Disciplina: Dinâmica de Ecossistemas Marinhos Processos químicos em ambientes estuarinos, costeiros e oceânicos Profa. Mônica Wallner-Kersanach Prof. Carlos Francisco de Andrade Julho 2014 Disciplina: Dinâmica de Ecossistemas Marinhos Profa. Mônica Wallner-Kersanach • 01/7/2014 • Estuários: processos químicos • Dinâmica praial: processos químicos (Prof. Carlos) • 08/7/2014 • Plataforma Continental: processos químicos • 15/7/2014 • Ressurgência: processos químicos • Interfaces/Frentes: processos químicos Estuários: processos químicos Profa. Mônica Wallner-Kersanach Conteúdo da aula • Definição de estuários e sua estratificação; • Estuários como filtros e comportamento dos elementos; • Identificação da reatividade estuarina; • Comportamento conservativo e não conservativo dos elementos; • Reatividade biogeoquímica; • Natureza do material particulado e dissolvido; • Processos que envolvem a adição e a remoção de componentes dissolvidos. Definição de estuário • Prichard (1967) definiu estuários, mas a definição foi considerada depois de uns anos vaga. Portanto a definição de Fairbridge (1980) foi considerada a mais apropriada: “ um estuário é uma entrada de água do mar dentro de um vale de rio, normalmente sendo dividido em três setores: a) um marinho ou baixo estuário, em conexão com o mar aberto; b) um médio estuário, sujeito a uma forte mistura de água salgada e doce; e c) um estuário superior ou fluvial, caracterizado pela água doce, mas sujeito a ação diária da maré.” Estratificação Exemplos de tipos de estratificação em estuários • Estuários podem apresentar vários tipos estratificação, que influenciam na dispersão dos elementos químicos. 3. In.: Clark, R. B. 2002. Marine Pollution. Oxford University Press, p. 237. Estuários como filtros • Estuários funcionam como filtros químicos, físicos e biológicos; pontos a considerar: 1) os filtros estuarinos agem sobre diferentes elementos, ex.: espécies dissolvidas provenientes de rios são diluídas no estuário e então carreadas para o oceano, enquanto outras reagem sendo adicionadas ou removidas da fase dissolvida; 2) o efeito dos filtros pode variar muito de um estuário para outro, sendo difícil identificar processos estuarinos globais; 3) é necessário considerar o status do estuário antes de fazer qulquer tentativa de extrapolar sua dinâmica para ums escala mais ampla oceânica. Comportamento dos elementos na zona de mistura estuarina • Os filtros estuarinos atuam no material dissolvido e particulado que flui através do sistema, e ambos podem modificar e atrapar componentes fluviais transportados dentro da zona de mistura. • Um equilíbrio pode ocorrer em ambas direções, por ex., o material particulado pode agir como fonte de componentes dissolvidos, que é liberado em solução, ou como decantador de componentes dissolvidos, que são removidos da solução. • O sedimento não é um reservatório estático de elementos no estuário, mas é sujeito a processos físico, químicos e biológicos. O processo de reciclagem inclui: 1) a difusão química dos componentes para a água intersticial; 2) a difusão dos componentes da água intersticial para a coluna d´água sobrejacente; 3) a ressuspensão do sedimento pela ação da maré, podendo transferir componentes de uma parte para outra do estuário. • Como o sedimento possui uma importância biogeoquímica em estuários, pode ser considerado um terceiro membro no processo estuarino, além da água de rio e a água do mar. Esquema sobre o transporte das frações particulada (p) e dissolvida (d) do rio até o oceano Chester (2003) p kd Indica a reatividade entre particulado e dissolvido, associado com processos d físico, químicos e biológicos. kd = coeficiente de partição kd = X/C X = conc. do elemento trocável na fase particulada; C = conc. do elemento na fase dissolvida. Estudos de balanço de massa • O coeficiente de partição é um modelo de equilíbrio entre as frações dissolvida e particulada na água e pode ser complementado aplicando equações de balanço de massa; • A entrada de fluxos pelos rios e oceano, além do material particulado em suspensão pode ser considerada aplicando equações do balanço de massa, ex. Morris (1986) segundo Chester (2003) – pág. 38-40. Identificação da reatividade estuarina • Processo que modifica o transporte de elementos químicos proveniente dos rios é a mistura física das águas doces com a salgada. • Se ocorrer ausência de processos biogeoquímicos (reatividade) que leve a uma adição ou remoção de componentes, resultará em uma relação linear entre a concentração e a salinidade ao longo do estuário. • O diagrama de mistura é utilizado para avaliar os efeitos que processos biogeoquímicos reativos possuem na distribuição dos componentes no estuário. • Neste diagrama a concentração é plotada contra um index conservativo de mistura, sendo a salinidade a mais utilizada, embora o cloreto tenha sido utilizado no passado. Comportamento de elementos dissolvidos em estuários Salinity Comportamento conservativo do boro dissolvido no estuário Tamar. Salinity Comportamento não conservativo do ferro dissolvido no estuário Beaulier. Se a distribuição de um componente dissolvido é controlado apenas por processo físico de mistura e se ao longo da salinidade sua concentração fica abaixo da linha teórica de diluição, O componente é considerado conservativo ou não reativo. Ao contrário, se a concentração fica acima da linha teórica de diluição, o comportamento é não conservativo ou reativo. Comportamento não conservativo do bário dissolvido no estuário Changjiang Comportamento não conservativo do manganês dissolvido no estuário Tamar. Dados de diferentes cruzeiros = Mn(II) = total Mn Comportamento não conservativo do cobre dissolvido no estuário Savannah. Chester (2003) O gráfico de mistura que demonstra que componentes comportam-se de maneira não conservativa em estuários, pode ter uma variedade de formas. Podem indicar: a) ganho ou perda de componentes dissolvidos; b) algumas vezes podem identificar específicas zonas estuarinas onde as reações podem ocorrer. Comportamento conservativo dos elementos • Elementos maiores possuem em geral um comportamento conservativo em todas as situações estuarinas, como Na+, K+, Ca2+ e SO4 2-. • Boro em estuários parece ter um comportamento conservativo em muitos estuários. Comportamento não conservativo dos elementos • O carácter não conservativo dos elementos pode ter uma variedade de formas, podendo indicar ganho ou perda de componentes dissolvidos: 1) Remoção de componentes dissolvidos, ex. Fe (Fig. 3.5, b, ii); 2) Adição de componentes dissolvidos, ex. Ba e Cu (Fig. 3.5, b, iii e iv); 3) Combinação de adição e remoção, ex. Mn (Fig. 3.5, b, v). (1999) Niencheski et al., 1999. Limitações do diagrama • Este diagrama pode se difícil de interpretar, caso ocorra contribuição de imput (ex.: efluentes) no sistema estuarino. • Não fornece informações o porquê do componente se comportar desta forma ou a natureza das reações biogeoquímicas, que causou a reatividade estuarina. • Necesário conhecer a natureza dos processos reativos que ocorrem na zona de mistura do estuário. Reatividade biogeoquímica • Controlada por vários parâmetros físico-químicos: - pH, - potencial óxido-redutor, - salinidade, - concentração de ligantes complexantes, - nutrientes, - componentes orgânicos, - material particulado. • Todos estes parâmetros passam por grandes variações nos estuários, como resultado pelo qual uma variedade de transformações dissolvido particulado são gerados na zona de mistura. • Estas transformações são guiadas por fatores físico, químicos e biológicos, que incluem: a) sorção na superfície de partículas em suspensão; b) precipitação; c) floculação-agregação; e d) incorporação via processos biológicos. Fontes externas de material particulado no estuarino • 3 classes de fontes externas de material particulado podem ser identificadas: - Particulados provenientes de rios; - Particulados atmosféricos; e - Particulados oceânicos. Importante como fonte externa: a entrada de água salgada, que além de trazer particulados, remobiliza o sedimento de fundo. O tipo de maré (sizígia ou quadratura) atuante e sua velocidade vão determinar o grau de resuspensão do sedimento de fundo, quando da entrada da água salgada no estuário. 3. In.: Clark, R. B. 2002. Marine Pollution. Oxford University Press, p. 237. Fontes internas de material particulado no estuário • Fontes internas que incluem: a) floculantes e precipitados orgânicos e inorgânicos; b) matéria orgânica viva e não viva. • Dentre os vários processos que levam a formação de paticulados estuarinos, (a) floculação, (b) precipitação e (c) a produção biológica da matéria orgânica são especialmente importantes. http://www.scopenvironment.org/downloadpubs/scope35/chapter13.html A concentração e a natureza do material dissolvido em estuários • Conc. dos componentes dissolvidos em rios excedem as conc. destes na água do mar. • A conc. inicial dos componentes dissolvidos no estuário é regulado pela entrada da água oceânica no estuário. • A natureza ou especiação dos componentes dissolvidos é afetada durante a mistura da água doce com a salgada. • O termo especiação refere-se a forma como o elemento ocorre, ou seja, a forma molecular do átomo de um elemento ou grupos de átomos de diferentes elementos numa determinada matriz. • Descrever a especiação química de um elemento significa identificar seu estado de oxidação e todas as formas deste elemento. Ex.: Espécie química Hg++ Al+++ Matriz água do mar água do mar Espécie combinada HgCl4-Al (OH)30, Al (OH)4- • A complexação competitiva entre os principais - ligantes inorgânicos (ex.: íons cloretos, sulfatos, carbonatos e hidroxilas), - ligantes orgânicos (ácido húmico) e - material particulado são os principais fatores que controlam a especiação de elementos inorgânicos em águas naturais. • Diferenças entre os parâmetros físico-químicos entre a água do rio e a do mar são também importantes: 1) salinidade, 2) composição iônica e conc. de ligantes complexantes (maior em rios: cálcio e bicarbonato; maior em água do mar: sódio e cloreto), 3) pH (rios podem ser ácidos ou alcalinos, variando de 5-8; água do mar em torno de 8,2) • Processos que envolvem a adição e a remoção de componentes dissolvidos em estuários inclui: 1) Floculação, adsorção, precipitação e incorporação biológica, que resulta em renovação dos componentes da fase dissolvida. Estes processos resultam na retenção dos componentes no estuário via trapeamento no sedimentos. 2) Desorção da superfície das partículas e a “quebra” de orgânicos, que resulta na adição de componentes para a fase dissolvida. Isto resulta na dispersão de componentes se eles permanecerem na fase dissolvida. 3) Reações de complexação e quelação com ligantes orgânicos e inorgânicos, estabiliza componentes na fase dissolvida, que serão dispersados do estuário com a massa de água. O QUE OS ESTUDOS SOBRE OS PROCESSOS ESTUARINOS NOS TRAZEM COMO INFORMAÇÃO? 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Indicam quanto um estuário exporta para o mar; Informam se um estuário é um filtro (consumidor) ou um produtor; Apontam exatamente quais são e ondes estão localizadas as fontes de contaminação; Informam sobre a quantidade (massa) de elementos que são: 4.1 Removido (ação biológica ou geológica) 4.2 Adicionado (ação biológica, geológica ou pelo homem); Estas informações nos levam a conhecer melhor as fontes, sejam naturais ou antrópicas: 5.1 Conhecer os processos envolvidos; 5.2 Quantificar os lançamentos efetuados; Nos levam a estudar e conhecer outras fontes não contempladas, como exemplo, o estudo das contribuições atmosféricas e do sedimento. Fornecem informações valiosas para a gestão ambiental, como exemplo, indicações de locais e períodos para lançamentos de efluentes. Por fim, trazem informação sobre a capacidade suporte do ecossistema. Bibliografia • Chester, R. 2003. Marine Geochemistry. Blackwell Publishing, 2nd Edition, USA, 506 p. • Niencheski, L.F.; Baumgarten, M.G.; Fillmann, G & Windom, H. 1999. Nutrients and suspended matter behavior in the Patos Lagoon Estuary (Brazil). In: “Estuaries of South America”. Edited by Gerardo Perillo, Maria Cintia Píccolo e Mario PinoQuivira. Published by Springer Verlag. Cap. 4, p. 67 – 81. • Windom, H. L., Niencheski, L. F., & Smith, J. R. G. (1999). Biogeochemistry of nutrients and trace metals in the estuarine region of the Patos Lagoon (Brazil). Estuarine, Coastal and Shelf Science, 48(1), 113–123.