1 MECANISMOS DE REAÇÕES Conjuntos de etapas que descrevem a formação dos produtos nas reações químicas. O mecanismo deve concordar com os fatos experimentais e descrever: quais ligações são quebradas, a ordem da reação, quantas etapas estão envolvidas e a velocidade de cada etapa da reação. Existem reações que ocorrem por mecanismos diferentes dependendo das condições e existem reações nas quais mais de um mecanismo descreve os fatos experimentais. TIPOS DE MECANISMOS Para a maioria das reações é conveniente denominar os reagentes como: reagente atacante e substrato. Mecanismo Heterolítico O reagente pode doar (nucleófilo) ou receber (eletrófilo) par de elétrons do substrato. ....X .. ..Y .. .. .. ....X+ + ....Y .... .. Reação nucleofílica Reagente nucleófilo Reação eletrofílica Reagente eletrófilo Quando a molécula do substrato é quebrada a parte que não contém carbono é denominada grupo de saída. 2 Mecanismo Homolítico Ocorre via radicais livres. Mecanismo Pericíclico Os elétrons se deslocam sem a formação de íons ou radicais. X Y X Y A B A B TIPOS DE REAÇÕES Substituição Nucleofílica (Heterolítica) A X + .. - A Y Y + . X + X Leva o par de elétrons para o substrato Substituição Eletrofílica (Heterolítica) A X+ Z + A Z Toma par de elétrons do substrato Via radicais livres (Homolítica) A . X+ Y Transferência de cadeia A Y + . X + 3 Adições a duplas ou triplas ligações Adição eletrofílica (Heterolítica) A + B+ Y A W B + - A W B W Y Y Adição nucleofílica (Heterolítica) A B+ Y .-. A W B + + A W B W Y Y Adição via radicais livres (Homolítica) A B+ Y . A W B Y W A B + . Y W Y Y Adição simultânea X Y X Y A B A B A quebra de Y-W ao mesmo tempo em que Y se liga a B raramente acontece, a não ser no caso de reações pericíclicas. Eliminação A B W X A B + W X 4 Estas reações podem ocorrer por mecanismo heterolítico ou pericíclico. (Via radicais livres são raras). W e X podem sair ou não simultaneamente e podem ou não se combinar. Oxidação e Redução Muitas reações de oxidação e redução estão incluídas ou são combinações de um dos tipos anteriores. Observações As setas ou são utilizadas para indicar o movimento dos elétrons. Embora sejam utilizadas em reações pericíclicas, não se sabe realmente em que direção os elétrons estão se movendo. Rearranjos Podem envolver migração de um átomo ou um grupo. Migração com um par de elétrons (nucleofílica) W + W A + A B . W A B B Migração com um elétron (Radical livre) W . A B 5 Os esquemas apresentam rearranjos entre átomos vizinhos (mais comuns). No entanto, podem ocorrer também rearranjos para átomos mais distantes. Existem rearranjos que não envolvem migrações simples, alguns envolvem mecanismos pericíclicos. SUBSTITUIÇÃO NUCLEOFÍLICA As reações de substituição são comuns em química orgânica. Substituições nucleofílicas no carbono saturado Podem ser de primeira ordem (mecanismo SN1) ou de segunda ordem (mecanismo SN2). Diferem no processo de quebra de uma ligação e de formação de uma nova ligação. Mecanismo SN2 (Mecanismo em uma etapa) O nucleófilo ataca o substrato a 180° do grupo de saída. Y - + C Nucleófilo Y X C Y X sp3 C + X - Inversão de configuração sp2 ET (Estado de transição) Existem muitas evidências experimentais para este mecanismo. O processo de quebra e formação da nova ligação ocorre simultaneamente. No ET (Estado de Transição) Y e X estão parcialmente entrosados com o orbital p, aproximadamente perpendicular ao orbital sp2. Os três substituintes e o carbono central estão aproximadamente coplanares. 6 Diagrama de energia-livre (SN2 típica) ET G Estado de transição (Ponto de energia máximo) RX + Y- Energia livre RY + X Coordenada da reação O carbono no qual ocorre a substituição deve sofrer inversão de configuração. Ex: Deslocamento SN2 de um dos enantiômeros do 2-cloro-butano por hidróxido, produzindo butan-2-ol com configuração oposta. CH2CH3 H3C - HO + Cl CH2CH3 HO CH3 C C H H (S) - 2-Cloro-Butano + Cl - (R) - 2-Butanol A velocidade de uma reação SN2 depende da estrutura do composto alifático, já que o nucleófilo atacante deve empurrar o átomo de carbono pelo lado oposto ao do grupo de saída. Substituintes muito grandes ligados ao carbono atrapalham o ataque do nucleófilo. 7 Ordem de reatividade para a reação SN2 Metila > Primário > Secundário >> Neopentila > Terciário H H CH3 H3C H C C H H3C C H Y - X X Y C - H H Halogeneto de neopentila C C H H 3ario H H Halogeneto de t-butila Ataque pela retaguarda impedido Mesmo sendo primários, os halogenetos de neopentila reagem 100000 vezes mais lentamente do que os de metila. Características de mecanismo SN2 Reação de segunda ordem Velocidade = [RX] [Y] O carbono substituído sofre inversão de configuração. A reação é bastante afetada pelo impedimento estérico. A reação é pouco afetada pela polaridade do solvente. Mecanismo SN1 (Mecanismo em duas etapas) Substituição nucleofílica de primeira ordem, ocorre em duas etapas. Lenta R X sp3 R sp2 + R + + X - sp2 + Y - Rápida R Y sp3 Ionização: Etapa lenta não envolve nucleófilo (cinética de 1a ordem) 8 A ionização é facilitada pelo solvente, que por solvatação fornece a energia necessária para a quebra da ligação. O solvente (embora participe) por estar em excesso não aparece na expressão da velocidade. Em muitos casos a reação SN1 segue uma cinética de 1a ordem Velocidade = k [RX] Diagrama de energia-livre para uma reação SN1 típica Se um carbocátion livre fosse formado (planar), deveria ser esperado racemização total, isso ocorre em algumas reações SN1, em outras não. Muitos compostos sofrem inversão de configuração, não se racemizando completamente apesar de submetidos a condições SN1. Este fato pode ser entendido se levarmos em consideração que os íons em solução não estão livres, mas associados a moléculas de solvente e a íons de carga oposta. 9 Este fenômeno é denominado como “solvatação”. R2 R1 X C H2O R1 (H2O:)n R1 R2 C+ X - (:OH2)n R2 C + (:OH ) X - (H2O:)n 2 n R3 R3 R3 Par iônico Cátion simetricamente solvatado Caminho 2 Caminho 1 R2 + H2O C R3 INVERSÃO R1 +X - R2 R2 + H2O C R1 R1 + R3 C + OH2 + X - R3 RACEMIZAÇÂO No primeiro intermediário (par iônico), se o carbocátion tem vida - relativamente longa (no meio em questão), o íon X pode se difundir e o cátion fica solvatado simetricamente, formando produto completamente racemizado. Se a vida do carbocátion for curta e - este reagir com o nucleófilo, antes que X possa se afastar, um caminho competitivo (2) levará a inversão de configuração. Quanto menor a estabilidade do carbocátion, maior a porcentagem de inversão observada. 10 SN1 x SN2: A dualidade do mecanismo Reação SN2 O efeito principal sobre a reatividade é o Impedimento estérico Reação SN1 A reatividade é determinada pela formação do carbocátion. Velocidade SN1 . . SN2 Metila .. Etila CH3X C 2H 5X CH3X 1ario Isopropila t-Butila CH3CHXCH3 (CH3)3CX (Ordem SN2) Reatividade 2ario 3ario (Ordem SN1) 11 INTERMEDIÁRIOS QUÍMICOS Espécies altamente reativas, carbocátions, carbânions e radicais livres. Carbocátions São intermediários muito reativos, considerados ácidos de Lewis. Podem ser classificados como primários, secundários ou terciários, dependendo da natureza do portador da carga positiva. H C+ H H H H3C H3C C + H C+ H3C CH3 H Cátion metila CH3 Cátion etila C+ CH3 Cátion i-propila Cátion t-butila Estrutura dos carbocátions Em um carbocátion o carbono deficiente de elétrons está ligado aos outros átomos, por meio de orbitais sp2. R1, R2 e R3 estão no mesmo plano. O orbital p R1 sp2 2 sp R2 C sp 2 + R3 120° vazio desempenha um papel importante, determinando a estabilidade destas partículas, e dos seus diferentes estados de transição. Ordem de estabilidade relativa dos carbocátions: CH3 H3C C+ CH3 H H3C C+ CH3 H H3C C + H H H C+ H 12 Estabilização por efeitos indutivos e de hiperconjugação. Efeito indutivo Depende da tendência de um substituinte para doar ou retirar elétrons, atuando através da cadeia carbônica. O efeito diminui com o aumento da distância em que se encontra o substituinte. (+I) Efeito indutivo doador de elétrons Grupos alquila são doadores de elétrons, aumentam a disponibilidade eletrônica sobre o núcleo. (-I) Efeito indutivo retirador de elétrons Halogênios, OH; OCH3; NH2; SO3H; NO2 e átomos mais eletronegativos do que o carbono. Hiperconjugação Espécie de deslocalização, envolvendo orbitais de ligação . H H H C H H C H H + H C H + etc - 13 Métodos de formação de carbocátions Dissociação direta É necessário um meio altamente polar e que solvate bem íons. Em vez da ionização (formação de um par iônico) poderá ocorrer a dissociação. (CH3)3 + (CH3)3 C Cl C + Cl + - CH2 + Cl CH2 Cl CH2 CH CH2 Cl CH3 .. O .. CH2 Cl - + CH2 CH CH2 + Cl CH3 .. O .. + CH2 + Cl - - A facilidade de dissociação está relacionada com a estabilidade dos carbocátions formados. Quanto maior a possibilidade da distribuição da carga positiva entre os átomos vizinhos, maior a estabilidade do íon. Este efeito é mais acentuado quando a distribuição da carga pode se efetuar através de orbitais . + CH2 Cl Cl CH2 - + CH CH2 Cl + - Cl + CH2 CH2 CH2 CH2 + CH2 etc + + CH CH2 + CH2 CH Carbocátions estabilizados por deslocalização. CH2 14 Protonação Pode ocorrer pela adição direta a uma ligação insaturada, por ex. na hidratação de olefinas catalisada por ácidos. H CH3 CH CH CH3 H + CH3 CH + CH CH3 H2O H O+ CH CH CH3 H CH3 H OH CH CH CH3 CH3 H Reação reversível O próton pode também se adicionar à ligação dupla (C=O). O OH + Y H C H3 C CH3 H2SO4 H3C C + OH - C H3C CH3 CH3 Y Reação reversível Outras reações que podem formar carbocátions: Protonação de um átomo que possui um par de elétrons livres. .. R OH .. H + + R O H + R + H2O H (Este é um dos passos da desidratação de álcoois catalisada por ácido). Decomposição de éteres, ésteres, anidridos, etc. .. R O .. Éter R' H + + + R O R' R H Carbocátion alquila + R'OH 15 + O R .. O .. C H R R' O R' C C O.. R R H R' C O O + O H R + C R' OH C O R' OH Carbocátion acila O + + C + R' H Éster R O O C + O C + Carbocátion acila O Anidrido Decomposição O exemplo mais comum é a decomposição de um sal de diazônio. .. R N + + R N N N + R + N2 Tipos de reações sofridas por carbocátions Os carbocátions podem sofrer três tipos principais de reação: Combinação com um nucleófilo. Eliminação de um próton. Rearranjo de estrutura (pode ocorrer em duas etapas). Todas estas possibilidades são bem ilustradas na reação do ácido nitroso com a n-propilamina. Formação do carbocátion: CH3CH2CH2NH2 HCl NaNO2 + CH3CH2CH2N2 + CH3CH2CH2 + N2 16 (1) H2O CH3CH2CH2OH (n-propanol) + CH3CH2CH2 (2) -H+ + Adiçao de nucleófilo Desprotonação (Propileno) CH3CH (a) Rearranjo H CH2 CH3CH (3) + + CH3CHCH3 + CH2 (Propileno) -H (b) H2O CH3CHCH3 Carbocátion com maior estabilidade OH (Isopropanol) Em uma experiência típica são produzidos: 7% Propan-1-ol, 28% Propileno e 32% Isopropanol (Mais estável álcool secundário). Rearranjo dos carbocátions Podem ocorrer ou não com alteração do esqueleto carbônico. Sem alteração do esqueleto carbônico 3-cloro-but-1-eno em etanol (EtOH) CH3 CH CH CH2 EtOH - Cl + CH3 + CH CH CH2 CH + CH2 Cl CH3 CH 17 Após a formação do carbocátion, o ataque pelo EtOH pode ocorrer no C1 ou no C3, produzindo uma mistura dos dois éteres: OEt CH3 CH CH CH2 + CH3 CH CH CH2 + OEt H + SN1 Com alteração do esqueleto carbônico CH3 H3C C CH3 CH2 Cl SN1 H3C C CH3 + CH2 CH3 H2O H3C C CH2 OH CH3 CH3 Álcool neopentílico (Não é obtido) - O único produto obtido é o álcool t-amílico CH3 H3C C CH2 CH3 OH Ocorre o seguinte rearranjo: CH3 H2O CH3 H3C C CH3 + CH2 CH3 H3C C + H3C C CH2 CH3 OH CH2 CH3 - H+ CH3 H3C C CH CH3 Os rearranjos e suas conseqüências podem ser evitados quando o deslocamento se processa sob condições nas quais o mecanismo SN2 é favorecido, mas a reação será muito lenta. 18 CH3 H3C C CH3 CH3 H3C C CH + - O rearranjo não se verifica, pois o carbocátion pode ser estabilizado por deslocalização via orbitais do núcleo benzênico. SN1 CH CH3 Cl CH3 H3C C CH CH3 + etc A natureza do catalisador usado e o tipo de halogênio influenciam no tipo de reação (ocorrência de rearranjo ou não). Substituição eletrofílica do benzeno (reação com haleto de alquila). CH3 CH3 CH2 Cl + H3C C AlCl3 CH3 + H3C C + CH2 CH3 CH3 CH3 C CH2 CH3 CH3 Produto quase exclusivamente formado H3C C + CH2 CH3