Cap 19 DANTE (1265-1321), PETRARCA (1304-1374) E BOCCACIO (1313-1375) Ramiro Marques Dante Alighieri não deixa de ser um espírito medieval, profundamente influenciado por São Tomás de Aquino, embora prenuncie um novo movimento intelectual com algumas características que só o Renascimento iria trazer à luz do dia. A defesa do vernáculo e a emergência de uma literatura nacional apontam para uma nova concepção da educação. Embora o latim e o grego continuem a ser fazer parte do plano de estudos, as línguas nacionais começam a ser consideradas os meios para ensinar todas as outras disciplinas. Dante, na obra "De Vulgari Eloquentia", fez a defesa da língua vernácula como veículo da aprendizagem. Com a obra-prima "A Divina Comédia", o italiano começa a substituir o latim como língua literária. Na obra "De Monarquia", Dante enaltece o papel da educação na realização da vocação do homem. A influência de Aristóteles é enorme na obra de Dante e a concepção educacional do estagirita está presente na teoria do grande humanista e literato italiano. A filosofia permite-nos um melhor conhecimento das virtudes intelectuais e morais, pelo que deverá ter um lugar de destaque no currículo. Como cristão, profundamente devedor da obra de São Tomás de Aquino, Dante complementa as virtudes aristotélicas com as virtude teologais - fé, esperança e caridade -, como meios para alcançar a felicidade eterna. Francesco Petrarca (1304-1374) foi outro importante humanista que prenuncia o regresso ao ideal clássico, tão caro ao Renascimento prestes a chegar. A Roma clássica e, em particular, as obras de Virgílio, Horácio, Séneca e Cícero, constituem p ideal literário e estilístico a atingir, embora circulassem, muitas vezes, incompletas. O estudo do Direito, na Universidade de Bolonha, entre 1320 e 1324, levou Petrarca a conhecer, em profundidade, a cultura romana e as bases históricas do Direito Romano. O seu ingresso no clericato, como secretário do cardeal Giacomo Colona, em 1330, permitiu a Petrarca o acesso a uma das mais importantes bibliotecas particulares da Europa, onde teve oportunidade de estudar e apreciar as obras clássicas da civilização romana. As frequentes viagens de estudos, proporcionadas pelo cargo que desempenhava e o seu gosto pelos estudos históricos, levaram-no a descobrir as obras de Terêncio, Catão, Santo Agostinho, Lactâncio, Suetónio e Plínio. Mas os autores gregos também o fascinaram. Xenofonte e Platão foram apenas alguns dos autores gregos que o fascinaram. Em 1347, Petrarca começou a reorganizar a biblioteca do papa Clemente VI, tendo a oportunidade de preservar um dos maiores acervos de obras clássicas e medievais. Esse contacto com o passado clássico levou Petrarca a considerar que o ideal educativo deveria inspirar-se na vida e na obra dos grandes autores da civilização europeia. Os ideais éticos desse passado deviam orientar os esforços educativos dos mestres do seu tempo. A finalidade da educação é o desenvolvimento ético da pessoa e o seu modelo encontra-se nas obras de Homero, Platão, Lívio, Cícero e Virgílio. Revelando a enorme influência de Cícero, Petrarca coloca a Retórica e a Oratória em lugares cimeiros no currículo. A Dialéctica, para Petrarca, ocupa apenas uma posição instrumental. A Eloquência, complementada com a Filosofia, a História, o Latim, o Grego, o Italiano e a Literatura, constituem o elenco disciplinar proposto. Giovanni Boccaccio (1313-1375) escreveu também a sua obra "Decameron" em italiano. De comum com Dante e Petrarca, o amor pelos clássicos, a redescoberta da cultura romana e a defesa de uma currículo onde a língua italiana seja o veículo do ensino.