XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL O SURGIMENTO E O AUMENTO NO NÚMERO DE CASOS DE DENGUE NA CIDADE DA CAMPANHA, SUL DE MINAS GERAIS, BRASIL Juliana Miranda MUNIZ¹ & Luciano Martins RIBEIRO¹ ¹ Professores da Escola Estadual Vital Brasil e da Escola São João ([email protected]) - Departamento de Biologia INTRODUÇÃO A dengue é considerada uma doença tropical, pois prolifera mais em países tropicais em razão do clima quente e úmido; por isso, nesses países há uma maior necessidade de estudo de prevenção desta epidemia. Estudos têm provado que o clima tem uma influência significante na distribuição do mosquito da dengue (Silva et al., 2008). A dengue é transmitida por mosquitos do gênero Aedes, sendo o Aedes aegypti seu principal vetor, originário da África (Chiaravalloti Neto, 1997). Ela se apresenta sob duas formas principais: a dengue clássica e a forma hemorrágica, ou febre hemorrágica de dengue (FHD) (Martinez-Torres, 1998). No Brasil, a partir da década de 1980, iniciou-se um processo de intensa circulação viral, com epidemias explosivas que atingiram todas as regiões brasileiras (Braga & Valle, 2007). Atualmente, a dengue pode ser encarada como tragédia nacional. No Brasil, esta doença é causada por 4 sorotipos: o vírus da dengue 1, 2, 3 e 4 (DENV-1, 2, 3 e 4). O avanço do vírus tipo 4 da dengue pelo Brasil é uma ameaça à saúde pública (Figueiredo, 2012). O aumento de ocorrência da dengue tem se constituído um crescente objeto de preocupação para a sociedade e, em especial, para as autoridades de saúde, em razão das dificuldades enfrentadas para o controle das epidemias produzidas por esse vírus e pela necessidade de ampliação da capacidade instalada dos serviços de saúde para atendimento aos indivíduos acometidos com formas graves, em especial a dengue hemorrágica (Barreto & Teixeira, 2008). O surgimento de casos de dengue em municípios onde não havia registros causa uma preocupação ainda maior, pois a dengue está disseminando largamente pelo país. Além disso, em muitas cidades não existem estratégias de controle e prevenção da doença ou estas são utilizadas tardiamente pelos órgãos competentes. Portanto, a reincidência da dengue ilustra as consequências da falta de manutenção das medidas de combate aos mosquitos (Mendonça et al., 2009). OBJETIVOS Este estudo teve como objetivos: i) realizar o levantamento do número de casos de dengue no município de Campanha-MG, ii) identificar as causas do aumento do número de casos diagnosticados e iii) analisar as medidas de controle e prevenção adotadas pelos órgãos municipais de saúde e pela comunidade. MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho trata-se de um estudo descritivo, para o qual foi realizado um levantamento de dados durante os meses de março a abril/2015 junto à Vigilância Epidemiológica da Cidade da Campanha-MG. Este órgão é responsável pelo planejamento, organização e execução de ações na área da saúde, estratégias de prevenção e programas de controle de doenças. 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL Campanha é um município de pequeno porte, considerado o mais antigo do Sul de Minas Gerais, tendo se emancipado em 1798. A cidade possui um território de 335,587 km2 e população de 15.433 habitantes, conforme dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os primeiros casos de dengue no município de Campanha-MG surgiram no ano de 2010, no qual tiveram alguns casos notificados, mas estes foram classificados como importados, ou seja, as pessoas contraíram a doença fora da cidade de Campanha. Não há nenhum registro de casos notificados à Vigilância Epidemiológica, anteriores ao ano de 2010. No ano de 2011, ocorreu a primeira epidemia de dengue no município, com 54 casos notificados, sendo 32 confirmados e 2 casos que tiveram complicações. Após esta epidemia, os órgãos de saúde desenvolveram campanhas de conscientização e ações de combate a dengue em toda a cidade. No ano seguinte, não houve nenhum caso confirmado de dengue em Campanha. A Vigilância informou que neste ano de 2012, houve 3 casos suspeitos que logo foram descartados. A Vigilância Sanitária do Munícipio de Campanha não possui informações de quais sorotipos do vírus ocorreram no município; portanto, não é possível afirmar que apenas as campanhas de conscientização foram responsáveis pela diminuição dos casos. Outra possível explicação para esta ausência de casos refere-se à susceptibilidade da população ao sorotipo circulante nos anos subsequentes à epidemia. Conforme o Manual de Dengue publicado pelo Ministério da Saúde (1995), a infecção por um dos sorotipos do vírus da dengue confere imunidade duradoura contra a reinfecção pelo mesmo sorotipo, enquanto a imunidade para os outros sorotipos é apenas parcial e temporária. A inspeção domiciliar é importante para controle do vetor, sendo que os profissionais podem ensinar aos moradores meios de evitar a proliferação do mosquito dentro das residências, além de determinar se está havendo reprodução dos mosquitos. O poder público deve preparar planos de ação emergenciais, caso aconteçam surtos e epidemias da doença, além de realizar campanhas escolares, campanhas de limpeza entre outras ações que objetivam a obtenção de resultados eficaz no controle do vetor (BRASIL, 2002). Em 2013, a dengue ressurge no município de Campanha, ocorrendo 56 casos notificados com 29 confirmados e em 2014 a doença persiste, sendo 33 casos notificados e 9 confirmados. Este reaparecimento da dengue pode ser explicado pela paralização das campanhas de combate à dengue e pelo menor envolvimento da comunidade. Segundo Silva et al. (2008), o trabalho da equipe de combate a dengue é desenvolvido através de visitas às residências, porém uma das maiores dificuldades da equipe é a falta de acesso, seja por ausência dos moradores ou pela não permissão da entrada do profissional nas residências. Esse controle sobre a vida e o ambiente das pessoas pode produzir um distanciamento entre família e profissional se o visitado entender que está limitando sua privacidade e sua autonomia (Reis et al., 2013). Neste ano de 2015, o município de Campanha vive a pior epidemia de dengue; de janeiro até o dia 17 de abril de 2015, já foram notificados 181 casos, sendo 68 confirmados. Esse aumento no número de casos reforça o pressuposto de que a Educação em Saúde não depende apenas de orientar as pessoas, mas também do seu envolvimento para que se responsabilizem por ações, executando as que lhes competem e exigindo dos órgãos públicos as medidas necessárias. (Valla, 1998). CONCLUSÃO O aumento no número de casos de dengue na cidade da Campanha-MG pode ser devido à circulação de diferentes sorotipos do vírus e também pelas paralizações das ações de prevenção, principalmente relacionado ao combate dos criadouros do mosquito. A eficiência no combate à dengue depende do envolvimento da comunidade e dos órgãos públicos. Porém estas ações devem ser constantes e não apenas nos períodos chuvosos, os quais são marcados por grandes epidemias. 2 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETO, Maurício L. and TEIXEIRA, Maria Glória. 2008. Dengue no Brasil: situação epidemiológica e contribuições para uma agenda de pesquisa. Estud. av. vol.22, n.64, pp. 53-72. BRAGA, Ima Aparecida e VALLE, Denise. 2007. Aedes aegypti: histórico do controle no Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde. vol.16, n.2, pp. 113-118. BRASIL, Ministério da Saúde, Departamento de Operações, Fundação Nacional de Saúde 1995. 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