A teoria Evolucionista de Darwin: A Origem das Espécies de 1859. *Charge retirada do site Quadrinhos de História, de autoria de Scabini e Bernard. Alunos: Millena Souza Farias Camila Carreira Alves Batista O naturalista Charles Darwin. Charles Robert Darwin foi um naturalista inglês que viveu no século XIX, considerado o maior cientista deste século pela elaboração de sua célebre obra “A origem das Espécies”, publicada em 1859 em Londres. Filho de família abastada, Darwin nunca teve de trabalhar para garantir seu sustento e, por isso, dedicou toda sua vida aos estudos. Viajou por muitos lugares, inclusive pela América do Sul, onde esteve no Brasil (Salvador e Rio de Janeiro), e no Chile, aonde presenciou um terremoto. Ao longo de suas viagens, Darwin observava e refletia sobre o universo dos seres vivos, questionando-se sobre a sobrevivência e adaptação das mais diversas espécies, inclusive do próprio ser humano. Ao publicar sua obra, Darwin sabia que os teóricos eruditos contemporâneos a ele enfrentavam obstáculos para a aceitação de suas teorias, pois tanto, precisavam demonstrar que conseguiam explicar de maneira científica os acontecimentos da criação presentes no livro do Gênesis. 1 Suas idéias evolucionistas abalaram as concepções religiosas e filosóficas, pois, de repente, o homem deixava de ser o centro da criação, e como veremos adiante, passou a ser interpretado apenas como uma estrutura orgânica que atingiu o nível superior devido às alterações ambientais e a luta pela sobrevivência. É importante ressaltar que o conceito de evolucionismo surge com a interpretação de que as espécies podem sofrer modificações, isto é, que não são completamente imutáveis. Antes dos questionamentos de Jean Baptiste Lamarck 2 sobre o princípio da fixidez das espécies e sua classificação natural, era também conhecido como transformismo, e por este motivo usaremos os dois termos ao longo deste trabalho. Darwin, a Origem das Espécies e suas influências. .A questão sobre a origem do homem remete a um amplo debate, no qual religião, filosofia e ciência sugerem diferentes respostas sobre a origem do homem e dos animais. A mitologia e a Bíblia procuram até hoje explicar o que o homem foi concebido a partir do barro, quando teria então recebido de Deus o sopro da vida, teoria que ficou conhecida como criacionismo. No século XIX, a religião ainda possuía uma influência muito forte sobre a ciência, e até o século XVIII, acreditava-se que todas as espécies existentes haviam sido concebidas por uma ordem divina, e que o homem havia sido privilegiado com o dom da inteligência. A grande maioria acreditava que a humanidade surgira a partir de Adão e Eva e que o mundo acabaria, em um futuro não muito distante, com a Parusia. Ou seja, a explicação para o surgimento da humanidade era fundamentada pela religião e até então não havia sido questionada diretamente 1 O livro do Gênesis é o primeiro livro do Antigo Testamento da Bíblia. Jean Baptiste Pierre Antoine de Monet, chevalier de Lamarck, foi um naturalista francês contemporâneo a Darwin, que desenvolveu estudos sobre a taxionomia das espécies, e criador do termo biologia para considerar em conjunto o estudo dos princípios básicos dos organismos. 2 Poucos ainda eram os homens que aceitavam a idéia do transformismo - mas tarde chamado de evolucionismo - que implantava uma espécie de alternativa científica à narração bíblica. Durante o século XIX o controle eclesiástico continuou forte sobre as instituições de ensino, ainda que a Ilustração tenha modificado isso em alguns lugares da Europa, o conhecimento europeu encontrava-se ainda profundamente apegado ao pensamento cristão – este, profundamente enraizado na cultura ocidental. A teoria de Darwin proposta em sua obra “A Origem das Espécies”, de 1859, provocou uma profunda revolução no campo científico, além de um embate com as concepções religiosas e filosóficas então vigentes. Sua teoria da seleção natural demonstrava o evolucionismo e a mutabilidade das espécies, o que permitia dispensar a intervenção divina embasada no texto bíblico. Darwin sofreu influências de diversos de seus contemporâneos, entretanto, pretendemos neste trabalho enfatizar a colaboração de Charles Lyell e Thomas Malthus. Como já dito, no século XIX a religião ainda possuía uma influência muito forte sobre a ciência, e de acordo com a Bíblia, tudo acontece muito “rápido” – como a criação do mundo em Gênesis e a sua destruição logo em seguida com o Dilúvio. Assim, acreditava-se que o relevo da Terra se modificava rapidamente, e a essa idéia de que as mudanças no planeta se davam de maneira muito rápida, deu-se o nome de catastrofismo. Charles Lyell combateu o catastrofismo, lançando em seu lugar, a idéia oposta, na qual o relevo da Terra se modifica lentamente, alterando-se gradualmente ao longo de largos períodos de tempo. Esta teoria de Lyell ficou conhecida como gradualismo geológico. Para compor sua tese, Darwin sofreu influências do gradualismo geológico de Charles Lyell3, o qual proporcionou a Darwin a reflexão sobre a relação entre o tempo (geológico) e a existência e sobrevivência das espécies. Assim como o relevo da Terra se modifica gradualmente ao passar do tempo, na interpretação de Darwin as espécies também se modificariam lentamente, o que ficou conhecido como gradualismo biológico. Em segundo lugar, Lyell também contribuiu ao contrapor a teoria do catastrofismo. Para Darwin, se o catastrofismo estivesse correto, a Terra seria muito jovem e não teria tido tempo suficiente para as espécies evoluírem, o que se torna contestável a partir do gradualismo geológico, que demonstra claramente que a Terra 3 LYELL, Sir Charles. Principles of Geology. Volume 1. London: John Murray, 1830. era na realidade muito antiga, o que permitiu a Darwin concluir que houve tempo suficiente para a evolução das espécies. Charles Lyell Gradualismo geológico. Charles Darwin 1. Gradualismo biológico. 2. Quebra do paradigma do catastrofismo. . Outra forte influência para Darwin foi a obra do economista Thomas Malthus 4, intituladas de Primeiro e Segundo Ensaios. A proposta de Malthus possuía como principal argumento a hipótese de que as populações humanas crescem de acordo com uma progressão geométrica, o que o levou a pensar sobre algumas possibilidades de tornar esse crescimento controlável já que os meios de subsistência poderiam crescer de acordo com uma progressão aritmética, o que levaria a um momento em que a falta de alimentos causaria a fome. Para Malthus, o crescimento populacional é limitado pelo aumento da mortalidade e por todas as restrições ao nascimento, ou seja, pela vulnerabilidade das populações à disponibilidade de recursos. A partir desta perspectiva, Darwin percebeu que se existem mais pessoas do que a quantidade ideal de comida para alimentá-las haveria então uma “luta pela sobrevivência”, e dessa forma ele se apropria dessa lógica para entender a natureza, ou seja, para a teoria da evolução. Dentre outras proposições, Darwin acreditava que as espécies se multiplicam em ramificações de um padrão de descendência, com espécies novas evoluindo de variações de espécies preexistentes. Segundo ele, a causa principal das mudanças evolutivas era a seleção natural, a qual agia sobre a variação em populações de organismos. Nesse sentido, as adaptações aconteciam gradualmente, provocando a evolução, e não pelo aparecimento repentino de uma nova forma, como no caso de uma criação espontânea a partir do nada. A aceitação da teoria evolucionista pelo mundo Apesar da publicação da Origem das Espécies em 1859, as teorias evolucionistas encontravam constantes obstáculos para a reformulação científica dos acontecimentos 4 MALTHUS, Thomas R. Ensaio sobre a população. 1798. Malthus é conhecido por sua teoria sobre o crescimento populacional e por sua preocupação com o futuro da humanidade. da criação. O choque entre entre essas duas correntes que que lutavam pelo controle do imaginário coletivo a respeito das origens foi marcado por diferentes graus de discussão, como a disputa teórica entre, “o evolucionismo materialista e progressista das ciências naturais e a antropogenia degeneracionista e dualista (dualismo alma versus corpo humano) defendida pela igreja cristã.” 5 A base das críticas científicas de Darwin à religião permite-nos realizar várias analogias com que Marx pretendia em sua filosófica política. Para Marx, o homem é seu próprio mundo, e nesse sentido, o são também o Estado, e a sociedade 6, a qual deve servir de instrumento para legitimar a dominação capitalista e imperialista. Para Darwin o “mundo do homem corresponde apenas à biologia humana, que em si podia explicar o progresso das sociedades de selvagens dos ancestrais até a civilização burguesa como apogeu do mundo correto”. 7 Ou seja, segundo ele o surgimento da religião é como um produto natural de uma evolução de emoções, originadas como “erros instintivos” nos animais “inferiores”. Darwin acreditava que o surgimento da religião era produto natural de uma evolução de emoções, suscitadas como “erros instintivos” nos animais “inferiores”. Assim sendo, é possível inferir que o embate entre os paradigmas teóricos vigentes nos séculos XVIII e XIX, girava em torno da busca por aceitação na sociedade européia, o que é observado até mesmo nos títulos das primeiras obras científicas sobre a origem de nossa espécie e sobre nossa organização social. Apesar de claras as tentativas de Darwin para deslegitimar a religião a fim de que a linguagem das ciências pudesse adentrar nos territórios do misticismo cristão quanto à origem do homem e dos animais, sua teoria teve de enfrentar toda uma construção ideológica que girava em torno da criação divina, tentando, sobretudo desconstruir o paradigma do criacionismo edificado pelo discurso religioso. Bibliografia 5 SANCHÉZ ARTEAGA, Juanma. O darwinismo e o sagrado na segunda metade do século XIX: alguns aspectos ideológicos e metafísicos do debate. In: Rev. Bras. Hist., Vol.28, nº.56, São Paulo 2008. pp. 371-382. 6 MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. 1974. Para entender a relação entre a produção e consumo sobre a perspectiva de Marx, deve-se ater a dialética que existe entre estes conceitos, pois a produção é imediatamente consumo logo, consumo é produção; cada termo é a representação de seu contrário. 7 Op. Cit. Sanchéz Arteaga, J. pp. 378. • CAPONI, Gustavo. El darwinismo y su otro, la teoría transformacional de la evolución. In: DOMINGUES, Heloisa M. B. [org.] Darwinismo, meio ambiente, sociedade. São Paulo: Via Lettera; Rio de Janeiro: MAST, 2009. p. 41-44 • FERREIRA, Ricardo. Quando Wallace concebeu sua lei sobre o surgimento das espécies? In: DOMINGUES, Heloisa M. B. [org.] Darwinismo, meio ambiente, sociedade. São Paulo: Via Lettera; Rio de Janeiro: MAST, 2009. pp. 41-44 • LYELL, Sir Charles. Principles of Geology. Volume 1. London: John Murray, 1830. (Disponível em Google Books: http://books.google.com/books?id=dsYQAAAAIAAJ&printsec=frontcover&hl=ptBR&output=text) • MALTHUS, Thomas R. Essay on the Principle of Population. 1798. (disponível no site: http://www.marxists.org/reference/subject/economics/malthus/) • MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Flama, 1946. 231p. • SANCHÉZ ARTEAGA,Juanma. O darwinismo e o sagrado na segunda metade do século XIX: alguns aspectos ideológicos e metafísicos do debate. In: Rev. Bras. Hist., Vol.28, nº.56, São Paulo 2008. p. 371-382. • WEST, David ª Fritz Müller, o biólogo evolucionista pioneiro no Brasil. In: DOMINGUES, Heloisa M. B. [org.] Darwinismo, meio ambiente, sociedade. São Paulo: Via Lettera; Rio de Janeiro: MAST, 2009. p.45-58.