Objetivos da macroeconomia Um olhar para os temas que constituem o centro das atenções da macroeconomia permite constatar que esta disciplina se ocupa tanto de fenômenos de longo prazo, como o crescimento econômico, como das flutuações de curto prazo, que constituem o que se costuma designar por ciclos econômicos – business cycles em terminologia inglesa. De resto, o horizonte temporal é muitas vezes usado para apresentar a primeira estruturação teórica da macroeconomia. A longo prazo, os temas em análise concentram-se em torno do crescimento da capacidade produtiva. É o domínio da teoria do crescimento econômico, onde o nível do produto é determinado apenas pela capacidade produtiva da economia e os preços são determinados apenas pelas flutuações da procura – mais freqüentes e de amplitudes maiores. Por que razão cresce uma economia 2 % e não 4 %? Por que razão as economias crescem a ritmos diferentes? Que papel está reservado à taxa de poupança neste processo de expansão da capacidade produtiva? Como podem o progresso – técnico e a formação de capital humano superar a inevitabilidade do crescimento nulo derivado da lei dos rendimentos decrescentes? As preocupações de qualidade ambiental, a utilização dos recursos naturais e o seu potencial esgotamento têm alguma influência sobre o crescimento? Será incompatível pretender mais e melhor qualidade ambiental e mais e permanente crescimento econômico? A curto prazo, o nível do produto é determinado pela procura agregada. As suas flutuações estão, em geral, na origem dos ciclos econômicos – choques de procura. Isto não quer dizer que não se registrem choques de oferta importantes e decisivos para as flutuações de curto prazo. Quanto aos preços, considera-se que não são influenciados pelo nível do produto. São considerados um dado, exógenos. A médio prazo, dá-se prioridade à tentativa de explicar o comportamento dos preços – inflação – e do desemprego. A procura agregada pode estar a um nível tal que a resposta da oferta só possa ser acompanhada com um aumento de preços. A velocidade com que os preços se ajustam e a sua combinação com a evolução da taxa de desemprego constituem uma relação crítica e fundamental neste processo, conhecida como curva de Phillips. Em termos gerais, independentemente do enquadramento temporal que realizarmos anteriormente, é relativamente consensual agrupar em torno de quatro grandes vetores os principais objetivos da macroeconomia. Em primeiro lugar, a necessidade de assegurar um elevado nível não só para o produto nacional bruto – PNB –, como também para a sua taxa de crescimento. Neste contexto é necessário distinguir entre produto efetivo e produto potencial. Como o próprio nome deixa antever, o PNB efetivo é a medida de todos os bens e serviços finais efetivamente produzidos numa economia num dado ano. A sua evolução ao longo do tempo nem sempre é constante, evidenciando antes períodos de expansão rápida seguidos de outros em que se contrai. Estas flutuações do produto constituem ciclos econômicos durante os quais o emprego diminui na fase recessiva – ou descendente – do ciclo, enquanto na fase expansionista o nível de emprego tende a aproximar-se da plena utilização. Porém, o PNB efetivo apenas indica o volume total de bens e serviços produzidos num dado momento; não fornece indicações sobre o potencial produtivo de uma economia. O produto potencial indica o volume total de bens e serviços que a economia seria capaz de produzir se todos os recursos disponíveis estivessem a ser totalmente utilizados, e da forma mais eficiente possível. É a indicação do potencial 1 produtivo de uma economia e, por isso, um sinal da tendência evolutiva a longo prazo. Quando a economia se encontra na fase desta tendência de longo prazo o emprego está ao seu nível mais elevado. O segundo objetivo está relacionado com o emprego. Este deve ser o mais elevado possível. Note-se que não estamos a dizer que o desemprego deve ser reduzido a zero. Isso não é possível! Mesmo em pleno emprego – ou seja, mesmo quando a economia se encontra a produzir no seu potencial máximo –, haverá sempre pessoas que estarão voluntariamente desempregadas, quanto mais não seja porque estão à procura de um posto de trabalho melhor do que aquele de que dispunham. Para sermos mais precisos, o objetivo pode ser enunciado do seguinte modo: reduzir o mais possível o desemprego involuntário – ou seja, o número de desempregados que desejam um emprego, mas não encontram um posto de trabalho disponível. Em terceiro lugar vem a estabilidade de preços em mercados livres. Como dissemos anteriormente, o mercado constitui a forma mais eficiente de organização econômica de uma sociedade. Os preços, para além de funcionarem como uma medida de valor econômico, desempenham um papel essencial ao ajustamento dos mercados, na medida em que veiculam, em cada momento, a informação relevante e necessária para promover a eficiência. É por essa razão que se defende que a intervenção dos governos não deve provocar distorções que perturbem aquela função afetação desempenhado pelos preços. Por outro lado, e pelas razões já apontadas anteriormente, os preços devem evidenciar um padrão evolutivo estável. Ou seja, a economia não deve assistir a uma subida generalizada e permanente de todos os preços – inclusive salários e taxas de juro –, isto é, inflação. A inflação retira credibilidade e valor à moeda e, consequentemente, as pessoas ficam com menor poder de compra – sobretudo se a inflação não for antecipada e se provocar alterações nos preços relativos. As decisões econômicas passam a estar distorcidas e envoltas pela incerteza. Por isso se diz com freqüência que a inflação está para a economia como a miopia para o homem. A inflação é injusta porque não afeta todas as pessoas por igual – quem deve dinheiro, por exemplo, é beneficiado, enquanto quem emprestou ou quem tem de comprar bens e serviços sem ser capaz de ajustar o seu rendimento para compensar a perda de poder de compra é prejudicado – e nem todas elas têm a percepção correta e imediata da sua magnitude. A inflação não antecipada é um imposto, na medida em que, enquanto fenômeno monetário de longo prazo, é causada pelo aumento do stock nominal de moeda. O estado tem necessidade de financiar as suas despesas na parte em que as receitas orçamentais – essencialmente constituídas por impostos – não o conseguem fazer. Como por via do banco central o estado tem o poder de emitir moeda física – notas e moedas metálicas –, recorreu muitas vezes a este método simples, barato e sem custos políticos imediatos de se financiar. Para colocar a moeda nova em circulação, compra os bens e serviços de que necessita – paga salários, [compra] escolas, estradas, armamento, etc.. Mas, se o fizer de forma desregrada – e a tentação é enorme –, o resultado é um aumento da quantidade de moeda ao dispor dos cidadãos, sem correspondência com o que seria adequado à capacidade real de produção na economia. Consequentemente, o valor da moeda – ou o seu poder aquisitivo – diminui e os preços referenciados nessa unidade monetária tendem a aumentar. Em geral, o valor da moeda varia inversamente com a sua abundância ou escassez. Quanto maior a quantidade de moeda, menor o seu valor e, em conseqüência, mais elevados tenderão a ser os preços. Finalmente, o último grande tema da macroeconomia prende-se com o comércio internacional. Os estados transacionam entre si bens, serviços e capitais e a 2 intensificação deste comércio internacional é reconhecidamente vantajosa para todos quantos nele participam. As exportações e as importações – de bens, serviços e capitais – são os termos utilizados para identificar este fluxo contínuo e crescente de bens, serviços e capitais. Estas transações internacionais são, porém, realizadas em diferentes moedas, o que obriga a que os intervenientes comprem – ou vendam – a unidade monetária de que necessitam para o seu negócio. A taxa de câmbio mostra a relação entre moedas de dois países diferentes e costuma ser definida segundo duas metodologias diferentes. Com a cotação ao certo – como sucede com o euro –, indica a quantidade de moeda estrangeira que um euro consegue comprar, enquanto com a cotação ao incerto – como sucedia com o escudo – a taxa de câmbio indica a quantidade de moeda nacional necessária para adquirir uma unidade da outra divisa. Evidentemente, as definições da taxa de câmbio representam o inverso uma da outra. É fácil percebermos a importância do efeito da estabilidade cambial sobre o comércio internacional. Uma moeda excessiva ou artificialmente forte pode impedir as exportações e facilitar as importações. Inversamente, uma desvalorização – ou mesmo uma depreciação – da moeda nacional – ou seja, uma situação em que é necessária mais moeda nacional para comprar a mesma unidade de moeda estrangeira – torna o país mais competitivo nos mercados internacionais. Com o aparecimento do euro – € –, os problemas de instabilidade cambial entre os onze países que integram a zona euro terminaram em primeiro de Janeiro de 1999. Porém, para com os países que não integram a União Monetária Européia subsistem as questões suscitadas pela instabilidade cambial. Fonte BELBUTE, José Manuel Madeira. Objetivos da macroeconomia. Disponível em: <http://clubsetubalense.pt/06/tcc/611-23etc.htm>. Acesso em: 25 ago. 2011. 3