XXVIII Encontro Anual da ANPOCS 26 a 30 de outubro de 2004 Hotel Glória - Caxambu, MG Pesquisa Operacional em Ciências Sociais Aplicando Metodologias Informacionais: Violência Policial Wilson José Barp Ana Rosa Baganha Barp Vera Marques Tavares ST05 - Conflitualidade social, acesso à justiça e reformas do poder judiciário Coordenadores: Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo; UFRGS;Roberto Kant de Lima, UFF; Jacqueline Sinhoretto, USP 1 Pesquisa Operacional em Ciências Sociais Aplicando Metodologias Informacionais: Violência Policial. Wilson José Barp1 Ana Rosa Baganha Barp 2 Vera Marques Tavares3 Resumo - O texto apresenta na pesquisa operacional a metodologia informacional aplicada às Ciências Sociais, objetivando entender a dinâmica do uso da força (homicídio e lesão corporal) e tortura, tendo o agente de segurança como vítima e autor deste processo no Estado do Pará, e fornecendo mecanismos para tomada de decisão dos gestores do Sistema de Segurança. Construiu-se a arquitetura do registro das informações nas diferentes etapas do Fluxo Processual (Tratamento Policial e Procedimento Judicial). Posteriormente elaborou-se um banco de dados, em linguagem SQL, para as análises quantitativas das informações. Finalmente, para embasar as inferências estatísticas, de forma complementar, indicou-se o programa NVivo para as análises qualitativas das informações. Procedendo desta maneira podemos entender melhor a fronteira e a relativa autonomia dos Campos Policial e Jurídico. Palavras-Chaves: Pesquisa Operacional – Metodologia Informacional – Sistema de Segurança – Violência Policial Introdução O surgimento das pesquisas operacionais na Modernidade sempre esteve ligado às operações militares, sejam em defesa do Estado-Nações ou para controlar os conflitos internos. Com o advento da informática em todas as áreas do conhecimento, de forma mais tímida e com restrições, as Ciências Sociais passou a incorporar instrumentos de pesquisa, programas computacionais, que possibilitaram o aperfeiçoamento das pesquisas operacionais junto com outras áreas do conhecimento. Esta que era um instrumento eminentemente militar, ao longo de tempo, passa a ser incorporada também pelos cientistas sociais, especialmente por aqueles que se dedicam a temática de gestão e tomada de decisão. 1 Professor do Departamento de Sociologia e Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará. E-mail: [email protected] 2 Professora do Departamento de Engenharia Sanitária-Ambiental e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Pará. E-mail: [email protected] 3 Advogada e Presidente da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos. E-mail: [email protected] 2 Segurança Pública é uma atividade pertinente aos órgãos estatais e à comunidade como um todo, realizada com o desígnio de resguardar a cidadania, prevenindo e contendo manifestações da criminalidade e da violência, efetivas ou potenciais, garantindo o exercício integral da cidadania nos limites da lei. Para a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP, 2004), o Sistema de Segurança Pública é um bem público e como tal deve atender as necessidades de segurança de todos os cidadãos, independente de raça, cor, religião, sexo, condições sócioeconômicas e preferências políticas. De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, Capítulo III, artigo 114 “A Segurança Pública, dever do Estado é responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem e da incolumidade das pessoas e do patrimônio...”. Significa que todo cidadão tem direito, mas também é responsável por ela, no sentido de contribuir para manter a ordem pública, resguardando a sua integridade física e moral, bem como a de seus semelhantes. Sistema de segurança é constituído dos seguintes órgãos: I - Polícia Federal II - Polícia Rodoviária Federal; III - Polícia Ferroviária Federal; IV - Polícias Civis4; V - Polícias Militares5 e Corpos de Bombeiros Militares. No caso da segurança púbica, onde os gestores necessitam cada vez da agilidade, a pesquisa operacional passou ser um instrumento indispensável. Neste sentido, estamos propondo uma metodologia de avaliação do Sistema de Segurança do Estado do Pará, envolvendo os agentes que atuam nas Policias Civil e Militar, como vítima e autores na prática do uso da força e tortura. Neste sentido os gestores poderão tomar decisões cada vez mais ágeis e precisas indo de encontro com a Constituição Federal. Entendemos que a função principal dos agentes de segurança, além da proteção do Estado, é a proteção aos direitos humanos dos cidadãos tais como: a segurança, a integridade física, a vida. O que a principio parece ser temas inconciliáveis, segurança pública e direitos humanos são na pratica questões intrinsecamente ligadas. E, afirmamos com convicção que o grau de 4 São os órgãos do sistema de segurança pública aos quais competem, ressalvada competência específica da União, as atividades de polícia judiciária e de apuração das infrações penais, exceto as de natureza militar (SENASP, 2004). 5 São os órgãos do sistema de segurança pública aos quais competem as atividades de polícia ostensiva e preservação da ordem pública (SENASP, 2004). 3 civilidade de uma sociedade tem por parâmetro a pratica de seus agentes agindo na promoção e respeito aos direitos humanos. Pesquisa Operacional A pesquisa operacional começou a ser desenvolvida na Inglaterra, durante o episódio da segunda guerra mundial, de modo a auxiliar as operações militares diante dos complexos problemas táticos e operacionais. O sucesso na área militar logo despertaria o interesse do setor produtivo, proporcionando o rápido desenvolvimento das metodologias a partir daí. O nome pesquisa operacional foi mantido, apesar da sua ampliação quanto ao uso, sendo hoje aplicada à engenharia de produção, administração pessoal, análise financeira, planejamento de projetos dentre outras. Hiller e Liebermann (1990, apud ALBUQUERQUE, 2001), entendem que a pesquisa operacional está preocupada com a otimização do processo de tomada de decisão e na modelagem de sistema determinístico ou estocástico oriundo da vida real. A pesquisa operacional, de acordo com Albuquerque (2001), pode ser mais bem entendida através da descrição de algumas de suas principais características. Primeiramente é um método científico. O processo se inicia pela cuidadosa identificação e formulação do problema seguido da construção de um modelo matemático que representa as características mais importantes do sistema para a finalidade proposta. Em segundo lugar, a pesquisa operacional está preocupada em achar a melhor solução, ou linha de ação, para o problema em consideração ao invés de identificar apenas uma solução viável que melhore o status quo. Terceiro é a sua visão ampla. Geralmente um problema prático envolverá uma equipe multidisciplinar para resolver (BAGANHA JUNIOR, 2003). Metodologia Informacional Devido a crescente preocupação com a segurança pública, os problemas relacionados a Ciências Sociais vêm se tornando cada vez mais complexos, exigindo dos profissionais que tratam do assunto um aprofundamento no estudo desses problemas e a busca de novas técnicas capazes de dar suporte às decisões relacionadas as políticas de segurança pública. 4 Os problemas são definidos, em geral, como a distância existente entre o estado desejado e o estado atual. Smith (1989 apud MONTIBELLER, 1996) considera que “um problema é uma situação indesejável que é significativa e pode ser resolvida por algum agente, ainda que provavelmente com dificuldade”, ou seja, a desarmonia entre a realidade e as preferências do observador. Pode ser definido como sendo uma situação onde alguém deseja que algo seja diferente de como se apresenta, embora não esteja muito seguro de como obtê-lo (EDEN, 1983 apud MONTIBELLER, 1996). A importância dada ao problema está implícita no fato deste estar contextualizado de tal maneira que ele pode ser considerado como um problema complexo, os quais necessitam de um grande esforço de estruturação, sendo, portanto os que mais se beneficiam com a utilização do mapeamento cognitivo como ferramenta. A análise de sistemas de segurança pública vem ao encontro do interesse em proporcionar as soluções a esses complexos problemas, através da abordagem sistêmica e do uso das técnicas computacionais agregadas à modelagem matemática. Esta abordagem está relacionada à abstração ou mesmo à simplificação de um problema complexo de tal maneira que sejam mantidas apenas as informações mais relevantes para a sua solução (BAGANHA JUNIOR, 2003). Neste processo de definição do problema é importante definir como os mesmos devem ser representados, quais os elementos que devem ser considerados e quais são os relacionamentos existentes entre eles. Smith (1989 apud MONTIBELLER, 1996) ressalta a importância em serem incluídos os elementos e os relacionamentos mais importantes, excluídos os detalhes desnecessários sem perder, contudo, as informações mais relevantes. A este conjunto de elementos físicos ou abstratos, funcionalmente interligados para servir a um ou mais propósitos, denomina-se de sistema. A Figura 1 apresenta uma das representações clássicas da estrutura de um sistema sujeito a uma simulação. Dados Não Controláveis Descrição do Sistema Restrições Política de Operação Saída Dados Controláveis Julgamento do Decisor Figura 1: Representação esquemática de um sistema 5 A partir desta estrutura identificamos os seguintes elementos: Entrada: os elementos que são interpostos no sistema, como as variáveis controláveis e as não controláveis; Processos: todos os elementos necessários a converter os elementos de entrada no resultado final do sistema; Saída: o produto final das transformações, ou seja, os objetivos do sistema. Nesta estrutura aparece o mecanismo da realimentação, destinado geralmente a corrigir ou otimizar a performance do sistema. A representação simplificada de um sistema real que se deseja analisar é definida, segundo Evsukoff e Ebecken (2003), como modelo. Os modelos devem ser vistos como ferramentas de compreensão dos fenômenos e de decisão sobre alterações dos sistemas que se analisam (AZEVEDO; PORTO; ZAHED FILHO, 1997). Esses fenômenos, muitas vezes complexos, exigem sua simplificação para que seja iniciado o processo para sua modelagem. Tais simplificações, que usualmente são realizadas através de relações matemáticas ou lógicas, servem para que possamos adquirir mais conhecimentos sobre como o sistema em análise se comporta. Através da simplificação, entretanto, há naturalmente o prejuízo da representatividade que se levada a níveis inadequados pode comprometer a utilização do modelo para os fins esperados. O programa computacional NVivo, empregado neste trabalho, proporciona ao usuário a utilização de modelos de comportamento6, por sua própria característica. Este programa possui um algoritmo para o pré-processamento dos dados que serão posteriormente analisados e interpretados pelo usuário. O pré-processamento é uma das fases do processo de extração de informações a partir de uma base de dados, também conhecido como Knowledge Discovery in Databases – KDD, ou Extração de Conhecimento em Base de Dados, que envolve as seguintes etapas, segundo Fayad et al. (1996 apud EVSUKOFF; EBECKEN, 2003): • Definição de Problema: é o entendimento do domínio da aplicação e dos objetivos finais a serem atingidos; 6 Categorias: Segundo a natureza de conhecimento. Classificação dos Modelos/Características: a) Modelos do conhecimento (ou analítico)/O comportamento do sistema é descrito a partir das leis fundamentais da física; b) Modelos de comportamento (ou de entrada e saída)/O comportamento do sistema é descrito diretamente através da observação dos dados de entrada e saída. 6 Pré-processamento de Dados: etapa posterior à definição do domínio sobre o qual se pretende executar o processo de descoberta, visando selecionar, coletar e adequar os dados ou variáveis necessárias aos algoritmos; Mineração de Dados (ou Análise): também conhecido como Data Mining, esta etapa começa com a escolha dos algoritmos a serem aplicados, que por sua vez dependem fundamentalmente do objetivo central do processo de extração de conhecimento; Interpretação: etapa final onde os resultados do processo de descoberta do conhecimento devem sofrer uma análise criteriosa, a partir das diversas formas como são mostrados, a fim de poder identificar a necessidade ou não de retornar a qualquer um dos estágios anteriores do processo de Extração de Conhecimento. A modelagem constitui um procedimento que envolve um conjunto de técnicas que tem por finalidade compor um quadro simplificado e inteligível do mundo, ou seja, compor uma abstração da realidade em função das concepções do mundo. Modelos, sob essa ótica, surgem como sendo a configuração de hipóteses e enunciados, como procedimento que se integra na metodologia científica. Os modelos podem ainda assumir a formulação quantitativa e qualitativa, expressa em termo lógicos ou matemáticos, e referem-se aos objetivos descritivos ou declarativos. O dado qualitativo é por sua vez a representação simbólica atribuída a manifestações de um determinado evento qualitativo, de acordo com Pereira (2001). Tratase, portanto da estratégia de classificação de um fenômeno aparentemente imponderável que, fixando premissas de natureza ontológica e semântica, instrumentaliza o reconhecimento do evento, a análise de seu comportamento e suas relações com outros eventos. É também uma forma de quantificação do evento qualitativo que normatiza e confere um caráter objetivo à sua observação. Nesse sentido, constitui-se em alternativa à chamada pesquisa qualitativa, que também se ocupa da investigação de eventos qualitativos, mas com referenciais teóricos menos restritivos e com maior oportunidade de manifestação para a subjetividade do pesquisador. 7 A pesquisa qualitativa tem, a princípio, o papel de interpretar as informações, tendo como elementos básicos de análise palavras, idéias, e maior interesse na qualidade das informações7. Macedo e Silva (2003) descreve a pesquisa qualitativa sendo caracterizada por uma quantidade volumosa de documentação, as quais se podem citar documentos de papéis, transcrições, jornais, fotocópias assim como documentos eletrônicos e em áudio e vídeo. O investigador que usa os dados qualitativos procura geralmente alcançar a compreensão de uma situação, experiência ou processo, através do aproveitamento dos documentos na sua forma original. A análise de dados qualitativos (termo usado para métodos que tratam de dados relativamente não-estruturados e que não consideram apropriado reduzir tais dados a números) é feita por muitas disciplinas e profissões, nos quais pode-se encontrar as ciências sociais e da saúde, pesquisa de mercado, estudos legais, políticos e históricos. Valem ressaltar que assim como as pesquisas qualitativas não estão isentas de quantificação, as pesquisas quantitativas prescindem de raciocínio lógico. Trata-se de alternativas metodológicas para pesquisa e a denominação qualitativa ou quantitativa não delimita para um ou outro objeto qualitativo e quantitativo, nem tampouco paradigmas científicos. Ambas podem interessar-se por qualquer objeto, a identidade de cada uma expressando-se no campo dos métodos e não dos objetos. Para Tavares dos Santos (2001) o termo metodologias informacionais é aplicado nas ciências sociais para designar instrumentos e técnicas que são formadas por teorias materializadas em ato, por ferramentas metodológicas, que amplificam, exteriorizam e modificam funções cognitivas humanas: memória, como bancos de dados, hiperdocumentos, arquivos digitais de todos os tipos, imaginação, percepção, raciocínios ou ainda a modelização de fenômenos complexos. A mesma pode ser usada dentre outras formas: Na montagem das bases de dados, através de programas de arquivo, gerenciamento e de busca qualificada de informações; na análise e explanação de variáveis (questionários, surveys e sondagens de opinião) e, 7 Para contrapor e esclarecer faz-se saber que a pesquisa quantitativa mensura as informações, tem como elementos básicos de análise os números e maior interesse na quantidade das informações. 8 no estudo de caso – estratégia de pesquisa que considera uma unidade social como um todo, apreendendo a multiplicidade de suas dimensões numa perspectiva histórico-genética, supondo a observação direta e sistemática – ao registrar os materiais de campo, transcrever entrevistas semidiretivas, diários de pesquisa ou colher referências de fontes secundárias. Os métodos informacionais, de uma maneira geral, consistem na organização dos procedimentos para a gestão de projetos, através de ferramentas computacionais, a fim de que se obtenha um melhor aproveitamento do trabalho a partir de uma quantidade significativa de base de dados disponível, resolvendo assim “o problema do acesso à informação” (TAVARES DOS SANTOS, 2001). Através dessa nova tecnologia informacional, pesquisadores poderão testar e gerar novas hipóteses, a partir de modelos computacionais que simularão o que acontece nas sociedades em variadas situações hipotéticas, a fim de buscar decodificar estruturas e ações coletivas e, desta maneira, descobrir regras localizadas que geram esses fenômenos. “Os modelos são baseados em observações de comportamentos e em dados empíricos registrados através de observações de muitos casos tanto em termos qualitativos quanto quantitativos” (DWYER, 2001). Procedimentos Institucional e Processual Através da Lei 5.944/96 foi criado o Sistema de Segurança Pública do Pará, que ligou a polícia militar, polícia civil, corpo de bombeiro, departamento de trânsito, depois Superintendência do Sistema Penal, Centro de Perícias Científicas “Renato Chaves” a Secretaria Executiva de Segurança Pública – a qual assumiu o papel de coordenador das ações integradas da política de segurança pública do Estado (Figura 2). 9 SUSIPE: Superintendência do Sistema Penal DETRAN: Departamento de Trânsito CIOp: Centro Integrado de Operações IESP: Instituto de Ensino de Segurança do Pará CEI: Centro Estratégico Integrado UNISAM: Unidade Integrada de Saúde Mental Figura 2: Sistema de Segurança Pública do Estado do Pará O fenômeno da violência, nas práticas policiais, aqui tratado foi o crime comum - o qual pode ser praticado por qualquer pessoa: o uso da força e a tortura. Por uso da força entende-se os mortos e feridos por arma de fogo (envolvimento de Agente de Segurança Pública Estadual, seja como autor ou como vítima), e por tortura definida pela Lei Federal n. 9.455/97, que considera esta prática de crime o constrangimento de alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, bem como submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Segundo Azevedo (2004), em razão do caráter não exclusivo do Inquérito Policial (IPL), a doutrina mais moderna prefere a denominação mais ampla de Investigação Preliminar, já que o Inquérito Policial é apenas uma das formas de Investigação Preliminar, havendo outras, como, por exemplo, a sindicância administrativa, que não será tratada neste trabalho. Logo o persecutio criminis (persecução criminal ou perseguição do crime) apresenta dois momentos distintos: a) o da investigação (Tratamento policial, Figura 3) e b) o da ação penal. (Procedimento Judicial, Figura 4) 10 Figura 3: Tratamento Policial Figura 4. Procedimento Judicial 11 Registro de Informações Foram considerados os casos de mortes ou ferimentos por arma de fogo ocorrido durante o período de 1998 a 2001, na micro região de Belém 8, no estado do Pará, em que houveram envolvimento de um agente de segurança pública estadual, seja como autor, seja como vítima ou na condição de ambos. Assim, foram incluídos casos em que um policial mata ou fere uma pessoa com arma de fogo, e casos em que um policial é morto ou ferido com arma de fogo. Na análise final contou-se com pelo menos um documento oficial, a saber: Boletim de Ocorrência Policial Laudo do CPC Renato Chaves Guia de Remoção de Cadáver Inquérito ou Processo Legal Atestado de Óbito Os critérios admitidos para o resgate e tratamento das informações decorrentes de fontes oficiais, relativas ao uso da força e tortura, considerando apenas aquelas que deram origem a inquérito, foram: 1. Uso da força: a) Registros da Ouvidoria de Polícia b) Banco de Dados da SDDH c) Banco de dados do CONSEP d) Boletins de Ocorrência Policiais do período considerado para extrair os casos correspondentes. 2. Tortura: a) Ouvidoria de polícia b) Corregedoria de polícia civil c) Corregedoria de polícia militar d) Boletins de ocorrências policiais e) Ministério Público f) Poder Judiciário 8 Municípios de Ananindeua, Barcarena, Belém, Benevides, Marituba, Santa Bárbara e os Distritos de Icoaraci e Mosqueiro. 12 O Banco de Dados Esse modelo computacional é baseado numa percepção de um mundo real que consiste em uma coleção de objetos básicos chamados entidades, e em relacionamentos entre esses objetos. É um modelo independente de aspectos de implementação (modelo de dados conceitual). Ao produzir um modelo de dados conceitual com a técnica de entidades e relacionamentos, obteremos resultados e esquemas puramente conceituais sobre a essência de um sistema, ou melhor, sobre o negócio para o qual estamos desenvolvendo um projeto, não sendo representados procedimentos ou fluxos de dados existentes. Esta técnica de modelagem de dados provê a visão estática do sistema e deve ser utilizada juntamente com outras técnicas de análise de sistemas para formar uma visão completa do mesmo, por exemplo, a simulação qualitativa, aplicação neste trabalho do software NVivio, que permite focar o fenômeno estudado a partir de várias hipóteses que vão sendo construídas e respondidas ao longo da investigação. A opção de desenvolver uma base de dados relacional, levou-se em consideração a escolha de um sistema que agilizasse a confecção de relatórios, visto que, para atingir a fase de elaboração de textos seria necessário examinar e analisar os diversos resultados extraídos da base de dados. Assim, o sistema poderia disponibilizar formas para trabalhar os dados conforme a necessidade da investigação. Isso denota que o sistema pode produzir relatórios particulares e dinâmicos por meio dos cruzamentos das informações nele contidas. O emprego de tal ferramenta pode selecionar e filtrar elementos que serão utilizados numa posterior análise qualitativa, mas também pode automatizar respostas para solicitações de natureza estatístico-matemático simples. A estrutura do banco de dados refletiu a mesma composição dos formulários, isto é, contou com dois bancos relacionais: um banco geral dos fatos, com todos os elementos do formulário do fato que incluiu todos os registros do episódio, exceto aqueles diretamente vinculados às vítimas ou autores; e outro banco de informações referente ao formulário para cada pessoa envolvida, o qual detalhou o perfil pessoal, os laudos relativos à pessoa, bem como o tipo de envolvimento como vítima, autor e ambos. 13 Software Nvivo A opção do uso do programa computacional Nvivo como instrumento de análise qualitativa complementar deve-se ao fato do registro de várias informações não quantificadas pelo banco de dados, além do uso entrevistas abertas com gestores envolvidos no sistema de segurança pública e vítima do fenômeno em estudo. .No entender de Macedo e Silva e Barp (2004), este programa proporciona uma extensa quantidade de ferramentas para anotar, manusear, enriquecer, codificar e acessar de uma forma mais rápida e acurada os registros de “rich data” e suas respectivas informações. Além destas, existem ferramentas que registram e unem, em diferentes etapas, idéias e reflexões relacionadas àqueles meios de pesquisas, a fim de que sejam removidas as “divisões” entre “dados” e “interpretação”. Isto significa dizer que são propostos muitos caminhos de conexão das partes do projeto, integrando assim reflexão e registro de dados, pois que, enquanto os dados são unidos, codificados, configurados e modelados, o programa ajuda a gerir e sintetizar idéias. A pesquisa no Nvivo (inicia quando é criado um projeto que reunirá dados, informações, observações, idéias e, o mais importante, as conexões entre eles, que são extremamente relevantes para a pesquisa. Os dados de todo e qualquer projeto são geridos pelos sistemas documentos, nós e atributo. É imperativo ressaltar que mesmo diante de tantas vantagens que o programa apresenta o mesmo é apenas uma ferramenta de apoio para a pesquisa qualitativa por isso não pode substituir o homem em sua tarefa interpretativa e intuitiva. Para Buston (1997) o Nvivo possui no processo de análise a vantagem de acelerar a rotina e tarefas comuns de forma que se tenha mais tempo para gastar no trabalho intelectual (brain-work), mas pode possuir a desvantagem se usado sem consciência de seu poder limitado em facilitar a construção de teoria. Produção de Resultados Os resultados da pesquisa estão sendo obtidos a partir dos dois procedimentos descritos acima de forma complementar (Figura 5): a) Análise quantitativa –inferência estatística a partir do banco de dados, e b) Análises qualitativas – interpretações, a partir de textos. 14 Figura 5: Métodos de Análise dos Resultados Bibliografia ALBUQUERQUE, F. G. de. Artigo científico: Pesquisa operacional aplicada a gestão de recursos hídricos. Revista Universa. Brasília, v. 9, n. 2, p. 225-244, jun. 2001. AZEVEDO, Bernardo M. V. de. Algumas considerações acerca do inquérito policial. Disponível em :<http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3828>. Acesso em <25.jul de 2004>. 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