108 Avaliação do teor e da composição química do óleo essencial de Mentha piperita (L.) Huds durante o período diurno em cultivo hidropônico Souza, W. P.1, Queiroga, C. L.2, Sartoratto, A.2 , Honório, S. L.1 Faculdade de Engenharia Agrícola FEAGRI/UNICAMP, Tecnologia Pós-Colheita, Caixa Postal 6010, 13086-970 Campinas, SP. E-mail: [email protected]. 2 Centro Pluri-disciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas - CPQBA/UNICAMP, Divisão de Fitoquímica, Caixa Postal 6171, 13081-970 Campinas,SP. E-mail: [email protected] 1 RESUMO: A composição química do óleo essencial de Mentha piperita (Lamiaceae) é extremamente importante para a indústria farmacêutica, de cosméticos e de alimentos, podendo afetar drasticamente o valor comercial do óleo. Neste estudo, foram avaliadas a produção e a composição química do óleo essencial de M. piperita cultivada em um sistema hidropônico (NFT). Os resultados indicaram teores de óleo essencial significativamente diferentes, variando entre 0,71% e 1,33%. Ao longo do dia observou-se alta produção de mentona (34-42%), mentofurano (24-30%), pulegona (14-22%), acetato de mentila (37%) e baixa produção de mentol (5-8%) que pode ser atribuída à idade da planta. Palavras-chave: Mentha piperita, hidroponia, mentol, mentona, pulegona ABSTRACT: Evaluation of the contents and chemical composition of the essential oil from Mentha piperita (L.) Huds during daytime in hydroponic cultivation. The chemical composition of Mentha piperita (Lamiaceae) oil is very important for pharmaceutical, cosmetics and flavor industries. Moreover, it can drastically affect the commercial value of the oil. In this study, the production and the chemical composition of the essential oil from M. piperita was evaluated for plants cultivated in a hydroponic system (NFT). The results indicated that essential oil contents were significantly different, ranging from 0.71% to 1.33%. During daytime, a high production of the menthone (34-42%), menthofuran (24-30%), pulegone (14-22%), menthyl acetate (3-7%) and a low menthol production (3-7%) were observed; these figures may be attributed to the plant age. Key words: Mentha piperita, hydroponics, menthol, menthone, pulegone INTRODUÇÃO Uma das espécies mais exploradas por produzir compostos terpênicos é a Mentha piperita (menta, hortelã-pimenta ou peppermint), um híbrido natural entre Mentha aquatica e M. spicata pertencente à família Lamiaceae. A menta é intensamente cultivada nas regiões temperada e tropical para produção do óleo essencial usado em indústrias alimentícias, farmacêuticas e de cosméticos. Rica em monoterpenos, a composição do óleo essencial de M. piperita é fortemente influenciada por fatores ambientais (Voirin et al., 1990). O estudo da compoção química do óleo é importante, pois qualquer variação pode afetar drasticamente seu valor comercial (Maffei et al., 1999). O óleo essencial de M. piperita é caracterizado pela presença dos monoterpenos: mentol, mentona, acetato de mentila, mentofurano, isomentona, 1,8cineol (eucaliptol), limoneno e pulegona (Hänsel et al., 1992). Com base nessas características, neste trabalho avaliaram-se o efeito do horário de colheita sobre o teor e a composição química do óleo essencial. O horário de colheita é um parâmetro relevante para a produção de óleo essencial, pois ocorrem variações no teor e na composição química Recebido para publicação em 30/01/2004. Aceito para publicação em 25/05/2005. de plantas aromáticas ao longo do dia. Rodrigues et al. (2002) verificaram no estudo de óleo essencial de folhas de Achyrocline alata, coletadas no período das 7 às 14 h, ocorrência de variação na produção de óleo essencial (2,2% a 12,4%) e no teor dos constituintes químicos. Ferracini et al. (1996) estudaram a proporção de mono/sesquiterpenos no óleo essencial de folhas e de inflorescências de Baccharis dracunculifolia e observaram alterações significativas no período das 8h às 17h. MATERIAL E MÉTODO Cultivo A M. piperita utilizada neste trabalho foi cultivada em sistema hidropônico pela técnica Nutrient Film Technique (NFT) na FEAGRI/ UNICAMP (22o49S, 47 o04O, 640 m). O cultivo hidropônico em bancada plana, foi iniciado em 20 de março de 2003, a partir do transplante de mudas reproduzidas vegetativamente em bandejas multicelulares com fibra de coco. O material vegetal original foi obtido do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas. A exsicata encontra-se depositada no herbário do Instituto de Biologia / UNICAMP, sob o número UEC 131.357. A colheita foi realizada em 14/5/2003, aos 50 dias de cultivo. Coletou-se toda a parte aérea das plantas (folhas e caules). As amostras foram Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.8, n.4, p.108-111, 2006 109 acondicionadas em sacos plásticos rotulados e armazenadas em freezer a 10 ºC. Gravimetria O teor de umidade, em base úmida (Ubu), foi obtido a partir de três repetições, com amostras de 25 g de planta in natura através de perda por dessecação a 105 °C, 72 horas. Destilação do óleo essencial em sistema Clevenger 200g de M. piperita in natura foram destiladas por hidrodestilação em sistema tipo Clevenger equipado com balão de 2l contendo 1,5L de água destilada, por um período de 1hora contada a partir da condensação da primeira gota. Os óleos foram armazenados em frascos tipo vial sob refrigeração a 15 ºC. Teor de Óleo Essencial (Teor OEbs) Obtido pela relação entre a massa de óleo essencial extraído e a massa seca de planta empregada na destilação. Considerou-se para o cálculo da massa do óleo sua densidade como 0,9 g/mL (Masada,1976). Análise Cromatográfica por CG/EM Utilizou-se um cromatógrafo a gás HP5890, acoplado a detector de massas (EM), gás de arraste Hélio 1 mL/min, split 1:40. Injeção: 1 ml (solução 10 mg de amostra / 2mL de acetato de etila bidestilado + 1 mL de padrão interno). Injetor 220 oC. Detector 300 ºC. Coluna capilar HP5 (30 m x 0,25 mm x 0,25 µm). Programa de aquecimento da coluna (Adams, 1995): 60 oC a 240 oC com 3 oC/min (7 min). Padrão interno: solução de dibutilftalato 5mg/mL. Análise Cromatográfica por CG/DIC Utilizou-se um cromatógrafo a gás HP5890 acoplado a detector de ionização de chamas (FID), gás de arraste Hélio 1 mL/min, split 1:40. Injeção: 1,5 µl (solução 10 mg de amostra/ 2 mL de acetato de etila bidestilado + 1 mL de padrão interno). Injetor 220 °C. Detector 250 ºC. Coluna capilar HP5 (30 m x 0,25 mm x 0,25 µm). Programa de aquecimento da coluna: 60 oC a 240 oC com 3 oC/min (7min). Essas condições foram empregadas para cálculo do índice de retenção (Índice de retenção de Kovats, IK) e para quantificação dos constituintes dos óleos essenciais. Análise Estatística Delineamentos inteiramente casualizados com análise da variância (ANOVA), teste F (α=5%) e teste Tukey para significância das diferenças entre médias. Para cada horário de colheita, foram tomadas duas amostras para extração do óleo e, de cada uma dessas duas amostras, tomaram-se três amostras para a avaliação do teor de umidade. RESULTADO E DISCUSSÃO O vasto campo de aplicação do óleo essencial de Mentha piperita por indústrias de alimentos, cosmética e farmacêutica tem motivado um ininterrupto estudo desta espécie. Neste trabalho avaliou-se ao longo do dia o teor de óleo essencial e a composição química de M. piperita cultivada em sistema NFT. A produção de óleo essencial de M. piperita hidropônica foi avaliada aos 50 dias de cultivo; amostras foram coletadas no período das 7h às 18h. A análise estatística dos resultados revelou diferenças significativas para os teores médios de óleo essencial ao longo do dia. Pelos dados da Figura 1, observase que o melhor período para colheita é o da manhã, entre 7h e 12h. Essa informação coincide com o horário de colheita utilizado por produtores, entre 7 e 9 horas. Altos teores de óleo essencial de Mentha piperita foram observados às 14h e às 16h, porém não justificam uma coleta comercial no período da tarde, pois alterações significativas poderão comprometer a produção total do óleo essencial. FIGURA 1. Variação do teor de óleo essencial de M. piperita ao longo do dia. Na Figura 2 é apresentado o perfil cromatográfico do óleo essencial de M. piperita. A quantificação dos constituintes químicos foi realizada empregando cromatógrafo a gás com detector de ionização de chamas (CG/DIC) e com cromatógrafo a gás com detector de massas (CG/EM), e indicaram concentrações semelhantes para os constituintes químicos dos óleos essenciais. As análises por CG/ EM permitiram identificar os constituintes majoritários do óleo, que foram confirmados por fragmentação dos Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.8, n.4, p.108-111, 2006 110 respectivos espectros de massas, comparação com dados da literatura e da biblioteca Wiley do sistema CG/EM, índice de retenção de Kovats e co-injeção de padrão autêntico (no caso, mentol). FIGURA 2. Perfil cromatográfico por CG/EM do óleo essencial de M. piperita (amostra coletada às 9h) Como a composição química é um dos parâmetros que agrega valor ao óleo essencial, avaliaram-se os constituintes químicos dos óleos essenciais de M. piperita coletada ao longo do dia. No gráfico apresentado na Figura 3 podem-se observar as variações nos teores dos monoterpenos da espécie de Mentha piperita coletada aos 50 dias de cultivo. As concentrações dos principais constituintes do óleo essencial foram: mentona (3442%), mentofurano (24-30%), pulegona (14-22%), mentol (5-8%), acetato de mentila (3-7%), 1,8-cineol (2-3%) e limoneno (0,6-7%). É visualmente perceptível no gráfico da Figura 3 que as alterações na concentração de mentona e pulegona foram similares ao longo do dia; no entanto, mentofurano apresentou um comportamento distinto e inverso às alterações observadas para mentona, este perfil está relacionado ao metabolismo da planta (Maffei et al., 1999), no qual pulegona é precursor de mentofurano, que por sua vez é precursor de mentona. O alto teor de mentona e o baixo teor de mentol podem ser atribuídos à idade da planta. Segundo a literatura (Hänsel et al., 1992; Voirin et al., 1990), folhas jovens contêm mais monoterpenos em alto estado de oxidação (por exemplo: mentona) e folhas mais velhas apresentam monoterpenos com baixo estado de oxidação (por exemplo: mentol e acetato de mentila). Nesse estudo, as plantas coletadas aos 50 dias de cultivo caracterizam-se predominantemente como folhas jovens, que apresentam alto teor de mentona, que é precursor de mentol (Maffei et al., 1999). FIGURA 3. Avaliação por CG/DIC dos principais monoterpenos do óleo essencial de M. piperita Na Figura 4, observam-se os teores médios de umidade (base úmida, Ubu), juntamente com a temperatura (bulbo seco, TempBS) dentro da estufa de cultivo. Estatisticamente, nota-se ausência de correlação entre a produção de óleo essencial de Mentha piperita e a temperatura ambiente e a umidade da planta. A avaliação do teor de umidade das plantas cultivadas em hidroponia também revelou ausência de variação significativa no período das 7h às 18h, mesmo com a temperatura ambiente variando de 18 a 27 oC (Figura 4). Essa constância no teor de umidade está relacionada ao metabolismo das plantas com capacidade de reposição da água evapotranspirada. Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.8, n.4, p.108-111, 2006 111 FIGURA 4. Teor de umidade de Mentha piperita e temperatura ambiente dentro da estufa de cultivo. CONCLUSÃO Essa pesquisa confirmou que, estatisticamente o melhor horário de colheita da Mentha piperita, visando obter o maior teor de óleo essencial é entre 7 e 12h. Essa informação coincide com o horário de colheita utilizado por produtores, entre 7 e 9h. O óleo essencial da M. piperita com 50 dias de cultivo apresentou as seguintes variações em seus constituintes químicos ao longo do dia: mentona (3442%), mentofurano (24-30%), pulegona (14-22%), mentol (5-8%), acetato de mentila (3-7%), 1,8-cineol (2-3%) e limoneno (0,6-7%). O alto teor de mentona e o baixo teor de mentol podem ser atribuídos à idade da planta. Estatisticamente observa-se ausência de correlação entre a produção de óleo essencial de Mentha piperita cultivada em hidroponia, à temperatura ambiente, e a umidade da planta. AGRADECIMENTO À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES pela concessão de bolsa de estudo de mestrado e ao Fundo de Apoio ao Ensino e à Pesquisa FAEP/UNICAMP pelo financiamento do projeto. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ADAMS, R. Identification of essential oil components by gas chromatography / mass spectroscopy. Illions: Allured Publishing, 1995. p. 469. FERRACINI, V., DA SILVA, A.G., PARAÍBA, L.C., LEITÃO FILHO, H.F., MARSAIOLI, A.J. Essential oil of seven Brazilian Baccharis: A prospective approach on their ecological role. In. P.D.S. Caligari & D.J.N. Hind (Eds). Compositae: Biology & Utilization. INTERNATIONAL COMPOSITAE CONFERENCE, 1994, Kew. Proceedings. Kew, 1994. v. 2, p. 467-474. GHERMAN, C., CULEA, M., COZAR, O. Comparative analysis of some principles of herb plants by GC/ MS. Talanta, v. 53, p. 253-262, 2000. HÄNSEL, R., KELLER, K., RIMPLER, H., SCHNEIDER, G. Haagers Handbuch der Pharmazeutischen Praxis. 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