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Curitiba, 14 de fevereiro de 2017.
Wanda Camargo
Ouvir estrelas
As estrelas sempre fascinaram a humanidade, faróis que orientaram os primeiros navegantes,
auxiliares valiosas na contagem do tempo e na elaboração de calendários de precisão
espantosa, observa-las resultou até em teorias proibidas (e corretas) acerca do movimento da
Terra ao redor do Sol.
A astronomia, e sua vertente divinatória, a astrologia, estão entre as ciências mais antigas que
praticamos. Ambas se originam do impulso humano de compreender o tempo e o espaço, e
como nos inserimos neles. Em busca das respostas às eternas perguntas, de onde viemos?
para onde vamos? temos tentado nos projetar além das explicações sensíveis ou mesmo
técnicas, exercitando nossa imaginação e revelando nossos sentimentos mais íntimos de medo
ou de esperança.
Existem fragmentos de cartas estelares egípcias e babilônicas que datam de quase 4 mil anos
antes de Cristo, e supõe-se que seriam usadas para orientação, previsão do tempo e como
base para presságios. Grandes monumentos antigos trazem símbolos astrológicos e foram
construídos segundo orientações astrológicas, inclusive templos europeus.
Os astrólogos modernos classificam astrologia como ciência social, ligada a vertentes da
psicologia analítica de Carl Jung, epítome de linguagem simbólica e até mesmo uma forma de
arte; e refutam com veemência a ideia de que pretenderiam prever o futuro e coisas do gênero.
Jung afirmou que a astrologia representaria a síntese do conhecimento psicológico da
antiguidade, e dessa forma deveria ser reconhecida pela psicologia. Definiu ainda o conceito
de sincronicidade, pelo qual eventos externos atuariam no psiquismo da pessoa em
determinado momento, defendendo que a posição dos astros no instante do nascimento
influenciaria a estrutura psíquica do nascituro, chamando a isso um significante paralelo.
Apesar disso, não há divulgação de nenhum experimento atendendo às normas científicas que
demonstre a sua eficiência para descrever personalidades ou elaborar previsões certeiras para
o futuro, além daquelas que podem ocorrer em qualquer evento aleatório, num mundo em que
tudo parece ter idêntica probabilidade de ocorrer, embora alguns comportamentos possam,
evidentemente, predispor mais ou menos a determinadas consequências. No entanto, negar
sua importância histórica será negar exatamente o percurso que leva do conhecimento
empírico até a ciência, do simples medo ao conhecimento.
Praticamente todos os jornais publicam seções de astrologia, e muitos grandes jornalistas
quando iniciantes foram incumbidos de escrever os horóscopos. Um rito de passagem nada
apreciado, porém útil no desenvolvimento do estilo e da criatividade.
O conhecimento experimental precede quase sempre o conhecimento científico, e às vezes a
distância que os separa pode ser medida pelo preconceito. Assim como a alquimia, vista por
muitos como apenas um conjunto de práticas esperançosas para buscar a vida eterna e a
fabricação de ouro, mas que também forneceu a estrutura para a criação da química; a
observação dos astros com finalidades “mágicas” foi passo essencial para a realização de
observações de caráter científico.
Não podemos ter a pretensão de conhecer tudo; o universo é muito mais vasto do que
podemos imaginar e teorias sobre ele são conjeturas incipientes ainda que firmadas nas
melhores matemática, física e astrofísica que já existiram. A soma do que nos causa
perplexidade supera em muito a do que podemos afirmar com certeza. Às vezes, até mesmo
num exercício de humildade, talvez nos faça bem abrir as janelas e a mente para ouvir estrelas.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do
Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.
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