UTILIZAÇÃO DE PROJEÇÕES DE CENÁRIOS DO IPCC NA CARACTERIZAÇÃO DE UMA POSSÍVEL MUDANÇA CLIMÁTICA NO BRASIL: ASPECTOS DE CLIMA E REGIME HÍDRICO Wagner R. Soares1,2, Jose A. Marengo1 1 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) Centro de Precisão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) 2 [email protected] 1 INTRODUÇÃO Desde 2001 o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) vêm sinalizando que as emissões excessivas de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) podem provocar mudanças permanentes e irreversíveis no clima do planeta. O ultimo relatório do IPCC em 2007 mostra que os níveis atuais de CO2 na atmosfera são os maiores já registrados e o aquecimento global é um fato irreversível. O principal fator é o crescente acumulo na atmosfera desses gases de efeito estufa que são produzidos pela queima de petróleo e derivados, carvão, agricultura e pela destruição de florestas. Se por um lado existe o efeito estufa natural, por outro, a atividade humana esta contribuindo para um aumento no clima do planeta. Maiores concentrações de gases de efeito estufa forma uma barreira impedindo que o calor do Sol irradiado de volta para o espaço fique preso na atmosfera causando um maior aquecimento da superfície terrestre e a sensação de estarmos dentro de uma estufa. Algumas mudanças em paisagens como o descongelamento do lago Nigardsbreen na Noruega, derretimento do gelo na Groelândia e no monte Kilimanjaro além de menor volume de gelo na geleira Athabasca já podem ser observadas. Tendências de mudanças do clima tais como: mudanças na extensão do gelo marinho no Hemisfério Norte (HN); e a temperatura aumentando no decorrer do Século XX no HN mais do que em qualquer século dos últimos 1.000 anos; a amplitude da temperatura diária (t max – t min) diminuindo entre o período de 1950 até 2000; os dias com geadas diminuindo em praticamente todas as áreas continentais durante o Século XX; a precipitação nos continentes aumentando 6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007 entre 5–10% no HN e diminuindo em várias regiões como oeste da África e partes do Mediterrâneo já são uma realidade. Tendências negativas do número de ciclones e anticiclones e positivas do número de ciclones extratropicais intensos Hemisfério Sul (HS) também foram observadas. Além disso, outros fatos como o verão de 2003 sendo o mais quente nos últimos anos na Europa, o rigoroso inverno da Russia sendo o mais quente desde 1879 além de furacões mais intensos que tem ocorrido nos EUA vêm chamando a atenção de pesquisadores e da sociedade, sobretudo quando ocorrem milhares de perdas de vidas humanas. Esses sinais já manifestados podem piorar com invernos mais quentes, mudanças no regime de chuvas, mais secas e furacões e tempestades mais infensos num clima futuro com maior concentrações de gases de efeito estufa. Como conseqüência, o planeta pode entrar num período de maior número eventos extremos com grandes danos para meio ambiente, agricultura e geração de energia. Os estudos do IPCC para o relatório de 2007, que levaram a essas previsões, são mais precisos que os anteriores, pois utilizaram melhores tecnologias além do avanço no conhecimento científico. Isso aumentou o grau de certeza sobre os efeitos das mudanças no clima, do aquecimento do planeta e da influencia humana nesses processos. Já não é novidade que os recursos naturais são limitados e têm um papel significativo no desenvolvimento econômico e social. O crescimento populacional e econômico levou o homem à explorar, de forma predatória, os recursos naturais em geral e em especial os recursos hídricos. Até pouco tempo a preocupação estava baseada apenas na gestão de conflitos relacionados aos diferentes usos da água. Porém, atualmente se observa um direcionamento para a otimização dos recursos naturais respeitando os limites dos ecossistemas locais e regionais. Assim, fica claro que disponibilidade e uso racional desses recursos é fator fundamental para o desenvolvimento da humanidade. Neste ponto, a utilização de técnicas de manejo sustentável de águas são importantes afim de valorizar esse recurso natural cada vez mais escasso no planeta . Neste trabalho serão mostrados e discutidos alguns fatos já observados em tendências do clima no planeta, além de projeções de clima futuro obtidos pelo Grupo de Pesquisa em Mudança Climática (GPMC, GOF1, PROBIO) do CPTEC/INPE que podem influenciar no regime hídrico no Brasil. Alguns resultados utilizando modelos Globais do IPCC e modelos regionais como o HadRM3P do Hadley Centre mostram aumento de temperaturas e mudanças no regime de precipitação sobre a América do Sul. Áreas como a Bacia Amazônica e Nordeste do Brasil poderão sofrer maiores aumentos de temperatura que regiões mais ao sul do continente. Alguns modelos do IPCC, a partir de dados de simulações de precipitação num possível clima de aquecimento global, mostram que a região tropical do Brasil pode sofrer com um clima mais seco. Já a tendência na região Sul/Sudeste do País, poderá ser um clima mais úmido sobretudo devido ao transporte de umidade da Bacia Amazônica para esta região. Deve exister uma constante preocupação relacionada a possiveis mudanças no regime hidrológico uma vez que o recurso água tem uma importância primordial. Tecnicas de captação e manejo de água de chuva, que possuem baixo custo 6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007 financeiro e operacional, poderão contribuir amenizando os efeitos de um possível clima futuro de aquecimento global principalmente em regiões mais vulneráveis. MATERIAIS E MÉTODOS Neste estudo foram utilizados cinco modelos globais do IPCC e também simulações a partir de modegem regional do CPTEC/INPE (HadRM3P). As simulações fora realizadas utilizando-se os cenários de emissões SRES do IPCC. Os modelos gobais utilizados foram os seguintes: HadCM3 da Inglaterra, o modelo CSIRO da Austrália, o modelo GFDL R30 dos EUA, o modelo CCCma do Canadá e o modelo CCSR/NIES do Japão. As projeções de temperatura e precipitação utilizadas neste estudo foram obtidas para cada modelo a partir de cenários de possíveis emissões futuras de gases de efeito estufa. Estes cenários são denominados SRES (Special Report on Emissions Scenarios) A2 (alta emissão) e B2 (baixa emissão) os quais foram implementados pelo IPCC. Na avaliação dos resultados foram utilizados quatro períodos: o período base (1961-1990), e três timeslices (2020, 2050 e 2080 – SRES A2 e B2). Também foi obtida a média das projeções dos cinco modelos. Além dos dados do IPCC também foram utilizados dados de temperatura do CRU (Climate Research Unit). RESULTADOS Cenários climáticos do futuro para o América do Sul: Anomalias anuais de temperatura em relação ao CRU Em relação às diferenças observadas, para o período base, na comparação de cada modelo em relação ao CRU se observa na FIG.1 que o modelo japonês coloca temperaturas mais baixas do que o CRU no lado leste dos Andes e temperaturas mais altas nas regiões norte e nordeste, próximo a costa brasileira. O modelo CSIRO mostra temperaturas mais baixas em grande parte do continente Sul-americano com exceção das regiões Sul e Sudeste do Brasil onde se observa valores de temperatura mais elevados que os dados observados. O modelo GFDL mostra diferenças positivas de temperatura mais evidentes, sobretudo na região norte e sobre o estado do Paraná. O modelo Canadense mostra um clima durante o período base mais frio quando se compara as observações do CRU. Finalmente o modelo HadCM3 mostra diferenças sobre a região norte (mais quente) e sobre o estado de Minas Gerais (mais frio). Aparentemente este modelo é o que mais se aproxima dos dados observados do CRU devido a maior porção de área branca na figura e aos valores mais baixos observados nas diferenças. 6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007 FIG. 1. Anomalias (Modelo menos CRU) anuais de temperatura em C. Anomalias de temperatura de cada modelo em relação ao período base do próprio modelo Em relação as diferenças individuais de cada modelo (FIG.2) se obteve que: Na comparação de cada timeslice e cenário SRES em relação ao período base, se observa de modo geral, que devido a maior concentração de gases de efeito estufa o cenário SRES A2 parece colocar maior aquecimento sobre a América do Sul quando se compara ao cenário B2. O modelo HadCM3 no timeslice em 2080 projeta maiores temperaturas (maiores anomalias) sobre a região Amazônica. São observadas diferenças nas magnitudes e na espacialização do aquecimento sobre a América do Sul, por ex: enquanto o modelo CCSR/NIES coloca maior aquecimento sobre a região central da América do sul, o modelo CSIRO coloca maior aquecimento na região mais ao sul. No geral, as figuras mostram gradual aquecimento em relação aos timeslices e em relação aos SRES. Projeções de temperatura anual As projeções de temperatura média dos cinco modelos (FIG.4) mostram um possível clima mais quente sobre a região Amazônica no timeslice em 2080 e no cenário SRES A2 com temperaturas entre 30 e 33 oC. Na região mais ao sul o cenário de aquecimento é menos evidente quando se compara as projeções de clima futuro com o clima do presente (1961 até 1990). A região Nordeste também sofre um aquecimento entre 3 e 4 oC em relaçao ao clima atual. 6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007 CCSR/NIES SRES B2 20s CSIRO SRES B2 20s GFDL SRES B2 20s CCCma SRES B2 20s CCSR/NIES SRES A2 20s CSIRO SRES A2 20s GFDL SRES A2 20s CCCma SRES A2 20s HadCM3 SRES A2 20s CCSR/NIES SRES B2 50s CSIRO SRES B2 50s GFDL SRES B2 50s CCCma SRES B2 50s HadCM3 SRES B2 50s CCSR/NIES SRES A2 50s CSIRO SRES A2 50s GFDL SRES A2 50s CCCma SRES A2 50s CCSR/NIES SRES B2 80s CSIRO SRES B2 80s GFDL SRES B2 80s CCCma SRES B2 80s CCSR/NIES SRES A2 80s CSIRO SRES A2 80s GFDL SRES A2 80s CCCma SRES A2 80s HadCM3 SRES B2 20s HadCM3 SRES A2 50s HadCM3 SRES B2 80s HadCM3 SRES A2 80s FIG. 3. Anomalias (modelo menos modelo) anuais de temperatura em C. Os timeslices são em 2020, 2050 e 2080. a b c d e f g FIG. 4. Projeções de temperatura anual. (a) media para o Períod de 1961 até 1990. (b, c, d, e, f e g) projeções para o cenario B2 em 2020, A2 em 2020, B2 em 2050, A2 em 2050, B2 em 2080 e A2 em 2080 respectivamente. A unidade é C. 6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007 Precipitação Como exemplo, consideremos o modelo HadCM3 e os cenários A2 e B2. O período DJF (FIG.5) representa a estação chuvosa em boa parte das regiões Sudeste e Centro Oeste, assim como no Sul da Amazônia, enquanto que o período MAM representa a estação chuvosa do Norte da Amazônia e do Nordeste. A Fig.5 mostra uma diminuição na chuva de verão na Amazônia e no Nordeste, que aparece mais forte no cenário A2 em relação ao cenário B2. A ZCAS (Zona de Convergencia do Atlântico Sul) aparece mais intensa no cenário B2 em relação ao A2 durante o verão. Observa-se também (não foi observado nas saídas de outros modelos do IPCC) que a Região Sul do Brasil mostra incrementos na chuva sazonal e anual. A Zona de Convergência Intertropical ZCIT aparece mais intensa e deslocada ao norte de sua posição climática durante DJF e MAM, deixando anomalias de chuva no Nordeste e norte-centro da Amazônia durante estas estações em 2020. Para a primavera (SON) e inverno (JJA) no timeslice em 2020 uma tendência à diminuição na chuva da primavera na Amazônia central (SON) e um possível adiantamento da estação chuvosa no SE do Brasil como mostrado pelas anomalias positivas de chuva (SON), talvez mostrando uma configuração tipo ZCAS durante a primavera de 2020 no cenário A2. Em JJA a ZCIT aparece mais intensa próxima 5S no Pacífico e Atlântico tropical. FIG. 5. Projeções de anomalias de chuva para DJF e MAM com referência ao período base 1961-90 para América do Sul. Os cenários são A2 e B2 pelo modelo HadCM3. O time-slice é centrado em 2020. 6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007 Anomalias da Média de cinco modelos do IPCC A partir das anomalias para cada timeslice (FIG.6), em relação à media 19611990, se observa que a média obtida dos cinco modelos mostra para a região do Nordeste brasileiro (NEB) um aquecimento em torno de 1, 2 e 3.5oC para o cenário A2 nos timeslices em 2020, 2050 e 2080 respectivamente. No NEB durante o timeslice em 2020 se observa um possível clima mais úmido enquanto que nas outras regiões o sinal de umidade não é forte. Para a região Amazônica em 2080 o aquecimento chega a ser maior que 4.8oC em junho/julho/agosto. Para o Pantanal, maior aquecimento é observado para projeções durante junho/julho/agosto e setembro/outubro/novembro no SRES A2 com timeslice em 2080. A região da bacia do Prata mostra menor aquecimento em relação às outras regiões, com maiores valores projetados para setembro/outubro/novembro no cenário A2. As projeções para o NEB e Prata mostram um clima mais úmido e quente pois são positivas as anomalias de chuva e temperatura. Já a Amazônia teria um clima mais quente e seco (anomalias positivas de temperatura e negativas de precipitação). O Pantanal mostra uma média anual neutra (valores em torno do eixo dos Y) em relação à chuva, sendo observadas diferenças sazonais com períodos mais secos ou mais úmidos. NEB - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2020-Período Base) 1 0,8 + quente + úmido m m .d -1 0,2 1 + quente + úmido 0,6 0,4 0,6 0,4 0,2 0,2 0 0 0 -0,2 -0,2 -0,2 -0,4 -0,4 -0,4 -0,6 -0,6 -0,6 -0,8 -0,8 -1 -1 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 -0,8 -1 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 C 3 3,5 4 4,5 5 -1 0,8 0,8 0,8 0,6 0,6 0,6 0,4 0,4 0,4 0,2 0,2 + -0,4 -0,6 0 -0,2 -0,6 -0,8 -1 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 C -0,8 2,5 3 3,5 4 4,5 5 -1 0,6 0,4 0,4 0,4 0,2 0,2 0,2 m m . d -1 -0,4 -0,6 -0,8 -0,8 -1 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 C 0,6 0,4 m m .d -1 0,2 + quente -0,4 -0,6 -0,8 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 C 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 4,5 5 + quente + úmido + quente + seco -0,6 -0,8 -1 5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 C 1 0 0 0 0 -m + quente 0 m - - 0 0 1 1 2 2 3 3 4 4 5 C + + -0,2 -1 -0,5 0,5 C 0,8 0 + quente + seco -1 0 Prata - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2080-Período Base) Prata - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Prata - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2020-Período Base) 1 4,5 0 -0,2 -0,4 m m .d -1 m m .d - 1 0 -0,2 -0,6 -1 m m . d -1 1 0,8 + -0,5 C 1 + quente 4 Pantanal - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2080-Período Base) 0,6 -0,4 3,5 C 0,8 -0,2 3 Pantanal - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2050-Período Base) 0,6 0,8 2,5 + quente + seco -0,6 -1 Pantanal - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2020-Período Base) 1 0 2 0 -0,4 -1 0,5 1,5 -0,2 + quente + seco -0,4 -0,8 0 1 0,2 m m .d - 1 m m .d -1 + quente -0,5 0,5 C 1 -1 0 Amazônia - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2080-Período Base) 1 -0,2 -0,5 Amazônia - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2050-Período Base) 1 m m . d -1 2,5 C Amazônia - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2020-Período Base) 0 + quente + úmido 0,8 m m .d - 1 0,4 m m .d - 1 0,6 NEB - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2080-Período Base) NEB - Média de 5 modelos do IPCC (Anomalia: Timeslice em 2050-Período Base) 1 0,8 1 + quente + úmido 0,8 0,6 0,4 0,2 0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 C FIG. 6. Caracteziração do clima futuro. Diagramas de dispersão T x P. Os timeslices são em 2020, 2050 e 2080. 6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007 Eventos Extremos As simulações para o clima do presente mostram aumentos de até 12 dias em áreas do centro oeste e do sul do Brasil e na Amazônia, mais o padrão é bastante espalhado. Para áreas do Sudeste sobre MG o modelo simula tendências negativas para os índices R10, R95P, RX5 e CDD, que não esta de acordo com as observações. Aparentemente os melhores resultados foram obtidos para CDD. Os padrões são muito semelhantes com diminuição dos dias secos consecutivos no sudeste do Brasil, tendência fraca no Uruguai e Argentina e aumento leve no Sul do Peru, Bolívia e norte do Chile. No cenário B2, o modelo HadRM3p aponta para um aumento na freqüência de extremos de chuva na Amazônia central e oeste, no Sudeste e Sul do Brasil, assim como reduções no Nordeste. No caso do Nordeste e na Amazônia do leste as projeções para o futuro apontam para um aumento na freqüência de dias secos consecutivos, que são áreas onde o aumento na freqüência de eventos extremos de chuva para o futuro é pouca. No cenário A2 as tendências são similares ao cenário B2, porém, as intensidades são maiores, especialmente no oeste da Amazônia, centro oeste e sudeste e sul do Brasil. O Nordeste e oeste da Amazônia são afetados por reduções de extremos de chuva, porém o padrão mais importante é o aumento na freqüência de dias secos consecutivos (e tendências de aumentos de veranicos) o que implica danos sérios para a agricultura e tecnicas como manejo e captação de água de chuva. FIG. 7. Tendências projetadas pelo modelo regional HadRM3, cenário A2, período 2071-2100 de dias com chuva maiores a 10 mm R10, dias com chuva acima do 95th percentil R95P, eventos de chuva intensa durante 5 dias consecutivos RX95P 6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007 e dias secos consecutivos CDD na América do Sul. Escala de cores aparece na parte direita de cada mapa. Considerações finais e conclusões Mudanças climáticas são associadas ao aumento da concentração de gases de efeito estufa, e também em mudanças do uso da terra. Ainda que a contribuição do Brasil para a concentração global de gases de efeito estufa seja menor que a dos países industrializados, e contribuição devido a queimadas (fumaça e aerossóis) é bastante elevada. Se considerarmos os cenários climáticos discutidos como possíveis, as elevadas taxas de aquecimento e a diminuição da precipitação em vastas áreas da Amazônia implicariam num aumento da respiração das plantas e o fechamento dos estômatos, conduzindo por fim ao colapso da floresta. Este cenário é gerado pelo modelo do Hadley Centre e conduziria a uma “savanização” da Amazônia, que passaria a ter um clima mais do tipo do Cerrado a meados de 2050. No Nordeste e na Bacia do Prata, ainda que a chuva tenderia a aumentar no futuro, as elevadas temperaturas do ar simuladas pelos modelos poderiam, de alguma forma, comprometer a disponibilidade de água para agricultura, consumo ou geração de energia, devido a um acréscimo previsto na evaporação ou evapotranspiração. Governos e iniciativa privada precisam oferecer e ampliar mecanismos favoráveis como infraestrutura e logistica à administração da água para diversos usos a partir de técnicas de manejo. Um prolongamento na estação seca em algumas regiões do Brasil poderia comprometer o balanço hidrológico regional e assim comprometer atividades humanas como a irrigação. Ainda que se tenha alguma previsão de aumento de chuva no futuro em certas regiões, uma alternativa viável é a utilização de técnicas de manejo associadas a captação de água da chuva. As tendências simuladas pelos modelos globais e o modelo regional HadRM3P sugerem um cenário de clima futuro mais quente em grandes áreas da Amazônia, Centro oeste e Nordeste do Brasil. Regimes hidrológicos poderão sofrer as consequencias dessa mudança climática e governo e sociedade devem juntos lidar com o manejo sustentável de águas. Considerando o clima atual, não existe um padrão claro para definir regiões de fortes mudanças nos extremos de chuvas considerando uma comparação entre o clima atual observado e simulado pelo modelo HadRM3. Em relação aos extremos e chuva no clima do futuro, os modelos projetam para o futuro ao aumento na freqüência de eventos extremos de chuva na Amazônia do oeste, sudeste, centro oeste do Brasil, e aumento na freqüência de dias secos consecutivos no nordeste (acompanhados de uma redução de eventos extremos de chuva). Isso implica aumento na freqüência de veranicos nesta região, o que fica mais intenso no cenário pessimista A2. Pode se concluir que para os extremos de chuva, de maneira geral, os modelos usados tiveram pouca habilidade em simular estes índices. Porém, todos os modelos concordam que não há regiões com grandes mudanças nestes índices o que pode alterar o regime hídrico em nível local e regional. A questão de vulnerabilidade e adaptação deve ser tratada de maneira pragmática, inclusive com o desenvolvimento de modelos que levem em conta as necessidades dos países em desenvolvimento. Nesse esforço, é crucial a participação de técnicos e cientistas, bem como o fortalecimento das instituições dos países em desenvolvimento. A experiência brasileira nesse domínio mostra a 6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007 necessidade de se ajustar os métodos aplicáveis aos cenários de mudança do clima resultantes de modelos globais para projeções de escopo regional ou local. Esse ajuste seria útil para estudos sobre os impactos da mudança do clima em áreas como gerenciamento de recursos hídricos, ecossistemas, atividades agrícolas e mesmo a propagação de doenças. Estudos mais detalhados de vulnerabilidade e riscos são necessários afim de se obter informações para ações governamentais em termode de adaptação e mitigação. Referências FRICH P et al. 2002. Observed coherent changes in climatic extremes during the second half of the twentieth century. Climate Res., 19, 193–212. KIKTEV D, SEXTON DMH., ALEXANDER L, AND FOLLAND C.K., 2003. Comparison of modeled and observed trends in indices of daily climate extremes, Journal of Climate.,16, 3560-3571. MARENGO JA, SOARES RW. 2003. Impacto das Mudanças Climáticas no Brasil e Possíveis Futuros Cenários Climáticos: Síntese do terceiro relatório do IPCC. Clima e Recursos Hídricos no Brasil. 348. MARENGO JA. 2006. Mudanças Climáticas Globais e seus efeitos sobre a Biodiversidade. Caracterização do Clima Atual e Definição das Alterações Climáticas para o Território Brasileiro ao Longo do Século XXI. Brasília: MMA, 212 p. MARENGO JA et al. 2007. Mudanças Climáticas Globais e Efeitos sobre a Biodiversidade. Eventos extremos em cenários regionalizados de clima no Brasil e América do Sul para o Século XXI: Projeções de clima futuro usando três modelos regionais. Relatório 5. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA SECRETARIA DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS – SBF. São Paulo, Brasil. 77. NAKICENOVIC N AND COAUTHORS. 2000. IPCC Special Report on Emissions Scenarios, Cambridge University Press, United Kingdom and New York. USA, 595. TEBALDI C., HAYHOE K., ARBLASTER J., MEEHL G. 2006. GOING TO THE EXTREMES AN INTERCOMPARISON OF MODEL-SIMULATED HISTORICAL AND FUTURE CHANGES IN EXTREME EVENTS. NO PRELO, CLIMATIC CHANGE. ZWIERS FW, KHARIN VK. 1998. Changes in the extremes of the climate simulated by CCC GCM2 under CO2 doubling. J. Climate, 11, 2200–2222. 6o. Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva Belo Horizonte, MG, 09-12 de julho de 2007