DIRCEU YURI SIMPLICIO NETTO

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Programa de Pós-Graduação em
Ciências e Aplicações Geoespaciais - CAGE
DIRCEU YURI SIMPLICIO NETTO
ROTAÇÃO DA ESTRELA KEPLER-63 A PARTIR DE TRÂNSITOS
PLANETÁRIOS
São Paulo - Brasil
2015
DIRCEU YURI SIMPLICIO NETTO
ROTAÇÃO DA ESTRELA KEPLER-63 A PARTIR
DE TRÂNSITOS PLANETÁRIOS
Dissertação de mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências e
Aplicações Geo-espaciais (CAGE), da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para a obtenção do tı́tulo de Mestre
em Ciências Geoespaciais.
Orientadora: Prof. Dr. Adriana Benetti Marques Valio
S612r Simplicio Netto, Dirceu Yuri
Rotação da estrela Kepler-63 a partir de trânsitos
planetários / Dirceu Yuri Simplicio Netto - 2015.
77f.: il., 30 cm
Dissertação (Mestrado em Ciências e Aplicações
Geoespaciais) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São
Paulo, 2015.
Orientação: Profa. Adriana Benetti Marques Valio
Bibliografia: f. 59-61
1. Rotação. 2. Mancha estelar. 3. Sistema planetário. I.
Título.
CDD 523.73
AGRADECIMENTOS
À professora orientadora Adriana Benetti Marques Valio que, com muito carinho,
dedicação e atenção, me orientou em cada passo desta etapa acadêmica me
proporcionando grande crescimento pessoal.
Aos meus pais, Dirceu Simplicio Netto e Monica Toshimi Simplicio Netto, meus
maiores exemplos. Agradeço pelo incentivo e orientação, por me tornarem quem
sou.
À minha namorada e melhor amiga, Debora Kim Inoue, que me apoia, aconselha
e incentiva com amor, paciência e carinho a evoluir sempre.
À minha vó, Toshiko Matsunaga, por todo carinho e apoio aos estudos.
À minha irmã, Melissa Yumi Simplicio Netto, por compartilhar de minhas dificuldades e vitórias.
Agradeço também aos meus amigos, Ana Helena, Denis Cabezas, Douglas Felix,
Victoria Gutierrez, Raissa Estrela e todos as demais pessoas do CRAAM pela
mão que sempre foi estendida quando precisei.
À toda minha família e amigos, que sempre acreditaram, incentivaram e contribuíram para meu sucesso acadêmico.
Ao MackPesquisa pela oportunidade e suporte nas pesquisas realizadas.
Agradeço a todos que, mesmo não estando citados aqui, tanto contribuíram para
a conclusão desta etapa.
1
RESUMO
O perfil de rotação de uma estrela pode ser estimado caso esta possua um planeta em órbita que a eclipse periodicamente. Durante um destes trânsitos, o
planeta pode ocultar uma mancha na fotosfera da estrela, causando pequenas
variações na curva de luz da mesma. Realizando o monitoramento das posições
destas manchas em trânsitos posteriores, é possível estimar o período de rotação de uma estrela. Atualmente são confirmados um total de mais de 1900 planetas, onde um pouco mais de 1200 planetas eclipsam a sua estrela hospedeira.
Algumas estrelas com planetas detectadas pelos satélites CoRoT e Kepler já foram analisadas por este método e seus perfis de rotação determinados. Kepler63 é uma estrela, do tipo solar, muito jovem. Possui um planeta que apresenta
órbita polar, transitando a estrela em várias latitudes. Os resultados mostram que
Kepler-63 apresenta rotação diferencial de 0, 133 (rd/d) e um valor de rotação diferencial relativa de 11, 4%. O monitoramento das manchas indica também que
a estrela provavelmente possui um ciclo de atividade, com alta concentração de
manchas no polo.
Palavras-chaves: rotação, mancha estelar, sistema planetário.
3
ROTATION OF THE STAR KEPLER-63 FROM PLANETARY TRANSITS
ABSTRACT
Currently it is possible to estimate the rotation profile of a star that hosts a planet in
an orbit such that it eclipses the star periodically. During one of these transits, the
planet may occult a spot on the photosphere of the star, causing small variations
in its light curve. By detecting the same spot in a later transit, it is possible to
estimate the stellar rotation period. A total of more than 1200 planets, from almost
1900 detected, are known to eclipse their host star. Some stars with planets that
were detected by the Kepler and CoRoT satellites have been analyzed and their
rotation periods and differential rotation determined. Kepler-63 is a sun-like star,
very young. It has a planet in a polar orbit, transiting the host star at many different
latitudes. The results show that Kepler-63 has differential rotation of 0.133 (rd/d)
and a relative differential rotation of 11.4%. Continuous monitoring of the starspots
also show that the star probably has an activity cycle, with high spot concetration
at the pole.
Keywords: rotation, starspot, planetary system.
5
LISTA DE FIGURAS
Pág.
1.1 Estrutura do Sol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.2 Mancha solar obtida com o New Solar Telescope do Big
3
Bear Solar Observatory, Califórnia, EUA. Parte central mais escura (umbra), circundada por uma região mais clara (penumbra).(Fonte: (NEWS.NATIONALGEOGRAPHIC.COM, 2010)) . . . . . . . . .
1.3 É possível observar o ciclo de 11 anos através do índice de mancha
5
solares conforme definido pela primeira vez por Schwabe.(Fonte: (SEARCH.USA.GOV,
2015).) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.4 Figura composta por imagens do satélite SOHO na luz ultravioleta
para cada ano do penúltimo ciclo solar. Em 2001 ocorreu o máximo
6
solar. (Fonte: (APOD.NASA.GOV, 2015)). . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.5 Diagrama da borboleta mostrando a posição de surgimento de man-
7
chas solares ao longo do tempo. (ARLT et al., 2013). . . . . . . . . . .
1.6 Simulação de um trânsito planetário em frente à estrela. Abaixo a
correspondente diminuição da intensidade na curva de luz da es-
8
trela.(Fonte: (SCI.ESA.INT, 2015)). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.7 Análise de imagens Doppler. As manchas causam uma redução na
9
linha de absorção (STRASSMEIER, 2009). . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.8 Curva de luz da estrela CoRoT-2, na qual foi aplicado o Método da
10
Entropia Máxima (curva sólida) (LANZA et al., 2009). Os resíduos do
ajuste são mostrados no painel inferior. . . . . . . . . . . . . . . . . .
11
3.1 Imagem artificial da estrela HD 209458 com obscurecimento de limbo
Quadrático. O planeta é representado por um disco preto. A linha pontilhada indica o trânsito do planeta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3.2 Mapa da superfície da estrela CoRoT-2 construído a partir dos ajustes das manchas nas observações dos seus 77 trânsitos (SILVA-VALIO;
LANZA, 2011).
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3.3 Esquerda: Manchas na superfície da estrela simuladas durante 12
17
21
trânsitos consecutivos. Direita: As 12 curvas de luz referente a simulação das manchas na superfície da estrela (VALIO, 2013). . . . . . .
3.4 Mapas de superfície estelar da simulação para 4 diferentes períodos
22
de rotação. No painel inferior são mostrados os deficits de fluxo. (VALIO,
2013).
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
7
23
3.5 Esquerda: Função de autocorrelação para os deficits de fluxo da Figura 3.4. Direita: Largura dos picos das funções de auto-correlação
(VALIO, 2013). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3.6 Mapa da superfície da estrela CoRoT-2 construído a partir dos ajus-
24
tes das manchas nas observações dos seus 77 trânsitos, levando em
conta um referencial que rotaciona com a estrela. . . . . . . . . . . .
3.7 Perfil de rotação da estrela CoRoT-2 (linha sólida) e do Sol (linha pon-
25
tilhada). O diamante mostra o valor do período de rotação para latitude
do trânsito. (VALIO, 2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
26
4.1 Simulação do trânsito do planeta no hemisfério Sul, com sua orbita
polar, da estrela Kepler-63. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4.2 Curva de luz da estrela Kepler-63. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4.3 Ajuste de um dos trânsito. A curva em vermelho é a representação de
29
30
um trânsito do planeta em frente à estrela sem mancha. . . . . . . . .
4.4 Histogramas das manchas da Kepler-63. Painel superior esquerdo:
32
Raio em unidades de Rp , onde Rp é o raio do planeta; Painel superior direito: Intensidade em unidades de Ic ; Painel inferior esquerdo:
Distribuição 2D do raio e a intensidade das manchas; Painel inferior
direito: Temperatura das manchas em Kelvin. . . . . . . . . . . . . . .
4.5 Periodograma Lomb-Scargle mostrando um forte pico em 5,4 dias,
que é considerado como o período de rotação médio da estrela. . . .
4.6 Imagens sintetizadas da estrela Kepler-63 com as manchas. Nas figu-
33
34
ras superiores uma sobreposição temporal das manchas. Nas figuras
inferiores as manchas com sua localização rotacionando com a estrela. 37
4.7 Mapa da superfície da estrela Kepler-63 construído a partir dos ajustes das manchas às observações dos seus 150 trânsitos, levando-se
em conta um referencial que rotaciona com a estrela com um período
de rotação de 5,4 dias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
38
5.1 Mapa da superfície da estrela Kepler-63 construído a partir dos ajustes das manchas às observações dos seus 150 trânsitos, levando-se
em conta um referencial que rotaciona com a estrela com um período
de rotação de 5,391 dias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5.2 Imagens sintetizadas da estrela Kepler-63 com as manchas. Nas figuras superiores uma sobreposição temporal das manchas. Nas figuras inferiores as manchas com sua localização rotacionando com
Prot = 5, 391 dias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
8
39
40
5.3 Superior: Largura da função de auto-correlação do deficit de fluxo das
manchas integrado no tempo, para diferentes períodos de rotação da
estrela. Inferior: Mapa da superfície da estrela Kepler-63 para faixa de
latitude entre −30◦ a −35◦ para Prot =5,18 dias. . . . . . . . . . . . . .
5.4 Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela
42
Kepler-63 para faixa de latitude entre −35◦ a −40◦ . Prot = 5,22 dias. .
5.5 Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela
43
Kepler-63 para faixa de latitude entre −40◦ a −45◦ . Prot = 5,34 dias. .
5.6 Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela
44
Kepler-63 para faixa de latitude entre −45◦ a −50◦ . Prot = 5,34 dias. .
5.7 Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela
Kepler-63 para faixa de latitude entre −50◦ a −55◦ . Prot = 5,58 dias. .
5.8 Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela
45
Kepler-63 para faixa de latitude entre −55◦ a −60◦ . Prot = 5,60 dias. .
5.9 Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela
Kepler-63 para faixa de latitude entre −60◦ a −65◦ . Prot = 5,52 dias. .
5.10 Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela
47
Kepler-63 para faixa de latitude entre −65◦ a −70◦ . Prot = 5,51 dias. .
5.11 Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela
49
Kepler-63 para faixa de latitude entre −70◦ a −75◦ . Prot = 5,58 dias. .
5.12 Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela
50
Kepler-63 para faixa de latitude entre −75◦ a −80◦ . Prot = 5,57 dias. .
5.13 Evolução temporal das manchas da estrela Kepler-63. . . . . . . . . .
5.14 Perfil de rotação da estrela Kepler-63 . . . . . . . . . . . . . . . . . .
51
52
53
9
46
48
LISTA DE TABELAS
Pág.
4.1 Parâmetros da estrela Kepler-63 apresentado em (SANCHIS-OJEDA et
al., 2013). Em vermelho, valores refinados para melhor ajuste da curva
de luz de cada trânsito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4.2 Valores médios dos parâmetros físicos das manchas da estrela
31
Kepler-63. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
33
11
SUMÁRIO
Pág.
CAPÍTULO 1
O Sol e as Estrelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1
1.2 O Sol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2
1.2.1 Manchas solares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4
1.2.2 Rotação diferencial solar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
7
1.3 Planeta extrassolares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
8
1.4 As Estrelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9
1.4.1 Manchas estelares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
10
1.4.2 Rotação diferencial de estrelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11
1.5 Modelo de manchas estelares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
12
CAPÍTULO 2
Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
15
2.1 Principal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
15
2.1.1 Kepler-63 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
15
CAPÍTULO 3
Modelo de manchas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
17
3.1 Modelo de trânsito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
17
3.2 Manchas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
18
3.3 Ajuste da curva de luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
20
3.4 Mapa da superfície estelar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
20
3.5 Período rotacional da estrela na latitude do trânsito . . . . . . . . . . .
21
3.6 Rotação e rotação diferencial das estrelas . . . . . . . . . . . . . . . .
24
CAPÍTULO 4
Análise das manchas estelares . . . . . . . . . . . . . .
29
4.1 Estrela analisada: Kepler-63 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
29
4.1.1 Observações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
30
4.2 Aplicação do modelo para manchas . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
30
4.3 Rotação estelar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
34
CAPÍTULO 5
Rotação Diferencial da estrela Kepler-63 . . . . . . . .
39
5.1 Mapas da superfície estelar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
39
5.2 Cálculo da Rotação Diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
41
5.2.1 Distribuição espacial e temporal das manchas . . . . . . . . . . . .
51
13
5.2.2 Rotação Diferencial do tipo solar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
53
CAPÍTULO 6
Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
59
14
CAPÍTULO 1
O Sol e as Estrelas
1.1
Introdução
Ainda que haja relatos de observações do Sol realizadas por gregos e chineses
há milênios atrás, foi no início do século XVII que Galileu Galilei e outros iniciaram um estudo monitorado e contínuo do Sol. A partir do seu monitoramento,
foi possível estabelecer o período de rotação solar baseado no movimento aparente das manchas no disco solar com o passar dos dias. Em 1610, Galileu e,
independentemente, Thomas Harriot, observaram manchas na superfície do Sol.
Christoph Scheiner e Johannes Fabricius, em 1611, também realizaram observações de manchas solares.
Mais de dois séculos depois, em 1843, Schwabe mostrou a variação do número
de manchas com o passar dos anos. No decorrer das décadas, esse monitoramento mostrou que o número de manchas aumenta e diminui, sendo periódico a
cada 11 anos em média. As observações de manchas no disco solar possibilitaram muitas informações sobre a atividade solar.
Durante esse ciclo periódico, que é intrinsecamente relacionado ao campo magnético solar, é possível observar também explosões solares, ejeções de massa
coronal, entre outros fenômenos que fazem parte da atividade solar e seguem a
mesma periodicidade (SILVA, 2006). As manchas estão ligadas à maior parte dos
fenômenos da atividade solar. Por exemplo, a ocorrência das explosões solares
está associada às regiões ativas, ou grupo de manchas solares.
As manchas são regiões escuras por serem mais frias do que o disco solar ao
redor. Isto ocorre por serem locais de alta concentração de campos magnéticos,
os quais dificultam a transferência de calor da camada convectiva para a fotosfera
solar.
Estrelas anãs, totalmente convectivas e estrelas do tipo solar, quando jovens,
demonstram sinais de atividade periódica mais intensa que no Sol (BERDYUGINA,
2005). Porém não é possível monitorar manchas similares às solares na superfície de outras estrelas devido à tecnologia atual que não possui resolução espacial suficiente.
Os planetas que orbitam outras estrelas que não o Sol, são chamados de pla1
netas extrassolares ou exoplanetas. São mais facilmente detectados, em sua
maioria, planetas gigantes (do tamanho de Júpiter) e com órbitas mais próximas
de suas estrelas do que Mercúrio em relação ao Sol.
O satélite Kepler, que foi projetado pela NASA, é um satélite que buscou, entre
outras coisas, planetas extrassolares a partir de trânsitos planetários. No catálogo encontrado no site Exoplanet.eu é possível encontrar dados do número de
planetas extrassolares conhecidos até hoje. Aproximadamente 1900 exoplanetas já foram descobertos, sendo que por volta de 65% transitam sua estrela.
(Fonte: (EXOPLANET.EU, 2015) Acessado em: 12 maio 2015).
1.2
O Sol
O Sol, por ser a estrela mais próxima de nós, é a que pode ser melhor estudada,
revelando uma grande gama de informações sobre o comportamento de uma
estrela. Com o avanço da tecnologia, a construção de instrumentos capazes de
detectar diferentes comprimentos de ondas em satélites e balões foi de grande
importância, uma vez que há absorção pela atmosfera terrestre, total ou parcial,
de diferentes faixas do espectro da radiação solar. Descobriu-se, então, que o
Sol emite radiação contínua ao longo de todo o espectro eletromagnético.
O Sol é basicamente dividido em duas regiões: o interior, que é composto pelo
núcleo, zona radiativa e zona convectiva, e a atmosfera, dividida em fotosfera,
cromosfera, região de transição e coroa, conforme a Figura 1.1.
O conhecimento sobre o interior solar pode ser obtido a partir de modelos de
estrutura estelar e heliossismologia. O interior é conhecido como a região que
vai do centro até a superfície do Sol. A camada mais interna do Sol, o núcleo
contém aproximadamente 10% da massa solar e possui um raio aproximado de
um quarto do raio solar. É nele que ocorrem as reações termonucleares, fonte
de energia do Sol. Sua temperatura é de aproximadamente 1, 5 × 107 K e sua
densidade é cerca de 150 g/cm3 .
Exterior ao núcleo, na zona radiativa, o transporte da energia do núcleo para
fora ocorre por radiação, estendendo-se até 70 % do raio solar. Nesta camada, a
temperatura do plasma solar diminui de dentro para fora de 7 × 106 K para 2 × 106
K, e a densidade varia de 20 g/cm3 para aproximadamente 0,2 g/cm3 .
A partir dali, a absorção da radiação se torna significativa, o que impede o transporte da energia radiativa, fazendo com que o mecanismo de transporte de ener2
Figura 1.1 - Estrutura do Sol
gia por convecção predomine. Esta camada é chamada de convectiva, se estende pelos últimos 2 × 105 km do raio solar, terminando na superfície, onde a
temperatura é de 5780K e a densidade de 2 × 10−7 g/cm3 .
Na interface da camada convectiva com a radiativa, localizada 30% do raio solar
abaixo da superfície, existe a "tacoclina", uma camada muito fina em relação ao
raio do Sol (< 1% do raio). Acredita-se que a variação súbita na velocidade do
plasma nesta camada seja responsável pela geração de grande parte do campo
magnético do Sol através de um processo de dínamo.
O campo magnético solar, assim como o de outras estrelas e dos planetas, é
3
gerado em seu interior devido aos fluxos de partículas eletricamente carregadas,
conhecido como dínamo solar. No Sol, o campo magnético pode ser dividido
em duas componentes. O mais intenso que se encontra nas manchas solares
e outro mais fraco, com dimensão muito maior que possui forma aproximada de
um dipolo.
Por ser uma esfera de gás, o Sol não possui uma superfície no sentido tradicional
da palavra. É definida superfície solar, a região completamente opaca à emissão
visível, isto é, a partir desta camada não é mais possível enxergar a emissão das
camadas interiores. A partir desta superfície, temos a atmosfera solar, bastante
rarefeita que é analisada em vários comprimentos de ondas, fornecendo importantes informações sobre sua composição e estrutura, pois a emissão é diferente
para cada altura da atmosfera. As camadas da atmosfera solar são divididas de
acordo com sua temperatura e densidade.
A fotosfera, muito estreita com 300 km e temperatura efetiva de aproximadamente 5780 K, é relativamente fria e conhecida como a superfície visível do Sol.
Esta superfície parece possuir células fragmentadas que estão em constante
ebulição, chamados de grânulos. Além dos grânulos, a fotosfera apresenta outras estruturas, como as manchas solares.
A próxima camada, de cor avermelhada, se chama cromosfera. Ela pode ser
observada em comprimentos de onda específicos do visível, no ultravioleta e em
altas frequências de rádio. O gás desta camada possui temperatura de dezenas
de milhares de Kelvin.
A terceira camada é a coroa, que permeia todo o meio interplanetário possui
temperatura de milhões de Kelvin e pode ser vista durante eclipses. Além das
observações em eclipses, a coroa é observada em raios-X ou utilizando-se um
coronógrafo. Entre a cromosfera e a coroa encontra-se a “região de transição".
Uma camada muito estreita (aproximadamente 100 km), onde ocorrem bruscas
mudanças na temperatura e densidade.
1.2.1
Manchas solares
A fotosfera não é homogênea. A Figura 1.2 mostra uma foto de mancha solar com
alta resolução espacial, sendo visíveis a umbra (centro escuro) e a penumbra
(região ao redor).
As manchas são locais de alta concentração de campos magnéticos (SILVA,
4
Figura 1.2 - Mancha solar obtida com o New Solar Telescope do Big Bear Solar Observatory, Califórnia, EUA. Parte central mais escura (umbra), circundada por uma
região mais clara (penumbra).(Fonte: (NEWS.NATIONALGEOGRAPHIC.COM,
2010))
2006). Esse campo magnético mais intenso interfere na transferência de energia
proveniente da camada convectiva, fazendo com que a mancha seja mais fria.
Enquanto o disco solar possui uma temperatura efetiva de 5780K, as manchas
têm temperaturas efetivas da ordem de 3500 - 4500 K.
O número de manchas solares não é constante ao longo dos meses. Monitoramento contínuo do número de manchas mostrou que este varia com um ciclo
de 11 anos conhecido como ciclo solar, como pode ser observado na Figura 1.3
para os últimos 3 séculos.
No mínimo do ciclo solar, poucas manchas são visíveis e há dias em que nenhuma é detectada. Durante o máximo de cada ciclo, há a inversão dos polos
magnéticos do Sol. Atualmente, sabemos que a variação do número de manchas está relacionada com a inversão de polaridade do campo magnético da
estrela, fazendo com que o ciclo magnético do Sol seja na realidade de 22 anos
(SILVA, 2006).
Não é apenas o número de manchas que varia durante este ciclo, a emissão
de ultravioleta também aumenta e diminui conforme mostrado na Figura 1.4, a
emissão em raios-X e em rádio também acompanham o ciclo de atividade solar
de 11 anos. As explosões solares e as ejecões de massa coronal também são
5
Figura 1.3 - É possível observar o ciclo de 11 anos através do índice de mancha solares
conforme definido pela primeira vez por Schwabe.(Fonte: (SEARCH.USA.GOV,
2015).)
mais frequentes durante o máximo solar (SILVA, 2006).
O estudo das manchas solares é importante, pois grande parte da atividade solar está relacionada às mesmas, como as explosões solares. No início do ciclo
solar, quando as manchas reaparecem, elas tendem a surgir em latitudes mais
altas (30◦ a 40◦ ) e, conforme o ciclo evolui, as novas manchas solares surgem em
latitudes cada vez mais próximas do equador. O diagrama da Figura 1.5 é conhecido como diagrama da borboleta. Nele podemos ver a evolução dos ciclos entre
os anos de 1825 até 1967. Porém, durante o tempo de vida de uma mancha, ela
6
Figura 1.4 - Figura composta por imagens do satélite SOHO na luz ultravioleta para
cada ano do penúltimo ciclo solar. Em 2001 ocorreu o máximo solar.
(Fonte: (APOD.NASA.GOV, 2015)).
não muda de latitude em relação à superfície estelar. Ainda, em relação às suas
características físicas, as observações mostraram que a sua duração pode variar
muito, de horas a meses, durando normalmente dias(THOMAS; WEISS, 2012).
O tamanho das manchas também exibe uma vasta distribuição. Elas podem atingir até 60000 km de diâmetro ou mais, tornando-se visíveis a olho nu sobre condições especiais, como durante o pôr do Sol de um dia nebuloso. Já as manchas pequenas possuem diâmetro de 3500 km e são bem mais comuns que as
maiores (SOLANKI, 2003). Segundo BERDYUGINA (2005) as manchas solares
apresentam temperaturas diferentes para umbra e penumbra, sendo elas 4200 e
5000 K, respectivamente.
1.2.2
Rotação diferencial solar
O Sol possui um período de rotação médio de 27 dias com o sentido da rotação
convencionado como sendo de leste para oeste. Entretanto, o Sol não gira como
uma esfera sólida. As regiões próximas ao equador giram mais rápido, com um
período de 24 dias enquanto que nas regiões dos polos, o período é maior, de
aproximadamente 31 dias. Este fenômeno é chamado de rotação diferencial do
7
Figura 1.5 - Diagrama da borboleta mostrando a posição de surgimento de manchas solares ao longo do tempo. (ARLT et al., 2013).
Sol, pode ser percebido monitorando-se diariamente as manchas na superfície
solar em diferentes latitudes. A rotação diferencial do Sol é um ingrediente fundamental para o dínamo solar, responsável pela geração do campo magnético
solar.
1.3
Planeta extrassolares
Planetas extrassolares são aqueles que orbitam uma estrela que não o Sol. Um
dos métodos de detecção destes planetas é o da variação do sinal fotométrico
da estrela, responsável pela descoberta de mais de 1200 planetas.
Os trânsitos de Mercúrio e Vênus em frente ao Sol foram observados, por meio
de telescópio, no século XVII, porém foram necessários mais três séculos para
detectar trânsitos de planetas extrassolares em torno de suas estrelas hospedeiras.
Os satélites CoRoT e Kepler monitoraram dezenas de milhares de estrelas e foram os responsáveis pela detecção da maioria dos planetas pelo método de trânsito. O projeto CoRoT (BARGE et al., 2008) foi desenvolvido pela Agência Espacial
Francesa (CNES), em conjunto com vários laboratórios franceses e parceiros internacionais, entre eles o Brasil. Durante o curso da missão, o satélite CoRoT
obteve aproximadamente 160 mil curvas de luz. Kepler (KOCH et al., 2001) foi
projetado pela NASA, monitorou mais de 100 mil estrelas simultanea e continuamente. Seu objetivo principal era encontrar um ou mais planetas com similares
condições que a Terra.
8
Como comentado na Introdução, quando há um eclipse da estrela pelo planeta,
também chamado de trânsito, ocorre uma variação na sua curva de luz. Conforme o planeta oculta parcialmente a superfície estelar, o brilho da estrela é
levemente diminuído, chamado de trânsito do planeta. A forma do trânsito possibilita a determinação do raio do planeta e também dos parâmetros orbitais como
período, o semieixo maior e ângulo de inclinação. Por exemplo, o decréscimo
percentual de luz da estrela durante o trânsito é proporcional à razão entre as
áreas da estrela e do planeta.
Figura 1.6 -
1.4
Simulação de um trânsito planetário em frente à estrela. Abaixo
a correspondente diminuição da intensidade na curva de luz da estrela.(Fonte: (SCI.ESA.INT, 2015)).
As Estrelas
Outras estrelas também demonstram sinais de atividade periódica. Entretanto
devido à tecnologia atual não é possível monitorar manchas similares às solares
na superfície de outras estrelas.
9
1.4.1
Manchas estelares
Os métodos para a detecção e mapeamento de manchas na superfície de estrelas têm avançado rapidamente nas últimas duas décadas. Técnicas têm sido
desenvolvidas para poder determinar temperatura, o raio e a localização de manchas na superfície estelar. Com isso, as manchas podem ser utilizadas na determinação da rotação diferencial da superfície da estrela, assim como fazemos
com o Sol.
Existem alguns métodos para estudar manchas estelares, entre eles estão: análise de imagens Doppler a partir de linhas espectrais (STRASSMEIER, 2009), modulação da curva de luz (LANZA et al., 2007), e trânsito planetário (SILVA, 2003).
A análise das imagens Doppler é a técnica de tomografia baseada na espectroscopia de alta resolução. Esta técnica é aplicada apenas para estrelas com
altas taxas de rotações. Manchas frias geram uma distorção visível na curva
característica das linhas de absorção. Essas distorções dos comprimentos de
ondas vão do azul para o vermelho ao longo da curva característica devido ao
movimento das manchas em relação ao hemisfério visível por causa da rotação
estelar (STRASSMEIER, 2009) (ver Figura 1.7).
Figura 1.7 - Análise de imagens Doppler. As manchas causam uma redução na linha de
absorção (STRASSMEIER, 2009).
Para estrelas com número significativo de manchas em sua superfície, sua rotação causa uma modulação da curva de luz. Esta variação periódica do brilho da
10
estrela fornece informações sobre as localizações das regiões ativas. Supõe-se
neste modelo que as regiões ativas não variem em brilho durante sua passagem
ao longo do disco estelar. As primeiras versões deste modelo ajustam a curva
de luz com um pequeno número de manchas circulares, duas ou três. Um modelo mais aprimorado, conhecido como o Método da Entropia Máxima, considera
uma distribuição contínua de manchas. Neste caso, a superfície da estrela é subdividida em 200 elementos quadrados com variações no fator de preenchimento
para reproduzir o modelo rotacional da estrela, porém, é necessário um grande
número de parâmetros (LANZA et al., 2007). A Figura 1.8 mostra o resultado da
aplicação deste modelo à estrela CoRoT-2, os resíduos são mostrados no painel
inferior da Figura (LANZA et al., 2009).
Figura 1.8 - Curva de luz da estrela CoRoT-2, na qual foi aplicado o Método da Entropia Máxima (curva sólida) (LANZA et al., 2009). Os resíduos do ajuste são
mostrados no painel inferior.
1.4.2
Rotação diferencial de estrelas
Assim como o Sol, acredita-se que outras estrelas também tenham rotação diferencial. Esta rotação diferencial pode ser classificada em dos tipos: do tipo solar,
11
no qual regiões do equador giram mais rápido que em regiões dos polos ou do
tipo anti-solar, as regiões dos polos giram mais rápido que regiões do equador
(GASTINE et al., 2014).
O trabalho desenvolvido por REINHOLD e ARLT (2015) analisou curvas de luz
de estrelas Kepler utilizando o periodograma Lomb-Scargle e obtiveram resultados de estrelas com rotação diferencial do tipo solar e anti-solar. Poucas destas
estrelas apresentaram rotação diferencial do tipo anti-solar, embora modelos de
dínamo teórico prevejam tal comportamento.
1.5
Modelo de manchas estelares
Recentemente, um método foi elaborado para detectar manchas na superfície
de outras estrelas, sendo necessário que estas estrelas possuam um planeta
que transite em frente à mesma. Este método chamado de trânsito planetário,
analisa a curva de luz durante o trânsito de um planeta em frente a sua estrela
hospedeira, possibilitando a detecção de uma variação nesta curva assim que o
planeta eclipsa uma mancha na superfície da estrela. Essas pequenas assinaturas fornecem parâmetros físicos das manchas como tamanho, intensidade e
localização (SILVA, 2003).
No modelo de detecção através de trânsito planetário as manchas são consideradas circulares e com brilho constante. Caso a observação dure um período
suficientemente longo, é possível determinar o ciclo periódico de atividade da
estrela através do monitoramento das manchas.
Cada mancha é caracterizada por três parâmetros: raio, intensidade e localização. Algumas das características físicas de manchas são possíveis de serem
determinadas através deste método, tais como:
• Tamanho;
• Localização (longitude e latitude);
• Intensidade ou Temperatura; e
• Duração.
A temperatura é obtida através da relação das intensidades, supondo que tanto
a superfície da estrela como a mancha emitam radiação como um corpo negro. A
12
possibilidade de estudar uma única mancha (ou um grupo de manchas) colaborou com a escolha do método, uma vez que outros métodos não têm resolução
espacial suficiente.
O método do trânsito planetário (SILVA, 2003) usa um planeta como ponta de
prova para o estudo de manchas estelares. Esta técnica leva à determinação das
características físicas das manchas individuais. O modelo proposto por (SILVA,
2003) cria uma imagem sintetizada 2-D de uma estrela com o obscurecimento
do limbo específico, com o planeta sendo um disco opaco. Considera-se que a
órbita é circular e o eixo orbital é paralelo ao eixo de rotação estelar. A cada
intervalo de tempo são somados todos os pixels da imagem gerando uma curva
de luz. Os parâmetros necessários para a simulação de trânsitos são: o período
orbital, o semieixo maior, o ângulo de inclinação e a razão do raio do planeta e
da estrela.
O modelo contempla a inclusão de manchas, as quais são consideradas circulares com brilho constante. Também é levado em consideração os efeitos de
projeção causados nas manchas próximas do limbo estelar. Cada mancha é caracterizada pelo raio, em unidades de raio planetário, intensidade, medida com
respeito à intensidade central da estrela, e a localização, longitude e latitude, na
superfície da estrela.
As técnicas mencionadas acima, entre outras, mostraram que estrelas do tipo solar têm manchas com temperaturas efetivas entre 4900 a 6400 K. Estas manchas
chegam a ocupar entre 1 a 40 % do disco estelar (BERDYUGINA, 2005).
Com relação à duração das manchas estelares, resultados das análises fotométricas e de imageamento Doppler indicaram que o tempo de vida de manchas
individuais varia desde alguns meses até mais que seis anos (HENRY et al., 1995).
Não foi encontrada uma correlação entre duração da mancha com o tipo espectral da estrela (THOMAS; WEISS, 2012).
13
CAPÍTULO 2
Objetivos
2.1
Principal
Este trabalho tem como tema o estudo do perfil rotacional de estrelas a partir
de trânsitos planetários, utilizando o modelo que simula o trânsito de um planeta
em frente a uma estrela com manchas. Este perfil rotacional pode ser obtido a
partir da rotação média e do período de rotação para uma dada latitude. Uma
vez obtido esses valores é possível sugerir que tipo de rotação diferencial que a
estrela apresenta.
2.1.1
Kepler-63
À estrela Kepler-63 observada pelo satélite Kepler foi aplicado este modelo devido a sua configuração orbital. Esta configuração apresenta o planeta transitando em órbita polar, eclipsando várias latitudes da superfície estelar.
15
CAPÍTULO 3
Modelo de manchas
3.1
Modelo de trânsito
Neste trabalho utilizou-se o modelo apresentado por SILVA (2003), que simula o
trânsito de um planeta em frente à imagem sintetizada de uma estrela. Quando o
planeta, objeto opaco, transita em frente à estrela, a curva de luz apresenta uma
pequena diminuição periódica de brilho. Este modelo leva em conta o obscurecimento do disco da estrela, o qual ocorre em razão da temperatura na fotosfera
solar diminuir com a altura, apresentando um brilho central maior que as suas
bordas conforme a expressão mostrada por BROWN et al. (2001):
I(µ)
= 1 − ω1 (1 − µ) − ω2 (1 − µ)2
I(1)
(3.1)
onde µ é o cosseno do ângulo entre a linha-de-visão e a normal à superfície local
da estrela. Algumas estrelas apresentam obscurecimento de limbo quadrático
Figura 3.1 - Imagem artificial da estrela HD 209458 com obscurecimento de limbo Quadrático. O planeta é representado por um disco preto. A linha pontilhada
indica o trânsito do planeta.
17
(e.g., HD 209458;(BROWN et al., 2001)), diferentemente do linear como no caso
solar (ω2 = 0). Os valores destes coeficientes são ω1 = 0, 59 para o Sol (caso
linear) e ω1 = 0, 2925, ω2 = 0, 3475 para a estrela HD 209458 (caso quadrático).
O planeta, na simulação, é representado por um disco opaco de raio Rp /Rs ,
onde Rp é o raio do planeta e Rs é o raio da estrela. Esta simulação é realizada
supondo órbita circular, sendo válida devido à grande proximidade do planeta à
estrela. A posição do planeta na órbita é calculada para diversos instantes de
tempo de acordo com os parâmetros orbitais: período, ângulo de inclinação e
semieixo maior.
3.2
Manchas
O mesmo modelo é utilizado também para caracterização de manchas estelares, segundo SILVA (2003). Uma curva de luz de uma estrela que apresenta uma
diminuição periódica de brilho, quando um planeta transita eclipsando a estrela,
é ajustada pela simulação. Os parâmetros das manchas, tais como raio, intensidade e localização são escolhidos através do melhor ajuste aos dados pelo
método dos mínimos quadrados.
As manchas, por serem regiões mais frias, são mais escuras do que o disco
solar ao redor. Ao serem ocultadas, causam um ligeiro aumento na intensidade
durante um período muito curto do trânsito (minutos). A razão disso se dá pelo
fato de que o planeta ao bloquear uma região mais fria, gera uma diminuição de
intensidade menor do que quando este bloqueia uma região sem manchas. O
que dita a magnitude da variação de intensidade é a razão da área da mancha
pela área do planeta eclipsante. A variação também é dependente do contraste
do brilho da mancha com relação ao disco estelar.
A órbita do planeta quando projetada sobre o disco da estrela determina uma
faixa de localização do trânsito. Uma imagem da estrela é gerada e manchas
escuras são adicionadas a esta uma a uma, ao longo da linha do trânsito, sendo
seu tamanho, intensidade e longitude determinados pelo ajuste da curva de luz.
São levados em conta os efeitos de projeções quando uma mancha localiza-se
próxima ao limbo da estrela e a órbita é considerada circular.
A cada intervalo de tempo, menor do que a duração do trânsito (horas) é calculada a posição do planeta e um disco opaco é colocado nessa posição. Os
valores de todos os pixels da imagem são então somados, e naquele instante de
18
tempo específico obtemos a intensidade da curva de luz. Portanto, a mancha é
modelada como um pequeno disco circular com as seguintes propriedades:
• Tamanho: raio, em unidades do raio do planeta, Rp ;
• Intensidade: fração da intensidade máxima do brilho da estrela (no centro do disco) que pode ser convertida em temperatura; e
• Posição: longitude e latitude.
A temperatura da mancha pode ser estimada considerando que tanto a mancha
como a superfície irradiem como um corpo negro:
I=
1
8πhν 3
.
hν
3
c e KB T − 1
(3.2)
Portanto, a razão das intensidades da mancha pela da estrela é dada pela relação:
hν
e KB Te − 1
Imancha
=
,
fi =
hν
Iestrela
e KB Tm − 1
(3.3)
que pode ser reescrita como:
hν
e
hν
KB Tm
hν


e KB Te − 1
hν
e KB Te − 1 
→
= ln 1 +
.
=1+
fi
KB Tm
fi
(3.4)
Logo, a temperatura da mancha, Tm , pode ser estimada por:

hν

−1
hν  
e KB Te − 1 
Tm =
ln 1 +
KB
fi
,
(3.5)
onde KB e h são as constante de Boltzmann e de Planck, respectivamente, ν é
a frequência associada com comprimento de onda de 600 nm, fi é a fração da
intensidade da mancha em relação à intensidade central da estrela IC , e Te é a
temperatura efetiva da estrela.
19
3.3
Ajuste da curva de luz
Cada ponto da curva de luz simulada é resultado das integrações de intensidade
para cada posição do planeta durante o trânsito, incluindo o eclipse da mancha.
Computa-se o χ2 entre as observações e a curva de luz simulada a fim de estimar
os valores dos parâmetros das manchas a partir da minimização de χ2 . Para obter as características físicas das manchas pode ser utilizado o algoritmo genético
PIKAIA (CHARBONNEAU, 1995) como um chute inicial para o ajuste das curvas de
luz das estrelas selecionadas. Algoritmos genéticos são uma classe de técnicas
de busca inspirados do processo de evolução biológico por meio da seleção natural. O chute inicial pode também ser feito manualmente, apontando os valores
de longitude para n manchas por trânsito. O ajuste final é obtido usando-se a rotina AMOEBA (PRESS et al., 1992), que realiza uma minimização multidimensional
de uma função.
A partir do monitoramento cuidadoso de trânsitos planetários sucessivos, pode
ser possível armazenar informação sobre a evolução das manchas e também
sobre rotação estelar (SILVA-VALIO, 2008). Caso seja possível observar a mesma
estrela continuamente por longos períodos, pode-se ter uma estimativa do ciclo
de atividade da mesma, similar ao ciclo de 11 anos do Sol.
Até o presente, este método foi aplicado às estrelas HD 208459 (SILVA, 2003),
CoRoT-2 (SILVA-VALIO et al., 2010),(SILVA-VALIO; LANZA, 2011), CoRoT-4, CoRoT-5,
CoRoT-6 (VALIO, 2013), CoRoT-8, CoRoT-18 e Kepler-17.
3.4
Mapa da superfície estelar
Conhecendo-se a posição, tamanho e intensidade das manchas, podem-se mapear as partes da superfície da estrela obscurecidas pelo planeta durante cada
trânsito. Pode-se construir um “mapa" da superfície estelar durante os trânsitos
do planeta através do tempo, agrupando as bandas da superfície nas latitudes
eclipsadas pelo planeta para cada trânsito. Dessa forma, o "mapa" descreve a
posição das manchas em longitude (eixo x) ao longo do tempo (eixo y) para
cada trânsito, uma vez que a latitude é fixa.
O mapa da superfície da Figura 3.2 é da estrela CoRoT-2 (SILVA-VALIO; LANZA,
2011). Neste mapa estão graficadas apenas as manchas que se encontram entre
−70◦ e 70◦ e que possuem um déficit de fluxo maior que 0,02. O tamanho dos
círculos representa o tamanho relativo das manchas, e a cor a intensidade, sendo
20
os pontos escuros as mais intensas.
Figura 3.2 - Mapa da superfície da estrela CoRoT-2 construído a partir dos ajustes das
manchas nas observações dos seus 77 trânsitos (SILVA-VALIO; LANZA, 2011).
3.5
Período rotacional da estrela na latitude do trânsito
O periodograma Lomb-Scargle é um método para estimar um espectro de
frequências, baseado no ajuste de mínimos quadrados de senóides para amostras de dados, similar à análise de Fourier. Este método minimiza o problema de
aumento de ruído para amostragens temporais irregulares gerados na análise
de Fourier. O método de Lomb-Scargle foi desenvolvido por Nicholas R. Lomb e
melhorado por Jeffrey D. Scargle (SCARGLE, 1982). Para uma dada curva de luz
o método é utilizado para estimar o valor médio da rotação estelar.
Através da aplicação do método de manchas descrito anteriormente para vários trânsitos observados de uma estrela, obtém-se os parâmetros das manchas.
Detectando-se uma mesma mancha em mais de um trânsito, é possível estimar
a rotação da estrela (SILVA-VALIO, 2008).
21
Para calcular o período rotacional em uma dada latitude é preciso detectar uma
mesma mancha em diversos trânsitos. A Figura 3.3 mostra o resultado da simulação de 12 trânsitos para uma estrela como CoRoT-6 com 4 manchas em
sua superfície (VALIO, 2013). As posições das manchas são fixas, porém podem
variar o raio no tempo. A imagem da direita é a composição das 12 curvas de
luz geradas pela simulação do trânsito de um planeta eclipsando as manchas da
superfície da estrela.
A longitude rotacional, βrot , pode ser calculada a partir da longitude topocêntrica
da estrela, βtopo , em relação referencial fixado no observador (sendo a longitude
zero a projeção da linha-de-visão durante o meio do primeiro trânsito) (VALIO,
2013). A relação é dada pela expressão:
βrot = βtopo − (360◦ )
nPorb
,
Pstar
(3.6)
onde n é o número de trânsitos, Porb é o período orbital do planeta, em dias, e
Pstar é o período rotacional da estrela em uma dada latitude.
Figura 3.3 - Esquerda: Manchas na superfície da estrela simuladas durante 12 trânsitos
consecutivos. Direita: As 12 curvas de luz referente a simulação das manchas na superfície da estrela (VALIO, 2013).
É possível determinar o período rotacional da estrela para uma dada latitude do
trânsito, observando uma mesma mancha em sucessivos trânsitos na mesma
22
longitude, configurando uma linha vertical de manchas no mapa da superfície
estelar.
Figura 3.4 - Mapas de superfície estelar da simulação para 4 diferentes períodos de rotação. No painel inferior são mostrados os deficits de fluxo. (VALIO, 2013).
A determinação automática deste período de rotação é obtida a partir de uma
função do contraste total, ou deficit de fluxo das manchas, em função da longitude, integrado no tempo para todos os trânsitos (painel inferior da Figura 3.2).
Varia-se o valor do período de rotação para gerar diversas funções do deficit de
fluxo das manchas no tempo. Exemplos dos deficits de fluxo para quatro períodos
de rotação são mostrados nos painéis inferiores da Figura 3.4. Calcula-se então a
função de auto-correlação deste deficit de fluxo (painel esquerdo da Figura 3.5).
A largura do pico da função de auto-correlação obtida a partir da medida à meia
altura do pico (FWHM) é utilizada para determinar o melhor período de rotação.
O período correspondente à função de auto-correlação mais estreita é adotado
como sendo o período de rotação estelar naquela latitude. As meias larguras da
função de autocorrelação do deficit de fluxo estão plotadas no painel da direita
23
da Figura 3.5.
Figura 3.5 - Esquerda: Função de autocorrelação para os deficits de fluxo da Figura 3.4.
Direita: Largura dos picos das funções de auto-correlação (VALIO, 2013).
Uma vez determinado o período de rotação da estrela na faixa de latitudes ocultadas pelo trânsito planetário, pode-se construir o mapa da superfície da estrela
nestas latitudes em função do tempo, onde as longitudes das manchas são em
relação a um sistema de referência que rotaciona com a estrela. A Figura 3.6
mostra o mapa da superfície da estrela CoRoT-2, que leva em conta um referencial que rotaciona com a estrela. São observadas manchas sequenciais em
trânsitos consecutivos formando uma linha vertical durante um curto intervalo de
tempo. Este tipo de observação pode ser usado para estimativa do tempo de
duração das manchas.(NETTO, 2013)
3.6
Rotação e rotação diferencial das estrelas
Acredita-se que estrelas do tipo-solar também apresentem rotação diferencial,
onde, a velocidade angular de rotação da superfície varia com a latitude. O Sol
apresenta um equador que gira mais rápido, com um período de 24 dias enquanto que nos polos, o período é maior, de aproximadamente 31 dias. No caso
de estrelas com planetas eclipsantes em órbita coplanar ao equador, o período
de rotação medido a partir da detecção de manchas em trânsitos consecutivos
vale para uma latitude específica, aquela da projeção do trânsito do planeta sobre a superfície da estrela.
Entretanto, o período médio de rotação de uma estrela é comumente obtido a
partir da análise de Fourier das curvas de luz das estrelas. Variações periódicas
24
Figura 3.6 - Mapa da superfície da estrela CoRoT-2 construído a partir dos ajustes das
manchas nas observações dos seus 77 trânsitos, levando em conta um referencial que rotaciona com a estrela.
no brilho da estrela conforme esta gira são causadas por estruturas na sua superfície (por exemplo, manchas). Através deste método só é possível obter uma
média dos períodos em todas as latitudes. Estas modulações nas curvas de luz
também podem ser modeladas pelo Método da Máxima Entropia (LANZA et al.,
2009; LANZA, 2010), fornecendo um limite inferior para a rotação diferencial.
Conhecendo-se estes dois períodos de rotação, isto é, a rotação média, Ω0 , e o
período de rotação Ω1 , em uma dada latitude α1 , obtido a partir do método dos
trânsitos descrito acima, pode-se determinar o perfil de rotação diferencial da
estrela. Como primeira aproximação, supõe-se que a estrela possui um perfil de
rotação diferencial similar ao solar:
Ω = A − B sin2 (α)
(3.7)
onde o período de rotação é P = 2π/Ω. As constantes A e B são obtidas
invertendo-se o sistema abaixo, conforme mostrado por VALIO (2013):
25
Ω0 =
q
A(A − B)
Ω1 = A − B sin2 (α1 )
(3.8)
(3.9)
A Figura 3.7 apresenta o perfil de rotação diferencial em função da latitude calculado para a estrela CoRoT-2 (linha sólida) e o Sol (linha tracejada).
Figura 3.7 - Perfil de rotação da estrela CoRoT-2 (linha sólida) e do Sol (linha pontilhada).
O diamante mostra o valor do período de rotação para latitude do trânsito.
(VALIO, 2011).
A rotação diferencial da estrela, medida em radiano por dia (rd/d), é dada por
∆Ω = Ωeq − Ωpolo , enquanto a rotação diferencial relativa, em %, é dada por
∆Ω/Ω0 .
∆Ω = Ωeq − Ωpolo
(3.10)
Ωeq = Ω(lat = 0) = A
(3.11)
Ωpolo = Ω(lat = 90◦ ) = A − B
Portanto:
26
(3.12)
∆Ω = B
(3.13)
Uma vez determinados os valores de A e B, pode-se calcular a rotação diferencial relativa ∆Ω/Ω0 (%), onde Ω0 = 2π/Pstar .
27
CAPÍTULO 4
Análise das manchas estelares
Para construção de um perfil de rotação detalhado é necessário que haja informações referentes a períodos de rotações em diversas latitudes. Procurou-se
na base de dados do satélite Kepler, estrelas ativas, isto é, cuja curva de luz
apresentasse modulações de alguns por cento. Dentre as estrelas selecionadas,
a Kepler-63 foi escolhida para uma análise detalhada devido ao fato do planeta
ao seu redor possuir uma órbita polar. O trabalho de análise dos dados foi realizado utilizando-se rotinas e programas desenvolvidos em IDL (Interactive Data
Language).
4.1
Estrela analisada: Kepler-63
Kepler-63 é uma estrela, do tipo solar, muito jovem, com aproximadamente 210
Mega-anos, apresentando uma atividade estelar muito alta. Possui massa e raio
de 0, 984M e 0, 901R , respectivamente. O planeta que a transita possui uma
massa de aproximadamente 0,4 massas de Júpiter e período orbital de 9,43
dias. Interessantemente, o planeta apresenta uma órbita polar, transitando a estrela desde a latitude −60◦ até 5◦ , segundo SANCHIS-OJEDA et al. (2013). A
Figura 4.1 apresenta a configuração considerada para a inclinação da estrela e
Figura 4.1 - Simulação do trânsito do planeta no hemisfério Sul, com sua orbita polar, da
estrela Kepler-63.
29
o trânsito do planeta, de acordo com estes autores.
4.1.1
Observações
Esta estrela foi observada pelo satélite Kepler durante 1415 dias apresentando
um número total de 150 trânsitos. Os arquivos FITS contendo as curvas de luz de
alta cadência foram adquiridos da base de dados do Mikulski Archive for Space
Telescope (MAST), projeto fundado pela NASA para dar suporte e providenciar
para comunidade científica uma variedade de arquivos com dados astronômicos.
Figura 4.2 - Curva de luz da estrela Kepler-63.
A curva de luz da estrela Kepler-63 apresentada na Figura 4.2, demonstra ser
uma estrela ativa, apresentando até 6% de variação na curva de luz, de pico a
pico. Os parâmetros físicos da estrela e do planeta usados neste trabalho foram
reportados por (SANCHIS-OJEDA et al., 2013), conforme mostrado na Tabela 4.1.
4.2
Aplicação do modelo para manchas
O modelo descrito no Capítulo 3 foi aplicado à estrela Kepler-63 para os 150
trânsitos observados. Cada trânsito (por exemplo, painel superior da Figura 4.3)
foi analisado separadamente e as pequenas variações de brilho detectadas durante o trânsito interpretadas como sendo causadas pela passagem do planeta
em frente a uma mancha. Isto resultou na detecção de um total de 297 manchas.
30
Parâmetro
Temperatura efetiva da estrela, Tef f
Massa da estrela, M ?
Raio da estrela, R?
Período de rotação estelar
Período orbital
Idade
Semieixo maior
Raio do planeta
Obliquidade estelar
Eixo de inclinação estelar
Inclinação orbital, i
Unidade
[K]
[M ]
[R]
[dias]
[dias]
[M ega − anos]
a/R?
Rp /R?
[deg]
[deg]
[deg]
Valor
5576 (±50)
0,984 (-0,04, +0,035)
0,901 (-0,022, +0,027)
5,401 (±0,014)
9,4341505 (±0,0000010)
210 (±45)
19,35
0,0662
145 (-14, +9)
42 (±7)
87,806 (-0,019, +0,018)
Tabela 4.1 - Parâmetros da estrela Kepler-63 apresentado em (SANCHIS-OJEDA et al.,
2013). Em vermelho, valores refinados para melhor ajuste da curva de luz
de cada trânsito.
Para que o sinal das manchas ficasse mais evidente, subtraiu-se a curva de luz
do modelo da estrela sem manchas (curva vermelha da Figura 4.3) da curva de
luz observada de Kepler-63. Esta subtração, chamada de resíduo, é mostrada no
painel inferior da Figura 4.3. O ajuste do modelo foi feito sobre os resíduos de
cada trânsito.
Como explicado anteriormente, cada mancha foi ajustada por três parâmetros:
raio, intensidade e longitude. Para obter as características físicas das manchas
desta estrela é necessário um chute inicial destes parâmetros. A estimativa inicial
do raio e da intensidade foram mantidas constantes em 0, 5 Rp e 0, 5 Ic , respectivamente. Para a longitude de cada mancha, o chute inicial foi feito manualmente,
inserindo os valores aproximados do tempo onde os excessos do resíduo eram
maiores que 1, 5σ da intensidade. Para as curvas dos trânsitos da Kepler-63, o
valor de σ = 0, 0003. A relação entre este tempo (em horas) durante o trânsito e
a longitude pode ser obtida pela seguinte equação:
!
Porb
arccos(sin(long)) · cos(lat)
·
· 24,
t = 90 −
a
360◦
◦
(4.1)
onde long e lat representam a longitude e a latitude na superfície da estrela, respectivamente, a é o semieixo maior e Porb é o período orbital. Apenas manchas
localizadas num intervalo de longitude que varia entre ±70◦ foram consideradas
para o ajuste. Esta longitude corresponde ao tempo de ±1, 18 h, portanto, a du31
Figura 4.3 - Ajuste de um dos trânsito. A curva em vermelho é a representação de um
trânsito do planeta em frente à estrela sem mancha.
ração do trânsito é de aproximadamente 2,36 h.
Até 4 manchas por trânsito são ajustadas dentro desses limites como ilustrado no
painel inferior na Figura 4.3. A curva em vermelho do painel superior representa
o trânsito do planeta frente à estrela com a superfície sem manchas.
No painel inferior da Figura 4.3, temos o ajuste utilizando o resíduo, sendo a linha
horizontal tracejada o limite de 1, 5 · σ e as linhas verticais pontilhadas o intervalo
de tempo equivalente a ±70◦ de longitude. No caso deste trânsito, número 11,
foram ajustadas 4 manchas, o resultado do ajuste é mostrado pela curva azul no
painel inferior da Figura 4.3. O ajuste final é obtido usando-se a rotina AMOEBA.
Foi necessário refinar alguns dos valores apresentados em (SANCHIS-OJEDA et al.,
32
Figura 4.4 - Histogramas das manchas da Kepler-63. Painel superior esquerdo: Raio
em unidades de Rp , onde Rp é o raio do planeta; Painel superior direito:
Intensidade em unidades de Ic ; Painel inferior esquerdo: Distribuição 2D do
raio e a intensidade das manchas; Painel inferior direito: Temperatura das
manchas em Kelvin.
Parâmetro
Raio
Raio
Intensidade
Temperatura
Unidade
(Rp )
(km)
(Ic )
(K )
Média
0, 8 ± 0, 3
(33 ± 12) · 103
0, 47 ± 0, 16
4700 ± 400
Tabela 4.2 - Valores médios dos parâmetros físicos das manchas da estrela Kepler-63.
2013), como o semieixo maior e raio do planeta para que pudéssemos ajustar
melhor a curva de luz de cada trânsito. Os valores usados foram 19,35 Rs e
0,0662 Rs , para o semieixo maior e raio do planeta, respectivamente, onde Rs é
o raio da estrela.
Os histogramas da Figura 4.4 apresentam os resultados obtidos da aplicação
do modelo. De acordo com o primeiro histograma do painel superior esquerdo,
obtém-se que o raio das manchas está compreendido entre 0,4 e 1,0 Rp , onde
Rp é o raio do planeta. Para a intensidade, painel superior direito, temos o valor
variando de 0,2 até 0,8 Ic , onde Ic é a intensidade central da estrela. Os valores
de intensidade quando convertidos para temperatura, de acordo com a Equa33
ção 3.5 em K apresentam valores entre 4000 K até 5400 K. Os valores médios
dos parâmetros das manchas são listados na Tabela 4.2
4.3
Rotação estelar
O valor médio da rotação estelar obtido pelo cálculo do periodograma LombScargle (SCARGLE, 1982) foi de 5,4 dias. Este forte pico, apontado pela linha tracejada vermelha na Figura 4.5, é interpretado como o período de rotação médio
da Kepler-63.
Figura 4.5 - Periodograma Lomb-Scargle mostrando um forte pico em 5,4 dias, que é
considerado como o período de rotação médio da estrela.
Devido aos valores de obliquidade e eixo de inclinação estelar, a estrela Kepler63 apresenta um planeta que transita por uma faixa que abrange diversas latitudes (SANCHIS-OJEDA et al., 2013). Para fazer a análise dos dados obtidos na simulação foi necessário aplicar uma matriz de rotação nas posições das manchas
(long,lat) a fim de reproduzir o cenário da estrela, uma vez que o modelo utilizado é para órbitas coplanares ao equador da estrela. Neste modelo, a latitude
das manchas é constante e igual a −48◦ , onde a latitude Sul é arbitrariamente
adotada.
Considerando que a estrela tem um período igual a 5,4 dias, calculamos a matriz
de rotação para as coordenadas das manchas (long,lat) para o sistema com
eixo de inclinação estelar de -42 deg, obliquidade estelar de 35 deg e rotação
variando no tempo dado por Ωt. As coordenadas das manchas são calculadas
em coordenada equatorial retangular: x1 , y1 e z1 . Esses valores foram aplicados
34
na matriz de rotação, que é obtida a partir das seguintes matrizes:
• Matriz rotação A em torno do eixo x;


1
0
0 



A = 0 cos(θ) sin(θ) 


0 − sin(θ) cos(θ)
(4.2)
• Matriz rotação B em torno do eixo y 0 ;


cos(ψ) 0 sin(ψ) 



B=
0
1
0 


− sin(ψ) 0 cos(ψ)
(4.3)
• Matriz rotação C em torno do eixo z 00 ;


cos(Ωt) sin(Ωt) 0



C = − sin(Ωt) cos(Ωt) 0


0
0
1
(4.4)
Logo a matriz de rotação Mrot pode ser escrita como:
Mrot = C × B × A

Mrot
(4.5)

a
a12 a13 
 11

= a21 a22 a23 



a31 a32 a33
Sendo:
35
(4.6)
a11 = cos(Ωt) cos(ψ)
(4.7)
a12 = − sin(Ωt) sin(ψ) sin(θ) + sin(Ωt) cos(θ)
(4.8)
a13 = cos(Ωt) sin(ψ) cos(θ) + sin(Ωt) sin(θ)
(4.9)
a21 = − cos(Ωt) cos(ψ)
(4.10)
a22 = sin(Ωt) sin(ψ) sin(θ) + cos(Ωt) cos(θ)
(4.11)
a23 = − sin(Ωt) sin(ψ) cos(θ) + cos(Ωt) sin(θ)
(4.12)
a31 = − sin(ψ)
(4.13)
a32 = − cos(ψ) sin(θ)
(4.14)
a33 = cos(ψ) cos(θ)
(4.15)
sendo θ a obliquidade, ψ o eixo de inclinação. Ωt é dado pela seguinte expressão:
Ωt =
2π
· k · Porb
Prot
(4.16)
onde k é um número inteiro que varia para cada trânsito, Porb é o período orbital
do planeta e Prot é o período rotacional da estrela.
Uma vez aplicada a matriz de rotação nas coordenadas das manchas obtemos
o valor transformado de x2 , y2 e z2 :





x
a
a12 a13  x1 
 2
 11
 

 
 y2  = a21 a22 a23   y1 
 

 
a31 a32 a33
z1
z2
(4.17)
A primeira análise foi feita considerando a rotação da estrela como sendo a de
um corpo rígido com o valor de Prot = 5,4 dias, obtido no máximo do periodograma
Lomb-Scargle. No painel superior da Figura 4.6 encontram-se todas as manchas
detectadas numa sobreposição temporal, no referencial visto da Terra (esquerda)
e no referencial da estrela (direita). Na parte inferior são mostrado as localizações
das manchas considerando um referencial que rotaciona com a estrela. O painel
36
400
400
200
200
0
0
-200
-200
-400
-400
-200
0
200
-400
-400
400
-200
0
200
400
Figura 4.6 - Imagens sintetizadas da estrela Kepler-63 com as manchas. Nas figuras superiores uma sobreposição temporal das manchas. Nas figuras inferiores as
manchas com sua localização rotacionando com a estrela.
da esquerda mostra como seria visto da Terra, enquanto o da direita tem o eixo
de rotação da estrela alinhado com a vertical.
A Figura 4.7 mostra o mapa da superfície da estrela, construído conforme explicado na Seção 3.4, com o referencial que rotaciona com a estrela. O deficit de
fluxo é mostrado no painel inferior da figura. Para este mapa foi considerado Prot
= 5,4 dias para todas as latitudes da estrela, comportando-se como um corpo
rígido. O tamanho das manchas representam seu raio e a cor, sua intensidade.
37
Figura 4.7 - Mapa da superfície da estrela Kepler-63 construído a partir dos ajustes das
manchas às observações dos seus 150 trânsitos, levando-se em conta um
referencial que rotaciona com a estrela com um período de rotação de 5,4
dias.
38
CAPÍTULO 5
Rotação Diferencial da estrela Kepler-63
O período de rotação de 5,4 dias, sugerido anteriormente, não é uma boa representação da rotação da estrela, pois sabe-se que as estrelas apresentam rotação
diferencial. Para determinar a rotação diferencial da estrela Kepler-63, utilizamos
a metodologia descrita no Capítulo 3.
5.1
Mapas da superfície estelar
Figura 5.1 - Mapa da superfície da estrela Kepler-63 construído a partir dos ajustes das
manchas às observações dos seus 150 trânsitos, levando-se em conta um
referencial que rotaciona com a estrela com um período de rotação de 5,391
dias.
39
400
400
200
200
0
0
-200
-200
-400
-400
-200
0
200
-400
-400
400
-200
0
200
400
Figura 5.2 - Imagens sintetizadas da estrela Kepler-63 com as manchas. Nas figuras superiores uma sobreposição temporal das manchas. Nas figuras inferiores as
manchas com sua localização rotacionando com Prot = 5, 391 dias.
Nota-se que as manchas do mapa mostrado na Figura 4.7 apresentam inclinação. De acordo com a metodologia desenvolvida no Capítulo 3, deve-se procurar
o período para o qual as manchas ficam alinhadas verticalmente no mapa. Utilizando um período rotacional ligeiramente menor do que 5,4 dias, conseguimos
deixar as manchas em quatro longitudes verticais. Esse período é de 5,391 dias,
e o mapa correspondente é mostrado na Figura 5.1.
As imagens das manchas na superfície da estrela em um referencial rotacionando com a estrela com um período de 5,391 dias, são mostradas no painel
inferior da Figura 5.2. É possível notar que todas as manchas se concentram
em 4 longitudes ativas, separadas por 90◦ . Isto sugere que a estrela rotacione
como corpo rígido. Entretando, este valor quando dividido pelo período orbital do
planeta apresenta um valor muito próximo de 74 .
Não é possível afirmar se este valor é causado por um processo físico ou apenas
uma mera coincidência. Então devido a este efeito estroboscópico, causado pela
periodicidade da amostragem dos dados apenas durante o trânsito do planeta, o
40
valor de 5,391 dias foi descartado como o período real da rotação da estrela. Para
termos certeza que este é um efeito artificialmente causado pela ressonância
com o período orbital foram feitas simulações que confirmaram este fato.
5.2
Cálculo da Rotação Diferencial
Devido à configuração orbital foi possível aplicar o modelo apresentado anteriormente para diversas latitudes. O planeta Kepler-63b transita a estrela em diversas faixas de latitude, portanto as manchas foram separadas em bandas de
latitudes de 5◦ . Em seguida foram criados mapas da superfície da estrela referente a estas latitudes contendo informações a respeito das características das
manchas durante o trânsito do planeta.
A aplicação do modelo descrito na Seção 3.5 possibilitou determinar o período de
rotação em cada uma dessas bandas de latitude. Para cada latitude, foram construidos mapas variando-se o período de rotação da estrela. O deficit de fluxo das
manchas foi calculado para cada mapa e a largura da função de auto-correlação
estimada. O período adotado para cada latitude foi aquele que produziu a função
de auto-correlação mais estreita. Os mapas referentes às diferentes faixas de latitudes são apresentados da Figura 5.3 até a Figura 5.12 para o período indicado
no topo do painel inferior de cada figura, em dias.
41
Figura 5.3 - Superior: Largura da função de auto-correlação do deficit de fluxo das manchas integrado no tempo, para diferentes períodos de rotação da estrela.
Inferior: Mapa da superfície da estrela Kepler-63 para faixa de latitude entre
−30◦ a −35◦ para Prot =5,18 dias.
42
Figura 5.4 - Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela Kepler-63
para faixa de latitude entre −35◦ a −40◦ . Prot = 5,22 dias.
43
Figura 5.5 - Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela Kepler-63
para faixa de latitude entre −40◦ a −45◦ . Prot = 5,34 dias.
44
Figura 5.6 - Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela Kepler-63
para faixa de latitude entre −45◦ a −50◦ . Prot = 5,34 dias.
45
Figura 5.7 - Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela Kepler-63
para faixa de latitude entre −50◦ a −55◦ . Prot = 5,58 dias.
46
Figura 5.8 - Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela Kepler-63
para faixa de latitude entre −55◦ a −60◦ . Prot = 5,60 dias.
47
Figura 5.9 - Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela Kepler-63
para faixa de latitude entre −60◦ a −65◦ . Prot = 5,52 dias.
48
Figura 5.10 - Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela Kepler63 para faixa de latitude entre −65◦ a −70◦ . Prot = 5,51 dias.
49
Figura 5.11 - Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela Kepler63 para faixa de latitude entre −70◦ a −75◦ . Prot = 5,58 dias.
50
Figura 5.12 - Superior: Idem à Figura 5.3. Inferior: Mapa da superfície da estrela Kepler63 para faixa de latitude entre −75◦ a −80◦ . Prot = 5,57 dias.
5.2.1
Distribuição espacial e temporal das manchas
Uma vez determinadas as longitudes e latitudes de cada mancha detectada em
relação ao referencial que rotaciona com a estrela Kepler-63, considerando a
sua rotação diferencial, pode-se construir um diagrama da evolução temporal das
latitudes das manchas. No caso de manchas solares, este diagrama é conhecido
como diagrama da borboleta devido à distribuição das manchas se asssemelhar
às asas de uma borboleta.
A evolução temporal das latitudes das manchas apresentada no painel supe51
Figura 5.13 - Evolução temporal das manchas da estrela Kepler-63.
rior da Figura 5.13, diferentemente da distribuição de manchas no Sol, mostra
a existência de grande concentração de manchas próximas ao polo da estrela.
Isto sugere haver maior atividade de manchas nos polos da estrela. Nos primeiros 500 dias parece haver uma maior concentração de manchas próximas ao
equador da estrela em detrimento das regiões polares. Entretanto, este padrão
se inverte a partir de 600 dias.
Também pode-se observar que nos primeiros 500 dias as manchas preenchem
praticamente todas as latitudes do equador aos polos. Mas posteriormente, es52
sas manchas se concentram mais no polo, havendo uma escassez de manchas
nas latitudes intermediarias. Isso pode indicar um ciclo de atividade estelar. Até
aproximadamente 100 dias existe uma lacuna nos dados, mas este não é o caso
para o período entre 500 e 600 dias, a escassez de manchas neste período é
real.
O painel inferior da Figura 5.13 mostra a distribuição de manchas na superfície
da estrela Kepler-63 para todos os 1400 dias em que foi observada. Os dados
indicam não haver longitudes preferencias neste caso.
5.2.2
Rotação Diferencial do tipo solar
O conjunto de valores dos períodos de rotação obtidos para diferentes latitudes permitiu a construção do perfil rotacional da estrela Kepler-63 (asteriscos
na Figura 5.14). Supondo que Kepler-63 tenha rotação diferencial do tipo solar
é possível obter um ajuste para a rotação do tipo solar, conforme a seguinte
equação:
Ω = A − B sin2 (latitude)
onde as constantes A e B obtidas deste ajuste para Kepler-63 são:
Figura 5.14 - Perfil de rotação da estrela Kepler-63
53
(5.1)
A = 1, 237 ± 0, 013
(5.2)
B = 0, 133 ± 0, 020
(5.3)
Na Figura 5.14 podemos observar este ajuste como a curva em vermelho.
Uma vez determinados os valores para estas constantes, a rotação diferencial
pode ser estimada utilizando-se a Equação 3.13 e a rotação diferencial relativa,
∆Ω/Ω0 (%), dividindo por Ω0 = 2π/Pstar .
O Sol apresenta uma rotação diferencial relativa de 22, 1 % e ∆Ω = 0, 05 (rd/d).
Enquanto que para a estrela Kepler-63 obtivemos um valor de 11, 4 % para a
rotação diferencial relativa e rotação diferencial de 0, 133 (rd/d).
54
CAPÍTULO 6
Conclusões
O tema principal do trabalho foi estudar a rotação diferencial. Da mesma forma
que no Sol, a rotação diferencial em outras estrelas pode nos ajudar a compreender a geração do campo magnético estelar, devido a sua influência no processo
de dínamo.
Neste trabalho estudamos o perfil rotacional da estrela Kepler-63 a partir de trânsitos planetários. Kepler é uma estrela jovem, do tipo solar, que apresenta uma
atividade estelar muito alta. Além da obliquidade e inclinação do eixo de rotação
estelar, o planeta em trânsito possui uma órbita polar. Isto faz com que o planeta oculte diversas latitudes da superície da estela. Este planeta, chamado de
Kepler-63b é do tipo Júpiter quente, possui período orbital de 9,43 dias e um raio
de 0,0662 Rs , onde Rs é o raio da estrela e um semieixo orbital de 19, 35Rs .
Kepler-63 foi observada por quase 1500 dias, quando foram detectados 150 trânsitos em sua curva de luz. A curva de luz da estrela apresenta modulação de 6%
indicando ser uma estrela ativa com várias manchas na sua superície. Utilizando
o modelo apresentado por (SILVA, 2003) foram detectadas um total de 297 manchas na superfície da estrela. O modelo fornece as características das manchas
como tamanho, intensidade e localização.
Os valores médios obtidos para os parâmetros físicos destas manchas são: Rm =
0, 8 ± 0, 3Rp , Im = 0, 47 ± 0, 16Ic e Tm = 4700 ± 400K, onde Rp é o raio do
planeta, Ic é a intensidade central da estrela e K a temperatura em Kelvin. A
partir destas manchas é possível construir um mapa da superfície estelar para
um dado período rotacional. Devido à inclinação do eixo de rotação estelar, foi
necessária a aplicação de uma matriz de rotação nos resultados obtidos para as
longitudes e latitudes das manchas do modelo para conseguir as coordenadas
das manchas no referencial da estrela, uma vez que o modelo foi desenvolvido
para órbitas coplanares ao equador estelar.
O período médio de rotação estelar foi estimado em 5,4 dias, obtido do periodograma Lomb-Scargle. Este valor foi utilizado como uma primeira suposição
para a rotação estelar. Considerando esse valor e supondo que Kepler-63 rotacionasse como corpo rígido foi construido um mapa da superfície com referencial
que rotaciona com a estrela. Entretanto, sabe-se que as estrelas possuem rota-
55
ção diferencial e a hipótese de corpo rígido foi descartada, pois não apresentava
uma boa representação da rotação da estrela.
A segunda suposição foi utilizar um valor de período de rotação médio de 5,391
dias. Ainda considerando que a estrela rotacionasse como corpo rígido, essa
configuração apresentou comportamento singular, apresentando manchas localizadas em apenas quatro longitudes ativas. O valor deste período de rotação
médio quando divido pelo período orbital do planeta resulta em um valor muito
próximo de 47 , sugerindo que este resultado seja causado por um efeito estroboscópico de amostragem via trânsito. Portanto, este período também foi descartado.
Considerando que, assim como o Sol, outras estrelas também possuem rotação
diferencial foi feita mais uma suposição. Como o planeta Kepler-63b orbita eclipsando diversas latitudes da superfície estelar, foram construídos diversos mapas
da superfície e aplicado o modelo descrito na Seção 3.5. Variando-se o período
de rotação da estrela em cada mapa, estabelecidos para uma faixa de 5◦ de latitude, foi obtido um conjunto de valores de rotação mostrados na Figura 5.14.
Supondo então que a estrela Kepler-63 tenha rotação diferencial do tipo solar,
foi ajustado um perfil de rotação dado pela Equação 5.1. Utilizando os valores
das constantes A e B estimaram-se os valores de rotação diferencial relativa e
rotação diferencial para Kepler-63, como sendo 11, 4% e 0, 133(rd/d), respectivamente.
Analisando o diagrama da evolução temporal das latitudes das manchas, conhecido como diagrama da borboleta no caso do Sol, é possível observar uma
grande presença de manchas próximas a regiões do polo da estrela. SANCHISOJEDA et al. (2013) também concluiram sobre a existência de uma grande mancha na região polar da estrela Kepler 63.
É possível também observar o preenchimento da superfície por manchas em
praticamente todas as latitudes desde o equador até os polos nos primeiros 500
dias. Essa configuração muda no decorrer do tempo, quando as manchas se
concentram mais no polo, apresentando uma escassez de manchas na latitudes
intermediárias. Isso pode ser uma indicação de um ciclo de atividade estelar em
curso.
A diferença rotacional (rd/d) apresentada pelo Sol e pela estrela CoRoT-2, que
são estrelas do tipo espectral G, apresentam valores mais que duas vezes
56
menores do que o encontrado para Kepler-63, 0, 042 (rd/d) para CoRoT-2 e
0, 050 (rd/d) para o Sol. Entretanto, a diferença de rotação relativa da Kepler-63,
11, 4 %, apresenta valores bem diferente de ambas estrelas. CoRoT-2 que é mais
jovem, com idade aproximada de 0, 13−0, 5 (Giga−anos) apresenta uma valor de
∆Ω/Ω0 (%) de 3, 0, enquanto o Sol, com idade aproximada de 4, 6 (Giga − anos)
apresenta valor de 22, 1 % para a rotação diferencial relativa.
57
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