MULTIFUNCIONALIDADE NO ESPAÇO RURAL E AS “NOVAS FRONTEIRAS” PARA O ETNOTURISMO EM REGIÕES DEPRIMIDAS: ESTUDO DE CASO DE AGRICULTORES FAMILIARES DO VALE DO JEQUITINHONHA/ MG MULTIFUNCTIONALITY IN RURAL SPACE AND "NEW FRONTIERS" FOR ETHNOTOURISM IN SUB-DEVELOPED REGIONS: A CASE STUDY OF FAMILY FARMERS IN JEQUITINHONHA VALLEY / MG- SOUTHEASTERN BRAZIL Ludimila de Miranda Rodrigues Silva Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia [email protected] José Antônio Souza de Deus Professor Associado III- IGC/ UFMG [email protected] RESUMO Este artigo discute as experiências etnoturísticas desenvolvidas em comunidades tradicionais (de quilombolas e artesãos) domiciliadas no Vale do Jequitinhonha, inserindo tal problematização no horizonte de discussão da multifuncionalidade do espaço rural. A pesquisa utiliza categorias conceituais de análise e paradigmas de interpretação explicitamente geográficos e os procedimentos metodológicos aí adotados como formas de operacionalização da investigação compreenderam: pesquisa bibliográfica, cartográfica e documental; reconhecimentos de campo (efetuados nos municípios de Minas Novas, Turmalina e Angelândia/ MG); observação participante e realização de entrevistas semi-estruturadas com membros das comunidades pesquisadas. Conclui-se que a atividade turística contribui significativamente para os processos, em curso, de reafirmação da identidade cultural, protagonismo político e exercício da territorialidade destes atores, no contexto regional. Palavras-Chave: Multifuncionalidade no Espaço Rural, Agricultura Familiar, Etnoturismo, Vale do Jequitinhonha/ MG. ABSTRACT Ethnotouristic experiences developed in maroon peasants’ and artisans’ traditional communities situated in Jequitinhonha Valley (Minas Gerais state- southeastern Brazil) are at issue in this paper. These issues are contextualized within the framework of rural space multifunctionality. The research used clearly geographical conceptual categories of analysis and interpretation paradigms. Methodological tools adopted included: bibliographic and cartographic research; field works (accomplished in the municipalities of Minas Novas, Turmalina and Angelândia/ MG); participant observation and semi-structured interviews with members of the surveyed communities. It is concluded that tourism contributes widely to the processes, in progress, of these actors` cultural identity reinvention, active political participation and exercise of territorialities in the regional context. Keywords: Multifunctionality in Rural Space, Family Farming, Ethnotourism, Jequitinhonha ValleyMinas Gerais/ Brazil. INTRODUÇÃO Esta investigação aborda experiências da atividade turística desenvolvidas em comunidades tradicionais rurais de agricultores familiares sediadas na emblemática região do Vale do Jequitinhonha- no estado de Minas Gerais. O estudo coloca em pauta, por um lado, as práticas de turismo solidário implementadas nas comunidades de artesãos de Coqueiro Campo (município de Minas Novas) e Campo Buriti (Turmalina)- onde a produção de artesanato constitui o principal atrativo turístico local, ao lado da gastronomia; e por outro lado, as perspectivas de desenvolvimento do ecoturismo e/ ou do turismo de base comunitária nas comunidades quilombolas domiciliadas na Fazenda Alto dos Bois (município de Angelândia/ MG). Vale ressaltar que Rodrigues et al. (2012, p. 175) realizando uma abordagem etnogeográfica da produção do artesanato em comunidades quilombolas no Vale do Jequitinhonha ressaltam que tal atividade “tem se colocado atualmente como importante alternativa para a preservação das tradições culturais e para a geração de fonte de renda para as comunidades locais em seus territórios rurais tradicionais em diferentes regiões do Brasil”. Grünewald (2003, p. 145) assinala, a propósito, que: “[...] existem inúmeras formas de turismo e, embora algumas delas estejam totalmente despreocupadas com questões de história, cultura própria, raça, origem, como o turismo recreativo, outras formas tomam por objeto aspectos de identidade ou alteridade”, tendo, aliás, seu alcance e perspectivas, muito questionados e debatidos, hoje em dia, em diferentes regiões e países do mundo (ALDAPA, 2011). A pesquisa utiliza categorias conceituais de análise e paradigmas de interpretação explicitamente geográficos e os procedimentos metodológicos aí adotados como formas de operacionalização da investigação compreenderam: pesquisa bibliográfica, cartográfica e documental; reconhecimentos de campo empreendidos nos três municípios; observação participante e realização de entrevistas semi-estruturadas com membros das comunidades pesquisadas. As pesquisas de campo foram realizadas em abril e outubro de 2014; e em abril, julho e agosto de 2015, no âmbito do projeto intitulado: “Etnogeografia, paisagens culturais e gestão do território em comunidades tradicionais do Vale do Jequitinhonha/ MG” (patrocinado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais/ FAPEMIG). O TURISMO NO CONTEXTO DA PLURIATIVIDADE DO ESPAÇO RURAL De acordo com Rodrigues (2000, p. 51) o turismo rural é “uma modalidade ainda relativamente nova no Brasil quando comparada a outras, como o modelo ‘Sol e Praia’ e o ecoturismo. Não há marco preciso para datar o início desta atividade no Brasil devido à grande extensão geográfica do país”. Vale ressaltar, contudo, que as transformações atuais produzidas no espaço rural não permitem mais entendê-lo como um espaço exclusivo de atividades agrícolas uma vez que ocorre, hoje, aí, uma crescente diversificação de atividades agrícolas e não-agrícolas que remete à pluriatividade das famílias rurais. “Do ponto de vista histórico, o fenômeno da pluriatividade é uma constante na agricultura” (SOUZA, GROSSI, 2004, p. 100). As geógrafas M. Aparecida S. Tubaldini e Sandra M. Lucas P. Silva (2009, p.121) inclusive destacam que “a pluriatividade do trabalho é uma necessidade das comunidades camponesas” em termos da sua sobrevivência. Diversos autores, aliás, chamam atenção “para a necessidade de se observar os novos atores e novas funções adquiridas pelo espaço rural, afirmando inclusive o seu caráter multifuncional e a sua versão multipropósito” (SOUZA, GROSSI, 2004, p. 95), e se observa, assim, que emergem aí, “complementaridades proporcionadas pelos rendimentos das atividades rurais não-agrícolas, desenvolvidas interna ou externamente às explorações agrícolas (novos produtos agrícolas, turismo, indústria, artesanato, serviços, etc.)” – (SOUZA & GROSSI, 2004, p. 97). No âmbito das novas atividades que estão emergindo no meio rural, é relevante assinalar, a propósito, que o turismo rural assume um papel destacado, como uma vertente alternativa de desenvolvimento, capaz de revitalizar as áreas decadentes e estagnadas ao fomentar a diversificação de fontes de renda e oportunidades de trabalho para as comunidades locais (ELESBÃO, 2000). E Santos e Pirete (2004, p. 176) demarcam que “o turismo em espaço rural é um fenômeno recente no país” e, a cultura rural, o folclore, a gastronomia, e o artesanato são incluídos, no contexto do desenvolvimento desta atividade produtiva, “como atrativos a serem comercializados”... Já a geógrafa Maria Geralda de Almeida (2006, p.116) postula que na atividade turística é desejável que “a população local esteja engajada e participando ativamente. Às vezes, parte dela toma iniciativa criando infra-estrutura de hospedagem, de alimentação, oferecendo serviço de guia, de piloteiro, de conduta, ou comercializando produtos de artesanato”. Um aspecto particular a ser discutido, nesse contexto, é o papel sugestivamente assumido pelas mulheres, no campo como atoras que historicamente desenvolveram múltiplas atividades, tanto no setor agrícola, como em atividades não-agrícolas. Pois além dos afazeres domésticos as mulheres foram historicamente envolvidas, também, na lavoura de subsistência. O excedente dessa produção de subsistência era comercializado (MATOS, BORELLI, 2012, p. 140) e isso contribuía para a compra de produtos que não eram produzidos pela indústria doméstica (SILVA, 2009, p. 556). A família nesse contexto era, ao mesmo tempo, produtora e consumidora. A indústria doméstica tinha um peso importante, também, na produção para o consumo da família. Já a participação dos homens na indústria doméstica referia-se mais à produção de cestos, balaios, chapéus e móveis (SILVA, 2009, p. 556). O ARTESANATO COMO FONTE DE RENDA, SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA E REVALORIZAÇÃO DA CULTURA NO VALE DO JEQUITINHONHA/ MG No contexto regional das comunidades quilombolas de Minas Novas e Chapada do Norte no Jequitinhonha, segundo os pesquisadores1 Maria Aparecida S. Tubaldini, Raphael Diniz e Lussandra Gianasi, que têm realizado, recentemente, diversas pesquisas sobre a agricultura familiar nesse recorte territorial, a rotina de trabalho das mulheres tem se tornado mais exaustiva nos últimos anos/ décadas, “já que a migração sazonal vem retirando boa parte da mão de obra de seus maridos e filhos jovens do trabalho na roça” (TUBALDINI, DINIZ & GIANASI, 2012, p. 147). Nesse território, fundou-se, em 1994, uma associação de artesãs nas comunidades rurais de Coqueiro Campo e Campo Buriti (respectivamente localizadas nos municípios de Minas Novas e Turmalina), a qual foi constituída por agricultoras familiares (e donas de casa) que uniram suas forças para tentar aprimorar o artesanato local, até então pouco conhecido/ pouco desenvolvido, e que passaram a produzir artefatos de cerâmica (utilitários e ornamentais), como as famosas “bonecas de barro” do Vale, hoje mundialmente notabilizadas (DEUS, 2012; DEUS & CASTRO, 2014); e cuja singularidade é documentada numa rica literatura científica já desenvolvida especificamente a respeito dessa atividade, tão típica do Vale (DALGLISH, 2008; MASCELANI, 2008; NAME, YASSUDA, 2008). É relevante assinalar, aliás, que, no Jequitinhonha, os pigmentos usados na decoração das peças de cerâmica são naturais, extraídos do barro e encontrados em diversas jazidas de 1 Geografia Agrária argila da região. No processo de produção artesanal se usa rudimentares fornos a lenha. Fruto de um longo e delicado processo que envolve a coleta do barro, a sua transformação em argila, a modelagem, secagem, decoração e queima, essa cerâmica é testemunho de um modo de vida, de descobertas tecnológicas e adaptações específicas, bem como de padrões estéticos próprios. Como as técnicas de produção de cerâmica eram dominadas tanto pelos nativos da terra, como pelos colonizadores portugueses e pelos povos africanos escravizados, foi provavelmente a combinação de conhecimentos de todos esses atores que se materializou no saber dos atuais ceramistas do Vale. E é relevante assinalar, a propósito, que no estado de Minas Gerais, muitas regiões onde os processos de industrialização e de informação foram mais tardios, mantiveram, quase intactas, expressões culturais tradicionais, incluindo-se aí o modo de fazer artesanal, ao contrário de países/ regiões onde o processo industrial se intensificou e o saber fazer local se perdeu de forma irreversível. E paralelamente, também desenvolveu se nessas localidades, um programa de turismo solidário implantado a partir de iniciativa do governo estadual de Minas Gerais e parceiros (Ministério do Turismo, Instituto do Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais/ IDENE e Fundação Diamantinense da Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão/ FUNDAEPE) com o objetivo de implementar a ordenação turística destas comunidades que possuem rico patrimônio natural e cultural, mas que apresentam baixos índices de desenvolvimento humano. Diante do potencial turístico que as regiões do Vale do Jequitinhonha e Norte de Minas possuem (devido a seu rico patrimônio cultural), é que o programa se propôs a atuar como mola propulsora do “desenvolvimento sustentável” dessas regiões almejando uma potencialização da geração de trabalho e renda para as comunidades. Maria Aparecida M. Silva que recentemente pesquisou a cerâmica do Vale adotando como vertente de análise as relações de Gênero no Mundo do Trabalho ressalta, a propósito que: “trata-se de uma atividade que une agricultura e indústria (no sentido de produção e transformação), através da existência de um saber transmitido de geração em geração. Pelo fato de ser, sobretudo, um trabalho exercido pelas mulheres (os homens trabalham, em geral, a madeira e o couro), são elas que detêm este saber” (SILVA, 2013, p. 170). Entende-se artesanato como “a arte de confeccionar peças e objetos manualmente, em pequena escala, utilizando materiais e instrumentos simples e/ ou aparelhagem rudimentar, sem o auxílio de máquinas sofisticadas” (MATTOS, 2003, 156). O artesão é o “indivíduo que exerce, por conta própria, a arte e o oficio de executar, manualmente ou com o auxílio de instrumentos rudimentares, peças e objetos de artesanato” (MATTOS, 2003, p. 156-157). Ressalte-se que o Serviço Brasileiro de Apoio às Empresas (SEBRAE, 2005, p. 12) considera que o artesanato é um setor econômico essencialmente “sustentável” que valoriza a identidade cultural das comunidades e promove a melhoria da sua qualidade de vida, ampliando a geração de renda e os postos de trabalho nas comunidades envolvidas. Pois o artesanato é uma atividade econômica de reconhecido valor cultural e social que se assenta na produção, restauro ou reparação de bens de valor artístico ou utilitário, de raiz tradicional ou contemporânea e na prestação de serviços de igual natureza, bem como na produção e confecção tradicionais de bens alimentares. Vale ressaltar ainda que com o desenvolvimento acelerado da produção em série, gerado pela indústria e a uma massificação dos produtos, o artesanato tem que se diferenciar dos produtos industriais para poder sobreviver. Essa diferenciação é particularmente relevante, porque sendo essencialmente trabalho manual, ele permite a expressão de criatividade em todas as suas dimensões, podendo cada peça corresponder a um objeto decorativo ou uma obra de arte. E hoje em dia, esta função constitui forte motivação para a compra, pois a atividade artesanal gera um produto exclusivo, diversificado e de grande valor artístico, conjugando dessa maneira o design e a utilidade como atributos essenciais para que ele tenha aceitação no mercado consumidor. O escoamento da produção e a comercialização dos produtos constituem, contudo, os maiores desafios para a otimização do desenvolvimento da atividade. O turismólogo Sidney D. Batista, que recentemente concluiu dissertação de Mestrado no Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais- IGC/ UFMG2, coloca em pauta, por sua vez, as perspectivas do Turismo noutro recorte territorial do Vale: o sítio histórico cultural da Fazenda Alto dos Bois, situado em Angelândia/ MG3, onde coexistem uma paisagem natural atraente (com a presença, em seu entorno, de cachoeiras, grutas e fragmentos de Mata Atlântica, por exemplo) e uma paisagem cultural sugestiva e dinâmica, devido à existência, aí, de agricultores familiares quilombolas (que se destacam por seus modos de vida, culinária típica, espacialidades festivas, etc.). O Alto dos Bois é um dos sítios geográficos onde o patrimônio cultural regional (composto por aspectos naturais, históricos e arquitetônicos) integra-se à paisagem. A Fazenda do Alto dos Bois foi tombada como Patrimônio Público Municipal pela Lei n.º 058/ 1999, aprovada em 06 de julho de 1999 na Câmara Municipal. Localiza-se na porção noroeste do município, próxima aos limites 2 A Dissertação foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Geografia e orientada pelo Prof. José Antônio S. Deus. 3 O município de Angelândia está localizado no Alto Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas Gerais. Possui extensão territorial de 185.21 km² e população de cerca de oito mil habitantes- dos quais, mais da metade, domiciliados na zona rural. municipais de Capelinha e Minas Novas. O sítio foi visitado, no século XIX, por viajantes como: Pohl (1976), Saint Hilaire (2000), D’Orbigny (1976), Spix & Martius (2005) e Tschudi (2006). E o auto-reconhecimento destas comunidades como quilombolas desencadeou, sua certificação pela Fundação Palmares em 04 de novembro de 2010. Tais comunidades experimentam uma vivência espacial muito singular, relacionada à cultura camponesa e à preservação de características identitárias próprias, expressas em práticas culturais ancestrais, processos sincréticos de dinamicidade cultural e uma organização social específica. Em entrevistas semi-estruturadas realizadas com os moradores, verificou-se que as comunidades locais (de Alto dos Bois, Barra do Capão e Córrego do Engenho) possuem “uma noção do que seja a atividade turística” e “gostariam que aumentasse o número de turistas” in loco. A pesquisa aponta que “a região possui um potencial turístico...”, em especial para o turismo cultural e o ecoturismo (BATISTA & PAULA, 2014, p. 279). E vale ressaltar ainda que nas pesquisas de campo, os dados que emergiram da fala dos entrevistados na “sociedade envolvente”, revelam que a relevância, em termos históricos, culturais, paisagísticos, etc., do Alto dos Bois é amplamente reconhecida pela população domiciliada na sede municipal. Traçando-se um paralelo com a situação hoje vivenciada pelos quilombolas noutros contextos territoriais (quanto a seu relacionamento com a atividade turística), é sugestivo notar que a geógrafa Maria Geralda de Almeida registra que “há um súbito e crescente interesse pelos bens culturais, pelos saberes, pelos grupos étnicos. O que pode explicar o fato de o sítio dos kalunga4 ter se transformado em um dos atrativos turístico-culturais mais visitados do estado de Goiás... (ALMEIDA, 2014, p. 200). Tais fenômenos e processos são observados, aliás, em outras populações tradicionais, a exemplo das sociedades indígenas, como pode se verificar, por exemplo, nas comunidades indígenas pataxó(s)5 sediadas no litoral sul da Bahia (“Costa do Descobrimento”) e em Carmésia, no Vale do Rio Doce- MG, já investigadas por pesquisadores nas perspectivas da Geografia Cultural/ Etnogeografia e da Antropologia do Turismo (DEUS & SILVA, 2015; GRÜNEWALD, 2001, 2002, 2015). 4 Um dos mais emblemáticos núcleos quilombolas do país, domiciliado numa área ainda bastante preservada do Cerrado goiano (ALMEIDA, 2010, 2012). 5 Povo indígena do Tronco Macro-Jê, da Área Cultural Leste/ Nordeste. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como registra Almeida (2014, p. 200), “o turismo é um fenômeno social que manifesta um crescimento constante [sendo] considerado como uma importante fonte de riqueza econômica e como oportunidade para impulsionar áreas deprimidas nos aspectos econômicos e sociais”. Ramos & Almeida (2014) enfatizam, contudo, que buscar mecanismos que consigam conciliar a conservação da biodiversidade e da sociodiversidade, o desenvolvimento das atividades de visitação e lazer, a manutenção do respeito e a valorização da cultura local constitui um grande desafio no planejamento e desenvolvimento da atividade turística, sobretudo quando desenvolvida em áreas protegidas e/ ou territórios de comunidades tradicionais. Pois como também ressalta Almeida (2003, p. 18) encontrar formas de “proteger a cultura local sem torná-la mais uma mercadoria a ser consumida pelo turismo, é um dos dilemas sérios daquelas comunidades que hesitam em tornarem-se turísticas”. E como aponta Alfonso (2003), o sistema turístico tem necessariamente que levar em consideração, portanto, as questões concernentes tanto à sociedade local, como aos visitantes e, consequentemente, os estudos que contemplam a problemática do turismo devem estar dirigidos à busca do bemestar de ambos os atores, na perspectiva da minimização dos impactos negativos aí envolvidos, sejam eles físicos, econômicos, sociais ou culturais. Nos recortes territoriais que investigamos podemos sinalizar que em Coqueiro Campo e Campo Buriti, a pequena escala do empreendimento, por um lado; e o perfil “despojado e consciente” das pessoas que procuram o lugar como atrativo turístico, por outro lado, não parecem evidenciar uma grande amplitude de tais impactos (ou riscos), nas duas comunidades. Já no Alto dos Bois, pode-se perceber que prevalece entre os moradores das três comunidades aí sediadas (Alto dos Bois, Barra do Capão e Córrego do Engenho), uma visão ainda romântica e idealizada do turismo, que não antevê a possibilidade de ocorrência de tais externalidades (na hipótese da intensificação da atividade turística em seus territórios). Mas observa se, em ambas as comunidades, um rico processo de aprendizado político que vai se desenvolvendo, à medida que elas entram em contato com novos interlocutores e novas realidades, em seu cotidiano e vão se realinhando e se ressignificando de forma contínua e extremamente dinâmica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALDAPA, Rosa Mayra Ávila. Turismo Cultural en México: Alcances y Perspectivas. México (D. F.): Editorial Trillas, 2011, 140 p. ALFONSO, Maria José Pastor. El Patrimonio cultural como opción turística. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 9, n. 20, p. 97-116, out. 2003. ALMEIDA, Maria Geralda. 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