ANÁLISE LINGUAGEM E MUNDO NO TRACTATUS DE WITTGENSTEIN Raíssa Marcelli Alves Rocha de Melo (Aluno em Iniciação Científica Voluntária/ Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET Filosofia), Gerson Albuquerque de Araújo Neto (Orientador, Depto de Filosofia – UFPI) 1. Introdução: Ludwig Johann Wittgenstein pode ser considerado um autor singular da filosofia contemporânea e fundamental para o impulso de duas correntes filosóficas importantes: Analítica e Filosofia da Linguagem. Sua primeira obra, Tractatus, marcou e provocou uma reviravolta no pensamento contemporâneo ao lançar uma crítica à filosofia como uma atividade que não consiste na reflexão e sim, como uma descrição da linguagem, uma atividade puramente gramatical, esse modo de ver o trabalho filosófico marcou uma reviravolta na filosofia contemporânea com a linguistic turn que influenciou diversos filósofos como Schlick, Carnap, Neurath, e outros mais que estão presentes no chamado “Círculo de Viena”. A sua primeira fase é marcada por diversos fatores culturais e pelo movimento da filosofia analítica (que teve pontapé com uma reformulação da lógica a partir de Frege) no final do século XIX para o início do século XX. O Tractatus, única obra em vida, causou um grande alvoroço e impulsionou maiores estudos sobre a relação lógica e linguagem e como elas estruturavam o mundo, procurando responder o que seria a natureza da necessidade lógica que tanto Frege quanto Russell não haviam explicado. É neste ponto de partida que Wittgenstein pensou na linguagem em relação aos problemas da filosofia e determinou um limite entre aquilo que pode ser dito e expresso por ela e aquilo que deve ser calado (inefável/místico), pois não pode ser dito e nem representado na linguagem, mas que estão presentes na vida cotidiana. 2. METODOLOGIA As leituras das obras de Wittgenstein definitivamente não são de fácil compreensão, mas não de impossível entendimento, pois apesar de que Wittgenstein aparenta discorrer aleatoriamente um pouco de tudo no Tractatus (até mesmo da natureza humana, da ética, da moral e até da estética) se nos focarmos na linguagem e no que ele dá por linguagem e compreender a sua análise e estruturação interna, poderemos, então, compreender os outros temas que são presentes na obra. Para fazer este trabalho foi necessário usar do método analítico, método este fundado por Gottlob Frege e muito utilizado e discutido por filósofos como Russell, pelo próprio Wittgenstein, por Edward G. Moore. Este método consiste na análise minuciosa da linguagem e que tem uma influencia de um movimento analítico chamado Linguistic turn, visão de que todos os problemas filosóficos são problemas de linguagem, portanto, resolvidos por ela. Nesta pesquisa o método analítico foi aplicado no levantamento bibliográfico com os principais comentadores de Wittgenstein além do próprio autor. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Será mesmo a linguagem a solução para os problemas abordados pela filosofia? Wittgenstein não vê na sentindo na metafísica e por isso a descarta, de modo que os problemas da filosofia, na verdade, são problemas que devem ser resolvidos pela linguagem. Dentro do próprio Tractatus também podemos notificar uma alteridade de isomorfismo, ou uma condição de semelhança onde notamos que há aspectos comuns, mas não necessariamente iguais (isso o que acontece entre o mundo e a linguagem, onde nota-se a estrutura semelhante, a lógica, com aspectos estritamente diferentes) então o mundo e linguagem se dão em uma relação de representação (realismo), a linguagem se propõe a descrever o mundo partindo de seus objetos do mundo. 4. CONCLUSÃO Na análise da primeira fase da filosofia Wittgenstaniana nota-se um esforço do filósofo em dar uma nova perspectiva sobre a filosofia. No sétimo e último aforismo do Tractatus “O que não se pode falar, deve se calar” se entende como uma crítica à postura da filosofia em buscar e solucionar problemas transcendentes e que não fazem sentido no mundo em prática. Elas acontecem, pois pertence à outra camada que estão além da linguagem, do mundo e da lógica e por isso não se pode expressá-las como problemas da filosofia. Além disso, verifica-se na filosofia wittgenstaniana que é dentro desses limites da linguagem que podemos então “dizer e mostrar” a modo de expressar a forma lógica comum da realidade e da linguagem, portanto as expressões que não vão descrever um estado de coisas possíveis serão sempre sem sentido. Se observarmos bem as expressões filosóficas sobre a natureza das coisas, do valor e sentido da vida, reparamos que estas são transcendentais e por isso não têm sentido, sendo assim, Wittgenstein diz que a filosofia é uma crítica da linguagem, porque ela não é um tipo de conhecimento e nem é uma ciência e deve ser um trabalho de análise da linguagem com a finalidade de ajudar a discernir o que se pode ou não dizer. O papel da filosofia tem o dever de classificar a linguagem e focar-se nos princípios e não em uma verdade absoluta, pois esta é a responsabilidade das ciências. Enquanto a lógica está presente no mundo e pode ser dada à priori, entretanto o sentido do mundo não está presente nele e assim estreitando os laços com a linguagem que a faz dizer o mundo, capacitando a expressabilidade das proposições e todas fazê-las com que se valorem igualmente. Por isso o mundo se limitará na linguagem, pois a lógica dentro dela é quem determina a sua estrutura, tratando o mundo como uma mimese: Um espelho que reproduz a imagem do mundo. 5. REFERÊNCIAS GLOCK, Hans-Johann. Dicionário Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 2005. FREGE, Gottlob.. Investigações Lógicas. Tradução: Paulo Alcoforado. 2.ed. Rio grande do Sul: EDIPUCRS, 2002. MARQUES, Edgar. Wittgenstein e o Tractatus. 1. Ed. Rio de Janeiro: Editor Jorge Zahar, 2005. MORENO, Arley. Wittgenstein através das imagens. Campinas: Editora da Unicamp, 1995. MORENO, Arley. Wittgenstein – os labirintos da linguagem, ensaio introdutório. 2º Edição. São Paulo: Moderna, 2006. PEARS, David. As Ideias de Wittgenstein. São Paulo: Cultrix, 1973. PINTO, Paulo Roberto Margutti. Iniciação ao silêncio: uma análise do Tractatus de Wittgenstein como forma de argumentação. São Paulo; Loyola, 1998. WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações Filosóficas. Tradução: José Carlos Bruni. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999 (Coleção Os Pensadores: Wittgenstein). WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractatus Logico-Philosophicus. São Paulo: Edusp, 2008. ZILLES, Urbano. O Racional e o místico em Wittgenstein. Porto Alegre: Edipucrs, 2001. Palavras Chaves: Mundo, Linguagem, Wittgenstein.