Capa A Páscoa na A Páscoa é uma comemoração que tem valor espiritual para duas grandes religiões: o Judaísmo e o Cristianismo. Para compreender sua importância é preciso contextualizar a Páscoa levando-se em conta as tradições de Judeus e Cristãos. Equipe Editorial - Campinas/SP Um pouco de história 1 .300 anos antes de Jesus, os israelitas viviam em regime de semi-escravidão no Egito, permanecendo nesse país cerca de 400 anos. Entendendo Abraão teve 2 filhos: Ismael, filho de sua escrava Agar, foi o primeiro e deu origem ao povo árabe (ismaelitas); depois, de sua esposa Sarah, teve ISAAC e é este que tem importância para a história dos hebreus. Isaac também teve 2 filhos: Esaú e Jacob. JACOB veio a ser chamado de ISRAEL (vencedor, que luta com Deus - porque lutou com um anjo, sem desanimar, até ser ferido por ele). Teve 12 filhos, dando origem às 12 TRIBOS DE ISRAEL (Ruben, Simeão, Levi, 18 FidelidadESPÍRITA Judá, Dan, Neftali, Gad, Aser, Issacar, Zabulon, José e Benjamim). Mais tarde, os hebreus referiam-se a si mesmos como ISRAELITAS ou como POVO DE ISRAEL ou, simplesmente, ISRAEL. E, referindo-se ao Deus Único, diziam: “O DEUS DE ABRAÃO, DE ISAAC E DE JACÓ" seus patriarcas.1 A escravidão no Egito (Gênesis - Cap. 37 e 39 até 50) Dos filhos de Jacó, os irmãos mais velhos invejavam JOSÉ e o venderam a mercadores que iam para o Egito. Putifar, comandante dos guardas, o comprou. Mais tarde, sua esposa, desejando seduzir José e não conseguindo, acusou-o perante o marido de insultá-la e o esposo mandou que o aprisionassem. No cárcere, José alcançou a confiança do carcereirochefe, que lhe confiou todos os detidos da prisão. Sucedeu, então, que o copeiro e o padeiro do rei do Egito ofenderam a seu senhor, o monarca das terras do Nilo. O Faraó, irou-se contra seus dois eunucos, o copeiromor e o padeiro-mor, e mandou detê-los na casa do comandante dos guardas, na prisão onde José estava detido. O comandante dos guardas agregou-lhes José para que os servissem. Ora, numa mesma noite, os dois, o copeiro e o padeiro do rei do Egito que estavam detidos na prisão tiveram um sonho, cada qual com a sua significação. De manhã, vindo encontrá-los, José percebeu que estavam aca- 1Estudos Espíritas do Evangelho - Therezinha Oliveira, pág. 52. uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP Abril 2003 Visão Espírita brunhados e perguntou aos eunucos do Faraó que estavam com ele detidos na casa de seu senhor: “Por que tendes hoje o rosto triste?” Eles lhe responderam: “Tivemos um sonho e não há ninguém para interpretá-los.” “Sonhei - disse o copeiro - que havia diante de mim uma videira, e na videira três ramos: deram brotos, floresceram e as uvas amadureceram em cachos. Eu tinha na mão a taça do Faraó: peguei os cachos de uva, espremi-os na taça do Faraó e coloquei a taça na mão do Faraó. José lhe disse: ‘Eis o que isto significa: Os três ramos representam os três dias, mais três dias e o Faraó te erguerá a cabeça e te restituíra o emprego: colocarás a taça do Faraó em sua mão, como outrora tinhas o costume de fazer, quando eras seu copeiro. Lembra-te de mim, quando te suceder o bem, e sejas bom para falares de mim ao Faraó, a fim de que me faça sair desta prisão...’.” O padeiro-mor viu que era uma interpretação favorável e disse a José: “Eu também tive um sonho: havia três cestas de bolos sobre minha cabeça. Na cesta mais alta havia todos os ti- Abril 2003 pos de doces que o Faraó come, mas as aves os comiam na cesta, sobre a minha cabeça”. José respondeu assim: “Eis o que isto significa: as três cestas representam três dias. Mais três dias ainda e o Faraó te erguerá a cabeça, enforcar-te-á e as aves comerão a carne acima de ti.” Efetivamente, no terceiro dia, que era o aniversário do Faraó, tudo se sucedeu conforme a interpretação de José. O padeiro foi morto e o copeiro fora reabilitado ao cargo, mas quando junto ao Faraó não se lembrou de José... Dois anos depois, o Faraó teve um sonho que o perturbara profundamente, mas que nenhum dos seus magos e sábios conseguiram interpretar. O sonho Ele estava junto do Rio Nilo e viu subir dali sete vacas de bela aparência e bem cevadas, que pastavam nos juncos. E eis que atrás delas subiram do Rio outras sete vacas de aparência feia e mal alimentadas, e se alinharam ao lado das primeiras, na margem do Nilo, devorando as vacas gordas. Então, FidelidadESPÍRITA o Faraó acordou. Ele tornou a dormir e teve um segundo sonho: sete espigas subiam de uma mesma haste, granadas e belas. Mas eis que sete espigas mirradas e queimadas pelo vento oriental nasciam atrás delas. E as espigas mirradas devoraram as sete espigas cheias. Então, o Faraó acordou: era um sonho! O copeiro-mor, ao ficar sabendo do sonho perturbador do Faraó, lembrou-se de José que interpretara certa vez seu sonho na prisão. Assim, o Faraó mandou chamá-lo e José interpretou o sonho: Haverá sete anos de fartura e sete anos de fome nas terras do Egito, convém que o Faraó escolha um homem inteligente e sábio para seu administrador. O conselho agradou ao Faraó e a todos os seus oficiais. Então, o Faraó instituiu o próprio José como seu preposto em toda a terra do Egito. E assim, quando os irmãos de José, nos sete anos de fome que se sucederam vieram ao Egito buscar alimento, este se revelou a eles e trouxe todo seu povo para morar no Egito. uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP 19 A Páscoa À medida que os anos passaram, o Faraó e José morreram e os novos governantes sentiram-se ameaçados com o crescimento da população dos israelitas, por isso baixaram normas para limitar os direitos dos filhos de Israel e o controle da natalidade. Esta última ordem dizia que a partir daquela data, todo filho homem que nascesse de uma família israelita seria morto. Moisés, o futuro libertador, nascera exatamente nesse período e seria morto. Sua mãe, contudo, o livra da morte colocando-o num cesto sobre as águas do Nilo. A princesa egípcia o encontrou e o educou como filho do palácio. Todavia, ele sempre soube de sua natureza israelita, e uma vez homem feito, viu um soldado egípcio, maltratando um escravo israelita, tentou defender seu compatriota e na luta corporal acabou por matar o soldado egípcio. Isso lhe causou grandes problemas diante da corte egípcia. Moisés fugiu para o deserto de Madiã, depois teve a revelação divina para libertar seu povo persuadindo o Faraó com as pragas (ver nesta edição matéria de Fátima Granja sobre as dez pragas). O Faraó, porém, resistia à ordem divina. Parecia concordar, mas assim que a praga cedia, voltava atrás na sua palavra e não deixava os israelitas partirem. 20 FidelidadESPÍRITA Até que veio a décima praga. Tão terrível que fez o Faraó ceder completamente. Começou com uma instrução espiritual feita previamente aos israelitas através da mediunidade de Moisés. Estavam no mês de Nisam. O calendário dos hebreus era lunar. Mês de Nisam corresponderia aproximadamente ao nosso mês de março (ou começo de abril, conforme as luas). No 10º dia daquele mês, cada família (ou grupo familiar) deveria escolher um cordeiro de um ano. No 14º dia, imolá-lo no crepúsculo da tarde. Com seu sangue, marcar as ombreiras e a verga de suas portas, assar a carne e comê-la, acompanhada de pães asmos (ázimos, sem fermento) e ervas amargas. Estarem vestidos, sandálias nos pés, cajado nas mãos. E comerem à pressa. Por quê?! Porque é a Páscoa do Senhor. Porque naquela noite (Deus falando) virei pela terra do Egito e ferirei todos os primogênitos deles, desde os homens até os animais. Mas, vendo o sangue do cordeiro nas casas dos israelitas, o Senhor ‘pessach’ (páscoa) ‘passaria por cima’ delas, ou seja, a praga não as atingiria. Assim fizeram os israelitas e naquela noite do 14º dia de Nisam, a 10ª praga matou todos os primogênitos dos egípcios2(e de seus animais), poupando os israelitas. Convencido ante a demonstração terrível do grande poder do Deus de Israel, o Faraó atendeu, enfim, à ordem dele recebida e autorizou que o povo de Israel saísse do Egito. Tiveram de sair depressa, antes que o Faraó se arrependesse da sua decisão (como já o fizera em outras vezes). Foi, portanto, providencial a instrução para que já estivessem vestidos para a viagem e alimentados para partir.3 (Êxodo 11-12-13). A Páscoa Judaica Tudo isso se passou há mais de 3 mil anos, como relata o livro Êxodo, na Bíblia. Mas até hoje os Judeus (remanescentes dos israelitas) celebram a Páscoa, assim como lhes foi ordenado fazer. Assam cordeiro (se tiverem; ou representam) e, vestidos de modo especial, o comem, acompanhado de pães asmos, (sem fermento, simbolizando a necessidade de não mesclar seus costumes com idéias egípcias) e de ervas amargas (representando o sofrimento passado durante a escravidão no Egito). 2 Ver ilustração na capa desta Revista. 3 Therezinha Oliveira. Vídeo: A Páscoa dos Cristãos. uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP Abril 2003 Quando vossos filhos perguntarem: “Que rito é este?” Respondereis: “É o sacrifício da Páscoa ao Senhor que passou por cima das casas dos filhos de Israel, no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas casas." Como vemos, para os israelitas, a Páscoa é uma festa da sua religião, instituída ao tempo de Moisés (cerca de 1.300 anos a.C) para comemorar o dia em que o povo de Israel conseguiu sair da escravidão em que vivia no Egito. A Páscoa dos Cristãos Jesus era judeu, portanto, seguiu determinadas tradições, aproveitando todo momento para ensinar. Sua paixão e morte se deram no período da Páscoa. Simbolicamente, Jesus é chamado pelo Evangelista João de O cordeiro de Deus. Certamente se referindo à história dos israelitas. Vejamos: Na fuga do Egito foi um cordeiro imolado, cujo sangue serviu de sinal para que o Senhor não os ferisse de morte, que os salvou. Simbolicamente, Jesus é um cordeiro (criatura mansa, dócil e útil) que viveu e morreu em sublime sacrifício após ensinar a Humanidade. Quando vivemos os ensinos de Jesus, os grandes proble- Abril 2003 mas humanos quais orgulho, inveja, vaidade Páscoa (pessach) passam por cima de nós sem nos atingirem, pois que estamos ungidos com o sangue do cordeiro. O sangue é a essência da vida orgânica e simbolicamente dizemos: “Dei meu sangue por este trabalho". Significando nosso esforço íntimo na execução de determinada tarefa. Assim, estar ungido, envolto com o “sangue do cordeiro" significa estar envolvido com o sublime ideal de Jesus, que nos salva das quedas morais à medida que nos esforçamos na prática do bem. Para os Cristãos Espíritas Para os Espíritas a Páscoa também significa passagem, mas não como os israelitas que passaram de uma região para outra, mas como passagem de um plano para outro da vida. Quando Jesus desencarnou na cruz, ressurgiu em Espírito na manhã do terceiro dia (Domingo). Não ressurgiu com o corpo físico, mas com seu perispírito ou corpo espiritual, dando demonstrações sobre a imortalidade da alma, a Páscoa, Passagem da realidade física para a realidade espiritual. Para os Espíritas, Jesus não está crucificado, a cruz é apenas o símbolo do sublime sacrifício, da vida superando a morte, da passagem de um estado para outro, do qual o Cristo FidelidadESPÍRITA deu um lindo testemunho. Resumindo A Páscoa, para os Judeus, é uma festa sócio-política, comemorando sua libertação do Egito, o dia de sua independência. A Páscoa, para os Cristãos Espíritas, a certeza da imortalidade da alma, através da qual a vida venceu e vencerá sempre a morte, existente apenas para o corpo e não para o Espírito imortal. Ovos e o Coelho, que significam? Os Espíritas poderemos seguir determinados costumes, desde que entendamos o que simbolizam e a eles não estejamos apegados. O ovo significa vida e o coelho fertilidade. Quando presenteamos alguém com ovos de páscoa, deveríamos dizer: que você tenha uma vida renovada em Jesus e que seja fértil, abundante de valores morais. Para saber mais, consulte: 1) A Bíblia de Jerusalém. Êxodo, cap. 11 12 e 13. Ed. Paulinas. São Paulo/SP; 2) OLIVEIRA, Therezinha. Estudos Espíritas do Evangelho. Pág. 52. Ed. CEAK. Campinas/SP; 3) DAVIS, John D. Dicionário da Bíblia. Ed. Juerp. RJ/RJ; 4) CAJAZEIRAS, Francisco. Elementos de Teologia Espírita. Pág. 121. Ed. EME. Capivari/ SP. uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” - Campinas/SP 21