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UTILIZAÇÃO DE PROJEÇÕES DE CENÁRIOS DO IPCC NA
CARACTERIZAÇÃO DE UMA POSSÍVEL MUDANÇA CLIMÁTICA NO BRASIL:
ASPECTOS DE CLIMA E REGIME HÍDRICO
Wagner R. Soares1,2, Jose A. Marengo1
1
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
Centro de Precisão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC)
2
[email protected]
1
INTRODUÇÃO
Desde 2001 o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) vêm
sinalizando que as emissões excessivas de dióxido de carbono (CO2), metano
(CH4) e óxido nitroso (N2O) podem provocar mudanças permanentes e
irreversíveis no clima do planeta. O ultimo relatório do IPCC em 2007 mostra que
os níveis atuais de CO2 na atmosfera são os maiores já registrados e o
aquecimento global é um fato irreversível. O principal fator é o crescente acumulo
na atmosfera desses gases de efeito estufa que são produzidos pela queima de
petróleo e derivados, carvão, agricultura e pela destruição de florestas. Se por um
lado existe o efeito estufa natural, por outro, a atividade humana esta contribuindo
para um aumento no clima do planeta. Maiores concentrações de gases de efeito
estufa forma uma barreira impedindo que o calor do Sol irradiado de volta para o
espaço fique preso na atmosfera causando um maior aquecimento da superfície
terrestre e a sensação de estarmos dentro de uma estufa.
Algumas mudanças em paisagens como o descongelamento do lago
Nigardsbreen na Noruega, derretimento do gelo na Groelândia e no monte
Kilimanjaro além de menor volume de gelo na geleira Athabasca já podem ser
observadas.
Tendências de mudanças do clima tais como: mudanças na extensão do gelo
marinho no Hemisfério Norte (HN); e a temperatura aumentando no decorrer do
Século XX no HN mais do que em qualquer século dos últimos 1.000 anos; a
amplitude da temperatura diária (t max – t min) diminuindo entre o período de
1950 até 2000; os dias com geadas diminuindo em praticamente todas as áreas
continentais durante o Século XX; a precipitação nos continentes aumentando
6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva
Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007
entre 5–10% no HN e diminuindo em várias regiões como oeste da África e partes
do Mediterrâneo já são uma realidade. Tendências negativas do número de
ciclones e anticiclones e positivas do número de ciclones extratropicais intensos
Hemisfério Sul (HS) também foram observadas.
Além disso, outros fatos como o verão de 2003 sendo o mais quente nos últimos
anos na Europa, o rigoroso inverno da Russia sendo o mais quente desde 1879
além de furacões mais intensos que tem ocorrido nos EUA vêm chamando a
atenção de pesquisadores e da sociedade, sobretudo quando ocorrem milhares de
perdas de vidas humanas. Esses sinais já manifestados podem piorar com
invernos mais quentes, mudanças no regime de chuvas, mais secas e furacões e
tempestades mais infensos num clima futuro com maior concentrações de gases
de efeito estufa. Como conseqüência, o planeta pode entrar num período de maior
número eventos extremos com grandes danos para meio ambiente, agricultura e
geração de energia. Os estudos do IPCC para o relatório de 2007, que levaram a
essas previsões, são mais precisos que os anteriores, pois utilizaram melhores
tecnologias além do avanço no conhecimento científico. Isso aumentou o grau de
certeza sobre os efeitos das mudanças no clima, do aquecimento do planeta e da
influencia humana nesses processos.
Já não é novidade que os recursos naturais são limitados e têm um papel
significativo no desenvolvimento econômico e social. O crescimento populacional
e econômico levou o homem à explorar, de forma predatória, os recursos naturais
em geral e em especial os recursos hídricos.
Até pouco tempo a preocupação estava baseada apenas na gestão de conflitos
relacionados aos diferentes usos da água. Porém, atualmente se observa um
direcionamento para a otimização dos recursos naturais respeitando os limites dos
ecossistemas locais e regionais.
Assim, fica claro que disponibilidade e uso racional desses recursos é fator
fundamental para o desenvolvimento da humanidade. Neste ponto, a utilização de
técnicas de manejo sustentável de águas são importantes afim de valorizar esse
recurso natural cada vez mais escasso no planeta .
Neste trabalho serão mostrados e discutidos alguns fatos já observados em
tendências do clima no planeta, além de projeções de clima futuro obtidos pelo
Grupo de Pesquisa em Mudança Climática (GPMC, GOF1, PROBIO) do
CPTEC/INPE que podem influenciar no regime hídrico no Brasil. Alguns resultados
utilizando modelos Globais do IPCC e modelos regionais como o HadRM3P do
Hadley Centre mostram aumento de temperaturas e mudanças no regime de
precipitação sobre a América do Sul. Áreas como a Bacia Amazônica e Nordeste
do Brasil poderão sofrer maiores aumentos de temperatura que regiões mais ao
sul do continente.
Alguns modelos do IPCC, a partir de dados de simulações de precipitação num
possível clima de aquecimento global, mostram que a região tropical do Brasil
pode sofrer com um clima mais seco. Já a tendência na região Sul/Sudeste do
País, poderá ser um clima mais úmido sobretudo devido ao transporte de umidade
da Bacia Amazônica para esta região.
Deve exister uma constante preocupação relacionada a possiveis mudanças no
regime hidrológico uma vez que o recurso água tem uma importância primordial.
Tecnicas de captação e manejo de água de chuva, que possuem baixo custo
6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva
Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007
financeiro e operacional, poderão contribuir amenizando os efeitos de um possível
clima futuro de aquecimento global principalmente em regiões mais vulneráveis.
MATERIAIS E MÉTODOS
Neste estudo foram utilizados cinco modelos globais do IPCC e também
simulações a partir de modegem regional do CPTEC/INPE (HadRM3P). As
simulações fora realizadas utilizando-se os cenários de emissões SRES do IPCC.
Os modelos gobais utilizados foram os seguintes: HadCM3 da Inglaterra, o modelo
CSIRO da Austrália, o modelo GFDL R30 dos EUA, o modelo CCCma do Canadá
e o modelo CCSR/NIES do Japão. As projeções de temperatura e precipitação
utilizadas neste estudo foram obtidas para cada modelo a partir de cenários de
possíveis emissões futuras de gases de efeito estufa. Estes cenários são
denominados SRES (Special Report on Emissions Scenarios) A2 (alta emissão) e
B2 (baixa emissão) os quais foram implementados pelo IPCC. Na avaliação dos
resultados foram utilizados quatro períodos: o período base (1961-1990), e três
timeslices (2020, 2050 e 2080 – SRES A2 e B2). Também foi obtida a média das
projeções dos cinco modelos. Além dos dados do IPCC também foram utilizados
dados de temperatura do CRU (Climate Research Unit).
RESULTADOS
Cenários climáticos do futuro para o América do Sul:
Anomalias anuais de temperatura em relação ao CRU
Em relação às diferenças observadas, para o período base, na comparação de
cada modelo em relação ao CRU se observa na FIG.1 que o modelo japonês
coloca temperaturas mais baixas do que o CRU no lado leste dos Andes e
temperaturas mais altas nas regiões norte e nordeste, próximo a costa brasileira.
O modelo CSIRO mostra temperaturas mais baixas em grande parte do continente
Sul-americano com exceção das regiões Sul e Sudeste do Brasil onde se observa
valores de temperatura mais elevados que os dados observados. O modelo GFDL
mostra diferenças positivas de temperatura mais evidentes, sobretudo na região
norte e sobre o estado do Paraná. O modelo Canadense mostra um clima durante
o período base mais frio quando se compara as observações do CRU. Finalmente
o modelo HadCM3 mostra diferenças sobre a região norte (mais quente) e sobre o
estado de Minas Gerais (mais frio). Aparentemente este modelo é o que mais se
aproxima dos dados observados do CRU devido a maior porção de área branca
na figura e aos valores mais baixos observados nas diferenças.
6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva
Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007
FIG. 1. Anomalias (Modelo menos CRU) anuais de temperatura em C.
Anomalias de temperatura de cada modelo em relação ao período base do
próprio modelo
Em relação as diferenças individuais de cada modelo (FIG.2) se obteve que: Na
comparação de cada timeslice e cenário SRES em relação ao período base, se
observa de modo geral, que devido a maior concentração de gases de efeito
estufa o cenário SRES A2 parece colocar maior aquecimento sobre a América do
Sul quando se compara ao cenário B2. O modelo HadCM3 no timeslice em 2080
projeta maiores temperaturas (maiores anomalias) sobre a região Amazônica. São
observadas diferenças nas magnitudes e na espacialização do aquecimento sobre
a América do Sul, por ex: enquanto o modelo CCSR/NIES coloca maior
aquecimento sobre a região central da América do sul, o modelo CSIRO coloca
maior aquecimento na região mais ao sul. No geral, as figuras mostram gradual
aquecimento em relação aos timeslices e em relação aos SRES.
Projeções de temperatura anual
As projeções de temperatura média dos cinco modelos (FIG.4) mostram um
possível clima mais quente sobre a região Amazônica no timeslice em 2080 e no
cenário SRES A2 com temperaturas entre 30 e 33 oC. Na região mais ao sul o
cenário de aquecimento é menos evidente quando se compara as projeções de
clima futuro com o clima do presente (1961 até 1990). A região Nordeste também
sofre um aquecimento entre 3 e 4 oC em relaçao ao clima atual.
6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva
Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007
CCSR/NIES
SRES B2
20s
CSIRO
SRES B2
20s
GFDL
SRES B2
20s
CCCma
SRES B2
20s
CCSR/NIES
SRES A2
20s
CSIRO
SRES A2
20s
GFDL
SRES A2
20s
CCCma
SRES A2
20s
HadCM3
SRES A2
20s
CCSR/NIES
SRES B2
50s
CSIRO
SRES B2
50s
GFDL
SRES B2
50s
CCCma
SRES B2
50s
HadCM3
SRES B2
50s
CCSR/NIES
SRES A2
50s
CSIRO
SRES A2
50s
GFDL
SRES A2
50s
CCCma
SRES A2
50s
CCSR/NIES
SRES B2
80s
CSIRO
SRES B2
80s
GFDL
SRES B2
80s
CCCma
SRES B2
80s
CCSR/NIES
SRES A2
80s
CSIRO
SRES A2
80s
GFDL
SRES
A2
80s
CCCma
SRES A2
80s
HadCM3
SRES B2
20s
HadCM3
SRES A2
50s
HadCM3
SRES B2
80s
HadCM3
SRES A2
80s
FIG. 3. Anomalias (modelo menos modelo) anuais de temperatura em C. Os
timeslices são em 2020, 2050 e 2080.
a
b
c
d
e
f
g
FIG. 4. Projeções de temperatura anual. (a) media para o Períod de 1961 até
1990. (b, c, d, e, f e g) projeções para o cenario B2 em 2020, A2 em 2020, B2 em
2050, A2 em 2050, B2 em 2080 e A2 em 2080 respectivamente. A unidade é C.
6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva
Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007
Precipitação
Como exemplo, consideremos o modelo HadCM3 e os cenários A2 e B2. O
período DJF (FIG.5) representa a estação chuvosa em boa parte das regiões
Sudeste e Centro Oeste, assim como no Sul da Amazônia, enquanto que o
período MAM representa a estação chuvosa do Norte da Amazônia e do Nordeste.
A Fig.5 mostra uma diminuição na chuva de verão na Amazônia e no Nordeste,
que aparece mais forte no cenário A2 em relação ao cenário B2. A ZCAS (Zona de
Convergencia do Atlântico Sul) aparece mais intensa no cenário B2 em relação ao
A2 durante o verão. Observa-se também (não foi observado nas saídas de outros
modelos do IPCC) que a Região Sul do Brasil mostra incrementos na chuva
sazonal e anual. A Zona de Convergência Intertropical ZCIT aparece mais intensa
e deslocada ao norte de sua posição climática durante DJF e MAM, deixando
anomalias de chuva no Nordeste e norte-centro da Amazônia durante estas
estações em 2020. Para a primavera (SON) e inverno (JJA) no timeslice em 2020
uma tendência à diminuição na chuva da primavera na Amazônia central (SON) e
um possível adiantamento da estação chuvosa no SE do Brasil como mostrado
pelas anomalias positivas de chuva (SON), talvez mostrando uma configuração
tipo ZCAS durante a primavera de 2020 no cenário A2. Em JJA a ZCIT aparece
mais intensa próxima 5S no Pacífico e Atlântico tropical.
FIG. 5. Projeções de anomalias de chuva para DJF e MAM com referência ao
período base 1961-90 para América do Sul. Os cenários são A2 e B2 pelo modelo
HadCM3. O time-slice é centrado em 2020.
6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva
Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007
Anomalias da Média de cinco modelos do IPCC
A partir das anomalias para cada timeslice (FIG.6), em relação à media 19611990, se observa que a média obtida dos cinco modelos mostra para a região do
Nordeste brasileiro (NEB) um aquecimento em torno de 1, 2 e 3.5oC para o
cenário A2 nos timeslices em 2020, 2050 e 2080 respectivamente. No NEB
durante o timeslice em 2020 se observa um possível clima mais úmido enquanto
que nas outras regiões o sinal de umidade não é forte. Para a região Amazônica
em 2080 o aquecimento chega a ser maior que 4.8oC em junho/julho/agosto. Para
o Pantanal, maior aquecimento é observado para projeções durante
junho/julho/agosto e setembro/outubro/novembro no SRES A2 com timeslice em
2080. A região da bacia do Prata mostra menor aquecimento em relação às outras
regiões, com maiores valores projetados para setembro/outubro/novembro no
cenário A2. As projeções para o NEB e Prata mostram um clima mais úmido e
quente pois são positivas as anomalias de chuva e temperatura. Já a Amazônia
teria um clima mais quente e seco (anomalias positivas de temperatura e
negativas de precipitação). O Pantanal mostra uma média anual neutra (valores
em torno do eixo dos Y) em relação à chuva, sendo observadas diferenças
sazonais com períodos mais secos ou mais úmidos.
NEB - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2020-Período Base)
1
0,8
+ quente
+ úmido
m m .d -1
0,2
1
+ quente
+ úmido
0,6
0,4
0,6
0,4
0,2
0,2
0
0
0
-0,2
-0,2
-0,2
-0,4
-0,4
-0,4
-0,6
-0,6
-0,6
-0,8
-0,8
-1
-1
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
-0,8
-1
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
C
3
3,5
4
4,5
5
-1
0,8
0,8
0,8
0,6
0,6
0,6
0,4
0,4
0,4
0,2
0,2
+
-0,4
-0,6
0
-0,2
-0,6
-0,8
-1
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
C
-0,8
2,5
3
3,5
4
4,5
5
-1
0,6
0,4
0,4
0,4
0,2
0,2
0,2
m m . d -1
-0,4
-0,6
-0,8
-0,8
-1
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
C
0,6
0,4
m m .d -1
0,2
+ quente
-0,4
-0,6
-0,8
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
C
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
2,5
3
3,5
4
4,5
5
5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
4,5
5
+ quente
+ úmido
+ quente
+ seco
-0,6
-0,8
-1
5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
C
1
0
0
0
0
-m
+ quente
0
m
- - 0 0 1 1 2 2 3 3 4 4 5
C
+
+
-0,2
-1
-0,5
0,5
C
0,8
0
+ quente
+ seco
-1
0
Prata - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2080-Período Base)
Prata - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia:
Prata - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2020-Período Base)
1
4,5
0
-0,2
-0,4
m m .d -1
m m .d - 1
0
-0,2
-0,6
-1
m m . d -1
1
0,8
+
-0,5
C
1
+ quente
4
Pantanal - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2080-Período Base)
0,6
-0,4
3,5
C
0,8
-0,2
3
Pantanal - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2050-Período Base)
0,6
0,8
2,5
+ quente
+ seco
-0,6
-1
Pantanal - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2020-Período Base)
1
0
2
0
-0,4
-1
0,5
1,5
-0,2
+ quente
+ seco
-0,4
-0,8
0
1
0,2
m m .d - 1
m m .d -1
+ quente
-0,5
0,5
C
1
-1
0
Amazônia - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2080-Período Base)
1
-0,2
-0,5
Amazônia - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2050-Período Base)
1
m m . d -1
2,5
C
Amazônia - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2020-Período Base)
0
+ quente
+ úmido
0,8
m m .d - 1
0,4
m m .d - 1
0,6
NEB - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2080-Período Base)
NEB - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2050-Período Base)
1
0,8
1
+ quente
+ úmido
0,8
0,6
0,4
0,2
0
-0,2
-0,4
-0,6
-0,8
-1
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
C
FIG. 6. Caracteziração do clima futuro. Diagramas de dispersão T x P. Os
timeslices são em 2020, 2050 e 2080.
6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva
Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007
Eventos Extremos
As simulações para o clima do presente mostram aumentos de até 12 dias em
áreas do centro oeste e do sul do Brasil e na Amazônia, mais o padrão é bastante
espalhado. Para áreas do Sudeste sobre MG o modelo simula tendências
negativas para os índices R10, R95P, RX5 e CDD, que não esta de acordo com
as observações. Aparentemente os melhores resultados foram obtidos para CDD.
Os padrões são muito semelhantes com diminuição dos dias secos consecutivos
no sudeste do Brasil, tendência fraca no Uruguai e Argentina e aumento leve no
Sul do Peru, Bolívia e norte do Chile.
No cenário B2, o modelo HadRM3p aponta para um aumento na freqüência de
extremos de chuva na Amazônia central e oeste, no Sudeste e Sul do Brasil,
assim como reduções no Nordeste. No caso do Nordeste e na Amazônia do leste
as projeções para o futuro apontam para um aumento na freqüência de dias secos
consecutivos, que são áreas onde o aumento na freqüência de eventos extremos
de chuva para o futuro é pouca. No cenário A2 as tendências são similares ao
cenário B2, porém, as intensidades são maiores, especialmente no oeste da
Amazônia, centro oeste e sudeste e sul do Brasil. O Nordeste e oeste da
Amazônia são afetados por reduções de extremos de chuva, porém o padrão mais
importante é o aumento na freqüência de dias secos consecutivos (e tendências
de aumentos de veranicos) o que implica danos sérios para a agricultura e
tecnicas como manejo e captação de água de chuva.
FIG. 7. Tendências projetadas pelo modelo regional HadRM3, cenário A2, período
2071-2100 de dias com chuva maiores a 10 mm R10, dias com chuva acima do
95th percentil R95P, eventos de chuva intensa durante 5 dias consecutivos RX95P
6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva
Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007
e dias secos consecutivos CDD na América do Sul. Escala de cores aparece na
parte direita de cada mapa.
Considerações finais e conclusões
Mudanças climáticas são associadas ao aumento da concentração de gases de
efeito estufa, e também em mudanças do uso da terra. Ainda que a contribuição
do Brasil para a concentração global de gases de efeito estufa seja menor que a
dos países industrializados, e contribuição devido a queimadas (fumaça e
aerossóis) é bastante elevada. Se considerarmos os cenários climáticos discutidos
como possíveis, as elevadas taxas de aquecimento e a diminuição da precipitação
em vastas áreas da Amazônia implicariam num aumento da respiração das
plantas e o fechamento dos estômatos, conduzindo por fim ao colapso da floresta.
Este cenário é gerado pelo modelo do Hadley Centre e conduziria a uma
“savanização” da Amazônia, que passaria a ter um clima mais do tipo do Cerrado
a meados de 2050. No Nordeste e na Bacia do Prata, ainda que a chuva tenderia
a aumentar no futuro, as elevadas temperaturas do ar simuladas pelos modelos
poderiam, de alguma forma, comprometer a disponibilidade de água para
agricultura, consumo ou geração de energia, devido a um acréscimo previsto na
evaporação ou evapotranspiração. Governos e iniciativa privada precisam oferecer
e ampliar mecanismos favoráveis como infraestrutura e logistica à administração
da água para diversos usos a partir de técnicas de manejo. Um prolongamento na
estação seca em algumas regiões do Brasil poderia comprometer o balanço
hidrológico regional e assim comprometer atividades humanas como a irrigação.
Ainda que se tenha alguma previsão de aumento de chuva no futuro em certas
regiões, uma alternativa viável é a utilização de técnicas de manejo associadas a
captação de água da chuva. As tendências simuladas pelos modelos globais e o
modelo regional HadRM3P sugerem um cenário de clima futuro mais quente em
grandes áreas da Amazônia, Centro oeste e Nordeste do Brasil. Regimes
hidrológicos poderão sofrer as consequencias dessa mudança climática e governo
e sociedade devem juntos lidar com o manejo sustentável de águas.
Considerando o clima atual, não existe um padrão claro para definir regiões de
fortes mudanças nos extremos de chuvas considerando uma comparação entre o
clima atual observado e simulado pelo modelo HadRM3. Em relação aos extremos
e chuva no clima do futuro, os modelos projetam para o futuro ao aumento na
freqüência de eventos extremos de chuva na Amazônia do oeste, sudeste, centro
oeste do Brasil, e aumento na freqüência de dias secos consecutivos no nordeste
(acompanhados de uma redução de eventos extremos de chuva). Isso implica
aumento na freqüência de veranicos nesta região, o que fica mais intenso no
cenário pessimista A2. Pode se concluir que para os extremos de chuva, de
maneira geral, os modelos usados tiveram pouca habilidade em simular estes
índices. Porém, todos os modelos concordam que não há regiões com grandes
mudanças nestes índices o que pode alterar o regime hídrico em nível local e
regional. A questão de vulnerabilidade e adaptação deve ser tratada de maneira
pragmática, inclusive com o desenvolvimento de modelos que levem em conta as
necessidades dos países em desenvolvimento. Nesse esforço, é crucial a
participação de técnicos e cientistas, bem como o fortalecimento das instituições
dos países em desenvolvimento. A experiência brasileira nesse domínio mostra a
6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva
Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007
necessidade de se ajustar os métodos aplicáveis aos cenários de mudança do
clima resultantes de modelos globais para projeções de escopo regional ou local.
Esse ajuste seria útil para estudos sobre os impactos da mudança do clima em
áreas como gerenciamento de recursos hídricos, ecossistemas, atividades
agrícolas e mesmo a propagação de doenças. Estudos mais detalhados de
vulnerabilidade e riscos são necessários afim de se obter informações para ações
governamentais em termode de adaptação e mitigação.
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