República de Moçambique Ministério de Saúde Programa Nacional de Combate às ITS/HIV/SIDA Guia para Tratamento e Controle das Infecções de Transmissão Sexual (ITS) Maputo, Agosto 2006 PREFÁCIO Segundo a OMS, (2006), mais de 30 patógenos bacterianos, virais e parasitas, são transmitidos sexualmente incluindo o HIV. Estima-se que há mais de 340 milhões de novos casos de bactérias comuns e protozoários transmitidos sexualmente (ex. sífilis, gonorreia, clamídia, infecções genitais e tricomoníase) que ocorrem a nível mundial em homens e mulheres com idades entre 15-49 anos. Infecções de Transmissão Sexual (ITS) podem estar presentes sem sintomas, mas podem ter consequências severas a longo prazo tais como infertilidade, gravidez ectópica, doença crónica e morte. Em fetos e recém nascidos a clamídia, a gonorreia e a sífilis podem causar condições severas que muitas vezes ameaçam a vida. Infecções com Papiloma Vírus Humano aumentam a probabilidade de desenvolver o carcinoma do colo de útero, que é a segunda causa de morte por cancro em mulheres ao nível mundial (cerca de 240.000 mulheres por ano). Um diagnóstico correcto de uma ITS é essencial para a provisão de tratamento adequado e efectivo, (OMS, 2006). Co-factores biomédicos evidenciam que as ITS aumentam o risco de contaminação do HIV/SIDA. Estudos longitudinais em África, demonstraram forte associação entre ITS ulcerativas e não ulcerativas e a incidência em relação à Infecção pelo HIV. O Vírus de Herpes Simplex Tipo 2 é uma das causas mais comuns de úlceras genitais, desempenhando um papel importante no aumento da transmissão do HIV em África, (James Todd et al, 2005). Em Moçambique, dados da Vigilância Epidemiológica das ITS de 2005 mostraram que dos 525,045 casos de DTS notificados, as leucorréias eram as mais frequentes (40.1%) e as úlceras genitais (36.6%). Estas taxas são particularmente altas, tomando em conta que as ITS partilham os mesmos mecanismos de transmissão do HIV. Para que a abordagem das ITS tenha êxito, é necessário que todas as Unidades Sanitárias do País estejam envolvidas na melhoria do diagnóstico e tratamento, incluindo a extensão das formações à todos os níveis de serviços, tais como Consultas Externas, Consultas de Saúde Materno-Infantil, Serviços Amigos do Adolescente e Jovem, Maternidade, Internamento de Medicina e Triagem, de modo a atingir todos os provedores envolvidos no diagnóstico e tratamento das ITS. Este manual espelha a revisão e actualização dos algoritmos que foi feita em Moçambique em 2005, para assegurar que se ofereça melhor qualidade de atendimento e tratamento aos utentes, em conformidade com as recomendações da OMS e tomando em conta os desafios da SADC em relação à abordagem sindrómica e os esforços nacionais na Prevenção e Combate ao HIV/SIDA. Professor Doutor Paulo Ivo Garrido Ministro da Saúde 2 G r u p o d e tr a b a lh o Dra. Felisbela Gaspar (MISAU) Dr. Rui Bastos (MISAU) Dr. Avertino Barreto (MISAU) Dra. Elena Folgosa (Faculdade de Medicina, UEM) Dra. Isabel Nhatave (Policy Project) Dra. Maria Teresa Seabra Soares de Britto e Alves (Universidade Federal de Maranhão, Brasil) Dr. Fulgencio Sambola (Universidade de Ghent) Dr. Wouter Arrazola de Onate (Universidade de Ghent) Dr. Celso Mondlane (FHI) Dra. Sílvia Gurrola (FHI) Mathew Westmark (CDC) Dra. Lucy Ramirez (CDC) Dra. Lori Newman (CDC) Dra. Irene Benech (CDC) Ute Zurmuehl (Consultora Comunicação) Este manual foi produzido no âmbito do Acordo Cooperativo No U62/CCU023345 entre o Ministério de Saúde de Moçambique, Programa Nacional de Combate de ITS/HIV/SIDA e o Departamento de Serviços Humanos/Centros de Controle e Prevenção (CDC), Centro Nacional para HIV, ITS e Prevenção de Tuberculose (NCHSTP), Programa Global de SIDA (GAP) do Governo dos EUA. O conteúdo e da responsabilidade dos autores e não necessariamente representa a opinião do CDC. 3 Conteúdo CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 5 O QUE É UM ALGORITMO? COMO USAR UM ALGORITMO? VANTAGENS DOS ALGORITMOS 6 7 7 CAPÍTULO 2 DETERMINANTES DA EPIDEMIOLOGIA DAS ITS 9 CONSEQUENÇIAS PARA A SAÚDE DO INDIVÍDUO CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS CARACTERÍSTICAS DAS ITS SÍNDROMES COMUNS NAS ITS E SEUS AGENTES ETIOLÓGICOS A MAGNITUDE DO PROBLEMA EM MOÇAMBIQUE O HIV/SIDA NO QUADRO DAS ITS 9 10 11 11 12 12 CAPITULO 3 CUIDADO DE UM PACIENTE COM ITS 15 ABORDAGENS NA ASSISTÊNCIA AS ITS COMO PREVENIR AS ITS ACONSELHAMENTO: UMA POTENTE ESTRATÉGIA HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO GUIÃO BÁSICO PARA UMA BOA ANAMNESE EXAME GENITAL EM MULHERES EXAME GENITAL EM HOMENS LIMPEZA E DESINFECÇAO DO MATERIAL 16 21 21 24 25 26 28 29 CAPITULO 4 ABORDAGEM SINDRÓMICA DO PACIENTE COM ITS 35 CORRIMENTO URETRAL CORRIMENTO URETRAL ÚLCERA GENITAL NO HOMEM E NA MULHER CORRIMENTO VAGINAL DOR NO BAIXO VENTRE VIOLAÇÃO SEXUAL E ITS SÍFILIS CONGÉNITA OFTALMIA NEONATAL ESCROTO INCHADO BALANITE BUBÃO/ADENOPATIA INGUINAL 36 37 40 44 49 52 56 59 62 65 68 CAPITULO 5 ABORDAGEM ETIOLÓGICA DO PACIENTE COM ITS 71 CAPITULO 6 A MELHORIA DA GESTÃO DO PROGRAMA DE ITS 101 ANEXOS 106 4 Capítulo 1 Introdução Sabe-se que a luta contra a infecção pelo HIV/SIDA passa, necessariamente por um controle eficaz das outras ITS, pois hoje em dia está claramente reconhecido que as relações sexuais ITS Infecções de desprotegidas podem transmitir tanto o HIV quanto Transmissão Sexual é as outras ITS já conhecidas. Além disso, a existência o termo actualmente de uma ITS pode aumentar o risco da pessoa infectar indicado pela OMS, alguém ou ser infectado pelo vírus HIV, se não forem pois incorpora as tomadas algumas precauções como a prática do sexo infecções seguro. Muitas vezes a pessoa com ITS não apresenta assintomáticas sinais e sintomas de doença. Quando são identificados sinais e sintomas de alguma das ITS, dizemos que essa pessoa tem uma DTS. O homem e a mulher podem apresentar sintomas e sinais diferentes para uma mesma doença. Hoje, a existência de uma ITS resulta em consequências graves a longo prazo, como também traduz-se em alto risco de contrair uma doença como a SIDA, tanto para o indivíduo quanto para seu(s) parceiro(s) sexual(is), com graves consequências familiares. Por serem doenças de longo curso e muitas vezes sem sintomas é importante que sejam esclarecidas quais práticas sexuais colocam o indivíduo em risco de contrair uma ITS. Também é importante reforçar que uma pessoa pode frequentemente ter mais de uma ITS e que o fato de ter tido uma dessas doenças não o protege de adquiri-las de novo. Um indivíduo que tem ITS mais de uma vez tem práticas sexuais que o colocam em risco de contrair o HIV. Este Guia tem a finalidade de ajudar o trabalhador da saúde a abordar o paciente exposto às ITS de modo a: diminuir ou cessar as suas queixas; Quebrar a cadeia de transmissão, impedindo que a ITS seja transmitida para outras pessoas com quem tem relações sexuais, além de alertá-lo para o risco de se infectar pelo HIV; Prevenir novas ocorrências, por meio de aconselhamento específico favorecendo a compreensão e o seguimento das prescrições médicas; Prevenir consequências tardias das ITS tais como infertilidade, gravidez ectópica e dor pélvica crónica; Prevenir a transmissão de ITS para recém-nascidos de mãe infectada. Este manual é resultado de um estudo realizado pelo Ministério da Saúde/CDC com o objectivo de actualizar as condutas e os protocolos de tratamento das ITS, de acordo com o conhecimento científico mais actual, além de promover a prevenção da infecção pelo HIV. Um profissional de saúde ao atender um paciente com ITS controlando-o adequadamente, pode significar uma oportunidade de intervir no crescimento da epidemia do HIV/SIDA neste país. Devemos sempre ter em conta que um paciente de ITS tem muitas dificuldades para falar de sua doença. O atendimento inadequado pode resultar em segregação e 5 exposição a situações de constrangimento tanto para o profissional quando para o doente. Isso acontece quando os pacientes têm que expor seus problemas em locais sem privacidade ou a profissionais mal preparados que, muitas vezes, demonstram seus próprios preconceitos ao emitirem juízos de valor. Essas situações ferem a confidencialidade, discriminam as pessoas com ITS e contribuem para afastá-las dos serviços de saúde. Para muitas ITS as técnicas laboratoriais para o diagnóstico não estão disponíveis ou as unidades sanitárias não são capazes de oferecer resultados de testes conclusivos no momento da consulta, fazendo com que o paciente tenha que vir outra vez ao serviço e enfrentar longas filas de espera pelo atendimento. A demora em procurar tratamento para as ITS tem um importante impacto na sua disseminação, na medida em que, quanto mais tempo uma pessoa fica infectada, maiores são as oportunidades de transmissão dessa infecção para outras pessoas. Todas as ITS são passíveis de tratamento. Em algumas existe a possibilidade de cura e para outras ainda não estão disponíveis os medicamentos capazes de curá-las e podem reaparecer no indivíduo. A identificação dessas ITS recidivantes é fundamental para um bom controle e necessitam de abordagem cuidadosa, pois, muitas vezes estão associadas à infecção pelo HIV. Isto determina uma abordagem diferenciada do paciente e de seus contactos sexuais. Este Guia está organizado de modo a permitir que o trabalhador de saúde possa consultá-lo de maneira fácil, de modo a seguir as normas e protocolos definidos pelo Ministério da Saúde. Também é uma actualização e substitui o Guia para Tratamento das ITS em Moçambique publicado pelo Ministério da Saúde em 1999. Essas normas estão apresentadas em forma de algoritmos para cada uma das principais síndromes. O objectivo destes algoritmos é tentar prover, em uma única consulta o diagnóstico, tratamento e aconselhamentos adequados. Não há impedimento para que exames laboratoriais sejam colhidos ou oferecidos. A conduta, no entanto, não poderá depender da disponibilidade desses exames. O QUE É UM ALGORITMO? Algoritmos são as ferramentas essenciais da abordagem sindrómica. Permitem que profissionais de saúde diagnostiquem e tratem pacientes com ITS no primeiro atendimento, fornecendo orientação sobre os tratamentos recomendados. Um algoritmo é uma árvore de decisões e acções. Ele orienta o profissional por meio de quadro de decisões, indicando as acções que precisam ser tomadas. Cada decisão ou acção tem como referência uma ou mais rotas que levam a outro quadro, com outra decisão ou acção. Os aspectos mais importantes para o diagnóstico e tratamento do paciente não serão esquecidos, se forem seguidos cada um dos passos propostos no algoritmo. 6 COMO USAR UM ALGORITMO? Ao conhecer os sintomas de um paciente, o profissional de saúde consulta o algoritmo correspondente à queixa e trabalha com as decisões e acções sugeridas pelo instrumento: 1. Comece perguntando ao paciente sobre os sinais e sintomas que ele/ela apresenta 2. Identifique o algoritmo apropriado. Pode ser necessário utilizar um ou mais algoritmos, dependendo da queixa apresentada. 3. O quadro do problema clínico geralmente leva a um quadro de acção, o qual pede que você examine o paciente e/ou colha a história clínica. 4. A seguir, vá para o quadro de decisão. Após colher a história e examinar o paciente, você deve ter a informação necessária para escolher SIM ou NÃO. 5. Dependendo da escolha, poderá haver outros quadros de decisão e acção. Queixa principal Quadro de acção Quadro de decisão Tratamento VANTAGENS DOS ALGORITMOS Os algoritmos racionalizam e padronizam a tomada de decisão clínica. Sua utilização também pode padronizar o diagnóstico, o tratamento e os encaminhamentos. A padronização envolve: 7 Comparar os relatórios de diferentes unidades de saúde Simplificar a colecta e análise de dados, o que, por sua vez, facilita a vigilância epidemiológica e a planificação (como aquisição de medicamentos, preservativos, quantidade de testes de laboratório e outros insumos). Facilitar a supervisão dos profissionais de saúde, porque a abordagem é a mesma em todas as unidades de saúde. Assegurar que os pacientes com DTS recebam o mesmo tratamento para um determinado quadro clínico em todas as unidades de saúde, aumentando a confiança nos serviços de saúde. Retardar o desenvolvimento de resistência aos antibióticos nos microorganismos sexualmente transmitidos. Incentivar o uso apropriado dos serviços de saúde, cessando os sintomas e queixas do paciente o mais precocemente possível, aumentando a credibilidade do serviço e o bem estar do paciente. Reduzir o risco de reinfecção. Reduzir a transmissão das ITS. Para garantir o manejo eficiente das ITS os algoritmos devem ser adaptados ao nível de desenvolvimento dos serviços de saúde. A possibilidade de uso dos algoritmos é determinada por: 8 Presença de laboratórios. Disponibilidade de infraestrutura para exame físico (sala de exame com privacidade, mesa de exame, espéculos adequados, luvas, iluminação e equipamento para esterilizar os espéculos com regularidade). Nível de treino do pessoal (por exemplo: eles estarão aptos a realizar exames com espéculos?). Acesso a uma unidade de saúde com maior nível de complexidade de atenção – unidade sanitária de referência. Medicamentos disponíveis nas unidades. Tempo disponível da equipe para atender o paciente. Capacidade do profissional de saúde em realizar aconselhamento para pacientes com ITS e HIV. Percepções culturais e locais acerca das ITS e comportamento dos profissionais de saúde. Capítulo 2 Determinantes da Epidemiologia das ITS A compreensão dos determinantes da epidemiologia de ITS é importante na planificação de uma abordagem de múltiplas facetas para seu controle, reconhecendose assim as limitações de qualquer intervenção simples. O comportamento dos membros de uma comunidade em relação à busca de cuidados médicos influencia fortemente a capacidade dos sistemas de saúde em desenvolver intervenções com o objectivo de controlar as ITS. A demora em procurar tratamento para as ITS tem um impacto significativo na sua disseminação, na medida em que, quanto mais tempo uma pessoa fica infectada, maiores são as oportunidades de transmissão dessa doença para outras pessoas. Deve-se ressaltar que a maioria dos casos de ITS curáveis em mulheres causa infecções sub-clínicas ou assintomáticas. A gonorreia, por exemplo, normalmente causa sintomas nos homens, o que lhes permite procurar tratamento, enquanto que nas mulheres, com frequência ou a doença é assintomática ou tem sintomas menores. Os recursos diagnósticos disponíveis, mesmo em países desenvolvidos, para a triagem rotineira de mulheres assintomáticas, ou mesmo para o teste de mulheres sintomáticas, são limitados. CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE DO INDIVÍDUO DIP e infertilidade As sequelas da Doença Inflamatória Pélvica (DIP), consequência de infecções por gonococo ou clamídia, incluem a infertilidade, gravidez ectópica seguida da consequente mortalidade materna, e dores pélvicas crónicas. A esterilidade resultante da DIP é responsável por 50 a 80% da infertilidade na África; na América Latina soma aproximadamente 35%. Em culturas em que a maternidade é altamente valorizada, a infertilidade pode ser trágica. Estenose Uretral Homens que têm gonorréia podem desenvolver estenose uretral. O estrangulamento uretral é uma condição progressiva que cedo ou tarde exige uma correcção urológica, embora essa seja uma complicação rara em homens com gonorreia não tratada. 9 Resultados adversos da gravidez e consequências neonatais O Treponema pallidum, responsável pela sífilis, ao atravessar a barreira placentária e infectar o feto pode causar prematuridade e doença neonatal, além de diagnósticos erróneos. A Neisseria gonorrhoeae e a Chlamydia trachomatis também causam infecção no recém nascido. Câncer Cervical O câncer cervical, um problema global, é atribuído à infecção crónica pelo papilomavírus humano. Muitas mulheres só detectam a doença em estágio avançado, levando a altas taxas de morbilidade e mortalidade. Em países em desenvolvimento, essa é a segunda causa mais comum de cancro em mulheres. Infecção pelo HIV/SIDA A infecção pelo HIV é mais facilmente adquirida e transmitida pela via sexual na presença de outra ITS, especialmente em casos de úlcera genital. A transmissão sexual do HIV ocorre da mesma maneira que outras ITS e a prevenção das ITS também previne a transmissão sexual do HIV. O tratamento efectivo das ITS diminui a quantidade de vírus presente nas secreções genitais, diminuindo o risco da transmissão. CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS Além das complicações das ITS para a saúde individual, também é importante observar as consequências sociais penosas dos casos de ITS não tratados, sofridas principalmente por mulheres de países em desenvolvimento. Muitas são estigmatizadas socialmente e sofrem prejuízos pessoais devido à infertilidade e gravidez interrompida (involuntariamente), podendo resultar em divórcio ou em comercialização do sexo. Aliados ao impacto da fertilidade surgem conflitos significativos entre os casais, suas famílias que ficam a par da situação e os amigos que fazem parte de seu sistema de suporte. Existe ainda o peso psicológico e emocional da perda de confiança e a consequente energia despendida pelos parceiros para retomar relações harmoniosas. O número de incidentes de violência, de comportamentos agressivos ou de represália devido à descoberta de uma ITS ainda não foi documentado. O que podemos apreender com a experiência é que as ITS trazem consequências emocionais para as pessoas envolvidas, incluindo a depressão e seus efeitos médicos e sociais. 10 CARACTERÍSTICAS DAS ITS As ITS representam, em todo o mundo, problemas de difícil controle e graves consequências, especialmente infecções por gonococo e clamídia. A atenção a essas doenças dá-se principalmente nas Unidades Sanitárias de todos os níveis, desde a rede primária de saúde até ITS curáveis: a quaternária. Também pode acontecer, uma pessoa Gonorréia, infecção por Clamídia, ter duas ou mais ITS e contaminar os seus parceiros Sífilis, Cancróide, Tricomoníase e sexuais com ambas as doenças. Deve-se sempre ter síndromes relacionadas em mente que uma pessoa com ITS significa que seu(s) ITS não curáveis: parceiro(s) sexual(is) também poderá(ão) estar com a SIDA, Herpes, Condiloma doença e precisa(m) ser tratado(s). Os agentes etiológicos e síndromes associadas às ITS são diversificados. Estas podem, em geral, ser separadas em ITS para as quais existe tratamento para erradicar a infecção, e aquelas para as quais ainda não existe tratamento que erradique a infecção, (ou seja, todas as ITS virais, incluindo a Infecção pelo HIV/SIDA). Porém, mesmo para as infecções não curáveis há tratamentos que melhoram os sintomas do paciente. Este manual detalha as estratégias utilizadas actualmente na prevenção tanto das ITS curáveis quanto das não-curáveis, através de mudanças de comportamento e do uso de preservativos, e apresenta estratégias práticas e inovadoras para o diagnóstico precoce e tratamento das ITS. SÍNDROMES COMUNS NAS ITS E SEUS AGENTES ETIOLÓGICOS SÍNDROME AGENTES PRIMÁRIOS Corrimento Uretral Escroto Inchado N. gonorrhoeae, C. trachomatis, T. vaginalis, M. genitalium N. gonorrhoeae, C. trachomatis Corrimentos Vaginais N. gonorrhoeae, C.trachomatis, M. genitalium, T. Vaginalis* C. albicans, bactérias associadas à Vaginose Bacteriana** Dor no Baixo Ventre Úlceras Genitais N. gonorrhoeae, C. trachomatis, bactérias associadas à VB HSV-2, HSV-1, T. pallidum, H. ducreyi, C. trachomatis (variedades LGV) Verrugas genitais e anais Papilomavírus humano (tipos genitais) Escabiose/sarna S. scabiei Fitiríase P. pubis Abreviações: HSV= virus do herpes simples, LGV = lymphogranuloma venereum, VB= Vaginose Bacteriana *Transmitidas sexualmente ** Não transmitidas sexualmente 11 A MAGNITUDE DO PROBLEMA EM MOÇAMBIQUE O Sistema Nacional de Vigilância das ITS em Moçambique notificou, em 2003, 484.093 casos de ITS. Das ITS notificadas, cerca de 35% foram úlceras genitais, 24% corrimentos uretrais e 41% corrimentos vaginais. Cerca de 7% das mulheres grávidas foram seropositivas ao RPR (teste de sífilis), em 2003. Um estudo realizado em 1999, baseado na população de mulheres de áreas rurais no sul de Moçambique, mostrou altas prevalências de ITS: tricomoníase 31%, sífilis 15%, gonorréia 13%, e clamídia 8%. Dados de 1992, também do sul de Moçambique, mostraram taxas similarmente elevadas de infecção em mulheres adultas: 24% de tricomoníase, 15% de sífilis, 12% de gonorréia, e 12% de clamídia. Em estudo realizado em 2003 com o objectivo de determinar a prevalência das ITS em mulheres atendidas nas clínicas de planeamento familiar em Moçambique detectou que entre as mulheres atendidas nas consultas de planeamento familiar, a prevalência das ITS foi: 4% de gonorreia, 8% de infecções por Chlamydia, 31% de Trichomonas, 6% de M. genitalium, 64% de vaginose bacteriana, 14% de candidíase, e 7% com os testes de RPR para sífilis positivos. Essas taxas apresentaram variações nas diferentes regiões geográficas. Os resultados do estudo realizado pelo Ministério da Saúde em 2003 para validar os algoritmos mostraram que dos homens com corrimento uretral, 65% tinham gonorréia, 15% clamídia, 12% tricomonas, e 10% M. genitalium. Dos homens e mulheres com úlceras genitais, os testes efectuados sugeriram sífilis em 8%, cancróide em 7%, herpes em 64%, e não foi identificado o agente etiológico em 26% dos casos. Das mulheres com corrimento vaginal, 17% tinham gonorréia, 11% clamídia, 34% tricomonas, 10% M. genitalium, 72% vaginose bacteriana, e 14% candidíase. Embora tenhamos que levar em conta os problemas de cobertura do sistema de notificação e as limitações para generalização dos resultados do estudo realizado em clínicas de planeamento familiar, podemos, a partir daí, entender a grande importância do controle adequado das ITS neste país. O HIV/SIDA NO QUADRO DAS ITS A análise dos resultados da ronda 2004 indica que a epidemia do HIV em Moçambique continua em crescimento embora existam diferenças nas tendências regionais. A tabela 1, abaixo, mostra a evolução das taxas ponderadas de prevalência do HIV, provinciais, regionais e nacional no período 2001-2004 em Moçambique. Como se pode observar, de forma geral, as regiões Sul e Norte mostram uma tendência crescente da epidemia, embora se observem diferenças no ritmo de crescimento entre as várias províncias. No Sul, o crescimento mais acentuado foi observado na cidade e província de Maputo e em Inhambane, enquanto na região Norte a província com crescimento mais acentuado foi a de Niassa. A região Centro, registou uma elevação mais acentuada da taxa na província de Sofala. As demais províncias da região central mostraram uma tendência para estabilidade. As taxas globais por região foram mais altas no Centro e no Sul do que no Norte. 12 Tabela 1 - Taxas ponderadas de prevalência do HIV provinciais, regionais e nacional. Atribuição, Moçambique, 2001-2004 Província 2001 2002 2004 Maputo Cidade Maputo Província Gaza Inhambane Zambézia Sofala Manica Tete Niassa Nampula Cabo Delgado Nacional 15.5% 14.9% 19.4% 7.9% 15.4% 18.7% 18.8% 16.7% 5.9% 7.9% 5.0% 17.3% 17.4% 16.4% 8.6% 12.5% 26.5% 19.0% 14.2% 11.1% 8.1% 7.5% 20.7% 20.7% 19.9% 11.7% 18.4% 26.5% 19.7% 16.6% 11.1% 9.2% 8.6% Região 2001 2002 2004 Sul 14.4% 14.8% 18.1% Centro 16.8% 16.7% 20.4% Norte 6.8% 8.4% 9.3% 13.0% 13.6% 16.2% Embora não possamos dispor de dados actualizados sobre a prevalência do HIV em pessoas com ITS em Moçambique, alguns achados do recente estudo sobre a prevalência das DTS em mulheres que procuram o serviço de planeamento familiar indicam o provável impacto que essa infecção pode estar causando. A análise do plano de tratamento das primeiras normas sobre o controle das ITS utilizando a abordagem sindrómica, elaboradas pelo Ministério da Saúde de Moçambique, indica que a sífilis e o cancróide eram prioritárias para o tratamento de lesões ulcerativas. O resultado do referido estudo, realizado em 2003/2004 demonstra uma mudança no perfil etiológico dessas lesões. Dos homens e mulheres com úlceras genitais, os testes efectuados sugeriram sífilis em 8%, cancróide em 7% e herpes em 64%, percentagem bastante elevada, mesmo quando consideramos que em 26% dos casos não foi possível identificar o agente etiológico da lesão ulcerada. Esses achados podem levantar uma importante questão para estudo, se consideramos o contexto actual da prevalência do HIV na população deste país. O impacto das demais ITS na transmissão sexual do HIV foi inicialmente suspeitado a partir de estudos epidemiológicos, que demonstravam que pessoas com uma ITS, ulcerativa ou não, pareciam ser mais susceptíveis a adquirir a infecção pelo HIV. Estudos subsequentes mostraram que a inflamação uretral e endocervical, causada pelas ITS não-ulcerativas, aumenta a libertação genital de células infectadas pelo HIV, e assim, provavelmente, aumenta a capacidade de um(a) paciente infectado(a) pelo HIV, de infectar as demais pessoas. A importância das ITS na transmissão do HIV e a eficácia potencial do controle das ITS em prevenir a transmissão sexual do HIV foram confirmadas em Mwanza, Tanzânia, onde um estudo aleatório e randomizado de abordagem sindrómica das ITS em comunidades obteve uma redução de 42% na incidência do HIV por um período de 2 anos. Assim, o controle e a prevenção das ITS tornaram-se componentes essenciais em programas de prevenção do HIV. 13 Uma vez que os factores de risco para as ITS são os mesmos para a infecção pelo HIV/SIDA, o diagnóstico de ITS em um paciente pode ser sugestivo também de infecção pelo HIV. Esse facto determina a necessidade de investigar sempre a associação potencial do quadro apresentado com a infecção pelo HIV, especialmente quando em presença de sintomatologia não condizente com o quadro clássico de uma ITS ou em casos de falha de tratamento. Ao lado do seu grande potencial destrutivo – de vidas, de afectos, de famílias, de recursos – e exactamente por causa disso, a epidemia de SIDA tem fomentado uma grande mudança na sociedade. A forma mais recomendada para a prevenção da epidemia é o uso do preservativo nas relações sexuais, e o facto da transmissão sexual ser a categoria de exposição mais frequentemente envolvida na infecção, expõe particularidades da vida privada dos portadores do vírus. A epidemia de SIDA obriga que se fale de sexo, que se estabeleçam normas explícitas para o seu exercício e se reconheça a multiplicidade de comportamentos, práticas e finalidades envolvidas nos diferentes encontros sexuais que as pessoas travam ao longo das suas vidas. Ainda não podemos prever as consequências das mudanças sociais, económicas e culturais decorrentes desse movimento, mas já não é possível negar que o crescimento da epidemia do HIV/SIDA tem mudado drasticamente o perfil das ITS nos últimos anos. As ITS e o HIV actualmente andam juntos, estão intrinsecamente ligados, e o que se vê é que o tratamento, e principalmente a prevenção das ITS, tem sido a mola mestra, uma estratégia válida, para a redução do crescimento do HIV/SIDA. 14 Capitulo 3 Cuidados a um Paciente com ITS Cuidar de um paciente com uma infecção de transmissão sexual não é uma intervenção simples em virtude de que essas doenças geralmente estão associadas a comportamentos considerados socialmente condenáveis, suas complicações e sequelas não são associadas com a ITS de base e ainda, há o desconhecimento de sua exacta magnitude. Cuidar de um paciente com ITS envolve não somente a terapia anti-microbiana adequada para obter a cura ou controle da infecção, mas também o aconselhamento para redução do risco desse paciente à infecção pelo HIV. Factores como a migração acelerada, a urbanização, a mobilidade da população, o sexo casual e comercial, a desigualdade entre os géneros, a pobreza, a insuficiência de serviços de diagnóstico e tratamento para as ITS, o não reconhecimento de sintomas de ITS pelo paciente e a alta prevalência do HIV, combinam-se para exacerbar o problema das ITS nos países em desenvolvimento. Factores tais como idade e sexo apresentam efeitos biológicos e comportamentais combinados na epidemia. A instabilidade económica e a insuficiência dos serviços de saúde e sociais também são factores contribuintes. A abordagem do indivíduo que procura o serviço de saúde com queixas sugestivas de ITS deve sempre incluir: 15 História clinica Exame físico geral e em particular da região genital Diagnóstico correcto Tratamento efectivo e precoce Avaliação do risco de infecção pelo HIV Encaminhamento, teste e aconselhamento para pacientes em risco de infecção pelo HIV Aconselhamento sobre práticas sexuais mais seguras Promoção e oferta de preservativo Investigação e tratamento dos parceiros sexuais Registo e Notificação do caso Se necessário, avaliação de infecção repetida ou persistente ABORDAGENS NA ASSISTÊNCIA AOS PACIENTES COM ITS As estratégias nacionais de controle das ITS são: a prevenção; a detecção precoce de casos; e o tratamento imediato dos portadores em todos os níveis de assistência. A abordagem sindrómica tem a finalidade de instituir precocemente o tratamento dos casos e de seus parceiros e dessa forma cessar as queixas dos pacientes e interromper a cadeia de transmissão. A prevenção de novas ocorrências deverá ser realizada por meio de aconselhamento específico, durante o qual as orientações são discutidas conjuntamente, favorecendo a compreensão e o seguimento das prescrições para o tratamento adequado e a adopção de práticas sexuais mais seguras, assim como a explicitação do risco em relação ao HIV/SIDA e oferta de testes para HIV e sífilis. Directrizes da componente das ITS do Programa Nacional de ITS-HIV/SIDA: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Prevenção e controle das ITS-HIV na comunidade; Inserção da assistência à pessoas com ITS na rede básica; Manejo adequado de casos através da abordagem Sindrómica; Suprimento de medicamentos; Vigilância epidemiológica; Eliminação da sífilis congénita; Uso racional dos recursos laboratoriais; Treinos e pesquisas. A prevenção é a estratégia básica para o controle da transmissão das ITS e da infecção pelo HIV e deve ser realizada em qualquer oportunidade de contacto do indivíduo com o serviço de saúde. As principais actividades de prevenção incluem a informação constante para a população, oferta de preservativos e actividades educativas visando: A percepção do risco de contrair uma ITS; Mudanças no comportamento sexual; Promoção e adopção de medidas preventivas com ênfase na utilização adequada do preservativo. O diagnóstico e tratamento dos portadores de ITS são em geral realizados utilizandose uma das três abordagens: etiológica, clínica ou sindrómica. Etiológica - através da identificação do agente causal por meio de exames laboratoriais e instituição de terapêutica específica; Clínica - que preconiza o tratamento de uma doença com base no quadro clínico apresentado pelo/a paciente; Sindrómica - em que é instituído tratamento para os agentes causais mais frequentes de uma síndrome diagnosticada. Cada uma dessas formas de se abordar um paciente com ITS tem vantagens e desvantagens que devem ser analisadas de forma a definir a política local de controle das ITS. O Programa de Controle das ITS/HIV/SIDA de Moçambique recomenda o uso de duas abordagens: a etiológica em serviços que disponham de facilidades 16 laboratoriais, mais frequentes nos níveis de atenção terciários e quaternários; e a abordagem sindrómica, em unidades sanitárias de nível primário ou secundário. A disponibilidade de exames laboratoriais em tempo hábil nem sempre é suficiente para se definir a abordagem etiológica como a prioritária, se considerarmos as limitações das técnicas laboratoriais para a identificação de alguns patógenos. A abordagem clínica tem como limitante o facto de que é frequente a ocorrência de infecções mistas ou associação de duas ou mais ITS. Além disso, uma mesma doença pode se apresentar sob formas variadas, com grande diversidade entre si, conforme as relações que se estabelecem entre o agente etiológico e o indivíduo. Ou seja, nem sempre as manifestações das ITS se apresentam como classicamente são descritas nos compêndios médicos. A abordagem sindrómica permite um tratamento efectivo de pacientes sintomáticos, utilizando-se os algoritmos elaborados de acordo com a realidade local. Eles são simples e podem ser usados em locais distantes, desde que haja disponibilidade dos medicamentos necessários. Uma grande vantagem dessa abordagem é a possibilidade de tratamento precoce, o que impede novas infecções e quebra da cadeia de transmissão, em uma única visita ao serviço. A abordagem sindrómica se fundamenta no facto de que as ITS, apesar dos diversos agentes causais conhecidos, costumam-se manifestar de forma semelhante, podendo ser agrupadas nas seguintes síndromas principais: corrimento vaginal, corrimento uretral masculino, úlcera genital, desconforto ou dor no baixo ventre, escroto inchado e bubão inguinal. Cada uma dessas síndromas tem um algoritmo específico que deve ser seguido pelo profissional de saúde que adoptará o tratamento ali especificado. A abordagem sindrómica não é de uso exclusivo infecciosas também se servem dessa abordagem, especialmente nos casos em que o quadro se apresenta grave, determinando atenção terapêutica imediata com um ou mais anti-microbianos, visando dar cobertura aos principais agentes etiológicos responsáveis pelo quadro. Embora esse não seja o caso da maioria das pessoas com ITS, esses indivíduos frequentemente enfrentam situações que exigem uma abordagem terapêutica imediata, pois, é alta a possibilidade desse indivíduo não mais retornar à consulta, se não se sentir melhor, já que é portador de uma condição clínica cujo modo de aquisição o torna alvo fácil de discriminação e marginalização. para as ITS. Várias outras doenças Vantagens da Abordagem Sindrómica: rapidez no atendimento; maior cobertura na rede básica; oportunidade de introdução de medidas preventivas; padronização do tratamento; satisfação da clientela; proporcionar abordagem diagnóstica e tratamento racional em locais de acesso laboratorial restrito. A abordagem sindrómica poderá minimizar aspectos tais como: procura de tratamento alternativo que nem sempre é bem indicado; longa espera por resultados de exames; persistência das queixas. 17 Se houver laboratório na Unidade Sanitária, deve-se realizar a colheita prévia de amostras para os exames laboratoriais disponíveis, indicados para confirmação diagnóstica e orientação do esquema terapêutico a ser mantido. Entretanto, a participação do laboratório não deve servir para ocasionar atraso ao início do tratamento. Assim, a abordagem sindrómica pode ser a abordagem prioritária em unidades sanitárias de níveis de complexidade diferentes. A principal limitação da abordagem sindrómica no contexto de um programa de controle de ITS é a não cobertura dos pacientes com infecção sub-clínica ou assintomáticos e dos pacientes que não costumam procurar os serviços de saúde, apesar de sintomáticos. Simultaneamente ao tratamento do caso presente, deve-se iniciar o tratamento dos(as) parceiros(as) sexuais, mesmo que assintomáticos, com a finalidade de quebrar a cadeia de transmissão e evitar a reinfecção. QUEM DEVERÁ SER CHAMADO? ITS Corrimento uretral Úlceras genitais DIP Corrimento vaginal Sífilis – RPR positivo Oftalmia neonatal Sífilis congénita Infecção pelo HIV Condiloma CONTATOS TEMPO Parceiros sexuais Até 90 dias (3 meses) antes do início dos sintomas Parceiros sexuais Até 01 ano antes da data do exame Mãe e seus parceiros sexuais atuais Parceiros actuais Considerar os parceiros desde o início da(s) actividade(s) de risco Convocar parceiros sexuais atuais para aconselhamento Um grande desafio para o controle efectivo das ITS em determinada população devese ao facto de que um grande número de pessoas com ITS não procura os serviços de saúde, ou por não apresentarem sintomas ou por motivos variáveis. Dentre esses motivos podemos citar a dificuldade em marcar consulta, falta de recursos para deslocamento até a unidade sanitária, vergonha, medo, preconceito, não percepção dos sinais e sintomas, dentre outros. Na figura abaixo, o Diagrama de Piot, procura esclarecer essa relação de um modo gráfico, para melhor visualização e entendimento. 18 DIAGRAMA DE PIOT População Sexualmente Activa População com ITS Percebem os sintomas Procuram atendimento Diagnóstico correcto Tratamento Cura Parceiros Esse diagrama mostra-nos que muitas pessoas com ITS não procuram tratamento porque são assintomáticas ou tem poucos sintomas ou, ainda, não percebem esses sintomas como algo errado na sua saúde. Outros, mesmo apresentado sintomas, preferem procurar tratamentos alternativos, tradicionais ou em farmácias ou tratar a si próprios. Dentre aqueles que procuram uma unidade sanitária muitos podem não ter o diagnóstico ou tratamento feitos correctamente, ou mesmo não tomarem os medicamentos conforme indicado. Finalmente, uma pequena proporção das pessoas com ITS é curada e se previnem de novas infecções pelo controle adequado de seus parceiros sexuais. Tão importante quanto diagnosticar e tratar correctamente e o mais precocemente possível os portadores sintomáticos é realizar a detecção precoce dos casos assintomáticos. Dentre as estratégias que poderão suprir essa lacuna deve ser priorizado o rastreio de ITS assintomáticas, especialmente sífilis, gonorréia e clamídia em gestantes ou adolescentes, em serviços como os que executam atendimento ginecológico, em especial os de planeamento familiar, de atendimento pré-natal e serviços de prevenção do cancro do colo uterino e, dessa forma, aproveitar a oportunidade de contacto das pessoas com os serviços de saúde para investigar a presença de uma ITS assintomática ou não percebida. O tratamento, em todas as situações, deve ser instituído no momento da consulta, preferencialmente com medicação por via oral e em dose única ou com o menor número possível de doses. A espera em longas filas e a possibilidade de marcar a consulta para outro dia, associadas à falta de medicamentos, são talvez os principais factores que induzem à busca de atenção em outros lugares tais como, na farmácia, no mercado ou na medicina tradicional. É obrigatório, para os programas de controle das ITS, intervirem no topo deste diagrama de PIOT, através de esforços educacionais para diminuir o risco, tornar os preservativos mais acessíveis, realizar buscas de casos através de parceiros e rastrear mulheres no pré-natal e planeamento familiar à procura de casos de sífilis. A sinergia dos esforços nesta direcção - prevenção e busca de novos casos - em conjunto com 19 um melhor manejo clínico de casos (que é o foco tradicional), aponta para uma abordagem mais eficiente e para melhor controle das ITS. Essa abordagem demanda uma maior atenção para os aspectos sócio-comportamentais das ITS, assim como para o contexto político, além dos serviços de atendimento à saúde mais voltados para o paciente. Aqui se vislumbra um grande desafio para as unidades sanitárias, pois, a medida em que uma comunidade se encontra consciente e motivada a buscar tratamento para as ITS, a pressão sobre a unidade de saúde é maior no sentido de atenderem a suas demandas. Da mesma forma, uma vez que os serviços clínicos se tornem mais eficazes e mais acolhedores aos utentes, é mais provável que a comunidade venha a procurálos. A acessibilidade dos serviços em relação à comunidade é um importante dado para detectar se de fato aqueles que sabem que podem estar infectados vão procurar tratamento. Factores que prejudicam a aceitabilidade dos serviços são: taxas altas para o utente, longas filas de espera, falta de privacidade, falta de empatia e aceitação por parte dos trabalhadores de saúde e falta de medicamentos eficazes. O atendimento imediato de uma ITS não é apenas uma acção curativa, mas também, é principalmente, uma acção preventiva da transmissão do HIV e do surgimento de outras complicações. O quadro abaixo resume os passos necessários para um controle adequado das ITS nas unidades sanitárias de qualquer nível de complexidade: O PROFISSIONAL DE SAÚDE DEVE SEMPRE: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 20 Promover a prevenção e controle das ITS nas comunidades especialmente na população de alto risco; Ensinar como reconhecer os sintomas e quando procurar assistência; Promover a procura precoce dos serviços para curar as ITS, evitar complicações e a infecção pelo HIV; Promover práticas de sexo seguro incluindo uso correcto e consistente de preservativos, redução do número de parceiros sexuais e iniciação sexual mais tardia; Detectar infecções assintomáticas; Despiste de sintomas de ITS nos serviços de planeamento familiar e pré-natal; Despiste de sintomas de ITS sempre que examinar um paciente que tenha vida sexual activa; Abordagem sintomática usando os algoritmos na assistência a pessoas com DTS; Fazer o tratamento correcto e completo; Aconselhamento aos pacientes para se manterem não infectados após o tratamento; Convocar os parceiros sexuais e reforçar as medidas preventivas. COMO PREVENIR AS ITS A melhor forma de prevenir uma ITS é evitar a exposição. Assim, a possibilidade de uma pessoa se expor às ITS pode ser reduzida pela adopção das seguintes medidas: Retardar o início da actividade sexual, especialmente para jovens e adolescentes; Reduzir o número de parceiros sexuais; Uso correcto e consistente do preservativo, masculino ou feminino. Em qualquer uma dessas situações há necessidade de se discutir com o paciente o “porquê” e o “como” isso deve ser feito, sempre do ponto de vista do paciente, levando em conta suas atitudes, crenças e hábitos. Para que isso seja feito de forma efectiva e dê os resultados esperados o profissional de saúde deve escutar activamente o paciente e levá-lo a compreender a relação existente entre o seu comportamento e o problema de saúde que ele está apresentando. Para que essa interacção seja efectiva, é importante que se cuide da forma como acontece o processo de comunicação. As pessoas se comunicam de diferentes maneiras. Algumas vezes, Comunicação verbal ou comunicam-se mediante gestos, sinais, ou certa postura audível é aquela em que as corporal, a que chamamos de comunicação não verbal ou pessoas se comunicam pela não audível; e outras, através da palavra, à qual chamamos palavra falada. de comunicação verbal ou audível. Quando trabalhamos Comunicação não verbal ou nos serviços de saúde há que tomar em conta a linguagem não audível, aquela em que as pessoas se comunicam pelos verbal e não verbal na interacção com os doentes, isto é, gestos, maneira de ficar em pé, saber “escutar” ambas as formas de comunicação e, saber sentados, expressões faciais e que a sua própria linguagem corporal, gestual, tom de mesmo pelo silêncio. voz, palavras específicas estão a comunicar alguma emoção ao doente. O fato de estar consciente fará com que a relação do profissional com o doente seja de qualidade, contando assim com um indivíduo satisfeito com o serviço oferecido. ACONSELHAMENTO: UMA POTENTE ESTRATÉGIA O aconselhamento é um processo de escuta activa, dinâmico, de confiança entre duas pessoas, em que uma pessoa ajuda a outra a tomar decisões e a realizá-las na prática. Aconselhamento não é dar conselhos. É, antes de tudo ouvir, não julgar e procurar mostrar a ligação entre as ITS e as atitudes, comportamentos e crenças da pessoa. O aconselhamento é uma estratégia chave na prevenção e controlo da infecção pelo HIV e das ITS. 21 Os principais objectivos do aconselhamento são: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Dar apoio emocional e suporte institucional através da realização de testes, fornecimento de material de IEC e prestar informações gerais sobre as ITS e HIV/SIDA Identificar e corrigir crenças ou mitos errados Trocar informações sobre as ITS, HIV/SIDA, suas formas de transmissão, prevenção e tratamento. Ajudar a fazer um plano de redução de comportamento de risco para a infecção pelo HIV e outras ITS. Promover a adesão ao tratamento prescrito Estimular a convocação de parceiros sexuais. Apoiar na identificação de grupos (ou pessoas) de apoio que ajudem na mudança de comportamentos. Referir, quando necessário, para outros serviços de saúde especializados. O aconselhamento visa ajudar na tomada de uma decisão e envolve, muitas vezes, informações objectivas que permitem à pessoa utilizar melhor os seus recursos pessoais. Pretende, portanto, ajudar o indivíduo a lidar com problemas reais de modo satisfatório. O aconselhamento pode ser realizado tanto em grupo como individualmente, antes, durante ou após a consulta médica. O aconselhamento em grupo, permite que as pessoas repensem suas dificuldades, compartilhem suas dúvidas, troquem sentimentos e conhecimentos. Os grupos realizados com pessoas enquanto esperam pelo atendimento individual além de exemplificarem um bom momento para essa abordagem, optimizam o tempo que a pessoa passa na unidade sanitária. É importante, entretanto, que o profissional que faz o aconselhamento esteja atento para perceber os limites que separam as questões que devem ser abordadas no aconselhamento em grupo, daquelas pertinentes ao atendimento individual. O aconselhamento deve ser feito por todos os profissionais de saúde. É fundamental que a pessoa que realiza esta actividade tenha informações actualizadas e tecnicamente correctas sobre as ITS/HIV. O aconselhador deve adoptar uma postura de acolhimento valorizando o que o paciente sabe, pensa e sente a respeito do seu problema de saúde, facilitando assim a formação do vinculo de confiança essencial em todo o processo. Independentemente do tempo que vá durar a consulta esses procedimentos são de grande importância para o controle das ITS e estão resumidos nos pontos abaixo. 22 OS PROCEDIMENTOS INCLUEM: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. BÁSICOS DO ACONSELHAMENTO Receber bem o paciente, perguntar seu nome e apresentar-se; Usar linguagem que o paciente entenda; Reafirmar a confidencialidade e o sigilo das informações prestadas; Identificar com clareza a demanda do indivíduo, quais são suas queixas, sinais e sintomas e início do quadro actual; Prestar apoio emocional ao indivíduo; Facilitar para que o indivíduo expresse seus sentimentos; Identificar as crenças e os valores do indivíduo acerca das ITSHIV/SIDA; Utilizar linguagem compatível com a cultura do indivíduo; Trocar informações específicas sobre as ITS apresentadas; Avaliar com o indivíduo seus antecedentes em relação a outras ITS e as situações de risco que culminaram nesta ITS, oferecendo a possibilidade de testagem para o HIV, se estiver disponível; Reforçar a necessidade da adopção de práticas sexuais mais seguras para a redução de riscos; Explicar as complicações decorrentes de não fazer o tratamento, ou do tratamento ser incompleto ou da auto-medicação; Reforçar a necessidade do tratamento dos parceiros sexuais; Trocar informações sobre ITS-HIV/SIDA, suas formas de transmissão, prevenção e tratamento, com ênfase nas situações de risco do indivíduo; Explicar o benefício e demonstrar o uso correcto do preservativo, avaliando possíveis dificuldades quanto ao uso e sua superação; Verificar sempre se o paciente entendeu o que foi discutido solicitando que repita as informações mais importantes; Nunca: a. Movimentar-se constantemente ou sair da sala b. Fazer comentários que envolvam julgamentos ou expressão facial de esaprovação. Aconselhamento não é dar conselhos Em várias situações, a colecta da história clínica do paciente mistura-se e articula-se com o processo de aconselhamento. Ao mesmo tempo em que o profissional de saúde colhe a história do quadro que trouxe o paciente à consulta médica, também realiza o aconselhamento, seguindo os passos acima descritos. 23 HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO Algumas pessoas com ITS têm sintomas e procuram tratamento nas unidades sanitárias, enquanto outras não o fazem. Investigar activamente a existência e o reconhecimento de sinais e sintomas é uma forma efectiva de reduzir os danos causados pelas ITS e prevenir a infecção pelo HIV. Em mulheres, infecções assintomáticas e silenciosas podem ser tão sérias quanto as sintomáticas. Sífilis, gonorréia e clamídia têm consequências graves e frequentemente são assintomáticas ou têm sinais e sintomas discretos. Nos homens, a presença de sinais e sintomas são mais frequentes, porém, estes comummente os ignoram, se não são muito severos. Estes factos definem a necessidade de se investigar activamente as queixas mais comuns de pessoas com ITS. Devido ao estigma associado às ITS, os pacientes sempre relutam em falar sobre suas condições. É necessário fazêlos sentirem-se mais confortáveis durante a colecta da história clínica (anamnese) e do exame físico e genital. O profissional de saúde deve mostrar-se interessado, simpático, não agredir ou julgar o paciente e aceitá-lo com todos os seus problemas e, simultaneamente, ser capaz de estabelecer com ele uma relação directa, afectiva e de confiança. História Clínica: Acolha o paciente Apresente-se Encoraje-o a falar Olhe para o seu paciente Faça uma pergunta de cada vez Ouça o seu paciente Incentive-o a fazer perguntas e responda-as A história sexual do paciente fornece informações importantes para as decisões que serão tomadas no tratamento e aconselhamento do indivíduo. É fundamental que a colecta da história ocorra em um ambiente acolhedor, com privacidade e confidencialidade, onde o paciente possa responder às perguntas do profissional sem que ninguém o ouça, excepto quem o atende. 24 GUIÃO BÁSICO PARA UMA BOA ANAMNESE 1. Investigue a razão da visita: pergunte os motivos que o trazem à consulta a. Que motivo o trouxe à consulta hoje? b. É a primeira consulta ou consulta de controle? c. Tem algum problema nos genitais? 2. História social do indivíduo, incluindo factores que aumentam o risco de ITS/HIV: situação familiar e aspectos culturais e espirituais. a. Você trabalha fora de casa? O que você faz? b. Quem vive actualmente em sua casa? c. Quantos filhos tem e de que idade, mora com outras pessoas? d. Vive com algum parceiro/a? Há quanto tempo? 3. Sintomas relacionados à presente queixa a. O que está sentindo? b. Há quanto tempo começaram as queixas? c. Como evoluíram os sintomas? d. Já sentiu isso antes? 4. Gravidez actual, data da última menstruação e uso de contraceptivos. a. Você está grávida agora? b. Quando foi a última menstruação? c. Quando foi a última gravidez? d. Usa algum método para não engravidar? 5. História sexual, incluindo comportamentos que podem aumentar o risco de ITS/HIV a. Quando foi a última relação sexual? b. Quantos parceiros você teve nos últimos três meses? c. Conhece o preservativo (masculino e/ou feminino)? d. Usou preservativo na última relação sexual? Porquê? e. Você pratica sexo anal? Vaginal? Oral? 6. Sintomas de ITS: perguntar activamente as queixas principais das ITS associadas a síndromes específicas que não tenham sido referidas. a. Tem corrimento vaginal/uretral? b. Comichão ou irritação nos órgãos genitais? c. Dor no baixo ventre? d. Dor ao urinar? e. Feridas, úlceras ou verrugas nos órgãos genitais? f. Inchaço ou tumefacção escrotal? Tumefacção ou inchaço na virilha? 7. História médica incluindo reacção adversa ou complicações com uso de alguma medicação a. Há quanto tempo começaram as queixas? b. Tem alguma outra doença? Qual? c. Tem algum medicamento que você toma todos os dias? d. Tem alergia a algum medicamento? Qual? Como sabe? e. Já tomou ou usou algum medicamento para esta doença? 8. Explique-lhe o problema identificado e a conduta a seguir 25 Os pacientes devem ser examinados nas mesmas condições de privacidade usadas para a colecta da história clínica. Eles devem-se sentir seguros de que ninguém irá entrar na sala quando estiver sendo examinado(a). O exame físico deve incluir: Avaliação do estado geral do paciente: peso, alterações na coloração da pele, erupções ou outras lesões cutâneas. Sinais vitais Aspecto físico, pele e mucosas, exame da boca e da garganta, procura de linfadenopatia na região cervical, axilar e inguinal Exame específico da área genital. EXAME GENITAL EM MULHERES O exame genital em mulheres inclui sempre três procedimentos: a inspecção da genitália externa, do períneo e do ânus, o exame com espéculo e o toque bimanual. Em cada um desses procedimentos há padrões a serem seguidos. Inspecção da genitália externa Antes de iniciar o exame certifique-se que há privacidade. Solicite que a mulher dispa as suas roupas, deite-se de costas na mesa do exame e dobre os joelhos. Mantenha-a coberta com um lençol. Após explicar o que irá fazer, coloque uma luva e inicie a inspecção, sempre sob boa iluminação. Examine atentamente a área genital externa, incluindo períneo e ânus, procurando por corrimento, edema, irritação cutânea, verrugas, úlceras ou feridas. Sempre que encontrar alguma alteração que não tiver sido referida pela paciente pergunte o que é e há quanto tempo apareceu. Pergunte também se já usou algum tratamento para isso. Se houver corrimento ou alguma lesão anote as suas características como tamanho, aspecto da lesão e dor à palpação, assim como côr, cheiro e quantidade do corrimento. 26 Exame Especular Antes de iniciar o exame certifique-se de que tem iluminação adequada, o espéculo está limpo, desinfectado e esterilizado e de que está usando luva. A seguir siga os seguintes passos: 1. Insira um dedo na abertura vaginal, puxe gentilmente para baixo de forma a expor a entrada vaginal, empurrando um pouco o períneo o que contribuirá para o relaxamento da musculatura. 2. Com a outra mão, segure o espéculo com as lâminas fechadas, na vertical. Insira com cuidado até a metade e rode de modo que as lâminas fechadas fiquem na horizontal e o cabo do espéculo esteja em baixo. 3. Gentilmente abra um pouco as lâminas e procure visualizar a cérvix ou colo do útero, movendo o espéculo devagar até que o colo seja visto entre as lâminas. Fixe o espéculo nessa posição. 4. Examine a cérvix que deve ter uma coloração rosa e identifique o orifício central e a presença de secreções. É normal a presença de pequena quantidade de secreção mucosa clara. Procure por sinais de infecção cervical como secreções amareladas e abundantes, ferimentos ou tumorações, dor ou sangramento fácil quando tocado. Faça a colecta de material para exame quando for indicado, conforme a orientação do laboratório. 5. Para remover o espéculo, puxe-o gentilmente até que a cérvix não esteja mais entre as lâminas. Feche as lâminas ao mesmo tempo em que roda o espéculo puxando-o para fora. Aproveite este movimento para examinar as paredes da vagina. Exame Bimanual Este exame também deverá ser previamente explicado para a paciente e realizado com luva estéril, sem necessidade de ser do tipo cirúrgico. 1. Insira um dedo na abertura vaginal, puxe gentilmente para baixo de forma a expor a entrada vaginal, empurrando um pouco o períneo para baixo, o que contribuirá para o relaxamento da musculatura. 2. Introduza, então, os dedos médio e indicador, previamente lubrificados, procurando sentir a elasticidade vaginal, presença de tumorações ou abaulamentos, consistência e tamanho do colo do útero e abertura do canal cervical. 3. Coloque um dedo de cada lado do colo uterino e movimente gentilmente a cérvix observando a reacção da paciente e dor à mobilização. 4. Com a outra mão, toque a parede do abdome inferior, respeitando os movimentos respiratórios e aproveitando a expiração para a palpação profunda. 5. A mão vaginal empurra o colo e o útero para cima, permitindo que o fundo do mesmo seja palpado entre a mão vaginal e a mão abdominal. Durante a palpação, notar seu tamanho, consistência, mobilidade, regularidade de sua 27 forma, o ângulo em relação ao colo e a vagina e a possível sensibilidade da paciente a esta manobra. 6. Palpe os órgãos anexiais. Insira os dedos vaginais lateralmente ao colo até o fundo, tracionando as estruturas na pelve com a mão abdominal. Normalmente essas estruturas são difíceis de sentir, especialmente em mulheres obesas ou após a menopausa. Deve-se procurar por tumorações ou alterações de sensibilidade, assim como identificar tamanho, forma e consistência do que for palpado. 7. Quando terminar limpe e desinfecte suas luvas se forem reutilizáveis. Lave suas mãos com água e sabão. O cumprimento de todos os passos da anamnese, do exame físico e a colecta de secreções e material para a realização do diagnóstico etiológico, (em locais onde esse recurso for disponível) o oferecimento para a realização do diagnóstico serológico da infecção pelo HIV e sífilis e o aconselhamento devem fazer parte da rotina. No entanto, lembramos que a realização do exame para a detecção da infecção pelo HIV deve ocorrer se o profissional for capacitado para realizar o aconselhamento pré e pós-teste. EXAME GENITAL EM HOMENS Antes de iniciar o exame da área genital diga ao paciente todos os passos que você vai fazer, de modo a obter a sua confiança e colaboração. Para uma melhor inspecção, tanto da região inguinal quanto dos órgãos genitais externos, o paciente deverá estar em pé, com as pernas afastadas e o profissional de saúde sentado. Sempre que encontrar alguma alteração que não houver sido referida pelo paciente pergunte o que é e há quanto tempo apareceu. Pergunte também se já usou algum tratamento para isso, ou se já teve isso antes. 1. Palpe a região inguinal procurando por aumento de gânglios, nódulos e bubões. 2. Palpe a bolsa escrotal, procurando identificar o testículo, epidídimo e cordão espermático, em ambos os lados. 3. Examine o pénis, procurando por alguma alteração: ferida, úlcera, verrugas, secreção, edema e eritema. 4. Peça ao paciente para retrair o prepúcio, se houver, e examine a glande e o meato uretral. Se não houver corrimento visível, solicite ao paciente que ordenhe a uretra, comprimindo o pénis da base à glande. 5. Peça ao paciente para curvar-se para a frente, afastando as nádegas com suas próprias mãos ou, melhor ainda, deitado de lado com leve flexão do tronco para a frente e da coxa não encostada na maca de exame, em direcção ao tórax. 6. Examine a região anal procurando por alterações como úlceras, vesículas, verrugas, secreções ou fissuras. 7. Quando terminar limpe e desinfecte suas luvas se forem reutilizáveis. Lave suas mãos com água e sabão. 28 Todos os passos citados anteriormente, anamnese, exame físico, colecta de secreções e material para a realização do diagnostico etiológico, oferecimento para a realização do diagnostico serológico da infecção pelo HIV e sífilis e o aconselhamento, também devem fazer parte da rotina do atendimento de pessoas do sexo masculino. No entanto, lembramos que a realização do exame para a detecção da infecção pelo HIV deve ocorrer se o profissional for capacitado para realizar o aconselhamento pré e pós-teste. Ao final da consulta, após explicar o problema identificado e a conduta, oriente-o sobre os passos a seguir após a consulta e se é preciso continuar com o tratamento em casa. Além disso, faça algumas perguntas para verificar o entendimento do que foi dito e se o entendimento do paciente não for o esperado, explique novamente. LIMPEZA E DESINFECÇÃO DO MATERIAL Precauções Básicas A implementação das precauções básicas tem por objectivo reduzir o risco de transmissão de microorganismos de fontes de infecção conhecidas ou desconhecidas dentro do sistema de saúde. Aplicam-se ao sangue e a todos os outros fluídos corporais, pele não íntegra e mucosas. Estas incluem as seguintes: Considerar a todas as pessoas (doentes e trabalhadores de saúde) como potencialmente infecciosas e susceptíveis às infecções. Lavar as mãos, é o procedimento mais importante para prevenir a contaminação cruzada (de pessoa a pessoa ou de um objecto contaminado a uma pessoa). Usar as luvas antes de qualquer procedimento invasivo ou entrar em contacto com fluídos corporais ou instrumentos sujos e lixo contaminado. Utilizar barreiras físicas (equipamento de protecção individual) para se proteger de salpicos e derrames de fluídos corporais. Utilizar agentes anti-sépticos para limpeza da pele ou das mucosas, antes de cirurgia, limpeza de feridas, lavagem higiénica de mãos ou lavagem cirúrgica com um produto anti-séptico a base de álcool. Utilizar práticas de trabalho seguras tais como, não reencapsular nem dobrar as agulhas, passar instrumentos cortantes com segurança e suturar, quando necessário, com agulhas cegas. Descartar o lixo infeccioso ou contaminado de forma segura. Processar os instrumentos, luvas e outros itens, depois da sua utilização segundo as normas. Luvas Os tipos de luvas mais utilizadas nos serviços de saúde são três: Luvas cirúrgicas utilizam-se nos procedimentos invasivos e cirúrgicos. Luvas de material plástico ou vinil para exame, utilizam-se em alguns procedimentos de avaliação de doentes. Luvas de borracha utilizam-se nos procedimentos de limpeza e lavanderia. 29 O tipo de luva a ser utilizado, depende do sector hospitalar. Por exemplo, o pessoal de limpeza utiliza luvas de borrachas ou de limpeza e não luvas cirúrgicas. As luvas devem ser utilizadas quando se prever contacto com sangue e fluídos corporais, mucosas ou pele não íntegra, para manuseio de itens ou superfícies sujas com sangue e fluídos e para punção venosa ou outros acessos vasculares. As luvas deverão ser trocadas após contacto com cada paciente. Em procedimentos cirúrgicos recomenda-se o uso de luvas reforçadas (de maior espessura) ou, na sua falta, de duas luvas para reduzir o risco de exposições em acidentes pérfurocortantes. Quando se utilizam as luvas não se deve realizar outras actividades, prejudicando outras pessoas, por exemplo: apertar botões de elevadores, atender telefones ou tocar em outros objectos. Calçando as luvas 1. Quando se utilizam luvas deve-se tomar em conta o seguinte: Use um par de luvas (individual) para cada paciente para evitar contaminação cruzada. Não use luvas de um pacote rasgado ou cujo prazo tenha sido expirado. Não use luvas com furos, rasgadas ou descascadas. Nunca toque a parte externa das luvas enquanto as estiver a colocar; manuseie-as apenas pela parte interna que está virada para fora. Se as luvas forem contaminadas acidentalmente, devem ser trocadas imediatamente. Lave as mãos depois que as luvas forem retiradas. 2. Para calçar as luvas, devem ser seguidos os seguintes passos: 30 Preparar uma grande área seca para abrir as luvas. Obter o tamanho correcto. Lavar e secar bem as mãos. Passar um pouco de pó de talco nas mãos (não nas luvas) se a parte interna das luvas não tiver talco. Abrir o embrulho externo das luvas e colocar o pacote de luvas numa superfície esterilizada, com a boca da luva voltada para si. (Isto poderia ser a extremidade inferior do pacote). Prestar atenção para não tocar a superfície interna do embrulho se pretender utilizá-la como um campo esterilizado. Pegar a luva pela parte da boca que está dobrada para fora. Cuidado em só tocar na parte interna da boca (isto é, a parte que estará a tocar a sua pele quando a luva estiver colocada). Enquanto estiver a segurar a luva, escorregar a outra mão dentro da luva. Apontando os dedos da luva para o chão irá manter os dedos abertos pela força da gravidade. Cuidado para não tocar qualquer coisa. Segurar a luva acima da cintura irá ajudar. Se a primeira luva não estiver colocada correctamente, esperar para fazer qualquer ajuste ou correcção quando a segunda estiver colocada (depois poderá usar os dedos esterilizados de uma luva para ajustar a porção esterilizada da outra). Para pegar a segunda luva, escorregar os dedos da mão com luvas entre a parte dobrada e a porção esterilizada da segunda luva. Isto é muito importante para evitar contaminar a luva que foi colocada na primeira mão com a mão que está sem luva. Colocar a segunda luva na mão que está descoberta, puxando-a firme através da parte dobrada. Não tentar ajustar os punhos uma vez que as luvas estejam colocadas, já que pode acabar por contaminá-las. Ajustar a posição dos dedos da luva até que a luva esteja confortavelmente ajustada. Manter sempre as mãos com luvas acima do nível da cintura e à frente para evitar contaminação acidental. Se uma luva tiver sido contaminada, parar e perguntar a si mesma se a luva irá tocar um instrumento esterilizado ou contaminado, as membranas mucosas ou tecidos esterilizados. Se a resposta for positiva, deverá ou retirar a luva e colocar outra, ou pôr outra luva esterilizada sobre a luva contaminada. Ao retirar as luvas, evitar que a superfície que esteja esterilizada entre em contacto com as suas mãos (o exterior das luvas está agora contaminado). Primeiro, descontaminar colocando as duas mãos com luvas em solução de cloro a 0,5%. Depois, retirar as luvas, colocando a parte de dentro para fora. Deitar as luvas no lixo ou deixe que as luvas fiquem imersas na solução por 10 minutos se vão ser processadas. Lembrar que: Quando se utilizam as luvas, não se deve realizar outras actividades com as mãos. O uso de luvas não dispensa a lavagem das mãos. 31 Lavagem das mãos É o processo de remoção mecânica de sujeira, de restos da pele e da redução de microrganismos transitórios. A lavagem das mãos deve ser realizada usando sabão simples e água limpa. A lavagem das mãos deve ser feita antes de: Examinar um doente (higiénica) Colocar luvas cirúrgicas esterilizadas ou sujeitas a desinfecção de alto nível antes de uma operação (lavagem cirúrgica) ou luvas de exame para procedimentos de rotina, tais como o exame pélvico. A lavagem das mãos deve ser realizada depois de: Qualquer situação em que as mãos possam ser contaminadas, tais como manuseio de instrumentos contaminados, contacto com mucosas, sangue ou fluídos corporais, contacto prolongado e intenso com um doente (anti-sepsia). Remoção das luvas. Para a lavagem higiénica das mãos devem ser seguidos os seguintes passos: 1. 2. 3. 4. 5. Molhar as mãos com água corrente e abundante Aplicar o sabão simples Esfregar vigorosamente todas as áreas das mãos e dedos durante 10 a 15 segundos, prestando atenção sob as unhas e entre os dedos Enxaguar as mãos com abundante água limpa. Secar as mãos com uma toalha de papel e usar a toalha para fechar a torneira. Caso não haja água: Utilize uma solução de 3 – 5 ml de uma mistura de um anti-séptico tal como, o álcool de 60-90% e glicerina pode ser eficaz, sempre e quando não houver sujeira visível. Esta solução prepara-se agregando 2 ml de glicerina a 100 ml de álcool. Dado que os anti-sépticos não removem a sujeira ou matéria orgânica, as mãos que apresentam sujeira visível, em primeiro lugar, devem ser lavadas com água e sabão. Passos sequenciais no processamento de artigo hospitalar O primeiro passo é a descontaminação. O material é mergulhado em hipoclorito de sódio a 0,5% durante 10 minutos. O segundo passo é a limpeza do material com água e sabão corrente. Os instrumentos devem ser abertos ou desmontandos, quando possível, utilize escovas para remover a matéria suja, prestando atenção ao interior e às áreas de união. Depois da 32 Dete rgent lavagem com água e sabão, os instrumentos devem ser enxaguados com água corrente e limpa. A secagem do material deve ser feita ao ar ou utilizando uma toalha limpa. A secagem evita a interferência da humidade com a esterilização e garante a manutenção do material. Os resíduos de água dos artigos aumenta a diluição do produto de desinfecção de alto nível, portanto é importante a secagem dos artigos antes da imersão. O terceiro passo: depois da lavagem do artigo, segue a esterilização ou desinfecção. 1. O material que vai à estufa ou à autoclave (meio físico) deve ser preparado da seguinte maneira: Embrulhar e colocá-lo em caixas limpas (perfuradas melhor) se necessário. O embrulho pode ser de pano, papel ou envelopes apropriados. Rotular a caixa ou o embrulho e proceder à esterilização, obedecendo às normas. Colocar o testemunho (fita ou tubos) conforme o agente esterilizador. Arrumar de forma que o ar possa circular e o vapor possa entrar em todas as superfícies. Esperar durante 20-30 minutos depois de desligar a fonte de calor até que o marcador de pressão registe zero. Retirar a tampa e deixar que os embrulhos sequem por completo (cerca de 30 minutos) antes de removê-los. Retirar e guardar os pacotes num tabuleiro ou prateleira e cobri-los com papel ou uma toalha de algodão. Os pacotes podem ser armazenados até o período de uma semana, se mantidos secos, ou um mês, se fechados dentro de um saco plástico. Os objectos desembrulhados devem ser usados no mesmo dia. O tempo da esterilização depende do equipamento e característica do aparelho indicadas pelo fabricante. 2. Na Desinfecção de Alto Nível (DAN), o material deve ser: Mergulhado no recipiente com a solução química correspondente por um período de 20 minutos. A solução deve cobrir totalmente o material. O mais utilizado é hipoclorito de sódio a 0,1% ou Cidex a 2%. Utilizar uma pinça desinfectada a alto nível ou esterilizada para retirar os itens da solução com o desinfectante. Lavar bem os materiais com água e deixar que sequem ao ar livre. Os materiais podem ser guardados, por uma semana, num recipiente coberto quando bem secos. Se húmidos, devem ser utilizados imediatamente. Sterilizing Agent Na Desinfecção de Alto Nível através da fervura devem ser seguidos os seguintes passos: 33 Os instrumentos devem ferver por 20 minutos, a contar do momento um item adicional é colocado depois que o processo de fervura tiver iniciado, comece a contar o tempo novamente. Nunca deixe os itens fervidos permanecer na água até esfriar uma vez que os microrganismos podem começar a crescer em água fria como também é possível que os instrumentos comecem a enferrujar na água depois de algum tempo. Colocar os itens, uma vez retirados do ebulidor, em recipientes esterilizados ou desinfectados a alto nível. Os itens podem ser armazenados num recipiente coberto até uma semana, mas se estiverem molhados, devem ser usados no mesmo dia. 10 9 8 11 12 1 7 6 5 2 3 4 O Quarto passo: Os itens podem ser utilizados novamente ou armazenados. 34 10 9 8 11 12 1 7 6 5 2 3 4 Capitulo 4 Abordagem Sindrómica do Paciente com ITS 35 CORRIMENTO URETRAL Queixa de corrimento uretral ou disúria História Clínica e exame físico Pressão sobre a uretra, se necessário Usar algoritmo específico Sim Não Corrimento presente? Outra ITS? Não Sim * O metronidazol deve ser tomado ao deitar-se a noite. Não ingerir bebidas alcoólicas nas próximas 24 horas Tratamento para: Gonorréia, Clamídia e Tricomonas 1. Ciprofloxacina 500mg VO Dose Única 2. Azitromicina 1g VO Dose Única 3. Metronidazol 2g VO Dose Única * Tem suspeita de SIDA? Sim Aconselhamento pré-teste Solicitação do teste HIV Encaminhamento de acordo com o resultado Convocação de parceiros Notificação do caso Controlo aos 7 dias, se sintomático 36 Não Aconselhamento HIV/ITS Possibilidade de testagem para HIV e sífilis Oferta de preservativos Investigar disúria CORRIMENTO URETRAL Notas explicativas PACIENTE COM QUEIXA DE CORRIMENTO URETRAL OU DISÚRIA Este é o quadro de entrada do algoritmo. Nele estão referidas as principais queixas do paciente ao apresentar-se à consulta HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO Este quadro de acção indica que é necessário fazer a história clínica do paciente, interrogando-o sobre: A data do início dos sintomas Como evoluíram os sintomas A história dos contactos sexuais recentes (número de parceiros, uso do preservativo, práticas sexuais, história de parceira com corrimento vaginal) Tratamentos já efectuados Antecedentes de ITS O exame físico sempre deve incluir: Inspecção da superfície cutânea Exame da boca e da garganta Procura de linfadenopatia na região cervical, axilar e inguinal. Inspecção da região genital: com o prepúcio retraído verificar se o corrimento provém realmente do meato uretral. Se não houver corrimento solicitar ao paciente que ordenhe a uretra, comprimindo o pénis da base à glande. Observar a existência de outras lesões. Também deve-se observar a região escrotal e anal. TRATAR GONORRÉIA, CLAMÍDIA E TRICOMONAS Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas. GONORRÉIA Ciprofloxacina 500 mg via oral Dose Única + CLAMÍDIA Azitromicina 1 g via oral Dose Única + TRICOMONAS* Metronidazol 2g via oral Dose Única * Lembrar que metronidazol deve ser tomado pelo menos 6 horas depois dos outros fármacos, com a refeição, preferencialmente ao deitar-se e sem ingerir bebidas alcoólicas pelas próximas 24 horas SUSPEITA DE SIDA Suspeita de SIDA se o paciente apresentar sinais ou sintomas decorrentes da infecção pelo HIV ou de outras infecções oportunistas, tais como: tosse ou dificuldade para respirar, diarreia, problemas na boca, febre, problemas na pele, linfadenopatia, dor de cabeça ou problema neurológico, perda de peso importante e 37 anemia. Na presença dessas alterações deve-se fazer o aconselhamento pré-teste, encaminhar o paciente para o laboratório e agendar o retorno. ACONSELHAMENTO, TESTAGEM PARA HIV E SÍFILIS, ADESÃO AO TRATAMENTO, DISTRIBUIÇÃO PRESERVATIVO, NOTIFICAÇÃO DO CASO, CONVOCAÇÃO DE PARCEIROS, RETORNO Neste quadro de acção é importante: Considerar a associação entre as diferentes ITS especialmente o HIV. Aconselhar o paciente e oferecer-lhe a realização do teste para o HIV e sífilis sempre que for possível. Registar e notificar o caso. Oferecer preservativos ao paciente orientando e demonstrando o uso. Instruir o paciente para interromper as relações sexuais até o desaparecimento dos sintomas. Encorajar o paciente após a cura usar preservativo em todas as relações sexuais ou adoptar outras formas de sexo mais seguro. Encorajar o paciente a comunicar a todas as suas parceiras sexuais dos últimos três meses para que possam ser atendidas e tratadas. Esta actividade é fundamental para se romper a cadeia de transmissão e para evitar que o paciente se reinfecte. Marcar o retorno para controle de cura em 7 dias, se sintomático ou para conhecimento dos resultados dos exames solicitados. Tratar outra ITS diagnosticada de acordo com o algoritmo específico. EM CASO DE PERSISTÊNCIA DOS SINTOMAS No retorno, em caso de persistência das queixas ou recidiva, investigar: Se o diagnóstico foi correcto; Se usou correctamente a medicação; Se o parceiro foi tratado; Não teve novo parceiro sexual; Se alguma das respostas for NÃO, repetir o tratamento Se todas as respostas forem SIM, é possível que o paciente esteja infectado com gonorréia resistente ao medicamento usado. Sendo assim, tratar o paciente com o medicamento abaixo, na dose indicada. GONORRÉIA (resistente) Cefixime 400 mg via oral Dose Única 38 ÚLCERA GENITAL NO HOMEM E NA MULHER Queixa de úlcera genital ou vesícula História clínica e exame físico Sim Uma ou mais vesículas genitais ao exame? Não Tratamento para Herpes 1. Aciclovir 400mg VO 3 x dia/7 dias Usar algoritmo específico Sim Não Úlcera genital ao exame? Outra ITS? Não Sim Suspeita clínica de SIDA? Ou HIV positivo? Ou último mês de gravidez? Sim Tratamento para Sífilis, Cancróide e Herpes 1. Penicilina benzatínica 2,4 milhões IM Dose única 2. Azitromicina 1g VO Dose Única 3. Aciclovir 400mg VO 3 x dia/7 dias Não Tratamento para Sífilis e Cancróide 1. Penicilina benzatínica 2,4 milhões IM 1x 2. Azitromicina 1g VO Dose Única Convocação do parceiro Notificação do caso Controlo ao 7º dia, se sintomático Aconselhamento HIV/ITS Se possível, testar para HIV e sífilis Oferta de preservativos 39 ÚLCERA GENITAL NO HOMEM E NA MULHER NOTAS EXPLICATIVAS PACIENTE COM QUEIXA DE ÚLCERA GENITAL OU VESÍCULAS Este é o quadro de entrada do algoritmo. Nele estão referidas as principais queixas do paciente ao apresentar-se à consulta. HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO Este quadro de acção indica que é necessário fazer a história clínica do paciente, interrogando-o sobre: A data do início dos sintomas Como evoluíram os sintomas História anterior de sintomas semelhantes A história dos contactos sexuais recentes (número de parceiros, uso do preservativo, práticas sexuais, parceiro com sintomas semelhantes) Tratamentos já efectuados Antecedentes de ITS O exame físico sempre deve incluir: Inspecção da superfície cutânea Exame da boca e da garganta Procura de linfadenopatia na região cervical, axilar e inguinal No homem: com o prepúcio retraído verificar a presença de úlcera ou de outros sinais de infecção. Inspeccionar períneo e ânus; Na mulher: examinar a genitália externa, afastar os lábios vaginais, visualizar o intróito vaginal, examinar a vagina. Exame com espéculo: examinar o fundo de saco vaginal e colo uterino. Inspeccionar períneo e anus; Observar a existência de outras lesões. VESÍCULA GENITAL AO EXAME Este quadro de decisão mostra a necessidade de se investigar a possibilidade da ulceração ou ulcerações serem decorrentes de Herpes Genital. A presença ou história de vesículas agrupadas “em cacho” sobre base eritematosa, cujo aparecimento foi precedido de dor, ou ardor ou comichões, especialmente com história de recorrência das lesões, é suficiente para o diagnóstico. TRATAR HERPES GENITAL Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas. HERPES GENITAL Aciclovir 400 mg via oral 3xdia/7 dias 40 Deve-se iniciar o tratamento o mais precocemente possível. EVIDÊNCIA DE ÚLCERA GENITAL AO EXAME Este quadro de decisão mostra a necessidade de se confirmar a presença de ulcerações pela inspecção da região genital. Lembrar que o aspecto das lesões pode ser alterado em presença de infecção pelo HIV TRATAR SÍFILIS E CANCRÓIDE Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas SÍFILIS Penicilina Benzatínica 2,4 milhões IM Dose Única + CANCRÓIDE Azitromicina 1g via oral Dose Única INFECÇÃO PELO HIV E GESTANTES NO ÚLTIMO MÊS DE GRAVIDEZ Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas. HERPES GENITAL Aciclovir 400 mg via oral 3xdia/7 dias + PENICILINA BENZATÍNICA 2,4 milhões Dose úú + CANCRÓIDE Azitromicina 1g via oral Dose Única As gestantes com história comprovada de alergia à penicilina, devem ser dessensibilizadas. Na impossibilidade, deve ser administrado Eritromicina nas doses: 500mg VO 4 x dia por 4 semanas 41 ACONSELHAMENTO, TESTAGEM PARA HIV E SÍFILIS, ADESÃO AO TRATAMENTO, DISTRIBUIÇÃO PRESERVATIVO, NOTIFICAÇÃO DO CASO, CONVOCAÇÃO DE PARCEIROS, RETORNO Neste quadro de acção é importante: 42 Considerar a associação entre as diferentes ITS especialmente o HIV. Aconselhar o paciente e oferecer-lhe a realização do teste para o HIV e sífilis sempre que for possível; Registar e notificar o caso; Oferecer preservativos ao paciente orientando e demonstrando o uso. Instruir o paciente para interromper as relações sexuais até o término do tratamento. Encorajar o paciente após a cura a usar preservativo em todas as relações sexuais ou adoptar outras formas de sexo mais seguro. Encorajar o paciente a comunicar a todos os parceiros sexuais dos últimos três meses para que possam ser atendidos e tratados. Esta actividade é fundamental para se romper a cadeia de transmissão e para evitar que o paciente se reinfecte: Marcar o retorno para controle de cura em 7 dias e conhecimento dos resultados dos exames solicitados. Tratar outra ITS diagnosticada de acordo com o algoritmo específico. Explicar a possibilidade de recidivas em casos de Herpes Genital. Descrever os sinais precoces de lesões recorrentes, tais como dor ou coceira intensa seguida de bolhas. Explicar a importância de retornar a Unidade Sanitária logo aos primeiros sinais de lesão recorrente, pois quanto mais cedo o tratamento, mais efectivo o resultado. Instruir o paciente a evitar contacto sexual durante a erupção para reduzir o risco de transmissão do herpes ao(s) parceiros(as). CORRIMENTO VAGINAL Queixa de corrimento vaginal História clínica e exame físico Usar algoritmo de dor no baixo ventre Sim Queixa de dor no baixo ventre? Não Exame externo para identificar outras ITS Não Exame com espéculo possível? Queixa de prurido vaginal? Não Sim Sim Tratamento para 1. Gonorréia 2. Clamídia 3. Vaginose Bacteriana/tricomoníase 4. Candidíase Corrimento amarelo? Ou corrimento com cheiro anormal? Ou corrimento cervical mucopurulento? Sim Tratamento para 1. Gonorréia 2. Clamídia 3. Vaginose Bacteriana/tricomoníase Não Queixa de prurido vaginal? Não Tratamento para 1. Vaginose Bacteriana/tricomoníase Sim Tratamento para 1. Vaginose Bacteriana/tricomoníase 2. Candidíase Aconselhamento HIV/ITS Oferta de preservativo Convocação do parceiro 43 ● Se possível, testar para HIV e sífilis ● Notificação do caso ● Controlo ao 7º dia, se sintomático CORRIMENTO VAGINAL NOTAS EXPLICATIVAS PACIENTE COM QUEIXA DE CORRIMENTO VAGINAL Este é o quadro de entrada do algoritmo. Nele estão referidas as principais queixas do paciente ao apresentar-se à consulta. HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO Este quadro de acção indica que é necessário fazer a história clínica do paciente, interrogando-o sobre: A data do início dos sintomas Como evoluíram os sintomas A história dos contactos sexuais recentes (número de parceiros, uso do preservativo, práticas sexuais, parceiro com corrimento) Tratamentos já efectuados Antecedentes de ITS Exame físico sempre deve incluir: Inspecção da superfície cutânea Exame da boca e da garganta Procura de linfadenopatia na região cervical, axilar e inguinal Examinar a genitália externa, afastar os lábios vaginais, visualizar o intróito vaginal, examinar a vagina. Inspeccionar períneo e ânus Observar a existência de outras lesões. QUEIXA DE DOR NO BAIXO VENTRE Se a paciente referir dor no baixo ventre seguir o algoritmo específico. EXAME ESPECULAR POSSÍVEL Introduzir o espéculo para examinar a vagina, suas paredes, fundo de saco e colo uterino. Observar se há corrimento amarelado, ou com cheiro anormal ou corrimento cervical mucopurulento. Na presença de uma das características acima tratar como Gonorréia, Clamídia e Vaginose Bacteriana/Tricomoníase Em seguida realizar o exame pélvico bimanual pesquisando hipersensibilidade do fundo de saco, dor à mobilização do colo ou anexos e a presença de massas ou colecções. 44 TRATAR GONORRÉIA, CLAMÍDIA E VAGINOSE BACTERIANA/ TRICOMONÍASE Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas. GONORRÉIA Ciprofloxacina 500 mg via oral Dose Única + CLAMÍDIA Azitromicina 1g via oral Dose Única + VAGINOSE BACTERIANA/ TRICOMONÍASE Metronidazol 2g Via oral Dose Única NÃO É POSSIVEL EXAME ESPECULAR Em caso de não haver possibilidade de exame com espéculo, proceder a inspecção da genitália externa e fazer o exame bimanual. QUEIXA DE PRURIDO VAGINAL SEM EXAME ESPECULAR Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas GONORRÉIA Ciprofloxacina 500 mg via oral Dose Única + CLAMIDIA Azitromicina 1 g via oral Dose Única VAGINOSE BACTERIANA/ TRICOMONIASE Metronidazol 2 g via oral Dose Única + + CANDIDIASE Clotrimazol 500 mg via vaginal Dose Única CORRIMENTO AMARELO OU COM CHEIRO ANORMAL OU CORRIMENTO CERVICAL MUCOPURULENTO Neste quadro deve-se confirmar a existência de corrimento com uma das seguintes características, realizando o exame especular: Corrimento amarelo, ou com cheiro anormal ou corrimento cervical mucopurulento TRATAR GONORRÉIA, CLAMÍDIA E VAGINOSE BACTERIANA/ TRICOMONIASE Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas. GONORRÉIA Ciprofloxacina 500 mg via oral Dose Única 45 + CLAMIDIA Azitromicina 1 g via oral Dose Única + VAGINOSE BACTERIANA. TRICOMONIASE Metronidazol 2 g via oral Dose Única EXAME ESPECULAR SEM CORRIMENTO AMARELO OU CHEIRO ANORMAL OU CORRIMENTO CERVICAL MUCOPURULENTO COM QUEIXA DE PRURIDO VAGINAL Este quadro de decisão indica que há queixa de prurido vaginal mas não foi confirmado corrimento com as características descritas acima, após a realização do exame especular. TRATAR VAGINOSE BACTERIANA/TRICOMONÍASE E CANDIDÍASE Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas. GONORRÉIA Ciprofloxacina 500 mg via oral Dose Única + CLAMIDIA Azitromicina 1 g via oral Dose Única + VAGINOSE BACTERIANA. TRICOMONIASE Metronidazol 2 g via oral Dose Única EXAME ESPECULAR SEM CORRIMENTO AMARELO OU CHEIRO ANORMAL OU CORRIMENTO CERVICAL MUCOPURULENTO COM QUEIXA DE PRURIDO VAGINAL Este quadro de decisão indica que há queixa de prurido vaginal mas não foi confirmado corrimento com as características descritas acima, após a realização do exame especular. TRATAR VAGINOSE BACTERIANA/TRICOMONÍASE E CANDIDÍASE Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas. VAGINOSE BACTERIANA/ TRICOMONIASE Metronidazol 2 g via oral Dose Única + CANDIDIASE Clotrimazol 500 mg via vaginal Dose Única AUSÊNCIA DE CORRIMENTO COM AS CARACTERÍSTICAS ACIMA E SEM QUEIXA DE PRURIDO O exame especular confirmou a presença de corrimento porém este não é amarelado ou com cheiro anormal ou corrimento cervical mucopurulento. Não há queixa de prurido genital. TRATAR VAGINOSE BACTERIANA/TRICOMONÍASE Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas. VAGINOSE BACTERIANA /TRICOMONIASE Metronidazol 2 g via oral Dose Única 46 ACONSELHAMENTO, TESTAGEM PARA HIV E SÍFILIS, ADESÃO AO TRATAMENTO, DISTRIBUIÇÃO PRESERVATIVO, NOTIFICAÇÃO DO CASO, CONVOCAÇÃO DE PARCEIROS, RETORNO Neste quadro de acção é importante: Considerar a associação entre as diferentes ITS especialmente o HIV. Aconselhar o paciente e oferecer-lhe a realização do teste para o HIV e sífilis sempre que for possível Registar e notificar o caso Oferecer preservativos ao paciente orientando e demonstrando o uso. Instruir o paciente para interromper as relações sexuais até o término do tratamento Encorajar o paciente após a cura a usar preservativo em todas as relações sexuais ou adoptar outras formas de sexo mais seguro Encorajar o paciente a comunicar a todas os parceiros sexuais dos últimos três meses para que possam ser atendidos e tratados. Esta actividade é fundamental para se romper a cadeia de transmissão e para evitar que o paciente se reinfecte Marcar o retorno para controle de cura em 7 dias, se necessário, e/ou para conhecimento dos resultados dos exames solicitados Tratar outra ITS diagnosticada de acordo com o algoritmo específico. EM CASO DE PERSISTÊNCIA DOS SINTOMAS No retorno, em caso de persistência das queixas ou recidiva, investigar: Se o diagnóstico foi correcto Se usou correctamente a medicação Se o parceiro foi tratado Não teve novo parceiro sexual Se alguma das respostas for NÃO, repetir o tratamento Se todas as respostas forem SIM, é possível que o paciente esteja infectado com gonorréia resistente ao tratamento. Sendo assim, tratar com o medicamento abaixo, na dose indicada. GONORRÉIA (resistente) Cefixime 400 mg via oral Dose Única GESTANTES Tratar Gonorréia em mulheres grávidas utilizando o medicamento abaixo nas doses recomendadas. O metronidazol pode ser usado em qualquer idade gestacional. GONORRÉIA (Grávidas) Cefixime 400 mg via oral Dose Única 47 DOR NO BAIXO VENTRE Queixa de dor no baixo ventre Urgência cirúrgica? Ou hemorragia vaginal? Ou gravidez? Ou atraso menstrual? Ou dor ao toque abdominal? Ou aborto recente? Ou massa pélvica? Ou exame com espéculo impossível? Referir para serviço de urgência com atendimento cirúrgico e/ou ginecológico Sim Não Efectuar exame com espéculo Corrimento amarelo? Ou corrimento com cheiro anormal? Ou dor anexial? Ou dor ao toque cervical? Não Sim Tratamento para Gonorréia, Clamídia e Agentes Anaeróbios 1. Kanamicina 2g IM Dose Única 2. Doxiciclina 100mg VO 2 x dia/14 dias 3. Metronidazol 500mg VO 2 x dia/14 dias 48 Aconselhamento HIV/ITS Testar para HIV e sífilis, se possível Oferta de preservativo Convocação do parceiro Notificação do caso Controlo no 3º dia, se sintomático Aciclovir 400mg VO 3 x dia/7 dias DOR NO BAIXO VENTRE NOTAS EXPLICATIVAS PACIENTE COM QUEIXA DE DOR NO BAIXO VENTRE Este é o quadro de entrada do algoritmo. Nele estão referidas as principais queixas do paciente ao apresentar-se à consulta. Mulheres sexualmente activas que apresentam queixa de dor no baixo ventre devem ser avaliadas para o diagnóstico de DIP – Doença Inflamatória Pélvica. HISTÓRIA CLÍNICA Este quadro de acção indica que é necessário fazer a história clínica do paciente com a finalidade de afastar outras doenças que necessitam de abordagem específica em serviços de referência, interrogando-a sobre: Urgência cirúrgica? Ou hemorragia vaginal? Ou gravidez? Ou atraso no período menstrual? Ou dor ao toque abdominal? Ou aborto recente? Ou massa pélvica? Ou exame com espéculo impossível? Uma resposta positiva a qualquer uma dessas questões determina o encaminhamento da paciente para um serviço de urgência com atendimento cirúrgico e/ou ginecológico. EXAME FÍSICO Examinar a genitália externa e região anal, separar os lábios vaginais e visualizar o intróito vaginal. Introduzir o espéculo para examinar a vagina, suas paredes, fundo de saco e colo uterino. Em seguida realizar o exame pélvico bimanual. Ao toque vaginal, pesquise hipersensibilidade do fundo de saco, dor a mobilização do colo ou anexos, e a presença de massas ou colecções. Observar a existência de outras lesões e usar o algoritmo específico. CORRIMENTO AMARELO? OU CORRIMENTO COM CHEIRO ANORMAL? OU DOR ANEXIAL? OU DOR AO TOQUE CERVICAL? Este quadro de decisão mostra a necessidade de se investigar a possibilidade de corrimento com uma das características descritas acima e dor referida durante o exame bimanual decorrente de Doença Inflamatória Pélvica. 49 TRATAR GONORRÉIA, CLAMÍDIA E ANAERÓBIOS Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas. Deve-se iniciar o tratamento o mais precocemente possível. GONORRÉIA Kanamicina 2 g IM Dose Única + CLAMÍDIA Doxiciclina 100 mg Via Oral 2xdia/14 dias + ANAERÓBIOS Metronidazol 500 mg Via Oral 2xdia/14 dias ACONSELHAMENTO, TESTAGEM PARA HIV E SÍFILIS, ADESÃO AO TRATAMENTO, OFERTA PRESERVATIVO, NOTIFICAÇÃO DO CASO, CONVOCAÇÃO DE PARCEIROS, RETORNO Neste quadro de acção é importante: Considerar a associação entre as diferentes ITS especialmente o HIV. Aconselhar o paciente e oferecer-lhe a realização do teste para o HIV e sífilis sempre que for possível Registar e notificar o caso Oferecer preservativos ao paciente orientando e demonstrando o uso Instruir o paciente a interromper as relações sexuais até o término do tratamento Encorajar o paciente após a cura a usar preservativo em todas as relações sexuais ou adoptar outras formas de sexo mais seguro Encorajar o paciente a comunicar a todas os parceiros sexuais dos últimos três meses para que possam ser atendidos e tratados. Esta actividade é fundamental para se romper a cadeia de transmissão e para evitar que o paciente se reinfecte Marcar o retorno para controle de cura em 3 dias e conhecimento dos resultados dos exames solicitados Tratar outra ITS diagnosticada de acordo com o algoritmo especifico. EM CASO DE PERSISTÊNCIA DOS SINTOMAS No retorno, se os sintomas piorarem, a paciente deve ser hospitalizada para observação e tratamento. Também, em caso de persistência das queixas ou recidiva, investigar: Se o diagnóstico foi correcto Se usou correctamente a medicação Se o parceiro foi tratado Não teve novo parceiro sexual. Se todas as respostas forem SIM, referir o paciente. Se alguma das respostas for NÃO, repetir o tratamento. 50 VIOLAÇÃO SEXUAL E ITS Queixa de violação sexual Historia Clínica e exame físico Evidencia de penetração? Não Orientação Sim Não Suspeita Gravidez**? Ocorrência há menos de 72 h? Sim Sim • • Serologia para HIV e Sífilis Colecta de secreções vaginais Solicitar BetaHCG* (Teste de Gravidez) Apoiar a paciente na sua decisão de manter ou interromper a gravidez Profilaxia de ITS - Observação directa da toma de medicamentos 1. Penicilina benzatínica 2.4milhões UI IM Dose Única 2. Ciprofloxacina 500mg VO Dose Única 3. Metronidazol 2g VO Dose Única 4. Azitromicina 1g VO Dose Única Quimioprofilaxia do HIV por 1 mês 1. Zidovudina 300mg + Lamivudina150mg 1cp de 12/12 h 2. Indinavir 400mg 2cp de 8/8h*** Contracepção de emergência 1. Microgynon 4comp 2 x dia/1 dia ou 2. Lo-feminal 4comp 2 x dia/1 dia Profilaxia Hepatite B 1. Vacina hepatite B (Engerix B) 1 dose IM adulto* 51 • • • • Encaminhar para providências legais Encaminhar para apoio psicológico Vacina Hepatite B (1 e 6 meses) Reavaliar em 3 meses (Exame ginecológico, Serologia HIV e sífilis) * Se disponível ** Se já houver menstruado *** Só em jejum. 1h antes ou 2h depois refeição VIOLAÇÃO SEXUAL E ITS NOTAS EXPLICATIVAS QUEIXA DE VIOLAÇÃO SEXUAL Neste quadro de entrada do algoritmo está descrita a principal queixa do paciente ao apresentar-se à consulta. Define-se como estupro o acto de constranger a mulher de qualquer idade ou condição à conjunção carnal, por meio de violência ou grave ameaça. Do ponto de vista jurídico é crime previsto no artigo 393 do Código Penal. O estupro deve ser diferenciado do atentado violento ao pudor, que consiste em constranger alguém mediante violência ou grave ameaça a praticar ou permitir que se pratique acto libidinoso diverso da conjunção carnal. Abuso sexual inclui todas as formas de coerção sexual (emocional, física e económica) contra um indivíduo. Pode ou não incluir violação. Todo o tipo de contacto sexual não voluntário é considerado abuso. Violação é definida como o uso de coerção física ou emocional, ou assustar para coagir, com vista a penetrar a criança, adolescente, ou adulto vaginalmente, oralmente ou analmente, contra a sua vontade. O atendimento às vítimas de abuso sexual deve ser imediato e deve considerar os aspectos médicos, jurídicos e psicológicos que a condição envolve. Deve-se proceder a documentação e tratamento do trauma físico, das DST, HIV/SIDA, avaliação do risco de gravidez, colheita de exames de interesse forense e intervenção sobre o processo de crise. HISTÓRIA E EXAME FÍSICO Este quadro de acção indica que é necessário fazer a história clínica do paciente interrogando-o sobre: A data e a hora aproximada da agressão A história dos contactos sexuais recentes (número de parceiros, uso do preservativo, práticas sexuais) Antecedentes de ITS Data da última menstruação Avaliar a possibilidade de gravidez prévia O exame físico sempre deve incluir: 52 Inspecção da região genital: examinar a genitália externa, afastar os lábios vaginais, visualizar o intróito vaginal, examinar a vagina. Avaliar sinais de penetração e a extensão das lesões. Inspeccionar períneo e ânus EVIDÊNCIA DE PENETRAÇÃO Este quadro de decisão mostra a necessidade de se investigar sinais de penetração vaginal e/ou anal. OCORRÊNCIA HA MENOS DE 72 HORAS Este quadro de decisão mostra a necessidade de se investigar o tempo decorrido desde a agressão. Se a agressão ocorreu a mais de 72 horas deve-se investigar a possibilidade da paciente estar em risco de gravidez e apoiá-la na sua decisão de manter ou interromper a gravidez. COLECTA DE SECREÇÕES VAGINAIS, SEROLOGIA PARA HIV E SÍFILIS Este quadro de acção indica que a colheita de material deverá ser feita imediatamente na 1ª observação. Deve-se realizar exame vaginal com espéculo e com uma zaragatoa colher as secreções vaginais. Colocar a zaragatoa em frasco contendo soro fisiológico, para posterior envio ao laboratório de análises clínicas para pesquisa de ITS, se houver disponibilidade laboratorial. A colheita e armazenamento do material biológico do conteúdo vaginal também devem ser realizados para a pesquisa de espermatozóides. Deve-se fazer teste rápido de HIV e teste para sífilis. PROFILAXIA DE ITS Este quadro de acção indica que devem ser utilizados os medicamentos nas doses recomendadas. (Não esperar os resultados dos exames laboratoriais colhidos para iniciar o uso dos medicamentos abaixo). Deve-se fazer a observação directa da toma de medicamentos. 1. Penicilina benzatínica 2.4milhões UI IM Dose Única 2. Ciprofloxacina 500mg VO Dose Única 3. Metronidazol 2g VO Dose Única 4. Azitromicina 1g VO Dose Única QUIMIOPROFILAXIA DO HIV Este quadro de acção indica que devem ser utilizados os medicamentos nas doses recomendadas durante 1 mês. Indinavir deve ser tomado em jejum ou 1 hora antes ou 2 h depois da refeição Durante 1 mês 1. Zidovudina 300mg + Lamivudina150mg de 12/12 h 2. Indinavir 400mg de 8/8 h 53 CONTRACEPÇÃO DE EMERGÊNCIA Este quadro de acção indica que devem ser utilizados os medicamentos nas doses recomendadas, escolhendo-se um dos dois. A contracepção de emergência só deve ser realizada em mulheres após a menarca (aquelas que já ficaram menstruadas) 1. Microgenon 4comp 2 x dia/1 dia ou 2. Lo-feminal 4 comp 2 x dia/1 dia PROFILAXIA DA HEPATITE B Este quadro de acção indica que deve ser aplicada a primeira dose da vacina de Hepatite B. Se houver disponibilidade de Imunoglobulina Hiperimune, esta deve ser aplicada (HBIG 0,06-0,08 mg/Kg IM) 1. Vacina hepatite B (Engerix B) 1 dose IM adulto ENCAMINHAR PARA PROVIDÊNCIAS LEGAIS ENCAMINHAR PARA APOIO PSICOLÓGICO RETORNO PARA REAVALIAÇÃO EM 3 MESES Este quadro de acção indica que após o atendimento imediato da vítima, deve-se proceder aos encaminhamentos legais decorrentes do crime conforme previsto no código penal. Lembrar que o trauma emocional do abuso sexual resulta da violência em si e também do medo de gravidez ou de ter adquirido uma ITS, inclusive o HIV. A reacção imediata é de medo persistente, perda de auto-estima e dificuldade de relacionamento. Os efeitos psicológicos crónicos do abuso sexual enquadram-se no distúrbio de stress pós-traumático. Após três meses da agressão a paciente deverá retornar para novo exame ginecológico completo e realização dos testes de HIV e sífilis. No retorno, deve-se tratar a ITS diagnosticada, se for o caso, de acordo com o algoritmo específico. 54 SIFILIS CONGÉNITA Mãe RPR positivo na gravidez Suspeita clínica de sífilis congénita Pais RPR positivos Raio X alterações de ossos longos Criança com RPR positivo Hepatoesplenomegalia Pseudo paralisia dos membros Anemia Rinite sifilítica Rágades Mãe foi tratada adequadamente? Penicilina benzatínica 2,4 milhões UI x 3 doses E Tratamento realizado até 30 dias antes do parto E Parceiro sexual tratado adequadamente E Nenhum novo parceiro sexual Não Sim Exame da criança é normal? Sim Não Tratar com: Penicilina cristalina50 mil UI/Kg/dose IV 2 x dia/10 dias OU ** Penicilina G Procaína 50 mil UI/Kg/dose IM 1 x dia/10 dias Referir se não puder internar Controle depois de 6 meses Tratar a criança com Penicilina benzatínica 50 mil UI/Kg IM Dose Única * A mãe precisa ter recebido apenas 1 dose de penicilina para ser considerada tratada adequadamente para úlcera genital (sífilis primária) Controle de RPR em 6 meses ** Somente usar em crianças com mais de 1 mês de vida RPR positivo aos 6 meses de idade? Não Acompanhamento Sim Tratar com: Penicilina Benzatínica 50 mil UI/Kg IM Dose Única Controle de RPR em 6 meses (se positivo, referir) 55 SÍFILIS CONGÉNITA NOTAS EXPLICATIVAS MÃE RPR POSITIVO NA GRAVIDEZ OU SUSPEITA CLÍNICA DE SÍFILIS CONGENITA São duas entradas neste algoritmo: Mãe com exame de RPR positivo durante a gravidez ou criança com suspeita clínica de sífilis congénita. MÃE FOI TRATADA ADEQUADAMENTE Este quadro de decisão indica que é necessário fazer a história clínica da mãe durante a gestação interrogando-a sobre: Tratamento realizado com penicilina benzatínica 2,4 milhões UI em três doses. OBS: A mãe tratada por úlcera genital (sífilis primária) na gravidez só necessita receber uma dose de penicilina benzatínica 2,4 milhões UI para ser considerada como tratada adequadamente. Tratamento realizado até 30 dias antes do parto Parceiro sexual também tratado com três doses de Penicilina benzatínica Nenhum novo parceiro sexual Se alguma das respostas for Não – tratar a criança com penicilina cristalina 50 mil UI/Kg peso/dose IV 2 x dia por 10 dias ou se a criança tiver mais de 1 mês de vida: Penicilina G procaína 50 mil UI/Kg/dose IM 1 x dia durante 10 dias. Se não for possível o internamento referir a criança. Se todas as respostas forem SIM – seguir o algoritmo. EXAME DA CRIANÇA É NORMAL Este quadro de decisão indica que é necessário realizar cuidadoso exame físico da criança procurando evidenciar os seguintes sinais ou sintomas: Baixo peso, prematuridade, renite sanguinolenta, coriza ou obstrução nasal, osteocondrite, periostite ou osteíte, choro ao manuseio, hepatomegalia, esplenomegalia, alterações respiratórias/pneumonia, icterícia, anemia severa, hidropsia, edema, pseudoparalisia dos membros, fissura peribucal, condiloma plano, penfigo palmo-plantar e outras lesões cutâneas. TRATAR COM PENICILINA BENZATÍNICA Este quadro de acção indica que na ausência de sinais ou sintomas sugestivos de sífilis congénita deve-se usar Penicilina Benzatínica 50 mil UI/Kg x 1 Intra Muscular. RPR POSITIVO AOS 6 MESES DE IDADE Este quadro de decisão indica que é necessário fazer o controle do RPR aos seis meses de idade. Se este exame for positivo deve-se refazer o tratamento com Penicilina Benzatínica 50 mil UI/Kg x 1 Intra Muscular e fazer controle de RPR em 6 meses. Se positivo, referir. 56 CRIANÇA COM SUSPEITA CLÍNICA DE SÍFILIS CONGÉNITA Este é o segundo quadro de entrada neste algoritmo. Nele são referidas as principais condições da criança ao apresentar-se à consulta. A presença de algumas dessas alterações indica que a criança deve ser tratada como sífilis congénita. TRATAR COM PENICILINA CRISTALINA Este quadro de acção indica que na presença de uma das alterações descritas deve-se usar Penicilina Cristalina 50 mil UI/Kg/dose IV 2 x dia por 10 dias. Em crianças com mais de 1 mês de vida, em vez de Penicilina Cristalina pode-se tratar com Penicilina G Procaína 50 mil UI/Kg/dose IM 1 x dia por 10 dias. Fazer controle em 6 meses. Referir se não puder internar 57 OFTALMIA NEONATAL Queixa de edema ou secreção ocular História clínica e exame físico Inchaço ou secreção ocular? Não Controle, se necessário Sim Tratar a criança com: 1. Kanamicina 25 mg/Kg IM Dose Única 2. Tetraciclina pomada oftálmica 3 x dia 3. Eritromicina suspensão VO 50mg/Kg divididos em 4 doses/dia por 14 dias Tratar pais como Gonorréia e Clamídia 1. ciprofloxacina 500mg VO Dose Única 2. Azitromicina 1g VO Dose Única Notificar o caso Aconselhamento ITS/HIV Controle em 3 dias Houve melhoria da criança após 3 dias? Sim Continuar o tratamento para Clamídia (completar 14 dias) 58 Não Referir OFTALMIA NEONATAL NOTAS EXPLICATIVAS QEIXA DE EDEMA OU SECRECAO OCULAR Neste quadro de entrada do algoritmo está descrita a principal queixa da mãe em relação ao recém-nascido, no primeiro mês de vida, usualmente contraída durante o nascimento, a partir do contacto com secreções genitais maternas contaminadas. A oftalmia neonatal pode levar a cegueira. HISTÓRIA E EXAME FÍSICO Este quadro de acção indica que é necessário fazer a história clínica do paciente interrogando a mãe sobre: Início do aparecimento dos sintomas Como evoluíram os sintomas Tratamentos já efectuados Antecedentes de ITS na mãe e no pai Os achados objectivos do exame físico incluem: Secreção ocular que pode ser purulenta Eritema e edema da conjuntiva Edema e eritema das pálpebras INCHAÇO OU SECREÇÃO OCULAR Este quadro de acção mostra a necessidade de se investigar a possibilidade de oftalmia neonatal por Gonorréia e/ou Clamídia TRATAR A CRIANÇA PARA GONORREIA E CLAMÍDIA Este quadro de acção indica que deve-se utilizar os medicamentos nas doses recomendadas para o recém-nascido. A conjuntivite pode ser um sinal de uma infecção neonatal generalizada. GONORREIA E CLAMÍDIA (criança) 1. Kanamicina – 25 mg/Kg peso IM. Dose Única 2. Tetraciclina pomada oftálmica 3xdia 3. Eritromicina Susp. – 50 mg/Kg peso, divididos em 4 doses/dia por 14 dias VO Deve-se iniciar o tratamento o mais precocemente possível 59 TRATAR OS PAIS COMO GONORREIA E CLAMÍDIA Este quadro de acção indica que deve-se utilizar os medicamentos nas doses recomendadas para os pais GONORREIA Ciprofloxacina 500 mg via oral Dose Única + CLAMÍDIA Azitromicina 1 g via oral Dose Única CONTROLE EM TRÊS DIAS, ACONSELHAMENTO PARA HIV/ITS Neste quadro de acção é importante: Marcar retorno do recém-nascido para acompanhamento em três dias Considerar a associação entre as diferentes ITS especialmente o HIV. Aconselhar a mãe e oferecer-lhe a possibilidade de realizar o teste para o HIV e sífilis, sempre que for possível. Registar e notificar o caso HOUVE MELHORIA Este quadro de decisão indica que se houve melhoria do quadro clínico da criança, o tratamento deve continuar até completar 14 dias. PROFILAXIA DA OFTALMIA NEONATAL A profilaxia ocular para o recém-nascido no período neonatal deve ser feita de rotina, preferencialmente na primeira hora após o nascimento. Deve-se utilizar o medicamento abaixo, na dose recomendada PROFILAXIA DA OFTALMIA NEONATAL 1. Nitrato de prata/Argirol a 1% - aplicação única na primeira hora após o nascimento ou 2. Tetraciclina pomada oftálmica – aplicação única na primeira hora após o nascimento 60 ESCROTO INCHADO Queixa de dor ou edema no testículo ou escroto História e exame físico História de trauma ou início súbito da dor, ou torção do testículo? Sim URGÊNCIA. Referir para avaliação cirúrgica imediatamente Não Evidência de inchaço ou dor no testículo ou escroto? Não Outra doença genital? Sim Sim Usar algoritmo específico Tratamento para Gonorreia e Clamídia 1. Ciprofloxacina 500 mg VO Dose Única 2. Azitromicina 1g VO Dose Única •Repouso no leito •Elevação dos testículos •Compressa fria •Aconselhamento HIV/ITS •Oferta de preservativo •Convocação de parceiro •Notificação do caso •Retorno para controle no 3º dia 61 •Aconselhamento HIV/ITS •Oferta de preservativo Não ESCROTO INCHADO NOTAS EXPLICATIVAS QUEIXA DE INCHAÇO OU DOR NO TESTÍCULO OU ESCROTO Neste quadro de entrada do algoritmo está descrita a principal queixa do paciente ao apresentar- se à consulta. HISTÓRIA E EXAME FÍSICO Este quadro de acção indica que é necessário fazer a história clínica do paciente interrogando-o sobre: A data do início dos sintomas Como evoluíram os sintomas (aparecimento súbito ou gradual?) História de trauma testicular História de corrimento uretral A história dos contactos sexuais recentes (número de parceiros, uso do preservativo, práticas sexuais, parceira com corrimento vaginal) Tratamentos já efectuados Antecedentes de ITS O exame físico sempre deve incluir: Inspecção da superfície cutânea Exame da boca e da garganta Procura de linfadenopatia na região cervical, axilar e inguinal Inspecção da região genital: com o prepúcio retraído verificar se há corrimento proveniente do meato uretral. Se não houver corrimento solicitar ao paciente que ordenhe a uretra, comprimindo o pénis da base à glande Inspecção cuidadosa do escroto para verificar vermelhidão, edema, dor à palpação e presença de tumoração. Os achados podem ser unilaterais. HISTÓRIA DE TRAUMA RECENTE, DOR OU TORÇÃO TESTICULAR Este quadro de decisão mostra a necessidade de se investigar a possibilidade da ocorrência de traumatismo ou torção testicular. A torção testicular deve ser suspeitada quando ocorrer dor súbita. Estes casos são uma urgência cirúrgica e devem ser referidos imediatamente. EVIDÊNCIA DE INCHAÇO OU DOR NO TESTÍCULO OU ESCROTO Este quadro de decisão mostra a necessidade de se investigar a possibilidade de síndroma de corrimento uretral actual, evidenciado pelo exame e inspecção do meato uretral ou recente. A associação de corrimento uretral actual ou recente deve ser sempre investigada, principalmente em homens com menos de 35 anos de idade. Esta doença pode levar a infertilidade se não for tratada adequadamente. 62 TRATAR GONORREIA E CLAMÍDIA Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas GONORREIA Ciprofloxacina 500 mg via oral Dose Única + CLAMÍDIA Azitromicina 1 g via oral Dose Única REPOUSO, ELEVAÇÃO TESTICULAR, COMPRESSA FRIA, ACONSELHAMENTO, TESTAGEM PARA HIV E SÍFILIS, OFERTA DE PRESERVATIVO, CONVOCAÇÃO DE PARCEIROS Neste quadro de acção é importante: 63 Recomendar que o paciente mantenha repouso no leito com elevação dos testículos Colocar compressa fria Considerar a associação entre as diferentes ITS, especialmente o HIV. Aconselhar o paciente e oferecer-lhe a realização do teste para o HIV e sífilis, sempre que for possível. Registar e notificar o caso Oferecer preservativos ao paciente orientando e demonstrando o uso Instruir o paciente a interromper as relações sexuais ate o desaparecimento dos sintomas e finalização do tratamento Encorajar o paciente após a cura a usar preservativo em todas as relações sexuais ou adoptar outras formas de sexo mais seguro Encorajar o paciente a comunicar a todas as suas parceiras sexuais dos últimos dois meses para que possam ser atendidas e tratadas. Esta actividade é fundamental para se romper a cadeia de transmissão e para evitar que o paciente se reinfecte. Marcar retorno para controle de cura em 3 dias e conhecimento dos resultados dos exames solicitados. Considerar a necessidade de referenciar o paciente em caso de piora dos sintomas Tratar outra ITS diagnosticada de acordo com o algoritmo específico. BALANITE Queixa de inchaço ou prurido no prepúcio? História e Exame Físico Retracção do prepúcio? Não Tratamento para Gonorreia e Clamídia 1. Ciprofloxacina 500mg VO Dose Única 2. Azitromicina 1g VO Dose Única Sim Úlcera ou corrimento ao exame? Sim Não Tratamento para candidíase Clotrimazol creme 1% - 2 x dia /7 dias * Investigar Diabetes mellitus •Aconselhamento HIV/ITS •Oferta de preservativo •Notificação do caso •Convocação de parceira * investigar Diabetes mellitus 64 Usar o algoritmo apropriado BALANITE NOTAS EXPLICATIVAS QUEIXA DE INCHAÇO OU PRURIDO NO PREPÚCIO Neste quadro de entrada do algoritmo está descrita a principal queixa do paciente ao apresentar- se à consulta. Às vezes pode queixar-se de “membro inchado”. HISTÓRIA E EXAME FÍSICO Este quadro de acção indica que é necessário fazer a historia clínica do paciente interrogando-o sobre: A data do início dos sintomas Como evoluíram os sintomas A história dos contactos sexuais recentes (número de parceiros, uso do preservativo, práticas sexuais) Tratamentos já efectuados Antecedentes de ITS O exame físico sempre deve incluir: Inspecção da superfície cutânea Exame da boca e da garganta Procura de linfadenopatia na região do pescoço, axilar e inguinal Inspecção da região genital: com o prepúcio retraído verificar se há vermelhidão da glande e do prepúcio, erosões e por vezes secreções brancas. Deve-se distinguir essas secreções do corrimento proveniente do meato uretral. A pele pode apresentar descamação e eritema. A má higiene é um factor predisponente, especialmente nos homens não circuncisados RETRACÇÃO DO PREPÚCIO Este quadro de decisão mostra a necessidade de se realizar o exame com o prepúcio retraído, com a finalidade de evidenciarmos outras lesões sugestivas de ITS. Se não for possível fazer a retracção prepucial recomenda-se o tratamento para gonorréia e Clamídia TRATAR GONORREIA E CLAMÍDIA Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas GONORRÉIA Ciprofloxacina 500 mg via oral Dose Única + CLAMÍDIA Azitromicina 1 g via oral Dose Única PRESENÇA DE ÚLCERA OU CORRIMENTO URETRAL Este quadro de decisão mostra a necessidade de se investigar a possibilidade da ocorrência de corrimento uretral ou úlcera genital. Nesses casos deve-se fazer o tratamento de acordo com o algoritmo específico de cada uma das síndromes. 65 TRATAMENTO PARA CANDIDÍASE Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas, se não houver evidência de corrimento uretral ou úlcera. CANDIDÍASE Clotrimazol creme 1% 2 x dia por 7 dias ACONSELHAMENTO, TESTAGEM PARA HIV E SÍFILIS, OFERTA DE PRESERVATIVO, CONVOCAÇÃO DE PARCEIROS Neste quadro de acção é importante: 66 Considerar a associação entre as diferentes ITS, especialmente o HIV. Aconselhar o paciente e oferecer-lhe a realização do teste para o HIV e sífilis, sempre que for possível. Investigar história familiar e queixas sugestivas de Diabetes mellitus Registrar e notificar o caso; Oferecer preservativos ao paciente orientando e demonstrando o uso Instruir o paciente a interromper as relações sexuais até o desaparecimento dos sintomas e finalização do tratamento; Encorajar o paciente após a cura a usar preservativo em todas as relações sexuais ou adoptar outras formas de sexo mais seguro; Encorajar o paciente a comunicar a todas as suas parceiras sexuais do ultimo mês para que possam ser atendidas e tratadas. Esta actividade é fundamental para se romper a cadeia de transmissão e para evitar que o paciente se reinfecte; Marcar retorno para controle de cura em 7 dias e conhecimento dos resultados dos exames solicitados, inclusive o de Diabetes mellitus; Tratar outra ITS diagnosticada de acordo com o algoritmo específico. BUBÃO (ADENOPATIA INGUINAL) Queixa de inchaço ou tumefacção na virilha Usar algoritmo específico História e Exame Físico Sim Não Presença de Adenopatia inguinal? Outra doença genital? Não Sim Presença de úlcera ao exame? Sim Não Tratamento para Linfogranuloma Venéreo e Cancróide 1. Doxiciclina 100mg VO 2xdia/21 dias 2. Azitromicina 1g VO Dose Única Grávidas: 1. Eritromicina 500mg VO 4xdia/14 dias •Os bubões flutuantes devem ser aspirados Tratamento para Cancróide e Sífilis 1. Azitromicina 1g VO Dose Única 2. Penicilina Benzatínica 2,4 milhões IM Tratamento para Linfogranuloma venéro se adenopatia persitir após 7 dias 67 •Aconselhamento HIV/ITS •Possibilidade de testagem HIV e sífilis •Oferta de preservativos •Notificação do caso •Convocação de parceiros •Controlo aos 7 dias se sintomático BUBÃO/ADENOPATIA INGUINAL NOTAS EXPLICATIVAS QUEIXA DE INCHAÇO OU TUMEFACÇÃO NA VIRILHA Neste quadro de entrada do algoritmo está descrita a principal queixa do paciente ao se apresentar à consulta. A tumefacção pode ser uni ou bilateral. HISTÓRIA E EXAME FÍSICO Este quadro de acção indica que é necessário fazer a historia clínica do paciente interrogando-o sobre: A data do inicio dos sintomas Como evoluíram os sintomas A história dos contactos sexuais recentes (número de parceiros, uso do preservativo, práticas sexuais) Tratamentos já efectuados Antecedentes de ITS, especialmente de ulceração genital, que pode ter ocorrido em 1 a 6 semanas antes do bubão. O exame físico sempre deve incluir: Inspecção da superfície cutânea; Exame da boca e da garganta; Procura de linfadenopatia na região do pescoço, axilar e inguinal; Inspecção da região genital: no homem, com o prepúcio retraído verificar se há presença de úlcera genital. Na mulher, examinar a genitália externa, afastar os lábios vaginais, visualizar o intróito vaginal, examinar a vagina. Exame com espéculo: examinar o fundo de saco vaginal e colo uterino. Inspeccionar períneo e ânus. PRESENÇA DE ADENOPATIA INGUINAL Este quadro de decisão mostra a necessidade de se investigar a possibilidade da ocorrência de tumefacção inguinal, uni ou bilateral. O comprometimento ganglionar evolui com supuracção e fistulizacção por orifícios múltiplos, que correspondem a linfonodos individualizados, parcialmente fundidos em uma grande massa. No início pode ser indolor, mas na fase de flutuação é doloroso. PRESENÇA DE ÚLCERA GENITAL Este quadro de decisão mostra a necessidade de se investigar a possibilidade da ocorrência de ulcerações na região genital. Na ausência de úlcera após o exame deve-se tratar para Linfogranuloma Venéreo e Cancróide. Se for evidenciada a presença de Úlcera deve-se tratar para Cancróide e Sífilis 68 TRATAMENTO PARA LINFOGRANULOMA VENÉREO E CANCRÓIDE Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas LINFOGRANULOMA VENÉREO Doxiciclina 100mg VO 2xdia/21 dias + CANCRÓIDE Azitromicina 1g via oral dose única GESTANTES: deve-se utilizar os seguintes medicamento nas doses recomendadas LINFOGRANULOMA VENÉREO Eritromicina 500mg VO 4xdia/21 dias + CANCRÓIDE Azitromicina 1g via oral dose única TRATAMENTO PARA CANCRÓIDE E SÍFILIS Este quadro de acção indica que devemos utilizar os medicamentos nas doses recomendadas SÍFILIS Penicilina Benzatínica 2,4 milhões IM Dose Única + CANCRÓIDE Azitromicina 1g via oral dose única PERSISTÊNCIA DA ADENOPATIA APÓS 7 DIAS Este quadro de acção indica que se for comprovada a persistência da adenopatia após 7 dias de tratamento deve-se fazer o tratamento para Linfogranuloma Venéreo com o medicamento abaixo nas doses recomendadas LINFOGRANULOMA VENÉREO Doxicilina 100mg VO 2xdia/21 dias OBS: os bubões flutuantes devem ser aspirados. 69 ACONSELHAMENTO, TESTAGEM PARA HIV E SÍFILIS, OFERTA DE PRESERVATIVO, CONVOCAÇÃO DE PARCEIROS Neste quadro de acção é importante: 70 Considerar a associação entre as diferentes ITS, especialmente o HIV. Aconselhar o paciente e oferecer-lhe a realização do teste para o HIV e sífilis, sempre que for possível. Registar e notificar o caso; Oferecer preservativos ao paciente orientando e demonstrando o uso; Instruir o paciente a interromper as relações sexuais ate o desaparecimento dos sintomas e finalização do tratamento; Encorajar o paciente após a cura a usar preservativo em todas as relações sexuais ou adoptar outras formas de sexo mais seguro; Encorajar o paciente a comunicar a todas as suas parceiras sexuais do último mês para que possam ser atendidas e tratadas. Esta actividade e fundamental para se romper a cadeia de transmissão e para evitar que o paciente se reinfecte; Marcar retorno para controle de cura em 7 dias e conhecimento dos resultados dos exames solicitados; Tratar outra ITS diagnosticada de acordo com o algoritmo específico. Capitulo 5 Abordagem Etiológica do Paciente com ITS INFECÇÕES GONOCÓCICAS CONCEITO E AGENTE ETIOLÓGICO É um processo infeccioso e inflamatório causado pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, um diplococo Gram negativo intracelular que pode infectar diferentes superfícies mucosas. Pode causar infecções localizadas ou disseminadas tanto no homem quanto na mulher Infecções localizadas: uretra, endocervix e recto mais comummente, porém também pode causar faringite, conjuntivite. Complicações locais no homem incluem epididimite (Escroto Inchado), estenose uretral e prostatite. Na mulher podem causar bartholinite e salpingite (DIP). Infecções disseminadas: embora menos frequentes podem causar artrites, tipicamente atingindo pequenas e medias articulações, meningite gonocócica e endocardite. QUADRO CLÍNICO No homem, a apresentação clínica mais frequente é a uretrite gonocócica. O sintoma mais precoce é uma sensação de prurido uretral. Após 1 a 3 dias do contacto sexual suspeito, o doente já se queixa de disúria, seguida por corrimento, inicialmente mucoso que com o tempo vai se tornando mais abundante e purulento. Em alguns pacientes pode haver febre e outras manifestações de infecção aguda. Dentre as complicações da uretrite gonocócica destacam-se: balanopostite, prostatite, epididimite, estenose uretral, artrite, meningite, faringite, pieolonefrite, miocardite, pericardite, septicemia. A conjuntivite gonocócica em adultos não é um quadro raro e ocorre basicamente por auto-inoculação. 71 Na mulher, a cervicite ou endocervicite gonocócica frequentemente é assintomática. Podem ocorrer alguns sintomas genitais leves como corrimento vaginal, dispareunia ou disúria. Mesmo assim, a mulher portadora poderá vir a apresentar as complicações de uma cervicite gonocócica não tratada. Ocasionalmente o ducto de Bartholin é atingido, seja inicialmente ou por continuidade, levando a formação de abcesso agudo e doloroso. O colo uterino fica habitualmente edemaciado, sangrando facilmente ao toque da espátula; as vezes é possível visualizar a presença de muco ou pus no orifício externo do colo. Uma cervicite prolongada, sem o tratamento adequado pode se estender ao endométrio e as trompas, causando doença inflamatória pélvica (DIP) sendo suas principais sequelas: esterilidade, gravidez ectópica e dor pélvica crónica A conjuntivite gonocócica, tanto neonatal como em adultos, é caracterizada por edema palpebral e secreção purulenta profusa. O período de incubação é curto, em torno de 1-4 dias e se não tratada pode provocar danos visuais severos incluindo cegueira. A conjuntivite do recém-nascido ocorre mais frequentemente na primeira semana de vida, usualmente contraída durante o seu nascimento, a partir do contacto com secreções genitais maternas contaminadas. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O exame de amostras uretrais, colhidas por meio de zaragatoa, coradas pela coloração Gram, constitui em excelente método diagnóstico para o homem. O achado de Diplococos Gram negativos intracelulares típicos faz o diagnóstico em homens. Em mulheres, o método ideal para o diagnóstico da cervicite gonocócica é a cultura do gonococo em meio selectivo (Tayer-Martin), a partir de amostras endocervicais. A coloração pelo Gram não é recomendada para o diagnóstico de infecção cervical. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Deve ser realizado com os agentes e/ou processos causadores das uretrites não gonocócicas. TRATAMENTO Uretrite e Cervicite: Ciprofloxacina 500 mg via oral dose única. ou Cefixime 400 mg via oral dose única ou Kanamicina 1 g IM dose única 72 Observações: 1. Ciprofloxacina é contra-indicada na gravidez e não é recomendado o seu uso em crianças e adolescentes. 2. Tratar sempre todas as parceiras de pacientes como uretrite gonocócica. 3. Deve-se considerar a existência de infecção associada por Clamydia trachomatis ou Trichomonas vaginalis. Caso um desses ocorra deve-se utilizar o tratamento indicado no capitulo anterior. Oftalmia neonatal: Ceftriaxone 50 mg/kg IM dose única DIP: ceftriaxone 250 mg IM dose única ou ciprofloxacina 500 mg oral 2 x dia por 14 dias Epididimite: Ciprofloxacina 500 mg via oral dose única ou Cefixime 400 mg via oral dose única ou Kanamicina 1g IM dose única GRÁVIDAS A infecção gonocócica na gestante poderá estar associada a um maior risco de prematuridade, rotura prematura de membrana, perdas fetais, retardo de crescimento intra-uterino e febre puerperal. No recém-nascido, a principal manifestação clínica é a conjuntivite, podendo haver ainda septicemia, artrite, abcessos de couro cabeludo, pneumonia, meningite, endocardite e estomatite. 73 Tratamento: Cefixime 400 mg via oral em dose única. Profilaxia do recém-nascido: Solução de Nitrato de Prata a 1% ou Tetraciclina a 1% colírio INFECÇÕES POR CLAMÍDIA CONCEITO E AGENTE ETIOLÓGICO É um processo infeccioso e inflamatório causado pela bactéria Chlamydia trachomatis, obrigatoriamente intracelular. É o agente mais comum da Uretrite não Gonocócica, mas também causa o Tracoma, a conjuntivite por inclusão do recém-nascido e o Linfogranuloma Venéreo. Na mulher pode ser causa de endocervicite e Doença Inflamatória Pélvica (DIP) QUADRO CLÍNICO A uretrite caracteriza-se pela presença de corrimentos mucóides, discretos, com disúria leve e intermitente. A uretrite subaguda é uma forma de apresentação frequente, entretanto, em alguns casos, o quadro clínico pode simular clinicamente os da infecção gonocócica. As uretrites causadas por C. Trachomatis podem evoluir para estenose uretral, prostatite, epididimite, balanites, conjuntivites (por autoinoculação) e a Síndrome de Fiessinger-Leroy-Reiter caracterizada pela tríade uretrite-conjuntivite-artrite. O período de incubação é maior do que o da gonorréia, variando de 1 a 3 semanas, podendo ser ainda maior. É frequente a associação com a infecção gonocócica. A conjuntivite por clamídia pode acometer adultos e recém-nascidos. É bem menos severa do que a gonocócica e o período de incubação varia de 5 a 14 dias. A profilaxia ocular logo após o nascimento geralmente não é efectiva. O Linfogranuloma Venéreo ou Bubão é uma doença de transmissão exclusivamente sexual, caracterizada pela presença de bubão inguinal, com período de incubação entre 3 e 30 dias. A doença evolui em três fases: lesão de inoculação, disseminação linfática regional e sequelas. Inicia-se por pápula, pústula ou ulceração indolor, que desaparece sem deixar sequelas. Frequentemente não é notada pelo paciente e raramente é observada pelo médico. Essa lesão pode ocorrer em diversas partes da genitália interna ou externa. No homem a linfadenopatia inguinal desenvolve-se entre 1 a 6 semanas após a lesão inicial sendo geralmente unilateral. Na mulher, a localização da adenopatia depende do local de inoculação. O comprometimento ganglionar evolui com supuração e fistulização por orifícios múltiplos que correspondem a linfonodos individualizados, parcialmente fundidos em uma grande massa. Pode provocar sintomas gerais como febre, mal-estar, anorexia, emagrecimento, artralgia, sudorese nocturna e meningismo. Na mulher, a cervicite por clamídia frequentemente é assintomática, porém pode haver secreção cervical muco-purulenta. Também pode progredir para salpingite, DIP, infertilidade, gravidez ectópica e dor crónica no baixo ventre. As sequelas mais graves são as decorrentes do acometimento do recto. A obstrução linfática crónica leva a elefantíase genital. Podem ocorrer fístulas retais, vaginais, vesicais e estenose rectal. 74 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O diagnóstico laboratorial é de alto custo e complexidade. Na maioria dos casos o diagnóstico é feito com bases clínicas, não sendo rotineira a comprovação laboratorial. O diagnóstico de linfogranuloma venéreo deve ser considerado em todos os casos de adenite inguinal, elefantíase genital, estenose uretral ou retal. A cultura e isolamento da clamídia é feito a partir do aspirado do linfonodo e de material obtido da uretra ou endocérvix , porém é de baixa positividade. TRATAMENTO Uretrite e cervicite: Azitromicina 1 g via oral dose única ou Doxiciclina 100 mg 2 x dia durante 7 dias, via oral Conjuntivite: Eritromicina xarope 50 mg/kg/dia divididos em 4 doses por 14 dias. DIP: Doxiciclina 100 mg 2 x dia por 14 dias, via oral ou Ciprofloxacina 500 mg via oral 2 x dia por 14 dias Epididimite: Azitromicina 1 g via oral dose única ou Doxiciclina 100 mg 2 x dia por 7 dias, via oral Linfogranuloma venéreo: Doxiciclina100 mg 2 x dia por 21 dias, via oral os bubões que se tornarem flutuantes devem ser aspirados com agulha calibrosa, não devendo ser incisados cirurgicamente. GRÁVIDAS: Azitromicina 1 g via oral dose única. Profilaxia do recém-nascido: Solução de Nitrato de Prata a 1% ou Tetraciclina a 1% colírio 75 SÍFILIS ADQUIRIDA CONCEITO E AGENTE ETIOLÓGICO A sífilis é uma doença infecciosa, sistémica, de evolução crónica, sujeita a surtos de agudização e períodos de latência. É causada pelo Treponema pallidum, espiroqueta de transmissão predominantemente sexual ou materno-fetal, podendo produzir a forma adquirida ou congénita da doença, respectivamente. A forma adquirida pode ser transmitida também por transfusão de sangue contaminado. QUADRO CLÍNICO A sífilis adquirida pode ser classificada de acordo com o tempo de evolução em recente (menos de 1 ano) ou tardia. Sífilis recente compreende os estágios primário, secundário e latente recente; e a sífilis adquirida tardia se refere aos estágios latente tardio e terciário. A sífilis primária caracteriza- se por úlcera de inoculação, geralmente única e pouco dolorosa. As manifestações clínicas da sífilis secundária incluem manchas eritematosas (roséolas), pápulas de coloração eritemato-acastanhada, lisas a princípio e posteriormente escamosas conhecidas como sifílides papulosas, que se localizam na superfície palmo-plantar e sugerem fortemente o diagnóstico de sífilis secundária; placas nas mucosas; e lesões pápulo-hipertroficas, também chamadas de condiloma plano. No estágio de sífilis latente, seja ela recente ou tardia não há manifestações clínicas e portanto o seu diagnóstico é feito por meio de testes serológicos. Uma infecção de mais de dois anos de duração sem evidência clínica de lesões treponêmicas é classificada como sífilis latente tardia. Sua duração é variável, e seu curso poderá ser interrompido por sinais e sintomas da forma secundária ou terciária. A sífilis em seus estágios recentes tem maior infectividade, porém responde melhor ao tratamento. Após a resolução das lesões cutâneas primárias ou secundárias, alguns pacientes experimentam recorrência cutânea. As lesões surgem em menor número, são mais induradas e também são contagiosas. Os sinais e sintomas da sífilis terciária geralmente ocorrem após 3 a 12 anos de infecção, principalmente por lesões cutâneo-mucosas (tubérculos ou gomas), neurológicas (“tabes dorsalis”, demência), cardiovasculares (aneurisma aórtico) e articulares (artropatia de Charcot). As mulheres grávidas devem ser consideradas um grupo especial de alta prioridade para controle, diagnóstico e tratamento da sífilis, pois esta continua sendo uma importante causa de morbi-mortalidade perinatal, apesar da facilidade de técnicas para diagnóstico e baixo custo do tratamento. (Particularmente pela necessidade de detectar possíveis reinfecções após tratamento.) 76 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Pesquisa directa (campo escuro) O diagnóstico de sífilis primária geralmente é feito com base no quadro clínico apresentado pelo paciente, embora a ulceração possa ser facilmente confundida com ulcerações de outras etiologias. Como recurso laboratorial pode ser feita a pesquisa directa do treponema, porém este exame exige técnica específica de colecta para microscopia em campo escuro. Serologia Não Treponémica RPR (Rapid Plasm Reagin) ou VDRL (Venereal Disease Research Laboratory) são exames qualitativos e quantitativos importantes para o diagnóstico e seguimento pós-terapêutico, devendo ser solicitado sempre que se suspeitar do diagnóstico de sífilis em qualquer de suas fases, para todos os pacientes portadores de ITS e no prénatal. Esses testes não são específicos para sífilis e resultados falso positivos podem ocorrer. Tornam-se positivos em torno de seis semanas após a infecção. Por isso, uma grande percentagem de pacientes com sífilis primária (ulceração) apresentam resultados negativos a testes não treponémicos. Por via de regra os títulos são mais altos na fase secundária da doença. Após o tratamento há queda dos títulos, podendo, eventualmente, negativar. Porém, o tratamento adequado pode resultar em persistência de títulos positivos. Serologia Treponémica O FTA-Abs (Fluorescent Treponema Antigen Absorvent) e o TPHA (Treponema pallidum hemaglutinação) são testes qualitativos e importantes para a confirmação dos testes não treponémicos, se estiverem disponíveis. Em geral tornam-se reactivos a partir do 15o dia da infecção e podem permanecer positivos mesmo após o tratamento adequado. Assim, a interpretação dos testes serológicos para o diagnóstico de sífilis deve ser cuidadosa. O quadro seguinte deve ser observado para a interpretação desses resultados. Interpretação dos resultados dos testes serológicos para sífilis Infecção activa Sífilis Latente Falso Positivo Tratamento adequado RPR Qualitativo + + + + ou - RPR Quantitativo >1:8 Sempre <1:4 Geralmente <1:4 2 títulos decrescentes TPHA + + + Observação: 1. Quando não houver disponibilidade de um teste adicional, todos os pacientes com RPR positivo devem ser tratados. 2. Testes serológicos não são utilizados para diagnóstico de pacientes com ulcera genital (usar algoritmo especifico). 77 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Sífilis primária: cancróide, herpes genital, donovanose, linfogranuloma venéreo. Sífilis secundária: farmacodermias, doenças exantemáticas não vesiculosas, hanseníase virchowiana e colagenoses. TRATAMENTO Sífilis primária: Penicilina benzatínica 2,4 milhões UI dose única. Em caso de alergia a penicilina: Usar doxiciclina 100 mg 2 x dia por 14 dias RPR positivo: Penicilina benzatínica 2,4 milhões UI por semana IM x 3 semanas Em casos de alergia a penicilina: Usar doxiciclina 100 mg 2 x dia por 28 dias GRÁVIDAS Usar o mesmo esquema terapêutico. Aquelas com história comprovada de alergia à penicilina, devem ser dessensibilizadas. Na impossibilidade, deve ser administrado Eritromicina nas doses: 500mg VO 4 x dia por 4 semanas PORTADOR DO HIV Portadores do HIV podem ter a história natural da sífilis modificada, desenvolvendo neuro-sífilis mais precoce e facilmente. Para esses pacientes é indicada a punção lombar para que se possa definir o esquema terapêutico mais apropriado. 78 SIFILIS CONGÉNITA CONCEITO E AGENTE ETIOLÓGICO É uma infecção causada pela disseminação hematogénica do Treponema pallidum, da grávida para seu bébé. A transmissão pode ocorrer em qualquer fase da gestação. É frequente a ocorrência de morte perinatal das crianças infectadas. A sífilis durante a gravidez pode ocasionar aborto espontâneo, morte fetal, prematuridade, feto hidrópico, recém-nascidos sintomáticos e recém-nascidos assintomáticos. QUADRO CLÍNICO A sífilis congénita, da mesma forma que a sífilis adquirida apresenta dois estágios: precoce – quando as manifestações clínicas são diagnosticadas até o segundo ano de vida – e tardia, após esse período. Na sífilis congénita precoce os sinais e sintomas aparecem até ao segundo ano de vida e os principais são: baixo peso, renite sanguinolenta, coriza, obstrução nasal, prematuridade, osteocondrite, periostite ou osteíte, choro ao manuseio, esplenomegalia, hepatomegalia, alterações respiratórias/pneumonia, icterícia, anemia severa, hidropsia, edema, pseudoparalisia dos membros, fissura peribucal, condiloma plano, pênfigo palmo-plantar e outras lesões cutâneas. Na sífilis congénita tardia, os sinais e sintomas surgem a partir dos 2 anos de vida: tíbia em lâmina de sabre, fronte olímpica, nariz em sela, dentes incisivos medianos superiores deformados (dentes de Hutchinson), mandíbula curta, arco palatino elevado, queratite intersticial, surdez neurológica, dificuldade de aprendizagem. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Se a mãe foi tratada com penicilina durante a gestação o risco de ocorrência de sífilis congénita é mínimo. Recém-nascidos não infectados podem apresentar anticorpos maternos transferidos via placentária. Nesses casos, em geral, o teste será reagente até os primeiros seis meses de vida. Por esse motivo o diagnóstico de sífilis congénita exige a realização de um elenco de exames que permitam a classificação clínica do caso para que a terapia adequada seja instituída. Todas as crianças nascidas de mãe com serologia positiva devem ser examinadas do nascimento até o sexto mês de vida, em intervalos mensais, até que se confirme que o teste serológico é negativo. 79 TRATAMENTO Todo recém-nascido de mãe com teste RPR positivo durante a gestação e que não tenha utilizado penicilina benzatínica, ou com parceiro sexual que não foi tratado adequadamente ou com novo parceiro sexual, deve ser tratado com: Penicilina cristalina 50 mil UI/Kg/dose IV 2 vezes por dia por 10 dias. Esse mesmo esquema terapêutico deve ser utilizado se há suspeita clínica de sífilis congénita. Se a mãe foi adequadamente tratada durante a gravidez, o exame da criança ao nascimento é normal e não há suspeita clínica de sífilis congénita, o recém-nascido deve ser tratado com: Penicilina benzatínica 50 mil UI/Kg em dose única, via IM 80 CANCRÓIDE CONCEITO E AGENTE ETIOLÓGICO É uma infecção de transmissão exclusivamente sexual, causada pelo Haemophilus ducrey. Caracteriza-se por lesões múltiplas, mas também podendo ser única, e habitualmente dolorosas. O período de incubação usualmente é inferior a 1 semana. QUADRO CLÍNICO São lesões dolorosas, geralmente múltiplas devido à auto-inoculação. No homem as localizações mais frequentes são no frênulo e sulco bálano-prepucial. Na mulher, é frequente a ocorrência na face interna dos pequenos e grandes lábios. Há envolvimento da cadeia ganglionar inguinal ou femural unilateral, na maioria dos casos. No início ocorre tumefacção sólida e dolorosa, evoluindo para liquefacção e fistulização, tipicamente por orifício único. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Na prática, o diagnostico de cancróide é clínico. A pesquisa directa de esfregaços de secreção da base da úlcera, corados pelo Gram não é específica. A cultura é um método diagnóstico mais sensível, porém de difícil realização. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Deve ser feito com todas as outras infecções de transmissão sexual que causam ulcerações genitais, assim como lesões traumáticas infectadas. TRATAMENTO Azitromicina 1 g via oral dose única ou Ciprofloxacina 500 mg oral 2 x dia por 3 dias GRÁVIDAS Tratar com azithromycina 1 g via oral dose única PORTADOR DO HIV Pacientes com teste de HIV positivo devem ser monitorados cuidadosamente visto que podem necessitar de maior tempo de tratamento. Assim como pacientes que não responderem bem a terapia instituída deverão ser investigados sobre ocorrência de infecção pelo HIV. 81 HERPES GENITAL CONCEITO E AGENTE ETIOLÓGICO A Herpes Genital é causada pelo vírus Herpes simplex (HSV), que é transmitido predominantemente pelo contacto sexual (inclusive oro-genital) com período de incubação de 3 a 14 dias, no caso de primo infecção sintomática. Embora o HSV tipos 1 e 2 possam provocar lesões em qualquer parte do corpo, há predomínio do tipo 2 nas lesões genitais, e do tipo 1 nas lesões periorais. Essas lesões caracterizamse por causar quadros agudos, seguidos de longos períodos de latência e reactivação. Também pode ser transmitido por contacto directo com lesões ou objectos contaminados. QUADRO CLÍNICO A infecção pode não produzir sintomas. Em casos de lesões sintomáticas é frequente um período prodrómico com aumento de sensibilidade, formigueiro, mialgias, ardência ou prurido antecedendo o aparecimento das lesões. No homem, as localizações mais frequentes são na glande e prepúcio. Na mulher, nos pequenos lábios, clítoris, grandes lábios e colo do útero. As lesões inicialmente se manifestam com pápulas eritematosas de 2 a 3 mm, seguindo-se de vesículas agrupadas com conteúdo citrino, que se rompem dando origem a ulcerações. Pode estar presente adenopatia inguinal dolorosa bilateral. As lesões cervicais uterinas, geralmente subclinícas, podem estar associadas a corrimento genital aquoso. No homem pode haver secreção uretral hialina, acompanhada de ardor ao urinar. Podem ocorrer sintomas gerais, como febre e mal-estar. Provocando ou não sintomatologia, após a infecção primária, o HSV ascende pelos nervos periféricos, penetra nos núcleos das células ganglionares e entra em estado de latência. Após a infecção primária, os pacientes desenvolvem novos episódios nos primeiros 12 meses pró reactivação do vírus. A recorrência das lesões pode estar associada a episódios de febre, exposição a radiação ultra-violeta, traumatismos, menstruação, stress físico ou emocional, antibioticoterapia prolongada e imunodeficiência. O quadro clínico das recorrências é menos intenso e também é precedido de pródromos característicos. A resolução dessas ulcerações geralmente ocorre em 10 a 14 dias. Pode ocorrer infecção bacteriana secundária, o que mascara o quadro clínico característico. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL A anamnese e o exame físico são os meios fundamentais para o diagnóstico dessa infecção. O diagnóstico laboratorial tem limitações e não se justifica como rotina. 82 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Deve ser feito com o cancróide, sífilis, linfogranuloma venéreo, donovanose e as ulcerações traumáticas. TRATAMENTO Sintomático: a dor pode ser aliviada com analgésicos e anti-inflamatórios. Limpeza das lesões com solução fisiológica ou água boricada a 3%. Especifico: Aciclovir 400 mg via oral 3 x ao dia por 7 dias. GRÁVIDAS Deve ser considerado o risco de complicações obstétricas, particularmente se a primo-infecção ocorrer durante a gravidez e especialmente no final da gravidez. As complicações são numerosas, sendo porém pequeno o risco de contaminação fetal durante a gestação. Nos primeiros meses de gestação pode causar aborto espontâneo. O maior risco de transmissão do vírus ao feto dá-se no momento da passagem deste pelo canal do parto, mesmo na forma assintomática. A infecção herpética neonatal consiste em quadro grave, que exige cuidados especializados. PORTADOR DO HIV Esses pacientes podem apresentar episódios mais prolongados e mais graves, envolvendo grandes áreas da região perianal, escrotal ou peniana. As lesões são dolorosas e atípicas, tornando difícil o diagnóstico clínico. Recomenda-se tratamento utilizando aciclovir por 7 dias 83 VERRUGA GENITAL (CONDILOMA ACUMINADO) CONCEITO E AGENTE ETIOLÓGICO Doença infecciosa de transmissão frequentemente sexual, também conhecida como condiloma acuminado ou verruga genital. É causada pelo Papiloma Vírus Humano (HPV). Actualmente são conhecidos vários subtipos desse vírus, muitos deles de alto poder oncogênico. QUADRO CLÍNICO A maioria das infecções é assintomática ou inaparente. Podem apresentar-se clinicamente sob a forma de lesões exofíticas. A infecção pode também assumir uma forma denominada subclínica, visível apenas sob técnicas de magnificação e após aplicação de reagentes, como o ácido acético. Este vírus ainda é capaz de estabelecer uma infecção latente em que não existem lesões clinicamente identificáveis ou subclínicas, apenas sendo detectável seu DNA por meio de técnicas moleculares em tecidos contaminados. Não é conhecido o tempo em que o vírus pode permanecer nesse estado, e quais factores são responsáveis pelo desenvolvimento de lesões. O vírus pode permanecer por muitos anos no estado latente e, após este período, originar novas lesões. Assim, a recidiva de lesões pelo HPV está muito mais provavelmente relacionada à activação de reservatórios próprios de vírus do que à reinfecção pelo parceiro sexual. Os condilomas, dependendo do tamanho e localização anatómica, podem ser dolorosos, friáveis e/ou pruriginosos. Quando presentes no colo uterino, vagina, uretra e ânus, também podem ser sintomáticos. Menos frequentemente podem estar presentes em áreas extragenitais como conjuntivas, mucosa nasal, oral e laríngea. Na forma clínica as lesões podem ser únicas ou múltiplas, localizadas ou difusas e de tamanho variável, localizando-se mais frequentemente no homem, na glande, sulco bálamo-prepucial e região perianal. Na mulher, na vulva, períneo, região perianal, vagina e colo. Pacientes que tem verrugas genitais podem estar infectados simultaneamente com vários tipos de HPV. Os tipos 6 e 11 raramente se associam com carcinoma invasivo de células escamosas da genitália externa DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O diagnóstico é basicamente clínico, podendo ser confirmado por biópsia, embora isto raramente seja necessário. TRATAMENTO A remoção das lesões não significa que a infecção esteja curada. Nenhum tratamento é completamente satisfatório. O objectivo principal do tratamento da infecção pelo HPV é a remoção das verrugas sintomáticas. Se deixados sem tratamento, os condilomas podem desaparecer, permanecer inalterados, ou aumentar em tamanho ou número. 84 Os tratamentos disponíveis para os condilomas são: crioterapia, eletrocoagulação, podofilina, ácido tricoloacético e exérese cirúrgica. Factores que podem influenciar na escolha de algum desses métodos são o tamanho, o número e local da lesão, além da sua morfologia e preferência do paciente, custos, disponibilidade de recursos e a experiência do profissional de saúde. Planificar o tratamento juntamente com o paciente é importante porque muitos pacientes necessitarão de mais de uma sessão terapêutica. Deve-se mudar de opção terapêutica quando um paciente não melhorar substancialmente depois de três aplicações, ou se as verrugas não desaparecerem completamente após seis sessões. O balanço entre risco e benefício do tratamento deverá ser analisado no decorrer do processo para evitar tratamento excessivo. Podofilina 0,5% em solução ou gel 2 x dia por 3 dias. Deve ser aplicada uma pequena quantidade sobre os condilomas e deixar secar. Deve-se recomendar ao paciente lavar abundantemente a área tratada 4 horas depois, sob o risco de provocar dermatite irritativa severa. Nunca usar durante a gravidez ou em lesões mucosas, como as do colo do útero, vagina, meato e anorectais. Ácido tricloroacético a 80-90% em solução alcoólica: Aplicar pequena quantidade sobre os condilomas e deixar secar, após a lesão assumir aspecto branco. Repetir semanalmente se necessário. Essa solução é muito fluida, comparada a água e pode-se espalhar rapidamente, se aplicadas em excesso, causando dano às áreas adjacentes às lesões. Se a dor for intensa, o ácido pode ser neutralizado com sabão ou bicarbonato de sódio. GRÁVIDAS Nas gestações, as lesões condilomatosas podem atingir grandes proporções, seja pelo aumento da vascularização, seja pelas alterações hormonais e imunológicas que ocorrem neste período. Nunca usar podofilina durante qualquer fase da gravidez. A aplicação de ácido tricloroacético pode ser utilizada durante a gestação, quando a área lesionada não for muito extensa. De contrário, este deverá ser associado a exérese cirúrgica. PORTADOR DO HIV Pessoas imunodeprimidas devido à infecção pelo HIV, ou por outras razões, podem não responder ao tratamento para o HPV e podem acontecer recidivas mais frequentes. O carcinoma escamoso pode surgir mais frequentemente em imunodeprimidos, valorizando a biópsia de lesões neste grupo de pacientes. O tratamento para esses pacientes deve basear-se nos mesmos princípios acima referidos. 85 INFECÇÃO PELO HIV/SIDA CONCEITO E AGENTE ETIOLÓGICO A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) é causada pelo vírus de imunodeficiência humana (HIV), pertencente à classe dos retrovírus. Os retrovírus são conhecidos pelos seus longos períodos de incubação. Quando o HIV infecta o corpo, tem um longo período de incubação (latência clínica) e, finalmente aparecem os sinais e sintomas do SIDA. Existem dois tipos de HIV que causam o SIDA: HIV-1 e HIV-2. Em todo o mundo, o HIV-1 é o mais comum, enquanto que o HIV-2 é encontrado predominantemente na África Ocidental e também em Angola e Moçambique. Vários subtipos de HIV-1 foram identificados. Uma pessoa pode ser co-infectada com subtipos diferentes. No País, o HIV-1 é o mais frequente. FORMAS DE TRANSMISSÃO E PREVENÇÃO As principais formas de transmissão do HIV são: sexual, sanguínea (em receptores de sangue e hemoderivados não testados e em usuários de drogas injectáveis) e perinatal (transmissão da mãe para o filho durante a gestação, parto ou por aleitamento materno). Além dessas formas mais frequentes, pode ocorrer também a transmissão ocupacional, ocasionada por acidente de trabalho, em profissionais da área da saúde que sofrem ferimentos com instrumentos pérfuro-cortantes contaminados com sangue de pacientes infectados pelo HIV. Transmissão Sexual: É a forma mais comum de transmissão do HIV/SIDA. A transmissão do HIV/SIDA ocorre através da via vaginal, oral, anal ou rectal. É a forma mais comum de transmissão do HIV/SIDA. Factores de Risco para a Transmissão Sexual: Sexo não protegido O risco de adquirir HIV por cada encontro sexual depende, em parte, do grau ou da probabilidade do parceiro estar infectado. Este risco varia de acordo com a prevalência de HIV na área e com o tipo de comportamento de risco de cada parceiro potencial. Por exemplo, uma prevalência de 17% significa que 17 de 100 pessoas estão infectadas. 86 Múltiplos parceiros sexuais A probabilidade de uma pessoa adquirir uma infecção de transmissão sexual é, em geral, proporcional ao número de parceiros sexuais que a pessoa teve nos anos recentes. Episódio recente de Infecções Transmitidas Sexualmente (ITS) Existem evidências crescentes de que a presença de outra doença de transmissão sexual num ou em ambos os parceiros aumenta o risco de transmissão de HIV. Ulceração genital, como aquela que ocorre no cancróide, sífilis, ou na infecção viral por herpes simplex, aumenta a probabilidade à infecção aos indivíduos não infectados e aumenta ainda a infecciosidade naqueles indivíduos já infectados. Vias de transmissão, factores de risco e estratégias para prevenir a infecção pelo HIV Transmissão sexual O sémen, secreções vaginais, e/ou sangue de uma pessoa infectada com o HIV entra na outra pessoa durante o contacto sexual vaginal, anal ou oral. Factores de risco Estratégias de prevenção Sexo não protegido (sem Promover comportamento e preservativo) com uma pessoa práticas sexuais mais seguros e infectada. responsáveis. Múltiplos parceiros sexuais Prática do sexo seguro (uso de preservativo) Episódio recente de infecção de transmissão sexual Adiar o início das relações sexuais. Ser fiel/monogamia mútua: reduzindo o número de parceiros sexuais. Tratamento atempado de infecções de transmissão sexual Teste de HIV em pessoas com ITS Abstinência. A presença de outra infecção sexualmente transmitida aumenta o risco de infecção por HIV Tanto a mulher como o homem são vulneráveis a transmissão sexual. Prevenção da Transmissão Sexual na População HIV positiva Mesmo que ambos parceiros estejam infectados deve-se continuar o uso de preservativo de modo a prevenir novas infecções. Existem vários tipos de HIV. A reinfecção ocorre quando um indivíduo obtém mais (ou diferentes) tipos de HIV no seu organismo. Práticas sexuais seguras, incluindo o uso de preservativo, oferecem protecção contra a re-infecção. Também fornecem protecção contra outras infecções de transmissão sexual. 87 Transmissão Sanguínea: (em receptores de sangue e hemoderivados não testados e em usuários de drogas injectáveis) Transmissão de sangue-para-sangue Factores de risco Estratégias de prevenção Exposição a objectos cortantes Minimizar o uso de seringas e como seringas, agulhas e outros agulhas equipamentos cirúrgicos não Não partilhar equipamento esterilizados. cirúrgico. Escarificações ou tatuagens com Usar equipamento cirúrgico material contaminado. esterilizado. Exposição ao sangue ou produtos Praticar as normas de de sangue (transfusão do sangue) biosegurança. Uso de agulhas, seringas ou Uso do sangue devidamente equipamento para injectar, analisado. contaminados. Teste de HIV Partilha ou reutilização do Abster-se de uso de drogas e de equipamento de injecção drogas injectáveis. Não partilhar equipamento de injecção. A transmissão a pessoas pode ocorrer através do material contaminado pelo HIV e reutilizado, sem desinfecção ou esterilização adequada. A transmissão e a disseminação entre os usuários de drogas injectáveis podem ocorrer rapidamente e destes para os seus parceiros sexuais, através de relações sexuais não protegidas. Transmissão Perinatal (transmissão da mãe para o filho durante a gestação, parto ou por aleitamento materno). Esta é a via mais importante de transmissão do HIV/SIDA às crianças e é também conhecida como transmissão vertical. Estima-se que esta forma de transmissão seja responsável por cerca de 90% de casos de HIV/SIDA em crianças. A transmissão do vírus de mães infectadas para as crianças, sem nenhuma medida de prevenção, ocorre entre 25-50%. Essa transmissão pode ocorrer durante a gravidez (20% das infecções ocorrem nesse período), trabalho de parto e parto (cerca de 60% das infecções ocorrem durante o parto) e aleitamento materno (cerca de 20%). 88 Transmissão de mãe infectada para o seu filho durante a gravidez, trabalho de parto e parto, e durante a amamentação. Factores de risco Estratégias de prevenção Carga viral alta durante Prevenção da infecção pelo HIV (contacto a gravidez. sexual). Trabalho de parto Prevenção da gravidez não desejada entre invasivo. as mulheres infectadas com o HIV Não usar profilaxia anti Prevenção da transmissão de HIV das retroviral. mulheres infectadas para os seus filhos Provisão de cuidados e apoio às mulheres infectadas, seus filhos e famílias. Prevenção da transmissão de mãe infectada para o seu filho A transmissão vertical (TV) pode ser prevenida evitando que as mulheres portadoras de HIV/SIDA engravidem. Outra forma de prevenção é através da consciencialização e encorajamento para a realização do teste anti HIV voluntário nas mulheres. Está comprovado que o HIV/SIDA não se transmite através: Um aperto de mão ou outro contacto casual com um doente com HIV/SIDA; Contactos pessoais, como beijo no rosto, abraço, carícias, aperto de mão, dormir juntos. Contactos sociais como no ambiente de trabalho, escola, cinema, teatro, autocarro, restaurante, sauna, piscina, praia, etc. Contactos intra-domiciliários como a partilha de cozinha, refeitório, louças ou talheres, paredes, portas, assentos das sanitas, sabonete, toalha ou lençol. Contactos profissionais como a partilha do escritório, utensílios, computadores, telefones ou outros utensílios do escritório. Contacto com os seguintes líquidos corporais como lágrimas, saliva, suor ou urina. Picada de mosquitos, pulgas, piolhos, percevejos ou outros insectos; Tosse ou espirro. 89 QUADRO CLÍNICO Há vários sistemas para descrever a história natural do HIV/SIDA. O sistema desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é um sistema simples que classifica a infecção pelo HIV em adultos e adolescentes em 4 estádios clínicos. Algumas semanas depois que a pessoa contrai a infecção pelo HIV, pode sentir-se doente com o “síndrome retroviral agudo”. Primeiro estádio: assintomático Muito poucas pessoas apresentam o “síndrome retroviral”. Este síndrome consiste de sintomas, como febre, erupção cutânea, úlceras orais e/ou genitais, inchaço dos gânglios linfáticos, dor de garganta, mialgia e fadiga. Estes sinais e sintomas, geralmente ocorrem duas a quatro semanas após a infecção, desaparecem alguns dias depois. Frequentemente são confundidos com um resfriado comum. É raro que esta síndrome seja diagnosticada como infecção aguda com HIV. Normalmente, o doente não se sente muito mal e não faz uma consulta. Mesmo que se faça consulta, raramente se faz o diagnóstico. É importante saber que, durante este estádio, o teste do HIV (o teste dos anticorpos contra HIV) não dá um resultado positivo, mesmo que a pessoa já esteja infectada. Apesar do teste de HIV ser negativo ou indeterminado, a pessoa está infectada e pode transmitir o vírus a outras pessoas. Este período é conhecido como “janela imunológica”. Segundo Estádio: sintomas menores Este estádio leva alguns anos, em torno de oito a dez anos, é conhecido como período de latência. A pessoa vivendo com HIV é capaz de transmitir o HIV principalmente a seus parceiros sexuais ou através das doações de sangue, uso das mesmas agulhas para os injectáveis, ou durante a gravidez e parto para o recémnascido. As pessoas podem ter perda de peso involuntária geralmente menor de 10% do peso corporal, manifestações cutâneas, tais como dermatite seborreica, molusco contagioso, micoses recorrentes, prurido, herpes zoster e infecções do tracto respiratório superior (bronquite, otite e amigdalite recorrente). Nas crianças, o período assintomático é mais curto. Muitas crianças apresentam a doença antes de 2 anos de idade, embora algumas possam permanecer saudáveis por vários anos. Terceiro Estádio: Sintomático do HIV (sintomas severos) Neste estádio, uma pessoa aparece doente e apresenta sintomas severos, devido a uma imunodeficiência moderada. A pessoa vivendo com o HIV pode apresentar uma ou mais infecções oportunistas. Essas infecções oportunistas são causadas por microrganismos que normalmente se encontram no corpo e que provocam doença na pessoa com um sistema imunológico deficiente ou fraco. Estas infecções são muitas vezes severas e às vezes fatais. A profilaxia, tratamento das infecções oportunistas e o tratamento com anti-retrovirais ajudam a manter as células CD4+ e prolongar o tempo de vida das pessoas infectadas. Os sintomas mais frequentes neste estádio incluem perda de peso maior de 10%, diarréia crónica, febre há mais de um mês, e também, doenças específicas como 90 candidíase oral, tuberculose pulmonar, infecções bacterianas graves recorrentes (pneumonia). A candidíase vulvovaginal é muito comum nas mulheres mas numa mulher com HIV+ pode ser recorrente e resistente à terapia. Quarto Estádio: SIDA Neste estádio, o nível de imunidade é muito baixo. Apresentam-se várias doenças que são indicadores do SIDA. Aparecem cancros oportunistas como, o Sarcoma de Kaposi, bem como infecções oportunistas como, cryptococose neuromeníngea, toxoplasmose cerebral. Outras manifestações incluem: pneumocystose pulmonar, candidíase esofágica, herpes simplex de mais de um mês de duração, tuberculose extra pulmonar. Há duas manifestações indicadoras de SIDA causadas pelo próprio HIV. Uma é o síndrome caquético, perda de mais de 10% do peso e, a outra é a diarréia crónica por mais de 30 dias ou febre crónica. EVOLUÇÃO DO HIV/SIDA A nível individual, uma pessoa vivendo com HIV nos primeiros anos sente-se bem e parece normal. Depois de alguns anos, o vírus destrói os linfócitos CD4 e seu número diminui. Com uma imunodeficiência progressiva, a pessoa pode ter manifestações menores e mais tarde os sintomas são severos. Finalmente, aparecem as doenças indicadoras de SIDA e isto sucede no quarto estádio. Uma pessoa vivendo com HIV/SIDA nem sempre tem todas as manifestações da doença. Cada pessoa tem a sua própria evolução do HIV/SIDA. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Diagnóstico clínico do HIV/SIDA No diagnóstico clínico devem ser tomados em conta as manifestações clínicas segundo os estádios do HIV descritos pela OMS, assim como os factores epidemiológicos seguintes: 1. Comportamento actual ou progresso Toxicodependentes para drogas endovenosas Muitos parceiros sexuais Parceiro(s) sexual com SIDA ou portador do vírus HIV Relações sexuais homossexuais masculinas 2. Antecedentes de úlcera genital recente 3. Antecedentes de transfusão de sangue, plasma ou outros derivados do sangue não testados previamente ou, mesmo que testados, quando procedentes de região com elevada prevalência de infecção por HIV. 4. Antecedentes de escarificação, tatuagem, circuncisão ou perfuração do lóbulo da orelha com instrumentos não esterilizados. 91 Observação: Os pacientes suspeitos de infecção pelo HIV devem ser encorajados a realizar o teste de HIV nos locais de referência Diagnóstico Laboratorial A infecção pelo HIV pode ser diagnosticada pela detecção de anticorpos contra o vírus, antígenos virais (DNA e RNA viral) ou por cultura. O teste padrão é o da serologia que detecta anticorpos contra o vírus. Esse teste é o utilizado, no nosso meio, nos laboratórios de referência de hospitais, banco de sangue e ATS do País. Os testes do HIV utilizados são Determine e UNIGOLD. Algumas questões são importantes em relação aos testes de detecção de anticorpos contra o HIV, especialmente no primeiro estádio: o teste de HIV dá resultado negativo porque a produção de anticorpos no corpo da pessoa infectada começa mais tarde, geralmente depois de 6 semanas da infecção, variando de indivíduo para outro. O teste do HIV, utilizado nos laboratórios do País, detecta os anticorpos do HIV depois de três meses da infecção. Interpretação do resultado do teste anti HIV Os resultados do teste do HIV podem ser positivos, negativos ou indeterminados. Caso o teste seja indeterminado, este deve ser repetido após 21 ou 30 dias, pois o indivíduo pode encontrar-se no período de janela imunológica. No caso de dúvida, o teste deve ser repetido após três meses da última exposição suspeita. Se o resultado for positivo Se o resultado for negativo Significa que a pessoa está infectada e pode infectar os outros. A pessoa é infectada, mas pode não ter SIDA. A maioria das pessoas infectadas pode desenvolver o SIDA num período de 2 a 10 anos a partir do período de infecção. Geralmente significa que a pessoa não foi exposta ao vírus do HIV. O resultado pode ser um falso negativo. A pessoa foi exposta ao vírus e infectada, mas encontra-se no período de “janela imunológica”. Nas pessoas HIV positivas Nos portadores de HIV, outros testes de laboratório devem ser solicitados antes do início do tratamento com anti-retrovirais, ou para controle do tratamento, e para decidir a profilaxia medicamentosa e prevenir as infecções oportunistas. Estes testes são realizados somente nos laboratórios especializados: 1. A contagem de linfócitos CD4 que mede o número de linfócitos CD4 e indica a magnitude do dano do HIV no sistema imunológico. Esse é o teste convencional para determinar o estádio da doença e tomar a decisão sobre o 92 tratamento com anti-retrovirais e a profilaxia das infecções oportunistas Primeiro estádio: Muitas vezes, a contagem de células CD4 é normal (acima de 500/µL); portanto, não há imunodeficiência; Segundo estádio: A contagem de células CD4 varia entre 500 a 350/µL, quer dizer que a pessoa infectada apresenta uma imunodeficiência leve. Terceiro estádio: A contagem de linfócitos CD4 varia entre 350 a 200/µL, imunodeficiência moderada; A contagem dos linfócitos CD4 é menor de 200/µL, imunodeficiência grave. 2. O teste de quantificação de HIV plasmático (carga viral), que mede a quantidade do vírus no sangue. TRATAMENTO A terapia anti HIV é uma área complexa, sujeita a constantes mudanças. As recomendações deverão ser revistas periodicamente com o objectivo de incorporar novos conhecimentos gerados pelas pesquisas clínicas. Sendo assim, definir o momento do início da terapia anti-retroviral e qual a melhor combinação a ser instituída deve ser atribuição de clínicos com experiência no manejo desses pacientes. Os demais profissionais que acompanham o paciente devem contribuir para que: Seja estabelecido o diagnóstico inicial, encaminhando o paciente a um serviço especializado; Seja feito o tratamento precoce e adequado das ITS; Seja realizada a suspeita clínica de uma infecção pelo HIV ou SIDA; A adesão ao tratamento seja satisfatória; Os pacientes com ITS passem a adoptar práticas preventivas para evitar a infecção pelo HIV, ou, se já estiver infectado, evitar a sua reinfecção e a transmissão do vírus para seus parceiros. GRÁVIDAS Nas mulheres com teste anti HIV positivo que estejam já grávidas a abordagem é diferente. Também nesse caso são adoptados esquemas específicos para a redução da transmissão vertical. A escolha de esquema depende do nível da unidade sanitária e do acesso da gestante ao hospital de referência. 93 TRICOMONÍASE CONCEITO E AGENTE ETIOLÓGICO É uma infecção causada pelo Trichomonas vaginalis (protozoário flagelado). Sua principal forma de transmissão é a sexual. Pode permanecer assintomática no homem e na mulher, principalmente após a menopausa. QUADRO CLÍNICO Na mulher pode acometer a vulva, vagina e cérvix uterina, causando cervicovaginite. Caracteriza-se por corrimento abundante, amarelado ou esverdeado, com bolhas e com mau cheiro. Pode causar prurido e/ou irritação vulvar. O achado de tricomonas em exames de rotina impõe o tratamento da mulher e também do seu parceiro sexual, já que se trata de uma ITS frequentemente assintomática. No homem pode causar uretrite transitória. Classicamente os pacientes referem corrimento discreto especialmente pela manhã e períodos intermitentes de irritação uretral. Pode ocorrer balanite, especialmente em homens não circuncidados. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Para o diagnóstico laboratorial utiliza-se o exame directo a fresco da secreção vaginal. Colhe-se uma gota do corrimento e coloca-se sobre a lâmina com uma gota de solução fisiológica e observa-se ao microscópio. A presença de parasitas flagelados movimentando-se activamente entre as células epiteliais e os leucócitos confirma o resultado. A cultura é muito difícil de ser realizada pois requer meio específico e condições de anaerobiose. TRATAMENTO Metronidazol 2 g via oral dose única. ou Metronidazol 500 mg via oral 2 x dia por 7 dias Deve-se evitar a ingestão de álcool, que se ingerido, pode ocasionar um quadro consequente a interacção deste com derivados imidazólicos, que se caracteriza por mal-estar, náuseas, tonturas e gosto metálico na boca GRÁVIDAS A infecção pode estar associada a rotura prematura de membranas, prematuridade e baixo peso à nascença, especialmente em mulheres sintomáticas Deve-se evitar o uso de metronidazol no primeiro trimestre da gravidez PORTADOR DE HIV Pacientes infectados pelo HIV devem ser tratados com os esquemas referidos. 94 VAGINOSE BACTERIANA CONCEITO E AGENTES ETIOLÓGICOS É uma síndrome clínica resultante da substituição da flora vaginal normal por alta concentração de bactérias anaeróbias, tais como Gardnerella vaginalis e Mycoplasma hominis. O mecanismo dessa alteração microbiana não está totalmente esclarecido. A Vaginose Bacteriana (VB) é uma infecção endógena do trato reprodutivo. O tratamento dos parceiros sexuais não tem demonstrado benefícios. QUADRO CLÍNICO Embora o corrimento seja o sintoma mais frequente, quase a metade das mulheres com VB são assintomáticas. Quando presente, o corrimento tem cor acinzentada, aspecto cremoso e odor fétido, mais acentuado depois do coito e no período menstrual. DIAGNÓSTICO É realizado por critérios clínicos e se confirma quando estiverem presentes três dos seguintes critérios ou apenas os dois últimos: Corrimento vaginal homogéneo, geralmente acinzentado e de quantidade variável. pH vaginal maior do que 4,5 Teste das aminas positivo: em uma lâmina de vidro, misture a secreção vaginal com 1 ou 2 gotas de hidróxido de potássio a 10%. Na presença de vaginose bacteriana, ocorre liberação de aminas com odor fétido, semelhante ao odor de peixe estragado. Presença de “clue cells” (células epiteliais recobertas por bactérias aderidas a sua superfície) ao exame bacterioscópico, associado à ausência de lactobacilos. TRATAMENTO Metronidazol 2 g via oral dose única. ou Metronidazol 500 mg via oral 2 x dia por 7 dias Recomenda-se a eliminação ou redução de factores predisponentes tais como uso de anticépticos/antibióticos em preparações vaginais ou duchas vaginais 95 GRÁVIDAS Mulheres grávidas sintomáticas devem ser tratadas, pois há evidências de efeitos adversos na gravidez, tais como ruptura prematura de membranas, parto prematuro e baixo peso. Não é recomendado o despiste de BV em grávidas assintomáticas sem história de parto prematuro. Grávidas com sintomas recorrentes devem ser tratadas de novo. Metronidazol 2 g via oral dose única (somente depois de completado o 1º trimestre) ou Metronidazol 500 mg via oral 2 x dia por 7 dias (somente depois de completado o 1º trimestre) PORTADORA DO HIV/SIDA Pacientes portadoras do HIV devem ser tratadas com os esquemas acima referidos. 96 CANDIDÍASE VULVOVAGINAL CONCEITO E AGENTE ETIOLÓGICO É uma infecção da vulva e vagina, causada por um fungo comensal que habita a mucosa vaginal e a mucosa digestiva. Esse fungo cresce quando o meio torna-se favorável para o seu desenvolvimento. A maioria dos casos é causada pela Cândida albicans. A candidíase vulvovaginal geralmente não é adquirida sexualmente, especialmente as mulheres. Os factores predisponentes dessa doença são: Gravidez Diabetes mellitus Obesidade Uso de contraceptivos orais de alta dosagem Uso de antibióticos, corticóides ou imunossupressores Hábitos de higiene e vestiário inadequado que diminuem a ventilação e aumentam a humidade e o calor local Contacto com substancias irritantes ou que causem alergias Imunodeficiência, inclusive a infecção pelo HIV QUADRO CLÍNICO A apresentação clínica nas mulheres geralmente são irritação vulvar e corrimento vaginal, porem muitas podem ser assintomática. O principal sintoma é prurido vaginal, que pode ter intensidade variável. Também podem causar ardor ou dor à micção, corrimento branco, grumoso, inodoro e com aspecto de “leite coalhado”. Hiperemia e edema vulvar também podem ocorrer. A vagina e o colo ficam recobertos por placas brancas aderidas à mucosa. A candidíase genital em homens é frequentemente assintomática. Mas também podese manifestar como balanite que varia de irritação da glande até inflamação intensa. Raramente há uretrite. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O exame directo a fresco de secreções vaginais, uretrais ou da área prepucial, revela a presença de micélios birrefrigentes e/ou esporos, pequenas formações arredondadas birrefringentes. A cultura só tem valor quando realizada em meios específicos. O achado de cândida em outros exames em uma paciente assintomática não permite o diagnóstico de infecção clínica e, portanto, não justifica o tratamento. 97 TRATAMENTO Homens: Clotrimazol creme 1% 2 x dia por 7 dias Mulheres: Clotrimazol 500 mg via vaginal. Dose única ou Nistatina óvulos: 1 óvulo intravaginal à noite por 14 dias GRÁVIDAS A Candidíase vulvovaginal é muito frequente no transcorrer da gravidez, podendo apresentar recidivas pelas condições propícias que se estabelecem nesse período. Tratamento: Clotrimazol 500 mg via vaginal PORTADORA DO HIV/SIDA Clotrimazol 500 mg via vaginal x 3 dias 98 PEDICULOSE PUBIANA (CHATO) CONCEITO E AGENTE ETIOLÓGICO A pediculose do púbis é usualmente adquirida por adultos através de contacto sexual. Embora a infestação seja mais comummente restrita à região púbica e perianal, pode-se espalhar para axila, coxas, região peitoral e até para sobrancelhas e cílios, mas nunca para o couro cabeludo. É causada pelo Phthirus púbis. QUADRO CLÍNICO A queixa principal do paciente é prurido intenso. O sintomas surgem de 1 a 2 semanas após a infestação. O piolho adulto e as lêndeas são encontrados fixados aos pêlos das regiões afectadas. Podem ocorrer lesões de urticária, vesículas e máculas pigmentadas após as picadas do piolho. DIAGNÓSTICO É facilmente feito pelo achado dos piolhos e das lêndeas aderidos aos pêlos. TRATAMENTO Lindane 1% loção ou creme, uso tópico ou Benzoato de Benzila loção a 25%, uso tópico GRÁVIDAS Lindane não deve ser usado em mulheres grávidas ou lactantes 99 SARNA (ESCABIOSE) CONCEITO E AGENTE ETIOLÓGICO Doença infecciosa da pele causada por um ácaro, cuja penetração na pele é visível sob a forma de pápulas ou vesículas ou de sulcos lineares diminutos que contem os ácaros e seus ovos. É transmitido por contacto corporal directo, seja sexual, seja por proximidade, entre pessoas morando ou trabalhando juntas por muito tempo, como em creches e escolas. QUADRO CLÍNICO Os sintomas iniciam em 4 a 6 semanas após a infestação. Prurido é o sintoma principal, sendo de intensidade variável, geralmente mais intenso à noite e ao amanhecer. As lesões, eritemato-papulosas e escoriadas predominam nos espaços interdigitais, na face anterior dos pulsos e cotovelos, axilas, cintura, coxas, genitais, no abdómen e na parte inferior das nádegas. Infecção secundária, geralmente consequência da escoriação, é a complicação mais frequente mas, impétigo e foliculite também podem ocorrer. DIAGNÓSTICO Geralmente é feito pela clínica, mas pode ser confirmada em exame microscópico de material obtido das lesões não escoriadas. TRATAMENTO As aplicações tópicas em todo o corpo, do pescoço para baixo, devem ser realizadas após banho e lavadas após 24 horas. As roupas de cama e de uso pessoal devem ser bem lavadas, expostas ao sol e passadas ao ferro. Todas as pessoas que convivem no mesmo ambiente devem ser tratadas. O prurido algumas vezes persiste por várias semanas após o tratamento. Deve-se repetir o tratamento após uma semana. Lindane 1% loção ou creme, uso tópico ou Benzoato de Benzila loção a 25%, uso tópico GRÁVIDAS Lindane não deve ser usado em mulheres grávidas ou lactantes PORTADOR DO HIV Podem apresentar manifestações extremamente severas da doença. Ivermetina 6 mg via oral, dose única 100 CAPITULO 6 A Melhoria da Gestão do Programa de ITS REGISTO E NOTIFICAÇÃO DAS ITS Para o bom controle das ITS na comunidade é necessário o tratamento efectivo dos pacientes sintomáticos e seus contactos sexuais, utilizando-se os algoritmos elaborados e os medicamentos recomendados. Eles são simples e proporcionam a possibilidade de tratamento precoce, o que impede novas infecções e quebra da cadeia de transmissão, em uma única visita ao serviço. A compra de medicamentos na qualidade e na quantidade adequada àquela realidade deve ser bem planificada, de modo que não faltem os medicamentos necessários para tratar sindromicamente os casos diagnosticados. O registo dos casos e contactos atendidos em uma unidade sanitária e a notificação de alguns deles, definidos como de notificação compulsória, permitem quantificar a necessidade de medicamentos a serem usados para uma determinada unidade de tempo (semana, mês ou ano). Além disso, também ajudam a conhecer como essas doenças se distribuem na comunidade, permitindo que as autoridades sanitárias planifiquem acções de controle cada vez mais adequadas. O registo do caso atendido e de seus contactos deve ser diário, à medida que o atendimento estiver sendo feito. Deve-se utilizar os formulários específicos do livro de registo de atendimento da Unidade Sanitária (em anexo). Essas actividades fazem parte da vigilância Epidemiológica, que se define como um conjunto de actividades que permite reunir a informação indispensável para conhecer, a cada momento, o comportamento ou a história natural de uma doença e detectar ou prever mudança que possa ocorrer por alteração dos factores que a condicionam. Tem a finalidade de recomendar, em bases científicas, as medidas oportunas que levem à prevenção e ao controle dessa mesma doença. As principais atribuições do serviço de vigilância epidemiológica são: Reunir toda a informação necessária e actualizada Processar, analisar e interpretar os dados Recomendar a implantação e/ou implementação das actividades pertinentes ao controle imediato, ou a longo prazo, da doença. 101 Pode-se afirmar, que a vigilância epidemiológica presta-se em termos gerais, a subsidiar no plano político, o estabelecimento das linhas de planificação dos serviços de saúde; e em termos mais particulares, a orientar o plano de gestão, definindo as medidas de impacto das intervenções implementadas. Devido a importância da epidemia de HIV/SIDA em Moçambique, é fundamental que seja feito o registo dos casos encaminhados para aconselhamento pré-teste, assim como para os serviços de assistência a pessoas com HIV/SIDA. SUPERVISÃO TÉCNICA Para que o atendimento a pessoas com ITS seja de qualidade é necessário que a unidade sanitária disponha de infrastrutura adequada, profissionais capacitados, instrumentos e equipamentos, materiais para a realização do exame genital e colecta de material para exame, materiais informativos e educativos, preservativos e medicamentos em quantidade suficiente para serem oferecidos a todos os pacientes atendidos. LISTA PARA CONTROL DO CONSULTÓRIO INFRASTRUTURA Privacidade Limpeza Iluminação 102 EQUIPAMENTO E MATERIAL Marquesa Espéculo Pénis de madeira Preservativos Protocolo de tratamento Panfletos educativos Livro de registro Fichas de notificação de caso Balança Luvas Solução para desinfecção Protocolo de encaminhamento para outro serviço de saúde LISTA DE CONTROLE PARA FARMÁCIA MEDICAMENTO Azitromicina Aciclovir Ceftriaxone Cefixime Ciprofloxacina Clotrimazol Doxiciclina Eritromicina xarope Metronidazol Nitrato de Prata solução Penicilina Benzatina Podofilina Penincilina cristalizada PRESENTE AUSENTE Além da disponibilidade da infrastrutura adequada e dos equipamentos, materiais e medicamentos disponíveis, é fundamental que se observe e acompanhe o processo de atendimento dos indivíduos que procuram a consulta. Essa observação não deve ser punitiva e nem somente para controle, mas deve, essencialmente, servir para redireccionar as actividades que estão sendo realizadas, de modo a responder ao protocolo de atendimento definido para o nível daquela unidade sanitária. 103 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO CARACTERÍSTICAS DO PROFISSIONAL DE SAÚDE Sexo Masculino Nível Superior Básico CARACTERÍSTICAS DO PACIENTE Sexo Masculino Idade > 15 anos Estado Civil Queixa de DTS HISTÓRIA CLÍNICA Pergunta sobre inicio e duração dos sintomas? Pergunta sobre recentes contactos sexuais de risco? Pergunta sobre uso de preservativo na última relação sexual? EXAME FÍSICO Faz inspecção genital do doente? No homem, faz retracção do prepúcio? Na mulher faz exame especular? Na mulher faz exame bimanual? EXAME LABORATORIAL Solicita análise de RPR? Se sim, o resultado é no mesmo dia DIAGNÓSTICO Sindrómico Etiológico 104 Feminino Médio Elementar 20 a 49 anos Casado Temcompanheiro Sim Feminino 15 a 19 anos > 50 anos Solteiro Outros Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não MEDICAMENTOS PRESCRITOS 1. 3. ACONSELHAMENTO O doente é instruído sobre a importância de fazer o tratamento completo? Investiga outros sintomas de DTS? O doente é informado sobre o risco da infecção pelo HIV/SIDA? Instrui sobre o uso do preservativo? Demonstram o uso correcto do preservativo? Entregam preservativos ao doente? Convocam o(s) parceiros sexuais? Há uma boa comunicação entre o profissional e o doente? Há privacidade durante a consulta? 2. 4. Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Sim Não Não Sim Não Sim Não Sim COMENTÁRIOS: __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ DATA: _____/_____/_____ DISTRITO: ________________________ UNIDADE SANITÁRIA: ______________________________________ NOME DO SUPERVISOR: ____________________________________ 105 ANEXOS 106 Corrimento uretral Corrimento vaginal 107 Úlcera genital 108 Sífilis congénita 109 Cancróide Herpes genital 110 Condiloma acuminado Candidiase vulvovaginal 111 DROGAS UTILIZADAS NO TRATAMENTO DAS ITS Síndroma Corrimento Vaginal Corrimento Uretral Etiologia 1a linha 2a linha Gonorreia Ciprofloxacina 500 mg via oral dose única Clamídia Azitromicina 1g via oral dose única Tricomoníase e Vaginose bacteriana Metronidazol 2g via oral dose única Cefixime 400mg via oral dose única Doxiciclina 100mg 2xdia por 7 dias via oral Metronidazol 500 mg via oral 2xdia por 7 dias Candidíase Clotrimazol 500 mg via vaginal Gonorreia Ciprofloxacina 500 mg via oral dose única Clamídia Azitromicina 1g via oral dose única Tricomoníase Metronidazol 2g via oral dose única Sífilis Penicilina Benzatínica 2,4 milhões UI IM dose única Cancróide Azitromicina 1g via oral dose única Herpes Aciclovir 400mg via oral 3xdia por 7 dias Gonorreia Kanamicina 2 mg IM dose única Clamídia Doxiclina 100mg 2xdia por 14 dias via oral Anaeróbios Metronidazol 500mg 2xdia por 14 dias via oral 3a linha Gravidez Kanamicina 1g IM dose única Cefixime 400mg via oral dose única Azitromicina 1g via oral dose única Evite usar no primeiro trimestre Nistatina óvulos 1 óvulo vaginal por 14 dias Cefixime 400mg via oral dose única Doxiciclina 100mg 2xdia por 7 dias via oral Metronidazol 500 mg via oral 2xdia por 7 dias Clotrimazol 500 mg via vaginal 112 HIV/SIDA: Clotrimazol 500mg via vaginal por 3 dias Kanamicina 1g IM dose única Alergia a penicilina: Eritromicina 500mg 4xdia por 14 dias, via oral Úlcera Genital Dor no Baixo Ventre Outros Ciprofloxacina 500mg via oral 2xdia por 3 dias Azitromicina 1g via oral dose única HIV/SIDA: Aciclovir 400mg na mesma dose por 7 dias Ceftriaxone 250mg IM dose única Ciprofloxacina 500mg via oral 2xdia por 14 dias E metronidazol Ciprofloxacina 500mg via oral 2xdia por 14 dias E metronidazol Ciprofloxacina 500mg via oral 2xdia por 14 dias E metronidazol Síndroma Escroto Inchado Balanite Bubão Sífilis congénita Oftalmia neonatal Profilaxia do recém-nascido Etiologia 1a linha 2a linha 3a linha Gonorreia Ciprofloxacina 500mg via oral dose única Kanamici na 1g IM dose única Clamídia Azitromicina 1g via oral dose única Cefixime 400mg via oral dose única Doxiciclina 100mg 2xdia por 7 dias Clotrimazol creme a 1% Candidíase 2xdia por 7 dias Doxiciclina 100mg 2xdia Clamídia por 21 dias via oral Penicilina cristalina 50mil Treponema UI/Kg/dose 2xdia por 10 dias IV Ceftriaxone Gonorreia 50mg/Kg IM dose única Eritromicina xarope 50mg/Kg/por Clamídia dia divididos em 4 doses por 14 dias Solução de Gonorreia Nitrato de e Clamídia prata a 1% 1x Síndroma Etiologia 1a linha Verrugas Genitais HPV RPR Positivo sem úlcera ou exantema Sífilis Podofilina 0,5% solução ou gel, 2xdia por 3 dias Penicilina Benzatínica 2,4 milhões UI IM 1xsemana por 3 semanas 113 Gravidez Outros Gravidez Outros Tetraciclina pomada a 1% 1x 2a linha 3a linha Alergia a penicilina: Eritromicina 500mg 4xdia por 14 dias, via oral GLOSSÁRIO Acolhimento Aconselhamento Algoritmos Cadeia de transmissão Cordão espermático DIP Disúria Epidídimo Escutar activamente Infertilidade ITS ITS recidivantes Órgãos anexiais Práticas sexuais Sinais Sintomas 114 Prática do trabalhador de saúde que visa receber bem o indivíduo que procura o serviço de saúde, com uma atitude receptiva de apoio e boas vindas. Um processo de escuta activa, dinâmico, de confiança entre o trabalhador de saúde e o indivíduo que procura o serviço que, além de fornecer informações sobre prevenção e tratamento das ITS, também propicia uma reflexão conjunta sobre estratégias para a diminuição do risco de infecção. É uma sequência lógica de decisões e acções que devem ser seguidas para chegar a determinado fim Mecanismos e comportamentos envolvidos na transmissão de uma infecção de um indivíduo para outro Estrutura do aparelho genital masculino que contém os vasos sanguíneos, nervos dos testículos e o ducto deferente Doença Inflamatória Pélvica Dor ou dificuldade para urinar é um pequeno ducto contornado que fica por trás do testículo, no escroto, condutor do esperma do testículo até à glândula prostática Postura em que a pessoa estimula e acolhe o discurso do outro, interagindo sem colocar juízos de valor. Ter uma atitude de escuta em que a fala e a iniciativa do paciente seja valorizada. Incapacidade de conceber. Usualmente é confirmada após 12 meses de actividades sexuais sem gravidez e sem uso de qualquer método contraceptivo. Infecção de Transmissão Sexual Infecção de Transmissão Sexual que apresentam sinais e sintomas regularmente ao longo do tempo Ovários, trompas de Falópio e estruturas de suporte dos órgãos genitais internos da mulher. Formas diferentes de uma “acção sexual”. Essa “acção”, prática ou atracção de cada um, pode manifestar-se através da expressão hetero, homo e bissexual. Anormalidades indicativas de doença identificadas pelo trabalhador de saúde durante o exame do paciente Anormalidades indicativas de doença que são referidas pelo paciente, mas não podem ser observadas directamente. REFERÊNCIAS Agency for International Development. Learning points. In: Training package for prevention and control of syphilis in maternal and child health programs. Edited by MotherCare/PATH USA. 1996. (mimeo) Ballard R, Htun Y, Fehler GNeilsen G. 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