NÍVEL DE INDEPENDÊNCIA EM ATIVIDADES DA VIDA DIÁRIA DE PACIENTES COM NECESSIDADE DE LOCOMOÇÃO AFETADA Suzana de Oliveira Mangueira1, Maria Joanna D’arc de Melo França2, Simara Lopes Cruz3, Jaqueline Galdino Albuquerque Perrelli4, Marcos Venícios de Oliveira Lopes5 Introdução: A limitação física pode se manifestar de forma súbita ou lentamente, conforme sua extensão e duração. É considerada um fator contribuinte para desencadear uma série de problemas de saúde, desde o déficit do autocuidado à interação social prejudicada, pode ainda agravar o curso clinico da doença de base e comprometer órgãos e sistemas corporais (¹). As principais complicações da imobilidade são alterações nos sistema cardiovascular, respiratório, digestório, geniturinário, pele e musculoesquelético(2). É responsabilidade da Enfermagem monitorar as funções fisiológicas para prevenir e detectar precocemente possíveis alterações. Para tanto, o enfermeiro deve utilizar instrumento apropriado para realizar o levantamento de dados do paciente e estabelecer o seu nível de independência, para que possa identificar a demanda de cuidado deste e planejar a assistência de enfermagem de modo adequado. Frente à importância que o tema assume para o trabalho do enfermeiro e ao considerar o grande número de pacientes com necessidade de locomoção afetada e o risco de desenvolverem problemas fisiológicos e psicossociais, bem como seu elevado grau de dependência, desenvolveu-se este estudo. Objetivo: Classificar o nível de independência em atividades da vida diária de pacientes com necessidade de locomoção afetada internados em uma unidade de clínica médica. Método: Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem quantitativa realizado em hospital da rede estadual do Estado de Pernambuco. A população do estudo foi composta por pacientes adultos com necessidade de locomoção afetada, com diagnóstico de enfermagem Deambulação prejudicada, internados na unidade de clínica médica, de ambos os sexos, no período de agosto a dezembro de 2012. O diagnóstico de enfermagem Deambulação prejudicada foi mensurado por meio da anamnese e exame físico. Durante o período de coleta de dados, foram hospitalizados 297 pacientes na unidade de clínica médica. Destes, 111 apresentavam necessidade de locomoção afetada. Foram excluídos os pacientes desorientados. Aceitaram participar da pesquisa 63 pacientes que compuseram a amostra do estudo. Como instrumento para a coleta de dados, foi utilizada a Escala de Independência em Atividades da Vida Diária (EIAVD) ou Escala de Katz(3). O instrumento é uma adaptação transcultural da EIAVD para a língua portuguesa, na qual os itens apresentaram consistência interna e taxas confiáveis, o que comprovou ser original a versão em inglês. A concordância corrigida para o acaso foi de 0,91 e o alfa de Chronbach variou de 0,80 a 0,92. Esse instrumento foi desenvolvido para a avaliação dos resultados de tratamento em idosos e consta de seis itens que medem o desempenho do individuo nas atividades de autocuidado de acordo com uma hierarquia de complexidade, são eles: alimentação, controle de esfíncteres, transferência, higiene pessoal, capacidade para vestir-se e tomar banho(3). O instrumento foi preenchido por meio da anamnese e exame físico do paciente. Os dados foram organizados em uma planilha do Microsoft Excel versão 2010 e analisados por meio de estatística descritiva. Foram observados os princípios éticos durante a realização do estudo, o qual foi submetido à apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição vinculada ao estudo e obteve aprovação com CAAE: 06324812.1.0000.5208 e nº 1 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFPB. Professora Assistente do Núcleo de Enfermagem da UFPE. Email: [email protected] 2 Enfermeira pela UFPE. 3 Fonoaudióloga. Mestre em Enfermagem pela UFPB. Professora Assistente do Núcleo de Enfermagem da UFPE. 4 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela UFPB. Professora Assistente do Núcleo de Enfermagem da UFPE. 5 Enfermeiro. Doutor em Enfermagem pela UFC. Professor Associado do Departamento de Enfermagem da UFC. 00951 do parecer: 140.904/2012. Resultados: A amostra foi composta por 63 pacientes, dos quais 36 (57,1%) pertenciam ao sexo masculino. A maioria tinha entre 61 e 80 anos (42,9%), era analfabeta (44,4%), viúva (36,5%), aposentada/pensionista (60,3%) e católica (66,7%). O diagnóstico médico Acidente Vascular Encefálico (AVE) (39,0%) foi o motivo de internação da maioria dos pacientes que compuseram a amostra. Quanto às doenças crônicas, 17,5% dos pacientes possuíam Diabetes melitus e 30,2% Hipertensão arterial sistêmica. A Escala de Independência em Atividades da Vida Diária (EIAVD) ou Escala de Katz permitiu identificar o nível de independência para a realização de atividades dentro das seis áreas de funcionamento: tomar banho, vestir-se, uso do vaso sanitário, transferência, continência e alimentação. Tal escala foi aplicada a todos os pacientes que participaram desse estudo e observou-se, em ordem decrecente, os seguintes níveis de dependência nas áreas de funcionamento: uso do vaso sanitário (96,8%), vestir-se e transferência (93,6%), tomar banho (84,1%), alimentação (73%) e continência (66,6%). Em relação ao Índice de Kats (IK), 60,3% dos pacientes da amostra eram dependentes em todas as 6 funções (IK-6), 14,3% era dependente em cinco funções (IK-5), 12,7% era dependente em quatro funções (IK-4), 4,8% era dependente em três funções (IK-3), 4,8% era dependente em duas funções (IK-2), 1,6% era dependente em uma função (IK-1) e apenas 1,6% era independente em todas as 6 funções. Em comparação com outras pesquisas na literatura, constatou-se que, em um estudo com o objetivo de identificar o nível de independência em atividades da vida diária em idosos institucionalizados em duas instituições de longa permanência de Itaúna-MG, verificou-se que 23% dos idosos eram independentes nas 6 funções, segundo o Índice de Katz (4). Outro estudo realizado com idosos residentes nas instituições da cidade de Taubaté-SP verificou que 37% podiam se considerados independentes(5). Não foram encontrados estudos que fizessem relação com pacientes hospitalizados com necessidade de locomoção afetada, apenas com idosos. Entretanto, destaca-se que a maioria dos pacientes que compuseram a amostra deste estudo é idosa (77,8%). Conclusão: O estudo avaliou o nível independência em atividades da vida diária de pacientes com necessidade de locomoção afetada e identificou que a maioria dos pacientes possuía dependência em todas as funções (tomar banho, vestir-se, uso do vaso sanitário, transferência, continência, alimentação), sendo a função uso do vaso sanitário a mais afetada. Implicações para a Enfermagem: Os pacientes com necessidade de locomoção afetada constituem o grupo mais dependente dos cuidados de enfermagem. A avaliação de suas reais necessidades e demanda de cuidados, por meio de instrumento validado permite ao enfermeiro o embasamento para a tomada de decisão e proporcionar a individualização do cuidado, por meio de ações que auxiliem na realização das atividades da vida diária, promovam o autocuidado e previnam complicações. Referências: 1. Costa AGS, Oliveira ARS, Alves FEC, Chaves DBR, Moreira RP, Araújo TL de. Diagnóstico de enfermagem: mobilidade física prejudicada em pacientes acometidos por acidente vascular encefálico. Rev. Esc. Enferm. USP. 2010;44(3):753-8. 2. Morais EM, Marino MCA, Santos RR. Principais síndromes geriátricas. Rev. Médica Minas. 2010;20(1):54-66. 3. Lino VTS et al Adaptação transcultural da Escala de Independência em Atividades da Vida Diária. Cad. Saúde Pública. 2008;24(1):103-12. 4. Lisboa CR, Chianca TCM. Perfil epidemiológico, clínico e de independência funcional de uma população idosa institucionalizada. Rev. Bras. Enferm. 2012;65(3):482-7. 5. Araújo MOPH, Ceolim MF. Avaliação do grau de independência de idosos residentes em instituições de longa permanência. Rev. Esc. Enferm. USP. 2007;41(3):378-85. Descritores: Enfermagem; Cuidados de Enfermagem; Locomoção. Área Temática: 5. Processo de Cuidar em Saúde e Enfermagem. 00952