Faculdade de Medicina de Botucatu Departamento de Pediatria - UNESP unesp unesp Pneumonia Comunitária em Crianças Dra. Giesela Fleischer Ferrari Disciplina de Pneumologia Pediátrica Pneumonia Comunitária em Crianças Constitui uma das principais causas de morbidade e 2ª causa de mortalidade infantil. OMS 4-5 milhões de crianças menores de 5 anos morrem anualmente,sendo que 2/3 destes são menores de 1 ano. Brasil- 11% < 1ano e 13% entre 1 e 4 anos. Pneumonia Comunitária em Crianças Mecanismos de Defesa • Filtragem partículas nas cavidades nasais. • Reflexo da epiglote • Reflexo da tosse • Função mucociliar das células brônquicas • Fagocitose,sistema complemento ,enzimas e substâncias locais – neutralização das bactérias • Presença de anticorpos – opsonização e fagocitose dos agentes • Drenagem linfática Pneumonia Comunitária em Crianças Fisiopatologia Via de aquisição de pneumonia – aspiração de secreção de orofaringe Infecção viral orofaringe → quebra dos mecanismos de defesa: ↑ produção de secreção, multiplicação bacteriana + ↓atividade mucociliar + alteração na produção de Ac e atividade bactericida dos macrófagos → Pneumonia Pneumonia Comunitária em Crianças Definição • Infiltrados alveolares • Sintomas respiratórios agudos Pneumonia Comunitária em Crianças Fatores de risco • Sexo, idade • Sócio-econômicos: renda familiar, educação • Ambientais: poluição , aglomerados • Nutricionais • Imunização Pneumonia Comunitária em Crianças Etiologia Vírus • Vírus Sincicial Respiratório • Influenza A ou B, • Parainfluenza 1,2 ou 3 • Adenovirus • Rinovirus • Vírus do sarampo • Metapneumovirus • Bocavirus Pneumonia Comunitária em Crianças Etiologia Bactérias atípicas • Mycoplasma pneumoniae • Chlamydia trachomatis • Chlamydia pneumoniae Pneumonia Comunitária em Crianças Etiologia Bactérias piogênicas • S. Pneumoniae • S. aureus • H. influenzae tipo B • H. influenzae não tipável • M. Tuberculosis Pneumonia Comunitária em Crianças Diagnóstico • História • Exame físico • Radiografia de tórax Pneumonia Comunitária em Crianças Intervenção a nível primário Criança menor de 2 meses com tosse ou dificuldade respiratória Sem tiragem subcostal FR 60/min Com tiragem subcostal e/ou FR 60/min Não é pneumonia Pneumonia grave (internação) Pneumonia Comunitária em Crianças Intervenção em nível primário Criança de 2 meses a 5 anos com tosse ou dificuldade respiratória • Sem tiragem subcostal • Sem aumento de FR Não é Pneumonia! Pneumonia Comunitária em Crianças Intervenção em nível primário Criança de 2 meses a 5 anos com tosse ou dificuldade respiratória • Sem tiragem subcostal e • FR 50/min ( 2 m a 11 meses) • FR > 40/min (12 m a 5 anos) Pneumonia (ambulatorial) Pneumonia Comunitária em Crianças Intervenção em nível primário Criança de 2 meses a 5 anos com tosse ou dificuldade respiratória • Com tiragem subcostal e • FR > 50/min (2m a 11 meses) • FR > 40/min (12m a 5 anos) Pneumonia grave (internação) Pneumonia Comunitária em Crianças Diagnóstico • Hemocultura • Líquido pleural • Biópsia pleural • Aglutinação do látex • Contraimunoeletroforese • Sorologias Dificuldades no Diagn óstico e Tratamento Diagnóstico INESPECIFICIDADE DOS EXAMES LABORATORIAIS (VIRUS ÉRIAS) (VIRUS X X BACT BACTÉRIAS) N ÚMERO E DIVERSIDADE DOS AGENTES ETIOL ÓGICOS NÚMERO ETIOLÓGICOS OBTEN ÇÃO DE MATERIAL REPRESENTATIVO DO FOCO OBTENÇÃO PNEUMÔNICO TERAPÊUTICA INICIAL – frequentemente emp írica empírica Isaacs Isaacs D. D. Pediatr Pediatr Infect Infect Dis Dis JJ 1989; 1989; 8(3):143-148. 8(3):143-148. Sarachaga Sarachaga M M JJ Pediatr Pediatr Pulmonol Pulmonol 2001;S23:159-60 2001;S23:159-60 Pneumonia Comunitária em Crianças Do nascimento a 20 dias de idade • Citomegalovirus Associada a doença sistêmica, outros sinais de doença congênita em geral presentes • Listeria monocytogenes Pneumonia associada a sepse precoce Pneumonia Comunitária em Crianças Do nascimento a 20 dias de idade • Estreptococo do grupo B Pneumonia como parte de sepse precoce, grave, difusa, bilateral, alta mortalidade. • Enterobactéria Infecção nosocomial , após 1 semana de idade Pneumonia Comunitária em Crianças 3 semanas a 3 meses • Chlamydia trachomatis Causada por infecção materna genital, afebril, progressiva, com tosse, envolvimento intersticial Pneumonia Comunitária em Crianças 3 semanas a 3 meses • Vírus Sincicial Respiratório Maior incidência de 2 a 7 meses, sibilos, insuficiência respiratória variada, diagnóstico diferencial com bronquiolite • Bordetella pertussis Primariamente causa bronquite; pneumonia em formas graves da doença Pneumonia Comunitária em Crianças 3 semanas a 3 meses • Streptococcus pneumoniae Provavelmente a causa mais comum de pneumonia bacteriana, mesmo neste grupo etário. • Staphylococcus aureus Doença grave, freqüentemente complicada com derrame pleural. Pneumonia Comunitária em Crianças 4 meses a 4 anos • Vírus Sincicial Respiratório, Influenza A ou B, Parainfluenza 1,2,3, Adenovirus, Rinovirus Causas mais comuns nas crianças mais novas nesta faixa etária Pneumonia Comunitária em Crianças 4 meses a 4 anos • Streptococcus pneumoniae Mais provável causa de pneumonia lobar ou segmentar, pode causar broncopneumonia. • Haemophilus influenzae Infecção pelo tipo b quase eliminada em áreas onde a vacinação é disseminada. Não tipável pode causar pneumonia. Pneumonia Comunitária em Crianças 4 meses a 4 anos • Mycoplasma pneumoniae Causa pneumonia nas crianças mais velhas deste grupo. • Mycobacterium tuberculosis Causa importante de pneumonia em áreas de alta prevalência da doença. Pneumonia Comunitária em Crianças 5 anos e 15 anos de idade • Mycoplasma pneumoniae Causa principal neste grupo, aspecto radiológico variável. • Chlamydia pneumoniae Agente controverso , provavelmente importante nas crianças mais velhas deste grupo. Pneumonia Comunitária em Crianças 5 anos e 15 anos de idade • Streptococcus pneumoniae Causa mais provável de pneumonia lobar ou segmentar, porém pode causar outras formas • Mycobacterium tuberculosis Causa importante em áreas com alta prevalência da doença. Etiologia de pneumonias adquiridas na comunidade em pediatria Helsinki, 1998 Dalas, 1999 Incidência do agente etiológico % 30 28 27 25 25 22 20 20 15 10 10 7 5 6 3 5 0 0 S. pneumoniae Virus M. pneumoniae C. pneumoniae H. influenzae 0 M. catarrhalis Agente etiológico específico MCCRACKEN MCCRACKEN JR. JR. Pediatr Pediatr Infect Infect Dis Dis J, J, 2000;19:373-7 2000;19:373-7 Etiologia das PAC – resumo das etiologias mais prováveis de acordo com a faixa etária Streptococcus pneumoniae Haemophilus influenzae Mycoplasma pneumoniae Etiologia Chlamydia pneumoniae Vírus Chlamydia trachomatis Staphylococcus aureus Streptococcus B, Listeria Enterobactérias, B. pertussis, CMV 1 m.6 m. 1 a. 2 a. 5 a. 12 a. Idade Vacinas Pneumoc ócicas Pneumocócicas Polissacaridica 23-valente: >60 anos (campanha idoso); >5 anos de alto risco 1, 2, 3, 4, 5, 6B, 7F, 8, 9N, 9V, 10A, 11A, 12F, 14, 15B, 17F, 18C, 19F, 19A, 20, 22F, 23F, 33F 7- valente: 4, 6B, 9V, 14, 18C, 19F, 23F disponível em 2000 nos CRIES e Clinicas - Resistência antimicrobiana 10-valente: 4, 6B, 9V, 14, 18C, 19F, 23F + 1, 5, 7F disponível em março 2010 no calendário do Brasil 13- valente: 4, 6B, 9V, 14, 18C, 19F, 23F + 1, 5, 7F + 3, 6A,19A _ disponível em 2010 no Brasil em Clínicas - Sorotipos prevalentes de S. pneumoniae no Brasil Sorotipos prevalentes de S. pneumoniae período 2000‐2009, < 5 anos (n=5174) período 2000‐2009, < 5 anos (n=5174) 7‐valente % % 4, 6B, 9V, 14, 18C, 19F, 23F 10‐valente 7‐val + 1, 5, 7F 13‐valente 10‐val + 3, 6A, 19A 37,6 A vacina 10 valente favorece a cobertura na A.L pois temos os sorotipos 1 e 5 circulando aqui o que não acontece em outros países. 12,0 11,5 5,2 5,3 4,8 3,8 3,5 3,6 4,4 2,5 2,4 1,6 2,2 sorotipos IAL Slide Slide elaborado elaborado por por Maria Maria Cristina Cristina C. C. Brandileone Brandileone Pneumococo e os sorotipos Sorotipo 1 – mais prevalente em menores de 2 anos e em 50% pode dar derrame Sorotipo 14 – mais freqüente em maiores de 2 anos. JJ Pediatr(Rio Pediatr(Rio J) J) 2003;79(6):537 2003;79(6):537 Impacto estimado das vacinas pneumocócicas sobre cepas invasivas por grupo de idade, 2000-2009, Brasil % 82,4 82,1 74,3 88,0 89,2 <2 anos 2-<5 anos 68,6 7-val 10-val 13-val Vacinas conjugadas IAL Slide Slide elaborado elaborado por por Maria Maria Cristina Cristina C. C. Brandileone Brandileone Resistência de Pneumococo • Cepas sensíveis- até 1micrograma/ml • Cepas susceptibilidade intermediária- 1 a 2 microg/ml • Cepas resistente- maior que 4microgr/ml Mecanismo de resistência – produção de uma proteína de ligação à penicilina alterada que reduz sua afinidade às penicilinas SIGNIFICADO CL ÍNICO DAS CATEGORIAS DE SUSCEPTIBILIDADE SIGNIFICADO CLÍNICO DAS CATEGORIAS DE SUSCEPTIBILIDADE DAS BACT ÉRIAS AOS ANTIMICROBIANOS: CLSI (NCCLS), DAS BACTÉRIAS AOS ANTIMICROBIANOS: Clinical and Laboratory Standards Institute •Sensível: S Infecção pode ser adequadamente tratada com dosagem recomendada do antibiótico. •R Intermediária: RI È possível tratar a infecção com altas dosagens do antibiótico, quando a infecção ocorre em tecidos nos quais a droga atinge alta concentração (sangue e outros líquidos diferente de líquor). •R Plena ou Alta R: RA Infecção não é inibida pela concentração sistêmica da droga. Susceptibilidade de pneumococo à penicilina, < 5 anos, dados de 2007 Brasil Crit érios CLSI: at é 2007 (A) e 2008 (B) Critérios até dados de 2007 % 100 A 2007 67,9 50 66,2 61,7 17,2 14,9 16,4 17,4 14,4 15,7 0 Meningites Outros DC Total X dados de 2007 100 B 2008 87,8 67,9 32,1 50 0 S I R 73,4 0 12,1 Meningites Outros DC 0 33,3 23,2 Total S I R Porcentagem de Sensilibilidade a Antimicrobianos dados Brasil , 2009 Penicilina % Meningite Outro DC invasivo Slide Slide elaborado elaborado por por Maria Maria Cristina Cristina C. C. Brandileone Brandileone Porcentagem de Sensilibilidade a Antimicrobianos dados Brasil , 2009 Ceftriaxona % Meningite Outro DC invasivo Slide Slide elaborado elaborado por por Maria Maria Cristina Cristina C. C. Brandileone Brandileone Taxas de Resistência de pneumococo a antimicrobianos, Brasil, ano 2009, todos os grupos et ários etários Antimicrobiano Sensibilidade R intermediária R total Cloranfenicol 99,4% Não se aplica 0,6% Eritromicina 92% 0 8% Sulfa-trimetoprim 39,9% 5,6% 54,5% Dados Dados SIREVA SIREVA II, II, 2009 2009 Classificação da gravidade (2m-5a) segundo a OMS (2005) Sinal ou Sintoma Cianose central Dificuldade respiratória grave (por exemplo, movimentos involuntários da cabeça) Incapacidade de beber Classificação Pneumonia muito grave Pneumonia muito grave Pneumonia muito grave Tiragem subcostal Pneumonia muito grave Respiração rápida > 60 rpm em < 2 meses > 50 rpm de 2 meses a 1 ano > 40 rpm de 1 a 4 meses Estertores crepitantes à ausculta pulmonar Nenhum dos sinais Pneumonia Pneumonia Não é Pneumonia Gravidade segundo Consenso Britânico (2002) Hospitalização Lactente menor de 2 meses • SpO2 < 92%, cianose • FR > 70 rpm • Dificuldade respiratória • Apnéia intermitente, gemido • Impossibilidade de se alimentar • Incapacidade da família em tratar o paciente no domicilio Grau de evidência A Classificação de gravidade internação Crianças de 2 meses a 5 anos SpO2 SpO2 << 92%, 92%, cianose cianose Dificuldade respiratória grave (por exemplo, movimentos involuntários da cabeça) Incapacidade de beber Tiragem subcostal Falha da terapêutica ambulatorial Doença grave concomitante Sinais radiológicos de gravidade (derrame pleural, pneumatoceles, abscesso) Tratamento Sem sinais de gravidade: TRATAMENTO AMBULATORIAL Sinais de gravidade em crianças pequenas Retração torácica (tiragem) subcostal Batimento de asa de nariz Gemido respiratório, cianose central Impossibilidade de beber ou mamar Vômitos Convulsões Insuficiência ventilatória Tratamento ambulatorial ANTIMICROBIANOS (7 DIAS) Amoxacilina Ampicilina Penicilina procaina (20kg-400.000U/dia , 20kg-400.000U 12/12h) REAVALIAÇÃO – 48 HORAS Tratamento pneumonias atípicas • Eritromicina • Azitromicina (10mg/kg/dia – 3 a 5 dias) • Claritromicina (15mg/kg/dia – 12/12hs –10d) Orientação para familiares • Sinais de gravidade • Sono e repouso • Alimentação e hidratação • Eliminação de secreções • Higiene • Febre • Evolução da doença em tratamento • Medidas preventivas de IRA Algoritmo para tratamento antimicrobiano inicial empírico para pacientes pediátricos com pneumonia comunitária Conduta do derrame pleural parapneumônico Tratamento hospitalar de pneumonias comunitárias em crianças maiores de 2 meses Penicilina Penicilina cristalina: cristalina: 100.000 100.000 aa 200.000/kg/dia, 200.000/kg/dia, EV, EV, de de 6/6 6/6 horas horas Havendo Havendo situações situações de de risco risco ee evidência evidência clínico-radiológica clínico-radiológica para para pneumonia pneumonia estafilocócica, estafilocócica, iniciar iniciar tratamento tratamento com com oxacilina oxacilina 200mg/K/dia, 200mg/K/dia, EV, EV, de de 6/6h 6/6h Reavaliação em 48 horas Melhora: Melhora: mantém mantém antibiótico antibiótico Não Não melhora melhora ou ou piora piora == radiografia radiografia de de tórax tórax PA PA ee perfil perfil sentado sentado Derrame Derrame pleural pleural toracocentese toracocentese e/ou e/ou drenagem drenagem torácica torácica (*) (*) Melhora: Melhora: manter manter penicilina penicilina por por 14 14 dias dias no no mínimo mínimo Sem Sem derrame derrame trocar trocar cefuroxima cefuroxima ou ou ceftriaxona ceftriaxona (*) (*) Derrame Derrame pleural pleural indicada indicada drenagem drenagem cirúrgica cirúrgica quando: quando: Piora: Piora: trocar trocar para para oxacilina oxacilina se se houver •• Aspecto houver condições condições de de risco risco Aspecto purulento purulento do do líquido líquido para •• Bacterioscopia para S. S. aureus aureus ou ou trocar trocar para para Bacterioscopia e/ou e/ou cultura cultura positiva positiva cefuroxima, •• Ph cefuroxima, ou ou ceftriaxona ceftriaxona ++ Ph << 7,2 7,2 oxacilina •• Síndrome oxacilina Síndrome restritiva restritiva Fontes: Fontes: Consenso Consenso Brasileiro Brasileiro sobre sobre Pneumonias. Pneumonias. J. J. Bras. Bras. de de Pneumol, Pneumol, 1998; 1998; Outra Outra opção: opção: cloranfenicol cloranfenicol Tratamento Tratamento de de Pneumonias Pneumonias em em Hospitais Hospitais de de Pequeno Pequeno Porte, Porte, MS. MS. 1997 1997 Pneumonia Comunitária em Crianças • Carvalho, CMCN. Infecções de Vias Aéreas Inferiores. In Tratado de Pediatria da SBP, Manole 2007, p.1071-6 • Diretrizes Brasileiras em Pneumonia adquirida na Comunidade em Pediatria - J Bras Pneumol 2007; 33(Supl1):S31-S50 • Doenças Respiratórias-Rodrigues JC,Adde FV,Silva Filho LVRF; Manole 2011; p.268-289 • Doenças Pulmonares em Pediatria – Diagnóstico e Tratamento. Tatiana Rozov ; Atheneu 2011, p.315-339