Mudança Climática - São Lourenço - completa_rev Julia

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VARIABILIDADE E SUSCEPTIBILIDADE CLIMÁTICA:
Implicações Ecossistêmicas e Sociais
de 25 a 29 de outubro de 2016
Goiânia (GO)/UFG
ASPECTOS RELACIONADOS A TENDÊNCIAS E VARIABILIDADE DAS CHUVAS
EM SÃO LOUREÇO-MG
JOSÉ CLÁUDIO ELÓI DE OLIVEIRA1
THIAGO MAIA PORTILHO2
NELI APARECIDA DE CARVALHO3
CARLOS HENRIQUE JARDIM4
RESUMO: A variabilidade das chuvas e sua relação com desastres naturais é assunto
recorrente na mídia e a recente crise hídrica que afetou o sudeste brasileiro é exemplo
disso. A fim de compreender a relação entre clima e ambiente, procedeu-se à análise dos
dados de chuva e temperatura (1961-2014) do município de São Lourenço-MG, haja vista
sua dependência em relação aos recursos hídricos. Foram utilizadas técnicas estatísticas de
classificação de dados e análise de tendências e os resultados demonstraram a recorrência
de desvios na variação dos elementos do clima, bem como sua relação com impactos
ambientais e econômicos.
Palavras-chave: chuva, variabilidade, impactos ambientais.
ABSTRACT: The variability of rainfall and its relation to natural disasters is a recurring
subject in the media and the recent water crisis that affected the southeast Brazil's example.
In order to understand the relationship between climate and environment, we proceeded to
the analysis of rainfall and temperature data (1961-2014) of São Lourenço-MG, given its
dependence on water resources. Techniques were used data classification statistics and
trend analysis and the results showed the recurrence of deviations in the range of climate
elements and their relationship to environmental and economic impacts.
Keywords: rain, variability, environmental impacts.
1 – Introdução
Desde que o homem surgiu em meio à natureza sempre aspirou à compreensão do
clima para garantir sua sobrevivência e conduzir seu modo de vida em sociedade. Os
avanços tecnológicos e aumento contínuo da população proporcionaram maior interferência
antrópica ao meio natural. A agricultura, o urbanismo e a produção de energia são
atividades que geraram questionamentos e dúvidas sobre sua participação nos fenômenos
climáticos (chuvas torrenciais, secas prolongadas etc.). Essa discussão ganha notoriedade
em períodos de variações climáticas, como foi o caso do baixo regime pluviométrico de
2014, principalmente na região sudeste do Brasil.
De fato, o clima não é constante e nem sempre foi como hoje o conhecemos. Provas
dessa afirmativa são os registros cumulativos que demonstram a alternância entre
resfriamento e aquecimento devido ao comportamento natural dos oceanos e de outras
variáveis que compõem o clima e, consequentemente, a natureza. Entretanto, o clima faz
parte de um sistema complexo, o que impõe a este uma análise mais cautelosa e criteriosa.
1
Graduando em Geografia, Departamento de Geografia IGC/UFMG ([email protected]).
Graduando em Geografia, Departamento de Geografia IGC/UFMG ([email protected]).
3 Graduada em Geografia, Departamento de Geografia IGC/UFMG ([email protected]).
4 Professor Adjunto, Departamento de Geografia IGC/UFMG ([email protected]).
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A mídia e os grandes grupos econômicos propagam que essas variações enfrentadas hoje
são provocadas pelo homem. A justificativa para essa afirmação se sustentou na explosão
do crescimento populacional, a partir da metade século XIX, e na consequente necessidade
de se aumentar a oferta de alimentos, com a aceleração da produção industrial e uma maior
disponibilidade de energia.
Com um cenário de grande emissão de CO2 na atmosfera, alguns pesquisadores
afirmam que o homem está intensificando o processo natural do efeito estufa, favorecendo o
“Aquecimento Global”. Contudo, não existem evidências concretas de que seja o homem o
agente principal na mudança do clima global, uma vez que as mudanças climáticas fazem
parte da dinâmica do sistema planetário. Sendo assim, a interferência antrópica na natureza
é considerada irrelevante diante dos megaeventos naturais que realmente podem alterar o
clima.
Desde a formação do planeta e da constituição da atmosfera terrestre, o
clima tem sofrido alterações através das eras geológicas. Sabe-se que, em
eras remotas, o clima não foi sempre idêntico e que suas oscilações
possibilitaram tanto o surpreendente desenvolvimento da vida no planeta,
quando desastres e catástrofes, como a extinção dos dinossauros e as
grandes glaciações. Apesar disso, o homem ainda fica perplexo diante da
repercussão que os elementos do clima exercem sobre a vida (SANT’ANNA
NETO e NERY, 2005, p.29).
Mas o que pode ser discutido, de fato, com maior credibilidade, é como o homem
estaria preparado para as mudanças naturais que acontecem ou que irão acontecer, visto
que ele está inserido dentro do espaço dessas mudanças. Por isso, a percepção da escala é
de suma importância dentro dos estudos e das análises sobre o clima, como indica a
seguinte passagem: “A realidade climática pode, objetivamente, ser caracterizada por
unidades espaciais com grandezas escalares completamente diferenciados, que variam
desde o nível planetário (zonal) até o nível microclimático” (JESUS, 2008, p.177).
Assim, as evidências mostram que a interferência do homem no meio ambiente gera
pouca repercussão temporal e espacial no clima. Sua dinâmica global está envolvida com
lenta evolução do planeta, fazendo com que a interferência antrópica seja mais perceptível
em uma escala local ou regional de rápida ou periódica duração. E nessa escala, a
interferência humana é concorrente com outras variáveis, como o relevo e o próprio volume
da coluna de ar. Esses fatores são um conjunto de acontecimentos e/ou perturbações que
podem interferir na dinâmica climática, já que esta se trata um sistema complexo. Falar
sobre o clima é pensar, necessariamente, em vários aspectos e possibilidades.
Diante dessa temática, foram analisadas as variações da temperatura e totais de
chuva no período de 1951 a 2014, disponíveis nos registros de dados do INMET/BDMET
(www.inmet.gov.br), tendo como base o município de São Lourenço-MG, com o objetivo de
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caracterizar a dinâmica de variação desses elementos ao longo do tempo e detectar
possíveis relações com impactos na dinâmica sócioespacial na referida localidade.
A cidade de São Lourenço está localizada no sul do Estado de Minas Gerais (figura
01) a 352 km de Belo Horizonte. O ponto mais baixo, na cota de 947 metros, localiza-se na
foz do Córrego dos Poços, e o ponto mais alto está a 1352 metros de altitude, no Morro dos
Lobos. Tem como municípios vizinhos São Sebastião do Rio Verde, Pouso Alto, Soledade
de Minas e Carmo de Minas. O clima é classificado como Tropical de altitude, com
temperatura média anual de 18°C. No inverno, as temperaturas chegam a 0°C e no verão a
média de temperatura é de 22°C, com total de anual médio de chuvas em torno de 1500 mm
concentrados no verão, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (DNMET,
1992).
Figura 01: Localização de São Lourenço no Estado de Minas Gerais.
Fonte: Wikipedia (2015). Acesso: dezembro/2015.
Organização: José Cláudio Elói de Oliveira.
Sua população, segundo o senso 2012 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2015), conta com 42.372 habitantes. São Lourenço tem um ótimo IDH, se
comparado à média dos municípios de Minas Gerais e até mesmo em relação ao Brasil,
ocupando a 26ª posição dentro de Minas e a posição de número 383 em relação aos 5.565
municípios do país referente ao ano de 2010 (<www.cidades.ibge.gov.br/> Acesso:
dez/2015). Em relação à economia, a cidade tem a pecuária, o café e o turismo como
destaques, sendo essa última atividade uma das maiores fontes de renda, ou seja, é a força
motriz para movimentar o comércio local. Tal condição está ligada ao fato de a cidade
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pertencer ao polo do Circuito das Águas e possuir a maior rede hoteleira da região para
atender tal demanda.
2 – Material e Métodos
Para realização desta pesquisa foram consultadas diversas fontes bibliográficas
(artigos científicos, textos de livros de climatologia, dissertações etc.), bem como material
disponível em mídia eletrônica.
Os sites de órgãos como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE
(www.cidades.ibge.gov.br)
o
Instituto
Nacional
de
Meteorologia
INMET/BDMET
(www.inmet.gov.br) forneceram dados importantes para a compreensão das análises.
Através desse último, foram obtidos dados de temperatura máxima e mínima e de chuvas
INIMET/BDMET (<www.inmet.gov.br> Acesso: setembro/2015) relativos ao período de
01/01/1961 a 31/12/2014, a fim de compreender, em um espaço maior de tempo, as
anomalias e tendências das variações da chuva e temperatura. Os demais dados (direção
do vento, radiação, umidade relativa etc.) foram utilizados de forma subsidiária. A
localização da estação do INMET representativa de São Lourenço, de onde foram extraídos
os dados, obedece às coordenadas Lat. 22º 06’ S e Long. 45º 01’ W.
A partir dos dados foram organizadas tabelas e gráficos para cada um dos atributos:
temperatura média das mínimas, média das máximas e dos totais de chuva, utilizando o
programa Excell. Tais valores forneceram dados para calcular a tendência e o índice de
correlação (R2), também realizado através do programa Excell.
A determinação dos valores de anomalias de chuva em (%) dado pela equação pP/Px100 (precipitação observada anual p; precipitação média anual P). Tais cálculos podem
ser ainda mais refinados, caso seja de interesse de quem lê este trabalho, considerando os
dados mensais (precipitação mensal observada e precipitação média mensal).
3 – Resultados
No geral, o município de São Lourenço (MG) tem pluviosidade sazonal e
concentrada na estação de verão, com média total dos anos analisados de 1.506,11 mm,
como mostra gráfico de precipitações anuais (figura 02). Os desvios acentuados nos anos
de 1963, 1983 e 2014 (figura 03) na variabilidade climática têm forte relação com a
precipitação e deixam evidências de que foram ocasionadas pelos fenômenos de
macroescala que envolvem a participação de El Niño/La Niña, variações na temperatura das
águas superficiais oceânicas (TSM) e a participação da Oscilação Decadal do Pacífico
(ODP).
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Figura 02: Distribuição temporal dos totais de chuva (mm) e tendência em São Lourenço-MG.
Fonte: dados do INMET (www.inmet.gov.br) Acesso: setembro/2016.
Organização: José Cláudio Elói de Oliveira.
No Oceano Pacífico, os episódios conhecidos como El Niño Oscilações Sul (ENOS)
acontecem porque, de forma inesperada, há um aquecimento das águas do Pacífico
Tropical Centro-Leste que chegam até a costa da América do Sul. Os ventos alísios, que
normalmente sopram de Leste para Oeste, em seu percurso natural, empurram as águas do
Pacífico Leste na América do Sul para Oeste na costa Asiática, formando uma camada
espessa de água quente.
Com o enfraquecimento dos ventos alísios ou até mesmo com inversão de sua
posição, as águas quentes, que antes eram empilhadas na costa oeste do Pacífico,
retornam à costa leste do sul da América, temperando as águas frias na costa do Peru. Com
isso, as nuvens que normalmente produziriam chuvas abundantes na costa leste da Ásia, na
região da Indonésia, devido à evaporação das águas quentes, deslocam-se para o centro e,
posteriormente, para o leste do Pacífico, em função da mudança no gradiente de pressão.
Muitas vezes, essas chuvas nem chegam ao continente americano, precipitando no oceano.
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Figura 03: Desvios (%) dos totais de chuva em relação à média climática de São Lourenço-MG.
Fonte: dados do INMET (www.inmet.gov.br) Acesso: setembro/2016.
Organização: José Cláudio Elói de Oliveira.
Considerando os apontamentos de Dias e Marengo (2002, p.83), em 1963 ocorreu
um El Niño de intensidade fraca, pois não houve episódio de La Niña. El Niños de fraca
intensidade pode acontecer porque quando as alterações na TSM não são de grande
intensidade, as águas quentes do Pacifico Equatorial, que deveriam retornar à costa sulamericana, estacionam no meio do Oceano e promovem a evaporação e formação de
nuvens, reduzindo as chuvas tanto na costa asiática quanto na costa sul-americana. Se as
águas da costa do sul da América se mantêm frias, as temperaturas também permanecem
baixas, pois ocorre diminuição da evaporação, reduzindo a retenção de calor pelo vapor de
água. Com isso, ocorre enfraquecimento no gradiente de pressão promovido entre o oceano
e o continente. A umidade vinda do oceano através desse sistema também reduz as chuvas
no sul da América. Isso pode ser observado conforme mostra o gráfico de precipitação da
região de São Lourenço (figura 02), quando choveu apenas 757 mm em todo ano de 1963,
sendo que raramente as precipitações nesse município ficam abaixo dos 1200 mm.
Esse ano, segundo dados obtidos no período de 1860-2000 das estações
meteorológicas de superfície (JONES et al.,1999, apud MOLION, 2005, p.04), a Oscilação
Decadal do Pacifico (ODP) estavam em sua fase fria de 1947-76. Essa fase de prolongado
resfriamento do Pacifico dura em torno de 20 a 30 anos e especula-se estar ligada aos
ciclos das manchas solares. Além disso, crê-se, pode levar ao enfraquecimento ou a
diminuição dos episódios de El Niño, devido às mudanças no sistema terra-oceanoatmosfera, como mencionado no parágrafo anterior.
Diferente de 1963, o El Niño de 1983 foi muito intenso, a pluviosidade anual chegou
a 2429 mm nesse ano. No entanto, existe pertinência quanto à variação conjunta da
distribuição temporal das chuvas (figura 02) e temperaturas (figuras 04 e 05) em relação às
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anomalias de precipitação (figura 03), confirmando que existe relação entre esses dois
elementos. A ODP, em 1983, estava em sua fase quente que se estendeu até 1998, o que
pode ter favorecido os episódios de El Niños fortes.
Figura 04: Variação da temperatura mínima média anual em São Lourenço-MG.
Fonte: dados do INMET (www.inmet.gov.br) Acesso: setembro/2016.
Organização: José Cláudio Elói de Oliveira.
Com atuação da ODP em sua fase quente, o sistema do El Niño ganha intensidade e
fortalece o bloqueio nas regiões norte, nordeste e, secundariamente, no sudeste, inibindo o
avanço das frentes frias vindas de sul e produzindo alta pluviosidade no sul e parte do
sudeste brasileiro.
O município reúne fatores geográficos que favorecem a intensificação das
precipitações em episódios de El Niño, uma vez que a altitude e a circulação secundaria dos
ventos (barlavento e sotavento), por exemplo, são determinantes para um aumento da
pluviosidade com as chuvas orográficas e a posição geográfica da região (Serra da
Mantiqueira, próxima a São Paulo) influenciada pelo sistema do Atlântico (circulação
primaria, ventos alísios).
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Figura 05: Variação da temperatura máxima média anual e tendência em São Lourenço-MG.
Fonte: dados do INMET (www.inmet.gov.br) Acesso: setembro/2016.
Organização: José Cláudio Elói de Oliveira.
Ainda no contexto das variações de temperatura da superfície das águas oceânicas,
dentre os sistemas de convecção que mais interferem no sudeste brasileiro, encontra-se a
Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), o qual, quando sofre variações em escalas de tempo
e espaço, pode provocar eventos severos de grande repercussão social. Tais variações
estão condicionadas ao comportamento da Temperatura da Superfície do Mar (TSM),
devido ao gradiente de pressão promovido entre o oceano e o continente. Em relação aos
anos de 1984, 1985 e 1988 devem ser desconsideradas as falhas, pois não há registros
climáticos desses períodos.
Sendo assim, dentro do intervalo analisado, 2014 foi o ano mais crítico em termos de
baixa pluviosidade, alcançando valor próximo a 670 mm. Essa queda brusca na
pluviosidade pode estar relacionada à ação da ODP, que entrou na fase fria em 1998 e pode
durar até 2025 aproximadamente, quando esta voltar a entrar na fase quente. As
temperaturas mais baixas mudam todo processo que envolve Terra-Oceano-Atmosfera e
dificultam o aparecimento dos episódios de El Niño/La Niña ou promovem o aparecimento
de eventos fracos, como já mostrado anteriormente.
Os episódios de La Niña são mais frequentes e intensos na fase fria da ODP e dão
resultados contrários à ação de El Niños fortes. La Niñas promovem estiagens prolongadas
e tendência de maior frequência de frentes frias, deixando o tempo estável e sem
nebulosidades. La Niñas fortes estão relacionadas ao prolongamento da baixa temperatura
das águas do Pacifico e podem ocasionar longos períodos de estiagem, o que pode ter
ocorrido no ano 2014: “No intenso e mais recente episódio de La Niña, ocorrido em 1988/89
o resfriamento das águas superficiais foi mais lento, ou seja, demorou dois meses para que
a TSM diminuísse 3,5” (DIAS e MARENGO, 2002, p.82).
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Outro acontecimento de destaque global no ano de 1963, mencionado por Sant’Anna
Neto (2003) foram as erupções vulcânicas na Indonésia. O vulcão Monte Agung entrou em
erupção e lançou enorme quantidade de gases do tipo CFC (clorofluorcarbenetos) e CO2
(dióxido de carbono) na atmosfera, as quais, segundo alguns pesquisadores, foram
superiores a todas as emissões de origem antrópica daquele ano. Esses fenômenos podem
provocar alterações no clima e perdurar de 3 a 4 anos. A enorme quantidade de gases e
poeira na atmosfera inibe a passagem de luz, fazendo com que a temperatura diminua.
Esta, quando mais baixa que o normal, diminui a evaporação das águas e a
convecção/advecção dos ventos que carregam umidade dos oceanos para o continente.
Assim, consequentemente, a precipitação fica abaixo da média.
Diante desses fatores, não se pode descartar a possibilidade de interferência desse
evento no cenário brasileiro, principalmente quando este acontece em concomitância ao
fenômeno do El Niño.
4 – Considerações Finais
A compreensão da dinâmica da variação climática é cada vez mais necessária,
tendo em vista que a agricultura e a produção de energia no Brasil são fortes setores da
economia diretamente ligados ao comportamento do clima. Portanto, é importante
compreender as variações e as tendências ao longo dos anos dos elementos do clima, já
que pode condicionar a cultura a ser plantada naquele ano. Da mesma forma acontece com
um ano de baixa pluviosidade, pois isto mostra que a irregularidade das chuvas requer
políticas de sustentabilidade voltadas para o consumo de água.
Os fatores geográficos de cada região respondem pela formação dos mesoclimas,
dentro dos quais está presente a atividade antrópica, muitas vezes relacionada como
causadora das anomalias climáticas. Mudanças no regime pluviométrico interanual de uma
região requer modificações significativas no sistema climático e, portanto, relação com
fatores à escala das massas de ar ou sistemas atmosféricos. E existem fortes evidências de
que o homem não tem capacidade para essa modificação, mesmo diante da acelerada
produção do espaço ocorrida no século XIX.
Referências
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Brasília-DF, 1992.
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