Sócrates de Atenas (470–399 a.C) Abrahão Martins Brito “A palavra é o fio de ouro do pensamento”. “É melhor fazer pouco e bem, do que muito e mal”. A vida de Sócrates Sócrates nasceu na Grécia (470-399). Filho de Sofrôncio, escultor, e de Fenáreta, parteira, casou-se com Xantipa, com quem teve vários filhos, tentou seguir a mesma profissão de seu pai enquanto jovem. Aprendeu Música e Literatura, mas dedicou-se inteiramente à medicina e ao ensino de filosofia. Não se sabe ao certo quem foram seus professores de Filosofia. O que se sabe é que Sócrates teve acesso às doutrinas de Parmênides, Heráclito, Anaxágoras e dos sofistas. Dede jovem, Sócrates ficou conhecido pela sua coragem e pelo seu intelecto, foi considerado modelo irrepreensível de bom cidadão. Quanto à política, foi valoroso soldado e rígido magistrado. Mas em geral, conservou-se afastado da vida pública contemporânea, que contrastava com seu temperamento crítico e com seu reto juízo no momento de grave crise política em Atena devido á corrupção e má demagogia dos políticos. Julgava que devia servir a pátria conforme suas atitudes, vivendo justamente e formando cidadãos sábios, honestos, temperados, que agiam para o próprio proveito, e sem preocupações com a verdade e o compromisso ético. A figura de Sócrates com frequência era associada à dos sofistas; contudo, o filósofo não vendia seus ensinamentos - até porque afirmava não possuir nenhum: “Só sei que nada sei”, dizia Sócrates - e, ao contrário daqueles, buscava antes de tudo, a verdade, e não a aparência do saber. Mas, o que Sócrates propunha? Propunha que, antes de querer persuadir os outros, cada um deveria primeiro e antes de tudo, conhecer-se a si mesmo. A expressão “Conheça-te a ti mesmo”, que estava gravada no templo do deus Apolo, patrono grego da sabedoria, tornou-se a divisa de Sócrates. O filósofo fazia perguntas sobre as ideias, sobre os valores nos quais os gregos acreditavam e que julgavam conhecer. “Suas perguntas deixavam os interlocutores embaraçados, surpresos, que não sabiam responder e que nunca tinham pensado em suas crenças, seus valores e suas ideias”. (CHAUI, M. Convite à Filosofia). Sócrates é um filósofo ateniense, um dos mais importantes dentre eles, é considerando um dos fundadores da Filosofia do Ocidente. Sócrates ao desenvolver seu conhecimento filosófico foi influenciado por Anaxágoras. O início de suas investigações filosóficas se volta sobre a essência da natureza da alma humana. Sócrates é considerado por outros filósofos posteriores a ele como o mais sábio e inteligente. Na Filosofia, Sócrates percebe a necessidade de levar o conhecimento filosófico aos cidadãos gregos. O método utilizado por Sócrates para transmitir o conhecimento aos gregos era o diálogo1. O diálogo de Sócrates levava o homem grego a desvendar os mistérios do conhecimento sobre a natureza, o mundo e do próprio homem. Sócrates e os Sofistas2 1 Diálogo (gr. diálogos, de dialegesthai, lat. dialogus: conversar). 1. Para Sócrates e Platão, o diálogo consiste na forma de investigação filosófica da verdade através de uma discussão entre o mestre e seus discípulos, cabendo ao mestre levá-los a descobrir um saber que trazem em si mesmos, mas que ignoram. 2. Para o pensamento fenomenológico e existencialismo, o diálogo é uma troca recíproca de pensamento através da qual se realiza a comunicação das consciências. 3. O pensamento liberal reduziu o diálogo a um mero esforço de conciliação nas disputas concernentes às questões trabalhistas envolvendo o patronato e os sindicatos, a preocupação dominante sendo a de resolver tais problemas a fim de se evitar o confronto pelas greves. 4. Dialogar tanto pode significar aceitar o risco de não ver prevalecer seu ponto de acordo quanto ao essencial, quanto acreditar que, para além dos interesses e das opiniões que opõem os homens entre si, exista um lugar comum dependendo de um outro registro do ser do homem (distinto do mundo sensível) e que seja possível tomar um caminho capaz de superar as particularidades individuais (e passionais) e impor uma universalidade (caminho da verdade). 2 Sofistas (lat. sophista, do gr. sophistes). Na Grécia clássica, os sofistas foram mestres da retórica e oratória, professores itinerantes que ensinavam sua arte aos cidadãos interessados em dominar melhor a técnica do discurso, instrumento político, já que a polis grega as decisões políticas eram tomadas nas assembleias. Contemporâneos Sócrates, Platão e Aristóteles, foram combatidos por esses filósofos, que condenavam o relativismo dos sofistas e sua defesa da ideia de que a verdade é resultado da persuasão e do cosenso dos homens. Os sofistas são os primeiros filósofos a romperem com o pensamento pré-socrático que defendiam uma unidade originária a natureza (physis), iniciado por Tales de Mileto e finalizado por Demócrito de Abdera. O autoconhecimento era um dos pontos fundamentais do pensamento socrático. Sócrates através de sua filosofia crítica revolucionou todo o pensamento grego. Toda sua filosofia se distancia do pensamento pré-socrático e assume um caráter antropológico com um novo modelo para alcançar a verdade. Este modelo idealizado por ele consiste em reconhecer a ignorância do homem para, depois, o próprio homem chegar ao saber racional. A filosofia socrática era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Era através das dúvidas e das perguntas que Sócrates levava o oponente de seus diálogos a uma ignorância que o forçava a reconhecer o erro e, imediatamente, demonstrava para o mesmo a verdadeira realidade, libertando-o, assim, de sua ignorância e dando a ele uma nova concepção de verdade. É bom lembrar que Sócrates não quer dar ao interlocutor uma reposta definitiva sobre o assunto ou conceito abordado. O diálogo, pouco a pouco, se transforma: a ironia socrática o faz passar do domínio empírico ao da essência, onde se deve elaborar um saber. “Sócrates está à procura do logos, o sentido do ser em si mesmo. O logos filosoficamente falando é a razão que se dá de algo, ou o que hoje chamaríamos de conceito”. Geralmente, o filósofo começava com uma pergunta do tipo: “O que é a Justiça?”, é obvio, caso o assunto fosse justiça, a coragem, o amor, a amizade, o conhecimento e assim por diante. Ao receber as primeiras respostas, Sócrates passa a analisá-la para ver se ali encontra um conceito (definição) da coisa procurada. Ao perceber que é uma definição, inicia-se então a Ironia (refutação) que visa demonstrar àquela pessoa que o que ela pensava saber sobre determinado assunto é, na verdade, aparência de saber, opiniões subjetivas, e não a definição buscada. Eis porque ainda hoje sigo na minha busca e na minha investigação, sob o impulso do deus, e sempre que penso que alguém entre os cidadãos ou forasteiros seja sábio e depois assim não mais me pareça, demonstrando-lhe então que não é sábio, tenho uma ulterior (situado além, posterior) confirmação da resposta do deus. Desmascarar os falsos é um dever de elevado valor cívico. O que é a Ironia? O que é a Maiêutica? Quando se faz uso da ironia diz-se uma coisa pretendendo dizer outra, muitas vezes o seu exato contrário - por exemplo, exclamar “ótimo!” ao ouvir uma resposta nitidamente errada. A ironia Socrática tinha um caráter purificador, na medida em que levava os discípulos a confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam possuir certezas e verdades. Na ironia, Sócrates atacava de modo implacável as respostas de seus interlocutores; com habilidade de raciocínio, procurava evidenciar as contradições das afirmações e os novos problemas que surgiam como consequência de determinadas respostas. Sócrates fez da ironia seu principal instrumento do seu método maiêutico. Formulava perguntas ao seu interlocutor, fingindo-se totalmente ignorante a respeito e, enfatizando a sabedoria de outrem, sugeria uma série de perguntas aparentemente ingênuas, mas, na verdade, em condições de envolver o interlocutor em contradições insolúveis. Após ter reconhecido a sua ignorância, o interlocutor estava apto para o segundo momento do diálogo: a maiêutica. Maiêutica, é um termo de origem grega que significa “a arte de trazer a luz”, ou ainda, “a arte de parturejar”. Literalmente a arte da parteira ou a arte da obstetrícia. Indica o método de investigação de Sócrates descrito por Platão no Teeteto. Sócrates jamais fornecia soluções, limitando-se a levantar perguntas como expediente para que o interlocutor, oportunamente estimulado, descobrisse (ou parisse) a verdade dentro de si. Sócrates dizia-se um parteiro de ideias e evocava a imagem de sua mãe - que como dito, era parteira - para, numa linguagem metafórica, explicar seu papel de filósofo. O que é a Aporia? Aporia significa impasse, dificuldade resultante de raciocínio contrário, colocando o espírito no impasse quanto à ação que deve ser apreendida. Costuma-se dizer que a filosofia de Sócrates é aporética, mas o que é “aporia” em termos filosóficos? Aporia é um vocábulo grego que significa “o que não tem saída”, ou, “aquilo que não tem passagem” quando se diz que a filosofia de Sócrates é aporética, isto significa que, inevitavelmente, o método filosófico desse pensador sempre termina sem uma resposta definitiva. Em nenhum momento, ao perceber a maiêutica, Sócrates promete um conceito universal ou uma resposta infalível ao seu interlocutor, mas sim uma busca que poderá resultar numa definição adequada àquilo que se procura. Infelizmente, parece que a condição humana não é das mais favoráveis no que concerne a respostas universais. O humanismo socrático. Indica uma nova tendência inaugurada pelos sofistas e por Sócrates de colocar os problemas do homem - e não os da natureza e do mundo físico - no centro da reflexão filosófica. Sócrates acolheu a sugestão de Protágoras de fazer o homem à medida de todas as coisas, procurando critério de verdade no homem e não fora dele. Referências Bibliográficas: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. 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