Anna Christina Higino Rocha Alterações morfométricas na retina de

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Anna Christina Higino Rocha
Alterações morfométricas na retina de
camundongos C57BL/6 infectados com Toxoplasma
gondii e pesquisa de apoptose.
Belo Horizonte
Faculdade de Medicina da UFMG
2009
Anna Christina Higino Rocha
Alterações morfométricas na retina de
camundongos C57BL/6 infectados com Toxoplasma
gondii e pesquisa de apoptose.
Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação
em Medicina da Universidade Federal de Minas
Gerais como parte dos requisitos para obtenção do
título de Doutor.
Área de concentração: Oftalmologia
Orientador: Prof. Dr. Fernando Oréfice
Co-orientador: Prof. Dr. Anilton César Vasconcelos
Belo Horizonte
Faculdade de Medicina da UFMG
2009
R672a
Rocha, Anna Christina Higino.
Alterações morfométrica na retina de camundongos C57BL/6
infectados com Toxoplama gondii e pesquisa de apoptose [manuscrito].
/ Anna Christina Higino Rocha. - - Belo Horizonte: 2009.
96f.: il.
Orientador: Fernando Oréfice.
Co-orientador: Anilton César Vasconcelos.
Área de concentração: Oftalmologia.
Tese (doutorado): Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade
de Medicina.
1. Toxoplasmose Ocular. 2. Toxoplasma. 3. Apoptose. 4. Dissertações
Acadêmicas. I. Oréfice, Fernando. II. Vasconcelos, Anilton César. III.
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Medicina. IV. Título
NLM: WW 160
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Magnífico Reitor
Prof. Ronaldo Tadêu Pena
Pró-Reitor de Pós Graduação
Prof. Jaime Arturo Ramirez
Pró-Reitor de Pesquisa
Prof. Carlos Alberto Pereira Tavares
Diretor da Faculdade de Medicina
Prof. Francisco José Pena
Coordenador do Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina
Prof. Carlos Faria Santos Amaral
Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Cirurgia e à
Oftalmologia
Prof. Edson Samesima Tatsuo
Chefe
do
Departamento
de
Oftalmologia,
Fonoaudiologia
Profa. Ana Rosa Pimentel de Figueiredo
Otorrinolaringologia
e
Membros do colegiado do Curso de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à
Cirurgia e à Oftalmologia
Prof. Edson Samesima Tatsuo
Prof. Marcelo Dias Sanches
Prof. Alcino Lázaro da Silva
Prof. Márcio Bittar Nehemy
Prof. Marco Aurélio Lana Peixoto
Prof. Tarcizo Afonso Nunes
Representante discente: Denny Fabrício Magalhães Veloso
A Comissão Examinadora que assina abaixo___________________ a tese intitulada
"Alterações morfométricas na retina de camundongos C57BL/6 infectados com
Toxoplasma gondii e pesquisa de apoptose", apresentada e defendida, em
sessão pública, por Anna Christina Higino Rocha, para obtenção do Grau de
Doutor em Medicina, pelo Programa de Pós-Graduação em Oftalmologia de
Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.
____________________________
Prof. Fernando Oréfice
Orientador
Universidade Federal de Minas Gerais
_____________________________
Prof.Anilton César Vasconcelos
Co-orientador
Universidade Federal de Minas Gerais
_____________________________
Dr. Roberto Carlos Tedesco
Instituto Oswaldo Cruz /Fundação Oswaldo Cruz
_____________________________
Prof. Carlos Eduardo Hirata
Universidade de São Paulo
_____________________________
Prof. Wesley Ribeiro Campos
Universidade Federal de Minas Gerais
_____________________________
Dra. Cynthia Azeredo Cordeiro
Suplentes:
__________________________
Dra. Célia Aparecida de Andrade Araújo
__________________________
Dr. Roberto Martins Gonçalves
Belo Horizonte, de 28 de agosto de 2009
"O começo de todas as ciências é o espanto de as coisas serem o que são".
Aristóteles
Aos meus pais, Nice e João, exemplos que norteiam a minha vida.
Aos meus irmãos, pela força e companheirismo.
Ao meu marido, George, minha eterna fonte de motivação e incentivos.
E aos meus filhos, Igor, Samuel e Livia, que fazem tudo valer à pena.
AGRADECIMENTOS
À equipe do IOC/FIOCRUZ – Dra. Kátia Calabrese, Dra. Celeste, Dr. Luiz, Dai,
Meriele, Leandro, Mari, Lu, Alan – pela fundamental contribuição e pelo carinho com que
me receberam. Em especial ao Dr. Roberto Carlos Tedesco, uma pessoa amiga, sempre
pronta a ajudar, um cientista brilhante, um exemplo a ser seguido. Sem sua iluminada
presença esse trabalho não seria possível.
À equipe do Laboratório de Apoptose, Profa. Luciana, Laís, Francisco, Núbia,
Rafael, Camila, Eloísa. Em especial ao Prof. Anilton, meu co-orientador, pelo carinho,
apoio e paciência, Bárbara Laurice Araújo Verçosa e Soraia Silva pela ajuda inestimável.
Ao meu orientador Prof. Fernando Oréfice pela dedicação e competência.
Ao Dr. Miguel Houri Neto pela inestimável ajuda com a análise estatística dos
dados.
Especial também é o meu agradecimento ao Prof. Wesley Ribeiro Campos e à Dra.
Danuza de Oliveira Machado, que além de profissionais excepcionais, se mostraram muito
generosos e amigos ao me ajudarem com o projeto.
À querida Maria Bernadete S. Inocêncio, a Bê, pelo valioso apoio nas horas de
angústia. Também à Adriana e à Denimara, sempre presentes e solícitas.
À Alda, Flávia, Thaís, Dra. Célia, Dr. Sidney, Dra. Silvana, Daniel Victor, Mário,
Fernanda, Adriana, Gustavo, Roberto, Leandro, Dra. Alba e todos os colegas do setor de
uveítes e do São Geraldo.
Ao Dr. Breno Lino, um exemplo de cultura e dedicação.
À Rosemary, pela presença constante e amiga.
A toda minha família, amigos e colegas de trabalho que tornaram essa pesquisa
possível.
A todos vocês muito obrigada.
RESUMO
Objetivos. Demonstrar a utilidade da morfometria digital e analizar a apoptose em
retina
de
camundongos
C57BL/6
infectados
com
Toxoplasma
gondii.
Métodos. Vinte camundongos C57BL/6 fêmeas foram divididos em: grupo 1 (n= 8)
infectado intraperitonealmente com 30 cistos da cepa ME 49 de T.gondii e grupo 2
(n=
12),
o
controle,
foi
submetido
a
injeção
de
solução
salina
0,9%
intraperitonealmente. Os olhos dos animais dos dois grupos foram enucleados no
sexagésimo dia após a infecção, fixados e processados para microscopia de luz.
Mudanças na espessura da retina e na razão perímetro/área (P/A) das camadas da
retina foram analizadas através da morfometria digital.
Resultados. Em camundongos infectados, a retina mostrou aumento de espessura
(167,8 ± 24,9 μm versus 121.1 ± 15.4 μm, nos controles) e espessura retiniana
aumentada nos focos de retinite (187.7 ± 16.6 µm versus 147.9 ± 12.2 µm fora dos
focos de retinite). Foi observada diferença estatisticamente significativa entre a P/A
da retina de infectados e não infectados, bem como nas camadas de fotoreceptores,
plexiforme externa, nuclear interna e células glanglionares + fibras nervosas
(consideradas como camada única). A reação de TUNEL mostrou células marcadas
no corpo vítreo, na interface vitreorretiniana e nas várias camadas da retina
neurossensorial dos animais infectados, mas principalmente na região perivascular,
coincidindo com a localização das células inflamatórias. No grupo controle não foram
observadas células marcadas pela reação de TUNEL.
Conclusão. Morfometria pode ser usada para demonstrar diferença entre retina de
animais infectados e não infectados. Apoptose foi encontrada na retina de
camundongos infectados.
ABSTRACT
Purpose. To demonstrate the usefulness of digital morphometry and analyze
apoptosis in retina of C57BL/6 mice infected with Toxoplasma gondii.
Methods. Twenty C57BL/6 female mice were divided in two groups. Group 1 (n=8),
was intraperitoneally infected with 30 cysts of T. gondii ME 49 strain and group 2
(n=12), the control, was subjected to injection of saline 0.9% intraperitoneally. The
eyes of mices of both groups were enucleated on the 60th day after infection, fixed
and processed for light microscopy. Changes in retinal thickness and the
perimeter/area ratio (P/A) of the retinal layers were analyzed by digital morphometry.
The TUNEL reaction was performed to research apoptosis.
Results. In infected mice, retina showed increased thickness (167.8 ± 24.9 µm
versus 121.1 ± 15.4 µm, in controls) and increased retina thickness within the retinitis
foci (187.7 ± 16.6 µm versus 147.9 ± 12.2 µm out of the retinitis foci). A statistically
significant difference in P/A was observed between infected and uninfected mice
retina as well as was observed in photoreceptor layer, outer plexiform layer, inner
nuclear layer and ganglionar + nerve fiber layer. In infected mice, apoptotic cells
were detected by TUNEL in the vitreous, vitreous-retina interface and various
neurosensorial retina layers, but especially in perivascular region, the same place
where inflammatory cells were found. In the control group, apoptotic cells were not
observed by TUNEL.
Conclusions. Retinal measurements may be used to demonstrate differences
between infected and uninfected mice retina. Apoptosis was found in infected mouse
retina.
LISTAS DE FIGURAS
Figura 1 – Morfologia da apoptose ............................................................................43
Figura 2 – Espessura da retina no foco de retinite.....................................................56
Figura 3 – Relação P/A..............................................................................................57
Figura 4 – Olho normal...............................................................................................61
Figura 5 – Cisto de Toxoplasma gondii......................................................................62
Figura 6 – Vasculite retiniana e retinite......................................................................62
Figura 7 – Migração de células pigmentadas.............................................................63
Figura 8 – Desorganização da arquitetura da retina..................................................63
Figura 9 – Desenho experimental da análise estatística dos dados da relação
P/A da retina e suas camadas...................................................................69
Figura 10 – Análise de variância dos dados de anfractuosidade da retina e suas
camadas....................................................................................................69
Figura 11 – Retina de animais não infectados submetida à reação de TUNEL.........70
Figura 12 – Retina de animais infectados marcada por TUNEL ...............................71
LISTA DE TABELAS
1 – Estatística simples para a variável contínua espessura da retina........................64
2 – Estatística simples para a variável espessura da retina em animais
infectados para cada posição..............................................................................64
3 – Comparação entre as médias da variável espessura da retina para cada
posição em animais infectados e não infectados.................................................65
4 – Médias da espessura da retina de animais infectados para cada posição e
considerando se a medida foi feita em um foco de retinite ou não.......................65
5 – Correlações paramétricas de Pearson para espessura da retina em cada posição
de medida.............................................................................................................65
6 – Comparação entre as médias de espessura em cada posição de medida em
animais não infectados.........................................................................................66
7 – Comparação entre as médias de espessura medida no foco e fora do foco de
retinite em animais infectados...............................................................................66
8 – Comparação entre as médias de espessura em cada posição de medida em
Indivíduos infectados............................................................................................66
9 – Estatística simples para a variável P/A da retina e suas camadas......................67
10 – Estatística com quebras para a variável P/A, quebra: infecção.........................68
11 – Testes de normalidade e homocedasticidade da P/A da retina por inteiro........68
12 – Comparação entre o status de infecção para o mesmo local de medida da
P/A......................................................................................................................70
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Apaf-1
Apoptosis activating factor 1 – fator ativador de apoptose 1
APC
Antigen-presenting cell – célula apresentadora de antígenos
CASPASE
Cysteine aspartate cleaving enzime – proteases cisteínicas de ácido
aspártico
CETEA
Comitê de Ética em Experimentação Animal da UFMG
CEUA
Comissão de Ética no Uso de Animais da Fundação Oswaldo Cruz
CECAL
Centro de Criação de Animais de Laboratório do Instituto Oswaldo
Cruz
CFR
Camada de fotorreceptores
CGFN
Camada de células ganglionares e de fibras nervosas
CMV
Citomegalovírus
CNE
Camada nuclear externa
CNI
Camada nuclear interna
CPE
Camada plexiforme externa
CPI
Camada plexiforme interna
CTL
Célula T CD8+ efetora citotóxica ou citolítica
DAB
Diaminobenzidina
DNA
Deoxyribonucleic Acid – Ácido Desoxirribonucleico
DR
Descolamento de retina
EPR
Epitélio pigmentar da retina
FADD
Fas-associated death domain – domínio de morte associado ao Fas
Fas
APO1 ou CD95 (Cluster differentiation 95)
Fas L
Ligante do receptor Fas
FIOCRUZ
Fundação Oswaldo Cruz
FR
Fotorreceptores
GM-CSF
granulocyte-colony-stimulating fator – fator estimulador de colônia de
Granulócito
HE
Hematoxilina e eosina
HLA
Human leucocyte antigens – antígenos leucocitários humanos
H2O2
Peróxido de hidrogênio
ICB/UFMG
Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas
Gerais
Ig
Imunoglobulina
IL
Interleucina
INF-γ
Interferon gama
iNOS
Enzima óxido nítrico sintetase
IP
Intraperitoneal
NK
Natural-killer cell – células natural killers
PARP
Poly (ADP-ribose) polymerase
RCST
Retinocoroidite supostamente toxoplásmica
PBS
Phosphate Buffered Saline – tampão de salina fosfatada
SAEG
Sistema de Análise Estatística, versão 9.1, 2007, Universidade Federal
de Viçosa, Viçosa, MG
SAS
Statistical Analysis System, versão 8.0, SAS Institute, Cary, NC, EUA
STATA/SE
Statistics/Data Analysis, versão 10.0, College Station, Texas, EUA
TCPN
Toxoplasmose congênita pós natal
TCR
T Cell Receptor – receptor de célula T
TdT
Terminal deoxynucleotidyl Transferase – transferase terminal de
Desoxinucleotídeo
Th
Linfócitos T auxiliares (helper), ou padrão de resposta imunológica
TNF-α
Tumor Necrosis Factor-α – fator de necrose tumoral alfa
TRADD
TNF receptor apoptotic death domine – receptor TNF-α de morte por
apoptose
TRAIL
TNF related apoptosis inducer ligand - ligante indutor da apoptose
relacionado ao TNF
TUNEL
Terminal deoxynucleotidyl Transferase Urydine Nick End Labeling –
Marcação in situ da fragmentação do genoma com transferase
terminal de desoxinucleotídeo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................19
REVISÃO DA LITERATURA......................................................................................23
1 Histórico...........................................................................................................24
2 O Toxoplasma gondii.......................................................................................25
3 A Toxoplasmose..............................................................................................28
3.1
Epidemiologia........................................................................................28
3.2
Resposta imune ao Toxoplasma gondii................................................30
3.2.1 Imunidade Inata.................................................................................30
3.2.2 Imunidade Celular..............................................................................30
3.2.3 Imunidade Humoral............................................................................32
3.3
Apresentação clínica.............................................................................33
3.4
Patologia...............................................................................................35
3.4.1 Toxoplasmose ocular.........................................................................36
3.4.2 Toxoplasmose ocular no modelo experimental..................................38
4 Apoptose..........................................................................................................41
4.1
Apoptose na toxoplasmose...................................................................47
4.2
Apoptose na toxoplasmose ocular........................................................49
OBJETIVOS...............................................................................................................50
MATERIAIS E MÉTODOS..........................................................................................52
1 Animais............................................................................................................53
2 Parasitas..........................................................................................................53
2.1
Isolamento e purificação dos cistos......................................................53
3 Infecção...........................................................................................................54
4 Processamento das amostras.........................................................................54
5 Morfometria......................................................................................................55
5.1
Mensuração da espessura da retina.....................................................55
5.2
Relação perímetro/área da retina..........................................................56
5.3
Análise estatística.................................................................................57
6 Reação de TUNEL...........................................................................................58
RESULTADOS...........................................................................................................60
1 Descrição da morfologia do olho normal (grupo controle)...............................61
2 Análise dos olhos dos camundongos infectados pelo T.gondii.......................61
3 Morfometria......................................................................................................64
3.1
Espessura da retina..............................................................................64
3.2
Relação perímetro/área da retina e suas camadas..............................67
4 Pesquisa de Apoptose.....................................................................................70
DISCUSSÃO..............................................................................................................73
CONCLUSÕES..........................................................................................................78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................80
ANEXOS.....................................................................................................................94
INTRODUÇÃO
20
O Toxoplasma gondii é um dos mais bem sucedidos parasitas protozoários,
estabelecendo infecções agudas e crônicas em praticamente todos os animais de
sangue quente (TENTER et al., 2000). Em humanos saudáveis, a infecção é
assintomática em 70% dos casos. Em contraste, em indivíduos imunossuprimidos,
tais como portadores da SIDA e pacientes em uso de quimioterápicos ou
imunossupressores, a toxoplasmose aguda causa uma infecção potencialmente letal
(REMINGTON & McLEOD, 1992; TENTER et al., 2000). Além disso, a toxoplasmose
congênita pode causar dano fetal grave, podendo culminar em aborto espontâneo
(PETERSEN et al., 2001).
O T. gondii é um parasita intracelular obrigatório e por isso é totalmente
depende da formação de um nicho dentro da célula infectada onde possa replicarse, adquirir nutrientes e neutralizar as defesas do hospedeiro (SINAI e JOINER,
1997).
Apesar da relativa eficiência da imunidade celular, essencial na atividade
antiparasitária, o hospedeiro não é capaz de se livrar da infecção. Vários fatores
contribuem para a habilidade do parasita em estabelecer e manter uma infecção
persistente em hospedeiros imunocompetentes, incluindo alterações na apoptose de
populações específicas de células hospedeiras (HEUSSLER et al., 2001).
A apoptose exerce, além do seu papel essencial durante o desenvolvimento e
homeostase de organismos multicelulares, um papel crítico na regulação da
resposta hospedeira durante infecção por vírus, bactérias e protozoários
intracelulares (WILLIAMS, 1994; LILES, 1997). A fim de facilitar sua disseminação
ou sobrevivência, os patógenos intracelulares desenvolvem diversas estratégias
para induzir ou inibir a apoptose de células parasitadas e não parasitadas e modular
a resposta imune do hospedeiro (LÜDER et al., 2001).
Populações específicas de células imunológicas não parasitadas são
induzidas à apoptose pelo T. gondii (LÜDER & GROSS, 2005). A apoptose das
células do sistema imune leva à redução da resposta imunológica e da atividade
antiparasitária beneficiando o parasita. Essa modulação na imunidade leva também
a diminuição da resposta inflamatória e consequentemente a diminuição do dano
tecidual, beneficiando também o hospedeiro.
21
Já nas células parasitadas, o T. gondii inibe a apoptose (GOEBEL et al.,
1998; NASH et al., 1998; GOEBEL et al., 1999; GOEBEL et al., 2001), o que evita
sua destruição junto com a célula parasitada. Essa inibição parece ser importante
tanto na fase aguda quanto na fase crônica da toxoplasmose (HEUSSLER et al.,
2001).
Apesar de vários estudos mostrarem a importância da apoptose no
estabelecimento da interação parasita-hospedeiro, pouco se sabe a respeito da
apoptose no olho durante a infecção pelo T. gondii. SHEN et al. (2001)
demonstraram que os olhos de camundongos tipo selvagem não infectados
expressam constitucionalmente níveis mais altos de moléculas pró-apoptóticas que o
cérebro e que a apoptose é mais frequente no olho que no cérebro durante a
infecção via intraperitoneal. Nesse trabalho, os autores também sugerem que a
apoptose no olho não é dependente do Fas e seu ligante. O Fas, também conhecido
como APO1 ou CD95 (Cluster differentiation 95), é um receptor frequentemente
expresso na membrana de células do sistema imune e relaciona-se com a
deflagração da apoptose quando se liga ao Fas-L (ligante do Fas). Apesar de
demonstrarem também aumento da frequência de apoptose no olho durante a
toxoplasmose, HU et al. (1999) sugeriram que Fas e Fas-L poderiam ser importantes
na deflagração da apoptose no olho durante a infecção intracameral pelo T. gondii,
resultado que pode ter sido influenciado pelo trauma ocular provocado pela via de
infecção utilizada. Os dois trabalhos estudaram o olho em fases precoces da
infecção (do primeiro ao 14o dia após a infecção), diferente desta tese que estuda a
fase crônica (60º dia após infecção).
Como observado em outras doenças parasitárias, a patologia da infecção
pelo T. gondii resulta da interação entre parasita e hospedeiro. Uma vez que os
modelos experimentais geralmente são diferentes, com variações na cepa do
animal, na via de infecção, na cepa do Toxoplasma utilizada para a infecção, nas
condições da cultura e mesmo no número de passagens do parasita (ZENNER et al.,
1998), os resultados obtidos por diferentes laboratórios não são facilmente
comparáveis.
E, ainda que as condições do experimento sejam similares, as
descrições da histopatologia da toxoplasmose fornecem dados subjetivos, que
podem variar entre os examinadores. A morfometria digital permite a obtenção de
22
dados
objetivos
(numéricos)
virtualmente
eliminando
a
variabilidade
entre
examinadores e facilitando a comparação entre os diversos trabalhos na área.
A retinocoroidite supostamente toxoplásmica (RCST) é a mais importante
causa de uveíte posterior em humanos em várias partes do mundo (HOLLAND,
2003) e o padrão ouro para seu diagnóstico é a presença de placa de retinocoroidite
satélite a uma cicatriz (sinal de recidiva), ocorrências da fase crônica da infecção.
Em virtude do exposto, o foco deste trabalho é a fase crônica da infecção (60º
dia após a inoculação) e teve como objetivos pesquisar a apoptose e descrever as
alterações
morfométricas
na
retina
de
intraperitonealmente pelo Toxoplasma gondii.
camundongos
C57BL/6
infectados
23
REVISÃO DA LITERATURA
24
1
Histórico do Toxoplasma gondii
O Toxoplasma gondii foi descoberto no Brasil por ALPHONSO SPLENDORE
(1908), ao estudar a morte de coelhos por paralisia. O autor necropsiou vários
animais e encontrou corpúsculos parasitários císticos, que inoculados em cães
reproduziram a doença. O parasita recebeu o nome de Toxoplasma cuniculi, na
ocasião. Simultaneamente, NICOLLE e MANCEAUX (1908) em Tunis, identificaram
o parasita num roedor (Ctenodactylus gondii) originário do norte da África,
identificando-o como Leishmania gondii. Em 1909, estes autores constataram que se
tratava de novo protozoário e modificaram o nome para Toxoplasma, derivado do
grego toxon, que significa “arco”, uma alusão à forma do parasita (revisto em Oréfice
e Bahia, 2005).
O primeiro caso humano da toxoplasmose foi descrito pelo oftalmologista
JANKU (1923), na Tchecoslováquia, ao necropsiar uma criança falecida em
decorrência de uma doença disseminada grave, com hidrocefalia, microftalmia e
coloboma na região macular. O oftalmologista evidenciou os parasitas na retina da
criança, mas não os reconheceu como Toxoplasma gondii, o que foi feito
retrospectivamente por LEVADITI em 1928. Segundo ORÉFICE e BAHIA-OLIVEIRA
(2005), o primeiro caso de toxoplasmose no Brasil foi descrito por MAGARINOS
TORRES (1927) que descreveu o parasita em necrópsia de um paciente com
meningoencefalite, miocardite e miosite. O primeiro registro fotográfico foi realizado
por BELFORT MATTOS em 1933.
Em 1937 a toxoplasmose ganhou impacto na medicina com o trabalho de
WOLF e COWEN que reconheceram o T. gondii como um agente de encefalite em
recém-nascidos. Dois anos depois foi descrito um caso fatal de um lactente com
encefalite granulomatosa (WOLF et al., 1939). Estes autores também realizaram a
primeira transmissão experimental da toxoplasmose do humano para animais.
HUTCHISON (1965) foi o primeiro a descrever o papel do gato no ciclo
evolutivo do parasita e a mostrar que este animal elimina o T. gondii pelas fezes. A
verdadeira origem do parasita, entretanto, só foi esclarecida quando FRENKEL et al.
(1970), nos EUA, descreveram a fase assexuada do T. gondii no intestino delgado
25
do gato doméstico. A descoberta de que o gato é o hospedeiro definitivo do T. gondii
proporcionou a oportunidade de se estabelecer estratégias de prevenção da
infecção, especialmente em mulheres grávidas.
PINKERTON e WEINMAN (1940) descreveram um caso fatal da doença
adquirida, mostrando que o T. gondii pode ser causa de doença adquirida no adulto.
Em 1942, após a análise de um caso de toxoplasmose infantil, PAIGE et al.
descreveram a transmissão vertical do T. gondii.
Somente após a introdução de um teste utilizando azul de metileno (dye test),
para a detecção de anticorpos anti-T. gondii em humanos, por SABIN e FELDMAN
(1948), foi possível diagnosticar a doença laboratorialmente e possibilitou a
realização de investigações epidemiológicas.
A associação do T. gondii com a retinocoroidite em humanos foi feita por
WILDER em 1952. WEIMANN e CHANDLER (1954) levantaram a hipótese de que a
transmissão horizontal em humanos poderia ocorrer através da presença de cistos
em carne mal cozida.
2
O Toxoplasma gondii
Classificação taxonômica: Reino: Protista; Subreino: Protozoa; Filo:
Apicomplexa; Classe: Sporozoa; Subclasse: Coccidia; Ordem: Eucoccidia;
Subordem: Eumeriina; Família: Sarcocystidae; Subfamília: Toxoplasmatine;
Gênero: Toxoplasma.
O Filo Apicomplexa engloba os parasitas intracelulares obrigatórios que
infectam quase todos os animais homeotérmicos. O gênero Toxoplasma é formado
pela única espécie T. gondii.
Esse parasita apresenta três formas: esporozoíta, taquizoíta e bradizoíta,
todas elas infectivas tanto para o hospedeiro intermediário quanto para o definitivo.
26
Taquizoíta (tachys = rápido) é a forma que se multiplica rapidamente
(FRENKEL, 1973a), capaz de invadir ativamente qualquer célula nucleada do
hospedeiro e de multiplicar-se em vacuólos citoplasmáticos (vacúolos parasitóforos).
Foi a primeira a ser descrita e sua forma de arco deu nome ao gênero. É intracelular
obrigatória e mede cerca de 6 µm de comprimento por 2 m de largura. (DUBEY et
al., 1998). É a principal forma na fase aguda da infecção, mas pode ser encontrada
na reativação da fase crônica (LUFT, 1989). Multiplica-se por endodiogenia, um
processo através do qual duas células filhas se desenvolvem dentro de uma célula
mãe (FRENKEL, 1973b). A célula hospedeira rompe-se em determinado momento,
liberando os parasitas que alcançarão os diversos órgãos, transportados por
macrófagos, linfócitos e granulócitos. As formas taquizoítas são frágeis e não
sobrevivem ao suco gástrico (LUFT, 1989; revisto em DUBEY et al., 1998).
Bradizoíta (brady = lento) é a forma de multiplicação lenta (FRENKEL,
1973a). É mais delgada e mede cerca de 7 µm de comprimento por 1.5 m de
largura. O bradizoíta pode ser encontrado no interior dos cistos teciduais, cujo
tamanho varia de 10-100 µm. Cistos grandes podem conter até 3000 bradizoítas que
se dividem lentamente por endodiogenia (revisto em DUBEY et al., 1998). Os cistos
teciduais são característicos da fase crônica da toxoplasmose, mas podem
ocasionalmente ser encontrados na fase inicial da infecção (começam a se formar
entre o sexto e o oitavo dia de infecção). Em estados de imunossupressão, os cistos
teciduais se rompem e os parasitas se proliferam rapidamente. Os cistos teciduais
representam uma importante forma de transmissão da toxoplasmose já que
persistem ao longo da vida nos tecidos dos animais infectados e podem ser
ingeridos por carnívoros, incluindo os humanos. Esta forma é resistente à digestão
péptica e sobrevive várias horas após a exposição às enzimas digestivas (DUBEY et
al.,1998). Após a ingestão, a parede do cisto é rompida liberando bradizoítas viáveis,
capazes de invadir o trato digestivo do hospedeiro (revisto em ORÉFICE & BAHIA,
2005).
O esporozoíta mede cerca de 8 m de comprimento por 2 m de largura. São
encontrados no interior dos oocistos maduros. Os oocistos são ovóides, com
aproximadamente 10 a 12 µm de diâmetro e formados somente nos intestinos dos
felinos, de onde são eliminados com as fezes, ainda imaturos. Tornam-se
27
esporulados entre o segundo e o vigésimo primeiro dia após a eliminação,
dependendo da cepa e das condições do ambiente. O oocisto esporulado contém
oito esporozoítas e é a forma madura e infectante do oocisto, que sob condições
favoráveis, pode permanecer infectivo por mais de um ano (revisto em ORÉFICE &
BAHIA, 2005). A ingestão de alimentos ou água contaminados com oocistos é
provavelmente uma das principais formas de infecção dos herbívoros e humanos.
O T. gondii é um parasita com um ciclo de vida heteroxênico facultativo, que
tem sido isolado de animais herbívoros, carnívoros e onívoros. Entretanto, somente
nos felídeos (hospedeiros definitivos) o parasita pode completar seu ciclo de vida e
produzir oocistos. Os gatos podem ser considerados hospedeiros completos desse
parasita já que apresentam o ciclo extra-intestinal ou tecidual (fase assexuada) e o
enteroepitelial (fase sexuada). Os demais animais mantêm apenas a fase assexuada
(LUFT, 1989; TENTER et al., 2000).
A fase sexuada é iniciada quando um felídeo ingere oocistos ou tecidos
infectados com cisto. Após a digestão gástrica, os parasitas (esporozoítas ou
bradizoítas) invadem as células epiteliais do intestino delgado e inciam o ciclo
enteroepitelial (DUBEY et al., 1970; FRENKEL, 1973b) culminando na eliminação de
oocistos nas fezes.
A fase assexuada inicia-se quando o hospedeiro suscetível ingere oocisto ou
cisto tecidual, a partir dos quais os parasitas são liberados no estômago. No epitélio
intestinal, os parasitas (esporozoítas ou bradizoítas) diferenciam-se em taquizoítas e
multiplicam-se rapidamente. Após uma infecção aguda caracterizada pela
disseminação dos parasitas pelo corpo, cistos teciduais são formados como
resultado da diferenciação das formas taquizoítas em bradizoítas.
As fases sexuadas e assexuadas do ciclo de vida são potencialmente
independentes. Particularmente, a fase assexuada pode circular infinitamente entre
os hospedeiros intermediários.
A infecção pelo parasita pode ocorrer: 1- através da ingestão água e
alimentos contaminados com oocistos (transmissão horizontal) (BENESON et al.,
1982; BOWIE et al., 1997); 2- através da ingestão de cistos presentes em carne mal
28
cozida (transmissão horizontal) (DUBEY,1989); ou 3- através da transmissão
transplacentária de formas taquizoítas (transmissão vertical) (DESMONTS,1985).
Outras formas de infecção têm sido descritas, tais como através do leite
materno, transfusões de sangue e hemoderivados; acidentes de laboratório e
transplantes de órgãos (SACKS et al., 1982). Além disso, moscas, formigas, baratas
e minhocas podem servir de meio de disseminação (DUBEY, 1998; BUXTON, 1990).
3
A toxoplasmose
Apesar de a infecção ser muito comum, a doença é rara em humanos, já que
no indivíduo imunocompetente a infecção é geralmente assintomática (REMINGTON
et al., 2001). A infecção pelo T. gondii varia de acordo com a forma de infecção, com
a cepa do parasita, com a espécie do hospedeiro e, entre os indivíduos da mesma
espécie, com os fatores genéticos e imunológicos (OLLE, 1994; SUZUKI et al., 1995;
SIBLEY & HOWE, 1996; WILLIAMS et al., 1978).
Os hospedeiros podem ser classificados em sensíveis ou resistentes. Fazem
parte dos resistentes os humanos e ratos, enquanto que os camundongos, hamsters
e cobaios podem desenvolver uma toxoplasmose aguda fatal, pertencendo ao grupo
dos sensíveis (DARCY & ZENNER, 1993).
3.1
Epidemiologia
A toxoplasmose é amplamente difundida pelo mundo. Estima-se que a
infecção ocorre em 13% a 50% da população mundial (JONES et al., 2001). A
prevalência da soropositividade para a toxoplasmose varia amplamente no mundo,
dependendo dos hábitos alimentares, higiene e clima (RHOTOVA, 2003). Assim, alta
soropositividade para T. gondii é encontrada em países como a França, onde comer
carne crua ou mal cozida é comum e em áreas tropicais da América Latina, onde os
29
gatos são abundantes e o clima favorece a sobrevivência de oocistos (JONES et al.,
2001). Nos EUA, a soropositividade encontrada pelo terceiro National Health
Nutrition Examination Survey, realizado entre 1988-1994, foi de 23% do total de
17658 pessoas avaliadas (RHOTOVA, 2003).
No Brasil, os estudos mostram a prevalência sorológica para o T. gondii
variando entre 50 e 83% da população. Mas no município de Erechim-RS, SILVEIRA
et al. (1988) encontraram soropositividade em aproximadamente 98% das crianças
de 10 a 15 anos de idade.
Em relação ao acometimento ocular, a toxoplasmose é considerada a causa
mais comum de uveíte posterior em várias partes do mundo, incluindo América do
Norte, América do Sul e Europa (HOLLAND, 2003). No Brasil, FERNANDES e
ORÉFICE (1996) em um estudo realizado em Belo Horizonte (MG), no período de
1970 a 1993, descreveram que a toxoplasmose foi considerada a principal causa de
uveíte, correspodendo a 43,1% dos 7680 casos estudados. Esses mesmos autores
demonstraram ainda que a retinocoroidite supostamente toxoplásmica (RCST)
representou 72% de um total de 1955 uveítes posteriores.
A prevalência do envolvimento ocular na toxoplasmose adquirida não está
bem estabelecida, mas estudos sugerem que o envolvimento ocular raramente
ocorre (ROTHOVA et al., 1986). FERNANDES e ORÉFICE (1996) descreveram que
de um total de 405 pacientes com retinocoroidite ativa, 5,4% apresentavam IgM
positivo para toxoplasmose. NOGUEIRA et al. (1996) encontraram retinocoroidite
unilateral em 1 a 2% dos casos humanos da toxoplasmose adquirida. Todavia, tem
sido observado que a incidência de toxoplasmose ocular adquirida pode ser alta,
dependendo da área geográfica de ocorrência da doença. Segundo SILVEIRA et al.
(1987), de 75 famílias estudadas na cidade de Erechim (RS), 15 (20%)
apresentavam mais de um irmão não gêmeo acometido, sendo que em uma das
famílias oito irmãos apresentavam doença ocular. Acredita-se que nessa população
a RCST decorrente da infecção adquirida seja tão frequente quanto a manifestação
ocular tardia da toxoplasmose congênita (MARTINS et al., 1990). PETERSEN et al.
(2001) também estudaram essa prevalência atípica da toxoplasmose ocular no sul
do Brasil.
30
3.2
Resposta Imune ao Toxoplasma Gondii
3.2.1
Imunidade Inata
A ativação das células natural-killer (NK), dos macrófagos e das células
dendríticas pelo T. gondii é importante para a resistência inespecífica que representa
a primeira linha de defesa contra a replicação irrestrita do parasita. Além da
atividade antiparasitária, essas células são importantes para ativação da imunidade
específica através da apresentação de antígenos e da produção de interleucinas e
citocinas.
As células dendríticas são as mais eficientes apresentadoras de antígenos
(APC: antigen-presenting cell), expressando moléculas dos antígenos leucocitários
humanos (HLA: human leucocyte antigens) classes I e II (HART, 1997).
Os macrófagos apresentam apenas HLA classe II, mas secretam mediadores
pró-inflamatórios como interferon-gama (INF-), fator de necrose tumoral alfa (TNF),
fator
estimulador
de
colônias
de
granulócitos-macrófagos
(GM-CSF),
interleucina-12 (IL-12) e interleucina-15 (IL-15).
As células NK, que derivam da linhagem linfocitária e tem função citotóxica,
secretam citocinas (especialmente o INF-) ajudando a unir as respostas inata e
antígeno-específica (BLIS et al., 1999). Antes da ativação da imunidade adaptativa,
as células NK são muito importantes para a contenção da infecção, exercendo
função efetora independente de células T (SHER, 1993; HUNTER et al., 1994).
3.2.2
Imunidade celular
A imunidade mediada por células é essencial para a atividade antiparasitária
(GAZZINELLI et al., 1993). Assim, a transferência de soro de camundongos
31
cronicamente infectados pelo T.gondii não protege outros camundongos não
infectados de uma infecção primária. Além disso, camundongos com supressão na
produção de linfócitos B, responsáveis pela imunidade humoral, conseguem
controlar a infecção primária pelo parasita (REYES & FRENKEL, 1987).
Experimentalmente foi observado que camundongos atímicos (que não possuem
células T) não são capazes de desenvolver uma resistência contra o T. gondii.
Entretanto, após a transferência dessas células, uma imunidade protetora contra
essa infecção foi observada (FRENKEL & TAYLOR, 1982).
As células T originadas no timo são responsáveis pela imunidade celular com
a função de destruição e lise das células parasitadas (HAYNES & HEINLY, 1995).
Infecções experimentais em camundongos mostram que células T CD4+ e CD8+
são necessárias para evitar a multiplicação parasitária descontrolada (SUZUKI &
REMINGTON, 1988; GAZZINELLI et al., 1992). Os linfócitos T CD4+ h (auxiliares ou
helper) são necessários para a geração de células T CD8+ efetoras citotóxicas
(CTL) capazes de lisar células-alvo infectadas (GAZZINELLI et al., 1991). Dessa
interação formam-se células de memória, tanto para as células T CD4+ quanto para
as T CD8+. Enquanto o linfócito T CD8+ parece representar a célula efetora mais
importante contra o T. gondii, o linfócito T CD4+ cumpre importante função
regulatória (DENKER & GAZZINELLI, 1998).
O T. gondii induz rapidamente a uma resposta imune do tipo 1 mediada por
linfócitos T, o que limita a infecção e garante a sobrevivência do hospedeiro (YAP &
SHER, 1999). O parasita estimula os macrófagos e as células NK a produzirem IFN, um potente inibidor da diferenciação dos linfócitos T CD4+ em T CD4+ T helper 2
(Th2). Além disso, a IL-12 produzida pelos macrófagos promove a diferenciação dos
linfócitos T CD4+ em T CD4+ Th1. A replicação dos taquizoítas é progressivamente
restrita pela liberação de interferon gama (INF) pelos linfócitos T (PFEFFERKORN,
1984; HALONEN et al., 2001).
A subpopulação de linfócitos T CD4+ Th1 é capaz de inibir, através da
produção de citocinas, a diferenciação e o crescimento das células e da produção de
citocinas específicas da subpopulação de linfócitos T CD4+ Th2 e vice-versa. As
células T CD4+ do tipo Th são uma fonte importante na produção de IFN e IL-12,
durante a infecção pelo T. gondii (DENKERS et al., 1993). A eliminação dessas
32
células leva a um aumento na multiplicação do parasita nos tecidos. Contudo,
camundongos com depleção de células T CD4+ sobrevivem à infecção pelo T.
gondii devido à redução da resposta inflamatória (apesar de que alguns destes
camundongos sucumbem mais tarde devido a infecção), enquanto os camundongos
normais não depletados podem morrer precocemente com uma inflamação
hiperimune. Mais recentemente, tem sido descrito que células não-T também estão
envolvidas na produção de IFN- no cérebro de camundongos (KANG & SUZUKI,
2001). O fator solúvel mais importante na regulação da resposta imune na
toxoplasmose é o IFN-. Sua produção após a infecção pelo taquizoíta pode resultar
na imunossupressão transitória do hospedeiro, permitindo que o parasita se
estabeleça durante a infecção aguda (CHANNON & KASPER, 1996).
Para limitar a replicação dos taquizoítas, a resposta imune do hospedeiro age
paradoxalmente promovendo a sobrevivência do T. gondii através da indução da
diferenciação de formas taquizoítas para bradizoítas, as quais podem persistir por
toda a vida do hospedeiro.
O T. gondii desenvolve várias estratégias para escapar do sistema imune do
hospedeiro: 1) invade, persiste e cresce em diferentes tipos celulares, incluindo
macrófagos não ativados; 2) suprime as defesas do hospedeiro através da
regulação da produção de fatores solúveis como o IFN-; 3) desfaz a ligação de
imunoglobulinas da sua superfície (LUFT, 1989; CHANNON & KASPER, 1996;
ROZENFELD et al., 2003) e 4) interfere nos mecanismos de apoptose das células
hospedeiras infectadas e não infectadas (LÜDER et al., 2001; HEUSSLER et al.,
2001).
3.2.3
Imunidade humoral
O T. gondii também induz a uma imunidade humoral nos indivíduos infectados
(SHER et al., 1995; TAYLOR et al., 1997; LI et al., 2000). A infecção pelo T.gondii
estimula a produção de anticorpos do tipo IgM, IgG, IgA e IgE. Os anticorpos atuam
nos taquizoítas extracelulares liberados após a lise de uma célula infectada. Esses
33
anticorpos limitam a replicação do parasita, promovendo a lise do taquizoíta através
da ativação da via do complemento e também através da opsonização dos parasitas
e do aumento da ação fagocitária dos macrofágos (FILISETTI & CANDOLFI, 2004).
Esses mecanismos não oferecem proteção contra parasitas intracelulares, mas
anticorpos como IgA secretor podem interferir com a interação inicial do parasita
com as células hospedeiras das mucosas (ROBERTS & MCLEOD, 1999).
Na prática clínica, a presença de anticorpos do tipo IgM é considerada como
marcador da fase aguda, pois são os primeiros a serem secretados (já na primeira
semana de infecção), atingindo níveis elevados em poucas semanas e então
reduzindo-se bruscamente até desaparecer. No entanto, em virtude da melhora na
sensibilidade dos testes laboratoriais, é relativamente frequente que baixos níveis de
IgM residual sejam detectados após a fase aguda. Os níveis de IgG surgem ao final
da primeira semana de infecção, ascendem rapidamente e persistem ao longo da
vida. Em gestantes com IgM positivo, nas quais é imprescindível que seja
determinado se a infecção é recente, com o objetivo de avaliar o risco de infecção
fetal, podem ser usados o teste de avidez do IgG, pesquisa de IgA e IgE. (revisto em
ORÉFICE & BAHIA, 2005).
3.3
Apresentação clínica
A infecção pelo T. gondii pode ser dividida nas fases aguda, subaguda e
crônica (PINKERTON et al., 1940; KRICK et al., 1989).
A toxoplasmose aguda se caracteriza pela rápida multiplicação do parasita e
sua disseminação por via hematogênica ou linfática e ocorre nos primeiros 8 a 12
dias pós-infecção. A fase aguda é geralmente subclínica no adulto imunocompetente
(70% dos casos), manifestando-se de forma semelhante a um estado gripal,
frequentemente não valorizado e não relatado pelo paciente. Em 30% dos casos é
sintomática, manifestando-se com linfadenopatia, pneumonia, encefalite e doença
ocular. Esta fase raramente é diagnosticada pela detecção do parasita nos fluídos
corpóreos, tecidos ou secreções. O método mais comum de diagnóstico é a
34
detecção de anticorpos IgM. Sua presença é considerada como marcador da fase
aguda.
A transmissão do T. gondii da mãe para o feto ocorre em 30 a 40 % dos
casos e varia de acordo com a idade gestacional em que acontece a infecção aguda
(DESMONTS et al., 1985). Quanto maior a idade gestacional, maior a chance de
infecção fetal, porém menor a gravidade da doença congênita. A infecção congênita
pode apresentar-se no recém nato como: 1) infecção subclínica com cicatrizes de
retinocoroidite, calcificações intracranianas e outros sinais que podem passar
despercebidos; 2) doença neonatal que apresenta sinais clínicos bem evidentes ao
nascimento como icterícia, exatema, petéquias, equimoses, febre ou hipotermia e
sinais neurológicos como a tétrade de Sabin: hidrocefalia e/ou microcefalia,
calcificações intracranianas, retinocoroidite e retardo mental, ou 3) doença pós-natal
em que a criança nasce aparentemente saudável e desenvolve sintomas dias,
meses ou anos após o nascimento. A fase subaguda é mais frequente na forma
congênita.
Uma
vez
diagnosticada
toxoplasmose
aguda
em
gestante,
é
imprescindível a identificação da infecção intrauterina pelo T. gondii. O teste de
polimerase em cadeia (PCR) do líquido aminiótico tem sido utilizado por ser mais
sensível, mais seguro e com resultados mais rápidos do que os exames feitos com o
sangue do feto. Entretanto, resultados falso-positivos ou falso-negativos também
podem ocorrer no PCR (GUY ET al., 1996; FOULON et al., 1999).
O início da fase crônica é marcado pelo aparecimento dos bradizoítas,
momento em que o parasita passa a se replicar lentamente. Cistos teciduais
parecem ser “invisíveis” para o hospedeiro uma vez que existe pouca ou nenhuma
evidência de processo inflamatório ao redor do cisto (STRITTMATTER et al., 1992).
Nesse estágio o parasita mantém a infecção ao longo da vida do hospedeiro. A
manifestação clínica mais comum na fase crônica é a retinocoroidite, que ocorre em
70% a 90% das crianças infectadas verticalmente e em 2 a 30% dos pacientes
infectados horizontalmente (GILBERT & STANFORD, 2000). A retinocoroidite
supostamente toxoplásmica (RCST) tem um caráter recidivante, sendo a recorrência
mais frequente no primeiro ano após o episódio inicial (HOLLAND, 2003a). Estudo
recente demonstrou que 79% dos pacientes acompanhados por mais de cinco anos
tiveram recorrência da doença, e esta foi mais frequente no olho acometido
previamente. (BOSCH-DRIESSEN et al., 2002).
35
3.4
Patologia
A liberação dos taquizoítas resulta em destruição tecidual, decorrente da
ruptura das células parasitadas. As células infectadas também sofrem a ação da
resposta inflamatória do hospedeiro. Tais eventos compõem a patologia observada
nos tecidos (KIERSZENBAUM, 1994; HOFF & CARRUTHERS, 2002). Não se sabe
ainda se o T. gondii produz toxinas citolíticas. Contudo, a destruição tecidual
também não parece ser decorrente da apoptose, uma vez que o parasita induz a
célula parasitada a um estado anti-apoptótico (GOEBEL et al., 1998) e inibe a
apoptose de células do sistema imune, o que diminui a inflamação.
Como observado em outras doenças parasitárias, a patologia da infecção
pelo T. gondii resulta da interação entre fatores do parasita (cepa, tamanho do
inóculo, via de infecção, etc) e do hospedeiro (idade, estado nutricional e
imunológico,
fatores
genéticos,
etc).
Isso
explica
o
amplo
espectro
da
patogenicidade, desde uma infecção inaparente até uma doença aguda fatal, com
muitas situações intermediárias (DARCY & ZENNER, 1993).
A infecção pelo T. gondii em humanos é muito comum. Em pacientes
imunocompetentes é geralmente assintomática, resultado de uma imunidade
duradoura contra a doença. Na fase crônica da toxoplasmose apenas a presença de
anticorpos é notada e os cistos persistem ao longo da vida do hospedeiro em
diferentes tecidos, na maioria das vezes sem provocar sintomas (DARCY &
ZENNER, 1993). Torna-se sintomática apenas naqueles pacientes que apresentam
RCST.
A toxoplasmose ganhou maior destaque na medicina como uma das mais
importantes
infecções
oportunistas
após
o
surgimento
da
síndrome
da
imunodeficiência adquirida (SIDA). A encefalite causada pelo T. gondii era
observada em 40% dos pacientes com SIDA (antes do advento do tratamento
antirretroviral) e era fatal em 10-30% dos casos (LUFT & REMINGTON, 1988; LUFT
& REMINGTON 1992; LUFT & CHUA, 2000). A encefalite toxoplásmica e a
36
toxoplasmose
disseminada
têm
sido
observadas
em
pacientes
com
imunodeficiências por várias causas, tais como doença de Hodgkin ou terapia
imunossupressiva para outras doenças (HO-YEN, 1992).
3.4.1
Toxoplasmose ocular
A retinicoroidite supostamente toxoplásmica (RCST) é a causa mais comum
de uveíte posterior em várias partes do mundo, incluindo regiões da Europa e
Américas do Norte e do Sul (HOLLAND, 2003). A prevalência da doença ocular em
pacientes infectados pelo T. gondii ainda não está bem estabelecida, mas sabe-se
que o envolvimento ocular é mais frequente e mais grave em neonatos e adultos
imunocomprometidos (BOSCH-DRIESSEN et al., 2002; SMITH & CUNNINGHAM,
2002; HOVAKIMYAN & CUNNINGHAM, 2002). A transmissão transplacentária ou
congênita da toxoplasmose foi a primeira a ser conhecida como causadora das
lesões em humanos. Entretanto, a importância da toxoplasmose congênita como
causa da doença ocular passou a ser reconhecida a partir dos trabalhos de WILDER
(1952) e PERKINS (1973). Estes autores mostraram que 70% das infecções
congênitas levarão à formação de cicatrizes corioretinianas, dados confirmados por
METS et al. (1997). A prevalência da doença ocular na toxoplasmose adquirida é
incerta (WILSON et al., 1980; KOPPE & ROTHOVA, 1989) devido a dificuldade do
diagnóstico diferencial com a toxoplasmose congênita pós-natal de aparecimento
tardio (TCPN). A RCST é encontrada em 2 a 30% dos pacientes com toxoplasmose
adquirida segundo GILBERT & STANFORDT (2000). GLASNER et al. (1992),
estudando uma população do sul do Brasil, observaram prevalência pouco usual de
toxoplasmose ocular e sugeriram que a inflamação congênita é uma improvável
causa para a alta prevalência.
A manifestação ocular típica da toxoplasmose consiste em uma retinocoroidite
focal necrosante, acompanhada de reação vítrea, frequentemente associada a uma
lesão satélite (sinal de recorrência). As lesões satélites foram observadas em 80%
dos casos em uma série de 154 pacientes (BOSCH-DRIESSEN et al., 2002).
37
Manifestações atípicas incluem lesões extensas, eventualmente múltiplas
e/ou bilaterais, forma punctata externa, neurorretinite, neurite, forma pseudomúltipla,
esclerite e vitreíte sem lesão focal aparente (ORÉFICE &BAHIA, 2005; BOSCHDRIESSEN et al., 2002; SMITH & CUNNINGHAM, 2002; HOVAKIMYAN &
CUNNINGHAM, 2002; LABALLETTE et al., 2002).
A toxoplasmose ocular ativa apresenta-se como um foco bem definido de
necrose coagulativa na retina, com a presença de um infiltrado inflamatório difuso na
retina e na coróide. A resposta imune à infecção pelo T. gondii no olho é menos
conhecida. Essa resposta tende a ser mediada por linfócitos T CD8+ e
freqüentemente por uma classe do linfócito T CD4+ Th1. A indução dessa resposta
imune depende de fatores que incluem a expressão intraocular do ligante do Fas
(Fas L) ou CD-95, membro da família TNF, que pode promover a depleção de
linfócitos T ativados no olho. Isto ocorre por apoptose após a interação das
moléculas de Fas das células do infiltrado com moléculas de Fas L expressas nas
células do parênquima do olho. Além disso, mesmo em circunstâncias normais, o
fluido intraocular contém citocinas como o fator de crescimento e transformação beta
(TGF) e outros mediadores que têm propriedades imunossupressivas (ROBERTS &
McLEOD, 1999).
Lesões oculares graves, extensas e bilaterais caracterizam-se por edema da
retina e diversos graus de inflamação envolvendo as áreas necrosadas. A coróide
apresenta alterações vasculares, hemorragias, infiltrados inflamatórios e edema.
Pode ocorrer neurite óptica. Células mononucleares contendo parasitas são
abundantes na retina e as zonas cicatriciais aparecem como áreas bem delimitadas
de atrofia da coróide e da retina (HUTCHINSON et al., 1982). As lesões cicatrizam
de forma centrípeta e as bordas desta cicatriz, que podem apresentar cistos, às
vezes se apresentam hiperpigmentadas (ROBERTS & McLEOD, 1999). Também
podem ocorrer microftalmo, nistagmo, estrabismo, irite e/ou atrofia óptica
(HUTCHINSON et al., 1982).
Várias teorias têm sido levantadas sobre a patogênese da toxoplasmose
ocular recorrente, tais como: 1) rompimento dos cistos com liberação dos
organismos vivos, que poderão infectar novas células; 2) rompimento de cistos com
liberação
de
antígenos
de
Toxoplasma,
resultando
numa
reação
de
38
hipersensibilidade e 3) rompimento de cistos com liberação de organismos invasivos
e antígenos.
A aparência das lesões oculares nos pacientes com SIDA (frequentemente
extensas, graves e algumas vezes multifocais e/ou bilaterais) pode ser confundida
com retinite necrosante viral causada por herpes simples, varicela zoster ou
citomegalovírus (CMV). O diagnóstico diferencial é feito, às vezes, através de prova
terapêutica, sendo que a toxoplasmose ocular responde rapidamente às terapias
com perimetamina e sulfadiazina ou outras terapias antiparasitárias alternativas
(HOLLAND, 1988), enquanto a retinite viral responde às medicações antivirais.
3.4.2
Toxoplasmose ocular no modelo experimental
O modelo experimental é muito importante para estudar aspectos da doença
que por motivos éticos seriam impossíveis de serem estudados em humanos, além
de apresentar a vantagem da possibilidade de controle das condições do
experimento (linhagem do hospedeiro, cepa do parasita, tamanho do inóculo, via de
infecção e outras), o que não ocorre na infecção natural. Como observado em outras
doenças parasitárias, a patologia da infecção pelo T. gondii resulta da interação
entre fatores do parasita e do hospedeiro. Assim, os resultados obtidos por
diferentes laboratórios dificilmente são comparáveis, uma vez que os modelos
experimentais geralmente não são idênticos, já que há variações do animal
hospedeiro, via de infecção, cepa do Toxoplasma utilizada para a infecção,
condições da cultura, e mesmo no número de passagens do parasita (ZENNER et
al., 1998).
O primeiro a produzir um modelo experimental de toxoplasmose foi HOGAN
(1951) usando coelhos infectados com taquizoítas inoculados na carótida causando
uma
retinocoroidite
aguda.
FRENKEL
(1953)
infectou
hamsters
por
via
intraperitoneal com a cepa EK (sublimado da cepa RH) de T. gondii e demonstrou o
desenvolvimento de retinite e irite, caracterizadas pela necrose e exsudato
mononuclear, durante a fase crônica da infecção. JACOBS et al. (1954) e
39
BEVERLEY et al. (1954) descreveram independentemente o surgimento da
toxoplasmose ocular após uma injeção de parasitas na câmara anterior dos olhos de
coelhos. BEVERLEY (1961) mostrou infiltração coroidiana e presença de cistos de
Toxoplasma em todos os tecidos da úvea de coelhos inoculados com T. gondii na
câmara anterior. GARWEG (1998), utilizando a inoculação intravítrea de taquizoítas
da cepa BK (avirulenta) em coelhos, observou o desenvolvimento de retinocoroidite
e infiltrado inflamatório no vítreo, além de descolamento de retina e catarata que
foram
consideradas
como
complicações
da
via
intravítrea.
O
coelho
é
freqüentemente escolhido como modelo experimental por se tratar de animal
susceptível e com olhos grandes o suficiente para uma boa oftalmoscopia, diferente
de animais de menor porte (NOZIK & O’CONNOR, 1971).
Um estudo sobre oftalmite toxoplásmica em animais concluíu que a
ocorrência do T. gondii é mais comum na coróide e no corpo ciliar do que na retina,
na maioria dos animais, inclusive nos gatos (PIPER et al., 1970). Os componentes
celulares das lesões intraoculares consistiam principalmente de macrófagos,
linfócitos e alguns plasmócitos, observados principalmente ao redor dos vasos.
PAVESIO et al. (1995) utilizaram o hamster inoculado via intraperitoneal com
cistos da cepa ME 49 de T. gondii e encontraram retinocoroidite em ambos os olhos
de todos os animais em fotografias do fundo de olho. O exame histopatológico dos
olhos mostrou cistos e lesões na retina.
Um modelo animal de pequeno porte é necessário para estudos controlados e
de larga escala, para pesquisa do desenvolvimento, progressão e resolução da
toxoplasmose ocular em resposta aos vários tratamentos. Estudos no modelo murino
têm sido amplamente utilizados devido a maior facilidade de obtenção dos animais,
especialmente
quando
são
utilizados
animais
mutantes,
o
que
ocorre
frequentemente em experimentos na área de imunologia.
O olho do camundongo, bem como do humano, é composto por três túnicas:
túnica externa (esclera, limbo e córnea), túnica média ou úvea (íris, corpo ciliar e
coróide) e túnica interna (retina)
A retina é composta por 10 camadas paralelas: 1) epitélio pigmentar da retina
(EPR), composto por uma camada de células cubóides, densamente pigmentadas
40
(melanina); 2) camada de fotorreceptores, que contém o segmento externo dos
fotorreceptores (FR) sensível à luz; 3) membrana limitante externa, uma linha tênue,
acelular, de coloração rósea à coloração por HE e que separa as camadas de FR e
a camada nuclear externa; 4) camada nuclear externa, formada pelos núcleos dos
FR; 5) camada plexiforme externa, onde ocorrem as sinapses entre os FR e as
células bipolares e horizontais; 6) camada nuclear interna, composta pelas células
bipolares, horizontais, amácrinas e células gliais de Müller; 7) camada plexiforme
interna, região onde ocorrem as sinapses entre as células bipolares, as ganglionares
e as amácrinas; 8) camada de células ganglionares; 9) camada de fibras nervosas e
10) membrana limitante interna, que não é vista neste cortes. Nas camadas internas
(de 6 a 10) estão localizados os vasos da retina, formados por endotélio tênue.
DUTTON & HAY (1983) evidenciaram em olhos de camundongos
congênitamente infectados uma destruição tecidual que variou de pequena a total
com calcificação distrófica. Entretanto, alguns camundongos não apresentaram
nenhuma anormalidade.
TEDESCO et al. (2005) demonstraram que camundongos C57BL/6
submetidos à instilação conjuntival de 5 x 103 bradizoítas da cepa ME 49 de T. gondii
desenvolvem toxoplasmose ocular progressiva semelhante a que ocorre nos
camundongos infectados por injeção intra-vítrea, porém sem as lesões no cristalino
e retina decorrentes desta última via de inoculação.
Experimentos com o modelo murino indicam o INF como a citocina crucial
para resistência contra o T. gondii (GAZZINELLI et al., 1994; GRAVILESCU &
DENKERS, 2001). Estudos mostram que o TNF-α exerce ação sinérgica com o INF
na defesa contra o T. gondii (GAZZINELLI et al., 1994). IL-10 age regulando
negativamente a produção de INF em camundongos C57BL/6 e BALB/c, sendo
importante para o equilíbrio entre a imunidade protetora e o controle da inflamação
(SUZUKI et al., 2000). MARX-CHEMLA et al. (1993) demonstraram que parasitas
passam para a câmara anterior através da circulação do humor aquoso onde
também são encontrados anticorpos anti-T. gondii. Infecções experimentais em
camundongos mostram que células T CD8+ e CD4+ são necessários para evitar a
multiplicação parasitária irrestrita, demonstrando a importância da imunidade celular
no controle da infecção (GAZINELLI et al., 1992). CALABRESE et al. (2007)
41
compararam o nível sérico e na câmara anterior de diversas citocinas durante a
infecção pelo T. gondii em camundongos C57BL/6. Apesar dos muitos estudos na
área, os mecanismos imunes que controlam a toxoplasmose ocular ainda não estão
totalmente claros.
4
Apoptose
Do ponto de vista morfológico e bioquímico, a apoptose é uma forma distinta
de morte celular, geneticamente programada, que elimina células indesejadas
(supérfluas ou defeituosas) (LÜDER et al., 2001). É filogeneticamente antiga,
presente em todos os organismos multicelulares (GAVRILESCU LC & DENKERS,
2003a). É um processo ativo, dependente de energia, com controle intrínseco,
influenciado por fatores externos.
KERR et al. (1972), foi quem primeiro descreveu a apoptose como forma
distinta de morte celular, e propôs o termo apoptosis (originado do grego) para
denominá-la. O termo significa “queda” ou “separação” e foi utilizado em analogia à
queda das folhas das árvores no outono, uma alusão ao papel da apoptose como
reguladora da população celular (CUMMINGS et al., 1997).
Vários aspectos diferenciam a apoptose da necrose: 1) a apoptose é um
processo ativo, que necessita de energia e é caracterizada por uma cascata de
eventos bioquímicos decorrente da ativação e expressão de genes específicos e
síntese de proteínas; 2) na apoptose não há extravazamento de conteúdo celular
para o interstício e consequentemente não há inflamação e danos às células
vizinhas e 3) enquanto a necrose envolve grupos de células, a apoptose é um
processo que afeta a célula individualmente (WILLIE et al., 1980; SEARLE et al.,
1982).
WILLIE et al. (1980) descreveram morfologicamente a apoptose. Inicialmente
a célula em apoptose perde o contato com as células vizinhas (anoiquia – FIG 1A)
deixando um halo ao seu redor, o núcleo apresenta condensação da cromatina junto
da membrana nuclear formando figuras crescentes (FIG 1C), ocorre condensação do
42
citoplasma e aparecem protuberâncias na superfície externa da célula (zeiose – FIG
1B, C e D). As organelas tornam-se compactas, mas permanecem estruturalmente
intactas. Ocorre a fragmentação nuclear (FIG 1E) e a formação dos corpos
apoptóticos a partir das protuberâncias na superfície celular (FIG 1F). Alguns corpos
apoptóticos contêm mais de um fragmento nuclear enquanto que outros contêm
apenas elementos citoplasmáticos (SEARLE et al., 1982).
Os corpos apoptóticos são rapidamente fagocitados por células vizinhas (FIG
1G), bem como por macrófagos, monócitos, células epiteliais, endotélio vascular e
células tumorais. A apoptose é um processo que está continuamente acontecendo,
mas é raramente observada em animais saudáveis, pois as células apoptóticas são
potentes gatilhos da fagocitose e, deste modo, são rapidamente removidas do meio.
A eversão da fosfatidilserina (um fosfolípide presente na supefície interna da
membrana celular de vertebrados) através da ação das flipases é um importante
sinalizador para que corpos apoptóticos e/ou células em apoptose sejam fagocitadas
(MARTIN et al., 1995; HACKER, 2000). Outros receptores moleculares, dentre estes
moléculas da família das citoadesinas, estão também relacionados com a
sinalização para fagocitose específica da apoptose.
A apoptose pode ser desencadeada por meio de três vias principais em
resposta a estímulos externos ou internos: 1) junção de um ligante ao seu receptor
de morte na superfície da célula – via do receptor de morte (TIBBETTS et al.; 2003);
2) liberação do citocromo C da mitocôndria para o citosol – via mitocondrial (GREEN
& REED, 1998) ou 3) liberação de granzima por células NK e CTL – via grânulosdependente (LIEBERMAN, 2003).
43
FIGURA 1 – Morfologia da apoptose:
A) Anoiquia; B) Zeiose; C) Condensação da cromatina, formando crescentes; D) Condensação da cromatina,
formando o “buraco negro”; E) Fragmentação do núcleo; F) Corpúsculos apoptóticos; G) Canibalismo celular.
Na via extrínseca, ocorre a sinalização do meio extracelular para o intracelular
através de receptores de morte na superfície, como o Fas produzido pelas células do
sistema imune que se liga à molécula ligante Fas L. Pode acontecer também pela
ativação da super família dos receptores do fator de necrose tumoral alfa (TNF R1,
TNF R2), pelo seu ligante TNF-α ou pela ligação dos receptores do ligante indutor da
apoptose relacionado ao TNF (TRAIL R1, TRAIL R2) ao seu ligante TRAIL. O
receptor, após ser ativado pelo seu ligante, trimeriza-se e sua porção citoplasmática
se liga a uma proteína adaptada. Essa proteína pode ser a TRADD (TNF receptor
apoptotic death domine) no caso do TNF-α, ou a FADD (Fas-associated death
domain) no caso do Fas (GAVRILESCU & DENKERS, 2003a). Ocorre então a
ativação da cascata enzimática intracelular envolvendo “proteases de cisteína
aspartato-específicas” ou “cisteíno-proteases” conhecidas como caspases. As
caspases são encontradas como proenzimas em células não estimuladas. Durante a
ativação, um prodomínio N-terminal de 3 a 24 kDa é clivado, e a enzima
remanescente é dividida em uma subunidade maior (17 a 21 kDa) e uma menor (10
a 13 kDa), que juntas formam a molécula ativa. Inicialmente são ativadas as
caspases iniciadoras (caspases 8 e 10) que irão por sua vez clivar a procaspase 3
transformando-a em sua forma ativa, a caspase 3. A caspase 3 (caspase efetora)
irá promover os eventos que culminarão com a morte celular (NICHOLSON, 1999).
A via intrínseca da apoptose ou a via mitocondrial ocorre devido ao aumento
da permealidade da membrana mitocondrial ao citocromo C, induzido por irradiação
44
gama ou ultravioleta, agentes tóxicos, estresse celular, radicais livres ou falta de
fator de crescimento (GREEN & REED, 1998). O citocromo C é normalmente
encontrado no espaço entre as membranas externa e interna da mitocôndria, e
quando liberado para o citoplasma liga-se a Apaf-1 (apoptosis activating factor 1)
que na presença de ATP ativa a caspase iniciadora 9 (GREEN & REED, 1998). A
caspase iniciadora 9 ativa a caspase 3 e toda a via a jusante desencadeando a
apoptose. A mudança de potencial da membrana mitocondrial e a liberação do
citocromo C são regulados pelas proteínas da família Bcl-2 encontradas na
membrana externa da mitocôndria, algumas com função anti-apoptótica (Bcl-2, Bcl-xl
ou Mcl-1) e outras pró-apoptótica (Bax, Bak ou Bik), são encontradas na membrana
externa da mitocôndria (ADAMS & CORY, 1998). Segundo JOZA (2001), a via
mitocondrial pode ocorrer também através da ativação do fator indutor da apoptose
(AIF), que localiza-se entre as membranas interna e externa da mitocôndria e é
liberado para o citoplasma após os sinais de morte. O AIF age independentemente
das caspases, uma vez que alcança o núcleo e interage diretamente com o DNA,
causando
condensação
e
fragmentação
deste,
através
da
ativação
de
endonucleases (GESKE & GERSCHENSON, 2001).
A via grânulo-dependente é o meio efetor através do qual linfócitos T
citotóxicos (CTL) e células NK eliminam células-alvo infectadas. O mecanismo
envolve a introdução de granzima produzida pelas CTL e células NK, através de
uma proteína com função de poro, a perfurina. As granzimas saltam o esquema
convencional de ativação da cascata das caspases e ativa diretamente as caspases
iniciadora 10 e efetoras 3 e 7 (THORNBERRY et al., 1997). A granzima pode
também clivar diretamente fatores intranucleares, resultando em apoptose caspaseindependente. Além disso, pode levar a liberação do citocromo C, ativando a via
mitocondrial.
As três vias convergem para a ativação da caspase 3, que por sua vez ativa
as caspases efetoras 6 e 7. A ativação das caspases efetoras 3, 6 e 7 resulta na
clivagem de várias proteínas-alvo com função estrutural e regulatória no citosol e no
núcleo, deste modo resultando em desmantelamento celular (THORNBERRY &
LAZEBNIK, 1998). A poli (ADP-ribose) polimerase – PARP – é uma proteína nuclear
envolvida nos mecanismos de reparo do DNA, sobrevivência celular, proliferação e
diferenciação. A PARP representa um dos alvos principais das caspases efetoras 3,
45
6 e 7. A detecção através do Western Blot, de fragmentos da PARP é amplamente
utilizada para revelar a apoptose em células, tecidos e órgãos (GOEBEL et al.,
2001).
Outras enzimas importantes participam da apoptose: 1) a endonuclease
endógena, presente no núcleo celular, é ativada pelos íons cálcio e magnésio e atua
promovendo a fragmentação internucleossômica do DNA formando fragmentos de
180 a 200 pares de bases (ARENDS et al., 1991); 2) a transglutaminase promove a
ligação cruzada entre proteínas citoplasmáticas e membrana celular, tendo como
principal finalidade manter a integridade da membrana celular durante a formação
dos corpos apoptóticos, impedindo a liberação do conteúdo intracelular para o
interstício (ARENDS et al., 1991); 3) a enzima flipase fornece energia e promove a
eversão da fosfatidilserina, facilitando o reconhecimento dos corpos apoptóticos
pelos fagócitos. As caspases também atuam na eversão da fosfatidilserina
(MARTIN, 1995; HACKER, 2000).
A apoptose participa de processos fisiológicos e patológicos. Dentre os
primeiros, podemos destacar sua participação: 1) na embriogênese onde é utilizada
como forma de suprimir estruturas embrionárias vestigiais (como na involução
genital durante a diferenciação sexual de mamíferos) ou como meio de alcançar a
forma adulta futura do organismo (como na formação dos dedos da mão humana
onde as células que estão nos espaços interdigitais sofrem apoptose); 2) na
renovação celular onde atua eliminando células indesejadas abrindo espaço para as
células novas, assim promove o controle da população celular, ação contrária a da
mitose (MEIER et al., 2000); 3) na regulação e funcionamento do sistema imune
onde atua eliminando os linfócitos auto-reativos durante a diferenciação linfocitária e
descartando os linfócitos antígenos-específicos no final de uma resposta imune
(BAUMANN et al., 2002) e 4) como mecanismo efetor através do qual linfócitos T e
células NK eliminam células-alvo infectadas na imunidade inata e adaptativa contra
patógenos intracelulares (WILLIAMS, 1994; LILES, 1997). A apoptose pode ser
considerada como importante marcador de resolução de inflamação e parece ser um
dos principais responsáveis pelo privilégio imunológico no olho, cérebro e gônadas
(FERGUSON & GRIFFITH, 2007).
46
Dentre os estados patológicos podemos destacar aqueles decorrentes do
aumento da apoptose, como as doenças degenerativas, ou da diminuição da
apoptose, como as doenças expansivas ((GAVRILESCU LC & DENKERS, 2003 a).
A apoptose exerce também um papel crítico na regulação da resposta hospedeira
durante infecção por vírus, bactérias e protozoários intracelulares (WILLIAMS, 1994;
LILES, 1997). A apoptose também está envolvida na patogenia de várias doenças
oculares tais como retinose pigmentar, glaucoma, uveítes, catarata e doenças da
retina (FERGUSON & GRIFFITH, 2007).
No cristalino, normalmente a diferenciação celular é acompanhada de
degeneração nuclear (MODAK et al., 1969, MODAK et al., 1970), similar à
degradação oligonucleossomal (APPLEBY & MODAK, 1977) frequentemente
descrita na apoptose (WILLIE et al., 1980). Apesar das mudanças, as células do
cristalino persistem ao longo da vida do indivíduo, enquanto que as células
apoptóticas são, normalmente, potentes gatilhos para fagocitose. Diferentemente
também do que ocorre nas células apoptóticas que morrem randomicamente, a
diferenciação das fibras cristalinianas seguem um padrão altamente ordenado de
progressão temporal. Nos pacientes com catarata, no entanto, o sistema de defesa
contra o estresse oxidativo e os raios ultravioleta parece ser deficiente o que leva a
apoptose nas células epiteliais do cristalino e subseqüente opacificação lenticular (LI
et al., 1995).
O papel central da hipertensão intraocular na fisiopatologia do glaucoma vem
sendo questionada desde que alguns pacientes apresentam perda progressiva de
células ganglionares apesar da normalização da pressão ocular (BRUBAKER, 1996),
além do que, um sexto dos pacientes que fazem lesão glaucomatosa não apresenta
hipertensão
ocular
(LISEGANG,
1997).
Existem
evidências
histológicas
e
eletrofisiológicas que demonstram que as células ganglionares são as únicas células
acometidas. Vários fatores têm sido implicados na morte das células ganglionares,
dentre eles a apoptose (KAUSHIK et al., 2009). Esta nova visão sobre o glaucoma
tem levado a esforços em busca de uma terapêutica objetivando neuroproteção,
além da tradicional terapia hipotensora.
A retinose pigmentar, um grupo de condições hereditárias envolvendo a morte
de fotorreceptores, representa a causa mais prevalente de baixa acuidade visual na
47
população ativa de países desenvolvidos. A retinose pigmentar está relacionada
com a perda de função e viabilidade dos bastonetes. A despeito da grande
heterogeneidade de alterações genéticas que podem causar a retinose pigmentar,
estudos em modelos experimentais em animais de pequeno porte indicam que a
apoptose é uma via final comum de morte de células fotorreceptoras (PORTERACAILLIAU et al, 1994).
RAO et al. (2008) demonstraram não haver evidências de apoptose em
fotorreceptores nas fases iniciais da uveíte autoimune experimental (EAU –
experimental autoimmune uveitis), apesar de a liberação de citocromo C para o
citosol estar aumentada. O estudo mostrou também que o nível de alfa A-cristalin
aumenta trinta e três vezes no segmento externo dos fotorreceptores e parece
proteger estas células contra a apoptose induzida pelo estresse oxidativo da
mitocôndria.
Células imunocompetentes ativadas são deletadas por apoptose após a fase
aguda da inflamação em diversas doenças, mas na doença de Behçet a inflamação
persiste. NAKAMURA et al (1996) mostraram que nesta doença os pacientes com
uveorretinite ativa apresentam expressão diminuída de Fas em células T CD4+ e
alta expressão nas células T CD8+ se comparados aos pacientes sem uveorretinite
ativa e aos controles sem a doença, o que sugere que células T CD4+ ativadas com
expressão deficiente de Fas, ou seja que não são deletadas por apoptose, podem
ser as responsáveis pela inflamação crônica severa.
4.1
Apoptose na toxoplasmose
A célula em processo de apoptose direciona toda sua reserva energética para
sistematicamente desmanchar a célula no lugar de se envolver em atividades
biossintéticas, deste modo se torna um provedor pobre para um patógeno
intracelular. Além disso, a apoptose exerce um papel crucial no controle da resposta
imune (BAUMANN et al., 2002) como um mecanismo efetor através do qual células
NK e linfócitos T citotóxicos eliminam células-alvo infectadas (LIEBERMAN, 2003) e
48
como resposta inata das células infectadas por parasitas intracelulares (WILLIAMS,
1994). Assim, o T. gondii como parasita intracelular obrigatório tem duas razões
igualmente importantes para interferir na apoptose das células do hospedeiro.
Curiosamente, o T. gondii inibe e induz apoptose nas células do hospedeiro. Inibir a
apoptose da célula hospedeira é uma estratégia que permite o desenvolvimento e a
sobrevivência intracelular do parasita e a induzir a apoptose das células do sistema
imune leva a uma imunossupressão relativa permitindo a sua evasão imune. WEI et
al. ( 2002) demonstraram que células dendríticas humanas infectadas pelo T. gondii
são resistentes à apoptose, mas deflagram a apoptose contato-dependente em
células T citotóxicas. A infecção aguda pelo T. gondii, tanto em humanos quanto em
camundongos leva a uma imunossupressão transitória determinada pela diminuição
de anticorpos e de resposta de células T a antígenos homólogos e heterólogos
(WING et al., 1983; LUFT et al., 1984; YANO et al., 1987). Dentre outros fatores, a
apoptose de linfócitos T desencadeada pelo T. gondii inibe a resposta imune contra
o parasita (WEI et al., 2002). Altos níveis de apoptose em esplenócitos têm sido
associados com multiplicação parasitária irrestrita o que leva a altas cargas
parasitárias em vários tecidos (GRAVILESCU & DENKERS, 2001). A apoptose no
baço não se restringe a populações específicas, mas foi detectada em linfócitos T
CD4+ e CD8+, linfócitos B, células NK e granulócitos (GRAVILESCU & DENKERS,
2003b).
Estudos sugerem que a interação Fas-Fas L é crucial para a apoptose
desencadeada pelo T. gondii. A infecção pelo parasita aumenta a expressão de Fas
na placa de Peyer (LIESENFELD et al., 1997), nos esplenócitos e nos olhos (HU et
al., 1999). Além disso, nos camundongos mutantes sem o sistema Fas-Fas L a
apoptose induzida pelo T. gondii é abolida (LIESENFELD et al., 1997; GRAVILESCU
& DENKERS, 2003b). A expressão de Fas-Fas L e a apoptose mediada por Fas-Fas
L em camundongos infectados com o T. gondii parecem ser reguladas pela secreção
de citocinas pró-inflamatórias, IL-12 e INF-, e podem ser contrabalançadas pela
ativação do NF-κB2 (CAAMANO et al., 2000).
A inibição da apoptose nas células parasitadas é descrita em diversos
trabalhos (NASH et al., 1998; GOEBEL et al., 1999; CHANNON et al., 2002; PAYNE
et al., 2003). A resistência à apoptose foi observada em células parasitadas de
49
humanos e de camundongos tratadas com diversos indutores de apoptose, incluindo
citotoxicidade mediada por CTL, irradiação e abstinência de fator de crescimento
(HISAEDA et al., 1997; CHANNON et al., 2002).
4.1.1 Apoptose na toxoplasmose ocular
Apesar de vários estudos mostrarem a importância da apoptose no
estabelecimento da interação parasita-hospedeiro, pouco se sabe a respeito da
apoptose no olho durante a infecção pelo T. gondii. SHEN et al. (2001)
demonstraram que os olhos de camundongos selvagens não infectados expressam
constitucionalmente níveis mais altos de moléculas pró-apoptóticas que o cérebro e
que a apoptose é mais frequente no olho que no cérebro durante a infecção. Nesse
trabalho, os autores também demonstram que não há diferenças no grau de
inflamação e de apoptose nos dias 1, 14 e 28 após a infecção nos olhos de
camundongos B6MRL/1pr e B6MRL/gld (com defeito na expressão de Fas e Fas L,
respectivamente) se comparados aos camundongos selvagens, sugerindo que a
apoptose no olho durante a infecção intraperitoneal não é dependente de Fas e Fas
L. Ao contrário, HU et al., 1999, demonstraram que a intensidade da inflamação foi
maior nos mutantes B6MR/1pr e B6MR/gld que nos selvagens, sugerindo que Fas e
Fas L poderiam ser importantes na deflagração da apoptose no olho durante a
infecção intracameral pelo T. gondii. Entretanto, este resultado pode ter sido
influenciado pelo trauma ocular provocado pela via de inoculação utilizada, ao
modificar a resposta inflamatória e à apoptose.
CALABRESE et al. (2007) demontraram que durante a infecção pelo T. gondii
em camundongos C57BL/6 o nível sérico de Fas e seu ligante reduz 20% enquanto
que no humor aquoso o nível de Fas aumenta 82% e Fas L 56%.
50
OBJETIVOS
51
A presente tese teve como objetivos:
1. Analisar
as
alterações
morfométricas
na
espessura
e
na
relação
perímetro/área da retina na toxoplasmose ocular no modelo murino.
2. Pesquisar apoptose em cortes de retina de animais infectados e não
infectados.
52
MATERIAIS E MÉTODOS
53
1
Animais
Camundongos C57BL/6 fêmeas, com peso entre 15 a 18 gramas, fornecidos
pelo Centro de Criação de Animais de Laboratório (CECAL) do Instituto Oswaldo
Cruz – FIOCRUZ, Rio de Janeiro – RJ.
2
Parasitas
Cistos tissulares da cepa ME-49 de Toxoplasma gondii isolados do cérebro de
camundongos C57BL/6, com aproximadamente 30 dias de infecção foram utilizados
para as inoculações intraperitoneais (i.p.). Esta cepa foi mantida através de
passagens sucessivas (inoculação intraperitoneal) em camundongos da mesma
linhagem.
2.1
Isolamento e purificação dos cistos
Após os camundongos serem mortos em câmara de CO2, o cérebro foi
retirado através de método cirúrgico em condições assépticas em fluxo laminar e
cortado em pequenos fragmentos em Phosphate Buffer Saline (PBS). Seguiram-se
sucessivas passagens utilizando seringa e agulhas de diferentes calibres (18G a
23G), para maceração dos tecidos.
O macerado do cérebro, contendo os cistos tissulares homogeneizados em
PBS, foi submetido a passagem por tela separadora de células com malha de 60
mesh (“Cell dissociation sieve-tissue grinder kit”, código CD – 1, SIGMA St. Louis USA), para a remoção de fragmentos de tecido e de debris celulares. Após esse
procedimento, o macerado foi distribuído em tubos de 15 ml, ressuspenso em
solução de PBS e centrifugado durante 10 minutos a 400 g. O sobrenadante foi
desprezado e o sedimento ressuspenso em meio Eagle, contendo 25% de Dextran
54
(SIGMA), na proporção de um cérebro para cada 2,5 ml de solução, para a remoção
dos restos de tecido cerebral. Esta suspensão foi centrifugada por 10 minutos a
2200 g e o sedimento contendo os cistos foi ressuspenso em meio DMEM. Após
homogeneização, nova centrifugação foi realizada durante 10 minutos a 400 g, para
a retirada do Dextran. A contagem da suspensão foi realizada entre lâmina e
lamínula (24 x 32 mm), na área total da lamínula, ao microscópio de luz (FREYRE,
1995 e POPIEL, 1996). A suspensão foi ajustada para chegar a 200 μl
3
Infecção
Oito camundongos foram infectados com 30 cistos de T. gondii cepa ME 49
em 200 μl de meio EAGLE, intraperitonealmente (IP). No 60o dia os animais foram
sacrificados em câmara de CO2 e enucleados. Os olhos foram processados para
microscopia de luz.
Os doze animais do grupo controle receberam intraperitonealmente 200l de
PBS sem parasitas e foram sacrificados no mesmo período descrito anteriormente.
4
Processamento das amostras
Após enucleação, os olhos foram seccionados sagitalmente em duas metades
(medial e lateral), sendo processada para microscopia de luz.
As amostras foram fixadas por um período de 12 horas em solução a 2% de
glutaraldeído e 2% de paraformaldeído em 0,1M de tampão cacodilato de sódio, pH
7,4 (KARNOVISKY, 1965 – modificado). A seguir, o material foi desidratado em série
crescente de etanol, infiltrado em solução de etanol a 100% e a seguir em xilol. As
amostras foram, então, processadas rotineiramente em um histotécnico e incluídas
em parafina em moldes plásticos apropriados. Os cortes semi-seriados foram
obtidos em micrótomo (Micron - HM360). Os cortes destinados a análise morfológica
55
e morfometria foram corados com Hematoxilina e Eosina (HE). As lâminas foram
observadas em microscópio de luz Zeiss - Axioplan dos Departamentos de Ultraestrutura e Biologia Celular e de Protozoologia do IOC – FIOCRUZ.
5
Morfometria
As imagens foram digitalizadas em microcâmera (JVC TK-1270/JGB) e
transferidas para o analisador de imagens (Kontron Elektronics, Carl Zeiss – KS300
versão 2.0).
5.1
Mensuração da espessura da retina
Para as análises foram considerados três grupos de resultados: 1) medida da
espessura no foco de retinite (Fig 2), 2) medida da espessura da retina de
camundongos infectados fora dos focos de retinite e 3) medida da espessura da
retina nos olhos dos camundongos controles. Após a identificação do foco de
retinite, foram feitas três medidas, uma passando pelo centro do foco e duas
periféricas a cerca de 50 μm da medida central. O epitélio pigmentar da retina não
foi incluído na medida da espessura da retina, uma vez que em algumas áreas,
devido à presença de descolamento de retina, poderia haver erro nesta medida
(superestimativa da espessura da retina nas áreas com descolamento). Foram feitas
três medidas com distância de cerca de 50 μm entre si nos olhos dos camundongos
infectados, fora dos focos de retinite e nos olhos dos camundongos controles. Foram
analisados pelo menos doze secções dos olhos de cada animal. Foram feitas ao
menos três réplicas de cada medida e a seguir tomada a média das réplicas para
cada animal.
56
FIGURA 2 – Espessura da retina no foco de retinite
5.2
Relação perímetro/área da retina
A fim de determinar a distorção provocada pela infecção na arquitetura da
retina e de suas camadas foi utilizada a relação perímetro/área (FIG 3), tomada
neste trabalho como medida de anfractuosidade (anfractuosidade: saliência,
depressão ou sinuosidades irregulares). O desenho do perímetro a ser estudado foi
feito manualmente utilizando o KS 300 (FIG 3), que forneceu o valor em micrômetros
do perímetro e micrômetros2 o valor da área. A mensuração perímetro/área foi feita
em cada microfotografia e a seguir foi feita a média das réplicas para cada animal.
Neste trabalho, por questão técnica, consideramos seis camadas da retina: 1)
camada de fotorreceptores – CFR, 2) camada nuclear externa – CNE, 3) camada
plexiforme externa – CPE, 4) camada nuclear interna – CNI, 5) camada plexiforme
interna – CPI e 6) camada de células ganglionares e fibras nervosas – CGFN. As
57
camadas limitantes externa e interna não foram consideradas por serem vistas como
uma linha muito tênue e, portanto, não ser viável a mensuração de suas respectivas
áreas. As camadas de células glanglionares e de fibras nervosas foram analisadas
em conjunto devido à pequena espessura de ambas.
‘FIGURA 3 – Relação P/A
5.3
Análise Estatística
Os dados foram submetidos à estatística descritiva, teste de normalidade e de
homocedasticidade utilizando os programas SAEG (Sistema para Análise Estatística,
versão 9.1, 2007, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG) e SAS (Statistical
Analysis System, versão 8.0, SAS Institute, Cary, NC, EUA). Para análise de
variância foi utilizado o programa SAS. Para estatística inferencial foi feito o teste de
correlação de Pearson, utilizando o programa SAEG para o caso de distribuição
normal dos dados e teste de Mann-Whitney para análise não paramétrica dos dados
de distribuição não normal.
6
Reação de TUNEL
58
Para pesquisa de apoptose foram utilizados critérios morfológicos associados
à reação de TUNEL – “Terminal deoxynucleotidyl Transferase Urydine Nick End
Labeling” ou marcação in situ da fragmentação do genoma com transferase terminal
de desoxinucleotídeo (TdT- FragEL
TM
DNA Fragmentation DetectionKit, Cat QIA33,
Calbiochem).
As lâminas silanizadas com os cortes histológicos passaram por dois banhos
de xilol de 5 minutos cada um. A seguir, os cortes foram hidratados em banhos
decrescentes de etanol, sendo dois banhos de álcool absoluto por 5 minutos cada e
banhos de 3 minutos em álcool a 95%, álcool 90%, álcool 80% e álcool 70%. Os
cortes foram então lavados em TBS 1X.
Para permitir maior penetração do tampão contendo TdT e nucleotídeos
marcados, foi feita a imersão em Tampão Citrato pré-aquecido por 5 minutos e
posteriormente aplicada a proteinase K (2mg/ml) diluída em Tris 10 mM na
proporção 1:100 durante 20 minutos, sendo em seguida lavado com TBS 1X.
Foi utilizado o peróxido de hidrogênio a 30% vol diluído em metanol na
proporção 1:10 durante 5 minutos a fim de bloquear a peroxidase endógena, sendo
o material lavado a seguir com TBS. O excesso de solução ao redor do corte foi
removido e as lâminas foram cobertas com tampão de equilíbrio por 10 minutos.
Solução contendo 60 μl da enzima TdT diluída (57 μl de Labeling reaction mix
e 3 μl de enzima TdT) foi aplicada sobre cada corte, que por sua vez foram cobertos
com protetores plásticos (Parafilme) e incubados em câmara úmida a 37o C durante
24 horas. Depois os protetores plásticos foram removidos, os cortes foram lavados
em 1X com TBS e cobertos com 100 μl de tampão de parada (stop buffer) por 5
minutos em temperatura ambiente. Em seguida, os cortes foram novamente lavados
em 1X com TBS e cobertos com 100 μl de tampão de bloqueio por 10 minutos em
temperatura ambiente.
Foi feita a diluição do conjugado em tampão de bloqueio na proporção de
1:50. Os cortes foram cobertos com 100 μl da solução e incubados por 45 minutos,
em câmara úmida, em temperatura ambiente e posteriormente lavados em 1X com
TBS.
59
Para revelar a reação, os cortes foram cobertos com 100 μl de DAB por 15
minutos em temperatura ambiente e em seguida lavados com água destilada. Os
cortes foram submetidos a contracoloração com verde de metila por 20 minutos em
temperatura ambiente. Posteriormente, os cortes foram desidratados em 2 banhos
(4X) em álcool absoluto e 1 banho (4X) em xilol. Por fim, montaram-se as lâminas.
60
RESULTADOS
61
1
Descrição da morfologia do olho normal: grupo controle
Neste
estudo
não
observamos
alterações
morfológicas
ao
exame
histopatológico dos olhos dos camundongos do grupo controle (FIG 4).
FIGURA 4 – Olho normal (HE) – animal controle:
a) Esclera, b) coróide, c) membrana de Bruch, d) epitélio pigmentar da retina, e) fotorreceptores, f)
membrana limitante externa – tênue membrana acelular coranda em rosa pelo HE, g) camada nuclear
externa – núcleo dos fotorreceptores, h) camada plexiforme externa, i) camada nuclear interna, j)
camada plexiforme interna, k) camada de células ganglionares, l) camada de fibras nervosas.
2
Análise dos olhos dos camundongos infectados pelo T. gondii
Os olhos dos animais no 60º dia após infecção IP com 30 cistos de T. gondii
apresentaram focos de infiltrado inflamatório, células pigmentadas invadindo a retina
neurossensorial e formas císticas contendo o parasita. Os cistos encontrados na
camada plexiforme interna não mostraram celulas inflamatórias adjacentes (FIG 5).
Infiltrado inflamatório, edema e reação glial foram observados na retina (CPI e
CGFN, especialmente nas regiões perivasculares), na interface vitreorretiniana e no
vítreo. Foi evidenciada a formação de lacunas nas CFR, CNE e CNI (FIG 5, 6B, 7A e
B, 8A). Células pigmentadas foram vistas nas diversas camadas da retina
62
neurossensorial, às vezes em grumos. Estas células provavelmente migraram do
EPR e, ao fazê-lo, desorganizaram as camadas da retina em seu trajeto (FIG 6B, 7A
e B, 8A).
FIGURA 5 – Cisto de Toxoplasma gondii (HE).
Cisto de T. gondii na CPI (seta amarela). Vacuolização nas CFR, CNE e CNI (setas vermelhas).
FIGURA 6 – Vasculite retiniana e retinite (HE):
A e B) Infiltrado inflamatório perivascular (seta amarelas), células inflamatórias no vítreo e na interface
vitreorretiniana (setas pretas). B) Reação glial, células pigmentadas (setas vermelhas) e vacuolização
difusa na CFR.
A desorganização das camadas da retina foi um achado freqüente,
apresentando-se como aumento ou diminuição da espessura da camada,
63
sinuosidade e perda da regularidade – aumento da anfractuosidade (FIG 6B, 7A e B,
8A e B).
A
B
FIGURA 7 – Migração de células pigmentadas (HE):
A e B) Células pigmentadas invadindo a retina neurossensorial (setas vermelhas), vacúolos na CFR,
CNE e CNI, além de desorganização nas camadas.
FIGURA 8 – Desorganização da arquitetura da retina (HE):
A e B) Infiltrado inflamatório nas camadas internas da retina (setas vermelhas), células inflamatórias
no corpo vítreo (setas pretas) e descolamento da retina neurossensorial (setas amarelas). A)
Vasculite (seta branca) e desorganização das camadas externas da retina. B) Desorganização da
camadas internas: plexiforme interna, de células ganglionares e de fibras nervosas.
Descolamento da retina neurossensorial foi encontrado em alguns cortes (FIG
8A e B).
Células inflamatórias foram encontradas na câmara anterior e na cavidade
vítrea, inclusive na região do corpo ciliar.
64
3
Morfometria
3.1
Espessura da retina
A variável espessura da retina mostrou distribuição normal pelo teste de
Lilliefors e homocedasticidade (efeito posição de medida) pelo método Cochran &
Bartlett.
A seguir foi realizada estatística simples para variáveis contínuas para cada
grupo (TAB. 1), mostrando coeficiente de variação menor que 20% (baixa
instabilidade) e número amostral suficiente para cada grupo.
TABELA 1
Estatística simples para variável contínua espessura da retina
Número de Observações
Média Geral
Desvio Padrão
Coeficiente de Variação
Amostra Ideal (10%)
ANIMAIS NÃO
INFECTADOS
INFECTADOS NO
FOCO DE RETINITE
36
121,2
14,6
12,0
5,96
24
183,3
15,99
8,7
3,3
INFECTADOS FORA
DO FOCO DE
RETINITE
24
147,3
12,2
8,3
2,96
A tabela 2 mostra estatística com quebras para variável espessura da retina
em animais infectados para cada posição de medida, demostrando que a
instabilidade foi baixa (CV menor que 20%) e que o número amostral foi suficiente.
TABELA 2
Estatística simples para variável espessura da retina em animais infectados para cada posição
Número de Observações
Média Geral
Desvio Padrão
Coeficiente de Variação
Amostra Ideal (10%)
ESQUERDA
16
164,8
22,4
13,6
8,3
CENTRO
16
164,8
24,9
14,8
9,96
DIREITA
16
163,3
23,1
14,2
9,1
65
As médias de espessura da retina para cada posição de medida em animais
infectados e não infectados pode ser vista na tabela 3. Nos animais infectados, a
tabela 4 mostra as médias de espessura da retina considerando a posição de
medida e a presença ou ausência de foco de retinite no local de medida.
TABELA 3
Comparação entre as médias da variável espessura da retina para cada posição em animais
infectados e não infectados
Não infectados (1)
Infectados (2)
Esquerda
Centro
121,5 ± 14,8
121,1 ± 15,4
164,8 ± 22,4
167,8 ± 24,9
(1) Número de observações para cada posição: 12
(2) Número de observações para cada posição: 16
Direita
121,1 ± 14,9
163,3 ± 23,1
TABELA 4
Médias da espessura da retina de animais infectados para cada posição e considerando se a medida
foi feita em um foco de retinite ou não
No Foco (1)
Fora do foco (1)
Esquerda
182,3 ± 14,7
147,3 ± 12,4
Centro
187,7 ± 16,6
147,9 ± 12,2
Direita
180,1 ± 17,7
146,6 ± 13,7
A correlação geral entre as medidas de localização (esquerda, centro e
direita) tomadas em indivíduos não infectados e infectados, no foco ou fora do foco
de retinite pode ser observada na tabela 5, mostrando alta magnitude
(aproximadamente 99%) e forte significância (p=0.000), o que sugere que as
respostas poderiam ser medidas em apenas uma destas localizações específicas
sem comprometimento do resultado final.
TABELA 5
Correlações paramétricas de Pearson para espessura da retina em cada posição de medida
Variável
Esquerda
Esquerda
Centro
Variável
Centro
Direita
Direita
Observações
28
28
28
Correlação
0.9949
0.9890
0.9928
Significância
0.000
0.000
0.000
Na análise de variância, com delineamento inteiramente casualizado, o
estudo da localização (esquerda, centro e direita) nas medidas de espessura da
66
retina em indivíduos não infectados, não indicou diferença significativa para as
médias entre as posições (P=0.9973) como pode ser visto na tabela 6.
TABELA 6
Comparação entre as médias de espessura em cada posição de medida em animais não infectados
POSIÇÃO
Esquerda
Centro
Direita
MÉDIA
121.460 a
121.081 a
121.064 a
N
12
12
12
Médias com letras iguais não são significativamente diferentes entre si, pelo teste de Tukey
Na análise de variância, com delineamento em bloco casualizado, o estudo do
efeito da retinite nas medidas de espessura da retina em indivíduos infectados,
blocando o local onde tais medidas foram tomadas demonstrou que as médias para
a variável espessura da retina medida no foco de retinite e fora do foco de retinite
apresentaram diferença fortemente significativa entre si (p=0,0001) como pode ser
observado na tabela 7 e que o local de medida (esquerda, centro e direita) não
influenciou significativamente nesta comparação (TAB 8).
TABELA 7
Comparação entre as médias de espessura medidas no foco e fora do foco de retinite em animais
infectados
RETINITE
No foco
Fora do foco
MÉDIA
183.341a
147.261b
N
24
24
Médias seguidas de letras distintas são significativamente diferentes entre si, pelo teste de Tukey
TABELA 8
Comparação entre as médias de espessuras em cada posição de medida em indivíduos infectados
POSIÇÃO
Esquerda
Centro
Direita
MÉDIA
167,8 a
164,8 a
163,3 a
N
16
16
16
A espessura da retina dos camundongos infectados mostrou aumento
(medida na posição central: 167,8 ± 24,9) estatisticamente significante se
comparada com a dos camundongos não infectados (medida na posição central:
121,1 ± 15,4) com p = 0,00002. Quando consideramos a espessura da retina no foco
67
de retinite (todas as posições: 183,3 ± 15,99) notamos aumento, também
significativo, se comparada com a espessura da retina de camundongos infectados
fora dos focos de retinite (todas as posições: 147,3 ± 12,2), devido ao infiltrado
inflamatório e edema. A diferença na espessura da retina dos camundongos não
infectados e a dos infectados foi significativa mesmo se consideradas apenas as
medidas fora dos focos de retinite provavelmente em decorrência do edema difuso
na retina dos camundongos infectados, o que também pode ser observado na
histopatologia (vacúolos) em várias camadas.
3.2
Relação perímetro/área (P/A) da retina e suas camadas
Todas as respostas estudadas apresentaram condições de distribuição
normal e homocedasticidade, exceto os resultados referentes às medidas tomadas
na retina inteira.
A tabela 9 mostra a estatística simples para a variável anfractuosidade
(relação perímetro/área) da retina e de cada uma de suas camadas. Pode-se
observar que a variável mostrou baixa instabilidade (coeficiente de variação menor
que 20%) e número amostral suficiente nas CNE, CPE e CPI. Na retina por inteiro a
P/A mostrou alta instabilidade e número amostral insuficiente.
TABELA 9
Estatística simples para variável P/A da retina e suas camadas
Número de
Observações
Média Geral
Desvio Padrão
Coeficiente de
Variação
Amostra Ideal
(10%)
RETINA
CFR
CNE
CPE
CNI
CPI
CGFN
20
20
20
20
20
20
20
0,04
0,06
0,11
0,02
0,06
0,01
0.30
0,05
0,11
0,04
0,08
0,02
0,12
0,03
144,7
22,5
11,2
15,6
36,8
17,7
28,1
914,9
22,1
5,5
10,6
59,2
13,7
34,4
A estatística com quebras para a variável anfractuosidade, considerando o
status de infectado ou não infectado, pode ser vista na tabela 10.
68
Os resultados das medidas da anfractuosidade (P/A) tomados da retina inteira
além de não indicarem homogeneidade de variância na comparação por níveis de
infecção, não apresentaram distribuição normal, conforme tabela 11.
TABELA 10
Estatística com quebras para a variável P/A. Quebra: infecção
NAÕ INFECTADOS (1)
0,04 ± 0,05
0.12 ± 0,15
0,59 ± 0,50
0,32 ± 0,04
0,14 ± 0,06
0,85 ± 0,02
0,11 ± 0,04
Retina
CFR
CNE
CPE
CNI
CPI
CGFN
ANFRACTUOSIDADE
INFECTADOS (2)
0,04 ± 0,06
0,86 ± 0,21
0,50 ± 0,31
0,26 ± 0,02
0,68 ± 0,06
0,79 ± 0,10
0,14 ± 0,03
TODOS (3)
0,04 ± 0,06
0,11 ± 0,24
0,06 ± 0,01
0,30 ± 0,05
0,11 ± 0,04
0,82 ± 0,02
0,12 ± 0,04
(1) Número de observações: 12
(2) Número de observações: 8
(3) Número de observações: 20
TABELA 11
Testes de normalidade e homocedasticidade da P/A da retina por inteiro
Variável
Anfractuosidade
Anfractuosidade
Teste
Lilliefors
Bartlett
Valor calculado
0.4496
0.3802
Valor (P=0.05)
0.190
3.840
Valor (P=0.01)
0.231
6.635
Várias estratégias de transformação das respostas (logarítmica, radicial e
arco-sênica) foram tentadas sem que se obtivesse a condição de normalidade
exigida pela análise de variância. Por esta razão, o estudo da anfractuosidade da
retina em função da presença ou ausência de infecção foi desenvolvido através do
teste estatístico não paramétrico de Mann-Whitney. Houve diferença significativa
entre os grupos testados (P=0,0069).
As análises para a variável anfractuosidade foram feitas por um delineamento
inteiramente casualizado em sistema de parcela subdividida (Split-Plot), para 14
tratamentos em sistema fatorial 2 x 7 (2 níveis de infecção e 7 locais da retina), visto
que os dados apresentaram distribuição normal e homocedasticidade (com exceção
da retina completa). Os dados são desbalanceados com 8 repetições nos grupos
infectados e 12 nos não infectados. O status de infecção (infectado ou não
infectado) foi considerado na parcela, enquanto as localizações na retina foram
69
estudadas na subparcela. A figura 7 demonstra o desenho experimental. Na figura 8
pode-se observar um resumo da análise de variância definindo as fontes de variação
e seus respectivos graus de liberdade.
Diferença estatisticamente significativa foi encontrada nas medidas da
anfractuosidade da retina dos animais infectados e não infectados, nas CFR, CPE,
CNI e na CGFN, como pode ser visto na tabela 12.
GRUPO
REPETIÇÕES
LOCAL
INFECTADO
NÃO INFECTADO
RET
CF
R
CNE
CPE
CNI
CPI
CGFN
RET
CF
R
CNE
CPE
CNI
CPI
CGFN
I13
I14
I15
I16
I17
I18
I19
I20
I13
I14
I15
I16
I17
I18
I19
I20
I13
I14
I15
I16
I17
I18
I19
I20
I13
I14
I15
I16
I17
I18
I19
I20
I13
I14
I15
I16
I17
I18
I19
I20
I13
I14
I15
I16
I17
I18
I19
I20
I13
I14
I15
I16
I17
I18
I19
I20
I1
I2
I3
I4
I5
I6
I7
I8
I9
I10
I11
I12
I1
I2
I3
I2
I5
I6
I7
I8
I9
I10
I11
I12
I1
I2
I3
I2
I5
I6
I7
I8
I9
I10
I11
I12
I1
I2
I3
I2
I5
I6
I7
I8
I9
I10
I11
I12
I1
I2
I3
I2
I5
I6
I7
I8
I9
I10
I11
I12
I1
I2
I3
I2
I5
I6
I7
I8
I9
I10
I11
I12
I1
I2
I3
I2
I5
I6
I7
I8
I9
I10
I11
I12
FIGURA 9 – Desenho experimental da análise estatística dos dados da relação P/A da retina e suas
camadas.
ANOVA
FV
Parcelas
Infecção (I)
Erro A
Subparcelas
Local (L)
Interação (I X L)
Erro B
GL
19
1
18
139
6
6
108
= 139 – 19 – 6 - 6
GLerroB = GLsub-parcelas - GLparcelas - GLsexo - GLinteração
FIGURA 10 – Análise de variância dos dados da P/A da retina e suas camadas.
70
TABELA 12
Comparação entre os status de infecção para o mesmo local de medida da P/A
LOCAL
Retina
CFR
CNE
CPE
CNI
CPI
CGFN
INFECÇÃO
NAÕ INFECTADOS
0,0390 A
0,0861 B
0,0498 A
0,2578 B
0,0676 B
0,0787 A
0,1391 A
INFECTADOS
0,0378 A
0,1194 A
0,0588 A
0,3244 A
0,1432 A
0,0849 A
0,1130 B
Médias seguidas por letras distintas diferem estatisticamente entre si
4
Pesquisa de apoptose
As lâminas contendo cortes de olhos de camundongos infectados e não
infectados foram submetidos à reação de TUNEL. Na retina dos animais não
infectados não houve marcação (FIG 11).
FIGURA 11 – Retina de animais não infectados submetida à reação de TUNEL (contracoloração com
verde de metila).
A marcação de células esparsas pela reação de TUNEL pode ser notada em
todas as camadas da retina neurossensorial de camundongos infectados como pode
ser observado nas figuras 12 A, B, C, D, E e F.
71
FIGURA 12 – Retina de animais infectados marcada por TUNEL:
Podemos observar focos de retinite (A, D e F), migração de células pigmentadas (B e F), células no
corpo vítreo e interface vitreorretiniana, além de células marcadas (setas vermelhas) pela reação de
TUNEL nas diversas camadas da retina, no vítreo e na interface vitreorretiniana (contracoloração com
verde de metila).
72
No entanto, houve marcação de células em maior quantidade no corpo vítreo,
na interface vitreorretiniana e região perivascular, coincidindo com o local onde são
encontradas
as
células
inflamatórias,
sugerindo
serem
estas
as
células
preferencialmente atingidas pela apoptose induzida pela infecção.
As células marcadas pelo TUNEL também mostraram as alterações
morfológicas características da apoptose, tais como tamanho reduzido, densidade
aumentada e algumas já se mostravam fragmentadas.
73
DISCUSSÃO
74
No presente trabalho estudamos a toxoplasmose ocular experimental
considerando a infecção com cistos de T. gondii através da via de inoculação
intraperitoneal em camundongos fêmeas adultas.
Como a intenção do trabalho foi o estudo na fase crônica da doença,
utilizamos animais no 60º dia de infecção, pois segundo TEDESCO et al. (2004) os
animais infectados por via i.p. mostram títulos semelhantes de anticorpos antitoxoplasma IgM e IgG no 15º dia de infecção, havendo a queda dos títulos para IgM
a partir do 30º ao 60º dia, com elevação dos títulos para IgG indicativo da
cronificação da doença.
A via de inoculação utilizada no presente estudo mostrou-se eficiente, como já
demonstrado anteriormente por TEDESCO et al.(2004). As vias intraperitoneal e oral
(gavagem) são comumente empregadas por outros autores (DUTTON et al., 1986;
GAZZINELLI et al., 1994; PEREIRA et al., 1999). A via intravítrea é menos utilizada
devido às alterações provocadas pelo trauma de inoculação no olho e quando
empregada geralmente é em animais de maior porte (YOSHIZUMI, 1976; GARWEG,
1998; HU et al., 1999).
Durante
os
nossos
experimentos
observamos
infiltrado
inflamatório
mononuclear no vítreo, na interface vitreorretiniana, e nas camadas internas da
retina especialmente nas regiões perivasculares (vasculite), necrose, reação glial,
distorção da arquitetura da retina, migração de células pigmentares e cisto
parasitário na camada plexiforme interna. De acordo com GONÇALVES &
YAMAMOTO (1997) a retina é o sítio primário da infecção pelo Toxoplasma. Assim
como neste trabalho, estudos anteriores no modelo experimental (NUSSEMBLATT &
PALESTINE, 1989; TEDESCO et al., 2004) demonstram um infiltrado inflamatório
predominantemente mononuclear e necrose na retina, com o aspecto semelhante ao
da toxoplasmose ocular em humanos. A vasculite foi também encontrada por outros
autores (DUTTON et al., 1986; McMENAMIN et al., 1986). HAYASHI et al. (1996)
descreveram inflamação causada por infiltrado mononuclear podendo originar
destruições na retina em vários graus. A baixa porcentagem de parasitas (cistos)
observada nos olhos dos animais apesar da presença da retinite sugere que o T.
75
gondii pode dar início a um processo inflamatório autorreativo, que eventualmente
culmina nas lesões oculares, como proposto por GAZZINELLI et al. (1994). Os cistos
localizados na retina, observados no nosso modelo crônico, não estavam
acompanhados de alterações evidentes ao seu redor, semelhante ao observado por
McMENAMIN et al. (1986).
Como descrito anteriormente por TEDESCO et al., (2004), a migração das
células do EPR para dentro da retina e as alterações na camada dos segmentos
externos dos fotorreceptores (FR) foram características marcantes nos focos de
retinite no nosso estudo. De acordo com CRAFOORD et al. (2000) a migração das
células da retina está associada com a destruição focal dos fotorreceptores, o que
também pode ser observado em nosso estudo. Existe uma forte evidência do papel
crucial da migração das células do EPR na toxoplasmose experimental. O EPR pode
ser importante na eliminação do parasita através da fagocitose, considerando que as
células do EPR atuam fisiologicamente como células fagocitárias. A habilidade das
células do EPR em participar da regulação imune, tanto pela estimulação quanto
pela inibição da proliferação dos linfócitos, tem sido demonstrada em vários modelos
de auto-imunidade in vivo (GASPARI et al., 1988). As células do EPR foram
preferencialmente encontradas suprimindo a proliferação dos linfócitos cultivados
com antígenos endógenos (LIVERSIDGE et al., 1993).
Como já salientado e considerando que a patologia da infecção pelo T. gondii
resulta da interação entre fatores do parasita e do hospedeiro e que as descrições
das alterações histopatológicas são essencialmente subjetivas, os diversos trabalhos
da literatura podem apresentar resultados não comparáveis, ainda que os modelos
experimentais sejam rigorosamente iguais.
Com o desenvolvimento da morfometria a partir de programas de computador,
dados objetivos puderam ser construídos. Mas, como a literatura ainda não dispõe
de dados morfométricos da retina de camundongos infectados pelo T.gondii, nosso
estudo baseou-se nos dados subjetivos da descrição histopatológica que sugeriam
aumento de espessura da retina devido ao edema e infiltrado inflamatório e
distorção da arquitetura normal da retina pela inflamação e necrose. A partir disso,
estudamos a histopatologia da retinite por Toxoplasma em modelo murino com
mensuração da espessura da retina e da distorção na arquitetura da retina (relação
76
perímetro/área) através da morfometria, com obtenção de resultados objetivos
(numéricos).
Como citado anteriormente, os resultados da análise histopatológicas deste
trabalho estão de acordo com o descrito por outros autores.
A espessura da retina dos camundongos infectados mostrou aumento
estatísticamente significante se comparada com a dos camundongos não infectados
(167,8±24,9 versus 121,1 ± 15,4 com p = 0,00002). Como era esperado devido ao
infiltrado inflamatório e edema no foco de retinite, nos animais infectados observouse aumento na espessura da retina no foco de retinite comparada com a espessura
fora dos focos de retinite (183,3±15,99 versus 147,3±12,2 com p = 0,0001). A
diferença na espessura da retina dos camundongos não infectados e a dos
infectados foi significativa mesmo se consideradas apenas as medidas fora dos
focos de retinite provavelmente em decorrência do edema difuso na retina dos
camundongos infectados como também pode ser observado na histopatologia
(vacúolos) em várias das camadas, alteração também descrita por TEDESCO et al.
(2004). Foi considerado estatisticamente significativo o p< 0,05.
A mudança na arquitetura da retina de camundongos infectados e não
infectados, avaliada neste trabalho através da relaçãoP)A, não apresentou
distribuição normal e homocedasticidade mesmo após várias tentativas de
transformação matemática e por isso foi avaliada através do teste não paramétrico
de Mann-Whitney. Apesar da alta instabilidade, mostrou diferença estatística entre
camundongos infectados e não infectados refletindo a mudança na arquitetura da
retina em decorrência da infecção, que também foi descrita por TEDESCO et al.
(2004).
Quando
avaliada
cada
camada
separadamente,
a
P/A
mostrou
homocedasticidade e distribuição normal. A variável apresentou baixa instabilidade e
número amostral suficiente nas camadas nuclear externa (CNE), plexiforme externa
(CPE) e plexiforme interna (CPI), mas somente na camada plexiforme externa
observou-se diferença estatística entre infectados e não infectados. Nas camadas de
fotorreceptores (CFR), nuclear interna (CNI) e na camada de células ganglionares e
fibras nervosas (CGFN) a variável apresentou média instabilidade e apesar do
77
número amostral teoricamente insuficiente mostrou diferença estatística entre os
dois grupos. Assim, a P/A foi capaz de mostrar matematicamente a alteração na
arquitetura da retina e nas camadas de fotorreceptores, plexiforme externa, nuclear
interna e na de células ganglionares e fibras nervosas.
Com
a
demonstração
das
diferenças
estatisticamente
significativas,
acreditamos que as medidas de espessura da retina e da relação P/A tornam-se
importantes ferramentas de comparação para futuros estudos envolvendo a retinite
por Toxoplasmose.
Na pesquisa de apoptose, células marcadas pela reação de TUNEL foram
encontradas no corpo vítreo, na interface vitreorretiniana e nas diversas camadas da
retina neurossensorial, mas em maior quantidade região perivascular, coincidindo
com o local onde foi encontrado maior número de células inflamatórias. Apesar de
não contarmos com nenhum trabalho que tenha pesquisado a apoptose na fase
crônica, o resultado não nos surpreende visto que LÜDER & GROSS (2005)
demonstraram que na toxoplasmose sistêmica, populações específicas de células
imunológicas não parasitadas são induzidas à apoptose pelo T. gondii. Além disso,
SHEN et al. (2001) mostraram que os olhos de camundongos do tipo selvagem não
infectados expressam constitucionalmente níveis mais altos de moléculas próapoptóticas que o cérebro e que a apoptose foi encontrada mais freqüentemente no
olho que no cérebro durante a infecção aguda. HU et al. (1999) também encontrara
aumento da apoptose no olho durante a infecção aguda pelo T. gondii. CALABRESE
et al. (2007) demonstraram que em camundongos no 300 dia após a infecção ocorre
diminuição de 20% no nível sérico de Fas e seu ligante enquanto que no líquido
intraocular o nível de Fas aumenta 82% e Fas L 56%
sugerindo aumento da
apoptose no olho durante a infecção. O aumento do Fas-L dentro do olho,
encontrado por CALABRESE et al. (2007), reforça a suspeita de que as células
inflamatórias sejam o principal alvo da apoptose induzida pela toxoplasmose, já que
essas células expressam o receptor Fas na sua superfície. Novos estudos são
necessários para determinar se a apoptose encontrada no olho na fase crônica da
infecção é induzida pelo Toxoplasma gondii ou se é decorrente do fato de o olho ser
um sítio de privilégio imune. Como tal, o olho expressa moléculas pró apoptóticas, o
que leva a apoptose de células inflamatórias que alcançam o espaço intraocular.
78
CONCLUSÕES
79
1.
A análise morfométrica mostrou diferença estatística entre a espessura
da retina de camundongos infectados se comparada com a dos
animais não infectados (167,8 ± 24,9 versus 121,1 ± 15,4), bem
como entre a espessura nos focos de retinite comparada com a
espessura fora dos focos de retinite (183,3±15,99 versus147,3±12,2)
em animais infectados. A análise da relação perímetro/área da retina
dos animais infectados mostrou diferença estatística se comparada
com a dos animais não infectados refletindo a mudança na
arquitetura decorrente da infecção. Difernça estatística também foi
encontrada nas camadas de fotorreceptores, plexiforme externa,
nuclear interna e de camada de células ganglionares e fibras
nervosas. Não houve diferença significativa entre infectados e não
infectados nas camadas dos núcleos dos fotorreceptores e
plexiforme interna.
2.
A apoptose não vista na retina dos animais do grupo controle e foi
encontrada em células no corpo vítreo, na interface vitreorretiniana e
em
todas
as
camadas
da
retina
neurossensorial,
mas
predominantemente na região perivascular, local coincidente com o
infiltrado
inflamatório.
O
resultado
sugere
que
as
células
inflamatórias são possivelmente os alvos preferenciais da apoptose
induzida pela infecção.
80
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ANEXOS
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