1 Plantas resistentes a herbicidas: controle de ervas daninhas sem agressão ao meio ambiente Este material foi produzido pela entidade alemã FBCI – Food Biotech Communication Initiative (em português, Iniciativa de Comunicação em Biotecnologia de Alimentos). Apresentação O QUE SÃO? As variedades resistentes a herbicidas são os produtos de primeira geração da biotecnologia vegetal. Controversas, suscitaram ampla coalizão dos grupos de oposição. Muito se questionou acerca do uso excessivo de herbicidas, da dispersão dos genes de resistência para espécies silvestres, da ligação entre as indústrias de sementes e agroquímica e a independência do agricultor. POR QUE? As variedades resistentes a herbicidas ganharam popularidade entre os agricultores por permitirem as melhores combinações de herbicidas eficazes (capacidade de matar ervas daninhas) e seletividade (capacidade de evitar danos à planta). A maioria dos sistemas herbicidas tradicionais não passa de precárias tentativas de conciliação desses dois requisitos. O binômio «herbicida – variedades resistentes» — oferece-nos o melhor dos dois mundos. Muitas vezes se conseguem reduções globais do uso de herbicidas empregando-se plantas tolerantes a herbicidas no tratamento de ervas daninhas. Os herbicidas pós-emergentes, de espectro amplo, podem ser aplicados conforme a necessidade. Esse novo sistema favorece um emprego bem mais amplo da agricultura de «plantio direto». A aração tem como principal objetivo extirpar as ervas daninhas. O controle por meio de herbicidas benignos ao ambiente diminui drasticamente a erosão e a degradação do solo resultantes da aração. O QUE/COMO? Os genes de resistência a herbicidas provêm de origens diversas e agem de muitas maneiras diferentes. A origem mostra-se irrelevante para sua função, uma vez que os genes tendem a apresentar resultados bem parecidos em organismos de todo diferentes. Já o modo de ação pode ser de grande importância no seu emprego. Alguns genes atuam produzindo uma enzima que degrada o herbicida; outros, uma enzima insensível ao efeito do herbicida, ao contrário da enzima nativa correspondente da planta. Hoje em dia se aplicam com sucesso os dois tipos de genes nas plantas resistentes a herbicidas vendidas comercialmente. RISCOS RELATIVOS Testaram-se exaustivamente as variedades resistentes a herbicidas como ferramenta da agricultura. Os resultados revelaram-se excelentes, e dados comerciais confirmam a redução, e não o aumento, do uso agrícola de herbicidas. Além disso, como o sistema permite que se passem a adotar produtos mais benignos ao ambiente, as vantagens das plantas resistentes a herbicidas no controle de ervas daninhas são muito maiores mais do que sugerem os números brutos do volume de herbicida usado, tomados isoladamente. CONCLUSÕES As variedades resistentes a herbicida muito têm concorrido para a redução do ônus ambiental decorrente da proteção às lavouras. Consistem também em ferramentas importantes na evolução rumo à agricultura de plantio direto. Nesse sentido, talvez, poderão dar sua maior contribuição para a redução do impacto ambiental causado pela agricultura. 2 Plantas resistentes a herbicida: Controle de ervas daninhas sem agressão ao meio ambiente Artigo MANTENDO AS ERVAS DANINHAS SOB CONTROLE O controle de ervas daninhas constitui-se parte essencial da agricultura. O campo limpo para plantio é ideal, não apenas para a lavoura desejada, como também para plantas não convidadas, principalmente as ervas daninhas. O agricultor vive em eterna luta para contêlas, sendo as mais incômodas aquelas cujas sementes se dispersam com facilidade. Sem esse controle, a plantação consistiria numa população mista de plantas. As ervas daninhas prejudicam os plantios privando-os de água, nutrientes e luz do sol, além de reduzirem a qualidade e a quantidade da colheita. Nos Estados Unidos, a Sociedade Americana para a Ciência das Ervas Daninhas estima para os agricultores um custo anual de 4,6 bilhões de dólares com o controle de ervas daninhas e perdas provocadas por elas. Até a metade do século, o controle de ervas daninhas se fazia mecanicamente – queimando, cortando ou arrancando as plantas indesejadas. Em muitas partes do mundo, este ainda é o método mais comum de combatê-las. Há apenas 50 anos introduziram-se os produtos químicos para controle de ervas daninhas, os denominados herbicidas. O advento da engenharia genética promoveu novo impulso ao controle de ervas daninhas. A combinação de plantas geneticamente modificadas com herbicidas modernos representam um prodigioso passo para a uma agricultura menos agressiva ao meio ambiente. A BUSCA DE HERBICIDAS SEGUROS E EFICAZES No desenvolvimento de herbicidas, os cientistas se vêem confrontados com prioridades conflitantes entre si. O objetivo é criar um herbicida eficiente para matar grande variedade de ervas daninhas e, ao mesmo tempo, inofensivo à planta cultivada. A isso se dá o nome de seletividade. Inicialmente, eficácia e seletividade constituíam-se os dois únicos critérios para a avaliação dos méritos de um herbicida. Não é mais assim. O emprego corrente de herbicidas químicos levou à rápida descoberta de que alguns deles, embora eficazes e seletivos, também possuíam características indesejadas: podiam tanto formar resíduos duradouros no solo e nos lençóis freáticos como se mostrarem tóxicos para outras espécies, inclusive seres humanos. CRITÉRIOS RIGOROSOS Com o maior conhecimento do impacto dos herbicidas, deu-se uma mudança radical nos critérios de seleção. Hoje em dia, um potencial herbicida deve atender a quatro critérios para receber aprovação: 3 1. Deve ser eficaz para matar a(s) erva(s) daninha(s). 2. Deve ser seletivo, deixando a plantação incólume. 3. Deve ser degradável, ou seja, não formar resíduos duradouros no solo nem em águas subterrâneas. 4. Deve ser atóxico. Composto algum que deixe de apresentar pontuação alta nesses quatro quesitos será considerado satisfatório. No entanto, isolar um composto classificado entre 99 e 100% de cada critério do teste exigiria o exame minucioso de um número impossível de moléculas algo em torno de 100 milhões. É aí que entra em cena a biotecnologia. BUSCANDO OUTRO CAMINHO: RESISTÊNCIA INDUZIDA GENETICAMENTE Ao darem-se conta da intimidadora tarefa que os confrontava, os cientistas buscaram uma maneira de contornar o problema de satisfazer simultaneamente aos quatro critérios de seleção. Uma solução seria atender a um ou mais critérios de outra forma: substituindo, por exemplo, a característica de seletividade por resistência introduzida geneticamente. O herbicida seletivo é capaz de controlar ervas daninhas indesejadas sem danificar a plantação. Vista pela perspectiva oposta, essa seletividade significa uma resistência natural da planta ao herbicida. Se desenvolvessem tanto o herbicida como a planta geneticamente modificada para tornar-se-lhe resistente, os cientistas poderiam concentrar esforços no aprimoramento das outras características do herbicida. Ao mesmo tempo, a lavoura geneticamente modificada possui todo o valor nutricional e todos os aspectos positivos da lavoura cultivada de maneira convencional, sendo idêntica em termos de segurança e características de processamento. BENEFÍCIOS DAS PLANTAS GENETICAMENTE RESISTENTES As lavouras com resistência genética ao herbicida oferecem inúmeras vantagens. Podemse controlar as ervas daninhas de maneira moderada e bem direcionada. Aplica-se o herbicida conforme a necessidade, inclusive num estágio posterior, durante o crescimento da planta, para manter o solo protegido por período mais longo. Além disso, o agricultor só precisa de um herbicida para resguardar a plantação, quando antes precisava de vários. O uso de herbicidas em conjunto com lavouras geneticamente resistentes reduz drasticamente os custos ambientais totais com controle de ervas daninhas. PERDA NA CAMADA SUPERIOR DO SOLO: GRANDE AMEAÇA À SUSTENTABILIDADE DA AGRICULTURA As lavouras com resistência genética a herbicidas também servirão para o avanço em direção a sistemas de agricultura de plantio direto. A aração é a prática agrícola de maior impacto sobre o meio ambiente, pois contribui para a perda contínua da crosta do solo, ameaçando a sustentabilidade da agricultura no mundo todo. A cada ano, a aração de terras agrícolas revolve cerca de 1,5 bilhão de hectares de terra – aproximadamente cinco vezes a superfície de terra da União Européia. 4 A aração é ambientalmente nociva porque destrói enorme quantidade de vida e deixa grandes trilhas de terra expostas e vulneráveis às forças da natureza. A chuva leva embora a terra para os rios e lagos, o vento reduz o solo a pó e retira-lhe a crosta. Exemplo vívido de devastação provocada por vento e chuva podia-se ver no Meio-Oeste dos Estados Unidos dos anos 30, em que vastas extensões de terras cultiváveis sofreram “desertificação” e se tornaram conhecidas como “Dust Bowl”. AGRICULTURA DE PLANTIO DIRETO A agricultura de plantio direto não exige que se sulque o solo em profundidade; só se limpa a terra nos locais onde se lançarão as sementes. O aspecto negativo desse método, porém, é o crescimento de ervas daninhas, cujas sementes são devolvidas ao solo pela aração, restringindo a capacidade de germinação do solo. O plantio direto aumenta o problema dessas ervas. Assim sendo, a agricultura de plantio direto deve ser conjugada a um sistema de controle de pragas alternativo, em geral herbicidas. As plantas que se tornam resistentes a herbicidas por meio da engenharia genética permitem chegar ao controle das ervas daninhas sem necessidade de arar o solo. SUSTENTABILIDADE PELA DIVERSIDADE As vantagens das lavouras geneticamente resistentes são inequívocas. Entretanto, só o emprego correto pode garantir sua eficácia continuada. As ervas daninhas possuem capacidade genética para desenvolver resistência a quase todos os herbicidas, tanto químicos quanto naturais. Quando se usa um herbicida na agricultura em escala maciça, ano após ano, há grandes chances de a resistência a um herbicida específico acabar predominando. A fim de evitar que isso aconteça, é crucial que os agricultores tenham acesso a mais de um sistema herbicida e que utilizem esses sistemas de forma rotativa. Pode-se comparar tal método à prática de rotação de culturas, cujo intuito é evitar o desgaste excessivo do solo. Da mesma maneira, submetem-se os controles das ervas daninhas a rodízios para lhes assegurar longevidade. MAIS SISTEMAS A CAMINHO Já se pratica a rotatividade no uso de herbicidas com o Roundup® e o Liberty®. Quando outros sistemas se tornarem disponíveis, o ciclo rotativo se consistirá de três ou quatro sistemas - todos parte do complexo jogo de tentar deslocar o equilíbrio de poder entre a erva daninha e o agricultor em favor do último. ANEXOS TÉCNICOS 1. A história do Roundup® e do Liberty® Dois herbicidas conhecidos há muito tempo pela eficácia, degradabilidade e ausência de toxicidade são o Roundup® e o Liberty®. Empregavam-se com grande êxito antes do 5 plantio e após o plantio, e não “dentro” do plantio. Mas apresentavam o inconveniente dos antes chamados “herbicidas totais”: os que matam as ervas daninhas bem como a maior parte da lavoura. Os cientistas resolveram isolar os genes de resistência dos herbicidas Roundup® e Liberty® e introduzi-los em plantas agrícolas. Contrariando o desenrolar habitual dos acontecimentos na área científica, segundo o qual são sempre necessárias muitas tentativas, a estratégia funcionou desde o começo: as sojas Roundup Ready® foram lançadas no mercado na Europa em 1997. 2. Duas maneiras de tornar as plantas tolerantes ou resistentes a herbicidas Existem várias maneiras de produzir plantas resistentes a herbicidas: inserção de gene de resistência pela engenharia genética, seleção de mutações em sementes ou pólen e seleção de variação somaclonal em cultura de tecido. Cada um desses métodos foi usado em pelo menos um herbicida comercialmente usado hoje. Há uma diferença fundamental entre o método da engenharia genética e os demais. Na engenharia genética, coloca-se na planta um gene de resistência procedente de outro organismo para torná-la resistente ao herbicida. Na mutação e variação somaclonal, as diferenças são induzidas no material genético original da planta nativa. Transferem-se então essas características para as linhas comerciais da espécie por meio de cruzamentos e retrocruzamentos. Na União Européia, as diferentes tecnologias levaram a um regime regulamentar diferente. A mutação e a variação somaclonal são vistas como processos naturais e, por conseguinte, não estão sujeitas ao arcabouço regulamentar das normas da EU aplicáveis a produtos da engenharia genética. Na prática, espera-se que as autoridades européias passem a encarar do mesmo modo as duas tecnologias, pelo menos no que diz respeito à avaliação da segurança ambiental. 3. Tolerante e resistente: uma questão de gradação Ambos os termos são usados de modo mais ou menos intercambiável, o que pode causar confusão. Tecnicamente, é melhor sempre falar de tolerância, uma vez que não existe resistência absoluta. Podem-se pulverizar variedades tolerantes a herbicida em doses de campo normais, que contam com ampla margem de segurança, sem sofrer redução mensurável em termos de produtividade. 4. Não existe planta totalmente tolerante a herbicida! Um dos maiores mal-entendidos com relação à tolerância dos herbicida é que as pessoas vêem essas plantas como incontroláveis. Vale a pena lembrarmos que cada gene de tolerância só oferece proteção contra um herbicida ou, na melhor das hipóteses, a uma classe de herbicidas. A lavoura continua sendo exatamente tão vulnerável quanto era antes a todos os outros herbicidas que, por conseguinte, se podem eliminar com o emprego de 6 outro herbicida. De fato, os cientistas usam este método com freqüência ao fazerem experiências de campo com plantas tolerantes a herbicida. Para destruir as plantas no fim da experiência, eles apenas usam outro produto. Órgãos de vigilância de quase todos os países aprovam esse método padrão. 5.a. Modo de ação de alguns herbicidas importantes herbicidas e como obter tolerância Glufosinato de amônio é um herbicida de amplo espectro e não seletivo (nomes comerciais: Liberty®, Basta®, Ignite®, Challenge®…). Seu ingrediente ativo inibe a enzima glutamina sintetase, que resulta no acúmulo de níveis letais de amônia em plantas suscetíveis. Em animais, a glutamina é sintetizada por outra via, o que explica a não toxidade do herbicida para animais e seres humanos. Precursores Glutamina Glufosinato de amônio Glutamina sintetase Em plantas resistentes ao glufosinato de amônio, insere-se um gene que codifica uma enzima para inativar o ingrediente ativo do herbicida (fosfinotricina). Nas plantas resistentes, a síntese normal da glutamina pode ocorrer, não sendo encontrada acumulação de amônio. Glifosato é um herbicida de amplo espectro e não seletivo (nome comercial: Roundup®…). São produzidos aminoácidos aromáticos por uma via denominada via do xiquimato. A EPSP sintase é uma enzima envolvida nessa via. O glifosato a inibe, bloqueando a formação de enzimas aromáticas. A via do xiquimato não é encontrada em animais, o que explica sua baixa toxicidade para animais e seres humanos. Precursores Aminoácidos aromáticos Glifosato EPSP sintase As plantas podem adquirir resistência ao glifosato de diferentes maneiras. Pode-se introduzir nelas um gene que codifica uma enzima que consiste numa EPSP sintase alternativa, insensível ao glifosato. Pode ser usado outro gene que codifica uma enzima que degrada o glifosato. 5.b. Modo de ação de alguns herbicidas importantes e como adquirir tolerância Bromoxinil, sulfoniluréia e imidazolinona são herbicidas de espectro estreito que matam certas gramíneas e/ou plantas de folhas largas. Esses herbicidas interferem na produção dos aminoácidos essenciais isoleucina, leucina e valina, inibindo uma determinada enzima, a cetolactato sintase (ALS), importante nessa via. Seres humanos e animais não produzem esses aminoácidos, contribuindo assim para a baixa toxicidade desses herbicidas. 7 Precursores Aminoácidos ramificados Bromoxinil, sulfoniluréia e imidazolinona enzima ALS As plantas podem adquirir resistência ao bromoxinil (nome comercial: Buctril®…) pela introdução de um gene que codifica a enzima nitrilase, que decompõe o bromoxinil. As plantas podem adquirir resistência à sulfoniluréia (nome comercial: Staple®…) pela introdução de uma forma tolerante à sulfoniluréia do gene ALS. Imidazolinona (nomes comerciais: Pursuit®, Contour®, Resolve®, Lightning®…) plantas tolerantes ocorrem por variação somaclonal. Por meio de pressão seletiva contínua, desenvolveu-se uma linha mutante tolerante à imidazolinona, e esse traço foi introduzido em suas linhas comerciais de plantas por cruzamentos e retrocruzamentos. A tolerância ao herbicida se deve à presença de uma versão mutada do gene ALS, já não afetado pela imidazolinona. Setoxidim (nome comercial: Poast®…) é um herbicida de espectro estreito registrado para o controle de gramíneas anuais e perenes. Ao contrário dos outros herbicidas mencionados acima, a setoxidim interfere na biossíntese de ácidos graxos, necessária para síntese e manutenção de membranas, e não na produção de aminoácidos. O herbicida é ativo contra a enzima acetil-CoA-carboxilase (ACCase). Precursores ácidos graxos Setoxidim ACCase Assim como a tolerância a imidazolinona, a tolerância a setoxidim ocorre por variação somaclonal. A tolerância ao herbicida se deve à presença de um gene que codifica uma versão modificada da enzima ACCase. Essa enzima modificada não é mais afetada pela setoxidim. Plantas resistentes a herbicida: Controle de ervas daninhas sem agressão ao meio ambiente Perguntas e respostas 1. O QUE SÃO HERBICIDAS? Herbicidas são produtos que matam plantas. Empregam-se sobretudo na destruição de ervas daninhas, mas também para conter o recrescimento da lavoura do ano anterior. Os romanos já haviam percebido que se podiam utilizar certas substâncias, como sais e cinzas, para “limpar” os campos. 8 Podem-se distinguir diferentes tipos de herbicidas, dependendo do modo de ação e da seletividade. • Temos aqui as principais características do modo de ação de alguns herbicidas. Os herbicidas podem apresentar ação curta ou residual; alguns agem pelo sistema da raiz, outros pelas folhas; alguns se aplicam antes do plantio, outros quando a planta está começando a crescer; alguns matam a planta por contato, outros translocam-se para dentro da planta. • Quanto à seletividade, duas principais classes se distinguem: herbicidas de amplo espectro e de espectro estreito. Os de amplo espectro matam grande variedade de plantas, o que significa que não são seletivos. Os de espectro estreito, ao contrário, matam apenas um grupo restrito de espécies de plantas. As empresas buscam continuamente novas substâncias químicas com propriedades herbicidas, submetendo-as a testes de eficácia, seletividade, degradabilidade e baixa toxicidade. Alcançar boa pontuação em cada um desses critérios é condição essencial para o registro de um novo herbicida. 2. POR QUE A MAIORIA DOS HERBICIDAS NÃO É TÓXICO PARA ANIMAIS E SERES HUMANOS? Uma das maiores preocupações, quando se desenvolve um novo herbicida, é sua toxicidade para animais e seres humanos. Muitos herbicidas agem prejudicando uma via metabólica específica das plantas. Isto explica por que não é muito difícil encontrar herbicidas seguros para animais. Alguns dos herbicidas mais importantes interferem na produção de aminoácidos. Muitos animais não são capazes eles próprios de sintetizar vários aminoácidos e os obtêm pela alimentação. Os herbicidas que interferem nas vias de produção desses aminoácidos tendem a ser muito seguros. Há outros aminoácidos cujas vias de produção em animais muitas vezes diferem das que ocorrem nas plantas. Esses herbicidas também são biologicamente seguros para animais e seres humanos. 3. POR QUE TORNAMOS AS PLANTAS RESISTENTES A HERBICIDAS? Os agricultores precisam proteger seus campos das ervas daninhas, uma vez que elas disputam com a plantação o solo, a umidade, os nutrientes e a luz do sol, além de contaminar a colheita. Tudo isso torna inevitável o emprego de estratégias de controle. Em quase todos os campos das principais culturas agrícolas, o controle mecânico das ervas daninhas revela-se impraticável, de modo que os agricultores precisam contar com o controle químico – em outras palavras, com os herbicidas. Os fazendeiros podem usar diferentes tipos de herbicida. Os mais interessantes do ponto de vista ambiental são os atóxicos para animais e seres humanos e os que se decompõem com facilidade. O glifosato (nome comercial: Roundup®…) e o glufosinato de amônio (nomes comerciais: Liberty®, Basta®…) representam dois herbicidas ambientalmente saudáveis e muito 9 conhecidos. Usados no mundo todo, caracterizam-se pela baixa toxicidade e fácil degradabilidade, mesmo depois de muitas aplicações. Ambos interrompem o metabolismo das plantas interagindo com vias de produção de aminoácidos encontradas apenas em vegetais. Todos esses traços fazem deles herbicidas quase perfeitos. No entanto, compartilham também uma grande desvantagem: falta-lhes seletividade. Modificando-se geneticamente a planta agrícola para torná-la resistente a esses herbicidas, supera-se o problema da falta de seletividade, de modo a permitir o emprego desses herbicidas ambientalmente seguros na lavoura. A engenharia genética concentrou seus esforços em incorporar às plantas resistência ao glifosato ou ao glufosinato de amônio. Justo pelo fato de esses herbicidas não serem seletivos, só lavouras modificadas geneticamente com genes de resistência conseguirão sobreviver em sua presença, e todas as ervas daninhas morrerão. Nesse caso, a desvantagem anterior do herbicida (falta de seletividade) se transforma em vantagem. Em termos mais gerais: como mencionamos acima, as quatro principais características de um herbicida são: toxicidade, seletividade, degradabilidade e eficácia. Se uma das quatro características principais de um novo herbicida, a “seletividade”, se torna irrelevante, pode-se dirigir a atenção para as outras três características. 4. NÃO EXISTE A CHANCE DE AS ERVAS DANINHAS SE TORNAREM RESISTENTES A ESSES HERBICIDAS? Teoricamente, as ervas daninhas podem tornar-se resistentes a herbicidas de duas maneiras: • Por pressão seletiva. Populações de ervas daninhas sofrem naturalmente mutações como qualquer outro organismo vivo. Quando submetidas a uma pressão seletiva contínua, as mutações que conferem a elas melhores chances de sobrevivência na presença do herbicida se disseminam. • Pela transferência de genes entre plantas de uso agrícola e ervas daninhas conexas. As ervas daninhas se tornariam resistentes a um herbicida pela transferência de um gene de resistência entre plantas de uso agrícola e seus parentes daninhos. Experimentos realizados por um grupo francês, por exemplo, (1) mostraram que sob condições especiais genes que conferem resistência a um certo herbicida podem ser transferidos da colza para o rabanete silvestre, erva daninha comum em campos de colza. Quando se avalia a segurança ambiental de uma planta com novos atributos, a possibilidade de o gene fluir para parentes silvestres é uma questão importante. Mas, mesmo se esse fluxo de genes acontecer, o controle das ervas daninhas continuará a se dar sem dificuldade. As ervas daninhas se tornam resistentes a apenas um herbicida, não aos herbicidas em geral. Pode-se eliminar essas ervas daninhas aplicando-lhes outro herbicida. (1) Chevre, A-M, et al. (1997). Gene flow from transgenic crops. Nature 389:924. 5. O QUE SÃO SUPERERVAS DANINHAS? Em geral, se emprega o termo “superervas daninhas” para designar o crescimento descontrolado de uma planta. Não se trata de termo técnico, embora a ciência das ervas daninhas por certo identifique um bom número de espécies vegetais muito difíceis de 10 controlar em algumas partes do mundo. Usou-se exaustivamente o termo no debate sobre a disseminação hipotética de lavouras resistentes a herbicida ou de seus parentes daninhos. Em teoria, podem ocorrer dois casos: primeiro, o cruzamento de um gene de resistência a herbicida de uma planta com um parente daninho e sua disseminação pela população daninha e, em segundo lugar, a disseminação descontrolada da planta resistente a herbicida propriamente dita. O primeiro caso é objeto de extenso estudo durante a avaliação ambiental dos novos sistemas de resistência para plantas. Revela-se de grande importância que as empresas desenvolvam esses sistemas para assegurar a longevidade de seu produto. O crescimento precoce de um parente daninho resistente a herbicida simplesmente tornaria vãos seus esforços. Por conseguinte, muito se pesquisou a fim de se encontrarem sistemas de tratamento de ervas daninhas que reduzam a probabilidade de isso acontecer. Esse trabalho levou ao conceito de rotação de herbicidas associado à velha prática de rodízio de culturas. Também se investiga muito o segundo caso. Uma planta agrícola modificada geneticamente com gene de resistência a herbicida não apresenta qualquer vantagem competitiva em relação à planta não manipulada, além da tolerância ao herbicida. Essa tolerância não tornará a própria planta daninha invasiva, tendo em vista que não se lhe alteram as características de reprodução e crescimento. Submetê-las a outro herbicida pode facilmente controlar a planta. Ao contrário, as pesquisas (2)(3) indicam que algumas plantas resistentes a herbicida podem ser até mesmo menos aptas que suas correspondentes não transgênicas e, na ausência da pressão de seleção, provavelmente não sobreviveriam tão bem quanto as não transgênicas. Os melhores exemplos do que poderíamos imaginar como “superervas daninhas” não vêm das culturas agrícolas e seus parentes, mas das plantas ornamentais. As pessoas despacham milhares de espécies de plantas pelo mundo todo para o comércio ornamental e, às vezes, as coisas dão muito errado. Provavelmente, os dois casos mais devastadores no século passado foram a introdução do cacto opúncia na Austrália e a introdução do jacinto aquático (nativo da América do Sul) nos trópicos úmidos. Essas plantas encontram excelentes condições de crescimento em suas novas casas – à exceção das pragas, dos parasitas e dos predadores que as controlavam em seu habitat nativo. O preço para o meio ambiente e para a economia dos países que as adotaram revelou-se imenso. Introduções mais recentes que já estão causando problemas na Europa são o belo rododendro e muitas espécies de bambu. Os inimigos da engenharia genética freqüentemente citam esses exemplos para expressar seu receio quanto ao desenvolvimento de novas superervas daninhas, de real potencial destrutivo. Contudo, equivocam-se ao comparar essas plantas silvestres com culturas agrícolas. No caso do jacinto aquático e da opúncia, transferiram-se genomas inteiros sem qualquer de seus controles naturais, e nenhuma avaliação de riscos. Trata-se de situação totalmente diferente da introdução cuidadosamente planejada de um ou dois genes em certas culturas agrícolas, amparada por extensa avaliação de riscos e por sistemas de controle de riscos. (2) Hails, R. S., M. Rees, D. D. Kohn, and M. J. Crawley (1997). Burial and seed survival in Brassica napus subsp. oleifera and Sinapis arvensis including a comparison of transgenic and nontransgenic lines of the crop. Proc. Royal Soc. Lond. B 264:1- 7. (3) Bergelson, J., C. B. Purrington, C. J. Palm, and J.-C. López- Gutiérrez (1996). Costs of resistência: a test using transgenic Arabidopsis thaliana. Proc. Royal Soc. Lond. B 263:1659-1663. 11 6. ISSO NÃO LEVARÁ AO USO DE MAIS HERBICIDAS Agricultores são administradores. Vivem do cultivo de plantas. Para isso, desejam manter o mais baixo nível de custos possível. Tendo o controle das ervas daninhas como um de seus principais custos, todo agricultor sensato só usará a nova tecnologia se ela contribuir para lhe reduzir as despesas nessa área. A pulverização indiscriminada ofende radicalmente seus interesses. Outro aspecto gera muita confusão sobre o uso de mais ou menos herbicidas. O critério importante para a análise do impacto ambiental de um herbicida não reside na quantidade adotada, mas no total de danos que ele causa (diretamente, matando organismos não desejados, ou indiretamente, poluindo os lençóis freáticos). Alguns herbicidas antigos mostram-se extremamente eficazes; bastam alguns gramas por hectare para se promover o controle das ervas daninhas. Por outro lado, podem também apresentar alta toxicidade. Os melhores herbicidas modernos, embora exijam mais gramas por hectare para surtirem efeito, podem revelar-se milhares de vezes menos poluidores. Naturalmente, prefere-se a segunda categoria, ainda que implique, em termos de volume, em “pulverizar mais herbicidas”. 7. DEPENDÊNCIA DO AGRICULTOR EM RELAÇÃO A MULTINACIONAIS MONOPOLISTAS Muitas variedades agrícolas resistentes a herbicidas são comercializadas por empresas produtoras de sementes afiliadas ou pertencentes a empresas agroquímicas. Esse fato despertou preocupações acerca da dependência do agricultor em relação a um ou poucos fornecedores, tanto para obter sementes quanto para manter seus programas de proteção das lavouras. Na prática, o quadro é muito diferente. As empresas de sementes normalmente desenvolvem variedades diferentes de suas culturas dotadas de diferentes resistências a herbicida. A razão é que elas precisam ajudar o agricultor na rotação de seus programas de uso de herbicida, da mesma maneira como fazem a rotação de suas culturas. As empresas agroquímicas aprovam porque assim ela as ajuda a garantir-lhe a longevidade dos produtos, reduzindo as chances de desenvolvimento de ervas daninhas resistentes. 12 Plantas resistentes a herbicida: Controle de ervas daninhas sem agressão ao meio ambiente Sites de referência GERAL: RESISTÊNCIA A HERBICIDAS http://www.geneinfo.gtiu.gov.au/herb.htm http://www.crop.cri.nz/informat/gene/qgene.htm http://www.pmac.net/geherb.htm GERAL: GLIFOSATO http://www.info-biotechnologie.de/infos/index.htm http://www.roundupready.com/soybeans/ GERAL: GLUFOSINATO DE AMÔNIO http://www.agrevo.com/biotech.htm http://www.liberty-link.com/tech1.htm TÉCNICA: OUT-CROSSING E REDUÇÃO DA CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO DE PLANTAS RESISTENTES A HERBICIDA http://gophisb.biochem.vt.edu/news/1997/news97.dec.htm http://gophisb.biochem.vt.edu/news/1997/news97.jun.html http://www.msstate.edu/Entomology/v7n2/art16.html TÉCNICA: RESISTÊNCIA A HERBICIDAS http://gophisb.biochem.vt.edu/news/1997/news97.mar.html http://www.aphis.usda.gov/bbep/bp/not_reg.html http://www.bio.org/whatis/mg5.dgw/348a5f11a9f5e22b http://www.cfia-acia.agr.ca/english/food/pbo/okays.html http://falk.ucdavis.edu/weeds/aa.htm TÉCNICA: GLIFOSATO http://www.cfia-acia.agr.ca/english/food/pbo/dd9502e.html http://www.cfia-acia.agr.ca/english/food/pbo/dd9505e.html ftp://www.aphis.usda.gov/pub/bbep/Determinations/ascii/9504501p_det.txt ftp://www.aphis.usda.gov/pub/bbep/Determinations/ascii/9631701p_det.txt TÉCNICA: GLUFOSINATO DE AMÔNIO http://www.cfia-acia.agr.ca/english/food/pbo/dd9501e.html 13 http://www.cfia-acia.agr.ca/english/food/pbo/dd9615e.html ftp://www.aphis.usda.gov/pub/bbep/Determinations/ascii/9435701p_det.txt ftp://www.aphis.usda.gov/pub/bbep/Determinations/ascii/9606801p_det.txt TÉCNICA: SULFONILURÉIA ftp://www.aphis.usda.gov/pub/bbep/Determinations/ascii/9525601p_det.txt http://www.pioneer.com/xweb/usa/txt/restech/herbres/fsstssoy.htm http://www.dupont.com/ag/us/product/staple.html TÉCNICA: IMIDAZOLINONA http://www.pioneer.com/xweb/usa/txt/restech/herbres/irint97a.htm http://www.cfia-acia.agr.ca/english/food/pbo/dd9610e.html http://www.cfia-acia.agr.ca/english/food/pbo/dd9503e.html TÉCNICA: BROMOXINIL ftp://www.aphis.usda.gov/pub/bbep/Determinations/ascii/9319601p_det.txt TÉCNICA: SETOXIDIM http://www.cfia-acia.agr.ca/english/food/pbo/dd9613e.html