de calor em meios porosos é dada pela extensão da equação da condução de calor de Fourier, com a adição de termos referentes à transferência de calor convectivo e de calor latente. O fluxo total de calor num meio poroso parcialmente saturado, de acordo com Philip e de Vries (1957), e modificado por Milly (1982), se apresenta como 3. FORMULAÇÃO NUMÉRICA ∂T ∂ψ - ρ l (L Dψ + β - 1 gT D Ta ) δ ij + q hi = - λ ij ∂xj ∂xj Em planos de remediação de mananciais subterrâneos, um ferramenta de previsão é de grande valia. Modelos matemáticos simplificam esta tarefa tendo em vista o grande potencial e versatilidade em simular condições reais de um sistema. Desta forma, as equações diferenciais parciais não-lineares que descrevem o mecanismo de transferência de umidade e calor em meios porosos são resolvidas numericamente. O método dos elementos finitos de Galerkin é aplicado na integração espacial das equações, ao passo que o método implícito das diferenças finitas é utilizado na integração temporal. O procedimento da solução simultânea é utilizado neste trabalho, e consiste na linearização e solução do sistema de equações acoplado em cada intervalo de tempo, para ambas as variáveis dependentes, através do método iterativo de Newton-Raphson. No domínio físico bidimensional, as equações (5) e (8) ficam expressas por (6) + c l (T - T o ) q m i onde λij é a condutividade térmica de um meio poroso úmido (cal.cm-1.s-1.oC-1), L é o calor latente de vaporização da água (cal.g-1), cl é o calor específico da água na fase líquida (cal.g-1 . o -1 C ), To é uma temperatura de referência (oC) e β é o fator de conversão igual a 4,2x107 necessário para converter de (cm2.g.s-2) para (cal). A quantidade total de energia térmica armazenada em um volume unitário de solo é definida por Vries (1958) como sendo θ S h = C M (T - T o ) + Lo ρ v θ a - ρ l ∫0 Wdθ (7) onde Sh é o teor térmico do meio poroso (cal. cm-3), CM é a capacidade calorífica volumétrica do meio poroso úmido (cal.cm-3.oC-1), Lo é o calor latente de vaporização numa dada temperatura de referência To, e W é o calor de molhamento diferencial (cal.g-1). A aplicação do princípio de conservação de energia térmica na equação do fluxo de calor (6) e na expressão do armazenamento de energia térmica (7), fornece a equação diferencial parcial que governa o fluxo de calor transiente em meios porosos, sob a influência de gradientes de temperatura e de pressão. Esta expressão é descrita por ∂θ M 1 ∂ ∂ψ ∂T + mT mψx ∂t ρ l ∂x ∂x ∂x ∂ ∂ψ ∂T + mg = 0 - mψz + mT ∂z ∂z ∂z e ∂ Sh ∂ ∂t ∂x - ∂ S h ∂ ∂T ∂ψ = + ρ l (LDψ + β -1 gT DTa ) δ ij − λ ij ∂t ∂ xi ∂ x j ∂ xj - c l (T - T o ) q m i ] (9) ∂ψ ∂T hψx ∂x + hT ∂x - ∂ψ ∂ ∂T + hT + hg hψz ∂z ∂z ∂z = 0 (10) onde as variáveis mψx, mψz, mT, mg, hψx, hψz, hT e hg são definidas implicitamente. O método dos elementos finitos adota soluções aproximadas ("trial functions") para as variáveis dependentes da seguinte forma (Huyakorn e Pinder, 1983) (8) As equações (5) e (8) formam um sistema acoplado de equações diferenciais parciais de 537 [ Ah ] { ψ } + [ Bh ] { T } +{ ch } +{ f hg } +{ f bh } = 0 (16) N T ≅ Tˆ = ∑ T j (t) N ej (x, z) (11) j=1 Devido à simplicidade e versatilidade, elementos triangulares são adotados na formulação numérica proposta. Foi realizada a verificação e validação do mesmo através de várias soluções analíticas e numéricas assim como uma solução experimental, cada uma aplicada à aspectos específicos do modelo. Em todos os casos, o algoritmo numérico convergiu para soluções que preservassem massa e energia térmica e seu desempenho não apresentou nenhuma instabilidade numérica (Nobre, 1991; Nobre e Thomson, 1993). N ψ ≅ ψˆ = ∑ψ j (t) N ej (x, z) (12) j=1 onde Nje(x,z) são funções de interpolação, ψj e Tj são os valores procurados das variáveis dependentes nos nós, N é o número de nós da malha de elementos finitos, e ψ e T são as soluções aproximadas. No processo de integração da equação do fluxo de umidade, obtém-se uma integral de resíduos ponderados ao longo de todo o domínio físico. Neste processo, os termos de derivadas de 2ª ordem são reduzidos à 1ª ordem através da aplicação do teorema de Green. A equação geral do fluxo de umidade resultante se apresenta como O modelo foi aplicado a um cenário hipotético típico de uma região de clima temperado e úmido. Uma simples representação da geometria de uma seção geológica, assim como das condições de contorno utilizadas está ilustrada na Figura 3. O arcabouço geológico é considerado homogêneo, isotrópico e nãoconfinado. Em todas as simulações realizadas, as condições de contorno ao longo da fronteira inferior do domínio físico assim como das fronteiras laterais permaneceram constantes. Ao longo da fronteira superior, as condições de contorno referentes à equação do fluxo de umidade e de calor foram estabelecidas de acordo com cada exemplo. Uma malha de elementos finitos contendo 3000 elementos triangulares e 1616 nós foi utilizada em todas as simulações realizadas neste trabalho. Dois solos de diferentes texturas foram escolhidos para uso nas simulações do modelo, sendo um constituído por um material siltoso (Ks = 5,74x10-7 m/s, onde Ks é a condutiviadade hidráulica saturada) e outro arenoso (Ks = 1,13x10-4 m/s). ∂θ M 1 N i dxdz + ∂t ρ l ∑∫ e 4. APLICAÇÕES DO MODELO Ae ∂ N j ∂ Ni ∂ N j ∂ Ni + ∑ψ j ∑ ∫ mψx + mψz ∂x ∂x ∂z ∂z j=1 e Ae N dxdz + ∂ N j ∂ Ni ∂ N j ∂ Ni + mT dxdz + ∂x ∂x ∂z ∂z j=1 e Ae qˆ ∂ ∑e ∫e mg ∂Nz i dxdz + ∫e ρmn N i dS e = 0 l A S N ∑ T ∑ ∫ m j T i=1,2,...N (13) ou pela equação do elemento ∑( a ψ n m ij j ) m m + bijm T j + cim + f gi + f bi = 0 j=1 i=1,2, ...n (14) onde qˆ m n é a distribuição normal do fluxo de umidade na fronteira, n é o número de nós do m elemento e as variáveis aijm, bijm, cim, f g i , e m f bi são definidas implicitamente. O índice m é referente à equação da umidade. A mesma metodologia é aplicada na integração da equação geral do fluxo de calor. As equações resultantes acopladas, em forma matricial, são dadas por 4.1 Simulação Transiente da Injeção de Água ou Lavagem de Solo A lavagem de solo como forma de remediação envolve o uso de injeções de água induzidas através da zona contaminada e consequente coleta do material dissolvido a jusante da zona infiltrada. O efluente extraído é tratado com tecnologias apropriadas na superfície (Nobre et al., 1998). [ Am ] { ψ } + [ Bm ] { T } +{ cm } +{ f mg } +{ f bm }= 0 (15) e 538 Figura 3. Malha de elementos finitos e condições de contorno (Nobre, 1991). Uma análise transiente com duração de 20 dias foi conduzida utilizando-se o material arenoso. Na fronteira superior do domínio, foi estabelecido um fluxo igual a qm/ρl = 9x10-7 m/s, ao longo de um trecho de 20 m, a fim de representar a zona de infiltração induzida (Figura 3). Um valor de T = 18oC, representativo de águas subterrâneas tratadas, foi atribuído ao líquido injetado. Nas porções remanescentes da fronteira superior, valores iguais a qm/ρl = 3,6x10-9 m/s e T = 22oC, foram especificados. As distribuições de carga hidráulica total e temperatura nos períodos de simulação iguais a 5 horas, 1 dia, 20 dias bem como em regime de fluxo permanente, estão apresentadas nas Figuras 4 a 7, respectivamente. Observa-se a frente de infiltração se movendo através da zona não-saturada bem como as variações simultâneas de temperatura. temperatura poderá ser gerada por qualquer uma das técnicas mencionadas neste trabalho. Independente da forma pela qual a fonte de calor é gerada, este exemplo tem como objetivo a análise dos impactos causados pela mesma no mecanismo de transferência de energia térmica e de umidade (água no estado líquido e de vapor) em solos. A fonte de calor adotada ocupa uma região de 10 m de largura por 2 m de altura (Figura 3), e é representada por uma condição de contorno do tipo Dirichlet, com um valor de temperatura igual a 80oC. As distribuições de temperatura para os períodos de simulação iguais a 1, 30, e 120 dias, e em regime de fluxo permanente estão apresentadas nas Figuras 8a,b,c,d, utilizando-se o material arenoso. Os resultados revelam que, nas simulações incluindo a fonte de calor, a distribuição de pressão e o fluxo de água nos estados líquido e vapor são afetados consideravelmente pelas altas temperaturas aplicadas ao solo. O fluxo de água no estado líquido, através da zona saturada, é cerca de 50% maior comparado com as mesmas simulações realizadas sem a fonte (Nobre e Thomson, 1993). O fluxo de vapor nas simulações com a fonte de calor é cerca de duas ordens de magnitude maior do que nas simulações não-isotérmicas em regime de fluxo permanente em regiões do subsolo próximas à fonte. 4.2 Simulação Acoplada do Fluxo de Umidade e Energia Térmica na Presença de uma Fonte de Calor A aplicação de uma fonte de calor na zona parcialmente saturada do subsolo se constitui em outro processo importante tanto no incremento da eficácia de lavagens de solo e de extração de vapor assim como em técnicas de bioremediação. Esta fonte de elevada 539 Figura 4 – Tempo de simulação: 5 horas Figura 5 – Tempo de simulação: 1 dia Figura 6 – Tempo de simulação: 20 dias Figura 7 – Regime de fluxo permanente Figuras 4, 5, 6 e 7: Distribuições de (a) carga total (cm) e (b) temperatura (oC) nos períodos de simulação iguais a 5 horas, 1 dia, 20 dias e em regime de fluxo permanente, respectivamente. águas subterrâneas e solos contaminados por NAPLs, sob o efeito de elevados gradientes de temperatura. Um modelo numérico bidimensional de simulação do fluxo de umidade e calor, em meios porosos parcialmente saturados, foi desenvolvido, testado e aplicado 5. CONCLUSÕES Este trabalho evidencia a importância da análise do fluxo de umidade em condições nãoisotérmicas. Seus resultados possibilitam uma melhor avaliação de processos de remediação de 540 zona saturada, os efeitos da viscosidade são as únicas causas da variação em K como função da temperatura. Desta forma, valores elevados de temperatura causam fluxos elevados da água no estado líquido. Em regiões úmidas do subsolo, a transferência de calor por condução e fluxo de água no estado líquido são os mecanismos predominantes relacionados com o transporte transiente de calor e umidade. Em regiões com menores teores de umidade na zona nãosaturada, contudo, a transferência de calor por condução e o fluxo de vapor se tornam os processos dominantes. Os efeitos dos gradientes de pressão transientes na dinâmica de transferência de energia térmica são pouco significativos. Por outro lado, gradientes de temperatura transientes têm uma influência significativa na distribuição de pressão no solo e no fluxo de água nos estados líquido e de vapor. Isto confirma a necessidade de análises não-isotérmicas no estudo do fluxo de umidade em meios porosos, e no entendimento dos processos térmicos que possam promover a eliminação da fase livre de NAPLs. para diversos cenários de simulação. No desenvolvimento do modelo matemático, foi empregada uma formulação mista das equações diferenciais parciais, onde o sistema de equações resultante foi resolvido, simultaneamente, para as variáveis dependentes do problema (i.e., pressão e temperatura). O algoritmo numérico foi verificado em diferentes situações, e mostrou-se estável na representação de processos acoplados de umidade e energia térmica (Nobre e Thomson, 1993). Foram apresentados os resultados de dois cenários hipotéticos, permitindo a elaboração de algumas conclusões práticas quanto à eliminação de contaminantes em meios porosos através de processos térmicos. Na zona não-saturada do subsolo, valores elevados de temperatura causam fluxos elevados de vapor d'água. O fluxo de água no estado líquido, no entanto, poderá aumentar ou diminuir dependendo da saturação do solo. Por exemplo, um incremento de T poderá causar um aumento ou diminuição do valor de K dependendo da influência maior da viscosidade (que favorece o aumento) ou umidade volumétrica (que favorece a diminuição). Na Figura 8. Distribuição da Temperatura (ºC) para o exemplo 2 (simulação com a fonte de calor) em (a) t=1 dia, (b) t=30 dias, (c) t=120 dias e (d) condição de fluxo permanente. 541 Hong, K.C. e Hsued, L. (1987). Comparison of K-value calculation methods in computational steamflood simulation. Soc. Petrol. Eng. J., p.249-257. Huyakorn, P.S. e Pinder, G.F. (1983). Computational Methods in Subsurface Flow. Academic Press, London, 473 p. Johnson, P.C., Stanley, C.C., Kemblowski, M.W., Byers, D.L. e Colthart, J.D. (1990). A practical approach to the design, operation, and monitoring of in situ soil-venting systems. Groundwater Monitoring Review,10(2), p.159-178. Marley, M.C., Kasevich, R. e Price, S.L. (1993). 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