Artigo Técnico Endocrinologia – Novembro / 2007 Impacto da suplementação de coenzima Q10 em sintomas de miopatia em pacientes tratados com estatinas. A miopatia pode ser relacionada em parte à inibição pelas estatinas da síntese endógena de coenzima Q10, um cofator essencial para a produção energética mitocondrial. O estudo visou determinar se a suplementação de coenzima Q10 reduziria o grau de dores musculares associadas ao tratamento com estatinas. Fármaco em estudo: Autoria: coenzima Q10 CASO, G.; KELLY, P.; MCNURLAN, M.A. LAWSON, W.E. Effect of Coenzyme Q10 on Myopathic Symptoms in Patients Treated with Statins. Am J Cardiol, v. 99, p.1409 –1412. 2007. Resumo Introdução As estatinas reduzem a produção de colesterol pela inibição da enzima hidroximetilglutarilcoenzima A, mas a mesma via biossintética é compartilhada pela coenzima Q10 ou ubiquinona. Assim, tanto a biossíntese do colesterol quanto a da coenzima Q10 são reduzidas com o tratamento com estatinas. A coenzima Q10 é um componente essencial do sistema de transporte de elétrons mitocondrial e a deficiência de coenzima Q10 pode afetar a fosforilação oxidativa e a produção de ATP. A deficiência da coenzima Q10 resultante do tratamento com estatinas pode prejudicar o metabolismo energético muscular e contribuir para o desenvolvimento de miopatia e sintomas musculares, descritos em pacientes tratados com estatinas. Esse estudo testou se a suplementação de coenzima Q10 melhoraria os sintomas musculares em pacientes em uso de estatinas. Métodos Um total de trinta e dois pacientes (15 mulheres e 17 homens) que estavam em tratamento para dislipidemia com estatinas e que reportaram sintomas de miopatia foram avaliados. Os sintomas de miopatia foram definidos como a presença de dor muscular isolada ou acompanhada por outros sintomas , como a fraqueza muscular e fadiga. Os pacientes foram incluídos no estudo apenas se nenhuma outra causa identificável de miopatia pudesse ser determinada. O efeito da suplementação com coenzima Q10 na dor muscular que interferia com as atividades diárias foi investigado em um estudo randomizado duplo-cego. Antes e após a intervenção os indivíduos completaram um questionário de dor para a avaliação de sintomas de miopatia. Os pacientes foram então randomizados para receber um suplemento diário consistindo de 100 mg de coenzima Q10 ou 400 UI de vitamina E. Os pacientes usaram os suplementos em adição às medicações usuais. Após 30 dias os pacientes retornaram para a visita com avaliação dos sintomas de miopatia e concentrações de lípides e de CPK. Resultados Todos os 32 pacientes completaram o estudo (coenzima Q10, n=18; vitamina E, n=14). O perfil lipídico foi similar nos dois grupos antes e ao final do estudo. Não houve diferenças nas estatinas utilizadas entre os grupos. Intensidade da dor : Após 30 dias de tratamento, a intensidade da dor diminuiu em 40 ± 11% no grupo usando coenzima Q10, não sendo observadas mudanças no grupo que fez uso de vitamina E. 1 Um total de 16 pacientes (n=18) reportou uma diminuição na dor após usar a coenzima Q10, enquanto que apenas 3 de 14 referiram alívio da dor após suplementação com vitamina E. Interferência da dor nas atividades diárias: Houve uma melhora de 38 ± 14% nos pacientes em uso de coenzima Q10. O tratamento com vitamina E não produziu impacto na interferência da dor nas atividades diárias. Concentrações de CPK : Foram semelhantes entre os grupos antes e depois do tratamento. Não houve correlação entre o score de dor e os níveis de CPK , antes e depois do tratamento. Discussão Os resultados desse estudo randomizado, duplo-cego sugerem que a coenzima Q10 pode ser benéfica para pacientes em uso de estatinas através da melhora nos sintomas de miopatia e da melhor qualidade de vida nas atividades diárias. As causas dos sintomas de miopatia associados ao tratamento com estatinas não são completamente claras. O uso de estatinas reduz o fornecimento de mevalonato, um precursor de colesterol e de coenzima Q10, e o uso de estatinas, portanto, poderia resultar em uma depleção endógena dos níveis de coenzima Q10. Após o tratamento com estatinas, o nível plasmático de coenzima Q10 é reduzido em 25% a 50% e uma redução concomitante dos níveis de coenzima Q10 dentro dos tecidos musculares também tem sido referida. Como a coenzima Q10 é um cofator essencial para o sistema de transporte de elétrons mitocondrial, uma redução na sua atividade poderia afetar a fosforilação oxidativa e a produção de ATP mitocondrial, e levar a um déficit mitocondrial. Assim, a deficiência na produção energética mitocondrial poderia resultar em uma diminuição da capacidade aeróbica do músculo com o aumento da fadiga muscular. Deste modo, pode ser hipotetizado que alguns dos sintomas de miopatia em pacientes tratados com estatinas pode resultar de uma inabilidade parcial das mitocôndrias em fornecer a quantidade de ATP necessária para a contração muscular justamente por uma redução dos níveis de coenzima Q10. Conclusões Os resultados do presente estudo demonstraram melhoras nos sintomas de miopatia através da suplementação da coenzima Q10, sugerindo um possível papel etiológico da depleção desta coenzima na patogênese de sintomas de miopatia em indivíduos tratados com estatinas. Exemplificação da fórmula 1 Coenzima Q-10– cápsula Coenzima Q-10.........................100 mg Excipiente qsp...........................1 cápsula Mande.....cápsulas. Posologia: 1 cápsula ao dia ou a critério médico. A exemplificação de formulação contida neste artigo é apresentada como sugestão, podendo ser modificada a critério médico. 2 Farmacologia resumida Fármaco Coenzima Q10 Antioxidante.Suplemento nutricional. Classe Terapêutica • Indicações Principais Interações Medicamentosas Principais Reações Adversas Principais Precauções de Uso No tratamento de doenças nas quais exista deficiência da coenzima Q-10. • No uso tópico: para rugas e linhas de expressão. • Estresse oxidativo da pele. • Diminuição dos sintomas musculares causados pelas estatinas (ainda em estudo). • Diminuição da formação da caspa quando usado em formulações específicas (xampus) (ainda em estudo). Ainda não foram observadas interações medicamentosas entre a coenzima Q-10 e outros fármacos. Como certos medicamentos hipoglicemiantes inibem algumas coenzimas Q, teoricamente podem inibir a coenzima Q-10. Não há relatos de reações adversas graves decorrentes do uso de CoQ10 tópico. No entanto, reações alérgicas podem ocorrer, provavelmente oriundas por parte dos componentes da formulação dermatológica. • Uso oral: nas doses recomendadas, a coenzima Q-10 é praticamente destituída de efeitos colaterais, contudo, estudos mostraram que as reações adversas observadas foram: desconforto epigástrico (0,39%), anorexia (0,23%), náuseas (0,16%) e diarréia (0,12%). Elevações assintomáticas da desidrogenase láctica foram observadas em pacientes medicados com 300 mg diários, assim como moderadas elevações subclínicas da TGO. Uso Oral: • A dose recomendada é de 1 comprimido de 10 mg três vezes ao dia, ou 1 comprimido de 50 mg em dose única diária. Os comprimidos devem ser tomados após as refeições. Referências 1. 2. 3. 4. 5. Coenzima Q10. Disponível em: <www.sintetica.com.br/literaturas/COENZIMA_Q10_FARM.htm>. Acesso em 24 de setembro de 2007. Coenzima Q10. Disponível em: <http://www.eucerin.es/product/actives.html>. Acesso em 24 de setembro de 2007. Coenzima Q10. Disponível em: www.bioderme.com.br/LIPOSSOMA%20COENZIMA%20Q.doc. Acesso em 24 de setembro de 2007. Mechanisms of rhabdomyolysis with statins. Arq. Bras. Cardiol. vol.85 suppl.5 São Paulo, 2005. Cosmetics & Toiletries: Edição em português, 1990, Vol. 02, Nº 05, p. 48. Artigo Técnico Endocrinologia é parte integrante do SAP®, produto exclusivo da Racine Consultores Ltda. 3