Conjuntura Econômica do Brasil Setembro de 2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM ECONOMIA
POLÍTICA
Evolução da economia brasileira
Conjuntura Econômica do Brasil
Setembro de 2008
Anita Kon
De acordo com a última informação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no
segundo trimestre de 2008 a economia brasileira teve uma expansão considerável de 6,1%, quando
comparado com igual período de 2007 e em relação ao primeiro trimestre de 2008, o PIB trimestral
cresceu 1,6%. No acumulado do semestre, o Produto Interno Bruto se elevou em 6% em relação ao
período de janeiro a junho de 2007. Este resultado consiste no melhor semestre desde 2004, quando o
PIB cresceu 6,6%. A taxa acumulada dos últimos 12 meses (encerrados em junho) indica alta de 6%
do PIB em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. Este resultado ficou acima do que
previam os analistas de mercado, que estimaram a variação do PIB no segundo trimestre entre 5% e
5,3%.
Este crescimento se deve, por um lado a um incremento significativo do consumo das famílias
de 6,7% no segundo trimestre comparação com igual período de 2007 e em relação ao primeiro
trimestre, constatou-se crescimento de 1%. Por sua vez, o consumo do governo também registrou alta
de 5,3% no segundo trimestre se comparado a igual período em 2007 e em relação ao primeiro
trimestre deste ano, o consumo do governo aumentou 0,3%.
O aumento da demanda pela produção de commodities e para consumo interno, juntamente
com a aceleração do crédito, contribuíram ainda para o incremento do PIB. Dessa forma, o setor
agropecuário foi o que mostrou o maior crescimento (7,1%) em relação ao segundo trimestre de 2007
e 5,2% no semestre, com expansão de 3,8% na comparação com o primeiro trimestre. Os demais
setores também registraram resultados satisfatórios de frente ao segundo trimestre de 2007 de
incremento de 5,5% e de 5,7% respectivamente para os serviços e setor de manufaturados e em relação
ao primeiro trimestre, de 1,3% e de 0,9%. A expansão do setor industrial foi comandada pela
construção civil que cresceu 9,9% no segundo trimestre deste ano, em relação a igual período em 2007
e no semestre subiu 9,5%. Este incremento foi influenciado pelas obras públicas principalmente, mas
também por um aumento considerável da oferta de habitações.
Entre outros setores industriais que tiveram bom desempenho, destacam-se a indústria
extrativa mineral que teve alta de 5,3% no segundo trimestre, graças ao crescimento de 7,3% da
extração de minério de ferro e de 5,1% de petróleo e gás, pois setor petrolífero é responsável por mais
de 70% do total da indústria extrativa mineral. Ainda se destacou o desempenho dos setores
automobilístico e de máquinas e equipamentos, que contribuíram decisivamente para que a indústria
de transformação alcançasse um desempenho 4,8% superior ao que fora constatado no segundo
trimestre de 2007.
No primeiro semestre de 2008, as expectativas otimistas sobre a economia estimularam os
investimentos físicos e a Formação Bruta de Capital Fixo cresceu significativamente (16,2%) no
segundo semestre, quando comparada a igual período do ano anterior, e na comparação com o
primeiro trimestre, houve aumento de 5,4%. A taxa de investimento (FBCF/PIB) resultou ficou em
18,7% no segundo trimestre, consistindo na maior para o período. No primeiro semestre, a taxa de
investimento também bateu recorde, ficando em 18,5%, e em 12 meses, ficou em 15,5%.
No que e refere à Balança Comercial as exportações de bens e serviços cresceram 5,1% no
segundo trimestre, após uma queda no trimestre anterior e em relação ao primeiro trimestre do ano, a
alta também foi significativa, de 8,5%, resultando em um crescimento no acumulado do semestre de
1,6% e, em 12 meses de 2,8%. Porém queda de preços das commodities que vem se realizando no
mercado mundial se agrava com a desmontagem de posições no mercado futuro e também com as
expectativas de diminuição da demanda no mundo real, tenderá a se refletir na queda do valor
exportado.
Já no mês de julho as exportações e as importações brasileiras registraram valores recordes
com vendas de US$ 20,45 bilhões e compras de US$ 17,14 bilhões. O resultado foi um superávit de
US$ 3,3 bilhões, valor porem 5,5% menor que em julho de 2007. O desempenho das exportações nos
primeiros sete meses do ano também demonstra que a alta dos preços de alimentos e metais vêm
recuperando as vendas externas do país. As importações, por outro lado, reduziram o ritmo de alta. No
acumulado de 2008, foram importados US$ 96,45 bilhões, aumento de 52,2% em relação aos
primeiros sete meses de 2007. A conseqüência foi a melhora no superávit comercial, que vinha se
deteriorando fortemente ao longo do ano e a melhora auxilia o balanço de pagamentos. No primeiro
semestre deste ano, o país teve um déficit recorde na história em transações correntes: US$ 17,40
bilhões.
No entanto, já se notam sinais de desaquecimento, pois as previsões são de que o PIB atingirá
4,5% m 2008 e 3,5% em 2009. O Brasil irá atravessar um período de ajustamento, devido à recessão
global, como os demais países que são estimulados pela economia americana que está começando a
entrar em recessão. Por outro lado, em 10 de Setembro o Banco Central elevou as taxas de juros em
0,75%, resultando na taxa de juros oficial (Selic) de 13,75% ao ano, o que desestimula os empréstimos
para a demanda interna e para capital de giro e novos investimentos das empresas.
A situação atual de arrefecimento das commodities no mercado internacional fez com que a
inflação brasileira caísse e deu margem para que o Banco Central fosse menos cauteloso e afrouxasse
um pouco a política monetária, para que o país pudesse ter condições de manter o nível de consumo
em alta e o crescimento da economia em ritmo elevado, mesmo em meio a turbulências no cenário
internacional. Os analistas consideram que a inflação já está acomodada e não esperam uma
desaceleração muito forte da economia na segunda metade do ano porque o consumo das famílias, que
responde por mais de 60% da demanda do PIB ainda continua crescendo em ritmo superior ao da
economia.
A inflação veio decrescendo em julho e a taxa caiu para 0,45%, porém as expectativas são de
que em setembro a taxa média volte a subir, e o segundo semestre do ano ainda pode ser contaminado
por nova alta dos alimentos.O governo acredita que a elevação da taxa básica de juros já surte efeito
na projeção da alta de preços. E que já existem sinais de que a política monetária começou a
influenciar as expectativas de inflação, controlando os efeitos da aceleração inflacionária de 2008
sobre as expectativas. A estimativa do Índice de Preços do Consumo (IPCA) para 2008 mostrou
desaceleração em Agosto caindo de 6,45% para 6,44% abaixo dos 6,5% do teto da meta oficial, mas
para 2009, foi mantida em 5% e a projeção dos analistas de mercado é de 4,5% para 2010 e de 4,45%
para 2012. A taxa de desocupação mostrou em julho uma ligeira alta avançando para 8,1% em julho,
pois o mercado de trabalho vem passando por um processo de transição e isto não configura uma piora
significativa, mas sim um ajuste. Observam-se, no entanto expectativas para o próximo ano de que a
elevação da taxa de juros terá reflexos no desemprego, que só deverá ser confirmado posteriormente.
Alguns analistas acreditam que os efeitos da política monetária sobre o mercado de trabalho tendem a
ser suaves e este mercado responde com uma certa inércia a mudanças no cenário macroeconômico.
EITT/PUCSP – Grupo de Pesquisas em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia
Contatos: [email protected] - São Paulo/Brasil
Assistente de pesquisa: Emmanuel Nakamura
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