CONFIRA TRECHOS DOS POEMAS Homem em pele e osso (Bandeira Tribuzi) A pele é superfície, os ossos são entranha. A pele é o que se vê, os ossos o que escapa. A pele é uma casca, os ossos uma safra. A pele é entrega, o osso é arma. A pele é palma, o osso é clava. A pele é a pintura, os ossos são a casa. A pele é o acidente, o osso o permanente. A pele são as nuvens, os ossos são a água. A pele são os musgos, os ossos são as montanhas. A pele é o agora, os ossos são milênios. A pele é um orvalho, os ossos são invernos. Traduzir-se (Ferreira Gullar) Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. (...) Canção do Exílio (Gonçalves Dias) Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar –sozinho, à noite– Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. (...) A Rosa Total (Nauro Machado) Amo, como ilusão do gesto, a presença que se desfaz, para florescer de novo sobre o inexaurível nada. Amo, como debalde quero, apenas o odor do ser: essa presença, breve e etérea, logo restrita á eternidade. (...) Guesa Errante (Sousândrade) Eia, imaginação divina! Os Andes Vulcânicos elevam cumes calvos, Circundados de gelos, mudos, alvos, Nuvens flutuando – que espetác’los grandes! Lá, onde o ponto do condor negreja, Cintilando no espaço como brilhos D’olhos, e cai a prumo sobre os filhos Do lhama descuidado; onde lampeja Da tempestade o raio; onde deserto, O azul sertão, formoso e deslumbrante, Arde do sol o incêndio, delirante Coração vivo em céu profundo aberto! (...)