SOFTWARE PARA CÁLCULO DE CORRENTE DE CURTO CIRCUITO Bruno Leite Goncalves1, Luciano Thiago Gouvêa1, Carlos Eduardo Cabral Vilela1 1 Universidade do Vale do Paraíba/FEAU, Avenida Shisima Hifumi 2911, São José dos Campos - SP. [email protected] , [email protected] , [email protected] Resumo – Este trabalho mostra os efeitos das cargas e dos elementos em derivação com o desenvolvimento de um software para cálculo de corrente de curto circuito mais acessível e didático do que os disponíveis no mercado. As simulações de curtos circuitos utilizadas rotineiramente se baseiam em modelamento dos elementos do sistema elétrico bastante simplificado. Isto tem como justificativa o fato das correntes de curtos circuitos serem muito superiores as correntes de carga. Uma vez que a definição destes valores em determinados pontos da rede tem enorme importância no planejamento, projeto e exploração das instalações e redes elétricas, ao permitir antever as conseqüências dos defeitos simulados. Palavras-chave: Sistema elétrico, circuito, curto-circuito, corrente. Área do Conhecimento: III Engenharias Introdução Com o passar do tempo os problemas dos sistemas elétricos foram se tornando cada vez mais complexos de se resolver à mão, devido ao desenvolvimento da elétrica e eletrônica (Brown, 1977). Felizmente, com a evolução dos computadores e linguagens de programação, pode-se utilizar o processamento digital para analise de grandes circuitos elétricos, bem como seus valores de corrente, tensão, potência, entre outros (Brown, 1977). A analise de um sistema sob condições de curto-circuito seguiu essa tendência. Uma das primeiras tentativas para solucionar este problema foi utilizar o método interativo de Ward e Hale, o qual teve uma resposta limitada devido à grande variação de tensão em um circuito sobre efeito da corrente de curto-circuito (Brown, 1977). A corrente de curto-circuito causa em um sistema elétrico a modificação dos sistemas de funcionamento, podendo este ser grave ou não, dependendo da grandeza e variação ao longo do tempo, da corrente de curto-circuito. Isto pode ser catastrófico, pois uma corrente nominal é multiplicada por no mínimo 10, no caso de um curto (Creder, 2002; Roeper, 1990). A simulação destes valores é importante no planejamento, projeto e exploração das instalações e redes elétricas tentando se evitar ao máximo os danos aos sistemas elétricos. Calculam-se os valores da corrente de curtocircuito para assim determinar, por exemplo, o poder de corte dos disjuntores e fusíveis, prever os esforços térmicos e eletrodinâmicos provocados pela passagem de corrente, regular as proteções, entre outros (Creder, 2002; Romper, 1990). Considerando os aspectos mais importantes do cálculo de curto-circuito simétrico e assimétrico, este projeto tem como objetivo fazer a simulação deste através de um software didático e acessível aos profissionais e estudantes da área de engenharia elétrica. Metodologia Este software foi elaborado utilizando como ferramenta de programação o Visual Basic. Esta escolha se deve ao fato do projeto envolver muitos cálculos matemáticos e o Visual Basic possui a classe math do Framework. NET que fornecem constantes e outros métodos estáticos para funções trigonométricas, logarítmicas e outras funções matemáticas comuns, além disso, é uma linguagem dirigida por eventos (event driven), e possui também um ambiente de desenvolvimento integrado (IDE - Integrated Development Environment) totalmente gráfico, facilitando enormemente a construção da interface da aplicação. Para o desenvolvimento do projeto foram respeitados todas as normas e padrões estabelecidos pelos órgãos fiscalizadores. O programa tem como objetivo facilitar o trabalho dos projetistas, diminuindo o tempo gasto dos cálculos das correntes de curtos circuitos presumíveis. Para tornar esta tarefa mais rápida as janelas, botões, mensagens de alerta, área de trabalho e todos os componentes que fazem interface com usuário foram projetados da maneira mais simplificada possível, fazendo com que a utilização do programa não se torne cansativa ao usuário. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 Analise de Curto Circuito • Trifásico; Denominado como uma ligação de baixa impedância entre dois pontos a potenciais diferentes, essa ligação pode ser metálica quando se diz que há um curto-circuito franco ou por um arco elétrico, que é a situação mais comum. Há nesse instante uma rápida elevação da corrente atingindo valores, em geral, superiores a 10 vezes a corrente nominal do circuito. Figura 2 – Curto Trifásico • Bifásico; Figura 3– Curto Bifásico • Bifásico -terra; Figura 1 – Pico de Corrente no Curto Circuito Como em circuitos de distribuição longos, a corrente de curto-circuito pode ser da ordem da corrente de carga, o que exige técnicas especiais para sua identificação (são os chamados curtoscircuitos de alta impedância). Com a elevação da corrente, surgem esforços mecânicos entre os condutores ou entre componentes dos equipamentos (são os chamados efeitos mecânicos) e aquecimentos dos condutores ou das partes condutoras dos equipamentos (são os chamados efeitos térmicos). No caso dos curtos-circuitos através de arcos elétricos podem ocorrer ainda explosões e incêndios. Se não houver uma pronta atuação da proteção, os outros curtos circuitos também podem dar origem a incêndios e explosões (que às vezes são denominados efeitos explosivos). Como regra geral de proteção nas médias e altas tensões, considera-se que os efeitos mecânicos devem ser suportados pelos equipamentos e faz-se a proteção contra os efeitos térmicos. Tipos de curtos circuitos Em sistemas elétricos trifásicos e aterrados, os curtos-circuitos podem ser de quatro tipos: Figura 4– Curto Bifásico - Terra • Fase-terra Figura 5– Curto Fase - Terra De acordo com o tempo de duração, estas faltas podem ser classificadas em: • Transitórias, durações; • Permanentes passageiras ou de curtas As causas dos curtos circuitos São causados por uma falha da isolação sólida, líquida ou gasosa que sustenta a tensão entre condutores ou entre condutores e terra; pode ser também causada por uma redução da distância entre os condutores (ou entre condutores e terra). A falha da isolação, por sua vez, pode ser motivada por: - danos mecânicos: quebra de isoladores, quebra de suportes, queda de poste, etc. - uso abusivo: exigindo de um equipamento potência maior que a nominal provoca-se uma deterioração mais ou menos rápida da isolação XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 que trabalhará a uma temperatura mais alta que a de projeto. - umidade: isolantes porosos (orgânicos e inorgânicos) apresentam uma redução rápida da sua rigidez quando absorvem umidade (é o caso do óleo, do papel, da fenolite, da porcelana porosa usada em baixa tensão, do papel.o, etc.) - descargas parciais: as isolações sólidas sempre apresentam alguns vazios no seu interior. Sob ação do campo elétrico surgem nessas vazias descargas que por vários mecanismos (erosão, corrosão, arvorejamento) vão mais ou menos lentamente reduzindo a rigidez dielétrica até sua perfuração (o tempo pode ser de dias, semanas, meses ou anos), - sobretensões - dois tipos de sobretensões podem levar a uma perfuração da isolação: as de manobra (ou internas), que ocorrem quando se efetua um desligamento (voluntário ou provocado) ou um ligamento de um circuito, e as atmosféricas que surgem nos condutores de um circuito (em baixa, média ou alta tensão) quando cai um raio nas proximidades ou diretamente nas linhas do circuito. Correntes simétricas e assimétricas Uma corrente é simétrica, quando as envoltórias das ondas desta corrente são simétricas em relação ao eixo dos tempos, caso contrário, é considerada assimétrica. Em algumas situações, como nos casos dos curtos-circuitos, as ondas de correntes, inicialmente, são assimétricas, depois se tornam simétricas. Figura 6 - Corrente elétrica, onde podem ser vistas a componente assimétrica, com sua exponencial, e a componente simétrica. Comportamento circuito da corrente de conhecida como corrente dinâmica. Passado este período, a corrente entra em regime permanente, tornando-se simétrica. Devido a estas características, é comum representá-la pela equação abaixo. Equação 3 Onde: IM: Valor máximo da componente simétrica, que permanece no circuito até a extinção do curtocircuito (componente em regime); I0: Componente que cai exponencialmente de acordo com a constante de tempo circuito τ , que é função dos parâmetros do mesmo: Equação 4 Os parâmetros L e R dependem do local da falta e das componentes de seqüências positiva negativa e zero das impedâncias envolvidas no curto-circuito. Na Equação três, quando a componente exponencial tende a zero, a corrente de curtocircuito entra em regime. Para cada tipo de curtocircuito, o valor eficaz desta componente em regime é calculado através da teoria de componentes simétricas (circuitos de seqüências). Figura 7 – Gráfico da corrente de curto assimétrica curto- No domínio do tempo a corrente de um curtocircuito, pode ser dividida em duas partes: • Transitória (assimétrica); • Regime (simétrica) Durante o período transitório, em torno de 0,1s (6 ciclos de 60Hz), essa corrente é assimétrica, Figura 8 – Gráfico da corrente de curto simétrica XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 θ = ângulo que mede a relação entre a reatância e a resistência do sistema e é calculado por X θ = arctan R Equação 5 Figura 9 – Tela inicial do programa O valor da componente assimétrica, na prática, é determinado multiplicando-se o valor eficaz da componente em regime pelo fator de assimetria (fa) calculado ou estimado no ponto da falta. Equação 6 Os fatores de assimetria calculados para as correntes de curtos-circuitos, em sistemas elétricos de potência, variam com o tempo e com a constante de circuito τ. É comum serem tabelados ou dados através de curvas características. Os valores assimétricos das correntes de curtos-circuitos são empregados para determinação da capacidade de ruptura ou de interrupção dos dispositivos de proteção (chavesfusíveis, disjuntores; religadores, etc.). Já os valores simétricos, são usados no estudo de seletividade e coordenação de equipamentos de proteção. Uma vez selecionado as opções abre-se a tela para simulação, onde se entrará com os valores de potência dos transformadores, tensão primária, tensão secundária, comprimento dos cabos, impedância, enfim, todos os valores estabelecidos por fabricantes, concessionária de energia e do próprio projeto. Os pontos para simulação dos curtos já foram determinados, sendo um após o disjuntor de baixa tensão e um na entrada das cargas. Métodos dos Cálculos A metodologia que será apresentada obtém resultados aproximados de métodos mais simples, porém a precisão obtida satisfaz ao propósito de um dimensionamento inicial. Os cálculos são executados através de dois métodos, o simplificado e o detalhado, sendo que a diferença entre eles é que o método detalhado deve-se conhecer a impedância da linha de entrada, dos transformadores, cabos e barramentos, por isto os valores finais devem ser inferiores aos apresentados no método simplificado que só considera a impedância dos transformadores. Figura 10 – Circuito simulação com dois transformadores. Software Ao se inicializar o programa, a primeira etapa para simular os valores de corrente de curto circuito é escolher a quantidade de transformadores (um, dois ou três) e o método de cálculo (simplificado ou detalhado). Figura 11 – Circuito simulação com três transformadores. Após a entrada de todos os dados, o software faz os cálculos necessários e mostra os valores ao usuário, como na tela a seguir. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 4 - DESOER, C.A., KUH, E.S. “ Teoria Básica de Circuitos”. Editora Guanabara S.A. Rio de Janeiro, RJ, 1988. - MAMEDE Filho, J. “Instalações Elétricas Indústrias”. 6ª Ed. Livros Técnicos e Científicos Editora. Rio de Janeiro, RJ, 2001. - MONTICELLI, A.J., Sato, F. “Cálculos de equivalentes externos para análise de curto circuito”. VII Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica. Brasília, DF, 1984. - ROEPER, Richard. “Correntes de curto-circuito em redes trifásicas”. Editora Nobel S/A. 2 Ed. São Paulo , SP,1990. Figura 12 – Tela de resultado para um circuito com 2 tranformadores. Conclusão Quando as impedâncias do sistema são muito pequenas, as correntes de curto-circuito de uma forma geral assumem valores muito elevados, capazes de danificar térmica e mecanicamente os equipamentos da instalação. Pode acontecer de não existir no mercado equipamentos com capacidade suficiente para suportar determinada corrente de curto. As correntes de curto-circuito podem causar sérios danos mecânicos nos barramentos, nos isoladores, nos suportes e na própria estrutura dos quadros de comando e proteção, para evitar estes danos este programa simula e possibilita a criação de diversos cenários, permitindo o conhecimento do sistema de proteção em diversas condições de operação. Facilita a tarefa de cálculo dos curtoscircuitos, pois se podem simular três tipos de faltas nas barras do sistema em questão com um, dois e três transformadores ligado na entrada do fornecedor. Com o auxílio do software as tarefas de cálculo de curto-circuito são executadas com extrema rapidez fazendo as simulações de pontos de curto nos circuitos. Referências - BROWN, Homer E. – “Grandes Sistemas Elétricos Métodos Matriciais”. Livro Técnico Cientifico /EFEI Editora S/A. Rio de Janeiro, RJ, 1977. - CREDER, Helio. “Instalações Elétricas”. Livro Técnico Cientifico Editora S/A 14 Ed. São Paulo, SP, 2002. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 5