V Simpósio Catarinense de Astronomia Chapecó, 22 e 23 de julho de 2016 ENSINO DE GRAVITAÇÃO A PARTIR DO ESTUDO DE COMETAS Elisaine Inês Tonatto Massoline, Nilce Ana Cremonini Backes 1, Daniel Iunes Raimann2 Palavras-chave: aprendizagem significativa, gravitação, cometas, ensino de física. Introdução O contexto educacional encontra-se em uma situação precária. Percebe-se uma grande falta de interesse dos estudantes perante o ensino de Física e a falta de motivação e metodologias apropriadas que os ajudem na construção de uma aprendizagem significativa. Para Ausubel (1982), a aprendizagem significativa é um processo pelo qual uma nova informação relaciona-se com um aspecto especificamente relevante da estrutura cognitiva do conhecimento específico. Ao estudo de Gravitação não é dado à importância necessária nas escolas, limitando-se aos enunciados e exploração de expressões matemáticas, sem a preocupação com o contexto histórico de sua elaboração ou de suas aplicações, mesmo sendo esta uma importante lei da Física, usada para descrever os movimentos dos corpos celestes, para explicar as marés, a formação das galáxias, dentre outros. Neste sentido a Astronomia mostra-se importante em seu aspecto histórico e prático, pois permite ao estudante perceber a evolução do pensamento humano, bem como, a compreensão de fenômenos que ocorrem diariamente com nosso planeta. Inserir o estudo da Astronomia no processo ensino aprendizagem só traz benefícios para os estudantes. Encontramos nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (BRASIL, 1998) o eixo estruturador “Terra e Universo”, que apresenta a relevância em se estudar Astronomia. Entretanto percebem-se diversos problemas que permeiam a prática. De acordo com Langhi e Nardi (2012), a Astronomia é uma ciência altamente interdisciplinar, motivadora e popularizável, mas que se encontra além dos nossos olhos, o que dificulta a elaboração de esquemas mentais. Desafia a nossa imaginação e constitui-se em um grande desafio a sua aprendizagem e compreensão Os cometas são corpos menores no Sistema Solar, não são planetas, nem satélites, e sua passagem pelo céu desperta a curiosidade das pessoas. O seu estudo é de grande contribuição, pois possuem uma órbita bastante elíptica, o que é bastante útil para entender uma das Leis de Kepler, já que órbitas dos planetas possuem excentricidade muito pequena. A partir desses estudos sobre o ensino de física, foi desenvolvida uma proposta para aplicar em uma sequência de 12 aulas divididas em seis momentos, utilizando a abordagem da aprendizagem significativa de Ausubel, como intermédio no estudo da Gravitação com ênfase no estudo dos cometas. A palavra sequência deve ser aqui entendida como o planejamento de atividades nas quais as pesquisadoras aplicaram em um grupo de estudantes buscando construir um conhecimento significativo. Desenvolvimento 1. Como propomos o Ensino da Gravitação ancorado na Teoria de Ausubel. Para a realização dessa proposta de ensino sobre o tema Gravitação a partir do estudo de cometas, elaborou-se uma sequência didática, com o objetivo de examinar se o conteúdo 1 2 Acadêmicas, Unochapeco – PARFOR. E-mail: [email protected], [email protected] Professor Orientador, UDESC. E-mail: [email protected] V Simpósio Catarinense de Astronomia Chapecó, 22 e 23 de julho de 2016 relacionado à Gravitação, quando apresentado de forma contextualizada, aportada na teoria da aprendizagem significativa proposta por Ausubel e com apresentação de uma das suas aplicações os cometas, favorece a aquisição de conceitos da Física. Usou-se como metodologia a análise textual discursiva, onde o processo se constitui de três etapas: conhecimentos prévios, exploração de material, tratamento e interpretação dos resultados. Para a coleta de dados explorou-se a observação em sala de aula, os trabalhos produzidos pelos estudantes, tais como os textos, questionários, exercícios, mapa conceitual, registrado em um diário de campo (entregue a cada estudante no começo do desenvolvimento da proposta). Nesta proposta trabalhou-se com doze aulas, agrupadas em seis momentos. Onde no primeiro momento (duas aulas) desenvolvemos o tema Modelos cosmológicos, no segundo momento contamos com a interferência do Planetário, disponibilizado pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), para o terceiro momento (uma aula) foi explorado o tema Cometas, no quarto momento (duas aulas) trabalhou-se o Sistema Solar, o quinto momento (quatro aulas) definiu-se as Leis de Kepler e foi explorado atividades praticas sobre órbitas de planetas a partir da órbita de um cometa, e no sexto momento (três aulas) desenvolveu-se os conceitos da Gravitação Universal. Em cada sequência usamos os recursos estudados de acordo com a teoria da aprendizagem significativa de Ausubel que são: Quadro 1: Organização da Sequência Conhecimentos Atividades investigativas, utilizando diferentes recursos e estratégias. prévios Organizadores Atividades que servem para elaborar a ponte entre o conhecimento prévio e o conteúdo científico. Conteúdo Apresentado de forma clara e coerente com o objetivo de facilitar a compreensão dos conceitos. Avaliação Atividades diversificadas e adequadas, valorizado e avaliado não só os resultados escolares dos estudantes, mas também a sua motivação, autoconceito, hábitos de estudo e estilos de aprendizagem Fonte: elaborada pelas autoras 2. Desenvolvimento da Sequência Didática A escolha pelo uso da teoria da aprendizagem significativa foi feita devido ao caráter facilitador e contextual dos processos de ensino e de aprendizagem dessa abordagem, na qual a aprendizagem ocorre pela interação entre conhecimentos prévios e conhecimentos novos, e do tema cometas, em virtude da curiosidade que as pessoas têm sobre fatos relacionados à Astronomia. Dessa forma, eles deveriam buscar a transposição de possíveis obstáculos, mobilizando recursos, tomando decisões, fazendo escolhas, estruturando informações, no sentido de reelaborar seus conhecimentos. No desenvolvimento dos primeiros momentos da sequência didática, os estudantes tiveram dificuldades em participar, e se sentirem incluídos no processo. Pois, nas escolas observa-se o processo mecânico de ensino, onde o estudante é um agente passivo. Nele segundo Moreira (2000), “os novos dados e informações possuem pouca ou nenhuma associação com conceitos relevantes já disponíveis na estrutura mental, não sendo possível a interação entre eles”. V Simpósio Catarinense de Astronomia Chapecó, 22 e 23 de julho de 2016 Entretanto, para propiciar uma estrutura relevante de conhecimento sobre o conteúdo considerado, devemos propiciar ao estudante condições para que ele interaja, permitindo que ele utilize os conhecimentos que vai adquirindo, exercite e controle as aprendizagens e competências a desenvolver, de acordo com a teoria da aprendizagem significativa, segundo Moreira (2000), “um conhecimento novo é relacionado com os existentes anteriormente, sendo incorporado à estrutura cognitiva do aprendiz, passando a ter significado para ele, justamente por causa dessa relação que é estabelecida com o conhecimento anterior”. Assim, na sequência proposta, os estudantes foram estimulados a agir e desafiados a responder os questionamentos de acordo com os seus entendimentos. Buscou-se, que a construção do conhecimento exigisse a participação da turma em todo o contexto das atividades que eram sugeridas. Ressalta-se, que a turma possuía grande defasagem de aprendizagem. Eles tinham dificuldades de formular suas próprias argumentações. 3. Desafios no Desenvolvimento da Sequência Apesar das dificuldades inerentes ao processo, pois fala-se de uma turma que não recebia estímulos para o desenvolvimento de sua aprendizagem, a construção do conhecimento a partir da aprendizagem significativa, mostrou grande progresso neste grupo de estudantes. Ao se sentirem parte de sua própria aprendizagem houve uma maior participação e um comprometimento com a realização das atividades. Destaca-se que o quinto momento foi um dos mais importantes, pois com a realização de atividades práticas, foi possível confrontar a teoria com a prática, principalmente na representação da órbita de um cometa. Onde os estudantes construíram, com as pesquisadoras, a órbita do cometa Halley, no pátio da escola, e de uma forma lúdica, representaram o movimento de um cometa em torno do Sol. Sabe-se que as situações lúdicas são intencionalmente criadas, visando estimular a aprendizagem, revelando-se em uma dimensão educativa. Após este momento de construção da órbita do cometa, foi solicitado aos estudantes a construção das órbitas dos planetas, com material prático em sala de aula. Essas atividades marcaram os estudantes, pois o professor não mostrou apenas uma órbita desenhada em um livro didático, informando os estudantes que as órbitas dos planetas são elípticas, porém com uma pequena excentricidade, o estudante não consegue entender o que isso significa, diferentemente da sua construção e constatação que estas órbitas de planetas em sua representação ficam próximas de um círculo. Ao propor na avaliação do sexto momento, a construção de um mapa conceitual, vê-se a importância de trabalhar de acordo com a teoria da aprendizagem significativa, pois os estudantes deveriam construir os mapas conceituais buscando interligar todos os conceitos que foram aprendidos. Diante do que se foi observado no decorrer do desenvolvimento da sequência didática, pode-se afirmar que teoria da aprendizagem significativa de Ausubel apresenta passos muito importantes de serem seguidos na organização de uma boa proposta de ensino, e que a Astronomia tem muito a contribuir no ensino de Física, temas relacionados a ela, como os cometas, trazem curiosidades e despertam o interesse. Contudo, é necessário que o professor faça uma reflexão sobre sua prática enquanto profissional da educação, pois, não é apenas um método, ou uma teoria, que irá contribuir para a aprendizagem do conteúdo, mas sim uma articulação entre a vontade de ensinar dos professores com o desejo de aprender dos estudantes. É a partir desta troca de saberes que a escola voltará a ter o seu brilho e assim se tornar mais atrativa aos estudantes. V Simpósio Catarinense de Astronomia Chapecó, 22 e 23 de julho de 2016 Considerações finais Conforme já explicitado, a presente pesquisa intencionou analisar o movimento de um grupo de estudantes na superação de processos mecânicos na aprendizagem da Gravitação, através de uma sequência didática ancorada na teoria de aprendizagem significativa de Ausubel. Pretendeu-se ainda, discutir a contribuição de um tema, os cometas, no processo de ensino aprendizagem e investigar como os conhecimentos prévios dos estudantes interferem na construção da aprendizagem significativa, refletindo assim, sobre a relação professor-aluno no desenvolvimento da proposta de ensino contextualizada. Quanto a utilização do tema cometas, possibilitou-se desenvolver os conhecimentos escolares de uma forma interdisciplinar, contextualizada e significativa aos estudantes, ou seja, partindo do estudo dos cometas, um assunto que traz muitas curiosidades, buscou-se uma interpretação mais crítica da questão, percebendo que os conhecimentos de senso comum não são suficientes para a plena compreensão do tema, então, esse é o momento em que se provoca o estudante para a aprendizagem significativa, pois consideram-se, diretamente, as respostas das curiosidades apresentadas pelo próprio estudante. Percebe-se que os estudantes passaram por diversos estágios, mas que estes não foram lineares e encadeados, no sentido que os estudantes experimentaram o movimento de ir e vir e que nem todos passaram pelas mesmas fases, alguns estágios observados: compreendem apenas ideias simples, negação da necessidade de eles interagirem, negação da importância do assunto gravitação. Com o evoluir das situações propostas começam a entender e se familiarizar com a metodologia proposta e experimentam momentos de ir e vir, quando se apropriaram da ideia, começam então a participar e se envolver com autonomia, podendo construir seus conceitos de forma mais significativa ao avançarem de forma gradativa. A teoria da aprendizagem significativa que, de acordo com Ausubel, Novak e Hanesian (1980) revela a importância e a necessidade de organizar o pensamento atribuindo significado lógico e psicológico aos conhecimentos que foram construídos e estruturados. Desta maneira, o seu desenvolvimento ao longo da proposta nos mostra como os estudantes conseguiram ao longo dos momentos, construir, analisar e reorganizar o conhecimento adquirido. Partindo de uma Física que estava presente em seu cotidiano, pois basta o estudante olhar para o céu e perceber que estes conceitos estão ao seu alcance, e assim desafiar-se em busca de novos conhecimentos. Referências AUSUBEL, D. P. 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