EFICÁCIA DA PENETRAÇÃO DE GOTAS DE PULVERIZAÇÃO NA COPA DO ALGODOEIRO EM DIFERENTES ALTURAS DE PLANTAS Paulo Cesar Bettini (Esalq – USP / [email protected]), Casimiro Dias Gadanha Júnior (Eslaq – USP), Hamilton Humberto Ramos (Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico - IAC) RESUMO - O presente trabalho avaliou a eficácia da penetração de gotas de pulverização no algodoeiro. Para os tratamentos, pontas produzindo cinco diferentes espectros de gotas (200, 243, 297, 358 e 396 µm) pulverizaram sobre duas alturas de planta (0,80 m com IAF (índice de área foliar) de 1,46 e 1,0 m com IAF de 10,30, tendo-se selecionado plantas muito enfolhadas) e amostras foram obtidas por meio de hastes e coletores simulando a folha, contendo papel hidrossensível na parte superior e inferior, posicionados no terço superior, médio e inferior da planta. As gotas coletadas foram medidas através do software e-Sprinkle, 2004. Os dados foram analisados para cada época segundo um delineamento inteiramente casualizado, dentro de um esquema fatorial e analisados dados relativos a porcentagem de gotas dentro dos diferentes diâmetros coletados. Para as duas épocas analisadas, nenhum tratamento depositou gotas na parte inferior dos amostradores; gotas com diâmetros de 95 a 174 µm proporcionaram melhor distribuição no perfil da planta, devendo ser utilizadas quando a pulverização da parte inferior da planta for necessária. Quando o alvo da pulverização for o terço médio e superior da planta, gotas de até 363 µm mostraram-se eficientes e para o terço superior, gotas com até 525 µm. Gotas com diâmetros superiores a 565 µm não devem ser utilizadas no tratamento fitossanitário do algodoeiro. Palavras-chave: espectro de gota, tratamento fitossanitário, pulverizador. EFFECTIVENESS OF THE PENETRATION OF DROPS OF SPRAYING IN PANTRY OF THE COTTON PLANT IN DIFFERENT HEIGHTS OF PLANTS ABSTRACT - The main of this work was evaluate the effectiveness of the penetration of spraying droplets in the cotton plant. For the treatments, nozzle producing five different droplets sizes (200, 243, 297, 358 and 396 µm) had sprayed on two heights of plant (0,80 m with IAF (leaf dimensions and dry mass) of 1,46 and 1,0 m with IAF of 10,30, had been choice the most large ones), and samples were collected on samplers simulating the leaf, with water-sensitive paper in upper and lower surfaces, positioning at upper, medium and lawer portions of the plant. The droplets collected were measures through software e-Sprinkle, 2004. The data were analysed for each time by a completely randomized design with four replications. For the two analyzed times, no one treatment deposited drops in the inferior part of the collectors; diameter droplets between 95 and 174 µm had better provided distribution in the plant profile. When the target of spraying is at the medium parts, droplets until 363 µm were efficient and the upper parts, droplets until 525 µm. The use of droplets bigger than 565 µm is not recommended for cotton plants. Key-words: effectiveness, spectrum of drop, fitossanitário treatment. INTRODUÇÃO Analisando a importância econômica e social da cotonicultura, verifica-se que este setor de produção é afetado por grandes problemas fitossanitários. Ataques de pragas chegam a causar perdas substanciais na quantidade e na qualidade da produção. Para seu controle, o agricultor tem utilizado um número elevado de aplicações de produtos químicos (GONDIM, 1999), principalmente através da pulverização. Não basta conhecer a dose do produto aplicado por hectare, é importante quantificar o produto que chega às partes da planta onde está o alvo a ser atingido. O pulgão do algodoeiro, por exemplo, é facilmente encontrado na parte inferior da folha e no perfil da planta, dessa forma, é importante uma boa distribuição do produto na planta, principalmente quando se usa produto de ação local. O desconhecimento destes princípios básicos faz com que o agricultor, ou o técnico, trabalhe apenas com o volume, buscando maior eficácia das aplicações, o que leva as perdas como o escorrimento da calda pulverizada. A boa distribuição do produto aplicado e a definição do tamanho de gotas adequado são fundamentais para se ter eficácia nas pulverizações. Atualmente não existem muitas informações na bibliografia a respeito do espectro de gotas para pulverizações no algodoeiro. De acordo com Matthews (1999), as folhas agem como um filtro, protegendo o alvo, dificultando a penetração das gotas na cultura, filtro este portanto variável com o enfolhamento e estádio de desenvolvimento da cultura. Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a eficácia da penetração de gotas de pulverização ao longo do perfil da copa do algodoeiro, após a pulverização com diferentes espectros de gotas em diferentes alturas de planta. MATERIAIS E MÉTODOS Os ensaios foram conduzidos no ano agrícola de 2003/2004 em uma lavoura comercial de algodão, localizada no Município de Ituverava, SP, onde foram instalados dois experimentos na cultivar Delta Opal plantada com espaçamento entre linhas de 0,95 m e estande final de 8 plantas por metro linear. Como tratamentos, com base em dados fornecidos pelo fabricante, selecionou-se pontas de pulverização produzindo espectros de gotas de 200 (XR11002 a 4,5 bar), 243 (XR11002 a 2 bar), 297 (XR11002 a 1 bar), 358 (XR11006 a 2 bar) e 396 µm. Para possibilitar a amostragem das gotas ao longo do perfil da planta, foram desenvolvidos suportes constituídos por uma haste metálica contendo 3 lâminas de alumínio, simulando a folha e onde eram colocados os amostradores, com altura regulável para permitir o posicionamento nos terços superior, médio e inferior das plantas . Como amostrador para a coleta e determinação do tamanho de gotas dos diferentes tratamentos de pulverização, foi utilizado o papel hidrossensível segundo método já utilizado por Carvalho e Furlani Junior (1997), Chain (2002), Raetano (2001). A amostragem foi realizada em 6 plantas bem enfolhadas marcadas ao longo da barra do pulverizador, 3 plantas de cada lado do trator, considerando-se cada conjunto de 6 plantas ao longo da barra como 1 repetição, que estavam espaçadas entre si no mínimo 10 m. As pulverizações, utilizando-se apenas água, foram realizadas em 13/01/2004 em plantas com 11 internódios e 54 dias após emergência, (desenvolvimento vegetativo na fase de primeiros botões florais e 0,80 m de altura) e 18/02/2004, em plantas com 19 internódios e 90 dias após emergência (desenvolvimento vegetativo na fase de formação de maçãs e 1,0 m de altura) a 0,50 m acima do topo das plantas. As condições do Experimento 1 foram constituídas por temperatura e umidade relativa médias de 35,2ºC e 63,3% respectivamente, vento com rajadas de até 2,25 m.s-1, no período entre 11:00 horas e 14:05 horas. Para o Experimento 2, a temperatura e umidade relativas médias foram de 33,2ºC e 63%, e a velocidade vento de até 3 m.s-1, entre 14:42 horas e 17:50 horas. Para a determinação da área foliar, com o objetivo de melhor caracterização da cultura, todas as plantas utilizadas nas amostragens foram arrancadas, acondicionadas em sacos plásticos devidamente identificados e enviadas ao laboratório. No laboratório, as folhas de cada planta foram destacadas e digitalizadas através de um scanner trabalhando com resolução ótica de 150 «dpi». A determinação da área foliar foi posteriormente realizada com auxílio do software IDRISI®, segundo método adaptado de Lallana (1999). Para análise do tamanho de gotas, os papéis hidrossensíveis coletados no campo foram identificados, trazidos para o laboratório, digitalizados através de scanner com 600 dpi e analisados através do software e-Sprinkle 2004, segundo rotina validada por Ramos et al. (2004) para esta finalidade. O dados foram analisados em função da porcentagem de gotas dentro de cada faixa de diâmetro, e não através do diâmetro mediano volumétrico de cada amostra, uma vez que a presença de várias gotas pequenas sobre o amostrador poderia ser mascarada por apenas uma gota média ou grande caso este último fosse utilizado. Assim, através do gráfico de quantidade de gotas por tamanho, fornecido pelo e-Sprinkle, montou-se uma tabela, cujos dados de quantidade foram posteriormente transformados em porcentagem do número de gotas na amostra, a fim de eliminar possíveis erros decorrentes dos diferentes números de gotas sobre os amostradores. Os dados obtidos foram analisados para cada época segundo um delineamento inteiramente casualisado, dentro de um esquema fatorial 5x3x17, correspondendo a 5 diâmetros iniciais, 3 posições na planta e 17 classes de diâmetros verificados sobre os amostradores. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise do índice de área foliar das plantas alvo de algodão mostrou valor de IAF 1,46, para plantas com 0,80 m e 54 DAE, e de 10,3 para plantas com 1,0 m e 90 DAE. Este segundo valor encontra-se acima dos encontrados como média na literatura (HEITHOLT et. al., 1992; HEITHOLT, 1994), entretanto, tal fato pode ser explicado pelo fato das plantas analisadas terem sido selecionadas como as maiores e mais enfolhadas com o propósito de dificultar a penetração das gotas, não representando portanto a média das plantas existentes. Uma avaliação visual prévia dos resultados do tamanho de gotas mostrou que nenhum dos tratamentos utilizados foi eficiente em colocar uma quantidade adequada de gotas sobre os papéis hidrossensíveis posicionados na parte inferior dos amostradores, razão pela qual os mesmos não foram considerados na análise. A aplicação do teste de Hartley aos dados obtidos para os papéis posicionados na parte superior mostrou que as variâncias não eram homogêneas, razão pela qual os dados foram transformados por arc sen raiz (x/100), conforme o recomendado por Banzato e Kronka (1989) para dados em porcentagem. As análises de variância aplicadas aos dados de tamanho de gotas chegando em diferentes posições do algodoeiro em ambas as fases analisadas mostraram-se significativas ao nível de 1% de probabilidade pelo teste F para a interação posição na planta x diâmetro da gota no amostrador, com média geral de 9,94% e coeficiente de variação (CV) de 41,67% para plantas com 0,80 m e média geral de 9,80% e CV de 44,37% para plantas com 1,00 m. Aplicando-se o teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade às médias da interação posição na planta x diâmetro da gota no amostrador para plantas com 0,80 m (Tabela 1) verifica-se que gotas entre 95 e 174 µm, além de chegarem em maior quantidade, atingiram de forma homogênea todas as partes da planta. Gotas com diâmetro entre 323 e 525 µm chegaram de forma uniforme no terço superior e mediano da planta, entretanto, estas gotas foram ineficientes em atingir a região do terço inferior da planta. Gotas com diâmetro de 565 µm ou superior não foram eficientemente captadas pelo alvo. Este mesmo teste, aplicado para plantas com 1,00 m (Tabela 2), mostrou que gotas entre 95 e 174 µm chegaram em maior quantidade e que as de até 209 µm atingiram de forma homogênea todas as partes da planta. Gotas com diâmetro entre 242 e 363 µm chegam de forma uniforme na ponta e meio, entretanto, são ineficientes em atingir a região da saia. Gotas com diâmetro entre 403 e 525 µm atingiram somente a parte superior das plantas enquanto que as com diâmetro superior a 605 µm não foram eficientemente captadas pelo alvo. Assim, observa-se que como média dos resultados, gotas com diâmetros de 95 a 174 µm proporcionaram melhor distribuição no perfil da planta, devendo ser utilizadas quando a pulverização da parte inferior da planta for necessária. Quando o alvo da pulverização for o terço médio e superior da planta, gotas de até 363 µm mostraram-se eficientes e para o terço superior, gotas com até 525 µm. Gotas com diâmetros superiores a 565 µm não devem ser utilizadas no tratamento fitossanitário do algodoeiro. Tabela 1. Dados do diâmetro médio da gota e sua porcentagem de deposição em diferentes posições na planta do algodoeiro com 0,80 m. Diâmetro Posição na planta na planta Superior Médio Inferior (µm) 95 137 174 209 242 282 323 363 403 444 484 525 565 605 646 686 726 % do número de gotas sobre a amostra (1) Tabela 2. Dados do diâmetro médio da gota e sua porcentagem de deposição em diferentes posições na planta do algodoeiro com 1,00 m. Diâmetro Posição na planta na planta Superior Médio Inferior (µm) % do número de gotas sobre a amostra (1) 21,99 26,57 27,17 19,63 16,95 13,8 10,65 8,64 8,57 7,89 6,46 5,14 3,75 2,77 2,55 2,24 2,08 95 137 174 209 242 282 323 363 403 444 484 525 565 605 646 686 726 DMS(PdD): 2.81 Bb Aa Aa Abc Acd Ade Aef Afg Afg Afg Agh Aghi Ahi Ahi Ahi Ai Ai 24,55 27,48 26,9 19,07 16,08 12,03 8,78 6,48 6,88 6,75 5,11 2,95 2,49 1,46 0,97 1,43 1,01 Ba Aa Aa Ab Ab Ac Bcd Ade Ade Ade Adef ABefg Afg Afg Ag Afg Ag 29,1 26,71 25,7 17,48 13,27 11,1 7,84 3,42 2,22 3,37 2,16 1,86 1,26 0,99 0,92 0,92 1,01 DMS(DdP): 3.97 Aa Aa Aa Ab Bc Acd Bd Be Be Be Be Be Ae Ae Ae Ae Ae 21,1 Bb 25,4 Aa 26,2 Aa 20,5 Ab 17,6 Abc 14,8 Acd 10,9 Ade 8,32 Aef 8,4 Aef 8,63 Aef 6,98 Aefg 5,67 Afgh 5,16 Afgh 3,88 Agh 3,26 Agh 2,7 Ah 2,15 Ah DMS(PdD): 2.81 22,8 Bbc 26 Aab 27,7 Aa 21,1 Ac 19 Ac 13,6 ABd 8,84 Abe 5,88 ABef 4,13 Bfg 3,4 Bfg 1,9 Bfg 1,6 Bg 1,29 Bg 1,24 Ag 0,94 Ag 1,01 Ag 1,01 Ag 26,4 Aa 26,2 Aa 26 Aa 18,5 Ab 12,8 Bc 11,1 Bc 6,84 Bd 3,87 Bde 2,76 Bde 2,67 Bde 2,11 Be 1,03 Be 1,57 Be 1,01 Ae 1,37 Ae 1,37 Ae 1,01 Ae DMS(DdP): 3.97 (1) Dados transformados por arc sen raiz (x/100), conforme o recomendado por Banzato e Kronka, 1989. Médias seguidas por uma mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade CONCLUSÕES 1. Para as duas épocas analisadas, nenhum tratamento depositou gotas na parte inferior dos amostradores, dessa forma, quando o alvo for a página inferior das folhas do algodoeiro, produtos de ação sistémica ou translaminar deverão ser utlilizados ou modificações no posicionamento das pontas em relação à cultura deverão ser estudadas; 2. Gotas com diâmetros de 95 a 174 µm proporcionaram melhor distribuição no perfil da planta, devendo ser utilizadas quando a pulverização da parte inferior da planta for necessária. Quando o alvo da pulverização for o terço médio e superior da planta, gotas de até 363 µm mostraram-se eficientes e para o terço superior, gotas com até 525 µm. Gotas com diâmetros superiores a 565 µm não devem ser utilizadas no tratamento fitossanitário do algodoeiro. Estudos complementares de cobertura e deposição de calda, com gotas dentro destas faixas de diâmetros, necessárias a eficácia do controle das principais pragas do algodoeiro, são ainda necessárias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANZATTO, D. A.; KRONKA, S. N. Experimentação Agrícola. Jaboticabal: FUNEP, 1989. 247 p. CARVALHO, W. P. A.; FURLANI JUNIOR, J. A. Estudo comparativo entre coletores para determinação do DMV e coeficiente de dispersão na atmosfera de gotas em aplicações de produtos líquidos. Revista Energia na Agricultura, v. 12, n. 1, p. 29-38, 1997. CHAIM, A.; PESSOA, M. C. P. Y.; CAMARGO NETO, J. et. al. Comparison of microscopic method and computational program for pesticide deposition evaluation of spraying. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 37, n. 4, p. 439-496, 2002. HEITHOLT, J. J.; PETTIGREW, W. T.; MERIDITH JÚNIOR, W. R. Light interception and lint yield of narrow-row cotton. Crop Science, v. 32, p .728-733, 1992. HEITHOLT, J. J. 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