Encontro do Projeto Fundão – 2004 - UFRJ PARA O FOLDER Título: CONSTRUINDO IDÉIAS GEOMÉTRICAS O ensino-aprendizagem de geometria nas séries iniciais do ensino fundamental frente as atuais tendências da educação matemática. Construção de sólidos. Produção coletiva de idéias geométricas. Classificação dos sólidos. Classificação de figuras planas. Discussão teórica. Sugestão de livros e vídeos. Público Alvo: Professores de 3ª, 4ª e 5ª séries PARA OS ANAIS Título: CONSTRUINDO IDÉIAS GEOMÉTRICAS Ana Maria Carneiro Abrahão1 [email protected] [email protected] Nos últimos vinte anos têm-se reconhecido, de forma crescente que os obstáculos que as crianças têm encontrado para aprender geometria estão muito ligados às suas concepções do mundo espacial. Elas chegam à escola conhecendo algo do seu mundo espacial, mas conhecendo pouco de matemática. Na escola ela se depara com alguns obstáculos durante seu processo de aprendizagem de geometria. O primeiro obstáculo para aprender geometria já aparece nas séries inciais do Ensino Fundamental onde a maior atenção é destinada à aritmética em detrimento da geometria, onde uma grande maioria de professores primários crêem que sua única responsabilidade no ensino da matemática é desenvolver nos alunos a facilidade para a computação aritmética. O segundo obstáculo advém da falta de conexão das atividades geométricas desenvolvidas em sala de aula com o mundo espacial fora da aula, talvez porque os conceitos sejam apresentados de maneira formal ao invés de forma empírica ou intuitiva. Essa ausência da realidade gera desinteresse e faz os alunos sentirem a matemática irrelevante frente ao mundo real. Como diz Bernard Charlot, o saber tem que ter sentido.Um terceiro obstáculo para a aprendizagem da geometria pode ser decorrente da discordância entre a linguagem usada nas escolas e a lingua materna ou linguagem da cultura familiar. A linguagem específica da geometria não deve ser um complicador, como diz Vygotsky, pode até favorecer e desencadear a aprendizagem. Um outro obstáculo é a falta de informações e formação geométrica dos professores regentes. É indispensável um programa de formação e atualização continuada, de apoio ao professor, que chegue o mais próximo possível da sua unidade escolar. Mais um obstáculo refere-se à dificuldade do professor em utilizar material concreto no ensino da geometria, materiais que podem ajudar na compreensão e construção de idéias geométricas. A esses obstáculos externos se somam os obstáculos decorrentes dos fatores internos do aluno como indivíduo. É ele capaz de internalisar suas experiências espaciais? De falar delas e refletir sobre elas? De representar fenômenos espaciais? No Ensino Fundamental é necessário trabalhar a ampliação das idéias de espaço geométrico e a matemática da classificação, descrição e relação. Aqui, idéias matemáticas podem incidir sobre as atividades espaciais, como o uso dos números na tarefa de medir. Articulando geometria, cálculos e medidas, o saber cria mais significado. Se o aluno perceber que a matemática escolar o ajuda a ampliar sua compreensão do mundo, isso pode ser a chave para a aprendizagem significativa. A construção do mundo espacial pela criança preocupa os professores de artes pláticas, de dança, de educação física e de geografia. Entretanto, a preocupação do professor de matemática difere das visões dos outros professores. É difícil para o aluno dizer se um desenho de um polígono de três lados representa um triângulo ou é um triângulo. Se um dos catetos estiver inclinado, então, Mestre em Matemática pela PUC-Rio. Supervisora do Projeto Ciências e Matemática – SMERJ/E/DGED/DEF. Professora de Matemática da UVA. Professora de Matemática do ISERJ. 1 2 a situação é mais complexa - é ou não é triângulo retângulo? Existe alguma diferença entre um círculo e um disco? O desenho utilizado na aula era círculo ou circunferência? O quadrado é um retângulo? Será que o aluno faz confusões entre forma e conteúdo porque nós ensinamos assim? O que é importante aprender em geometria? Ao iniciar o ensino da geometria a partir das experiências espaciais da criança, dever-se-á tratar de matematizar essas experiências, limitando o que é importante. Assim, ao invés das definições do círculo, o aluno precisará desenvolver a idéia de “circularidade”, para comparar em seguida com a forma quadrada, relacionando-a com a “retangularidade” (Bishop). Para representar as figuras geométricas existe um vocabulário visual com convenções e muitos símbolos, que deve ser compreendido pelo aluno. Muitas confusões entre forma e conteúdo são consequências do uso indevido que o próprio professor faz do vocabulário visual e do vocabulário falado. Se o professor mostra um sólido com face quadrada e o chama de quadrado, se utiliza expressões como “vertical" ao invés de “perpendicular”, se mostra uma região circular e a chama de “círculo” pode gerar confusão de orientação e identificação de figuras. Também as representações que o professor faz no quadro negro e as atividades que oferece aos alunos mostrando objetos sempre de uma mesma posição, pode, como Fisher (1978) concluiu após pesquisa, levar os alunos a terem preferência pelas figuras na posição vertical, limitando e confundindo a compreensão do aluno. Para minimizar as confusões entre forma, conteúdo e a representação das idéias geométricas o professor precisa propor atividades que envolvam diferentes formas, construção de modelos, cartografia, mosaicos, recortes e colagem. É importante que as crianças experimentem diferentes classes de representação traduzindo objetos, figuras e símbolos. Com a orientação do professor elas podem redigir, de forma coletiva, as características e propriedades das figuras. É importante que o professor procure conhecer e fazer um uso muito mais amplo do ambiente espacial do aluno, valorizando a geometria, não só no seu reconhecimento matemático espacial individual, mas também como uma alternativa de apresentar a possibilidade de resolver problemas matemáticos por outro enfoque, talvez mais interessante do que aquele que os alunos estão cansados de usar, muitas vezes, sem sucesso.